UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ENGENHARIA QUÍMICA LOQ4085– OPERAÇÕES UNITÁRIAS I Profa. Lívia Chaguri E-mail: [email protected] Conteúdo Separação sólido fluido Sedimentação - Princípio de funcionamento - Principais equipamentos de sedimentação - Dimensionamento - Centrifugação - Tipos de centrífugas Profa. Lívia Chaguri E-mail: [email protected] Introdução A importância industrial de se remover partículas sólidas e gotículas líquidas suspensas em fluidos tem várias origens, como: recuperar o material arrastado: transporte pneumático; produtos da operação de moagem; instalações de leito fluido. Devido ao seu valor, mesmo quando são arrastados em pequena quantidade, alguns produtos acarretam perdas importantes. Ex: leite em pó, café solúvel, ouro e prata nas operações de fusão, catalisadores a base de platina etc. 3 Introdução efetuar a limpeza de gases e vapores obtidos em diversos processos industriais. Ex: eliminação de gotículas arrastadas pelo topo de evaporadores, reatores e colunas de absorção. evitar a poluição quando poeiras, fumaças e névoas tóxicas ou de cheiro desagradável são descarregadas na atmosfera. Ex: cimento, razões de segurança: quando as partículas finamente divididas são inflamáveis ou explosivas. 4 Separação Sólido Líquido Os métodos de separação sólido-fluido empregados classificados de acordo com os seguintes critérios: podem ser 1º – Movimento Relativo entre as Fases: diferenciam-se operações em que o sólido se move através do líquido em repouso e operações nas quais o líquido se move através da fase sólida estacionária. As operações do 1º tipo são as de decantação, subdivididas em clarificação e espessamento partindo de suspensões concentradas. As operações do 2º tipo são as de filtração. 2º – Força Propulsora: as operações serão gravitacionais, centrífugas, por diferença de pressão ou eletromagnéticas. Combinando estes dois critérios tem-se a seguinte divisão: 1 – separações por decantação (clarificação, espessamento, lavagem) 2 – separações centrífugas 3 - filtração 5 Sedimentação Finalidade: separação de partículas sólidas ou gotas de líquido através de um fluido, que pode ser gás ou líquido, ou líquidos imiscíveis de diferentes densidades de uma emulsão. Força motriz de separação: gravidade ou força centrífuga. Sedimentação – as 2 fases obtidas são importantes. Ex. desnate do leite igualmente Clarificação – somente 1 fase é importante (fase contínua). Ex. clarificação do suco de frutas. 6 Sedimentação Gravitacional - Decantação Decantação: movimento de partículas no seio de uma fase fluida, provocado pela ação da gravidade. Será considerado, apenas, o caso particular da decantação: partículas sólidas em um meio líquido. A decantação pode visar: a clarificação do líquido: parte-se de uma suspensão com baixa concentração de sólidos para obter um líquido com o mínimo de sólidos; o espessamento da suspensão: parte-se de uma suspensão concentrada para obter os sólidos com a quantidade mínima possível de líquido a lavagem dos sólidos: passagem da fase sólida de um líquido para o outro, para lavá-la sem precisar filtrar (muito cara). 