MONICA SILVIA BORINE - TEDE2 da UNIVERSIDADE

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA
CONSCIÊNCIA E EMOÇÃO: O EFEITO DO PRIMING AFETIVO
SUBLIMINAR EM TAREFAS DE ATENÇÃO
MONICA SILVIA BORINE
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2006
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA
MONICA SILVIA BORINE
CONSCIÊNCIA E EMOÇÃO: O EFEITO DO PRIMING AFETIVO
SUBLIMINAR EM TAREFAS DE ATENÇÃO
Tese
apresentada
ao
curso
de
Pós-
graduação da Universidade Metodista de São
Paulo como requisito parcial para a obtenção
do Título de Mestre em Psicologia da Saúde.
Orientador: Prof. Dr. Luis F. Hindi Basile
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2006
FICHA CATALOGRÁFICA
Borine, Monica Silvia.
Consciência e emoção: o efeito do priming afetivo subliminar em tarefas de
atenção. / Monica Silvia Borine. -- São Bernardo do Campo, 2006.
70p.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Metodista de São Paulo. Faculdade de
Psicologia e Fonoaudiologia, Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde.
Orientação: Luis F. Hindi Basile.
1. Consciência 2. Emoção 3. Atenção 4. Pré-preparo afetivo 5. Subliminar; 6.
Cognição I. Título.
CDD 157.9
MONICA SILVIA BORINE
CONSCIÊNCIA
E
EMOÇÃO:
O
EFEITO
DO
PRIMING
SUBLIMINAR AFETIVO EM TAREFAS DE ATENÇÃO
Dissertação
apresentada
ao
curso
de
Pós-
graduação da Universidade Metodista de São Paulo
como requisito parcial para a obtenção do Título de
Mestrado em Psicologia da Saúde.
Orientador: Prof. Dr. Luis F. Hindi Basile
Área de concentração:
Data de defesa: 26 de março de 2007.
Resultado:
BANCA EXAMINADORA
Luis F. Hindi Basile
Universidade Metodista de São Paulo
Prof. Dr.
Renato Teodoro Ramos
Universidade Metodista de São Paulo
Prof. Dr.
Marcus Vinícius C. Baldo
Universidade de São Paulo
Prof. Dr.
DEDICATÓRIA
Dedico a todos os pesquisadores que não mediram esforços, abrindo caminhos
para uma compreensão mais efetiva da consciência e sua relevância para a Psicologia e
a experiência humana.
“A psicologia deveria ser o estudo cientifico da consciência”.
(WUNDT, 1832 – 1920).
“O objeto de estudo da Psicologia é a consciência”.
(W. JAMES, 1890).
“Os homens acreditam ser livres porque são conscientes de seus atos, mas
não conscientes das causas que determinam esses atos”.
(SPINOZA - Ethics).
RESUMO
Esta tese revisou duas linhas de pesquisa, desenvolvidas nas últimas décadas: o estudo
de efeitos de estimulação subliminar “priming”, e de desencadeamento de reações
emocionais por estímulos controlados. Este estudo tem o objetivo de combinar tais linhas
para o estudo da consciência com pré-preparo afetivo: efeito de estímulos de conteúdo
aversivo, subliminares e supraliminares, sobre a cognição, pela análise do desempenho
em tarefa de atenção. Três tarefas experimentais foram realizadas por 35 indivíduos em
laboratório de neuropsicologia: a tarefa base onde testamos à detecção de alvo visual
simples, e a mesma tarefa de base, porém com estímulos distratores aversivos
intercalados, de forma supraliminar ou subliminar (500 ms ou 50 ms de duração), em
blocos aleatorizados entre os indivíduos. Calcularam-se índices de detectabilidade e
critério de resposta, que serviram para a comparação estatística entre condições
(medidas repetidas). Os resultados mostram uma mudança significativa do índice
“critério”, indicando mudança de estratégia na presença de distratores subliminares
aversivos. Concluiu-se que a tarefa subliminar fez um efeito “destruidor ou devastador”
na tarefa supraliminar, cometendo menos falso-alarmes protegendo a tarefa supraliminar,
tendo um efeito “protetor”. Os resultados são discutidos no contexto da relevância de
influências emocionais sobre o comportamento para a Psicologia da Saúde.
Palavras-chave: consciência, estimulação aversiva, estimulação subliminar, atenção,
emoção.
ABSTRACT
This thesis evaluated two lines of research, developed in the last few decades: the study
of subliminal stimulation “priming”, and the triggering of emotional reactions by controlled
stimuli. The present study aims at combining these lines for the study of affective priming:
the effect of stimuli with aversive contents, subliminal and supraliminal, on cognition, by
analysis of performance during attention task. Three experimental tasks were performed
by 35 individuals in neuron psychology laboratory: a baseline task where detection of
simple visual target was tested, and the same task with interposed distracting aversive
stimuli, both in supraliminal and subliminal presentation (500 ms or 50 ms duration), in
random blocks among the subjects. Detection and response criterion rates were
calculated and used for the statistical comparison between conditions (repeated
measures). The results show a significant difference in the detection significant change of
“criterion”, indicating change of strategy in the presence of aversive affective images. The
conclusion the subliminal task made a destructive effect in supraliminal task, damage
false alarms, have a “protector” effect. The results are argued in the context of the
relevance of emotional influences on the behavior for the Health Psychology.
Keywords: consciousness,
attention, emotion.
awareness,
subliminal stimulation, affective priming,
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fig. 01 - Modelo de associação ou ativação difusa da memória semântica. ----------------18
Fig. 02 - Foto do sujeito realizando o teste no laboratório de EEG (Eletroencefalograma)
de Alta resolução no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo – USP. ---------------------------------------------------------------------------------------37
Fig. 03 - Tela principal do software de teste atenção com distratores intercalados
supraliminar e subliminar. ---------------------------------------------------------------------------------38
Fig. 04 - Exemplo de imagens/fotos de conteúdo aversivo e repulsivo. ----------------------41
Fig. 05 - A figura mostra médias de detectabilidade e critério, com um desvio padrão:
1- base, 2- subliminar, 3- supraliminar. ----------------------------------------------------------------47
Fig. 06 - Critério ( 1 desvio padrão), para as duas condições, com grupos de indivíduos
divididos em função da ordem. --------------------------------------------------------------------------48
Fig. 07 - Mostra o componente “falso-positivo” do critério, para as duas condições, em
função da ordem de apresentação. --------------------------------------------------------------------50
Fig. 08 - Detecções corretas (HITS) em função do sexo (masc = 1; fem = 2) em ambas as
condições subliminar e supraliminar. ------------------------------------------------------------------52
LISTA DE QUADROS
QUADRO I - Modelo básico dos tipos de memória ------------------------------------------------29
QUADRO II - Modelo avançado dos tipos de memória--------------------------------------------31
QUADRO III - Modelo de tipos de atenção -----------------------------------------------------------33
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
IAPS - Sistema afetivo internacional de fotos desenvolvido para avaliação experimental
de emoções. Acompanha manual de avaliação afetiva das fotos. Relatório técnico A-6.
Universidade da Flórida, Gainesville, FL. - Lang, P.J., Bradley, M.M., & Cuthbert, B.N.
2005.
STROOP - Teste de atenção, desenvolvido por John Ridley Stroop em 1935, baseia-se
em evidências de que se leva mais tempo para nomear cores do que para ler nomes de
cores. Assim, também se leva mais tempo para nomear a cor de impressão e/ou ler
nomes de cores, quando esses se acham impressos em uma cor de tinta diferente da cor
que nomeiam (SROOP, 1935).
SUB - Abreviatura adotada no texto para indicar a palavra Subliminar.
