CONSENSO BRASILEIRO SOBRE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA – DPOC SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA – SBPT REVISÃO DE ALGUNS ASPECTOS DE EPIDEMIOLOGIA E TRATAMENTO DA DOENÇA ESTÁVEL - 2006 PREFÁCIO O II Consenso Brasileiro de DPOC foi publicado em novembro de 2004, com o compromisso de ser um documento vivo, sujeito a atualizações periódicas, em função da velocidade alucinante com que são observadas novas evidências no mundo da medicina. Esta é a primeira revisão, ou atualização, do Consenso de DPOC. Decidimos por fazer revisões periódicas, de aspectos pontuais do documento que tivessem apresentado alterações significativas neste período. Este documento contempla: 1) revisão da epidemiologia da DPOC no Brasil, à luz dos dados apresentados no estudo PLATINO, recentemente publicado no Lancet e Cadernos de Saúde Pública do Rio de Janeiro, 2) revisão da importância do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) na análise evolutiva e avaliação do tratamento da DPOC em contraste com a observação da importância de novos desfechos clínicos e marcadores de evolução e resposta ao tratamento, segundo Documento do GOLD, 3) revisão das recomendações de tratamento da doença estável em função de novas evidências trazidas à tona recentemente, 4) tratamento de reposição dos pacientes com deficiência de alfa1 antitripsina. José Roberto Jardim, Júlio Abreu de Oliveira, Oliver Nascimento. 1. Dados epidemiológicos da DPOC no Brasil 2. Desfechos clínicos e marcadores na DPOC 3. Revisão das diretrizes de tratamento doença estável 4. Tratamento dos pacientes com deficiência de alfa1 antitripsina 1. Dados epidemiológicos da DPOC no Brasil 1.1 - Fontes Os números apresentados a seguir foram extrapolados para todo o Brasil a partir dos resultados do Projeto PLATINO - Projeto Latinoamericano de Investigação em Obstrução Pulmonar (2005), realizado em São Paulo, e da pesquisa nacional do CEBRID - Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (2002). Os dados populacionais são oriundos do 1 censo de 2000 do IBGE. Os dados relativos à morbi-mortalidade foram extraídos do DATASUS.. 1.2 - Estudo PLATINO O Estudo PLATINO avaliou os indivíduos com 40 ou mais anos de idade residentes na área metropolitana da Grande São Paulo. Ele foi um estudo transversal de base populacional, criado para se avaliar a prevalência da DPOC e analisar o impacto desta doença nesta amostra. O estudo constou de aplicação de questionários e espirometria pré e pós-broncodilatador em pessoas vivendo em residências escolhidas por randomização, considerando como obstrução brônquica o padrão internacional de “screening” a relação VEF1/CVF (capacidade vital forçada) < 0,70 pós-broncodilatador. Nesse estudo a prevalência total da DPOC foi de 15,8%, sendo 18% nos homens e 14% nas mulheres.. A distribuição dos pacientes de acordo com o estádio de gravidade da DPOC e segundo a classificação do GOLD e da SBPT, mostrou os seguintes resultados de prevalência: Estádio Prevalência I 10,1% II 4,6% III 0,9% IV 0,2% A distribuição de DPOC pela faixa etária foi : 40-49 anos, 8,4%; 50-59 anos, 16,2%; >60 anos, 25,7%. A distribuição de acometimento de DPOC foi diminuindo com o aumento do número de anos de frequência à escola: 0-2 anos, 22,1%; 3-4 anos, 16,3%; 5-8 anos, 14,4%; > de 9 anos, 10,4%. Um dado interessante é que 12,5% dos pacientes diagnosticados como DPOC nunca haviam fumado. No entanto, 16,2% dos pacientes com DPOC já haviam sido expostos à fumaça de lenha e 22,1% ao carvão, como combustível para aquecimento ou cozinhar. Embora não significantes, as razões de prevalência ajustada para exposição à pós em local de trabalho foi de 1,36 e para carvão de 1,40 Na população total estudada, a prevalência de tabagismo ativo foi de 24%, enquanto 33,1% eram ex-tabagistas e 42,9% foram considerados como nunca tendo fumado. Entre os indivíduos fumantes com DPOC, o risco relativo ajustado foi de 2,04 e de 2,57 para os com classificação II-IV. Utilizando a equação : 2 Fração etiológica : __frequência de exposição x (risco relativo - 1)___ 1 + frequência de exposição x (risco relativo - 1) Assim, é possível afirmar que o fator atribuível ao estado atual de fumante foi 26,2% para os indivíduos com classificação GOLD II-IV. Isto quer dizer que o controle do tabagismo preveniria o desenvolvimento da DPOC em pelo menos um em cada quatro fumantes. 1.3 - Estudo do CEBRID O CEBRID publicou em setembro de 2002 dados que mostram os resultados de um levantamento randomizado domiciliar sobre o tabagismo. Este levantamento refere-se às 107 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes. De acordo com este inquérito, 51,5 % dos brasileiros já fizeram uso alguma vez em sua vida do cigarro. Das pessoas acima de 35 anos, 24% delas fumam regularmente (com intervalo de confiança de 95% de 22 a 26%), sendo 28% (IC: 26-30%) dos homens e 20% (IC: 19-22%) das mulheres. Tabela 1 - Prevalência projetada de tabagistas, DPOC e número de internações e óbitos nos estados do Brasil, segundo dados populacionais do IBGE, CEBRID, Estudo PLATINO e SUS. Estado Tabagistas População e com 40 ou de total mais (estádios I a (estádio II a no SUS, ano ano de 2003, anos de idade Portadores de Nº de óbitos Sexo Portadores DPOC de IV) IV) Nº por DPOC internações de 2004, por (indivíduos DPOC com (indivíduos anos) com > 40 anos) AC AL Masc 53.682 15.030 9.662 270 33 Fem 50.988 10.197 7.138 205 29 Total 104.670 25.227 16.800 475 62 Masc 298.932 83.700 53.807 898 141 Fem 340.239 68.047 47.633 1.063 111 Total 639.171 151.747 101.440 1.961 252 5.966 36.432 DPOC, 3 > 40 AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA Masc 39.733 11.125 7.151 104 21 Fem 38.336 7.667 5.367 73 15 Total 78.069 18.792 12.518 177 36 Masc 252.808 70.786 45.505 367 111 Fem 249.689 49.937 34.956 186 75 Total 502.497 120.723 80.461 553 186 Masc 1.526.270 427.355 274.728 5.561 578 Fem 1.692.917 338.583 237.008 4.707 320 Total 3.219.187 765.938 511.736 10.268 898 Masc 859.499 240.659 154.709 1.473 328 Fem 997.744 199.548 139.684 1.343 260 Total 1.857.243 440.207 294.393 2.816 588 Masc 214.493 60.058 38.608 605 129 Fem 253.416 50.683 35.478 532 87 Total 467.909 111.341 74.086 1.137 216 Masc 403.406 112.953 72.613 1.173 347 Fem 435.228 87.045 60.931 859 231 Total 838.634 199.998 133.544 2.032 578 Masc 624.818 174.949 112.467 6.107 731 Fem 640.442 128.088 89.661 5.275 540 Total 1.265.260 303.037 202.128 11.382 1.271 Masc 594.920 166.577 107.085 1.169 129 Fem 627.076 125.415 87.790 1.239 89 Total 1.221.996 291.992 194.875 2.408 218 Masc 301.845 84.516 54.332 2.906 255 Fem 267.827 53.565 37.495 1.986 129 Total 569.672 138.081 