UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA CONSCIÊNCIA E EMOÇÃO: O EFEITO DO PRIMING AFETIVO SUBLIMINAR EM TAREFAS DE ATENÇÃO MONICA SILVIA BORINE SÃO BERNARDO DO CAMPO 2006 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE PSICOLOGIA E FONOAUDIOLOGIA MONICA SILVIA BORINE CONSCIÊNCIA E EMOÇÃO: O EFEITO DO PRIMING AFETIVO SUBLIMINAR EM TAREFAS DE ATENÇÃO Tese apresentada ao curso de Pós- graduação da Universidade Metodista de São Paulo como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Psicologia da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Luis F. Hindi Basile SÃO BERNARDO DO CAMPO 2006 FICHA CATALOGRÁFICA Borine, Monica Silvia. Consciência e emoção: o efeito do priming afetivo subliminar em tarefas de atenção. / Monica Silvia Borine. -- São Bernardo do Campo, 2006. 70p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Metodista de São Paulo. Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia, Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde. Orientação: Luis F. Hindi Basile. 1. Consciência 2. Emoção 3. Atenção 4. Pré-preparo afetivo 5. Subliminar; 6. Cognição I. Título. CDD 157.9 MONICA SILVIA BORINE CONSCIÊNCIA E EMOÇÃO: O EFEITO DO PRIMING SUBLIMINAR AFETIVO EM TAREFAS DE ATENÇÃO Dissertação apresentada ao curso de Pós- graduação da Universidade Metodista de São Paulo como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestrado em Psicologia da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Luis F. Hindi Basile Área de concentração: Data de defesa: 26 de março de 2007. Resultado: BANCA EXAMINADORA Luis F. Hindi Basile Universidade Metodista de São Paulo Prof. Dr. Renato Teodoro Ramos Universidade Metodista de São Paulo Prof. Dr. Marcus Vinícius C. Baldo Universidade de São Paulo Prof. Dr. DEDICATÓRIA Dedico a todos os pesquisadores que não mediram esforços, abrindo caminhos para uma compreensão mais efetiva da consciência e sua relevância para a Psicologia e a experiência humana. “A psicologia deveria ser o estudo cientifico da consciência”. (WUNDT, 1832 – 1920). “O objeto de estudo da Psicologia é a consciência”. (W. JAMES, 1890). “Os homens acreditam ser livres porque são conscientes de seus atos, mas não conscientes das causas que determinam esses atos”. (SPINOZA - Ethics). RESUMO Esta tese revisou duas linhas de pesquisa, desenvolvidas nas últimas décadas: o estudo de efeitos de estimulação subliminar “priming”, e de desencadeamento de reações emocionais por estímulos controlados. Este estudo tem o objetivo de combinar tais linhas para o estudo da consciência com pré-preparo afetivo: efeito de estímulos de conteúdo aversivo, subliminares e supraliminares, sobre a cognição, pela análise do desempenho em tarefa de atenção. Três tarefas experimentais foram realizadas por 35 indivíduos em laboratório de neuropsicologia: a tarefa base onde testamos à detecção de alvo visual simples, e a mesma tarefa de base, porém com estímulos distratores aversivos intercalados, de forma supraliminar ou subliminar (500 ms ou 50 ms de duração), em blocos aleatorizados entre os indivíduos. Calcularam-se índices de detectabilidade e critério de resposta, que serviram para a comparação estatística entre condições (medidas repetidas). Os resultados mostram uma mudança significativa do índice “critério”, indicando mudança de estratégia na presença de distratores subliminares aversivos. Concluiu-se que a tarefa subliminar fez um efeito “destruidor ou devastador” na tarefa supraliminar, cometendo menos falso-alarmes protegendo a tarefa supraliminar, tendo um efeito “protetor”. Os resultados são discutidos no contexto da relevância de influências emocionais sobre o comportamento para a Psicologia da Saúde. Palavras-chave: consciência, estimulação aversiva, estimulação subliminar, atenção, emoção. ABSTRACT This thesis evaluated two lines of research, developed in the last few decades: the study of subliminal stimulation “priming”, and the triggering of emotional reactions by controlled stimuli. The present study aims at combining these lines for the study of affective priming: the effect of stimuli with aversive contents, subliminal and supraliminal, on cognition, by analysis of performance during attention task. Three experimental tasks were performed by 35 individuals in neuron psychology laboratory: a baseline task where detection of simple visual target was tested, and the same task with interposed distracting aversive stimuli, both in supraliminal and subliminal presentation (500 ms or 50 ms duration), in random blocks among the subjects. Detection and response criterion rates were calculated and used for the statistical comparison between conditions (repeated measures). The results show a significant difference in the detection significant change of “criterion”, indicating change of strategy in the presence of aversive affective images. The conclusion the subliminal task made a destructive effect in supraliminal task, damage false alarms, have a “protector” effect. The results are argued in the context of the relevance of emotional influences on the behavior for the Health Psychology. Keywords: consciousness, attention, emotion. awareness, subliminal stimulation, affective priming, LISTA DE ILUSTRAÇÕES Fig. 01 - Modelo de associação ou ativação difusa da memória semântica. ----------------18 Fig. 02 - Foto do sujeito realizando o teste no laboratório de EEG (Eletroencefalograma) de Alta resolução no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP. ---------------------------------------------------------------------------------------37 Fig. 03 - Tela principal do software de teste atenção com distratores intercalados supraliminar e subliminar. ---------------------------------------------------------------------------------38 Fig. 04 - Exemplo de imagens/fotos de conteúdo aversivo e repulsivo. ----------------------41 Fig. 05 - A figura mostra médias de detectabilidade e critério, com um desvio padrão: 1- base, 2- subliminar, 3- supraliminar. ----------------------------------------------------------------47 Fig. 06 - Critério ( 1 desvio padrão), para as duas condições, com grupos de indivíduos divididos em função da ordem. --------------------------------------------------------------------------48 Fig. 07 - Mostra o componente “falso-positivo” do critério, para as duas condições, em função da ordem de apresentação. --------------------------------------------------------------------50 Fig. 08 - Detecções corretas (HITS) em função do sexo (masc = 1; fem = 2) em ambas as condições subliminar e supraliminar. ------------------------------------------------------------------52 LISTA DE QUADROS QUADRO I - Modelo básico dos tipos de memória ------------------------------------------------29 QUADRO II - Modelo avançado dos tipos de memória--------------------------------------------31 QUADRO III - Modelo de tipos de atenção -----------------------------------------------------------33 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS IAPS - Sistema afetivo internacional de fotos desenvolvido para avaliação experimental de emoções. Acompanha manual de avaliação afetiva das fotos. Relatório técnico A-6. Universidade da Flórida, Gainesville, FL. - Lang, P.J., Bradley, M.M., & Cuthbert, B.N. 2005. STROOP - Teste de atenção, desenvolvido por John Ridley Stroop em 1935, baseia-se em evidências de que se leva mais tempo para nomear cores do que para ler nomes de cores. Assim, também se leva mais tempo para nomear a cor de impressão e/ou ler nomes de cores, quando esses se acham impressos em uma cor de tinta diferente da cor que nomeiam (SROOP, 1935). SUB - Abreviatura adotada no texto para indicar a palavra Subliminar. SUPRA - Abreviatura adotada no texto para indicar a palavra Supraliminar. SUMÁRIO 1 INTRODUÇAO -----------------------------------------------------------------------------------------12 1.1 Exposição do problema ---------------------------------------------------------------------------12 1.2 Objetivos ----------------------------------------------------------------------------------------------14 1.3 Hipótese ----------------------------------------------------------------------------------------------15 1.4 Relevância do tema --------------------------------------------------------------------------------16 2 A PRÉ-ATIVAÇÃO (Priming) ----------------------------------------------------------------------17 2.1 Conceito e definição -----------------------------------------------------------------------------17 2.1.1 Características típicas da pré-ativação (priming) ----------------------------------------19 2.2 Breve histórico da pré-ativação no contexto da neuropsicologia ---------------------20 2.3 Tipologia e classificação ------------------------------------------------------------------------23 2.3.1 Pré-ativação (priming) subliminar e supraliminar -----------------------------------------24 2.3.2 Pré-ativação (priming) subliminar negativa ------------------------------------------------26 2.3.3 Pré-ativação (priming) semântica e pré-ativação (priming) afetiva ------------------27 3 MEMÓRIA, ATENÇÃO E ASPECTOS AFETIVOS -------------------------------------------28 4 EXPERIMENTO ----------------------------------------------------------------------------------------36 4.1 Método ------------------------------------------------------------------------------------------------39 4.2 Sujeitos -----------------------------------------------------------------------------------------------39 4.3 Material -----------------------------------------------------------------------------------------------40 4.4. Local --------------------------------------------------------------------------------------------------42 4.5 Descrição das tarefas e procedimento -------------------------------------------------------43 4.5.1 Experimento I ---------------------------------------------------------------------------------------43 4.5.2 Experimento II --------------------------------------------------------------------------------------44 4.6 Análise dos resultados ----------------------------------------------------------------------------45 5 RESULTADOS -----------------------------------------------------------------------------------------46 6 DISCUSSÃO --------------------------------------------------------------------------------------------53 7 CONCLUSÃO ------------------------------------------------------------------------------------------55 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------------------------------------------------57 9 ANEXOS--------------------------------------------------------------------------------------------------60 1. - INTRODUÇAO 1.1 - Exposição do problema O estudo que hora se apresenta se concentra na área da psiconeurologia e é de natureza original no que diz respeito à escolha do tema e abordagem experimental. O objetivo geral foi o de medir e avaliar os efeitos da pré-ativação (priming) com estímulos visuais aversivos ou repulsivos, em modo subliminar e supraliminar, sobre a atenção humana, por meio de um experimento baseado em testes de cognição em ambiente controlado. Partiu-se de duas linhas de pesquisa bem conhecidas na literatura, mas para as quais não se encontrou algum estudo unificador. De um lado, a linha que vem estudando nas últimas décadas a memória humana, sua divisão em módulos, sua organização e a inserção da pré-ativação enquanto um modo distinto de memória. De outro lado, uma linha que tem se dedicado ao estudo da atenção, seus mecanismos e formas de operação. A essas duas linhas acrescentou-se o elemento emoção, resultando em um estudo combinado, como sugere a própria neuropsicologia, no qual se espera contribuir com o conhecimento da inter-relação entre memória, atenção e emoção. Para Helene & Xavier (2003) é surpreendente que a literatura dedicada à atenção raramente se refira à memória ou à emoção, diante da clara influência e interdependência entre memória, atenção e emoção. Três tarefas experimentais foram realizadas por 35 (trinta e cinco) indivíduos em laboratório de neuropsicologia. A tarefa base onde testou a detecção de alvo visual simples e a mesma tarefa de base, porém com estímulos distratores aversivos intercalados de forma supraliminar ou subliminar (500ms ou 50ms de duração), em blocos aleatorizados entre os indivíduos. Foram calculados índices de detectabilidade e critério de resposta, que serviram para a comparação estatística entre condições (medidas repetidas). Os resultados são discutidos no contexto da relevância de influências emocionais sobre o comportamento para a Psicologia da Saúde. Com isso, declara-se formalmente a seguinte pergunta-problema: Qual é a influência de estímulos visuais subliminares sobre a cognição medida pela atenção humana? 1.1 - Objetivos Objetivo geral Medir e avaliar a influência de estímulos visuais supraliminares e subliminares sobre a cognição, particularmente sobre a atenção humana. 1.1.1 - Objetivos específicos 1- Estudar os efeitos da informação, apresentado de forma supraliminar e subliminar, sobre o desempenho de tarefas cognitivas, particularmente sobre a atenção. 2- Realizar um experimento em ambiente controlado, submetendo indivíduos a testes de atenção sob efeito de pré-estimulação supraliminar e subliminar com estímulos visuais de conotação afetiva aversivos, escolhidos do IAPS. 3- Se afetar a atenção será verificado se o os estímulos subliminares ou supraliminares tem efeitos iguais. 4- Se forem diferentes, será verificado a influência da ordem das tarefas: se a prévia estimulação subliminar acentua os efeitos da estimulação supraliminar. 1.2 - Hipótese A memória operacional sustenta o processo de cognição por tempo suficiente para que as informações sejam retidas pela memória de longa duração, ao mesmo tempo em que oferece subsídios para o gerenciamento de atividades correntes de cognição, entre elas a atenção e suas diferentes formas. Durante esse processo, o gerenciamento da atenção, assim como a escolha e a forma como certas informações serão retidas na memória de longa duração sofrem influência de fatores externos como, por exemplo, estímulos visuais subliminares ou supraliminares. Também sofrem influências de fatores internos, como por exemplo, os níveis de neurotransmissores, hormônios e outras substâncias neuroativas, ou das próprias emoções desencadeadas ou facilitadas por estímulos internos e externos. Com isso, as tarefas de cognição, especialmente as relacionadas à atenção, são susceptíveis a alterações e interferências emocionais mensuráveis quantitativamente, de modo a fornecer um perfil de resposta de indivíduos, como variação de desempenho cognitivo de acordo com seu estado emocional. 1.3 - Relevância do tema O estudo se mostra relevante não apenas por sua originalidade, mas pela contribuição que pode oferecer para diferentes áreas e aplicações da psicologia atual. Demonstrar empiricamente com dados confiáveis a influência mensurável que estímulos visuais afetivos podem ter sobre a cognição, sobretudo a atenção, seja de forma supra ou subliminar, é de considerável utilidade para a psicologia do trabalho, para educação corporativa, para a inteligência de negócios (Business Intelligence) e diversas outras áreas onde o desempenho do indivíduo seja importante. Os resultados podem ter reflexos no conhecimento e nas técnicas atuais de motivação humana, dinâmica de grupo, trabalho em equipes e liderança, oferecendo aos estudiosos e profissionais dessas áreas, subsídios para inclusão de técnicas baseadas em estimulação visual afetiva. Isso significa oportunidade de novas técnicas aplicáveis em cursos, treinamentos, palestras e ambientes de trabalho, e também as possibilidades de aplicação clínica em psicologia da saúde, neuropsicologia, psiquiatria e em psicopatologias como: ansiedade, depressão e fobias. 