ASSESSORIA DE IMPRENSA DO GABINETE

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS
Edição Nº 71
[ 12/1/2011 a 18/1/2011 ]
Sumário
CINEMA E TV...............................................................................................................4
Estado de Minas - Brasileiros em Roterdã......................................................................................4
O Estado de S. Paulo - Canções do vovô.......................................................................................4
O Estado de S. Paulo - Jobim, o sonho revisto...............................................................................5
Estadão.com - Documentário transporta público para o universo mágico de Tom Jobim...............6
O Globo - Conquista da China / Coluna / Ancelmo Gois.................................................................8
Brasil Econômico – Filme: Jobim no olhar de Nelson Pereira dos Santos......................................8
Folha de S. Paulo – Estreias consagram o uso do 3D em filmes de autor e animações.................8
Correio Braziliense – Ancestralidade respeitável............................................................................9
Folha de S. Paulo – Proposta de sustentabilidade de "Amazônia" é louvável, mas a sua
realização é discutível...................................................................................................................10
O Estado de S. Paulo - Produções começam a ser exportadas pela televisão brasileira.............10
O Estado de S. Paulo - Animações são novas estrelas................................................................11
O Globo - Da Boca do Lixo para o mundo.....................................................................................12
O Globo - Armada brasileira invade a Holanda.............................................................................14
Folha de S. Paulo – Usina de Belo Monte é invadida por cineastas.............................................14
O Globo - ‘O artista’ lidera disputa ao Bafta com 12 indicações....................................................15
TEATRO E DANÇA....................................................................................................16
Folha de S. Paulo – Nelson Rodrigues e Shakespeare dominam os espetáculos em 2012.........16
Folha de S. Paulo – Musical "Xanadu" vira superprodução em versão brasileira.........................17
Folha de S. Paulo – Montagem leva Strindberg aos anos Lula.....................................................17
Valor Econômico - A gênese da Vertigem.....................................................................................18
O Globo - Elba, de volta para o aconchego do teatro....................................................................21
O Globo - Nelson Leirner quer guinada aos 80 anos....................................................................22
ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................23
Folha de S. Paulo – MAM expõe coleção que salvou museu........................................................23
Folha de S. Paulo – Trabalho de Mônica Nador dá sentido à produção da arte...........................24
O Estado de S. Paulo - Coleção de modernos..............................................................................25
Folha de S. Paulo - Milhões em cores...........................................................................................26
O Globo - Mostra discute a relação do homem com a máquina....................................................28
Estado de Minas - A caligrafia do corpo........................................................................................29
Estado de Minas - Litogravura em pauta.......................................................................................31
O Globo - Mostra vê múltiplo como obra repetida, mas única.......................................................31
FOTOGRAFIA............................................................................................................32
Globo.com - Brasileiro Wilton Júnior ganha Prêmio Rei da Espanha de Fotografia......................32
Folha de S. Paulo – Blog retrata moda da rua com fotos e modelos "naturais"............................33
MÚSICA......................................................................................................................34
Correio Braziliense – Festa no terreiro..........................................................................................34
Correio Braziliense - Maestro equaliza experiências para reger concerto no Teatro Nacional.....35
Folha de S. Paulo – Banda Eddie, de PE, relaxa e amadurece no CD 'Veraneio'.........................36
Folha de S. Paulo – Musical "Xanadu" vira superprodução em versão brasileira.........................37
Folha de S. Paulo – Banda Eddie, de PE, relaxa e amadurece no CD 'Veraneio'.........................37
O Globo - Música brasileira terá dia em sua homenagem em NY.................................................38
Folha de S. Paulo – Em seu novo disco, "Avante", Siba surpreende esteticamente.....................39
Correio Brazilliense - Ele é o bom.................................................................................................40
