qualidade de vida e acidente vascular encefálico

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UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Pós Graduação “Lato Sensu” em Terapia Ocupacional:
Uma Visão Dinâmica em Neurologia
Juliana Cristina Lopes
QUALIDADE DE VIDA E ACIDENTE VASCULAR
ENCEFÁLICO: UMA REVISÃO CRÍTICA DA
LITERATURA
LINS – SP
2011
JULIANA CRISTINA LOPES
QUALIDADE DE VIDA E ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: UMA
REVISÃO CRÍTICA DA LITERATURA
Monografia
apresentada
à
Banca
Examinadora do Centro Universitário
Católico Salesiano Auxilium, como
requisito parcial para obtenção do título
de especialista em Terapia Ocupacional:
Uma Visão Dinâmica em Neurologia sob a
orientação da Professora Mestre Solange
Aparecida Tedesco.
Lins – SP
2011
JULIANA CRISTINA LOPES
QUALIDADE DE VIDA E ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: UMA
REVISÃO CRÍTICA DA LITERATURA
Monografia apresentada ao Centro Universitário ao Centro Universitário
Católico Salesiano Auxilium, para obtenção do título de especialista em Terapia
Ocupacional: Uma Visão Dinâmica em Neurologia.
Aprovada em: ____/____/_______.
Banca Examinadora:
Profª. Mestre Solange Aparecida Tedesco
Terapeuta Ocupacional, Mestre em Saúde Mental pela Universidade Estadual
de São Paulo, UNIFESP, SP.
_____________________________
Profª. Mestre Maria Madalena Moraes Sant‟Anna
Terapeuta Ocupacional, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie, SP.
_____________________________
Lins – SP
2011
AGRADECIMENTOS
A Professora Mestre Solange Aparecida Tedesco, pelo ensinamento e
dedicação dispensados no auxílio à concretização dessa monografia.
Ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, pelo oferecimento de um
curso de pós-graduação em Terapia Ocupacional tão reconhecido e de
qualidade como esse.
As coordenadoras do Curso de Pós Graduação “Lato Sensu” em Terapia
Ocupacional: Uma Visão Dinâmica em Neurologia, Maria Madalena Moraes
Sant ʼAnna e Rosana Maria Silvestre Garcia de Oliveira, pela coordenação do
curso, pelos generosos ensinamentos sobre os procedimentos de terapia
ocupacional, contribuição de inestimável valor em minha vida profissional.
Aos meus pais, pelo apoio, compreensão, ajuda e em especial por todo carinho
ao longo desse percurso.
As amigas Cibele, Karina e principalmente Letícia, pela cumplicidade, apoio e
amizade.
RESUMO
O aumento da expectativa de vida trouxe consigo uma mudança no perfil
da morbidade de doenças como o Acidente Vascular Encefálico, deixando
seqüelas que influenciam a qualidade de vida de adultos acometidos por essa
doença. Os objetivos deste estudo foram identificar os instrumentos utilizados
na avaliação da qualidade de vida, bem como os domínios investigados com
pacientes adultos com seqüelas decorrentes do Acidente Vascular Encefálico.
Uma busca foi realizada nas bases de dados Pubmed, Lilacs e Scielo,
utilizando os descritores Acidente Vascular Cerebral, qualidade de vida, stroke,
cerebrovascular accident e quality of life. No período de janeiro de 2000 a
dezembro de 2010. Sete artigos foram incluídos nessa revisão de acordo com
os critérios de inclusão. Foram encontrados 5 tipos diferentes de instrumentos,
sendo 3 genéricos e 2 específicos. O mais frequente foi o SF-36, em 57,1%
dos estudos. Observou-se que a baixa qualidade de vida relacionou-se,
principalmente, ao déficit da capacidade funcional, energia e relações sociais,
ser do gênero feminino e ser mais idoso. A prática de atividade física regular
pode proporcionar acentuada melhora na qualidade de vida de pessoas
sobreviventes de Acidente Vascular Encefálico. De modo geral, os sujeitos no
pós-acidente vascular encefálico possuíam pior qualidade de vida do que
aqueles que não sofreram o evento. Espera-se que os achados desse estudo
tenham contribuído para que os profissionais percebam que os instrumentos de
avaliação devem ser mais divulgados e aplicados na prática clínica, mostrando
a qualidade de vida como importante ferramenta no rastreio e no
acompanhamento dos sobreviventes de Acidente Vascular Encefálico ao longo
do tempo.
Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral. Qualidade de Vida. Instrumentos
de Avaliação.
ABSTRACT
The increase in life expectation brought a change in the morbidity of
diseases like stroke, leaving sequelae that influence quality of life of adults
affected by this disease.The objectives of this study were to identify the
instruments used in evaluating the quality of life as well as the areas
investigated with adult patients that have had sequels of stroke. A search was
conducted in Pubmed, Lilacs and Scielo database using the key words: stroke,
quality of life and cerebrovascular accident, from January 2000 to December
2010. Seven articles were included in this review. Five different types of
instruments were found, three generic and two specific. The most frequent was
SF-36 in 57.1% of the studies. It was observed that the low quality of life is
related, mainly, to a lack of functional capacity, energy and social relations, and
the facts of being female and being older. The practice of regular physical
activity can provide considerable improvement in quality of life in stroke
survivors. In general, post-stroke subjects had a poorer quality of life than those
who had not had it. It is expected that the findings of this study have helped
professionals understand that the instruments of evaluation should be
more disseminated and applied in clinical practice, showing the quality of life as
an important tool in tracking and monitoring stroke survivors over the time.