2. - A Pré-Ativação (Priming) 2.1 - Conceito e definição Segundo Kolby & Wishaw (2003) o termo “Priming” pode referir diferentes conceitos segundo o jargão específico da área de conhecimento em que seja utilizado. Por exemplo, pode expressar a utilização de uma pré-vacina seguida de uma vacina principal para obtenção de uma resposta imunológica específica que não seria possível com apenas uma vacina ou, pode significar uma demão de produto especial para preparação ou ativação de uma superfície para que esta receba uma pintura posteriormente. Em geral, os diferentes conceitos de priming sugerem alguma forma de preparação. No presente estudo, devido à sua natureza neuropsicológica, priming assume um conceito sob duas diferentes visões: a psicológica e a neurológica. Na primeira, significa a ativação deliberada e controlada de representações ou associações na memória, antes de se conduzir uma tarefa específica. Em neurologia, significa a ativação de clusters ou grupos de neurônios responsáveis por uma informação particular. Cada cluster é cercado de outros que são mais ou menos interconectados entre si, e quando um cluster é ativado, aqueles que são mais interconectados - devido a regras de similaridade de informações – também se tornam mais ativados e, portanto, mais passíveis de virem à consciência em tarefas seguintes. Essas associações são frequentemente referidas como processo inconscientes, mas podem ser conscientes também. A expressão pode também se referir à técnica experimental de submeter indivíduos a estímulos para sensibilizar o sistema nervoso para apresentações posteriores de estímulos similares ou iguais como, por exemplo: a leitura de uma lista de palavras incluindo a palavra “macaco” e um teste posterior onde o indivíduo deva completar palavras, nesse caso, espera-se que ele complete a palavra “Ma...” como “macaco”, e não como macarrão, matemática, mar, malária, etc. Uma outra forma de experimentos denominados como de priming, é a exposição de indivíduos a padrões de imagens que não consigam reconhecer e em seguida aos mesmos padrões desenhados de forma mais completa, e assim por diante, até que reconheçam o objeto retratado, posteriormente, serão capazes de reconhecer o objeto através da exposição de padrões menos completos. Figura 01 - Modelo de associação ou ativação difusa da memória semântica. Fonte: Adaptado de Melo et al. (2005). Para Tulvin & Schacter (2002) a pré-ativação é uma forma não consciente ou involuntária de memória que se dá através da identificação perceptiva de palavras e objetos e que somente mais recentemente foi reconhecida como separada das outras formas ou sistemas de memória. É uma expressão de um sistema perceptivo que opera em nível pré-semântico, emerge anteriormente ao desenvolvimento e o acesso a ela não se relaciona com o tipo de flexibilidade característica dos outros sistemas de memória cognitiva. 2.1.1 - Características típicas da pré-ativação (priming) De acordo com Kolb & Wishaw (2003), entre as características inerentes à pré-ativação está o fato de que os itens são mais lembrados, lembrados com maior perfeição ou de forma mais completa nas mesmas vias em que foram originalmente memorizados. Por exemplo, uma pré-ativação realizada através da audição resultará em melhor desempenho de memória de material auditivo do que de material visual, táctil ou olfativo. Outra característica importante da pré-ativação é que pacientes com amnésia têm o mesmo desempenho1 que grupos de controle com pacientes não amnésicos. Eles apresentam a mesma memória esperada sobre o conteúdo da lista de pré-ativação, no entanto não reportam se lembrar de alguma vez terem visto a lista ou terem sido submetidos às sessões de pré-ativação. Essa característica evidencia diferenças entre memória implícita e explícita. 1 Warrington & Weiskrantz, Apud: Bowers (2000) se referem os pacientes amnésicos apresentarem o efeito de préativação de forma normal a robusta independentemente de seu estado de poucas ou nenhumas chances deevocação de memória explícita. (p. 83) 2.2 - Breve histórico da pré-ativação no contexto da neuropsicologia Os fenômenos inerentes à pré-ativação emergiram ao conhecimento humano em conformidade com a evolução das neurociências, da psicologia e, sobretudo, da neuropsicologia dentre outras áreas. Segundo Andrade et al. (2004), a neuropsicologia tem sua fundamentação teórica constituída em grande parte pela convergência histórica de diversas ciências, como por exemplo, neurologia, a neuroanatomia, neuroquímica, fisiologia e psicologia. A partir do século XX a psicologia que ainda se confundia com a filosofia, passou a adotar metodologia científica, realizando trabalhos empíricos através de teste sistemáticos controlados sendo então reconhecida como ciência. Desde o século XVII já vinha ocorrendo em diversas ciências uma tendência ao experimentalismo, o que resultou na psicologia experimental, paralelamente desenvolviam-se escolas ou correntes psicológicas como o estruturalismo, o funcionalismo, o comportamentalismo, a psicologia cognitiva e psicologia fisiológica entre outras. Com o advento da informática, a busca pela explicação do comportamento no contexto da dualidade cérebro-mente passou a receber analogias baseadas nos termos computacionais, como processamento, codificação, decodificação, modelos de memória, sensores, atuadores e outros. Nas décadas de 1950 e 1960 as inovações conceituais no campo da matemática, da lógica e da estatística passaram também a integrar as correntes da psicologia. Entretanto, ainda sentia-se falta de modelos humanos para contrapor o que se denominou de “boxologia” ou o conjunto de metáforas que abordava o ser humano através de modelos de caixas para explicar os fenômenos da cognição. Neste cenário, e com o crescente interesse na interdisciplinaridade envolvida, constituída de estudos sobre a psicomotricidade, percepção, atenção, emoção, e com a realização de testes clínicos com pessoas sadias e pessoas com lesões cerebrais, consolidou-se, finalmente a neuropsicologia. Nos anos 80 tornou-se insustentável que a neuropsicologia e psicologia cognitiva se mantivessem distantes e alheias o encontro entre as duas áreas proporcionou que abrissem um canal de comunicação, como decorrência, surgiram eventos, publicações e pesquisas em conjunto. Desde então a parceria denominada Neuropsicologia Cognitiva tem incrementado a demanda de produções a partir da troca de informações, material teórico e experiência clínica. (ANDRADE, et al., 2004, p.6) Segundo Andrade et al. (2004) os experimentos e testes neuropsicológicos derivam desse mesmo histórico. Ocorreu que a neurologia no início do século XX, quando diante da necessidade de realizar certas avaliações, tinha que recorrer a método invasivos, como raios-x, punções ou exames físicos o que dificultava as avaliações muitas vezes não permitindo a confirmação dos achados anatomopatológicos. Ao mesmo tempo a crescente necessidade de avaliações funcionais levou alguns médicos a proporem a utilização de instrumentos psicológicos como uma forma de ampliar as avaliações, aproveitando justamente o fato do então recente reconhecimento da psicologia como ciência. Como resultado, nasce a moderna neuropsicologia, cujos testes e experimentos são embasados em três métodos distintos: Estatístico-psicométrico; Clínico-teórico e, do Processo Específico. O método Estatístico-psicométrico é mais utilizado em procedimentos médicos, pois sua função principal é uma detecção e, identificação de anomalias orgânicas, seu grau e localização e se os conseqüentes danos são estáticos ou dinâmicos. Trata-se de um método específico para distinguir pessoas que têm anomalias cerebrais daquelas que não, tarefa em que é consideravelmente eficiente, mas ao mesmo tempo é muito específico e limitado no que diz respeito à análise dos problemas cognitivos, motores e comportamentais. O Método Teórico-Clínico por sua vez, utiliza situações experimentais para a eliminação de todos os comportamentos considerados normais e o desenvolvimento de diagnósticos gerais das anomalias encontradas, exigindo um conhecimento aprofundado quanto à estrutura e o funcionamento dos sistemas cognitivos, neurológicos e comportamentais. O método do Processo Específico propõe que cada faceta de cada função cognitiva pode ser afetada por meio de uma doença ou trauma cerebral, mesmo quando os sistemas cognitivos trabalhem em conjunto. Nesse método, os conjuntos de instrumentos normalmente usados, analisam as atividades cognitivas mais importantes como: índice de inteligência, atividade de desempenho, atenção, fala, concentração, memória, funções perceptivas visuo-motoras, solução de problemas e raciocínio. Os testes e experimentos envolvendo pré-ativação se inserem no conceito do Método Específico, abrindo um leque de estudos experimentais relacionados, sobretudo a memória e desempenho, utilizando-se