SUPRA - Abreviatura adotada no texto para indicar a palavra Supraliminar.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇAO -----------------------------------------------------------------------------------------12
1.1
Exposição do problema ---------------------------------------------------------------------------12
1.2
Objetivos ----------------------------------------------------------------------------------------------14
1.3
Hipótese ----------------------------------------------------------------------------------------------15
1.4
Relevância do tema --------------------------------------------------------------------------------16
2 A PRÉ-ATIVAÇÃO (Priming) ----------------------------------------------------------------------17
2.1
Conceito e definição -----------------------------------------------------------------------------17
2.1.1 Características típicas da pré-ativação (priming) ----------------------------------------19
2.2
Breve histórico da pré-ativação no contexto da neuropsicologia ---------------------20
2.3
Tipologia e classificação ------------------------------------------------------------------------23
2.3.1 Pré-ativação (priming) subliminar e supraliminar -----------------------------------------24
2.3.2 Pré-ativação (priming) subliminar negativa ------------------------------------------------26
2.3.3 Pré-ativação (priming) semântica e pré-ativação (priming) afetiva ------------------27
3
MEMÓRIA, ATENÇÃO E ASPECTOS AFETIVOS -------------------------------------------28
4 EXPERIMENTO ----------------------------------------------------------------------------------------36
4.1
Método ------------------------------------------------------------------------------------------------39
4.2
Sujeitos -----------------------------------------------------------------------------------------------39
4.3
Material -----------------------------------------------------------------------------------------------40
4.4. Local --------------------------------------------------------------------------------------------------42
4.5
Descrição das tarefas e procedimento -------------------------------------------------------43
4.5.1 Experimento I ---------------------------------------------------------------------------------------43
4.5.2 Experimento II --------------------------------------------------------------------------------------44
4.6
Análise dos resultados ----------------------------------------------------------------------------45
5
RESULTADOS -----------------------------------------------------------------------------------------46
6
DISCUSSÃO --------------------------------------------------------------------------------------------53
7
CONCLUSÃO ------------------------------------------------------------------------------------------55
8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------------------------------------------------57
9
ANEXOS--------------------------------------------------------------------------------------------------60
1. - INTRODUÇAO
1.1 - Exposição do problema
O estudo que hora se apresenta se concentra na área da psiconeurologia e
é de natureza original no que diz respeito à escolha do tema e abordagem experimental.
O objetivo geral foi o de medir e avaliar os efeitos da pré-ativação (priming) com
estímulos visuais aversivos ou repulsivos, em modo subliminar e supraliminar, sobre a
atenção humana, por meio de um experimento baseado em testes de cognição em
ambiente controlado.
Partiu-se de duas linhas de pesquisa bem conhecidas na literatura, mas
para as quais não se encontrou algum estudo unificador. De um lado, a linha que vem
estudando nas últimas décadas a memória humana, sua divisão em módulos, sua
organização e a inserção da pré-ativação enquanto um modo distinto de memória. De
outro lado, uma linha que tem se dedicado ao estudo da atenção, seus mecanismos e
formas de operação. A essas duas linhas acrescentou-se o elemento emoção, resultando
em um estudo combinado, como sugere a própria neuropsicologia, no qual se espera
contribuir com o conhecimento da inter-relação entre memória, atenção e emoção. Para
Helene & Xavier (2003) é surpreendente que a literatura dedicada à atenção raramente
se refira à memória ou à emoção, diante da clara influência e interdependência entre
memória, atenção e emoção.
Três tarefas experimentais foram realizadas por 35 (trinta e cinco)
indivíduos em laboratório de neuropsicologia. A tarefa base onde testou a detecção de
alvo visual simples e a mesma tarefa de base, porém com estímulos distratores aversivos
intercalados de forma supraliminar ou subliminar (500ms ou 50ms de duração), em
blocos aleatorizados entre os indivíduos. Foram calculados índices de detectabilidade e
critério de resposta, que serviram para a comparação estatística entre condições
(medidas repetidas). Os resultados são discutidos no contexto da relevância de
influências emocionais sobre o comportamento para a Psicologia da Saúde. Com isso,
declara-se formalmente a seguinte pergunta-problema:

Qual é a influência de estímulos visuais subliminares sobre a cognição
medida pela atenção humana?
1.1 - Objetivos
Objetivo geral

Medir e avaliar a influência de estímulos visuais supraliminares e
subliminares sobre a cognição, particularmente sobre a atenção humana.
1.1.1 - Objetivos específicos
1- Estudar os efeitos da informação, apresentado de forma supraliminar e subliminar,
sobre o desempenho de tarefas cognitivas, particularmente sobre a atenção.
2- Realizar um experimento em ambiente controlado, submetendo indivíduos a
testes de atenção sob efeito de pré-estimulação supraliminar e subliminar com
estímulos visuais de conotação afetiva aversivos, escolhidos do IAPS.
3- Se afetar a atenção será verificado se o os estímulos subliminares ou
supraliminares tem efeitos iguais.
4- Se forem diferentes, será verificado a influência da ordem das tarefas: se a prévia
estimulação subliminar acentua os efeitos da estimulação supraliminar.
1.2 - Hipótese
A memória operacional sustenta o processo de cognição por tempo suficiente para
que as informações sejam retidas pela memória de longa duração, ao mesmo tempo em
que oferece subsídios para o gerenciamento de atividades correntes de cognição, entre
elas a atenção e suas diferentes formas. Durante esse processo, o gerenciamento da
atenção, assim como a escolha e a forma como certas informações serão retidas na
memória de longa duração sofrem influência de fatores externos como, por exemplo,
estímulos visuais subliminares ou supraliminares. Também sofrem influências de fatores
internos, como por exemplo, os níveis de neurotransmissores, hormônios e outras
substâncias neuroativas, ou das próprias emoções desencadeadas ou facilitadas por
estímulos internos e externos. Com isso, as tarefas de cognição, especialmente as
relacionadas à atenção, são susceptíveis a alterações e interferências emocionais
mensuráveis quantitativamente, de modo a fornecer um perfil de resposta de indivíduos,
como variação de desempenho cognitivo de acordo com seu estado emocional.
1.3 - Relevância do tema
O estudo se mostra relevante não apenas por sua originalidade, mas pela
contribuição que pode oferecer para diferentes áreas e aplicações da psicologia atual.
Demonstrar empiricamente com dados confiáveis a influência mensurável que estímulos
visuais afetivos podem ter sobre a cognição, sobretudo a atenção, seja de forma supra
ou subliminar, é de considerável utilidade para a psicologia do trabalho, para educação
corporativa, para a inteligência de negócios (Business Intelligence) e diversas outras
áreas onde o desempenho do indivíduo seja importante. Os resultados podem ter
reflexos no conhecimento e nas técnicas atuais de motivação humana, dinâmica de
grupo, trabalho em equipes e liderança, oferecendo aos estudiosos e profissionais
dessas áreas, subsídios para inclusão de técnicas baseadas em estimulação visual
afetiva. Isso significa oportunidade de novas técnicas aplicáveis em cursos, treinamentos,
palestras e ambientes de trabalho, e também as possibilidades de aplicação clínica em
psicologia da saúde, neuropsicologia, psiquiatria e em psicopatologias como: ansiedade,
depressão e fobias.
2. - A Pré-Ativação (Priming)
2.1 - Conceito e definição
Segundo Kolby & Wishaw (2003) o termo “Priming” pode referir diferentes
conceitos segundo o jargão específico da área de conhecimento em que seja utilizado.
Por exemplo, pode expressar a utilização de uma pré-vacina seguida de uma vacina
principal para obtenção de uma resposta imunológica específica que não seria possível
com apenas uma vacina ou, pode significar uma demão de produto especial para
preparação ou ativação de uma superfície para que esta receba uma pintura
posteriormente. Em geral, os diferentes conceitos de priming sugerem alguma forma de
preparação. No presente estudo, devido à sua natureza neuropsicológica, priming
assume um conceito sob duas diferentes visões: a psicológica e a neurológica. Na
primeira, significa a ativação deliberada e controlada de representações ou associações
na memória, antes de se conduzir uma tarefa específica. Em neurologia, significa a
ativação de clusters ou grupos de neurônios responsáveis por uma informação particular.