91.827 4.892 384 Masc 267.081 74.782 48.074 1.185 270 Fem 268.993 53.798 37.659 1.049 189 Total 536.074 128.580 85.733 2.234 459 Masc 2.440.072 683.220 439.331 14.160 2.449 Fem 2.680.729 536.145 375.302 11.763 1.530 Total 5.120.801 1.217.365 814.633 25.923 3.979 Masc 627.898 175.811 113.021 2.599 306 Fem 615.963 123.192 86.234 2.119 194 Total 1.243.861 299.003 199.255 4.718 500 4.449 28.642 183.493 105.862 26.670 47.802 72.119 69.653 32.471 30.556 291.885 70.900 4 PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE Masc 421.612 118.051 75.890 2.250 172 Fem 504.550 100.910 70.637 2.543 149 Total 926.162 218.961 146.527 4.793 321 Masc 1.294.837 362.554 233.070 12.541 1.814 Fem 1.394.017 278.803 195.162 12.971 1.378 Total 2.688.854 641.357 428.232 25.512 3.193 Masc 930.056 260.415 167.410 1.510 538 Fem 1.129.602 225.920 158.144 1.435 410 Total 2.059.658 486.335 325.554 2.945 948 Masc 330.294 92.482 59.452 734 131 Fem 366.757 73.351 51.345 695 87 Total 697.051 165.833 110.797 1.429 218 Masc 2.122.684 594.351 382.083 6.319 2.079 Fem 2.608.213 521.642 365.149 4.493 1.310 Total 4.730.897 1.115.993 747.232 10.812 3.390 Masc 328.447 91.965 59.120 374 102 Fem 379.475 75.895 53.126 415 89 Total 707.922 167.860 112.246 789 191 Masc 1.557.806 436.185 280.405 20.112 3.039 Fem 1.786.663 357.332 250.132 13.415 1.563 Total 3.344.429 793.517 530.537 33.527 4.602 Masc 152.380 42.666 27.428 567 136 Fem 132.913 26.582 18.607 358 68 Total 285.293 69.248 46.035 925 204 Masc 31.110 8.710 5.599 47 7 Fem 26.450 5.290 3.703 36 4 Total 57.560 14.000 9.302 83 11 Masc 727.943 203.824 131.029 9.096 1.089 Fem 779.765 155.953 109.167 6.370 514 Total 1.507.708 359.777 240.196 15.466 1.604 Masc 5.140.453 1.439.326 925.281 12.830 5.607 Fem 5.835.490 1.167.098 816.968 9.793 3.367 Total 10.975.943 2.606.424 1.742.249 22.623 8.974 Masc 191.374 53.584 34.447 482 101 Fem 219.120 43.824 30.676 504 67 Total 410.494 97.408 65.123 986 168 52.791 153.264 117.400 39.731 269.661 40.351 190.632 16.261 3.280 85.939 625.628 23.398 5 TO BRASIL Masc 133.110 37.270 23.959 444 70 Fem 121.455 24.291 17.003 371 39 Total 254.565 61.561 40.962 815 109 Masc 21.867.563 6.122.917 3.936.161 105.883 20.713 Fem 24.444.017 4.888.803 3.422.162 85.798 12.844 Total 46.311.580 11.011.720 7.358.323 2.639.760 191.681 33.560 Sexo População Tabagistas Portadores Portadores Nº e com 40 ou DPOC de total mais (estádios I a (estádio II a no SUS, ano ano de 2003, anos de idade IV) 14.510 IV) de Nº de óbitos DPOC internações por DPOC, de 2004, por (indivíduos DPOC com (indivíduos anos). com > 40 anos). Apesar da DPOC ser uma doença altamente prevalente, ela é, geralmente, subestimada e sub-diagnosticada. Há situações em que os doentes com DPOC não são identificados pela equipe de saúde e outras em que o indivíduo sem DPOC recebe tal diagnóstico. No primeiro fato, os casos em que há presença de obstrução do fluxo aéreo e eles não são identificados, são descritos na literatura como não-diagnosticados ou sub-diagnosticados; no caso daqueles que são diagnosticados como portadores de DPOC e que não apresentam obstrução do fluxo aéreo caracteriza-se o diagnóstico errôneo. No Estudo PLATINO, aproximadamente 88% do pacientes com DPOC não tinham o diagnóstico prévio. Para a saúde pública, é de suma importância determinar o número de indivíduos doentes que correspondem à real prevalência da doença na comunidade. O diagnóstico de DPOC deve ser considerado em qualquer indivíduo com tosse, expectoração, ou dispnéia e/ou história de exposição a fatores de risco. A espirometria deve ser considerada na definição diagnóstica dos casos de DPOC visto que outras condições podem apresentar quadro clínico bastante semelhante ao desta condição, como é o caso da asma, da bronquiectasia e da insuficiência cardíaca. Referências 1 - Jardim J, Oliveira J, Nascimento O. II Consenso Brasileiro de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). J Bras Pneumol 2004; 30: S1-S42. 6 > 40 2 - Jardim J, Camelier AA, Rosa FW, Perez-Padilla R, Hallal P, Victora C, Menezes A. A population based study on the prevalence of COPD in São Paulo, Brazil. Am J Respir Crit Care Me 2004, 169: A222. 3 - Menezes A M B, Hallal P C , Perez-Padilla R, Jardim J R B, Muiño A, Lopez M V, Valdivia G, M de Oca M , Talamo C. Chronic obstructive pulmonary disease in five Latin American cities (the PLATINO study): a prevalence study. www.thelancet.com Published online November 4, 2005. 4 - Prevalence of chronic obstructive pulmonary disease and associated factors: the PLATINO Study in São Paulo, Brazil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2005; 21(5):1565-1573. 5 - CEBRID - Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (2002). 6 – www.datasus.gov.br 2. Desfechos clínicos e marcadores na DPOC 2.1- Introdução O VEF1 tem sido, ao longo do tempo, largamente utilizado como uma medida de diagnóstico, de avaliação de gravidade e de estimativa de prognóstico na DPOC. Além disso, tem sido utilizado também como uma medida de avaliação de desfecho de tratamento, ainda que uma das características de definição da doença seja a ausência de reversibilidade completa da obstrução do fluxo aéreo. Em função desta reversibilidade incompleta na DPOC, o VEF1 tem pequena variação em períodos curtos de tempo, prestando-se mal para a avaliação de desfecho de tratamento. Contudo, a despeito da baixa reversibilidade da obstrução do fluxo aéreo a medicação básica para a DPOC são os broncodilatadores. Nos últimos anos, um melhor conhecimento da fisiopatologia da DPOC permitiu que outros desfechos, além do VEF1 fossem utilizados para o seguimento da doença. O documento do GOLD (Global Initiative for Obstructive Lung Disease), em vista desses novos conceitos, recebeu o acréscimo de um capítulo denominado “Desfechos e Marcadores em DPOC”, que será sintetizado brevemente nos próximos parágrafos. Está claro no documento do GOLD que é necessário olhar além do VEF1 para o entendimento da DPOC e o seu adequado tratamento. Uma doença tão heterogênea, com particularidades individuais, co-morbidades diferentes, taxas de perda de função não homogêneas e processos inflamatório e enfisematoso tão distintos entre os pacientes, não pode ter um parâmetro único que conduza o tratamento e oriente o prognóstico. 