O Estado de S. Paulo - Cordas de aço..........................................................................................42
O Estado de S. Paulo - Periferia Atômica......................................................................................43
Correio Braziliense - Musa do samba delicado.............................................................................44
O Globo - Roberta Sá faz novo disco com atmosfera de carnaval................................................46
O Globo - Tulipa e Jeneci, nem efêmeros nem feitos para acabar................................................47
Jornal de Brasília - Resgate da música antiga .............................................................................48
Estado de Minas - Retrato da MPB...............................................................................................49
O Globo - Nara Leão ganha presente antipassado.......................................................................50
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LIVROS E LITERATURA...........................................................................................51
Valor Econômico - O nome dele é Maracanã................................................................................51
Correio Braziliense - O poeta e a muiraquitã ................................................................................53
O Globo - Livro revê 30 anos da delicada arte da pintora Cristina Canale....................................55
O Globo - Bartolomeu Campos de Queirós, escritor.....................................................................55
ARQUITETURA E DESIGN........................................................................................58
Brasil Econômico – Jorge Amado vale 100 vezes um Paulo Coelho............................................58
Clárin - Brasilia, orgullo modernista...............................................................................................59
OUTROS.....................................................................................................................60
Folha de S. Paulo – Decreto de Dilma afeta convênios da Cultura com setor audiovisual...........60
O Estado de S. Paulo - Cultura privilegia SP................................................................................61
O Globo - Mostra multimídia vai reunir frutos de décadas de paixão............................................62
Folha de S. Paulo – Programa de Índio / Coluna..........................................................................64
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CINEMA E TV
Estado de Minas - Brasileiros em Roterdã
Cena de Sudoeste, filme de Eduardo Nunes
(12/1/2012) Dois filmes brasileiros estão na briga pelo prêmio do Festival de Cinema de Roterdã, na
Holanda, que será realizado entre os dias 25 deste mês e 5 de fevereiro.
Sons vizinhos, de Kleber Mendonça Filho, conta uma história baseada na cultura do medo. A vida de
moradores de rua de bairro de classe média toma rumo inesperado quando seguranças começam a
trabalhar lá, trazendo a ilusória sensação de segurança. O cineasta e roteirista pernambucano já
lançou os curtas Vinil verde, Eletrodoméstica e Recife frio. Em 2008, apresentou seu primeiro longa,
Crítico.
Sudoeste, de Eduardo Nunes, foi filmado em preto e branco. A trama gira em torno da vida de um
bebê nascido em Araruama, no litoral do Rio de Janeiro. O cineasta fluminense assinou os curtas
Sopro e Terral. Com Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, criou o roteiro de Árido movie. No ano passado,
Sudoeste chamou a atenção nos festivais de cinema de Gramado e do Rio.
O Estado de S. Paulo - Canções do vovô
Em filme, Dora Jobim e Nelson Pereira contam história só com
músicas do grande maestro
Luiz Carlos Merten / Rio
(12/1/2012) Havia canções que, no recente
documentário de Eduardo Coutinho, não poderiam
faltar. Nelson Pereira dos Santos fez sua lista das 14
mais. "Mas, no final, a gente tem mais canções do
vovô", informa a codiretora Dora Jobim. Ela fala do
documentário A Música Segundo Tom Jobim. Dora
ainda se refere a ele, carinhosamente, como o vovô.
Tinha 18 anos quando Tom morreu. Filha de Paulo
Jobim, que acompanhava o pai, como músico, ela viveu
sua infância em estúdios de gravações ou acompanhando turnês. A música sempre fez parte de sua
vida.
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"E ela era a queridinha do vovô", explica Nelson Pereira dos Santos, que também é avô e tem sua
queridinha - mas não pergunte quem é, porque a última coisa que ele quer é decepcionar os demais
netos. Nelson e Dora conversam com o repórter no lobby de um cinema no Rio. Segunda-feira pela
manhã. Ele vai mostrar A Música Segundo Tom Jobim para alguns amigos. O clima é de
confraternização, de festa, e Nelson está relaxado.
Ele conta que o documentário sobre Tom surgiu quase como uma consequência do anterior, sobre
Sérgio Buarque de Hollanda. O outro, pertencia a uma geração que pensou o Brasil - e influenciou
Nelson e seus colegas de Cinema Novo. O outro, expressou a brasilidade por meio de notas
musicais, Tom era tão brasileiro que, mesmo quando cantava em inglês, para plateias internacionais,
você podia ouvir o murmúrio das ondas ou o cantar da sabiá.