Cada cluster é cercado de outros que são mais ou menos interconectados entre si, e
quando um cluster é ativado, aqueles que são mais interconectados - devido a regras de
similaridade de informações – também se tornam mais ativados e, portanto, mais
passíveis de virem à consciência em tarefas seguintes. Essas associações são
frequentemente referidas como processo inconscientes, mas podem ser conscientes
também. A expressão pode também se referir à técnica experimental de submeter
indivíduos a estímulos para sensibilizar o sistema nervoso para apresentações
posteriores de estímulos similares ou iguais como, por exemplo: a leitura de uma lista de
palavras incluindo a palavra “macaco” e um teste posterior onde o indivíduo deva
completar palavras, nesse caso, espera-se que ele complete a palavra “Ma...” como
“macaco”, e não como macarrão, matemática, mar, malária, etc. Uma outra forma de
experimentos denominados como de priming, é a exposição de indivíduos a padrões de
imagens que não consigam reconhecer e em seguida aos mesmos padrões desenhados
de forma mais completa, e assim por diante, até que reconheçam o objeto retratado,
posteriormente, serão capazes de reconhecer o objeto através da exposição de padrões
menos completos.
Figura 01 - Modelo de associação ou ativação difusa da memória semântica.
Fonte: Adaptado de Melo et al. (2005).
Para Tulvin & Schacter (2002) a pré-ativação é uma forma não consciente
ou involuntária de memória que se dá através da identificação perceptiva de palavras e
objetos e que somente mais recentemente foi reconhecida como separada das outras
formas ou sistemas de memória. É uma expressão de um sistema perceptivo que opera
em nível pré-semântico, emerge anteriormente ao desenvolvimento e o acesso a ela não
se relaciona com o tipo de flexibilidade característica dos outros sistemas de memória
cognitiva.
2.1.1 - Características típicas da pré-ativação (priming)
De acordo com Kolb & Wishaw (2003), entre as características inerentes à
pré-ativação está o fato de que os itens são mais lembrados, lembrados com maior
perfeição ou de forma mais completa nas mesmas vias em que foram originalmente
memorizados. Por exemplo, uma pré-ativação realizada através da audição resultará em
melhor desempenho de memória de material auditivo do que de material visual, táctil ou
olfativo. Outra característica importante da pré-ativação é que pacientes com amnésia
têm o mesmo desempenho1 que grupos de controle com pacientes não amnésicos. Eles
apresentam a mesma memória esperada sobre o conteúdo da lista de pré-ativação, no
entanto não reportam se lembrar de alguma vez terem visto a lista ou terem sido
submetidos às sessões de pré-ativação. Essa característica evidencia diferenças entre
memória implícita e explícita.
1
Warrington & Weiskrantz, Apud: Bowers (2000) se referem os pacientes amnésicos apresentarem o efeito de préativação de forma normal a robusta independentemente de seu estado de poucas ou nenhumas chances deevocação de
memória explícita. (p. 83)
2.2 - Breve histórico da pré-ativação no contexto da neuropsicologia
Os fenômenos inerentes à pré-ativação emergiram ao conhecimento
humano em conformidade com a evolução das neurociências, da psicologia e, sobretudo,
da neuropsicologia
dentre outras
áreas.
Segundo Andrade
et al.
(2004),
a
neuropsicologia tem sua fundamentação teórica constituída em grande parte pela
convergência histórica de diversas ciências, como por exemplo, neurologia, a
neuroanatomia, neuroquímica, fisiologia e psicologia. A partir do século XX a psicologia
que ainda se confundia com a filosofia, passou a adotar metodologia científica, realizando
trabalhos empíricos através de teste sistemáticos controlados sendo então reconhecida
como ciência. Desde o século XVII já vinha ocorrendo em diversas ciências uma
tendência ao experimentalismo, o que resultou na psicologia experimental, paralelamente
desenvolviam-se
escolas
ou
correntes
psicológicas
como
o
estruturalismo,
o
funcionalismo, o comportamentalismo, a psicologia cognitiva e psicologia fisiológica entre
outras. Com o advento da informática, a busca pela explicação do comportamento no
contexto da dualidade cérebro-mente passou a receber analogias baseadas nos termos
computacionais, como processamento, codificação, decodificação, modelos de memória,
sensores, atuadores e outros. Nas décadas de 1950 e 1960 as inovações conceituais no
campo da matemática, da lógica e da estatística passaram também a integrar as
correntes da psicologia. Entretanto, ainda sentia-se falta de modelos humanos para
contrapor o que se denominou de “boxologia” ou o conjunto de metáforas que abordava o
ser humano através de modelos de caixas para explicar os fenômenos da cognição.
Neste cenário, e com o crescente interesse na interdisciplinaridade envolvida, constituída
de estudos sobre a psicomotricidade, percepção, atenção, emoção, e com a realização
de testes clínicos com pessoas sadias e pessoas com lesões cerebrais, consolidou-se,
finalmente a neuropsicologia.
Nos anos 80 tornou-se insustentável que a neuropsicologia e psicologia cognitiva
se mantivessem distantes e alheias o encontro entre as duas áreas proporcionou
que abrissem um canal de comunicação, como decorrência, surgiram eventos,
publicações e pesquisas em conjunto. Desde então a parceria denominada
Neuropsicologia Cognitiva tem incrementado a demanda de produções a partir da
troca de informações, material teórico e experiência clínica. (ANDRADE, et al.,
2004, p.6)
Segundo Andrade et al. (2004) os experimentos e testes neuropsicológicos
derivam desse mesmo histórico. Ocorreu que a neurologia no início do século XX,
quando diante da necessidade de realizar certas avaliações, tinha que recorrer a método
invasivos, como raios-x, punções ou exames físicos o que dificultava as avaliações
muitas vezes não permitindo a confirmação dos achados anatomopatológicos. Ao mesmo
tempo a crescente necessidade de avaliações funcionais levou alguns médicos a
proporem a utilização de instrumentos psicológicos como uma forma de ampliar as
avaliações, aproveitando justamente o fato do então recente reconhecimento da
psicologia como ciência. Como resultado, nasce a moderna neuropsicologia, cujos testes
e experimentos são embasados em três métodos distintos: Estatístico-psicométrico;
Clínico-teórico e, do Processo Específico. O método Estatístico-psicométrico é mais
utilizado em procedimentos médicos, pois sua função principal é uma detecção e,
identificação de anomalias orgânicas, seu grau e localização e se os conseqüentes
danos são estáticos ou dinâmicos. Trata-se de um método específico para distinguir
pessoas que têm anomalias cerebrais daquelas que não, tarefa em que é
consideravelmente eficiente, mas ao mesmo tempo é muito específico e limitado no que
diz respeito à análise dos problemas cognitivos, motores e comportamentais. O Método
Teórico-Clínico por sua vez, utiliza situações experimentais para a eliminação de todos
os comportamentos considerados normais e o desenvolvimento de diagnósticos gerais
das anomalias encontradas, exigindo um conhecimento aprofundado quanto à estrutura e
o funcionamento dos sistemas cognitivos, neurológicos e comportamentais. O método do
Processo Específico propõe que cada faceta de cada função cognitiva pode ser afetada
por meio de uma doença ou trauma cerebral, mesmo quando os sistemas cognitivos
trabalhem em conjunto. Nesse método, os conjuntos de instrumentos normalmente
usados, analisam as atividades cognitivas mais importantes como: índice de inteligência,
atividade de desempenho, atenção, fala, concentração, memória, funções perceptivas
visuo-motoras, solução de problemas e raciocínio.
Os testes e experimentos envolvendo pré-ativação se inserem no conceito
do Método Específico, abrindo um leque de estudos experimentais relacionados,
sobretudo a memória e desempenho, utilizando-se diferentes instrumentos e métodos.
Fazendo uma análise dos experimentos em ordem de freqüência, pode-se ter uma noção
de quais e quantos tipos de experimentos de pré-ativação foram ou estão sendo
realizados em cada categoria até o presente momento:
I - Palavras;
II - Rostos;
III - Letras;
IV - Localização espacial de objetos;
V - STROOP;
VI - Cálculos de desempenho;
VII - Tarefa intelectual;
VIII - Ideogramas: Chineses e Japoneses associados com rostos;
IX - Imagens;
X - Números;
XII - Sinais e setas;
XIII - Pronúncias (Sons);
2.3 - Tipologia e classificação
O efeito da pré-ativação sobre o sistema nervoso pode ser obtido de forma
supraliminar. Como por um relato verbal para dois grupos de pessoas, preparando-as por
sugestões pré-elaboradas que quando assimiladas, induzem ao comportamento
esperado ou de forma subliminar, por exemplo, fazendo-se que a pessoa perceba objetos
num ambiente e sofra efeitos sobre os seus sonhos, como no caso, da hiperminésia
(ERDELYI, 1985). Poderá também ser de detecção direta do que foi preparado para o
reconhecimento, como no caso da detecção dos próprios objetos previamente
apresentados. Existem cinco tipos básicos de fenômenos de estimulação, denominados
de pré-ativação ou priming:
I - Efeito de Exposição: Exposição de uma imagem consciente que se
predispõe para preferir uma imagem dentre outras.