7 2.2 – Definições Desfecho clínico - é uma conseqüência da doença sentida pelo paciente ( mortalidade, sintomas e qualidade de vida, tolerância ao exercício, exacerbações e insuficiência respiratória aguda, perda de peso mortalidade, uso de recursos da saúde). Marcador - é uma medida associada com um ou mais desfechos clínicos. Os marcadores podem definir diagnóstico, gravidade, progressão da doença, efeito do tratamento. Um desfecho clínico pode estar associado a vários marcadores. Por exemplo, desfecho mortalidade, pode estar associada aos marcadores VEF1, escala de dispnéia do MRC (Medical Research Council), capacidade de exercício, IMC (índice e massa corpórea) e outros. Da mesma maneira, um marcador pode estar associado a mais de um desfecho, por exemplo, a escala de dispnéia do MRC, pode estar associada aos desfechos mortalidade e sintomas. Algumas vezes é difícil fazer-se a distinção entre desfecho e marcador. Por exemplo, alguns marcadores podem ser tão bem caracterizados e compreendidos que podem, efetivamente, substituir um desfecho clínico, transformando-se ele próprio no desfecho. Nas doenças cardiovasculares, a redução da pressão arterial, um marcador, se transformou em um desfecho clínico, dado a sua intensa associação com o desfecho redução de morbidade e mortalidade. Na DPOC, como dissemos antes, o VEF1, um marcador, muitos vezes é visto como desfecho, comprometendo uma visão mais global da doença, que é conseguida quando utilizamos múltiplos desfechos e marcadores. 2.3 – Os desfechos clínicos e seus marcadores na DPOC Desfecho clínico - Mortalidade A mortalidade é, obviamente, um importante desfecho e, clinicamente, altamente relevante. No entanto, a dificuldade aqui observada é de que o diagnóstico de DPOC nem sempre é colocado na certidão de óbito. Esse desfecho é relevante quando utilizado por grupos de pesquisa, com coortes de seguimento. Marcadores associados – Função pulmonar (VEF1, CVF, relação capacidade inspiratória/capacidade pulmonar total), gases arteriais, escalas de sintomas, capacidade de exercício, freqüência de exacerbações. Desfecho clínico - Sintomas e qualidade vida Os sintomas mais freqüentes nos pacientes com DPOC são: dispnéia, tosse, expectoração e fadiga. Os sintomas, além de constituírem um desfecho clínico, contribuem, ainda, em outros 8 desfechos como tolerância ao exercício e qualidade de vida. A qualidade de vida relacionada à saúde é um importante desfecho clínico da DPOC. Marcadores associados – O único sintoma que tem um método bem avaliado e validado de avaliação é a dispnéia. As escalas mais utilizadas para a quantificação da dispnéia são a escala do “Medical Research Council”, já apresentada no Consenso de DPOC de 2004 da SBPT, os índices de dispnéia basal e “transitional” de Mahler (BDI e TDI) e a escala analógica visual de Borg. A qualidade de vida é específica para cada paciente e a preferência é que se intitule qualidade de vida relacionada ao estado de saúde. Os questionários de avaliação têm baixa especificidade para avaliação individual, mas boa para grupos. Os questionários são divididos em específico para a doença DPOC e genéricos. No Brasil, temos validado os questionários “Saint George para Doença Respiratória” e o “Vias Aéreas 20”, específicos para DPOC, e o “SF-36”, genérico. Desfecho clínico - Tolerância ao exercício A realização de atividade física está significativamente prejudicada em muitos pacientes com DPOC, alterando de maneira importante a sua qualidade de vida, visto que há comprometimento na realização das atividades da vida diária. Como é difícil fazer medições confiáveis das atividades de vida diária dos pacientes, as medidas fisiológicas de capacidade de exercício, realizadas em laboratórios, são, geralmente, utilizadas como marcadores deste desfecho. Marcadores associados - A capacidade de exercício pode ser avaliada em laboratórios por meio de medidas fisiológicas detalhadas (ventilação pulmonar, consumo de oxigênio, produção de gás carbônico, saturação de oxigênio – todas em exercício) ou em testes mais simples onde a duração do exercício ou a distância caminhada em um período determinado são registradas (teste da caminhada de 6 ou 12 minutos e teste “shuttle”). As medidas da capacidade de exercício são consideradas quase como marcadores ideais, pois têm boa validade, especificidade, confiabilidade, reprodutibilidade, capacidade preditiva, capacidade discriminatória e capacidade evolutiva. Estes marcadores podem ser ainda utilizados como marcadores de sintomas, qualidade de vida, utilização de recursos de saúde e mortalidade. Desfecho clínico – Exacerbaçôes Exacerbação é um piora persistente da condição basal estável do paciente, de surgimento agudo e que pode exigir tratamento adicional. As exacerbações são caracterizadas tipicamente pela acentuação da dispnéia, com ou sem tosse, aumento de volume de expectoração, purulência do escarro e opressão torácica. As exacerbações são importante desfecho clínico da DPOC, associadas à gravidade da doença. Marcadores associados – A freqüência e gravidade das exacerbações são os marcadores tipicamente associados a este desfecho. A freqüência e gravidade das exacerbações são também 9 marcadores associados à mortalidade e qualidade de vida. As maiores dificuldades encontradas com relação às exacerbações como desfecho estão relacionadas a dificuldade de se definir precisamente uma exacerbação e sua gravidade. Geralmente os estudos que avaliam exacerbações baseiam-se em aumento de sintomas percebidos pelo paciente e que necessitem de intervenção. Há, porém, intensa subjetividade nessa avaliação. Desfecho clínico - Perda de peso Pacientes com doença a partir de gravidade moderada podem apresentar uma depleção de massa livre de gordura, particularmente às custas de musculatura esquelética, que é refletida por perda de peso. A perda de peso é um preditor de mortalidade em pacientes com DPOC e a sobrevida pode melhorar com o aumento do peso. A perda de peso pode também estar associada à acentuação dos sintomas, piora da qualidade de vida, tolerância ao exercício e maior utilização de recursos de saúde. Marcadores associados – A determinação seqüencial do peso corporal é o marcador para perda de peso. Perda de peso equivalente a 5% em um mês ou 10% em seis meses é considerada clinicamente relevante. Depleção nutricional é geralmente e arbitrariamente definida como peso abaixo de 90% do ideal. Desfecho clínico – Utilização de recursos de saúde A utilização de recursos de saúde pode ser um importante desfecho clínico, visto que 60 a 75% dos gastos com a DPOC são uma conseqüência direta das exacerbações. Assim, a utilização de recursos reflete a falência do tratamento e a progressão da doença. Marcadores associados – A determinação da freqüência da utilização dos recursos vai ser o marcador deste desfecho. Função pulmonar Neste ponto, é importante destacarmos que no documento original do GOLD a função pulmonar não é colocada na posição de desfecho clínico, mas de marcador de vários desfechos