informe econômico

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INFORME
ECONÔMICO
Segunda-feira, 27 de agosto de 2007 / Nº 35
ARTIGOS
Roupa suja se lava em casa
As turbulências observadas nas últimas semanas demonstram a
necessidade de melhorias na regulamentação do mercado de crédito
americano.
Palavras-Chave: Economia, Reformas, Crise Imobiliária.
Matriz de Insumo-Produto: Um importante instrumento
A MIPRS é um importante instrumento de análise das inter-relações da
economia gaúcha.
Palavras-Chave: Matriz de Insumo-Produto, Economia Gaúcha.
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Roupa suja se lava em casa
As turbulências observadas nas últimas semanas demonstram a necessidade de melhorias na regulamentação do mercado de
crédito americano.
Os meses de julho e agosto, serão lembrados no
ano de 2007 pela ebulição dos riscos provenientes do
mercado de crédito imobiliário nos EUA, e que
contaminaram diversos ativos e países, modificando o
cenário de médio prazo. Sem procurar minimizar os
impactos dessa crise, o que se verificou nas últimas
semanas foi um movimento de ajuste nos preços de uma
parte do mercado de crédito americano (o mercado
imobiliário representa cerca de 25% do total de crédito
no país), e que esteve concentrado em um determinado
segmento, os clientes de maior risco.
As empresas que atuam na oferta de crédito
imobiliário nos EUA selecionam os seus clientes em
basicamente dois segmentos, os devedores prime e os
subprime, que são definidos pelo histórico de
pagamento de dívidas, a razão dívida/renda individual,
o tempo de abertura de conta e a capacidade de provar a
renda anunciada. Todos esses itens são analisados e
pontuados, de tal forma que cada pessoa obtém um
escore onde, valores maiores significam menor risco de
crédito. Ressalta-se que existem diversas empresas
especializadas em fazer essa classificação e oferecer
esse resultado para os bancos que vão emprestar
recursos. Geralmente, esse diferencial de risco
representa entre 2 e 3 pontos percentuais de juros para
os clientes subprime, acima daqueles que são pagos
pelos classificados como prime.
O mercado de subprime, ou então, o crédito para
clientes de maior risco, ganhou ímpeto a partir do início
da década de 1990, quando os juros nos EUA eram
muito baixos. Com isso, os proprietários de residências
aproveitaram o cenário conjuntural favorável para
refinanciar hipotecas, reduzindo a taxa de juros
incidente ou então contratando novos empréstimos para
financiar melhorias ou trocar de imóvel. Além disso,
dois outros fatores permitiram que esse mercado
evoluísse: a incorporação de tecnologia da informação,
que auxiliou no controle de dados, e também a
precificação dos clientes a partir dos escores de crédito.
Com isso, ganhou-se em informação, tornando o
mercado mais transparente e acessível para clientes de
diversas classes sociais.
A partir de 2001, as taxas de juros nos EUA
iniciaram uma nova tendência de queda que atingiu a
marca de 1% a.a. ao final de 2003. Esse cenário
favorável contribuiu para mais um movimento de
alavancagem no mercado de crédito, que hoje é de
quase US$ 9 trilhões, dos quais cerca de 80% estão
classificados como clientes prime. Destaca-se que
somente no ano passado, cerca de 20% de todos os
recursos destinados para crédito imobiliário foram
adquiridos pelos clientes subprime. Um valor que se
situava em 6% em 2002. Da mesma forma, os clientes
optaram pelo crédito com taxas de juros flutuante, que
resultavam em prestações menores no início do
contrato. A princípio, esse movimento de crédito em
direção ao mercado subprime, não ofereceria riscos
comparativamente ao estoque precificado de residências
no país, da ordem de US$ 17 trilhões. Ou seja, a
possível garantia supera em quase 2 vezes o total de
recursos financiados. Porém, é importante destacar que
nem todos os clientes desse mercado apresentam as
mesmas características e nem sofrem de maneira
homogênea os impactos de modificações na política
monetária. A partir de meados de 2004, o Fed (Banco
Central Americano) iniciou um processo de aumento de
juros que durou até o ano passado. Tal cenário,
conjugado com a queda no preço das residências e
condições financeiras mais fracas dos consumidores,
resultaram em aumento da inadimplência dos devedores
subprime. Cerca de 10% do total de clientes
classificados nessa categoria, eram inadimplentes em
2005. Atualmente são 13%, muito acima dos 3%
verificados no grupo prime. Além disso, dentre os
clientes com crédito com juros flutuantes, a
inadimplência é maior.