7 Princípio de funcionamento Processo de sedimentação pela força centrífuga é recente; Sedimentação por gravidade: separação da gordura do leite; Leite era mantido em repouso em tanque até que as gorduras se agregassem e floculassem para superfície, para serem retiradas de forma manual (densidade do glóbulo de gordura é menor que a do leite). Movimento de partícula escoando através do fluido: vt 2mg ( p ) C D Ap p (1) vt - velocidade terminal (m/s); m – massa (kg); ρp – densidade da partícula; ρ – densidade do fluido (kg/m3); Ap – área projetada da partícula (m2). Tempo necessário para queda da partícula é calculado com base no período de velocidade constante (dv/dt = 0). Velocidade velocidade livre (vt). terminal ou de sedimentação 8 Princípio de funcionamento Para partículas esféricas de diâmetro Dp: vt 4 g ( p ) D p 3C D (2) Expressão para velocidade terminal derivada da lei de Stokes para determinar a velocidade de sedimentação, quando o regime é laminar: vt gD 4( p ) 2 p 18 µ- viscosidade do fluido dispersante (Pa.s) NRep – número de Reynolds da partícula (adm) N Re p 0,4 (3) N Re p 24 CD N Re p vt D p (4) (5) 9 Princípio de funcionamento Lapple e Shepherd (1940), propuseram no caso de partículas esféricas a determinação do índice CD a partir do índice K (adm): g( p ) K Dp 2 0 , 33 (6) Assim, se: K>0,33 ou NRep<1,9 a equação (4) pode ser empregada; 1,3<K<44 ou 1,9<NRep<500, vale a expressão: 18,5 C D 0, 6 N Re p (7) No caso de K>44, CD = 0,44. Caso a separação ocorra mediante força centrífuga, considerar ac no lugar de g. 10 Exemplo 1 Calcular a velocidade de sedimentação de uma partícula esférica de 1 x 10-4 m de diâmetro e 1400 kg/m3 de densidade, em água (densidade 998 kg/m3 e viscosidade 1x10-3 kg/m.s). g( p ) K Dp 2 18,5 C D 0, 6 N Re p 0 , 33 (6) (7) 11 Principais equipamentos de sedimentação Ex. de utilização: cubas de sedimentação para clarificação do mosto (vinho – separação das borras), tratamento de efluentes. Sedimentadores podem ser verticais ou horizontais; Verticais: formato cilíndrico cônico, alimentação superior; Horizontais: cubas com alimentação contínua (ETE). Principais equipamentos de sedimentação Sedimentador Vertical Principais equipamentos de sedimentação Sedimentador Horizontal https://www.youtube.com/watch?v=abK6oprw95o Dimensionamento do Sedimentador Coe e Clevenger (1916): método muito utilizado; Primeiro determina-se o perfil de alturas na zona de interface de sedimentação de uma suspensão frente o tempo. Dimensionamento do Sedimentador Método: a) Coloca-se a suspensão em uma proveta graduada; b) Observação da separação de fases com o tempo (decantação das partículas sólidas); c) Formação de 2 fases: líquido límpido e sólido sedimentado tempo Dimensionamento do Sedimentador Pode acontecer em batelada ou processo contínuo. A diferença é que em processo contínuo, a situação mostrada na proveta #3 se mantém, permitindo a entrada e saídas constantes. tempo Dimensionamento do Sedimentador Curva típica: da altura da interface (H), formada entre o líquido claro e o resto do sistema, em função do tempo t: H H0 H H H Intersecção da reta tangente em um ponto da curva de sedimentação P, obtém-se Hi. Velocidade de sedimentação: v Hi H p dH dt tp 0 Hi P Hp tp c – concentração média suspensão 3 (8) cH i c0 H 0 (9) (kg/m ); Hi – altura interface (m);c0 e H0 – concentração e altura inicial dos sólidos na proveta Dimensionamento do Sedimentador Velocidade de sedimentação em camada limite é função da concentração; Zona limite: velocidade com que o líquido clarificado ascende deve ser menor que a queda das partículas. Alimentação da suspensão Líquido clarificado Zona limite Lodos Exemplo 2 Um lodo biológico proveniente de um tratamento secundário de rejeitos, deve ser concentrado de 2500 até 10900 mg/litro, em um decantador contínuo. A vazão de entrada é 4,5 x 106 litros por dia. Determine a área