clínicos tais como sintomas, qualidade de vida e tolerância ao exercício. Deve-se ressaltar que a função pulmonar, quando expressa pelas medidas rotineiras de CVF e VEF1, se relaciona fracamente com esses desfechos clínicos. A despeito deste fato, a determinação do VEF1 tem sido utilizada em vários estudos clínicos como variável primária, chegando a ser confundida com um desfecho. È importante frisar que o VEF1 é um marcador facilmente disponível e altamente reprodutível, e que os valores de VEF1 e VEF1/CVF, obtidos após uso de broncodilatador, continuam sendo os marcadores essenciais no diagnóstico e determinação de gravidade da DPOC. Outros elementos da função pulmonar, que não são medidos nas avaliações rotineiras, e que melhor refletem a hiperinsuflação pulmonar, como a capacidade residual funcional e a 10 capacidade inspiratória, podem se correlacionar melhor com desfechos clínicos como dispnéia e tolerância ao exercício. RESUMO FINAL Embora elementos da função pulmonar, representados principalmente pelo VEF1, sejam importantes marcadores no diagnóstico e avaliação da gravidade da DPOC, outros aspectos diretamente relacionados ao paciente são de suma importância na avaliação da resposta ao tratamento e evolução da doença. Tais elementos são representados hoje pelos desfechos clínicos acima citados e seus marcadores e podem nos dar uma visão mais adequada da doença frente aos novos tratamentos que vêm surgindo, mostrando que, felizmente, a DPOC não é uma condição irreversível, como nos fez crer por muitos anos a análise isolada do VEF1. Referências 1 – Outcomes and markers in COPD. www.goldcopd.org 3. A posição das diretrizes atuais de tratamento da doença estável 3.1 – Considerações gerais Um primeiro aspecto a ser considerado quando são analisadas recomendações terapêuticas de diretrizes, quaisquer que sejam elas, a despeito de vivermos hoje a era da atualização constante com a Internet, é definir quais foram as principais evidências que serviram como fonte para tais recomendações e quando foram as mesmas publicadas, visto que evidências recentes de novos procedimentos diagnósticos ou terapêuticos, que possam modificar de maneira significativa a condução de uma determinada condição clínica, podem ter surgido entre a data de publicação e a data de leitura de uma diretriz, alterando de maneira significativa recomendações ali estabelecidas. Esta observação é ainda mais importante em condições clínicas que venham sendo alvo de pesquisas recentes, como é o caso da DPOC, onde a adoção de novos fármacos ou novas indicações de fármacos já existentes, vêm sendo implementadas de maneira quase continuada. Com relação à DPOC, pode-se considerar que as principais diretrizes liberadas nos últimos anos foram o II Consenso Brasileiro sobre Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (1), publicado em novembro de 2004, as diretrizes conjuntas da Associação Torácica Americana (ATS) e Sociedade Respiratória Européia (ERS) (2), publicadas em outubro de 2004 e as diretrizes do GOLD (Global strategy for the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary disease publicadas originalmente em 2001 (3). 11 Dessas três principais referências, a que até o momento vem mantendo-se mais atualizada é a do GOLD, graças a revisões freqüentes realizadas pelo seu “Comitê Científico” e disseminadas por meio do seu site na Internet, anualmente, desde julho de 2003. A última revisão liberada em julho de 2005 inclui revisão da literatura até dezembro de 2004 (www.goldcopd.org) (3). A nova publicação do GOLD será publicada em novembro de 2006 Pode-se ver que, mesmo a diretriz com maior freqüência de revisões apresenta um intervalo de tempo considerável entre a divulgação de possíveis evidências de significado clínico importante e a inclusão de tais resultados nas recomendações emanadas da mesma. Se considerarmos a data de redação deste documento de atualização da SBPT como agosto de 2006, teremos que as recomendações do GOLD não consideram a literatura dos últimos 17 meses. Se, como ocorreu com o GOLD, os documentos que serviram como base para as diretrizes da ATS/ERS foram publicados pelo menos seis meses antes da divulgação das mesmas, pode-se concluir que tal documento não contempla evidências surgidas na literatura de DPOC nos últimos dois anos. No consenso da SBPT, foi considerada a literatura publicada até janeiro de 2004. Neste tópico serão revistas, pois, as principais recomendações terapêuticas para a doença estável dos três documentos citados acima, quais são os pontos em comum entre os mesmos, e se existem pontos de divergência. Serão consideradas ainda quais evidências surgiram desde as publicações destes documentos que possam indicar uma necessidade de mudança de suas recomendações, para que seja definida uma proposta atualizada de tratamento hierarquizado da DPOC. Foi estabelecido como data de início para revisão da literatura o mês de janeiro de 2005, ponto em que terminou a última revisão do GOLD. 3.2 – Visão geral das recomendações terapêuticas O documento do GOLD lista como principais medidas na condução da DPOC estável a educação do paciente, o tratamento farmacológico e o tratamento não farmacológico. Os documentos da SBPT e da ATS/ERS concentram-se no tratamento farmacológico e não farmacológico. A educação do paciente consiste, basicamente, em esclarecer o paciente sobre a natureza da DPOC, considerando-se a sua causa, como ela afeta a vida do paciente e como este deve lidar com o tratamento da mesma, sendo consideradas orientações extremamente práticas como uso adequado de medicação inalada. Na última revisão de 2005 foi incluído no GOLD um novo trecho baseado em evidência surgida em 2004 mostrando que sessões formais de orientação do paciente levaram à melhora de desfechos clínicos e redução de custos em um período de acompanhamento de um ano (3). O tratamento farmacológico, pelo seu potencial de levar a melhora sintomática, percebida pelo paciente, é um dos temas mais importantes na condução da DPOC. O GOLD considera como 12 principais elementos no tratamento farmacológico o uso de broncodilatadores e corticóides inalados, mesma posição seguida pelos dois outros documentos. O tratamento não farmacológico consiste em aulas de educação, apoio psicossocial e reabilitação, incluindo exercícios físicos e técnicas de conservação de energia. Em função de sua maior utilização na prática diária, esta revisão será centralizada no tratamento farmacológico. 