Apesar da dificuldade em se determinar a
magnitude da crise, as projeções dão conta de que a
manutenção desse cenário pode representar um default
de cerca de US$ 450 bilhões sobre o montante de
crédito concedido. O detalhe é que a maior parte desse
total está concentrada no mercado subprime, onde as
empresas de crédito e os bancos alavancaram posições.
As turbulências recentes tem muito a ver com a atuação
dos hedge funds. Primeiro os recebíveis dos clientes
subprime são agregados em uma carteira de crédito que
posteriormente são lastreadas com a emissão de títulos.
Os bancos adquirem esses títulos e os hedge funds
ampliam essa corrente com o uso de derivativos.
Quando cai o preço das residências, há um impacto
imediato sobre a relação ativo/passivo, uma vez que a
residência é usada como garantia no empréstimo. Com
a necessidade de fazer depósitos para garantir os
contratos, movimento conhecido como “chamada de
margem”, há uma venda maciça de outros ativos,
resultando em depreciação e falta de liquidez no
mercado. Nesse momento, a crise está instalada.
Os organismos internacionais sempre cobraram de
outras economias ações mais duras no controle sobre o
crédito fornecido pelos bancos e instituições
financeiras, de tal forma a evitar que os chamados
“créditos podres”, pudessem contaminar toda a
economia. Foi assim na crise da Ásia em 1997, com as
ações do FMI e na Rússia em 1998 com a ação dos
hedge funds. Apesar dos alertas, as crises sempre
vieram, seguidas de reformas. Esperamos que ocorra
regras mais rígidas no controle do crédito imobiliário
nos EUA para o futuro. Roupa suja se lava em casa.
Unidade de Estudos Econômicos
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Matriz de Insumo-Produto: um importante instrumento
A MIPRS é um importante instrumento de análise das inter-relações da economia gaúcha.
Há pouco mais de uma semana, a FEE lançou um
importante estudo sobre a conformação da economia
gaúcha. A Matriz Insumo-Produto de 2003 (MIPRS2003) apresenta o retrato das relações de produção
que se estabelecem entre os setores e entre os agentes
econômicos, considerando tanto o contexto interno,
quanto o externo, seja na sua perspectiva interregional quanto internacional.
O trabalho já contava com uma versão anterior,
datada de 1998. A MIPRS-1998 já havia sido
considerada um importante instrumento regional de
planejamento e dimensionamento de impactos de
investimentos
e
outras
políticas
públicas
(especialmente de natureza tributária). Porém a
necessidade de novas estimativas se mostravam
evidentes. O cenário macroeconômico sob o qual foi
desenhada a matriz anterior já não fazia mais sentido.
Tanto a economia gaúcha quanto a economia nacional
haviam passado por mudanças significativas no
período. No âmbito nacional, não figurava mais a
política de câmbio fixo, muito pelo contrário, o
câmbio flutuante, dede 1999 já se consagrava como
uma das bases do tripé de sustentação da política
nacional. Além disso, no âmbito regional, já havia
maturado uma série de investimentos que constituíam
elos importantes da cadeia automotiva.
A MIPRS-2003 é bastante semelhante à versão
brasileira de 1996, feita para a economia brasileira.