Keywords: Stroke. Quality of Life. Assessment Instruments.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABVDs: Atividades Básicas da Vida Diária
AIVDs: Atividades Instrumentais da Vida Diária
AVC: Acidente Vascular Cerebral
AVD: Atividades de Vida Diária
AVE: Acidente Vascular Encefálico
EQVE-AVE: Escala de Qualidade de Vida para Acidente Vascular Encefálico
MIF: Medida de Independência Funcional
OMS: Organização Mundial da Saúde
PSN: Perfil de Saúde de Nottingham
QV: Qualidade de Vida
SF-36: Medical Outcomes Study 36 – Item Short Form Health Survey
SSQOL: Questionário Específico de Avaliação da Qualidade de Vida para
Doença Cerebrovascular
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Apresentação e análise dos resultados
.......................................18
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................09
2 OBJETIVOS .................................................................................................14
2.1 Geral ..........................................................................................................14
2.2 Específico ..................................................................................................14
3 MÉTODO ......................................................................................................15
4 RESULTADOS ............................................................................................ 17
4.1 Desenhos metodológicos dos estudos revisados ......................................17
5 DISCUSSÃO ............................................................................................... 21
5.1 Instrumentos utilizados ............................................................................. 21
5.2 Caracterização dos participantes dos estudos ......................................... 23
5.3 Características da aplicação dos instrumentos de avaliação e seus
resultados ....................................................................................................... 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 26
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 27
9
1 INTRODUÇÃO
Os estudos na área da saúde sobre Qualidade de Vida (QV) vêm se
desenvolvendo nas últimas décadas no sentido de valorizar parâmetros mais
amplos que o controle de sintomas, diminuição na mortalidade ou aumento da
expectativa de vida. As medidas de QV podem fornecer informações sobre
aspectos pessoais, sociais, medidas de incapacidade e bem-estar psicológico,
incorporando o ponto de vista do paciente e centrando a avaliação e tratamento
no paciente mais do que na doença (FLECK et al., 1999).
Hoje QV é tema de pesquisa imprescindível na área da saúde, visto que
seus resultados contribuem para aprovar e definir tratamentos e avaliar custobenefício do cuidado prestado (FLECK et al., 1999).
A literatura sobre QV especialmente no Brasil, ainda é escassa,
principalmente no que concerne ao seu conceito e aos instrumentos de
avaliação que são fundamentais para construção de conhecimento assim como
fornecer subsídios para pesquisas e prática clínica (RAMOS-CERQUEIRA;
CREPALDI, 2000).
Atualmente, “o conceito de QV vem adquirindo destaque e sendo
amplamente debatido, embora existam citações de que Sócrates já fazia
referência a esse conceito” (COHEN, 1982 apud RAMOS-CERQUEIRA;
CREPALDI, 2000, p. 207).
Com o avanço tecnológico, com o aumento da expectativa de vida e
conseqüentemente,
da
prevalência
de
doenças
crônico-degenerativas
ocorridos nas últimas décadas, muito se avançou em tratamentos eficazes,
sobretudo
de
prolongar
a
vida.
Porém,
percebeu-se
que
aumentar
quantitativamente a sobrevida dos pacientes nem sempre produzia um impacto
qualitativo que garantisse uma melhora significativa do seu estado físico,
mental e social, pois estas doenças vêm acompanhadas de déficits de
funcionalidade física, psíquica e mental (RAMOS-CERQUEIRA; CREPALDI,
2000; TEIXEIRA-SALMELA et al., 2005).
O termo QV tem recebido uma variedade de definições ao longo dos
anos e abrange uma grande gama de significados constituídos por uma
diversidade de fatores objetivos (capacidade funcional, satisfação e o nível
socioeconômico) e subjetivos (que são manifestações pessoais, estado
10
emocional, interação social e capacidade física) que refletem o conhecimento,
as experiências e os valores tanto individuais como coletivos em um contexto
cultural, social e histórico (DELBONI; MALENGO; SCHMIDT, 2010; LIMA;
FLECK, 2009; SANTOS et al., 2002).
Na realidade o conceito varia de acordo com a visão de cada indivíduo,
tal fato se deve à falta de uma definição clara e unânime do conceito, levando a
atribuição
de
diferentes
significados
ao
termo
(RAMOS-CERQUEIRA;
CREPALDI, 2000).
Seid e Zannon (2004) discutem que o aumento do interesse do conceito
QV na área da saúde esta relacionada aos novos paradigmas que tem
influenciado as políticas e as práticas do setor nas últimas décadas. Duas
tendências quanto à conceituação do termo nessa área são identificados: QV
como um conceito mais genérico, e QV relacionada à saúde (health – related
quality of life).