3.3 – Tratamento farmacológico: uso de broncodilatadores e corticóides inalados A postura atual dos três documentos com relação ao uso de broncodilatadores e corticóides inalados é bastante semelhante. Os principais pontos em comum são os seguintes: - a terapêutica farmacológica é usada para prevenir e controlar sintomas, melhorar a tolerância ao exercício, melhorar a qualidade de vida e reduzir a freqüência e gravidade das exacerbações; - os broncodilatadores são peças centrais na condução dos sintomas na DPOC; - o tratamento regular com broncodilatadores de ação prolongada é mais efetivo e conveniente do que o uso dos broncodilatadores de ação curta, embora mais caro; - a teofilina e seus derivados, devido à baixa potência broncodilatadora e elevada ocorrência de efeitos adversos, devem ser usados como segunda opção, quando não há condições de uso de beta-dois adrenérgicos e anticolinérgicos, ou em associação a estes em pacientes ainda sintomáticos com o uso dos mesmos; - o uso de corticóides inalados deve ficar restrito a pacientes com VEF1< 50% e exacerbações freqüentes; - deve haver um incremento gradual na utilização dos recursos farmacológicos no tratamento, de acordo com a gravidade da doença. Em resumo, os três documentos citados recomendam a utilização gradual da terapêutica farmacológica, em um formato ascendente (step up) em contraste com o tratamento descendente (step down) da asma. Assim, progride-se do uso, se necessário, de broncodilatadores de curta duração, para o uso continuado de um broncodilatador beta-dois adrenérgico ou anticolinérgico, de preferência de longa duração, sem definir qual classe deva ser usada primeiramente, com posterior associação de broncodilatadores e acréscimo de corticóide inalado. Esta recomendação do tratamento ascendente usa como referência, primeiramente, o estadiamento da DPOC, que se baseia na função pulmonar, e, em segundo, os sintomas, representados, principalmente, pela dispnéia. O terceiro elemento utilizado na definição da terapêutica é a freqüência de exacerbações. No entanto, outros desfechos clínicos de importância fundamental para o paciente na evolução da doença, como tolerância ao exercício e qualidade de vida relacionada ao estado de saúde, não 13 são incluídos diretamente na definição da terapêutica, dado à dificuldade de sua utilização na prática diária. À luz das evidências bibliográficas surgidas recentemente, são revistos alguns pontos das atuais recomendações terapêuticas: - com qual classe de broncodilatador inalado, beta-dois adrenérgico ou anticolinérgico, deve-se iniciar a terapêutica broncodilatadora; - qual a postura ideal com relação à utilização da combinação de broncodilatadores inalados; - qual o momento ideal para se iniciar o uso, e qual a importância real do uso de corticóides inalados. 3.4- Com qual classe de broncodilatador inalado deve-se iniciar a terapêutica broncodilatadora, beta-dois adrenérgico ou anticolinérgico? A posição atual dos documentos de consenso é de que deve-se iniciar o uso continuado de broncodilatadores nos pacientes com sintomas persistentes a partir do estádio de doença moderada. Deve-se dar preferência aos broncodilatadores inalados, os quais permitem uso de doses menores e apresentam menos efeitos colaterais, e aos de longa duração, visto que a aderência do paciente ao tratamento tende a ser maior com uma menor freqüência de uso da medicação; em acréscimo, os efeitos terapêuticos relacionados à desinsuflação são mais acentuados quando a broncodilatação é mantida de maneira mais constante. Para se atingir uma broncodilatação adequada com o uso de broncodilatadores de curta duração, é necessário o uso da medicação a cada 4 horas. Com o uso dos broncodilatadores beta-dois adrenérgicos de longa duração, salmeterol ou formoterol, necessita-se somente de duas aplicações diárias; e com o uso do anticolinérgico de longa duração, o brometo de tiotrópio, apenas uma aplicação diária. O custo da medicação de longa duração é maior do que a de curta duração, mas a melhora dos múltiplos desfechos de avaliação da DPOC é maior com os broncodilatadores de longa duração. Assim, o posicionamento atual da terapêutica ideal da DPOC, no que diz respeito à broncodilatação, consiste no uso de broncodilatadores de longa duração. Não está definido claramente nos documentos de consenso com qual classe de broncodilatador inalado de longa duração deve-se iniciar o tratamento, no caso de uso isolado de um destes fármacos. Em todos eles o uso do broncodilatadores de longa duração é citado como “e/ou”, deixando ao médico a escolha final. Assim, não há uma imposição ou proibição do uso de uma ou das duas classes. Aqui, novamente, deve-se considerar : a multiplicidade de desfechos que devem ser levados em consideração no tratamento da DPOC; o surgimento de evidências recentes contemplando tais desfechos com as diferentes classes de broncodilatadores; e se tais 14 evidências já podem dar uma orientação definida com relação a qual classe de broncodilatador deva ser utilizada no início do tratamento do paciente com DPOC. Na revisão da literatura da DPOC, de janeiro de 2005 a março de 2006, considerando-se os três broncodilatadores de longa duração em estudos randomizados e não utilizados, primariamente, em combinação, e publicados em língua inglesa, encontra-se: a) um estudo de comparação de salmeterol com tiotrópio (4), b) um estudo de comparação de formoterol com tiotrópio, onde havia também uma comparação dos esquemas isolados com a associação de formoterol uma vez ao dia e tiotrópio (6), c) um estudo com adição de salmeterol ao esquema habitual de tratamento para avaliar freqüência de exacerbações (7), d) um estudo com adição de tiotrópio ao esquema habitual de tratamento para avaliar freqüência de exacerbações (8), e) e dois estudos com tiotrópio, avaliando, primariamente, a tolerância ao exercício (9,10). Com relação aos estudos comparativos, o de salmeterol com tiotrópio, tendo como desfecho primário variáveis espirométricas em 12 semanas de uso, foi observada maior ação broncodilatadora, estatisticamente significante, no grupo tiotrópio, na maioria das variáveis avaliadas. Já no estudo de comparação do formoterol com tiotrópio, também com avaliação espirométrica como desfecho primário, o tiotrópio mostrou broncodilatação durante o dia significativamente maior do que o formoterol. Infelizmente, estes estudos se limitam à analise das variáveis espirométricas, não considerando outros marcadores de desfechos importantes tais como dispnéia, tolerância ao exercício e freqüência de exacerbações. Os dois estudos de adição são interessantes, pois tentam se aproximar mais da prática diária, ao permitirem o uso de qualquer medicação no grupo controle, à exceção de outro broncodilatador beta-dois adrenérgico de longa duração no estudo com salmeterol e