diferentes instrumentos e métodos. Fazendo uma análise dos experimentos em ordem de freqüência, pode-se ter uma noção de quais e quantos tipos de experimentos de pré-ativação foram ou estão sendo realizados em cada categoria até o presente momento: I - Palavras; II - Rostos; III - Letras; IV - Localização espacial de objetos; V - STROOP; VI - Cálculos de desempenho; VII - Tarefa intelectual; VIII - Ideogramas: Chineses e Japoneses associados com rostos; IX - Imagens; X - Números; XII - Sinais e setas; XIII - Pronúncias (Sons); 2.3 - Tipologia e classificação O efeito da pré-ativação sobre o sistema nervoso pode ser obtido de forma supraliminar. Como por um relato verbal para dois grupos de pessoas, preparando-as por sugestões pré-elaboradas que quando assimiladas, induzem ao comportamento esperado ou de forma subliminar, por exemplo, fazendo-se que a pessoa perceba objetos num ambiente e sofra efeitos sobre os seus sonhos, como no caso, da hiperminésia (ERDELYI, 1985). Poderá também ser de detecção direta do que foi preparado para o reconhecimento, como no caso da detecção dos próprios objetos previamente apresentados. Existem cinco tipos básicos de fenômenos de estimulação, denominados de pré-ativação ou priming: I - Efeito de Exposição: Exposição de uma imagem consciente que se predispõe para preferir uma imagem dentre outras. II Efeito Poetzl: Palavras e imagens percebidas na consciência com alteração da resposta da imagem apresentados posteriormente após a submissão de conteúdo onírico. III – Pré-ativação afetiva: Exposições de imagens de conteúdo afetivo ou emocional para a consciência supraliminar ou subliminar causando uma resposta emocional de conhecimento. IV – Pré-ativação semântica: Exposições de palavras de conotação emocional causando uma resposta de conhecimento. V - Ativação psicodinâmica: São exposições de imagens fantasiosas ou sugeridas por associação que poderão influenciar os estados psicológicos de adaptação e persistência, como no caso do comportamento de esperar ou de se apressar num dado comportamento. 2.3.1 - Pré-ativação (priming) subliminar e supraliminar A pré-ativação subliminar vem sendo definida por uma quantidade de informação, dividida pelo tempo de exposição. É o termo utilizado quando um sujeito é preparado com uma breve exposição preliminar de um estímulo (que pode ser imagem, som, símbolos, objetos) antes de medir seu desempenho em um teste/tarefa. Pode-se ainda compreendê-la como um aumento na velocidade ou precisão de uma decisão que acontece como conseqüência de uma exposição anterior a alguma informação relevante para a decisão, sem qualquer intenção ou tarefa relacionada à motivação. Ela poderá ser apresentada em forma de estímulos com exposição suficiente2 para a percepção em nível consciente como pré-ativação supraliminar ou em exposição insuficiente para a percepção da consciência como a pré-ativação subliminar. A pré-ativação subliminar é utilizada em tarefas onde a memória para a informação prévia não é requerida e é comprovado ser um fenômeno não consciente. Os primeiros estudos sobre percepção subliminar foram feitos no final do século XX. Nos primeiros experimentos, os pesquisadores mostravam aos sujeitos voluntários fichas com letras ou figuras geométricas a uma distância tão grande que quando perguntados sobre o que viam todos diziam que não conseguiam distinguir nada além dos borrões; depois pediam as pessoas que tentassem reconhecer em um questionário de múltipla escolha, as figuras que haviam sido mostradas. Como o nível de acerto era maior do que o que seria obtido ao acaso, os pesquisadores concluíram que as pessoas haviam sido afetadas pelas imagens (MERIKLE, 1998). Na década de 70, pessoas foram submetidas a estímulos subliminares. Pesquisadores exibiram ideogramas chineses aos voluntários e depois pediram a eles que tentassem adivinhar num teste de múltipla escolha, se os ideogramas tinham significados positivos ou negativos. Para algumas pessoas, as imagens-teste foram precedidas por imagens subliminares de figuras sorridentes ou tristes, de tal maneira que nenhuma pessoa reportou tê-las visto (ZAJONC, 1980). Pessoas submetidas às imagens subliminares tiveram maior tendência de classificar positivamente os ideogramas 2 A insuficiência de exposição para a percepção consciente é geralmente baseada em redução a pequenas frações de tempos, mas também pode ser baseada em menor nitidez, menor definição, menor completude, volume no caso de sons, ou outras formas que impeçam ou dificultem a percepção consciente. precedidos de figuras positivas que aquelas que não tinham sido submetidas a elas. Esse tipo de estudo, em que o indivíduo é preparado com a breve exposição preliminar de uma imagem antes de medir seu desempenho, é o protótipo dos estudos de pré-ativação subliminar. A maior parte da base estabelecida sobre percepção subliminar e seus efeitos foi adquirida com estudos deste tipo. Há vários estudos de pré-ativação que mostram logo após a exibição dos estímulos, melhoria nas habilidades motoras (medindo o resultado no lançamento de dardos), mudanças de humor, redução da ansiedade e de fobias (como a agorafobia) e até perda de peso. Trata-se de uma possibilidade efetiva de melhorar tanto perturbações emocionais como cognitivas. (MAYER & MERCKELBACH, 1999) Foster (2007) se refere à outra forma de pré-ativação, que seria a préativação encoberta ou mascarada3 “masked priming”. Nesse método, além de ser exibida de forma subliminar, a pré-ativação é disfarçada entre dois elementos, de forma análoga a um sanduíche, sendo geralmente um composto de: máscara; pré-ativação e; alvo. I - Mask (500 ms) ##### II - Prime (50 ms) horse III - Target (500 ms) HOUSE (FOSTER, 2007, p.1) Dehane et al. (1998) realizaram experimentos com pré-ativação encoberta e subseqüente tarefa de comparação semântica, acompanhados de monitoração cerebral por imagem e concluíram que a pré-ativação encoberta tem influências mesuráveis na atividade elétrica e na hemodinâmica cerebral. 3 A teoria do mascaramento de estímulos foi desenvolvida inicialmente pelo psicólogo estadunidense Benjamin Libet em um experimento clássico que comparava estímulos no córtex cerebral e na área sensora correspondente da pele, e devido a certo atraso entre os estímulos, um mascarava o outro, a ponto de não ser detectado. (ROCH, 2005, p. 31) 2.3.2 - Pré-ativação (priming) subliminar negativa A pré-ativação subliminar negativa foi identificada por Dalrymple e Budyir (1966), pelo uso do teste STROOP. Os estudos realizados foram usados para verificar se processos (neurais) não conscientes seriam "espertos" ou "burros". Essa é a pergunta fundamental sobre o papel da consciência em processar. Se a cognição não consciente é ”burra”, a função da consciência deve fornecer inteligência quando necessitada; se for “esperta” e capaz, é necessário encontrar papéis diferentes para a consciência. Grenwald (1994), Roberts & Cianni (1994) apresentaram pares de palavras faladas simultaneamente à esquerda e à direita dos ouvidos dos sujeitos. Os participantes eram instruídos para repetir alto somente a palavra que se apresentou em um dos lados dos ouvidos do sujeito. O interesse atual na pré-ativação subliminar deriva-se do trabalho de Marcel (1983), sua pesquisa foi baseada na exibição de um efeito de acelerar a percepção de uma "letra" da palavra, por apresentação prévia de uma palavra relacionada (MEYER, 1971). A palavra preparada é processada mais rapidamente ou exatamente do que no controle sem a pré-ativação. Marcel (1983) relatou uma série das experiências em que obteve grandes feitos de pré-ativação na ausência da percepção da palavra. Sua conclusão foi que a pré-ativação e conseqüentemente a percepção facilitada da palavra principal, ocorriam automaticamente e com associação, sem nenhuma necessidade da consciência. Nesse modelo a consciência servia mais como um monitor da atividade psicológica do que como um trajeto crítico entre a percepção e ação. Shevrin e colegas demonstraram a condição clássica dos rostos apresentados sob circunstâncias que impediam a detecção. Bunce, Bernat, Wong, &; Shevrin, 1999; 1997. Chessman e Mericle (1986) relataram à dissociação da pré-ativação consciente e não consciente usando uma