necessária a partir dos dados da tabela. Tempo (min) 0 1 2 3 5 8 12 16 20 25 Altura da interface (cm) 51 43,5 37 30,6 23 17,9 14,3 12,2 11,2 10,7 Exemplo 2 Considerando área de sedimentação constante Para H = 11,7 cm; t = 11,2 min H e ce Hc H s cs H H H e ce cs 51 2500 11,7cm 10900 Tempo = 11,2 min Exemplo 2 Tempo Altura da Concentração da (min) interface (cm) suspensão (mg/ml) 0 51 2500,0 1 43,5 2931,0 2 37 3445,9 3 30,6 4166,7 5 23 5543,5 8 17,9 7122,9 12 14,3 8916,1 16 12,2 10450,8 20 11,2 11383,9 25 10,7 11915,9 Concentração desejada= 10900 mg/ml 14000,0 12000,0 10000,0 8000,0 6000,0 4000,0 2000,0 Tempo = 17,5 min 0,0 0 5 10 15 20 25 30 t 11,2 min Cálculo da área 6 4 , 5 x 10 1000 / 1440 11,2 H0 A A 6,92 x105 cm 2 Q ce ce 51 t 2 A 69 , 2 m Vazão final de 10.900 mg/L Q Área calculada de 2 formas diferentes A t A 108m 2 H0 Centrifugação Operação que somente se diferencia da sedimentação por empregar a aceleração centrífuga; Aceleração centrífuga – atua na separação das partículas sólidas de uma suspensão ou líquidos em emulsão; Aceleração centrífuga – não é constante, aumenta com distância do eixo de rotação e com a velocidade de rotação (angular ω). Objetivo: aumentar em várias vezes a aceleração da gravidade – processo de separação mais rápido; Emprego: separação de sólido-líquido (ciclones), líquido- sólido (hidrociclones), líquido-líquido-sólido (centrífugas). Principais tipos de centrífugas Principais equipamentos: Centrífuga de cesto tubular; Centrífuga de discos; Decantadoras horizontais Principais tipos de centrífugas Centrífuga de cesto tubular Equipamento simples – cesto tubular onde ocorre a separação; No interior do equipamento não há superfícies de separação; Emprego: separação líquido-líquido ou sólido-líquido (baixa conc. de sólidos); Pouco eficiente: não possui sistema de remoção de sólidos. Principais tipos de centrífugas Centrífuga de cesto tubular Principais tipos de centrífugas Centrífuga de cesto tubular Se a coluna é submetida a uma rotação ao redor de um eixo a uma velocidade angular ω, uma seção da coluna que está a certa distância do eixo r estará sendo submetida a uma aceleração centrífuga ac. A pressão infinitesimal em uma seção da coluna de espessura infinitesimal é: Principais tipos de centrífugas Centrífuga de cesto tubular Hipóteses para cálculo da área da centrífuga: Partículas esféricas; Partículas se deslocam em regime laminar; Velocidade de passagem da mistura é homogênea (cesto); Dispersão está diluída; Anel líquido segue a rotação do cesto. Principais tipos de centrífugas Centrífuga de cesto tubular – Tempo de residência Se r2<Ri, a partícula é descarregada do cesto junto com o líquido; Se r2 = Ri, a partícula é depositada sobre a parede do cesto e é removida da corrente líquida. A partir da equação (3) é possível calcular o tR vt 2 rD p2 ( p ) dr dt 18 2 rD p2 ( p ) 18 18 dr dt 2 2 D p ( p ) r (26a) (26b) Rs (26c) r1 Ri r2 Principais tipos de centrífugas Centrífuga de cesto tubular – Tempo de residência Integrando a equação (26c) entre r1 e r2: r2 18 tR 2 2 ln D p ( p ) r1 (27) tR é igual ao volume de líquido (V) no cesto dividido pela vazão volumétrica (Q): V t R V H Ri2 RS2 Q Raio interno do cesto (28) 2 2 H D p p Ri2 RS2 Rearranjando: V Q tR 18 r ln 2 r1 Raio da superfície do líquido (29) Principais tipos de centrífugas Centrífuga de cesto tubular – Eficiência da separação A quantidade total de sólidos removidos pela centrífuga é uma função direta distribuição de tamanho da partícula; Partículas mais densas