No entanto, apresenta uma abertura mais detalhada
para setores-chave da economia gaúcha. Na atual
versão regional, estuda-se o comportamento de 45
setores de atividade e 80 produtos. Hoje, o IBGE
apresenta uma versão de MIP com um número maior
de setores de atividade e de produtos, porém a versão
gaúcha parece ser mais adequada a realidade regional
pelo tipo de atividade e produto avaliado.
A MIPRS revelou um PIB cerca de 2,3% maior
que o estimado para seu ano base, naquela ocasião. O
PIB estimado pelo trabalho da FEE ficou em R$ 131,1
bilhões, com valor adicionado de R$ 119,6 bilhões e
impostos sobre produtos contabilizando os demais R$
11,5 bilhões. Do valor adicionado da economia
gaúcha, a agropecuária participa com 14,3%, sendo
que deste montante, 81,1% provém das atividades
agrícolas, de sivicultura e extrativista vegetal e 18,9%,
da pecuária e da pesca. A indústria participa com
29,8%, onde a indústria de transformação colabora
com 84,1%, a construção civil com 8,9%, os serviços
industriais de utilidade pública (SIUP) aparecem com
6,5% e a extrativa mineral com 0,5%. Os serviços
apareceram com uma contribuição de 55,9% em que o
maior destaque é a administração pública que
apresenta 22,2%, seguida do aluguel de imóveis
(21,9%), comércio (16,1%), serviços prestados às
famílias (11,2%), instituições financeiras (9,3%),
serviços prestados a empresas (6,7%), transportes
(5,8%), serviços privados não mercantis (3,6%) e
comunicações (3,2%).
As informações da matriz de insumo-produto
vieram novamente confirmar que a dinâmica da
economia gaúcha está fortemente atrelada ao
comportamento do complexo químico-petroquímico, da
agroindústria e do setor metal-mecânico. Chama a
atenção também a participação dos serviços. Apesar da
mudança de participação ser marginal entre a MIPRS1998 e a MIPRS-2003, a maior diferença provém do
que habitualmente vinha sendo utilizado em termos de
contas regionais.
Essa mudança certamente terá impactos sobre as
expectativas de crescimento da economia gaúcha em
2007. Em novembro, provavelmente, o IBGE
encaminhará a nova metodologia do cálculo do PIB
regional. Como a matriz segue um dimensionamento
muito semelhante a essa nova metodologia, é muito
provável que os pesos utilizados para o cálculo do PIBRS de 2007 sejam bastante semelhantes aos divulgados
pela MIPRS. E, nesse caso, como se espera que a
agropecuária e a indústria sejam os motores da
economia em 2007, o aumento do peso dos serviços há
de repercutir negativamente sobre o crescimento.
Quanto aos multiplicadores de impacto, a MIPRS2003 revela que os setores agroindústrias são aqueles
que produzem os multiplicadores mais relevantes.
Observando-se os 10 maiores multiplicadores setoriais,
destacam-se: fabricação de óleos vegetais, abate e
animais, indústria de laticínios, indústria do fumo e
beneficiamento. Já no caso de multiplicadores de
rendimentos, destaque para as atividades terciárias, em
virtude das dimensões dos salários pagos nesses ramos.
Outra abordagem interessante apurada pela MIPRS2003 é a perspectiva de ligações para frente e para atrás,
mensurada a partir dos índices de HirschimanRasmussen. A partir desses índices é possível verificar
cinco setores-chave na economia gaúcha: refino de
petróleo, químicos diversos, transporte, pecuária e
pesca, e comunicações. Os setores-chave são aqueles
que apresentam efeitos multiplicadores sobre a
produção, para atrás e para a frente, acima da média de
todos os setores da economia.
Enfim, o estudo se apresenta como um importante
radiografia da economia gaúcha e de suas interrelações. O estímulo a esse tipo de estudo, e ao seu
contínuo aperfeiçoamento, deve ser permanente. O
Estado e a sociedade apenas poderão interagir definindo
prioridades de investimentos ou seus arranjos
tributários quando, de fato, conhecerem sua estrutura
econômica.
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