variação de efeitos da interferência de STROOP (1935). No efeito de STROOP uma palavra impressa como “Azul” porem impressa em cor vermelha, deve ser referida pelo observador como "azul”. A interferência é medida como o tempo mais longo para a pronuncia do "azul" do que se a palavra e cor de impressão concordassem, ou seja, se a palavra “azul” estivesse impressa em azul. 2.3.3 - Pré-ativação (priming) semântica e pré-ativação (priming) afetiva Tomando como exemplo uma simples viagem de ônibus, na qual um sujeito escute a frase “ministro da justiça”, e em seguida seu pensamento se voltasse às diversas nortícias que leu sobre o ministro ou sobre ações que esse ministro tomou. A visão de outro passageiro em um casaco azul, pode também trazer a lembrança de uma camisa azul comprada na semana passada, ou uma calça da mesma cor, ou um casaco de outra cor, mas do mesmo modelo, com os mesmos detalhes. Esses são exemplos de pré-ativação semântica, pelo fato de que as recordações seguintes se organizam por associação com as anteriores, ou seja com as consideradas pré-ativação. No entanto, ainda dentro do mesmo exemplo, mesmo diante da mesma frase “ministro da justiça” ou da visão de um casaco azul, se em seguida o indivíduo estiver olhando para uma senhora com aparência lastimável, triste, ou um grupo de rapazes alegres rindo-se, haverá uma diferença afetiva no que ele pode se lembrar. “O simples olhar uma face a sorrir, ou uma face triste, ou ouvir uma palavra como ‘funeral’ ou ‘festa’, parece ter a capacidade de tornar mais acessível pensamentos com idêntica valência afetiva.” (MARQUES, 2005, p. 437) 3. – MEMÓRIA, ATENÇÃO E ASPECTOS AFETIVOS Segundo Magila & Xavier (2000) as discussões sobre a memória assumiram um ritmo mais acelerado e nos moldes científicos a partir da década de 1950, sendo que nos últimos anos é consenso na comunidade científica de que a memória humana é composta de múltiplos e distintos sistemas que atuam de forma independente e interagem. No entanto, grande parte da literatura disponível tem se ocupado mais com questões taxonômicas do que com o modo pelo que as informações transitam entre os sistemas de memória humana. Esses múltiplos sistemas apresentam características gerais e particulares como: Diferentes funções cognitivas e comportamentais, e diferentes tipos de informações e conhecimentos por eles processados; Diferentes leis e princípios regendo suas operações; Diferentes estruturas e mecanismos neurais; Diferenças na aparição onto e filogenética; Diferenças no formato das informações apresentadas; De acordo com Helene & Xavier (2007) o sistema nervoso humano é a estrutura que permite a existência de memória. Constituído de aproximadamente 100 bilhões de neurônios, que se agrupam em mais de um quatrilhão de sinapses só no córtex cerebral - com seu 20 bilhões de neurônios - podem formar ao todo um número de sinapses difícil de calcular. Em seu significado amplo, memória é qualquer registro de evento, de curto ou longo prazo, e a capacidade de evocação desse registro, sendo que qualquer atividade eletrofisiológica gerada internamente de forma espontânea ou externamente através de estímulos captados é capaz de gerar registros e, portanto algum tipo de memória. Praticamente todas as regiões do sistema nervoso estão envolvidas no arquivamento de algum dos tipos de memória, que podem ser observado no quadro 01 onde é apresentado um modelo básico simplificado: Quadro I - Modelo básico dos tipos de memória. Tipo de memória Descrição Memória explícita ou declarativa (Saber que) consciente, revistas, declaradas e apresentadas em forma de discurso. Sua aquisição pode ser rápida ou instantânea. Geralmente prejudicada em pacientes amnésicos. Memória de longa duração Constitui-se de informações que podem ser evocadas de forma Memória implícita Ou procedural (Saber como) Constitui-se de registros de como fazer procedimentos, geralmente não disponíveis de forma consciente, e de difícil verbalização. Sua aquisição geralmente é lenta e demoraada. Mostra-se preservada em pacientes amnésicos, mas prejudicada em pacientes cerebelares ou com danos nos gânglios da base. É um sistema de memória com durabilidade de alguns instantes ou até minutos. Inclui gerenciamento para a realização de diversas tarefas cognitivas entre elas o Memória de curta duração (Operacional) gerenciamento da atenção. Geralmente é prejudicado em pacientes com danos nos giros supramarginall e angular do hemisfério esquerdo. Fonte: (HELENE & XAVIER, 2007, p. 30-42). A memória operacional, ou memória de trabalho tem destaque especial no sistema geral de memórias devido à sua utilização essencial tanto no momento de aquisição quanto no de evocação de toda e qualquer memória, seja explícita ou implícita. Ela é mantida pela atividade de neurônios do córtex pré-frontal, em rede, via córtex entorrinal, com o hipocampo e a amígdala, durante a percepção, aquisição ou evocação e através dessa interação. A memória de longa duração para sua aquisição ou fixação, requer uma seqüência de processos moleculares4 que podem durar várias horas e durante esse tempo, sofre influências internas e externas, é a memória operacional que mantém as informações e as gerencia durante esse período. (IZQUIERDO, 2004, p. 90) 4 Kunes (2006) observou em um estudo em moscas drosófilas com apoio de marcadores fluorescentes que a fixação na memória de longa duração envolve a sintetização de proteínas nas sinapses. (p. 20) Melo et al. (2005) apresentam um modelo mais completo para a memória humana (Quadro II), desenvolvido através de evidências neuropsicológicas colhidas e observadas nas últimas décadas, as quais estudaram diversos aspectos relativos não somente aos processos internos, mas como às diferenças etárias, patológicas, de gênero5, etiológicas e outras. Neste modelo observam-se partes em comum com o modelo básico supracitado, mas há o acréscimo de subdivisões para a memória explícita, em semântica e episódica, sendo que a primeira lida com os sentidos e associações das informações em seus conceitos, e a segunda com armazenamento de representações sumárias de eventos e objetos. A memória operacional, também recebeu subdivisões nesse modelo, como a alça fonológica, que seria um sistema para arquivamento de informações verbais; a alça visuoespacial, para as informações de natureza visuoespacial; a central executiva, que se encarrega de gerenciar a atenção e com isso regula os outros sistemas; o retentor episódico, responsável por integrar ou associar as informações temporárias da memória operacional com outras provenientes da memória de longa duração. 5 Machado et al. (2005) realizaram um estudo controlado com testes de atenção com 20 homens e 20 mulheres, e relataram que o grupo feminino apresentou um desempenho ligeiramente melhor. Quadro II - Modelo avançado dos tipos de memória. Memória (armazenamento de eventos Episódica pessoais) Memória explícita Memória de longa duração Módulos de memória Memória (armazenamento de Semântica conhecimento geral) Memória implícita (aquisição de habilidades percepto-motoras, respostas emocionais e esqueléticas) Alça fonológica (armazenamento temporário e manipulação de informações vísuoespaciais) Central executiva (Sistema de controle de atenção) Esboço vísuoespacial (armazenamento temporário e manipulação de informações vísuoespaciais) Retentor episódico (elemento de comunicação entre a memória operacional e os sistemas de memória de longa duração) Memória Operacional Fonte: Melo et al. (2005) p. 109. Segundo Nahas & Xavier (2004) existem alguns modelos que se propõem a explicar o funcionamento da atenção humana, assim como outros estão sendo iniciados e elaborados com considerável freqüência. Estes modelos, no entanto não constituem consenso na comunidade científica, ao contrário são permeados de antagonismos e controvérsias em suas concepções e abordagens. Por outro lado sua existência é construtiva, uma vez que colaboram de alguma forma para o crescente número de observações, estudos e testes na área neuropsicológica. São modelos que permitem ser avaliados e testados experimentalmente de forma a promover avanços constantes no conhecimento da área. Para Melo et al. (2005) a atenção é “um conjunto de processos que leva à seleção