No primeiro caso, a definição adotada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) é a que melhor ilustra esse conceito: “a percepção do indivíduo
sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores
nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações” (THE WHOQOL GROUP, 1995, p. 1405 apud FLECK et al.,
1999).
O termo QV relacionada à saúde é muito freqüente na literatura e tem
sido usado com objetivos semelhantes aos do conceito genérico, porém esta
mais diretamente relacionado às enfermidades ou as intervenções em saúde
(KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2009; SEID; ZANNON, 2004).
Assim como é difícil conceituar QV, a sua medida também o é, já que ela
pode sofrer influências de valores culturais, éticos e religiosos, bem como de
valores e percepções pessoais (SANTOS et al., 2002), uma vez que a maioria
dos instrumentos de avaliação psicometricamente válidos são desenvolvidos
nos Estados Unidos e Europa (KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2009).
No âmbito da saúde coletiva e das políticas públicas é possível
identificar interesse crescente pela avaliação da QV, pois suas informações
estão sendo usadas tanto como indicadores para avaliação da eficácia,
eficiência e impacto de determinados tratamentos para grupos de portadores
de agravos diversos, quanto na comparação entre procedimentos para o
11
controle de problemas de saúde (MAIA FILHO; GOMES, 2004; SEID;
ZANNON, 2004).
Outro interesse está diretamente ligado às práticas assistenciais dos
serviços de saúde. Trata-se da avaliação do impacto físico psicossocial que as
enfermidades e suas conseqüências podem acarretar para as pessoas
acometidas, possibilitando um melhor conhecimento do paciente e sua
adaptação à condição, influenciando decisões e condutas terapêuticas das
equipes de saúde (MAIA FILHO; GOMES, 2004; SEID; ZANNON, 2004).
Os instrumentos de avaliação de qualidade de vida podem ser genéricos
ou específicos. Como os dois instrumentos fornecem informações diferentes
eles podem ser empregados concomitantemente (DANTAS; SAWADA;
MALERBO, 2003; MOTA; NICOLATO, 2008).
Os instrumentos genéricos avaliam vários aspectos do estado de saúde
(capacidade funcional, aspectos físicos, dor, vitalidade, aspectos sociais e
emocionais e saúde mental) e o impacto causado por uma doença (AGUIAR et
al., 2008). Podem ser usadas para comparar a QV de grupos específicos, de
grupos diferentes ou da população em geral. Contudo, podem falhar na
sensibilidade para detectar aspectos particulares e específicos da QV de uma
determinada doença (DANTAS; SAWADA; MALERBO, 2003; KLUTHCOVSKY;
KLUTHCOVSKY, 2009).
Por sua vez, os instrumentos específicos tem como vantagem a
capacidade de detectar particularidades da QV em determinadas patologias
(como por exemplo, função física, sexual, o sono e a fadiga), embora a ênfase
habitualmente seja sobre sintomas, incapacidades ou limitações relacionados a
determinada
enfermidade
(DANTAS;
SAWADA;
MALERBO,
2003;
KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2009). Porém, tem como desvantagem a
dificuldade de validação das características psicométricas do instrumento pelo
reduzido número de itens e amostras insuficientes (SEID; ZANNON, 2004).
O presente estudo abordará, especificamente, os estudos publicados na
literatura sobre a QV em adultos com acidente vascular encefálico (AVE) em
razão do impacto que as seqüelas podem provocar na QV desses indivíduos.
O termo „Doenças Cerebrovasculares‟ engloba todas as
desordens em que existe uma área do cérebro transitória ou
permanentemente afetada por isquemia ou sangramento, e/ou
onde um ou mais vasos do cérebro são primariamente afetados
12
por processo patológico. Os termos cerebrovascular e cérebro
são usados como no latim, para designar todo o encéfalo, e
não apenas os hemisférios do telencéfalo." (NATIONAL
INSTITUTE OF NEUROLOGICAL DISORDERS AND STROKE,
1990, p. 638, tradução nossa).
Por esse motivo foi escolhido o termo AVE, uma vez que nesta doença
pode estar envolvido qualquer estrutura encefálica, e não apenas a parte
cerebral.
O AVE é a doença mais incapacitante, gerando prejuízo significativo na
QV dos indivíduos (COSTA; DUARTE, 2002; CRUZ; DIOGO, 2009; LIMA et al.,
2008) e representa a segunda causa de morte no mundo superado apenas
pela doença cardíaca (FEIGIN, 2005).
É definido como um déficit neurológico súbito, de origem vascular,
compreendido
por
complexas
interações
caracterizados
pelo
rápido
desenvolvimento de sinais clínicos nos planos cognitivo, motor e sensorial, de
acordo com a área afetada e sua extensão (ARES, 2003). Essas alterações
podem provocar obstrução de um vaso, causando isquemia, nesse caso,
conhecido como AVE isquêmico, como podem também causar rompimento de
um vaso e hemorragia intracraniana, conhecido como AVE hemorrágico
(CRUZ; DIOGO, 2009).