II Efeito Poetzl: Palavras e imagens percebidas na consciência com
alteração da resposta da imagem apresentados posteriormente após a
submissão de conteúdo onírico.
III – Pré-ativação afetiva: Exposições de imagens de conteúdo afetivo ou
emocional para a consciência supraliminar ou subliminar causando uma
resposta emocional de conhecimento.
IV – Pré-ativação semântica: Exposições de palavras de conotação
emocional causando uma resposta de conhecimento.
V - Ativação psicodinâmica: São exposições de imagens fantasiosas ou
sugeridas por associação que poderão influenciar os estados psicológicos
de adaptação e persistência, como no caso do comportamento de esperar
ou de se apressar num dado comportamento.
2.3.1 - Pré-ativação (priming) subliminar e supraliminar
A pré-ativação subliminar vem sendo definida por uma quantidade de
informação, dividida pelo tempo de exposição. É o termo utilizado quando um sujeito é
preparado com uma breve exposição preliminar de um estímulo (que pode ser imagem,
som, símbolos, objetos) antes de medir seu desempenho em um teste/tarefa. Pode-se
ainda compreendê-la como um aumento na velocidade ou precisão de uma decisão que
acontece como conseqüência de uma exposição anterior a alguma informação relevante
para a decisão, sem qualquer intenção ou tarefa relacionada à motivação. Ela poderá ser
apresentada em forma de estímulos com exposição suficiente2 para a percepção em
nível consciente como pré-ativação supraliminar ou em exposição insuficiente para a
percepção da consciência como a pré-ativação subliminar. A pré-ativação subliminar é
utilizada em tarefas onde a memória para a informação prévia não é requerida e é
comprovado ser um fenômeno não consciente. Os primeiros estudos sobre percepção
subliminar foram feitos no final do século XX. Nos primeiros experimentos, os
pesquisadores mostravam aos sujeitos voluntários fichas com letras ou figuras
geométricas a uma distância tão grande que quando perguntados sobre o que viam todos
diziam que não conseguiam distinguir nada além dos borrões; depois pediam as pessoas
que tentassem reconhecer em um questionário de múltipla escolha, as figuras que
haviam sido mostradas. Como o nível de acerto era maior do que o que seria obtido ao
acaso, os pesquisadores concluíram que as pessoas haviam sido afetadas pelas
imagens (MERIKLE, 1998).
Na década de 70, pessoas foram submetidas a estímulos subliminares.
Pesquisadores exibiram ideogramas chineses aos voluntários e depois pediram a eles
que tentassem adivinhar num teste de múltipla escolha, se os ideogramas tinham
significados positivos ou negativos. Para algumas pessoas, as imagens-teste foram
precedidas por imagens subliminares de figuras sorridentes ou tristes, de tal maneira que
nenhuma pessoa reportou tê-las visto (ZAJONC, 1980). Pessoas submetidas às imagens
subliminares tiveram maior tendência de classificar positivamente os ideogramas
2
A insuficiência de exposição para a percepção consciente é geralmente baseada em redução a pequenas frações de
tempos, mas também pode ser baseada em menor nitidez, menor definição, menor completude, volume no caso de
sons, ou outras formas que impeçam ou dificultem a percepção consciente.
precedidos de figuras positivas que aquelas que não tinham sido submetidas a elas. Esse
tipo de estudo, em que o indivíduo é preparado com a breve exposição preliminar de uma
imagem antes de medir seu desempenho, é o protótipo dos estudos de pré-ativação
subliminar. A maior parte da base estabelecida sobre percepção subliminar e seus efeitos
foi adquirida com estudos deste tipo. Há vários estudos de pré-ativação que mostram
logo após a exibição dos estímulos, melhoria nas habilidades motoras (medindo o
resultado no lançamento de dardos), mudanças de humor, redução da ansiedade e de
fobias (como a agorafobia) e até perda de peso. Trata-se de uma possibilidade efetiva de
melhorar tanto perturbações emocionais como cognitivas. (MAYER & MERCKELBACH,
1999)
Foster (2007) se refere à outra forma de pré-ativação, que seria a préativação encoberta ou mascarada3 “masked priming”. Nesse método, além de ser exibida
de forma subliminar, a pré-ativação é disfarçada entre dois elementos, de forma análoga
a um sanduíche, sendo geralmente um composto de: máscara; pré-ativação e; alvo.
I - Mask (500 ms) #####
II - Prime (50 ms) horse
III - Target (500 ms) HOUSE
(FOSTER, 2007, p.1)
Dehane et al. (1998) realizaram experimentos com pré-ativação encoberta e
subseqüente tarefa de comparação semântica, acompanhados de monitoração cerebral
por imagem e concluíram que a pré-ativação encoberta tem influências mesuráveis na
atividade elétrica e na hemodinâmica cerebral.
3
A teoria do mascaramento de estímulos foi desenvolvida inicialmente pelo psicólogo estadunidense Benjamin Libet
em um experimento clássico que comparava estímulos no córtex cerebral e na área sensora correspondente da pele, e
devido a certo atraso entre os estímulos, um mascarava o outro, a ponto de não ser detectado. (ROCH, 2005, p. 31)
2.3.2 - Pré-ativação (priming) subliminar negativa
A pré-ativação subliminar negativa foi identificada por Dalrymple e Budyir
(1966), pelo uso do teste STROOP. Os estudos realizados foram usados para verificar se
processos (neurais) não conscientes seriam "espertos" ou "burros". Essa é a pergunta
fundamental sobre o papel da consciência em processar. Se a cognição não consciente é
”burra”, a função da consciência deve fornecer inteligência quando necessitada; se for
“esperta” e capaz, é necessário encontrar papéis diferentes para a consciência.
Grenwald (1994), Roberts & Cianni (1994) apresentaram pares de palavras
faladas simultaneamente à esquerda e à direita dos ouvidos dos sujeitos. Os
participantes eram instruídos para repetir alto somente a palavra que se apresentou em
um dos lados dos ouvidos do sujeito.
O interesse atual na pré-ativação subliminar deriva-se do trabalho de Marcel
(1983), sua pesquisa foi baseada na exibição de um efeito de acelerar a percepção de
uma "letra" da palavra, por apresentação prévia de uma palavra relacionada (MEYER,
1971). A palavra preparada é processada mais rapidamente ou exatamente do que no
controle sem a pré-ativação. Marcel (1983) relatou uma série das experiências em que
obteve grandes feitos de pré-ativação na ausência da percepção da palavra. Sua
conclusão foi que a pré-ativação e conseqüentemente a percepção facilitada da palavra
principal, ocorriam automaticamente e com associação, sem nenhuma necessidade da
consciência. Nesse modelo a consciência servia mais como um monitor da atividade
psicológica do que como um trajeto crítico entre a percepção e ação.
Shevrin e colegas demonstraram a condição clássica dos rostos
apresentados sob circunstâncias que impediam a detecção. Bunce, Bernat, Wong, &;
Shevrin, 1999; 1997. Chessman e Mericle (1986) relataram à dissociação da pré-ativação
consciente e não consciente usando uma variação de efeitos da interferência de
STROOP (1935). No efeito de STROOP uma palavra impressa como “Azul” porem
impressa em cor vermelha, deve ser referida pelo observador como "azul”. A interferência
é medida como o tempo mais longo para a pronuncia do "azul" do que se a palavra e cor
de impressão concordassem, ou seja, se a palavra “azul” estivesse impressa em azul.
