religião - a antítese da ciência

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RELIGIÃO - A ANTÍTESE DA CIÊNCIA
de Peter Atkins
Muitos consideram que o conflito entre religião e ciência é uma
fase temporária, e no devido tempo os dois poderosos rios da
compreensão humana irão se unir e formar um Amazonas ainda
mais poderoso de compreensão. Eu tenho uma visão oposta, que
essa reconciliação é impossível. Eu considero que a Ciência é
mais poderosa que a Palavra, e que o rio da religião irá (ou, pelo
menos, deveria) atrofiar e morrer.
A base de minha crença que essa reconciliação é impossível, é
que as técnicas e critérios da religião e da ciência são
extraordinariamente diferentes. A ciência busca simplicidade
publicamente e encoraja a derrubada de autoridade; religião
aceita complexidade privadamente e encoraja a defesa de
autoridade.
Existem, claro, muitos que consideram o conceito de deus como
uma explicação excessivamente simples de tudo, e que
consideram as elucidações científicas como algo, ou incompleto,
ou pesado. De qualquer modo, isso é uma auto-ilusão. Tais visões
são geralmente sustentadas por pessoas que não entendem o
método científico. De fato, acreditar na afirmação de que deus
é uma explicação (de qualquer coisa, deixe de lado o "de tudo")
é algo intelectualmente desprezível, pela quantidade de
admissões de ignorâncias empacotadas na pretensão de uma
explicação. Afirmar que "deus fez isso" é pior que uma admissão
de ignorância, isso deveria pôr uma mortalha sobre a ignorância
no engano.
Nós cientistas sabemos que é imensamente difícil traçar à fundo,
idéias simples da ciência para fora no mundo dos fenômenos.
Essa ignorância dos procedimentos científicos, ou simplesmente
antagonismo em relação a eles, freqüentemente é confundida
com impotência. Os cientistas sabem que a complexidade do
mundo é o resultado de um imenso número de eventos simples
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algumas vezes conflitantes.
O mecanismo bioquímico dos organismos é um exemplo de
como os princípios funcionando são bem conhecidos, e se não
bem conhecidos, determináveis e expressíveis em princípio em
termos de processos (para nós químicos) familiares. Isso é
certamente correto sobre o processo fisiológico que nos sustenta,
e somente o maior dos pessimistas não iria estender essa visão até
o funcionamento de nossos cérebros. Porém nós também
sabemos que até o mais simples organismo é tão
extraordinariamente complicado que desemaranhar sua
bioquímica é imensamente difícil.
Mas essa dificuldade não é uma derrota. Nem pode ser
considerada uma falha a nossa inabilidade em prever como uma
série de processos bioquímicos por si só seria suficiente para
explicar a criação da vida, esqueça a idéia de que tentar fazer
um organismo novo, seja interpretado como falha. De fato, isso
deveria ser uma fonte de orgulho no poder do intelecto humano
que já foi tão longe entendendo isso em tão pouco tempo. O
desafio de elucidar os processos da vida - incluindo consciência
e toda sua bagagem que nós embrulhamos como "o espírito
humano" - é o único exemplo de um desafio onde o trabalho
duro compensa e a ciência não precisa aceitar as falsas
explicações mascateadas pelas religiões. Existem outros
problemas, talvez mais desafiadores, incluindo a origem de tudo.
Em nenhum caso, no entanto, há qualquer indicação que a
ciência está trabalhando para acabar sendo parada por uma
barreira até explicações futuras. Não existe certamente nenhuma
justificativa para afirmar que os poderes da ciência estão
circunscritos e que além da fronteira o único recurso para
compreensão é deus.
Muitos irão aceitar que a ciência pode de fato comunicar todas
essas promessas, mas irão manter, contudo, que isso proporciona
um relato incompleto da dimensão inteira de ser humano. Para
eles, o impiedoso olhar fixo da ciência é caolho. Para eles,
existem aspectos do mundo que a ciência, com sua confiança
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no exame de evidências do público e a afixação de números
para os eventos, não pode nunca tocar. Eles apontam para a
alegria, a miséria, a apreciação estética, o amor, a morte, e
acima de tudo o senso de propósito cósmico, e sentem-se
confiantes que esses aspectos espirituais que transcendem os
físicos irão para sempre se encontrar além do alcance da
ciência.
Eu discordo dessa visão pessimista. Eu considero que existem dois
tipos de questões espirituais. Uma diz respeito a tópicos como a
alegria, relativo à estados físicos do cérebro em conjunção com
uma variedade de estados fisiológicos do corpo, não obstante
de nosso sistema endócrino. Eu não vejo razão nenhuma para
olhar esses estados como fora dos limites do discurso científico.
Alguns irão olhar a analise científica de tais tópicos, que inclui
tanto a bestialidade como também o amor, a criatividade e a
credulidade (tal como muitas vezes resultado de crenças
religiosas), como uma erosão do prazer. Eu acho que o oposto é
verdadeiro: enquanto a compreensão científica aprofunda nosso
prazer, ela não importuna os atos de prazer. Que nós podemos
entender a paixão, que nós podemos entender a iniqüidade, e
que nós podemos procurar tateando por uma compreensão do
que significa ser humano, que nós podemos olhar para dentro de
nós com uma visão não enevoada pelo misticismo, parece para
mim adicionar para nossa admiração desse maravilhoso, porém
explicável, mundo.
Então existe um segundo grupo de questões profundas que
muitos iriam desejar proteger da luz da ciência. Essas questões
são as mais cósmicas dessas amadas pela religião, incluindo o
propósito de nossa existência, a função do mal, o livre arbítrio e a
prospeção de vida eterna.
Eu acredito que tais questões foram inventadas, e não
representam problemas realmente desafiadores para nós
resolvermos. Seria de fato fascinante se o universo tivesse um
propósito; seria provavelmente prazeroso haver vida após a
morte. Porém, não há um só pedacinho de evidência em favor
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de nenhuma das duas especulações. Como é fácil de
compreender porque as pessoas anseiam por um propósito
cósmico e vida eterna, e não existe evidência para ambos, me
parece uma conclusão inescapável que nenhum dos dois existe.
Tudo que existe para a ciência explicar sobre esses problemas é
a psicologia dos cérebros que os mantém como fatos.
Minha conclusão é severa e descompromissada. Religião é a
antítese da ciência; a ciência é competente para iluminar todas
as questões profundas da existência, e faz isso de uma maneira
que faz uso total e respeitoso do intelecto humano. Eu não vejo
nenhuma necessidade ou sinal de qualquer reconciliação futura.
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