O AVE quando não leva a morte, deixa seqüelas muitas vezes
incapacitantes relacionadas a marcha, aos movimentos dos membros, a
espasticidade, ao controle esfincteriano, a realização das atividades de vida
diária (AVD), aos cuidados pessoais, a linguagem, a função cognitiva, a
atividade sexual, a depressão, a atividade profissional, a condução de veículos
e as atividades de lazer (AZEVEDO; MORETÃO; MORETÃO, 2008; CRUZ;
DIOGO, 2009). Essas alterações funcionais interferem nas AVD dos idosos,
tornando-os dependentes, sem vida própria, causando isolamento social e
depressão, desestruturando a vida dessas pessoas e, conseqüentemente, a de
suas famílias (CORDINI; ODA; FURLANETTO, 2005; CRUZ; DIOGO, 2009)
resultando em um importante rebaixamento da QV destes indivíduos
(CORDINI; ODA; FURLANETTO, 2005).
As seqüelas do AVE podem ser os principais determinantes da QV e
recuperação dos idosos, pois comprometem seu desempenho funcional.
Diversos autores desenvolveram estudos sobre a QV de pacientes que
13
sofreram AVE (ANDRADE et al., 2010; COSTA; DUARTE, 2002; CRUZ;
DIOGO, 2009; DELBONI; MALENGO; SCHMIDT, 2010; LIMA et al., 2008;
MAKIYAMA et al., 2004). Contudo fica difícil saber quais os domínios da QV
foram mais afetados, pois foram utilizados diferentes instrumentos e
constructos e a maioria apenas compara a QV com outro desfecho, como
capacidade funcional, depressão ou prejuízo neurológico. Programas de
reabilitação parecem ter influência positiva na QV desses idosos (TEIXEIRASALMELA et al., 2005; ANDRADE et al., 2010).
As condutas tomadas diante de um AVE em fase aguda são
fundamentais e podem melhorar a sobrevida e a funcionalidade. Após o
episódio, o tratamento de reabilitação deve ser iniciado precocemente, de
forma a amenizar incapacidades, garantindo se não totalmente, parcialmente a
independência e autonomia desses idosos (CRUZ; DIOGO, 2009; MAKIYAMA
et al., 2004).
Apesar de o AVE gerar impacto em diversas dimensões da vida, como
física, emocional e social, tendo os indivíduos de conviver com as
incapacidades e as limitações por longos períodos de tempo, a QV relacionada
ao AVE ainda é pouco investigada em estudos de língua portuguesa, portanto
visando a promoção do desenvolvimento científico entre os profissionais que
atuam com essa clientela, tanto no campo da pesquisa quanto da clínica, esse
estudo procurou revisar e analisar criteriosamente a literatura nacional e
internacional existente sobre a QV em pessoas acometidas por AVE,
sintetizando os principais resultados encontrados.
14
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Realizar uma revisão crítica da literatura através da seleção e análise
criteriosa de artigos científicos, no período de janeiro de 2000 a dezembro de
2010, relatando quais os domínios investigados e descritos da QV com
pacientes adultos com seqüelas decorrentes do AVE.
2.2 Específico
Identificar os instrumentos de avaliação descritos na literatura no
processo de avaliar a QV de adultos acometidos por AVE.
15
3 MÉTODO
O processo de revisão de literatura envolve 3 etapas: a primeira consiste
na seleção das áreas de interesse e dos descritores que lhes são associados;
a segunda se consiste na localização, escolha dos títulos e resumo dos artigos
mais relevantes e na última etapa, a leitura e resumo dos artigos selecionados,
que possibilitam conhecer não só as metodologias e conclusões, mas também
algumas referências que podem conduzir o autor do trabalho a estudos
pertinentes (TUCKMAN, 2002).
A revisão crítica da literatura, também chamada de revisão passiva ou
revisão opinativa, são estudos que analisam a produção bibliográfica de
determinado assunto, dentro de um recorte de tempo, fornecendo uma visão
geral ou sobre um tópico específico, evidenciando novas idéias, métodos,
subtemas que tem recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada
(NORONHA; FERREIRA, 2000).
Segundo Noronha e Ferreira (2000) uma revisão crítica de literatura
deverá apresentar uma organização e integração de material já publicado,
avaliando o progresso da pesquisa atual em direção à elucidação de um
problema e posicionando-se criticamente em relação ao tema proposto e os
estudos citados. Deverá também ter uma articulação entre os autores, por
exemplo, identificando semelhanças e diferenças, consenso/ controvérsias nos
conceitos teóricos ou resultados de pesquisas.
A revisão de literatura foi realizada através da busca de artigos
indexados nas bases de dados Pubmed, Lilacs e Scielo, disponíveis online e
por meio da busca não eletrônica a partir das referências dos artigos
selecionados.
A busca foi norteada pelas seguintes palavras chaves: Acidente
Vascular Cerebral (AVC), qualidade de vida, stroke, cerebrovascular accident e
quality of life. O período da pesquisa se restringiu aos periódicos publicados
entre janeiro de 2000 e dezembro de 2010.
Os estudos foram pré selecionados através dos títulos e da leitura dos
resumos, com base nos seguintes critérios de inclusão: estudos publicados
sobre as avaliações da qualidade de vida em adultos acometidos por AVE.