2.3.3 - Pré-ativação (priming) semântica e pré-ativação (priming) afetiva
Tomando como exemplo uma simples viagem de ônibus, na qual um sujeito
escute a frase “ministro da justiça”, e em seguida seu pensamento se voltasse às
diversas nortícias que leu sobre o ministro ou sobre ações que esse ministro tomou. A
visão de outro passageiro em um casaco azul, pode também trazer a lembrança de uma
camisa azul comprada na semana passada, ou uma calça da mesma cor, ou um casaco
de outra cor, mas do mesmo modelo, com os mesmos detalhes. Esses são exemplos de
pré-ativação semântica, pelo fato de que as recordações seguintes se organizam por
associação com as anteriores, ou seja com as consideradas pré-ativação. No entanto,
ainda dentro do mesmo exemplo, mesmo diante da mesma frase “ministro da justiça” ou
da visão de um casaco azul, se em seguida o indivíduo estiver olhando para uma
senhora com aparência lastimável, triste, ou um grupo de rapazes alegres rindo-se,
haverá uma diferença afetiva no que ele pode se lembrar. “O simples olhar uma face a
sorrir, ou uma face triste, ou ouvir uma palavra como ‘funeral’ ou ‘festa’, parece ter a
capacidade de tornar mais acessível pensamentos com idêntica valência afetiva.”
(MARQUES, 2005, p. 437)
3. – MEMÓRIA, ATENÇÃO E ASPECTOS AFETIVOS
Segundo Magila & Xavier (2000) as discussões sobre a memória assumiram
um ritmo mais acelerado e nos moldes científicos a partir da década de 1950, sendo que
nos últimos anos é consenso na comunidade científica de que a memória humana é
composta de múltiplos e distintos sistemas que atuam de forma independente e
interagem. No entanto, grande parte da literatura disponível tem se ocupado mais com
questões taxonômicas do que com o modo pelo que as informações transitam entre os
sistemas de memória humana. Esses múltiplos sistemas apresentam características
gerais e particulares como:

Diferentes funções cognitivas e comportamentais, e diferentes tipos de
informações e conhecimentos por eles processados;

Diferentes leis e princípios regendo suas operações;

Diferentes estruturas e mecanismos neurais;

Diferenças na aparição onto e filogenética;

Diferenças no formato das informações apresentadas;
De acordo com Helene & Xavier (2007) o sistema nervoso humano é a
estrutura que permite a existência de memória. Constituído de aproximadamente 100
bilhões de neurônios, que se agrupam em mais de um quatrilhão de sinapses só no
córtex cerebral - com seu 20 bilhões de neurônios - podem formar ao todo um número de
sinapses difícil de calcular. Em seu significado amplo, memória é qualquer registro de
evento, de curto ou longo prazo, e a capacidade de evocação desse registro, sendo que
qualquer atividade eletrofisiológica gerada internamente de forma espontânea ou
externamente através de estímulos captados é capaz de gerar registros e, portanto
algum tipo de memória. Praticamente todas as regiões do sistema nervoso estão
envolvidas no arquivamento de algum dos tipos de memória, que podem ser observado
no quadro 01 onde é apresentado um modelo básico simplificado:
Quadro I - Modelo básico dos tipos de memória.
Tipo de memória
Descrição
Memória explícita
ou declarativa
(Saber que)
consciente, revistas, declaradas e apresentadas em forma de
discurso. Sua aquisição pode ser rápida ou instantânea.
Geralmente prejudicada em pacientes amnésicos.
Memória de longa
duração
Constitui-se de informações que podem ser evocadas de forma
Memória implícita
Ou procedural
(Saber como)
Constitui-se de registros de como fazer procedimentos,
geralmente não disponíveis de forma consciente, e de difícil
verbalização. Sua aquisição geralmente é lenta e
demoraada. Mostra-se preservada em pacientes amnésicos, mas
prejudicada em pacientes cerebelares ou com danos nos
gânglios da base.
É um sistema de memória com durabilidade de alguns
instantes ou até minutos. Inclui gerenciamento para a
realização de diversas tarefas cognitivas entre elas o
Memória de curta duração (Operacional) gerenciamento da atenção. Geralmente é prejudicado em
pacientes com danos nos giros supramarginall e
angular do hemisfério esquerdo.
Fonte: (HELENE & XAVIER, 2007, p. 30-42).
A memória operacional, ou memória de trabalho tem destaque especial no
sistema geral de memórias devido à sua utilização essencial tanto no momento de
aquisição quanto no de evocação de toda e qualquer memória, seja explícita ou implícita.
Ela é mantida pela atividade de neurônios do córtex pré-frontal, em rede, via córtex
entorrinal, com o hipocampo e a amígdala, durante a percepção, aquisição ou evocação
e através dessa interação. A memória de longa duração para sua aquisição ou fixação,
requer uma seqüência de processos moleculares4 que podem durar várias horas e
durante esse tempo, sofre influências internas e externas, é a memória operacional que
mantém as informações e as gerencia durante esse período. (IZQUIERDO, 2004, p. 90)
4
Kunes (2006) observou em um estudo em moscas drosófilas com apoio de marcadores fluorescentes que a fixação na
memória de longa duração envolve a sintetização de proteínas nas sinapses. (p. 20)
Melo et al. (2005) apresentam um modelo mais completo para a memória
humana (Quadro II), desenvolvido através de evidências neuropsicológicas colhidas e
observadas nas últimas décadas, as quais estudaram diversos aspectos relativos não
somente aos processos internos, mas como às diferenças etárias, patológicas, de
gênero5, etiológicas e outras. Neste modelo observam-se partes em comum com o
modelo básico supracitado, mas há o acréscimo de subdivisões para a memória explícita,
em semântica e episódica, sendo que a primeira lida com os sentidos e associações das
informações em seus conceitos, e a segunda com armazenamento de representações
sumárias de eventos e objetos. A memória operacional, também recebeu subdivisões
nesse modelo, como a alça fonológica, que seria um sistema para arquivamento de
informações verbais; a alça visuoespacial, para as informações de natureza
visuoespacial; a central executiva, que se encarrega de gerenciar a atenção e com isso
regula os outros sistemas; o retentor episódico, responsável por integrar ou associar as
informações temporárias da memória operacional com outras provenientes da memória
de longa duração.
5
Machado et al. (2005) realizaram um estudo controlado com testes de atenção com 20 homens e 20 mulheres, e
relataram que o grupo feminino apresentou um desempenho ligeiramente melhor.
Quadro II - Modelo avançado dos tipos de memória.
Memória (armazenamento de eventos
Episódica pessoais)
Memória
explícita
Memória
de longa
duração
Módulos
de
memória
Memória (armazenamento de
Semântica conhecimento geral)
Memória
implícita
(aquisição de habilidades percepto-motoras,
respostas emocionais e esqueléticas)
Alça fonológica
(armazenamento temporário e manipulação
de informações vísuoespaciais)
Central executiva
(Sistema de controle de atenção)
Esboço
vísuoespacial
(armazenamento temporário e manipulação
de informações vísuoespaciais)
Retentor
episódico
(elemento de comunicação entre a memória
operacional e os sistemas de memória de
longa duração)
Memória
Operacional
Fonte: Melo et al. (2005) p. 109.
Segundo Nahas & Xavier (2004) existem alguns modelos que se propõem a
explicar o funcionamento da atenção humana, assim como outros estão sendo iniciados
e elaborados com considerável freqüência. Estes modelos, no entanto não constituem
consenso na comunidade científica, ao contrário são permeados de antagonismos e
controvérsias em suas concepções e abordagens. Por outro lado sua existência é
construtiva, uma vez que colaboram de alguma forma para o crescente número de
observações, estudos e testes na área neuropsicológica. São modelos que permitem ser
avaliados e testados experimentalmente de forma a promover avanços constantes no
conhecimento da área.