outro broncodilatador anticolinérgico no estudo do tiotrópio. Deve-se notar que quando o estudo do salmeterol foi realizado, o tiotrópio não estava ainda comercializado. No estudo do tiotrópio, 38% dos pacientes em ambos os grupos usavam um beta-dois adrenérgico de longa duração. Aproximadamente 60% dos pacientes estavam em uso de corticóide inalatório, tanto no estudo do salmeterol quanto no estudo do tiotrópio. Com relação ao desfecho primário destes estudos, freqüência de exacerbações em relação ao grupo controle, no trabalho do tiotrópio, foi observada redução de exacerbações estatisticamente significante, enquanto que no do salmeterol não houve diferença estatisticamente significante. Neste período, dois estudos foram publicados avaliando como desfecho primário a tolerância ao exercício, condição que traz importante limitação às atividades da vida diária do paciente com DPOC (9,10). A evidência de melhora de tolerância à atividade física é um importante objetivo clínico do tratamento broncodilatador. Os dois estudos em questão avaliaram o uso do tiotrópio. O primeiro estudo avaliou a melhora da tolerância ao exercício com uso de tiotrópio associado a um programa de reabilitação de oito semanas, mostrando que com o uso de tiotrópio, em relação ao grupo controle com tratamento habitual sem uso de broncodilatadores de 15 longa duração, houve melhora significante da tolerância ao exercício, que foi mantida por pelo menos três meses após o término do programa de reabilitação. O segundo estudo teve por objetivo avaliar a melhora da tolerância ao exercício, após seis semanas de tratamento com tiotrópio, avaliando-se tal efeito, no período diurno, duas horas e meia e oito horas após o uso do tiotrópio. Os resultados mostraram que o tiotrópio apresentou melhora importante da tolerância ao exercício, presente ainda oito horas após o uso do mesmo, sendo esta melhora tão significativa do ponto de vista respiratório, que no grupo tiotrópio a intensidade de desconforto respiratório no exercício foi menor que a intensidade por desconforto em membros inferiores, ao contrário do grupo controle que apresentou maior intensidade de desconforto respiratório. Os dados apresentados mostram, por meio de marcadores variados e alguns desfechos clínicos, superioridade do tiotrópio em relação ao salmeterol e ao formoterol. Isto demonstra um forte indício em direção à escolha inicial do tiotrópio, em um regime de broncodilatador isolado. Porém, para que uma recomendação definitiva seja feita neste sentido são necessários novos estudos com comparação mais ampla das duas classes envolvidas, principalmente no que concerne aos desfechos de maior importância na vida diária dos pacientes tais como dispnéia, tolerância ao exercício e exacerbações. Estudos são necessários, também, para a comparação de esquemas isolados com esquemas combinados. 3.5- Qual a postura ideal com relação à utilização da combinação de broncodilatadores inalados? Os três documentos citados inicialmente consideram que existem evidências de que o uso combinado de broncodilatadores apresenta melhores resultados que o uso de fármacos isolados : são os estudos com a combinação de salbutamol e ipratrópio, salmeterol e ipratrópio e salmeterol e teofilina. A despeito de tal observação, o tratamento com combinação de broncodilatadores tem sido recomendado apenas quando não há controle com os fármacos isolados. Dentre os diversos desfechos e marcadores a variável mais fácil de ser documentada é a variação espirométrica do VEF1, mas esta, como mostrado no item relativo a desfechos e marcadores, não apresenta boa correlação com desfechos importantes das atividades diárias do paciente, como dispnéia, tolerância ao exercício e qualidade de vida. Embora os desfechos citados acima apresentem importante repercussão para o paciente, poucos são os médicos que avaliam de maneira regular e sistemática a dispnéia mediante o uso de escores simplificados como o do MRC (Medical Research Counicl). A tolerância ao exercício é ainda menos avaliada, visto que a determinação objetiva exige, pelo menos, um teste da caminhada de 6 minutos ou similar. Os questionários de qualidade de vida são indicados para pesquisa, em função de seu amplo valor quando utilizados em grupo, mas tem valor bastante restrito ao serem utilizados individualmente, além da dificuldade técnica de serem utilizados em uma avaliação rotineira. 16 Com a recomendação atual de terapêutica gradual ascendente na DPOC, com certeza um número considerável de pacientes está sendo sub-medicado. Neste aspecto, deve-se considerar os dados da literatura, de janeiro de 2005 a agosto de 2006, em terapia broncodilatadora combinada. Cinco estudos apenas foram publicados nesta área. Três considerando tiotrópio e formoterol (5,6,11), um considerando salmeterol associado à fluticasona e tiotrópio (12) e um comparando o tiotrópio associado a beta dois de longa duração e corticóide inalatório. Todos os estudos publicados têm como desfecho primário variáveis espirométricas. O estudo de Cazzola et al. (11) avalia de maneira seqüencial cruzada o uso de tiotrópio em pacientes que vinham em uso de formoterol, e de formoterol em pacientes que vinham em uso de tiotrópio, mostrando que em ambas as situações houve melhora significativa da função pulmonar com o acréscimo do segundo broncodilatador. No estudo de van Noord et al. (5), também seqüencial cruzado, foi feita a comparação entre tiotrópio e formoterol uma vez ao dia, contra tiotrópio uma vez ao dia isoladamente e formoterol duas vezes ao dia isoladamente. A despeito do uso apenas uma vez ao dia do formoterol no estudo combinado, a melhora espirométrica obtida também foi superior com a combinação. Em um segundo estudo, van Noord et al. (6) comparou, de modo também seqüencial, tiotrópio contra tiotrópio e formoterol uma e duas vezes ao dia, tendo sido observada melhor resposta na associação tiotrópio e formoterol 1 vez ao dia em relação ao tiotrópio isolado, e melhor resposta da associação com formoterol 2 vezes ao dia em relação ao uso da associação uma vez ao dia. Deve ser observado que nestes três estudos os pacientes mantinham o seu tratamento habitual no que diz respeito ao uso de corticóide inalado. No estudo de Villar (11), foram avaliadas as ações do salmeterol e fluticasona associados, tiotrópio isolado e a combinação dos três fármacos. Os resultados se repetem, mostrando maior melhora da função pulmonar quando do uso de salmeterol e fluticasona com tiotrópio. Um estudo bastante recente, de Diahn-Warng et al (19), mostrou que a adição de tiotrópio à associação de corticosteróide e beta dois de longa duração aumentou a capacidade inspiratória; após a retirada do tiotrópio, a capacidade inspiratória voltou ao valor anterior. A conclusão dos autores é que a adição de tiotrópio à associação esteróide–beta dois de longa duração, pode trazer benefício à função pulmonar e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com DPOC, uma vez que as dois fármacos agem através de vias complementares diferentes para manter o calibre das vias aéreas. Os critérios espirométricos de inclusão referentes ao VEF1 utilizados foram: Cazzola et al., VEF1 pós-broncodilatador < 80%; van Noord et al, nos dois estudos, VEF1 basal ≤ 60%; e Villar et al., VEF1 basal < 70%. Ou seja, o critério de inclusão considerava os pacientes com DPOC a partir do estádio de doença moderada. 