16
Quando o título e o resumo não forneciam informações suficientes, foi realizada
a leitura do artigo na íntegra e definida sua inclusão ou não nesse estudo.
17
4 RESULTADOS
A busca nas bases eletrônicas resultou em 27 artigos. Desse total, 14
foram selecionados através da leitura dos títulos e resumos, considerando os
critérios estabelecidos anteriormente. Os demais artigos foram descartados ou
por serem revisões científicas ou por utilizaram outras doenças neurológicas ou
por não conter a descrição da população estudada. Após a leitura na integra
dos 14 artigos selecionados, 7 estudos entraram para esta revisão, de acordo
com os critérios de inclusão.
Definidos os artigos, realizou-se uma análise individual de cada um
deles, a fim de identificar os seguintes tópicos: nomes dos autores e o ano de
publicação, o objetivo dos estudos, o (s) instrumento (s) utilizado (s) na
mensuração da QV e os principais resultados alcançados. O resultado dessa
análise encontra-se na Tabela 1.
4.1 Desenhos metodológicos dos estudos revisados
Dos sete estudos selecionados para esta revisão, quatro caracterizaramse como estudo transversal (CORDINI; ODA; FURLANETTO, 2005; DELBONI;
MALENGO; SCHMIDT, 2010; HENAO et al., 2009; TRINDADE DA CRUZ;
DIOGO, 2008), um foi estudo do tipo antes-depois (COSTA; DUARTE, 2002),
um seguiu o desenho do tipo coorte (MAKIYAMA et al., 2004) e um estudo foi
do tipo longitudinal (TEIXEIRA-SALMELA et al., 2005).
O estudo transversal pode ser considerado fácil e de baixo custo, uma
vez que é realizada apenas uma avaliação, é usado com freqüência para
explorar quais fatores podem ter influenciado um determinado desfecho em um
grupo de pessoas, porém se torna difícil estabelecer conclusões de causaefeito a partir dos resultados, para além do grupo estudado (LAW et al., 1998).
Nos estudos de Cordini; Oda e Furlanetto (2005), Delboni; Malengo e Schmidt
(2010), Henao et al. (2009) e Trindade da Cruz e Diogo (2008) observou-se
que houve baixos escores globais ou em pelo menos um domínio.
O desenho antes - depois, avalia um grupo de sujeitos antes e depois de
uma intervenção, contudo, sem o grupo controle, é impossível avaliar se a
intervenção por si só, foi responsável pelas mudanças ocorridas nos
desfechos, uma vez que outros fatores podem mudar ao longo do tempo como
18
progressão da doença, uso de medicamentos, estilo de vida ou mudanças
ambientais (LAW et al., 1998). Apesar de contar com uma amostra pequena, o
estudo de Costa e Duarte (2002) trouxe informações significativas a respeito do
programa de atividade física e como este influenciou na melhora da QV.
O estudo do tipo coorte é quando um grupo de pessoas é identificado e
acompanhado ao longo do tempo para ver o desfecho. Geralmente envolve um
grupo de comparação (grupo controle) que não foram expostos a situação de
interesse (LAW et al., 1998). O trabalho de Makiyama et al. (2004) encontrou
piores escores na população que sofreu AVE, exceto em relação ao domínio
dor.
A principal característica do estudo longitudinal é o acompanhamento de
um grupo de sujeitos ao longo do tempo com avaliações repetidas em relação
aos desfechos de interesse (LAW et al., 1998). Teixeira-Salmela et al. (2005)
apresentou uma descrição detalhada da avaliação utilizada, do programa de
treinamento físico e dos resultados obtidos em seu estudo. Além disso,
demonstrou que os benefícios obtidos com o treinamento físico permaneceram
após um ano do término das atividades.
Tabela 1: Apresentação e análise dos resultados
AUTORES/
ANO DE
PUBLICAÇÃO
Costa, A. M.;
Duarte,
E.
(2002)
Makiyama, T. Y.
et al. (2004)
OBJETIVOS
Demonstrar que um
programa
de
atividade física e
recreativa regular
pode propiciar ao
indivíduo
que
sofreu
acidente
vascular
cerebral
uma
melhor
qualidade de vida
Verificar o impacto
do
acidente
vascular
cerebral
sobre a qualidade
de
vida
de
pacientes e seus
cuidadores
INSTRUMENTO
(S) UTILIZADO
(S)
Medical
Outcomes Study
36 – Item Short
Form Health
Survey (SF-36)
SF-36
RESULTADOS/
CONCLUSÕES
Todos
os
domínios
do
questionário
apresentaram-se
mais
elevados
quando
comparados com os resultados
do pré-teste, indicando que a
atividade
física
feita
regularmente pode não só trazer
benefícios
fisiológicos
no
sentido de prevenir uma nova
recidiva de acidente vascular
cerebral,
como
também
influenciar de forma benéfica no
seu
aspecto
emocional,
proporcionando-lhes
maior
autoconfiança, autonomia e
independência.
Entre os cuidadores verificou-se
idade menor em relação a dos
pacientes e maior freqüência de
mulheres. Os diversos domínios
de qualidade de vida avaliados
pelo SF-36 não apresentaram
diferenças
estatisticamente
19
Cordini, K. L.;
Oda,
E.