Para Melo et al. (2005) a atenção é “um conjunto de processos que leva à
seleção ou priorização no processamento de certas categorias de informação.” (p. 46)
Para Canto-Pereira (2006) algumas metáforas foram utilizadas nas duas últimas décadas
para representar a atenção humana, como “holofote atencional”, “lente zoom” ou
“gradiente atencional”. Essas metáforas se referem à distribuição da atenção no campo
visual, existindo justamente pelo fato dessa distribuição não ser absolutamente
determinada pelo ponto de fixação, sofrendo tanto influências externas quanto internas,
relacionadas a estados emocionais. Para Helene & Xavier (2003) atenção é um conjunto
de processos que leva à seleção ou priorização no processamento de certas categorias
de informação, isto é a “atenção” é o termo que se refere aos mecanismos pelos quais se
dá tal seleção. É surpreendente que a literatura dedicada à atenção, raramente se refira
à memória. Esse processo, inerente à seleção atencional, depende não somente de um
histórico prévio do sistema selecionador - envolvendo suas memórias e, portanto, o
significado pessoal e emocional dos estímulos - como também de algumas expectativas
geradas sobre a pendência de eventos futuros com base nas memórias sobre
regularidades passadas e nos seus planos de ação. Estes planos de ação, por sua vez
dependem também de memórias sobre os resultados de ações anteriores e seu
significado afetivo. Atenção, memória e aspectos afetivos estão intimamente interligados.
No quadro III, pode-se observar a proposta de Melo et al. (2005) para a classificação dos
diferentes tipos de atenção:
Quadro III - Modelo de tipos de atenção.
Tipo de atenção
Descrição
É um estado de prontidão para detectar e/ou responder a
Atenção sustentada
alterações específicas de estímulos. Caracteriza-se por uma
atenção de alta intensidade, mas tem duração de
segundos a minutos e tende a decair ou se transformar em
vigilância com o passar períodos maiores.
Semelhante à atenção sustentada, mas com menor
Vigilância (alerta)
intensidade e maior duração, podendo ser mantida por
minutos ou horas.
É a possibilidade de atender concomitantemente a duas ou
Atenção dividida (ou difusa) mais fontes de estimulação.
É a capacidade de direcionar a atenção para uma porção
específica do ambiente, ignorando os demais estímulos.
Atenção seletiva
Implica em certa resistência à distração, às “tentações”
desses outros estímulos.
A orientação da atenção para um estímulo particular. É
Orientação
realizada de forma explícita ou seja, com o
atencional manifestata
direcionamento perceptível de um sensor, como os olhos, a
mão, os ouvidos, etc.
Orientação atencional
A orientação da atenção para um estímulo particular.
encoberta
É realizada de forma implícita, ou seja, sem o
direcionamento perceptível de algum sensor.
Fonte: Melo et al. (2005) p. 40-50.
De acordo com Mauss (2006) através de um teste auxiliado por tomografia
por ressonância magnética funcional (fMRI) que torna visível a atividade em diferentes
regiões do cérebro por meio do teor de oxigênio. James Gross e Oliver John,
pesquisadores da Universidade de Berkley nos Estado Unidos, submeteram grupos a
exibição de imagens afetivas chocantes6, como cães exibindo os dentes e cirurgias em
crianças com doenças fatais, para observar os efeitos das emoções nas áreas cerebrais.
O teste tinha o objetivo específico de avaliar a capacidade de controle das emoções
através da cognição. As pessoas foram orientadas para ora simplesmente contemplar as
imagens e ora utilizar um processo mental de afastamento, por exemplo, pensando que a
criança foi curada depois da cirurgia, ou que o cão raivoso estava a uma grande distância
e atrás de grades. Observaram com a utilização do afastamento ocorreu nítido aumento
de atividade no córtex pré-frontal, região responsável pelo controle executivo planejamento, decisão e execução de ações - e quanto mais ativa ficavam as células
nervosas desta região, maior era a calmaria em regiões do sistema límbico e, sobretudo
na amígdala, responsável pelo modo como lida com emoções negativas.
Beversdorf (2006) apresentou um estudo com evidências de que a tensão
emocional afeta a cognição, sobretudo a capacidade de resolução de problemas, como
associação de palavras. Um trecho de 20 minutos do filme “O resgate do Soldado Ryan”,
carregado de perigo suspense e um trecho da comédia de animação “Shreck” foram
exibidos para grupos de estudantes, que em seguida foram submetidos a testes de
associação de palavras. Os grupos que assistiram a comédia tiveram um desempenho
médio 39% melhor que o grupo submetidos acenas de tensão e estresse emocional.
De acordo com Ribeiro (2006), estímulos sem conteúdo afetivo estimulam
apenas áreas auditivas primária em pacientes vegetativos, no entanto o neurologista
belga Steven Laureys realizou um experimento com estímulos afetivos, como o nome do
paciente, um choro de criança, e observou a ativação de áreas mais profundas em
pacientes vegetativos do que sons sem significado.
De acordo com Welzer (2006) além de influenciar a forma como a memória
operacional gerencia a cognição para a percepção, decisão e execução de ações, as
emoções também influem no processo de fixação de informações na memória de longa
duração, especialmente na episódica. Exemplos desse fenômeno, especialmente quando
o indivíduo é submetido a fortes emoções, como em períodos de guerra, são os relatos
dos habitantes de Dresden - uma cidade alemã fortemente bombardeada durante a
segunda guerra mundial. Eles alegavam terem visto caças em vôos rasantes
perseguindo pessoas correndo ou o discurso do ex-presidente Ronald Reagan sobre
6
Estímulos visuais têm grande força apelativa superior aos demais estímulos no ser humano. Segundo Amâncio
(2005) pacientes portadores de condições que desabilitam a semântica, como por exemplo, os autistas, pensam por
imagens, e em muitos casos manifestam genialidade, como grande capacidade de memória, cálculo ou habilidade em
artes. (p.70)
uma vez, em que o piloto do avião de guerra que estava mandou que todos pulassem,
pois o mesmo iria cair, e ele vendo que o rapaz estava ferido não conseguindo pular
disse: “Não tem importância filho, se é assim, levamos juntos esse caixote lá pra baixo”.
Tanto os habitantes de Dresden quanto Reagan estavam relatando coisas que em que
acreditavam com sinceridade, mas na verdade não eram fatos por eles vividos. Devido à
grande tempestade de fogo e a densa fumaça, nenhum caça poderia fazer vôos rasantes
em Dresden, e o fato descrito por Reagan é uma cena de do filme “Uma asa e uma
prece” de 1944, incluindo a fala exata.
A influência da emoção, na memória, é tão intensa que, segundo Markwitch
(2006), pacientes que sofrem da doença de Urbach-Wiethe - um depósito de cálcio na
amígdala danifica a parte cerebral responsável pela maior parte das emoções – ficam
incapacitados de sentirem emoções. Eles foram capazes de se lembrar sob certas
circunstâncias, do vestido florido preto e amarelo, mas não do assassinato da mulher que
o trajava isto é, o que aconteceu apenas meia hora antes na frente deles. A explicação
para esse fenômeno, é que na ausência das emoções esses pacientes não têm os
mesmo padrões que as outras pessoas sobre a escolha do que memorizar e o que
considerar banal demais para ser memorizado. Segundo Volchan (2003), emoção pode
ser funcionalmente considerada como uma disposição à ação que prepara o organismo
para comportamentos relacionados à aproximação e esquiva, elas são experiências
referentes a reações neurovegetativas em resposta a um estimulo agradável ou
desagradável.
4. - Experimento
Partindo para uma investigação mais sistemática de como as variáveis de
atenção, emoção, pré-ativação subliminar e supraliminar se comportariam, acolheu-se a
idéia de combinar a pré-ativação subliminar com a medida de desempenho em tarefa
simples de atenção. Para isso foi desenvolvido um experimento com a intenção de testar
o sujeito em sua capacidade atencional quando submetido ou não a estímulos visuais
(imagens aversivas) do IAPS (International Affective Picture System). Abaixo se
apresenta o esboço do desenho do experimento, e foto do indivíduo realizando
experimento no laboratório (Fig. 02).
Figura 02 - Sujeito realizando o teste no laboratório de EEG (Eletroencefalograma) de
Alta resolução no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo - USP.
Figura 03 - Tela principal do software de teste (tempo em segundos, barras indicam
duração dos estímulos principais, S1 e S2, barras pontilhadas, duração dos estímulos
subliminares ou supraliminares; propriedades dos estímulos descrição da tarefa, abaixo).
S1
S2
4.1 – MÉTODO
Pesquisa experimental.