O filme estreia dia 20. Na verdade, deveria ter ficado pronto no fim de 2010, segundo acordo com a
patrocinadora. Se A Música Segundo Tom Jobim demorou tanto tempo foi por causa dos direitos e do
material iconográfico. Havia um material que deveria vir do Japão. Até nisso o tsunami causou
estragos. Mas tudo está terminando bem. Dia 20, comemora-se o dia de São Sebastião e o
aniversário do Rio de Janeiro, que Tom amava (e colocou na sua música, não apenas por meio de
uma certa garota de Ipanema).
Dia 25, ele estaria completando 85 anos. Prepare-se. Você nuca viu um documentário como este. Só
música. Nenhuma outra palavra que não as das letras. E as imagens. Elas contam sutilmente uma
história, mas isso vai depender de você. Nelson e sua escudeira, Dora, criaram uma obra aberta.
Você vai preenchê-la e agradecer. As canções selecionadas vão encher seus ouvidos, encantar sua
alma. A música, segundo Tom Jobim, pode ser - é - transcendental.
O Estado de S. Paulo - Jobim, o sonho revisto
Documentário quer transportar o público para o universo mágico e emocionante do compositor
Luiz Carlos Merten / Rio
(12/1/2012) Desde as primeiras imagens que batem na tela, A Música Segundo Tom Jobim transporta
o espectador para um universo mágico. Surgem imagens do Rio, em preto e branco. À esquerda da
tela, começa a aparecer um velho avião - da Panair do Brasil. Sem uma palavra, a imagem situa a
época, os anos 1950, e o som já é o da trilha do documentário.
A codiretora Dora Jobim conta que embarcou, desde a primeira hora, no conceito proposto por
Nelson Pereira dos Santos. O filme é um documentário musical no sentido mais radical do termo. As
pessoas - Tom Jobim, Elis Regina, Frank Sinatra, Gal Costa, que é a primeira a aparecer, só cantam.
Nenhuma entrevista, nenhum letreiro. Imagens e sons. É a antítese do moderno documentário
musical, em que outras pessoas - em geral, os mesmos - dão seus depoimentos sobre os artistas
focados. A crítica dessa tendência é feita pelo diretor Victor Lopes em As Aventuras de Agamenon,
quando o jornalista Nelson Motta revela-se confuso e pergunta para qual filme está dando
depoimento, e sobre quem.
Nelson acha graça da história contada pelo repórter. Todo mundo já entrou para a sessão especial de
A Música Segundo Tom Jobim e agora Dora Jobim e ele estão à disposição do repórter no lobby do
cinema no Rio. O conceito de Nelson fica expresso por meio de uma frase que só aparece no final.
Seria óbvio colocá-la no começo, ela aparece só no fim, depois que o espectador já fez sua parte.
Todo filme se constrói no imaginário do público, que precisa reconstituir no inconsciente o que acaba
de ver, No caso de A Música Segundo Tom Jobim, mais ainda. A frase é do próprio Tom: "Só a
linguagem musical basta".
Nelson Pereira dos Santos conhecia Tom Jobim desde o alvorecer do Cinema Novo. "O Tom fez a
trilha de muitos filmes da gente, na época", ele conta. Quem o apresentou foi Cacá Diegues. Anos
mais tarde, Nelson fez, na antiga Manchete, um especial de quatro episódios que já se chamava A
Música Segundo Tom Jobim. Lá, sim, havia entrevistas com luminares da música popular e da erudita
- por exemplo, Radamés Gnatalli -, que Tom entrevistava para contar uma história da música no País.
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Houve um período que até Hollywood quis contar a história de Tom Jobim. O próprio Nelson foi
chamado para dirigir o filme. Iniciaram-se as tratativas. Tom hesitava. Nelson não tem medo de ser
politicamente incorreto. "Ele tinha medo de que Hollywood pusesse algum viado para interpretá-lo e a
coisa não evoluiu." Veio de um cineasta, Marco Altberg, a sugestão de que Nelson fizesse um
documentário. Por que não? O patrocínio foi fechado no fim de 2009, no fim de 2010 o filme deveria
ter ficado pronto. O prazo estourou. Menos por excesso de material e mais pelo cuidado em reunir
material que Nelson e Dora Jobim, a esta altura incorporada ao projeto, consideravam imprescindível.