Y.;
Furlanetto, L. M.
(2005)
Teixeira -Salmela,
L. F. et al. (2005)
Trindade da Cruz,
K. C.; DIOGO, M.
J.
D.
(2008,
tradução nossa)
Henao, A. S. et al.
(2009, tradução
nossa)
Descrever
a
qualidade de vida de
pacientes
com
história prévia de
acidente
vascular
encefálico internados
em
enfermarias
gerais e avaliar qual o
domínio mais afeado
pela doença
Avaliar os ganhos na
qualidade de vida de
hemiplégicos
crônicos
após
a
realização de um
programa
de
treinamento
físico
em grupo e apontar
os
domínios
de
qualidade de vida
significativamente
responsáveis por tais
ganhos
Avaliar a qualidade
de vida de idosos
com
acidente
vascular encefálico e
investigar a relação e
a
influência
de
variáveis
sociodemográficas e
de
saúde
na
qualidade de vida
desses sujeitos
Questionário
Específico de
Avaliação da
Qualidade de Vida
para Doença
Cerebrovascular
(SSQOL)
Avaliar a qualidade
de vida relacionada a
saúde em sujeitos
que
sofreram
acidente
vascular
cerebral e relacionar
SF-36
entre os grupos de pacientes e
cuidadores. Porém, o grupo
controle apresentou resultados
estatisticamente significantes e
melhores, quando comparados
aos grupos de pacientes e
cuidadores exceto em relação
ao domínio Dor.
De acordo com o SSQOL, os
domínios mais prejudicados pelo
acidente vascular encefálico foram
os da energia, do trabalho, da
função do membro superior e das
relações sociais. Os domínios
menos afetados foram os da visão,
do ânimo, do comportamento e
das relações familiares.
Perfil de Saúde de
Nottingham (PSN)
Foram
observadas
melhoras
significativas com o treinamento
físico na pontuação total e nos
domínios de nível energia, reações
emocionais e habilidades físicas,
sendo habilidade física o que
apresentou os maiores ganhos. Os
resultados do follow-up revelaram
que não houve diminuição
significativa em nenhuma das
medidas.
SF-36
A capacidade funcional e estado
geral de saúde apresentaram,
respectivamente, a menor e a
maior média entre as dimensões
do SF-36. A capacidade funcional
foi a única dimensão do SF-36
influenciada
pelas
variáveis
pesquisadas, sendo a presença do
cuidador, hemiparesia e não ter
acesso ao serviço de saúde as
variáveis
com
significância
estatística.
Variáveis
sociodemográficas e seqüelas
decorrentes do acidente vascular
encefálico
influenciaram
a
qualidade de vida dos idosos com
acidente vascular encefálico e a
capacidade
funcional
foi
a
dimensão mais comprometida do
SF-36
A função física foi o item mais
afetado em ambos os sexos
(apresentaram intervalos próximo
a zero). Os itens relacionados a dor
e ao corpo apresentaram melhores
resultados em relação aos outros,
20
estas determinações
com características
sociodemográficas
Delboni, M. C. C.;
Malengo, P. C.
M.; Schmidt, E. P.
R. (2010)
Comparar
as
questões funcionais e
o
impacto
da
qualidade de vida de
pessoas
com
seqüelas de acidente
vascular encefálico,
estabelecendo uma
correlação entre os
dois
instrumentos
utilizados
Medida de
Independência
Funcional (MIF) e
Escala de qualidade
de vida específica
para Acidente
Vascular Encefálico
(EQVE-AVE)
pois a maioria dos pacientes tem o
apoio de familiares para realizar o
auto-cuidado.
Os
homens
obtiveram melhores resultados do
que as mulheres
A análise dos dados mostra uma
correlação entre dois domínios
(trabalho e produtividade e
autocuidado), dos doze domínios
da EQVE-AVE com a MIF. Todavia,
o estudo não demonstra correlação
entre o grau de independência
funcional e os demais domínios de
qualidade de vida de EQVE-AVE.
Outros resultados estatísticos
relevantes deste estudo são: o
escore de mobilidade no sexo
masculino é significativamente
maior que do feminino; os escores
de
papéis
sociais
são
estatisticamente maiores entre
pacientes solteiros, divorciados e
viúvos do que os dos pacientes
casados ou com companheiros; e
que pacientes sinistros tem
melhores escores em papéis
sociais,
mesmo
tendo
acometimento
do
hemisfério
direito.
21
5 DISCUSSÃO
A partir da análise dos sete artigos, podemos afirmar que os danos
causados pelo AVE geram perdas sensitivas, cognitivas e motoras, que podem
permanecer como déficits residuais importantes, alterando as capacidades
físicas, mentais e sociais dos indivíduos. Embora possa existir uma relação
entre os danos causados pelo AVE e percepção de QV, as publicações não
apresentam resultados que demonstrem que não há, necessariamente melhora
da QV a partir da melhora da função neurológica, pois pacientes com danos
semelhantes podem apresentar diferentes níveis de incapacidade, uma vez
que esta não se relaciona apenas com habilidades funcionais, mas também
com a percepção que cada um tem de sua função física, social e emocional
(TEIXEIRA-SALMELA et al., 2005). A QV é, portanto um conceito complexo e
sua avaliação têm por finalidade destacar o impacto das disfunções e das
limitações funcionais nas dimensões físicas, emocionais e sociais de cada
indivíduo.