4.2 - SUJEITOS
Foram escolhidos 35 (trinta e cinco) sujeitos saudáveis de ambos os sexos,
de visão normal ou corrigida para normal, na proporção de 50% (cinqüenta pontos
percentuais) de homens e mulheres, sem doenças neuropsiquiátricas. Homens e
mulheres com idade entre 23 a 49 anos, sem abuso de drogas ou álcool e sem
tratamento com fármacos. Todos os sujeitos assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido aprovado pelo comitê de ética da UMESP.
4.3 - MATERIAL
O instrumento utilizado foram estímulos apresentados colhidos do IAPS
(International Affective Picture System) criado pelo NIMH (Center of the study of emotion
and attention) laboratório da Universidade da Flórida, USA. Imagens coloridas
selecionadas com sugestão de conteúdo afetivo repulsivo (Fig. 04) para serem
apresentadas como estímulos subliminares e supraliminares.
Figura 04 – Exemplos de imagens/fotos de conteúdo aversivo e repulsivo:
4.4.3 - LOCAL
Laboratório de EEG (Eletroencefalograma) de alta-resolução do Instituto de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP.
4.5 - DESCRIÇÃO DAS TAREFAS E PROCEDIMENTO
4.5.1 - Experimento 1
Todos os aspectos da tarefa foram controlados por um programa comercial
de computador (Stim, Neurosoft Inc.). Os estímulos visuais que compunham os pares de
dica-alvos (S1-S2) consistiam em pequenos retângulos 8 (excentricidade  0.8, S1: 100
ms de duração, S2: 17 ms). Em metade dos testes, os retângulos S2 continham um
círculo cinza (o alvo da tarefa) com 0.3 de excentricidade. S1 foi seguido por S2, com
inícios separados no tempo por 1,6 segundos. Foi instruído aos indivíduos do teste, que
um retângulo seria apresentado para indicar que 1,6 segundos depois ele apareceria
novamente, porém com maior rapidez, contendo ou não o círculo-alvo. O indivíduo
decidiria se havia dentro do retângulo S2, e indicaria a presença do alvo pressionando o
botão direito com o seu polegar direito, ou a ausência do alvo pressionando o botão
esquerdo com o seu polegar esquerdo. Foi omitido, deliberadamente nas instruções, o
tempo de reação e medido o desempenho exclusivamente pela porcentagem de testes
corretos, do total de 96 testes que compunham o experimento. Um ponto de fixação para
o olho aparecia continuamente no centro da tela, bem como um fundo para mascarar
estímulos, com o intuito de impedir imagens posteriores.
4.5.2 - Experimento 2
A segunda condição apresentada para os sujeitos, foi realizada num bloco
orientado de modo randomizado, uma quantidade de sujeitos praticamente 50% (
cinqüenta ponto percentuais) do total geral e 50% (cinquenta pontos percentuais) entre
masculinos e femininos realizou, primeiramente, na ordem o subliminar e outra
quantidade de sujeitos realizou primeiramente a supraliminar. Houve a inserção de 104
pares de retângulos entre cada uma das etapas do experimento.
A diferença foi à duração dos estímulos onde o tempo do subliminar foi de
50 ms e o supraliminar foi de 500 ms. Para todos os sujeitos que realizaram o
experimento, foram realizadas cinco perguntas pelo experimentador após ter informado
todas as instruções necessárias para a realização do experimento. As perguntas foram:
1. Como você está se sentindo? (Pergunta efetuada antes da realização das tarefas
no laboratório).
2. Como você está se sentindo? (Pergunta efetuada depois da realização de todas
as tarefas no laboratório).
3. Você viu alguma coisa durante a tarefa que realizou? (Tarefa realizada com a
exposição de estímulos SUB do IAPS).
4. Qual a tarefa mais difícil para você?
5. Qual a tarefa que você menos gostou?
4.6 - ANÁLISE DOS RESULTADOS
Uma vez que a tarefa de base foi sistematicamente realizada antes das
outras e os efeitos fadiga e treinamento não poderiam ser evitados, a análise estatística
restringiu-se
apenas
às
variáveis
obtidas
nas
duas
condições
subseqüentes.
Computamos análise de variância (ANOVA) com medidas repetidas, entre as duas
condições de interesse, das variáveis: detectabilidade, critério (e seus componentes,
HITS - acertos positivos e falsos positivos), tratando como fatores o sexo dos sujeitos e a
ordem entre as duas condições subliminar e supraliminar. Para isso foram usados índices
de detectabilidade e critério, derivados da teoria de detecção de sinais (MACMILLAN &
C. D. CREELMAN, 2005).
1- A partir das porcentagens (entre 0 e 1) tanto de Hits (h) quanto de falso
alarmes (fa),
2- Calcula-se a tranformada z (inversa da gaussiana) de Hits, z(h), e de falsoalarmes, z(fa).
3- A detectabilidade é definida como: d’=z(h) – z(fa).
4- O critério é definido como: beta= -0.5 [z(h)0 + z(fa)].
Espera-se que, comparando-se as duas condições, onde se supõe que a
detectabilidade do individuo seja a variável modulada, que o d’ varie e o beta (critério)
fique aproximadamente constante.
5. - RESULTADOS
A partir deste parágrafo, para facilitar a compreensão, serão utilizadas as
siglas de SUB para a palavra subliminar e SUPRA para a palavra supraliminar no
decorrer do texto.
Deste experimento, foram eliminados 5 (cinco) sujeitos por desempenho
insuficiente na tarefa base, abaixo de 56% (cinquenta e seis pontos percentuais) de
respostas corretas, o que estatisticamente, deve ser considerado aleatório. (vide tabela
em anexo: monicabonsn com páginas 1/4, 2/4, 3/4, 4/4)
Comparando-se as três condições do experimento e incluindo-se a tarefa base
como três medidas repetidas, verificou-se não haver nenhum efeito global de diferença
significativa entre as três para qualquer das variáveis. Apesar da condição de base da
tarefa sem os distratores ter sido efetuada primeiramente pelos sujeitos, ela não
melhorou ou piorou o desempenho, significativamente, nas duas condições de interesse.
A figura 05 mostra as médias das três variáveis, total de acertos, detectabilidade, e
critério.
Figura 05 - Médias para todos os participantes (n=30), de detectabilidade, total de
acertos em porcentagem, e critério, nas três tarefas (barras indicam  1 desvio padrão);
re =
repetições: 1= tarefa base, 2= distratores subliminares, 3= distratores
supraliminares).
Em tal análise, tratando-se as três condições como medidas repetidas, não
houve diferença significativa no total de acertos ou no índice de detectabilidade, mas
ocorreu uma diferença significativa do índice critério (F= 5,59 e P= 0,26). O “critério”,
claramente menor para a condição de base (figura 05), diferiu significativamente na
comparação das três condições, e mostrou efeito significativo da ordem das tarefas
(F=7,63 e P= 0,01). Na comparação entre as tarefas SUB e SUPRA, quando tratamos
apenas as duas condições de interesse, que estavam aleatorizadas entre os indivíduos,
como medidas repetidas, também não houve diferenças significativas na detectabilidade
e no total de acertos.
Quanto ao índice critério, novamente houve um efeito significativo de ordem
de apresentação (P= 0,05 e F=4,21), A figura 06 mostra o índice critério para as
condições SUPRA e SUB, com indivíduos divididos quando à ordem de execução das
tarefas.
Figura 06 - Critério ( 1 desvio padrão), para as duas condições, com grupos de
indivíduos divididos em função da ordem: 1 = realizou primeiro a tarefa SUB; 2 =
realizaram primeiro a tarefa SUPRA.
Os sujeitos que realizaram primeiramente a tarefa SUB, tiveram o índice
critério superior, para as duas condições, demonstrando assim um efeito de ordem. Tal
efeito, uma vez detectado, levou-nos a analisar os componentes, de HITS e falsoalarmes. Os falso-alarmes mostrou uma diferença significativa em função da ordem de
apresentação (F=4,97 e P=0,035). A figura 07 mostra o componente “falso-positivo” do
critério, para as duas condições, em função da ordem de apresentação.
Figura 07-Falso-positivos ( 1 desvio padrão), para as duas condições, com grupos de
indivíduos divididos em função da ordem: 1 = realizou primeiramente a tarefa SUB;
2 = realizaram primeiramente a tarefa SUPRA.
