Alta da massa salarial é a menor em 9 anos Por Tainara Machado | De São Paulo 07/02/2014 O ritmo lento de abertura de novas vagas ao longo do ano passado, combinado à inflação mais alta em 2013, levaram a massa salarial real habitualmente recebida a avançar 2,6% em 2013, menor taxa de crescimento desde 2004, quando a alta foi de 1,6%. O aumento observado no ano passado foi resultado da combinação da variação de 0,7% do nível de emprego com o aumento de 1,8% da renda real (descontada a inflação). Em 2012, quando a massa salarial avançou expressivos 6,3%, tanto a população ocupada quanto o rendimento real tiveram avanços bem maiores, de 2,2% e 4,1%, respectivamente, sempre entre janeiro e dezembro, na comparação com igual período do ano anterior. O levantamento foi feito com base na Pesquisa Mensal do Emprego (PME) pelo economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências. Para Bacciotti, a renda perdeu força por causa da inflação mais alta no início de 2013, mas o principal fator para a desaceleração da massa salarial foi o comportamento da ocupação, resultado da perda de dinamismo da atividade nos últimos anos. Ainda que a taxa de desemprego no ano passado tenha atingido nova mínima histórica, ao ficar em 5,4%, o avanço da população ocupada, de 0,7%, ficou abaixo da média de crescimento observada desde 2007 (2,4%). Já Fernanda Guardado, do Banco Brasil Plural, nota que, embora a ocupação e a renda tenham desacelerado na média do ano, o comportamento das duas variáveis mostrou tendências divergentes no quarto trimestre. Enquanto a ocupação caiu 0,5% sobre igual período do ano anterior, a renda teve aceleração. Para Fernanda, esse é um sinal de que o mercado de trabalho segue bastante aquecido. Não deixa de ser uma surpresa, na avaliação de João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que o mercado de trabalho tenha se mantido estável no ano passado, apesar da atividade econômica bem mais fraca. Em sua avaliação, isso pode ser explicado pelo fato de que os empregos têm sido criados majoritariamente no setor de serviços, onde os salários e a exigência de qualificação são menores. De acordo com os dados da PME compilados pela Tendências, entre os segmentos que sustentaram o avanço da ocupação no ano passado estão justamente comércio, outros serviços e administração pública (ver tabela). Por outro lado, nesses setores o avanço da renda foi mais moderado do que em 2012, o que levou o crescimento da massa salarial a passar de 6,6% para 2,6%, no caso do comércio, e de 3,8% para 0,6% em outros serviços, que incluem alojamento e serviços pessoais. Para Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o avanço menor da massa nesses ramos de atividade pode se refletir em menor inflação desse grupo em 2014, embora faça a ressalva de que esse movimento era antecipado para 2013 e não se concretizou. A estimativa do Ibre é que a alta de 8,7% nos serviços no ano passado, dê lugar a um aumento de 7,4% neste ano. Pessôa avalia que pode estar ocorrendo uma mudança de preços relativos, que tende a favorecer o setor industrial, no qual os salários já avançaram mais em 2013,, com alta de 2,7% entre janeiro e dezembro, na comparação com igual período do ano anterior. A desvalorização da taxa de câmbio nos últimos dois anos e certo esgotamento do ciclo de consumo, impulsionado pelo crédito e pela renda, devem favorecer essa quadro, diz. A retomada do setor manufatureiro, no entanto, ainda esbarra em outros entraves. "A demanda externa precisa voltar com mais força para que o setor se recupere e, nesse sentido, a derrocada do modelo de política econômica perseguido pela Argentina nos últimos anos é muito ruim para o Brasil", afirma Pessôa. Para Bacciotti, o segmento industrial está procurando realizar ajustes na folha de pagamentos para tentar ganhar competitividade. A população ocupada na indústria caiu 0,9% entre janeiro e dezembro, na comparação com igual período do ano passado, o que levou a massa de rendimentos do setor industrial a crescer 1,5% no ano passado, bem menos do que o avanço de 3,3% observado em igual período do ano anterior. O único segmento a encerrar o ano com queda da massa salarial foi o de serviços domésticos, com retração de 2,1%, em relação a alta de 5,4% em 2012. O setor, no entanto, responde a questões bastante específicas. A aprovação, no ano passado, de uma lei que ampliou os direitos dos trabalhadores domésticos acentuou movimento que já era observado há alguns anos, de redução do contingente empregado no ramo de atividade.