Em virtude da diversidade de informações em revistas eletrônicas, livros
e periódicos, vários fatores devem ser considerados na análise da literatura
sobre os instrumentos utilizados para avaliar QV em pessoas com seqüelas de
AVE, entre eles a descrição dos participantes dos estudos, os instrumentos
utilizados e suas características, bem como o relato dos resultados.
5.1 Instrumentos utilizados
Dos sete estudos selecionados para esta revisão, seis utilizaram
somente um tipo de mensuração. A avaliação mais freqüente foi o SF-36,
aparecendo em quatro estudos (COSTA; DUARTE, 2002; HENAO et al., 2009;
MAKIYAMA et al., 2004; TRINDADE DA CRUZ; DIOGO, 2008), seguido pelo
SSQOL (CORDNI; ODA; FURLANETTO, 2005), PSN (TEIXEIRA-SALMELA et
al., 2005), MIF e EQVE-AVE (DELBONI; MALENGO; SCHMIDT, 2010) em um
estudo cada.
O SF-36 foi desenvolvido por Ware e Sherbourne, traduzido e validado
no Brasil por Ciconelli. Avalia o estado de saúde e qualidade de vida do
indivíduo, apresenta oito domínios: capacidade física, estado geral de saúde,
22
dor, vitalidade, aspecto social, saúde mental, aspectos emocionais e limitações
por aspectos físicos (CICONELLI, 2003).
O PSN é um instrumento simples da percepção do indivíduo em relação
a sua saúde física emocional e social, apresenta seis domínios: nível de
energia, dor, reações emocionais, sono, interação social e habilidades físicas.
Segundo Buck et al. (2000) esse questionário demonstra ter confiabilidade,
validade e responsividade para avaliar a QV em pacientes pós-AVE.
A MIF informa o grau de ajuda que um indivíduo necessita para a
realização de atividades básicas da vida diária (ABVDs) e atividades
instrumentais da vida diária (AIVDs) e tem como base uma escala de sete
níveis representativos de independência e dependência. Mensura a severidade
da incapacidade e os resultados obtidos com a reabilitação (DELBONI;
MALENGO; SCHMIDT, 2010).
O SSQOL apresenta doze domínios: mobilidade, energia, função dos
membros
superiores
trabalho/produtividade,
ânimo,
cuidados
pessoais,
relações sociais, relações familiares, visão, linguagem, modo de pensar e
comportamento (CORDINI; ODA; FURLANETTO, 2005).
O EQVE-AVE foi desenvolvido por Williams et al. em 1999 e foi
adaptada transculturalmente para o Brasil. Contém quarenta e nove itens,
distribuídos em doze domínios: energia, papel familiar, linguagem, mobilidade,
humor, personalidade, autocuidado, papel social, raciocínio, função do membro
superior, visão e trabalho/produtividade (DELBONI; MALENGO; SCHMIDT,
2010).
Três dos cinco instrumentos encontrados são do tipo genérico (SF- 36,
PSN e MIF), o que pode favorecer a comparação entre populações distintas e a
avaliação simultânea de várias áreas ou domínios e dois são do tipo específico
(SSQOL e EQVE-AVE). Apesar da principal característica destes ser a
sensibilidade as alterações, nenhum trabalho enfatizou as mudanças da QV
diante de alguma intervenção com esse tipo de instrumento.
Os instrumentos específicos quando comparados com instrumentos
genéricos, demonstram maior cobertura das funções tipicamente afetadas pelo
AVE (OLIVEIRA; ORSINI, 2009). Por exemplo, o SF-36 e o PSN não
apresentam questionamentos sobre a linguagem, função das mãos, cognição e
23
visão, itens contemplados pelo SSQOL e que são importantes para serem
avaliados, uma vez que afetam a QV da grande maioria das pessoas pós-AVE.
A escolha do instrumento é item importante, que deve ser associado ao
objetivo do estudo e sua disponibilidade no idioma e no contexto cultual da
população alvo (CICONELLI, 2003).
5.2 Caracterização dos participantes dos estudos
Cinco das sete amostras analisadas tinham mais participantes homens
do que mulheres (COSTA; DUARTE, 2002; DELBONI; MALENGO; SHIMIDT,
2010; HENAO et al., 2009; TEIXEIRA-SALMELA et al., 2005; TRINDADE DA
CRUZ; DIOGO, 2008).
O tamanho da amostra variou de 15 a 66, sendo que quatro contaram
com amostras detalhadas o suficiente para oferecer um perfil claro dos
envolvidos no estudo (CORDINI; ODA; FURLANETTO, 2005; COSTA;
DUARTE, 2002; HENAO et al., 2009; MAKIYAMA et al., 2004).