Os sujeitos, em sua grande maioria, responderam que estavam bem no
inicio das tarefas, e quando questionados ao final do experimento, disseram não se
sentiam tão bem. Alguns reportaram mau humor diretamente devido as imagens,
consideradas pela maioria “ruins e pesadas”. Quando se questionou se os sujeitos
haviam percebido algo além dos estímulos neutros, na tarefa dos estímulos subliminares,
a resposta da grande maioria dos sujeitos foi que não viram nada, apenas brilhos,
pedaços de figuras, ou algumas cores, porém, apenas na proporção de 3% (três pontos
percentuais) do que foi de fato apresentado. A grande maioria dos indivíduos disse que
não gostou da tarefa de base, na proporção de 60% (sessenta pontos percentuais),
considerando que o alvo era apresentado muito rapidamente (17ms). A maioria dos
sujeitos considerou ter mais dificuldade com a tarefa de base e na tarefa SUPRA.
Finalmente, um achado interessante, apesar de estatisticamente não significativo, foi a
diferença de HITS entre sexos. As mulheres foram mais prejudicadas no desempenho (e
mais afetadas, por seus relatos). A figura 08 mostra a média e desvio padrão de HITS,
separados por sexo.
Error Bars show 95,0% Cl of Mean
0,900

hitsub
0,800
0,700

0,600
1
2
sexo
0,900
Error Bars show 95,0% Cl of Mean
hitsupra
0,800


0,700
0,600
1
2
sexo
Figura 08 - Detecções corretas (HITS) em função do sexo (masc = 1; fem = 2), em
ambas as condições, subliminar e supraliminar.
6. - DISCUSSÃO
Os sujeitos foram submetidos a efeitos de estímulos subliminares e
supraliminares, usados como distratores repulsivos do IAPS, sobre tarefa de atenção
visual. Os resultados encontrados vieram de encontro com experimentos como o de
Bargh (1992), onde se demonstrou que as emoções, atitudes, objetivos e intenções
podem ser ativados sem a participação da consciência e podem influenciar o modo de
pensar e agir dos indivíduos e situações sociais. A detectabilidade do alvo foi levemente
inferior nas duas condições de interesse (SUB e SUPRA), comparadas com a condição
base, mas não significativamente. Os fatores escolaridade e idade, o fator stress e visão
defasada (apesar de serem dadas instruções aos sujeitos da necessidade de correção da
visão), podem ter contribuído para o desempenho insuficiente de alguns sujeitos. Todos
os sujeitos realizaram a primeira tarefa de base de atenção sem os distratores afetivos
aversivos. Supunha-se que a fadiga e o treinamento, de influências opostas sobre o
desempenho, poderiam ter se sobreposto a todos os indivíduos do estudo, porém, o
efeito de treinamento parece haver impedindo a deterioração esperada na tarefa base.
Outra possibilidade é de exatamente os distratores levarem a uma maior concentração
nas tarefas, por evitação dos estímulos aversivos. Foram encontrados alguns pontos
críticos nos resultados deste experimento. Os resultados obtidos vão de encontro com os
objetivos deste estudo, demonstrando que a estimulação subliminar afetou o
desempenho na tarefa de atenção, porque a mudança de critério dos sujeitos que
iniciaram primeiramente a tarefa subliminar em relação à próxima tarefa, a supraliminar,
demonstraram uma modificação significativa do índice critério. Em relação aos objetivos
específicos também foi demonstrado neste estudo que os estímulos utilizados do IAPS,
quando apresentados de maneira subliminar ou supraliminar, têm efeitos distintos.
Quanto à terceira hipótese do estudo, onde a preocupação era verificar a influência de
ordem das tarefas, especificamente, se a estimulação subliminar prévia acentuaria os
efeitos da estimulação supraliminar obteve-se resultados opostos à expectativa. O índice
“critério” demonstrou um efeito “destruidor” na tarefa SUPRA, isto é, alterou o resultado
“critério” para todos os sujeitos que iniciaram a ordem da tarefa pelos estímulos SUB.
A ausência de efeito significativo global tanto de total de HITS (acertos) e
detectabilidade, parece dever-se ao fato da tarefa de base ter sido realizada sempre em
primeiro lugar com todos os sujeitos. Constatou-se que houve um efeito de treinamento,
porém a diferença de critério mostra que ocorreu uma mudança de estratégia de
execução ao efeito de ordem de apresentação das tarefas confirmando a hipótese de
mudança de estratégia, tanto entre as três tarefas, quanto entre as duas principais.
Constatou-se que o efeito de ordem sobre o critério deve-se a falso-alarmes: quem
começou pela tarefa subliminar cometeu significativamente menos falso-alarmes nas
duas tarefas de interesse. Isso significa que tal grupo de sujeitos, na ausência do alvo,
rejeitou corretamente relativamente mais que o outro grupo. Além disso, quem iniciou
pela tarefa SUB, “protegeu-se” na tarefa SUPRA a seguir, cometendo menos falsoalarmes nessa tarefa também. Ao contrário, quem começou pela SUPRA, parece haver
sofrido
um
efeito “devastador”,
isto
é,
já
cometendo mais
falso-alarmes,
e
surpreendentemente, mantendo esse desempenho relativamente pior na tarefa SUB que
realizaram a seguir. Apesar de não significativo o efeito de sexo sobre o desempenho,
suspeita-se que com uma amostra maior, ou mais representada por mulheres, pode-se
observar um prejuízo geral de desempenho, devido a mais erros de detecção (menor
número de HITS).
7- CONCLUSÃO
Em relação ao desempenho da tarefa de base não houve diferença
significativa entre as duas condições com os distratores, ou globalmente entre as três
tarefas. É possível que com um número maior de sujeitos, ou uma amostra
exclusivamente feminina, leve a uma diferença significativa entre as condições.
O desempenho foi superior nas duas condições à tarefa de base de
atenção, o que deve ser devido ao efeito de treinamento. O total de acertos e índice de
detectabilidade também não diferiu entre as duas condições, mas o índice “critério” foi
significativamente diferente, aumentando nas duas condições na tarefa SUB e a tarefa
SUPRA em relação à tarefa de base.
O achado mais importante foi o efeito da ordem de apresentação das duas
tarefas principais da SUB e a SUPRA, sendo que o grupo que iniciou pela condição
subliminar teve os valores e a “média do critério” superiores em ambas as condições. A
análise dos componentes do índice “critério” revelou um aumento de falso-alarmes no
grupo que iniciou a tarefa na condição supraliminar e que se manteve na condição
subliminar, ao contrário o grupo que iniciou na condição subliminar, manteve o número
menor de falso-alarmes durante a condição supraliminar.
Segundo Le Doux, (2001), a emoção e cognição parecem atuar de forma
não consciente, mas o resultado da atividade cognitiva e emocional é percebido
conscientemente; os materiais e estímulos absorvidos que não ganham forma de
conteúdos conscientes poderá ser armazenado e depois mais tarde e passar a influenciar
o pensamento e o comportamento. No presente caso, não se verificou o esperado efeito
de estímulos subliminares acentuarem o efeito, supostamente distrator dos estímulos
supraliminares, mas o contrário. Tal efeito contrário, “protetor”, de qualquer modo,
significa que de fato os estímulos subliminares influenciaram a tarefa subseqüente de
modo significativo.
A exploração de possibilidades psicológicas e neuropsicológicas voltadas
para a compreensão dos aspectos da consciência é de fundamental importância para a
psicologia da saúde, à medida que ela considera os aspectos bio-psico e sociais
relevantes. Este estudo demonstrando como os estímulos afetivos subliminares afetam a
consciência humana à luz do desempenho da cognição, especialmente a atenção, pode
abrir portas a novos experimentos que contribuam no auxilio da diminuição de diversas
doenças afetivas, como ansiedade, fobias e depressão, e também facilitar a
aprendizagem, nas relações sociais e de trabalho.
8 - REFERÊNCIAS
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9 – ANEXOS
ANEXO 01 - Formulário do Comitê de Ética livre e esclarecido da UMESP.
ANEXO 02 - Monicabonsn: 1.4; 1.2; 1.3; 1.4.
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