17 Em relação ao uso da combinação de broncodilatadores, pode-se, pois, considerar que existe, baseado nas evidências acima apresentadas dos desfechos espirométricos, um forte indício de que o uso combinado de um broncodilatador beta-dois adrenérgico de longa duração ao tiotrópio possa melhorar os desfechos clínicos da doença. Com base nesta premissa, e frente à dificuldade de se definir quais pacientes vão se beneficiar ou não da associação, poder-se-ia recomendar, na abordagem inicial de pacientes persistentemente sintomáticos, limitados nas suas atividades diárias pela dispnéia, a adoção de terapia combinada inicial. Esta terapia combinada seguiria o modelo de terapia descendente adotado na asma. Após um período de 15 a 60 dias de utilização de fármacos associados, um dos dois medicamentos seria suspenso, ou o anticolinérgico ou o beta-dois adrenérgico, sem preferência inicial. O período de 15 dias, como período mínimo, é baseado nas considerações apresentadas no segundo estudo de van Noord et al., relativas ao tempo necessário para se atingir o estado de equilíbrio do tiotrópio. Estas considerações são baseadas, entretanto, em acompanhamento de variáveis espirométricas, sendo que não se sabe se um maior tempo, ou até menor, de uso do tiotrópio seria necessário para levar a alterações de outros marcadores de desfechos clínicos tais como dispnéia, tolerância ao exercício e qualidade de vida. Assim, pode-se deixar à escolha do médico que acompanha o paciente, um tratamento com a associação tiotrópio e beta-dois adrenérgico de longa duração por um período mínimo de 15 dias e máximo de 60 dias, tendo este período máximo sido escolhido arbitrariamente,. Após a suspensão, dever-se-ia fazer uma observação do paciente, por um outro período arbitrário de 15 a 60 dias e, caso houvesse a ocorrência de relato de piora de dispnéia e/ou de intolerância às atividades físicas da vida diária, retornar-se-ia à medicação anteriormente retirada; caso não houvese piora, manter-se-ia o esquema de fármaco isolado. As críticas a esta conduta podem basear-se na necessidade de se esperar por uma maior evidência de múltiplos desfechos com as combinações possíveis com os broncodilatadores de longa duração existentes. Estes estudos demandarão ainda um tempo considerável até a sua conclusão. A conduta aqui proposta é, porém, facilmente aplicável na prática diária, sem perfil de eventos adversos significativos, e pode permitir que muitos pacientes com DPOC se beneficiem mais precocemente de melhora sintomática significativa daintensa limitação que a DPOC acarreta. 3.6 - Qual o momento ideal para se iniciar o uso, e qual a importância real do uso de corticóides inalatórios? As diretrizes atuais são concordes sobre a recomendação do uso de corticóide inalatório somente para os pacientes com DPOC com VEF1 < 50% e com exacerbações freqüentes. Existe evidência que o uso de corticóide inalatório quando associado a um fármaco beta-dois adrenérgico 18 de longa duração apresenta melhores resultados do que o uso de qualquer das drogas isoladamente. Dúvidas existem, porém, com relação à gravidade e freqüência das exacerbações. Com relação à gravidade, o documento da ATS/ERS é o único que a define, considerando tais exacerbações como aquelas com necessidade de uso de corticóide ou antibiótico, ainda que esta indicação fique a critério médico. Com relação à freqüência, a diretriz da SBPT adotou mais do que uma exacerbação no ano precedente, enquanto que o GOLD não define claramente qual freqüência, citando: “exacerbações repetidas, por exemplo, três nos últimos 3 anos”. O documento da ATS/ERS incorre em um erro, tipográfico ou de revisão, ao indicar, em dois locais diferentes, duas definições diferentes para o que seja “exacerbação freqüente”: em um, declara uma exacerbação no ano anterior, e em outro , mais do que uma exacerbação no ano anterior. No período de revisão aqui considerado, desde janeiro de 2005, há apenas três estudos significativos, dois deles considerando os efeitos da suspensão do corticóide inalatório do esquema terapêutico de pacientes em uso do mesmo (12,13), e um estudo de comparação da associação fluticasona e salmeterol com a associação salbutamol e ipratrópio (14). Os dois estudos de suspensão do corticóide inalatório mostraram que tal conduta levou ao aumento de intensidade dos sintomas e aumento da freqüência de exacerbações. Já o estudo comparativo da associação fluticasona e salmeterol com o salbutamol e ipratrópio mostrou que a combinação com corticóide inalatório proporcionou maior controle de sintomas e melhora mais acentuada da função pulmonar. Tais estudos reforçam a idéia de que o corticóide inalatório tem um papel adjuvante importante no tratamento da doença, mas não fornecem dados que possam levar à mudança da conduta estabelecida até o momento. Em resumo, em relação ao uso de corticóide inalatório não houve modificação em relação às recomendações anteriores. No sentido de incorporar as pequenas variações das recomendações existentes nos documentos da SBPT, ATS/ERS e GOLD, o seguinte texto poderia ser adotado: “o corticóide inalatório está recomendado no tratamento da DPOC estável em pacientes com VEF1 < 50% e com mais do que uma exacerbação no ano anterior ou uma por ano nos últimos três anos”. Estudos anteriores já haviam mostrado que a associação de corticóide e beta-dois adrenérgico apresenta melhores resultados do que o uso dos fármacos isolados (15,16,17). Como os pacientes quando têm indicação do corticóide inalatório já apresentam necessidade de uso continuado de um broncodilatador, de preferência de longa duração, deve-se dar preferência ao uso de dispositivos que apresentam tais medicações em forma combinada, para facilitar o uso das mesmas. Não existem, ainda, estudos mostrando os efeitos da combinação do corticóide inalatório com um anticolinérgico de longa duração. Assim, se o paciente já vem em uso de anticolinérgico de longa duração e apresenta as indicações para uso de corticóide inalatório ainda não se sabe se os resultados obtidos por tal associação serão semelhantes, piores ou melhores do que aqueles 19 obtidos com a associação beta-dois de longa duração e corticóide inalatório. Pode-se, ainda, considerar a associação ao anticolinérgico de longa duração da associação beta-dois de longa duração e corticóide inalatório, ressaltando-se que também ainda não existem evidências coletadas da literatura com tal esquema de maneira sistemática. 