A faixa etária dos participantes foi variável, tanto intra quanto entre os
estudos. Ela variou entre 40 e 90 anos, sendo a maior diferença observada no
estudo de Makiyama et al. (2004) no qual os participantes eram adultos com
idade entre 19 e 87 anos. Essa diferença etária torna difícil a comparação entre
os resultados encontrados, uma vez que as mudanças encontradas podem ser
mais suscetíveis em alguns grupos etários do que em outros (CHAGAS et al.,
2004).
Outro fator que apresentou variabilidade em alguns estudos foi o tempo
decorrido entre a ocorrência do AVE e a aplicação do instrumento de avaliação,
como no estudo de Teixeira-Salmela et al. (2005), onde foram incluídos 30
pacientes com evolução pós o último episódio de AVE de, no mínimo nove
meses. Sabe-se que, quando a pessoa inicia algum processo de intervenção
na fase aguda, maiores são as chances de se ter uma melhor QV do que
aqueles pacientes em fase crônica pós-AVE.
O tipo, a localização da lesão cerebral, as seqüelas deixadas por um
AVE e o tempo decorrido após o mesmo são elementos importantes a serem
considerados na QV. Nenhum estudo trouxe todas essas informações juntas.
Trindade da Cruz e Diogo (2008) apresentaram uma descrição da amostra
24
caracterizando os participantes de seu estudo quanto ao gênero, idade,
profissão, seqüelas e tempo da lesão.
5.3 Características da aplicação dos instrumentos de avaliação e seus
resultados
Em cinco de sete publicações, o déficit da capacidade funcional foi
correlacionado a pior QV (CORDINI; ODA; FURLANETTO, 2005; COSTA;
DUARTE, 2002; HENAO et al, 2009; TEIXEIRA-SALMELA et al., 2005;
TRINDADE DA CRUZ; DIOGO, 2008). A perda da capacidade funcional leva o
indivíduo a incapacidade para realizar as ABVDs: vestir-se, comer, tomar
banho sozinho e caminhar pequenas distâncias de forma independente e as
AIVDs, que se referem as atividades mais complexas do cotidiano, tais como:
passear, fazer compras, limpar a casa, utilizar meio de transporte coletivo,
entre outros (CRUZ; DIOGO, 2009).
Energia e relações sociais também foram correlacionadas a pior QV em
dois estudos (CORDINI; ODA; FURLANETTO, 2005; TEIXEIRA-SALMELA et
al., 2005).
A realização de atividade física foi o principal fator dos estudos revisados
que melhoraram a QV de pacientes pós-AVE, assim podemos afirmar que a
atividade física regular, através de um programa adequadamente estruturado,
que leve em consideração os interesses, as limitações e as potencialidades
das pessoas com AVE, pode não só constituir num importante elemento na
busca de maior QV do indivíduo, prevenindo uma nova recidiva de AVE, como
também aqueles indivíduos que incorporam o programa de atividades em suas
rotinas diárias, mantêm uma melhor percepção de QV (COSTA; DUARTE,
2002; TEIXEIRA-SALMELA et al., 2005).
O gênero feminino também teve influência negativa na QV de um dos
seis artigos que abordaram esta variável. No estudo de Henao et al. (2009) que
utilizou o SF-36 para avaliar a QV de sujeitos que sofreram AVE, as mulheres
tiverem menor pontuação, ou seja, pior prognóstico nos domínios limitações
por aspectos físicos, aspectos emocionais, aspecto social e saúde mental.
Os dois estudos que avaliaram o impacto da idade sobre a QV
mostraram que o aumento da primeira tem impacto negativo na mesma. As
peculiaridades da população idosa têm levantado questões a respeito da perda
25
da capacidade funcional com o aumento da idade, a equipe de saúde deve dar
ênfase a funcionalidade remanescente do paciente, valorizando seu potencial e
aquisições funcionais no decorrer do tratamento (TRINDADE DE CRUZ;
DIOGO, 2008).
A presença do cuidador para ajudar a pessoa com AVE, foi considerada
positiva com relação a QV do paciente, pois os mesmos auxiliam o paciente a
realizar suas ABVDs (MAKIYAMA et al., 2004).
26
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escolha de determinado instrumento deve ser criteriosa, permitindo
assim, a avaliação de aspectos específicos e globais do indivíduo, bem como a
comparação entre populações e estudos distintos.
Foi encontrada grande variedade de instrumentos utilizados na
mensuração da QV em sobreviventes de AVE. Entre os cinco encontrados, três
eram genéricos e dois específicos.
Não obstante a grande variação nos métodos e instrumentos
empregados, foi possível observar algumas tendências. A pobreza da QV
correlacionou-se ao déficit da capacidade funcional, energia e relações sociais,
ser do gênero feminino e ser mais idoso. De modo geral, os sujeitos pós-AVE
possuíam pior QV do que aqueles que não sofreram o evento.
A realização de atividade física regular pode constituir num importante
elemento para a promoção e a manutenção da saúde, proporcionando
acentuada melhora na qualidade geral de vida.
A avaliação e a reabilitação dos indivíduos não devem ser focadas
apenas em suas habilidades para realizar ABVDs ou AIVDs, mas também em
sua percepção sobre suas funções física, emocional e social, sendo a QV
questão essencial a ser considerada.
27
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