ou priorização no processamento de certas categorias de informação.” (p. 46) Para Canto-Pereira (2006) algumas metáforas foram utilizadas nas duas últimas décadas para representar a atenção humana, como “holofote atencional”, “lente zoom” ou “gradiente atencional”. Essas metáforas se referem à distribuição da atenção no campo visual, existindo justamente pelo fato dessa distribuição não ser absolutamente determinada pelo ponto de fixação, sofrendo tanto influências externas quanto internas, relacionadas a estados emocionais. Para Helene & Xavier (2003) atenção é um conjunto de processos que leva à seleção ou priorização no processamento de certas categorias de informação, isto é a “atenção” é o termo que se refere aos mecanismos pelos quais se dá tal seleção. É surpreendente que a literatura dedicada à atenção, raramente se refira à memória. Esse processo, inerente à seleção atencional, depende não somente de um histórico prévio do sistema selecionador - envolvendo suas memórias e, portanto, o significado pessoal e emocional dos estímulos - como também de algumas expectativas geradas sobre a pendência de eventos futuros com base nas memórias sobre regularidades passadas e nos seus planos de ação. Estes planos de ação, por sua vez dependem também de memórias sobre os resultados de ações anteriores e seu significado afetivo. Atenção, memória e aspectos afetivos estão intimamente interligados. No quadro III, pode-se observar a proposta de Melo et al. (2005) para a classificação dos diferentes tipos de atenção: Quadro III - Modelo de tipos de atenção. Tipo de atenção Descrição É um estado de prontidão para detectar e/ou responder a Atenção sustentada alterações específicas de estímulos. Caracteriza-se por uma atenção de alta intensidade, mas tem duração de segundos a minutos e tende a decair ou se transformar em vigilância com o passar períodos maiores. Semelhante à atenção sustentada, mas com menor Vigilância (alerta) intensidade e maior duração, podendo ser mantida por minutos ou horas. É a possibilidade de atender concomitantemente a duas ou Atenção dividida (ou difusa) mais fontes de estimulação. É a capacidade de direcionar a atenção para uma porção específica do ambiente, ignorando os demais estímulos. Atenção seletiva Implica em certa resistência à distração, às “tentações” desses outros estímulos. A orientação da atenção para um estímulo particular. É Orientação realizada de forma explícita ou seja, com o atencional manifestata direcionamento perceptível de um sensor, como os olhos, a mão, os ouvidos, etc. Orientação atencional A orientação da atenção para um estímulo particular. encoberta É realizada de forma implícita, ou seja, sem o direcionamento perceptível de algum sensor. Fonte: Melo et al. (2005) p. 40-50. De acordo com Mauss (2006) através de um teste auxiliado por tomografia por ressonância magnética funcional (fMRI) que torna visível a atividade em diferentes regiões do cérebro por meio do teor de oxigênio. James Gross e Oliver John, pesquisadores da Universidade de Berkley nos Estado Unidos, submeteram grupos a exibição de imagens afetivas chocantes6, como cães exibindo os dentes e cirurgias em crianças com doenças fatais, para observar os efeitos das emoções nas áreas cerebrais. O teste tinha o objetivo específico de avaliar a capacidade de controle das emoções através da cognição. As pessoas foram orientadas para ora simplesmente contemplar as imagens e ora utilizar um processo mental de afastamento, por exemplo, pensando que a criança foi curada depois da cirurgia, ou que o cão raivoso estava a uma grande distância e atrás de grades. Observaram com a utilização do afastamento ocorreu nítido aumento de atividade no córtex pré-frontal, região responsável pelo controle executivo planejamento, decisão e execução de ações - e quanto mais ativa ficavam as células nervosas desta região, maior era a calmaria em regiões do sistema límbico e, sobretudo na amígdala, responsável pelo modo como lida com emoções negativas. Beversdorf (2006) apresentou um estudo com evidências de que a tensão emocional afeta a cognição, sobretudo a capacidade de resolução de problemas, como associação de palavras. Um trecho de 20 minutos do filme “O resgate do Soldado Ryan”, carregado de perigo suspense e um trecho da comédia de animação “Shreck” foram exibidos para grupos de estudantes, que em seguida foram submetidos a testes de associação de palavras. Os grupos que assistiram a comédia tiveram um desempenho médio 39% melhor que o grupo submetidos acenas de tensão e estresse emocional. De acordo com Ribeiro (2006), estímulos sem conteúdo afetivo estimulam apenas áreas auditivas primária em pacientes vegetativos, no entanto o neurologista belga Steven Laureys realizou um experimento com estímulos afetivos, como o nome do paciente, um choro de criança, e observou a ativação de áreas mais profundas em pacientes vegetativos do que sons sem significado. De acordo com Welzer (2006) além de influenciar a forma como a memória operacional gerencia a cognição para a percepção, decisão e execução de ações, as emoções também influem no processo de fixação de informações na memória de longa duração, especialmente na episódica. Exemplos desse fenômeno, especialmente quando o indivíduo é submetido a fortes emoções, como em períodos de guerra, são os relatos dos habitantes de Dresden - uma cidade alemã fortemente bombardeada durante a segunda guerra mundial. Eles alegavam terem visto caças em vôos rasantes perseguindo pessoas correndo ou o discurso do ex-presidente Ronald Reagan sobre 6 Estímulos visuais têm grande força apelativa superior aos demais estímulos no ser humano. Segundo Amâncio (2005) pacientes portadores de condições que desabilitam a semântica, como por exemplo, os autistas, pensam por imagens, e em muitos casos manifestam genialidade, como grande capacidade de memória, cálculo ou habilidade em artes. (p.70) uma vez, em que o piloto do avião de guerra que estava mandou que todos pulassem, pois o mesmo iria cair, e ele vendo que o rapaz estava ferido não conseguindo pular disse: “Não tem importância filho, se é assim, levamos juntos esse caixote lá pra baixo”. Tanto os habitantes de Dresden quanto Reagan estavam relatando coisas que em que acreditavam com sinceridade, mas na verdade não eram fatos por eles vividos. Devido à grande tempestade de fogo e a densa fumaça, nenhum caça poderia fazer vôos rasantes em Dresden, e o fato descrito por Reagan é uma cena de do filme “Uma asa e uma prece” de 1944, incluindo a fala exata. A influência da emoção, na memória, é tão intensa que, segundo Markwitch (2006), pacientes que sofrem da doença de Urbach-Wiethe - um depósito de cálcio na amígdala danifica a parte cerebral responsável pela maior parte das emoções – ficam incapacitados de sentirem emoções. Eles foram capazes de se lembrar sob certas circunstâncias, do vestido florido preto e amarelo, mas não do assassinato da mulher que o trajava isto é, o que aconteceu apenas meia hora antes na frente deles. A explicação para esse fenômeno, é que na ausência das emoções esses pacientes não têm os mesmo padrões que as outras pessoas sobre a escolha do que memorizar e o que considerar banal demais para ser memorizado. Segundo Volchan (2003), emoção pode ser funcionalmente considerada como uma disposição à ação que prepara o organismo para comportamentos relacionados à aproximação e esquiva, elas são experiências referentes a reações neurovegetativas em resposta a um estimulo agradável ou desagradável. 4. - Experimento Partindo para uma investigação mais sistemática de como as variáveis de atenção, emoção, pré-ativação subliminar e supraliminar se comportariam, acolheu-se a idéia de combinar a pré-ativação subliminar com a medida de desempenho em tarefa simples de atenção. Para isso foi desenvolvido um experimento com a intenção de testar o sujeito em sua capacidade atencional quando submetido ou não a estímulos visuais (imagens aversivas) do IAPS (International Affective Picture System). Abaixo se apresenta o esboço do desenho do experimento, e foto do indivíduo realizando experimento no laboratório (Fig. 02). Figura 02 - Sujeito realizando o teste no laboratório de EEG (Eletroencefalograma) de Alta resolução no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP. Figura 03 - Tela principal do software de teste (tempo em segundos, barras indicam duração dos estímulos principais, S1 e S2, barras pontilhadas, duração dos estímulos subliminares ou supraliminares; propriedades dos estímulos descrição da tarefa, abaixo). S1 S2 4.1 – MÉTODO Pesquisa experimental. 