3.7 – Tratamento farmacológico da DPOC estável: hierarquia de uso. Em função das considerações apresentadas pode-se indicar, de maneira resumida, a seguinte hierarquia no tratamento farmacológico da DPOC estável: 20 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DPOC ESTÁVEL Sintomas eventuais Broncodilatador de curta duração – anticolinérgico ou beta-dois adrenérgico s.n Sintomas persistentes 1) Broncondilatador beta-dois adrenérgico de longa duração (formoterol ou salmeterol) e / ou anticolinérgico de longa duração (tiotrópio); Caso decida-se pela associação dos dois broncodilatadores, administrar por 15 a 60 dias e suspender um dos medicamentos e observar por outro período de 15 a 60 dias : se o paciente se mantiver estável, manter o esquema; se houver piora, retornar com o broncodilatador suspenso; 2) Após etapa 1, se sintomas ainda estiverem acentuados, associar xantina. VEF1 < 50% e mais do que uma exacerbação Acrescentar corticóide inalatório ao esquema no ano anterior ou uma por ano nos últimos 3 acima anos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - Jardim J, Oliveira J, Nascimento O. II Consenso Brasileiro de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). J Pneumol 2004; 30: S1-S42. 2 - Celli BR, MacNee W. Standards for the diagnosis and treatment of patients with COPD: a summary of the ATS/ERS position paper. Eur Respir J 2004; 23: 932-946. 3 - Global Strategy for the Diagnosis, Management and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Up Dated 2005 in www.goldcopd.org . 4 - Briggs DD Jr, Covelli H, Lapidus R, Bhattycharya S, Kesten S, Cassino C. Improved daytime spirometric efficacy of tiotropium compared with salmeterol in patients with COPD. Pharmacol Ther. 2005; 18:397-404. 5 - van Noord JA, Aumann J-L, Janssens E, Smeets JJ, Verhaert J, Disse B, Mueller A, Cornelissen PJG. Comparison of tiotropium once daily, formoterol twice daily and both combined once daily in patients with COPD. Eur Repir J 2005; 26:214-222. 21 6 - van Noord JA, Aumann J-L, Janssens E, Verhaert J, Smeets JJ, Mueller A, Cornelissen PJG. Effects of tiotropium with and without formoterol on airflow obstruction and resting hyperinflation in patients with COPD. Chest 2006; 129:509-517. 7 - Stockley RA, Chopra N, Rice L. Addition of salmeterol to existing treatment in patients with COPD: a 12 month study. Thorax 2006; 61:122-128. 8 - Niewoehner DE, Rice K, Cote C, Paulson D, Cooper AD, Korducki L, Cassino C, Kesten S. Prevention of exacerbation of chronic obstructive pulmonary disease, with tiotropium a once-daily inhaled anticholinergic bronchodilator. Ann Inter Med.2005; 143:317-326. 9 - Casaburi R, Kukafka D, Cooper CB, Witek TJ, Kesten S. Improvement in exercise tolerance with the combination of tiotropium and pulmonary rehabilitation in patients wit COPD. 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Thorax 2005; 60:480-487. 14 - van der Palen J, Monninkhof E, van der Valk P, Sullivan SD, Veenstra DL. Cost effectiveness of inhaled steroid withdrawal in outpatients with chronic obstructive pulmonary disease. Thorax 2006; 61:29-33. 15 - Make B, Hanania NA, ZuWallack R, Kalberg C, Emmet A, Brown C, Knobil K. The efficacy and safety of inhaled fluticasone propionate/salmeterol and ipratropium/albuterol for the treatment of chronic obstructive pulmonary disease: an eight-week, muticenter, randomized, double-blind, double-dummy, parallel group study. Clin Ther. 2005; 27:531-542. 16 – Szafranski W, Cukier A, Ramirez A, Menga G, Sansores R, Nahabedian S, Peterson S, Olsson H. Eficcacy and safety of budesonide/formoterol in the management of chronic obstructive pulmonary disease. Eur Repir J 2003; 21: 74-8. 22 17 - Calverley P, Boonsawat W, Cseke Z, Zhong N, Peterson S, Olsson H. Maintenance therapy with budesonide and formoterol in chronic obstructive pulmonary disease. 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A administração de α1antitripsina exógena permite o aumento de seu nível plasmático, sendo a dose recomendada no adulto de 60mg/kg de peso corporal, em infusão endovenosa semanal por um período de 90 minutos. O objetivo deste procedimento é manter a concentração plasmática de α1antitripsina acima de 11mM. Não existem estudos de segurança com seu uso em grávidas, lactantes e menores de 18 anos de idade. Como se trata de produto derivado do sangue humano, não se pode excluir a possibilidade de transmissão de doenças infecciosas. Para se reduzir este risco devem ser aplicadas medidas rigorosas na seleção dos doadores e do plasma. A seleção de doadores e a sua purificação mediante uma série de procedimentos foi programada para minimizar este risco tanto quanto possível. Recomenda-se a vacinação contra hepatite A e B para pacientes que vão receber este medicamento. A reposição de α1antitripsina está indicada para tratamento de substituição em pacientes portadores de enfisema pulmonar panacinar por deficiência de α1antitripsina (fenótipos PiZZ, PiZ(null), Pi (null ) (null) e PiSZ). Raramente tem sido observada a ocorrência de manifestações adversas como febre ou reações alérgicas ou de hipersensibilidade na administração. Não se deve administrar a medicação a pacientes com déficit seletivo de IgA ou com hipersensibilidade à substância 23 ativa. Há 3 apresentações no mercado internacional e que podem ser obtidas por importação. • .Prolastina : apresentada sob a forma de pó liofilizado – 500 ou 1000mg . O medicamento deve ser conservado em temperatura entre 2 e 8°C, sem congelamento. Prolastina deve ser reconstituído com 20mL (500mg) ou 40 mL (1000mg) de água destilada para se obter uma solução com concentração de 25mg de α1antitripsina por ml. • Respira : apresentada sob a forma de solução salina num frasco de 50ml contendo 1000mg de α1antitripsina para administração endovenosa. Respira deve ser conservado entre 2 e 8°C sem congelamento. • Trypsone : α1antitripsina humana sob a forma de pó com conteúdos de 500 e 1000mg e que deve ser diluído em 25 ou 50 mL de água destilada, respectivamente. Deve ser conservado em temperatura até 30°C, sem congelamento. 24