são removidas, permanecendo as de menor densidade na corrente; Grau de eficiência da separação é fração contida no espaço anular entre Rs e Ri, em que a trajetória da partícula inicia em z=0 e atinge a parede do cesto em z=H; A eficiência da separação pode ser calculada em função da posição radial da partícula (rx): Ri2 rx2 2 Ri Rs2 (30) Ponto de corte: tamanho mínimo de partícula que deve ser retida na 2 centrífuga 2 rDPC ( p ) DPC – diâmetro do ponto de corte (m) vt 18 Principais tipos de centrífugas Centrífuga de cesto tubular – Diâmetro de corte (DPC) Se DPC for definido como diâmetro daquela partícula correspondente a 50 % da curva de eficiência de separação, então o raio correspondente será exatamente aquele que divide o espaço anular entre Rs e Ri, em áreas iguais. Se essa partícula de diâmetro DPC tiver que ficar retida na parede da centrífuga no tempo de residência disponível, as seguintes relações são válidas: r1 Rs r2 Ri r22 rx2 rx2 r12 rx – é a distância radial percorrida por uma partícula de diâmetro DPC. Exemplo 3 Em um processo de clarificação de uma suspensão aquosa, partículas devem ser separadas por centrifugação, a uma vazão volumétrica de 0,015 m3/s, empregando uma centrífuga de cesto tubular cujo raio é 0,025 m, altura de 0,24 m, rotação de 18000 rpm e com raio da superfície líquida de 0,015 m. A densidade e a viscosidade do fluido são 1050 kg/m3 e 2,8 x 10-3 Pa.s, respectivamente, e a densidade da partícula é de 1400 kg/m3. Calcular o diâmetro do ponto de corte da partícula. Mudança de escala Multiplicando e dividindo a equação (34) por 2g Q 2 p 2 DPC2 p H ( Ri2 Rs2 ) 2 DPC 2 Ri2 ln 2 2 Ri Rs 9 (34) Velocidade de sedimentação (Lei de Stokes) (m/s) Obtém-se: vt Q1 2vt 2 p g DPC 18 (36) Característica da centrífuga (35) 2 H ( Ri2 Rs2 ) 2 Ri2 g ln 2 2 Ri Rs (37) Σ – área normal de um recipiente de sedimentação por gravidade (m2) – depende da geometria e característica de cada centrífuga Exercício 1 Partículas devem ser separadas em uma centrífuga à vazão volumétrica da suspensão de 0,012m3/s. O diâmetro do ponto de corte das partículas é de 4µm e sua densidade é 1300 kg/m3. Calcular: a) O valor de Σ considerando que a densidade e a viscosidade da suspensão são as mesmas da água (998 kg/m3 e 1x10-3 Pa.s); b) A vazão volumétrica se a mesma centrífuga for empregada para separar partículas com diâmetro de 6µm e densidade de 1400 kg/m3 que se encontram em uma suspensão cuja densidade e viscosidade são 1600 kg/m3 e 1,4 Pa.s, respectivamente. Principais tipos de centrífugas Centrífuga de discos Cesto dessa centrífuga é constituído por série de discos tronco-cônicos sobrepostos; Emprego: separação de 2 fases de uma emulsão; Suspensão ou emulsão é inserida pelo centro da parte inferior do cesto; Dividida por distribuidor de aletas radiais (rotação da mistura); Clarificação de vinhos e sucos, separação de enzimas e proteínas, separação do óleo. Principais tipos de centrífugas Centrífuga de discos Principais tipos de centrífugas Centrífuga decantadora Carcaça com forma geométrica de um cone cilíndrico; Cone gira através do seu eixo horizontal; No centro da centrífuga tem um rosca sem fim, que gira a uma velocidade diferente em relação a carcaça; Auxílio na descarga dos sólidos por exercer pressão sobre a pasta formada; Parte cilíndrica: zona de clarificação; Parte cônica: zona de borra e as correntes escoam em sentido concorrente; Separação de suspensão de altas concentrações de sólidos. Principais tipos de centrífugas Centrífuga decantadora