4.2 - SUJEITOS Foram escolhidos 35 (trinta e cinco) sujeitos saudáveis de ambos os sexos, de visão normal ou corrigida para normal, na proporção de 50% (cinqüenta pontos percentuais) de homens e mulheres, sem doenças neuropsiquiátricas. Homens e mulheres com idade entre 23 a 49 anos, sem abuso de drogas ou álcool e sem tratamento com fármacos. Todos os sujeitos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo comitê de ética da UMESP. 4.3 - MATERIAL O instrumento utilizado foram estímulos apresentados colhidos do IAPS (International Affective Picture System) criado pelo NIMH (Center of the study of emotion and attention) laboratório da Universidade da Flórida, USA. Imagens coloridas selecionadas com sugestão de conteúdo afetivo repulsivo (Fig. 04) para serem apresentadas como estímulos subliminares e supraliminares. Figura 04 – Exemplos de imagens/fotos de conteúdo aversivo e repulsivo: 4.4.3 - LOCAL Laboratório de EEG (Eletroencefalograma) de alta-resolução do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP. 4.5 - DESCRIÇÃO DAS TAREFAS E PROCEDIMENTO 4.5.1 - Experimento 1 Todos os aspectos da tarefa foram controlados por um programa comercial de computador (Stim, Neurosoft Inc.). Os estímulos visuais que compunham os pares de dica-alvos (S1-S2) consistiam em pequenos retângulos 8 (excentricidade 0.8, S1: 100 ms de duração, S2: 17 ms). Em metade dos testes, os retângulos S2 continham um círculo cinza (o alvo da tarefa) com 0.3 de excentricidade. S1 foi seguido por S2, com inícios separados no tempo por 1,6 segundos. Foi instruído aos indivíduos do teste, que um retângulo seria apresentado para indicar que 1,6 segundos depois ele apareceria novamente, porém com maior rapidez, contendo ou não o círculo-alvo. O indivíduo decidiria se havia dentro do retângulo S2, e indicaria a presença do alvo pressionando o botão direito com o seu polegar direito, ou a ausência do alvo pressionando o botão esquerdo com o seu polegar esquerdo. Foi omitido, deliberadamente nas instruções, o tempo de reação e medido o desempenho exclusivamente pela porcentagem de testes corretos, do total de 96 testes que compunham o experimento. Um ponto de fixação para o olho aparecia continuamente no centro da tela, bem como um fundo para mascarar estímulos, com o intuito de impedir imagens posteriores. 4.5.2 - Experimento 2 A segunda condição apresentada para os sujeitos, foi realizada num bloco orientado de modo randomizado, uma quantidade de sujeitos praticamente 50% ( cinqüenta ponto percentuais) do total geral e 50% (cinquenta pontos percentuais) entre masculinos e femininos realizou, primeiramente, na ordem o subliminar e outra quantidade de sujeitos realizou primeiramente a supraliminar. Houve a inserção de 104 pares de retângulos entre cada uma das etapas do experimento. A diferença foi à duração dos estímulos onde o tempo do subliminar foi de 50 ms e o supraliminar foi de 500 ms. Para todos os sujeitos que realizaram o experimento, foram realizadas cinco perguntas pelo experimentador após ter informado todas as instruções necessárias para a realização do experimento. As perguntas foram: 1. Como você está se sentindo? (Pergunta efetuada antes da realização das tarefas no laboratório). 2. Como você está se sentindo? (Pergunta efetuada depois da realização de todas as tarefas no laboratório). 3. Você viu alguma coisa durante a tarefa que realizou? (Tarefa realizada com a exposição de estímulos SUB do IAPS). 4. Qual a tarefa mais difícil para você? 5. Qual a tarefa que você menos gostou? 4.6 - ANÁLISE DOS RESULTADOS Uma vez que a tarefa de base foi sistematicamente realizada antes das outras e os efeitos fadiga e treinamento não poderiam ser evitados, a análise estatística restringiu-se apenas às variáveis obtidas nas duas condições subseqüentes. Computamos análise de variância (ANOVA) com medidas repetidas, entre as duas condições de interesse, das variáveis: detectabilidade, critério (e seus componentes, HITS - acertos positivos e falsos positivos), tratando como fatores o sexo dos sujeitos e a ordem entre as duas condições subliminar e supraliminar. Para isso foram usados índices de detectabilidade e critério, derivados da teoria de detecção de sinais (MACMILLAN & C. D. CREELMAN, 2005). 1- A partir das porcentagens (entre 0 e 1) tanto de Hits (h) quanto de falso alarmes (fa), 2- Calcula-se a tranformada z (inversa da gaussiana) de Hits, z(h), e de falsoalarmes, z(fa). 3- A detectabilidade é definida como: d’=z(h) – z(fa). 4- O critério é definido como: beta= -0.5 [z(h)0 + z(fa)]. Espera-se que, comparando-se as duas condições, onde se supõe que a detectabilidade do individuo seja a variável modulada, que o d’ varie e o beta (critério) fique aproximadamente constante. 5. - RESULTADOS A partir deste parágrafo, para facilitar a compreensão, serão utilizadas as siglas de SUB para a palavra subliminar e SUPRA para a palavra supraliminar no decorrer do texto. Deste experimento, foram eliminados 5 (cinco) sujeitos por desempenho insuficiente na tarefa base, abaixo de 56% (cinquenta e seis pontos percentuais) de respostas corretas, o que estatisticamente, deve ser considerado aleatório. (vide tabela em anexo: monicabonsn com páginas 1/4, 2/4, 3/4, 4/4) Comparando-se as três condições do experimento e incluindo-se a tarefa base como três medidas repetidas, verificou-se não haver nenhum efeito global de diferença significativa entre as três para qualquer das variáveis. Apesar da condição de base da tarefa sem os distratores ter sido efetuada primeiramente pelos sujeitos, ela não melhorou ou piorou o desempenho, significativamente, nas duas condições de interesse. A figura 05 mostra as médias das três variáveis, total de acertos, detectabilidade, e critério. Figura 05 - Médias para todos os participantes (n=30), de detectabilidade, total de acertos em porcentagem, e critério, nas três tarefas (barras indicam 1 desvio padrão); re = repetições: 1= tarefa base, 2= distratores subliminares, 3= distratores supraliminares). Em tal análise, tratando-se as três condições como medidas repetidas, não houve diferença significativa no total de acertos ou no índice de detectabilidade, mas ocorreu uma diferença significativa do índice critério (F= 5,59 e P= 0,26). O “critério”, claramente menor para a condição de base (figura 05), diferiu significativamente na comparação das três condições, e mostrou efeito significativo da ordem das tarefas (F=7,63 e P= 0,01). Na comparação entre as tarefas SUB e SUPRA, quando tratamos apenas as duas condições de interesse, que estavam aleatorizadas entre os indivíduos, como medidas repetidas, também não houve diferenças significativas na detectabilidade e no total de acertos. Quanto ao índice critério, novamente houve um efeito significativo de ordem de apresentação (P= 0,05 e F=4,21), A figura 06 mostra o índice critério para as condições SUPRA e SUB, com indivíduos divididos quando à ordem de execução das tarefas. Figura 06 - Critério ( 1 desvio padrão), para as duas condições, com grupos de indivíduos divididos em função da ordem: 1 = realizou primeiro a tarefa SUB; 2 = realizaram primeiro a tarefa SUPRA. Os sujeitos que realizaram primeiramente a tarefa SUB, tiveram o índice critério superior, para as duas condições, demonstrando assim um efeito de ordem. Tal efeito, uma vez detectado, levou-nos a analisar os componentes, de HITS e falsoalarmes. Os falso-alarmes mostrou uma diferença significativa em função da ordem de apresentação (F=4,97 e P=0,035). A figura 07 mostra o componente “falso-positivo” do critério, para as duas condições, em função da ordem de apresentação. Figura 07-Falso-positivos ( 1 desvio padrão), para as duas condições, com grupos de indivíduos divididos em função da ordem: 1 = realizou primeiramente a tarefa SUB; 2 = realizaram primeiramente a tarefa SUPRA. Os sujeitos, em sua grande maioria, responderam que estavam bem no inicio das tarefas, e quando questionados ao final do experimento, disseram não se sentiam tão bem. Alguns reportaram mau humor diretamente devido as imagens, consideradas pela maioria “ruins e pesadas”. Quando se questionou se os sujeitos haviam percebido algo além dos estímulos neutros, na tarefa dos estímulos subliminares, a resposta da grande maioria dos sujeitos foi que não viram nada, apenas brilhos, pedaços de figuras, ou algumas cores, porém, apenas na proporção de 3% (três pontos percentuais) do que foi de fato apresentado. A grande maioria dos indivíduos disse que não gostou da tarefa de base, na proporção de 60% (sessenta pontos percentuais), considerando que o alvo era apresentado muito rapidamente (17ms). A maioria dos sujeitos considerou ter mais dificuldade com a tarefa de base e na tarefa SUPRA. Finalmente, um achado interessante, apesar de estatisticamente não significativo, foi a diferença de HITS entre sexos. As mulheres foram mais prejudicadas no desempenho (e mais afetadas, por seus relatos). A figura 08 mostra a média e desvio padrão de HITS, separados por sexo. Error Bars show 95,0% Cl of Mean 0,900 hitsub 0,800 0,700 0,600 1 2 sexo 0,900 Error Bars show 95,0% Cl of Mean hitsupra 0,800 0,700 0,600 1 2 sexo Figura 08 - Detecções corretas (HITS) em função do sexo (masc = 1; fem = 2), em ambas as condições, subliminar e supraliminar. 6. - DISCUSSÃO Os sujeitos foram submetidos a efeitos de estímulos subliminares e supraliminares, usados como distratores repulsivos do IAPS, sobre tarefa de atenção visual. Os resultados encontrados vieram de encontro com experimentos como o de Bargh (1992), onde se demonstrou que as emoções, atitudes, objetivos e intenções podem ser ativados sem a participação da consciência e podem influenciar o modo de pensar e agir dos indivíduos e situações sociais. A detectabilidade do alvo foi levemente inferior nas duas condições de interesse (SUB e SUPRA), comparadas com a condição base, mas não significativamente. Os fatores escolaridade e idade, o fator stress e visão defasada (apesar de serem dadas instruções aos sujeitos da necessidade de correção da visão), podem ter contribuído para o desempenho insuficiente de alguns sujeitos. Todos os sujeitos realizaram a primeira tarefa de base de atenção sem os distratores afetivos aversivos. Supunha-se que a fadiga e o treinamento, de influências opostas sobre o desempenho, poderiam ter se sobreposto a todos os indivíduos do estudo, porém, o efeito de treinamento parece haver impedindo a deterioração esperada na tarefa base. Outra possibilidade é de exatamente os distratores levarem a uma maior concentração nas tarefas, por evitação dos estímulos aversivos. Foram encontrados alguns pontos críticos nos resultados deste experimento. Os resultados obtidos vão de encontro com os objetivos deste estudo, demonstrando que a estimulação subliminar afetou o desempenho na tarefa de atenção, porque a mudança de critério dos sujeitos que iniciaram primeiramente a tarefa subliminar em relação à próxima tarefa, a supraliminar, demonstraram uma modificação significativa do índice critério. Em relação aos objetivos específicos também foi demonstrado neste estudo que os estímulos utilizados do IAPS, quando apresentados de maneira subliminar ou supraliminar, têm efeitos distintos. Quanto à terceira hipótese do estudo, onde a preocupação era verificar a influência de ordem das tarefas, especificamente, se a estimulação subliminar prévia acentuaria os efeitos da estimulação supraliminar obteve-se resultados opostos à expectativa. O índice “critério” demonstrou um efeito “destruidor” na tarefa SUPRA, isto é, alterou o resultado “critério” para todos os sujeitos que iniciaram a ordem da tarefa pelos estímulos SUB. A ausência de efeito significativo global tanto de total de HITS (acertos) e detectabilidade, parece dever-se ao fato da tarefa de base ter sido realizada sempre em primeiro lugar com todos os sujeitos. Constatou-se que houve um efeito de treinamento, porém a diferença de critério mostra que ocorreu uma mudança de estratégia de execução ao efeito de ordem de apresentação das tarefas confirmando a hipótese de mudança de estratégia, tanto entre as três tarefas, quanto entre as duas principais. Constatou-se que o efeito de ordem sobre o critério deve-se a falso-alarmes: quem começou pela tarefa subliminar cometeu significativamente menos falso-alarmes nas duas tarefas de interesse. Isso significa que tal grupo de sujeitos, na ausência do alvo, rejeitou corretamente relativamente mais que o outro grupo. Além disso, quem iniciou pela tarefa SUB, “protegeu-se” na tarefa SUPRA a seguir, cometendo menos falsoalarmes nessa tarefa também. Ao contrário, quem começou pela SUPRA, parece haver sofrido um efeito “devastador”, isto é, já cometendo mais falso-alarmes, e surpreendentemente, mantendo esse desempenho relativamente pior na tarefa SUB que realizaram a seguir. Apesar de não significativo o efeito de sexo sobre o desempenho, suspeita-se que com uma amostra maior, ou mais representada por mulheres, pode-se observar um prejuízo geral de desempenho, devido a mais erros de detecção (menor número de HITS). 7- CONCLUSÃO Em relação ao desempenho da tarefa de base não houve diferença significativa entre as duas condições com os distratores, ou globalmente entre as três tarefas. É possível que com um número maior de sujeitos, ou uma amostra exclusivamente feminina, leve a uma diferença significativa entre as condições. O desempenho foi superior nas duas condições à tarefa de base de atenção, o que deve ser devido ao efeito de treinamento. O total de acertos e índice de detectabilidade também não diferiu entre as duas condições, mas o índice “critério” foi significativamente diferente, aumentando nas duas condições na tarefa SUB e a tarefa SUPRA em relação à tarefa de base. O achado mais importante foi o efeito da ordem de apresentação das duas tarefas principais da SUB e a SUPRA, sendo que o grupo que iniciou pela condição subliminar teve os valores e a “média do critério” superiores em ambas as condições. A análise dos componentes do índice “critério” revelou um aumento de falso-alarmes no grupo que iniciou a tarefa na condição supraliminar e que se manteve na condição subliminar, ao contrário o grupo que iniciou na condição subliminar, manteve o número menor de falso-alarmes durante a condição supraliminar. Segundo Le Doux, (2001), a emoção e cognição parecem atuar de forma não consciente, mas o resultado da atividade cognitiva e emocional é percebido conscientemente; os materiais e estímulos absorvidos que não ganham forma de conteúdos conscientes poderá ser armazenado e depois mais tarde e passar a influenciar o pensamento e o comportamento. No presente caso, não se verificou o esperado efeito de estímulos subliminares acentuarem o efeito, supostamente distrator dos estímulos supraliminares, mas o contrário. Tal efeito contrário, “protetor”, de qualquer modo, significa que de fato os estímulos subliminares influenciaram a tarefa subseqüente de modo significativo. A exploração de possibilidades psicológicas e neuropsicológicas voltadas para a compreensão dos aspectos da consciência é de fundamental importância para a psicologia da saúde, à medida que ela considera os aspectos bio-psico e sociais relevantes. Este estudo demonstrando como os estímulos afetivos subliminares afetam a consciência humana à luz do desempenho da cognição, especialmente a atenção, pode abrir portas a novos experimentos que contribuam no auxilio da diminuição de diversas doenças afetivas, como ansiedade, fobias e depressão, e também facilitar a aprendizagem, nas relações sociais e de trabalho. 8 - REFERÊNCIAS 1. ANDRADE, V. M.; SANTOS, F. H.; BUENO, O. F. A. Neuropsicologia hoje. São Paulo. Artes Médicas, 2004. ISBN: 85-367-0008-4. 2. BARGH, J.A. The ecology of automaticity: toward establishing the conditions needed to produce automatic processing effects. American Journal of Psychology, 1992; vol. 105(2):181-99. 3. BEVERSDORF, D. Q. Tensão afeta agilidade mental. Viver Mente & Cérebro: Revista de Psicologia, Psicanálise, Neurociências e Conhecimento. Ano XIV, n. 159, Abr. 2006, P. 18. 4. BOWERS, J.S.; SCHACTER, D.L. Implicit memory and test awareness. 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