Dora trabalhou num projeto, Jobim Music, no começo dos anos 2000, que lhe permitiu conhecer o
acervo do avô, mas reuni-lo não foi fácil. Foi preciso esperar o trecho do Japão. Judy Garland foi
outra negociação interminável. O YouTube exigiu rios de dinheiro pelos direitos de Insensatez.
Quando o material chegou, a qualidade deixava a desejar. "Judy já estava acabada, dá a impressão
de cantar numa nuvem" afirma Nelson. Na lista de canções e artistas que não poderiam faltar
estavam, claro, Sinatra, Elis Regina e Elizeth Cardoso. A cantora que era chamada de 'divina' canta
Eu Não Existo Sem Você, cujas imagens em preto e branco pertencem a este Rio do alvorecer da
bossa nova.
A cidade, como a cultura brasileira, estava em pleno processo de ebulição. No Planalto Central,
Brasília estava sendo erguida. No Rio, construía-se o aterro. Elizeth canta, Agostinho dos Santos,
também, e justamente A Felicidade, da trilha de Orfeu do Carnaval, que correu mundo como filme,
premiado em Cannes, de Marcel Camus (mais tarde refeito por Cacá Diegues). E seguem as
músicas. Elis e Tom, Águas de Março. Sinatra e Tom, Girl from Ipanema, Sarah Vaughan, Wave. E
Diana Kroll, Pierre Barouh, Henri Salvador, Silvia Telles...
Uma grande reticência, porque não há um só intérprete que, fazendo uma leitura da música segundo
Tom, não proponha algo denso, rico, original - mesmo quando a voz sai tão leve que parece não
envolver o mínimo esforço. Gal Costa, Se Todos Fossem Iguais a Você.
A 'história', propriamente dita, de Tom é contada quase imperceptivelmente por meio de detalhes.
Uma foto aqui, um filme ali, mas sem a indicação da época exata. Tom e Chico Buarque na final do
Festival Internacional da Canção. A expressão do jovem Chico quando o público racha e as pessoas
aplaudem e vaiam Sabiá. O que representava aquela música, aquela declaração de amor ao Brasil,
às raízes, em plena ditadura? Não era o reverso exato de uma canção engajada como Caminhando,
de Geraldo Vandré?
Nelson já levou A Música Segundo Tom Jobim a festivais internacionais - Nova York, Santa Maria da
Feira (Portugal), Amsterdã. Em toda parte, a acolhida é entusiasmada, e emocionada. Ele sabe que
fez um belo trabalho. Está sereno. Pronto para recomeçar. O próximo filme será um retorno à ficção,
sobre Dom Pedro II. Nelson não antecipa o que será, mas com certeza quer falar mais uma vez de
mudança. Com o imperador de brancas barbas, o Brasil monárquico virou republicano. Nelson, aos
80 anos, continua filmando revoluções - artísticas, humanas, políticas. O contexto é outro, não mais o
do Cinema Novo, mas ele permanece fiel a si mesmo, e isso é ótimo.
Estadão.com - Documentário transporta público para o universo mágico de Tom Jobim
'A Música Segundo Tom Jobim' é um documentário musical no sentido mais radical do termo
Luiz Carlos Merten
Desde as primeiras imagens que batem na tela, A Música
Segundo Tom Jobim transporta o espectador para um
universo mágico. Surgem imagens do Rio, em preto e branco.
À esquerda da tela, começa a aparecer um velho avião - da
Panair do Brasil. Sem uma palavra, a imagem situa a época,
os anos 1950, e o som já é o da trilha do documentário.
(12/1/2012) A codiretora Dora Jobim conta que embarcou,
desde a primeira hora, no conceito proposto por Nelson
Pereira dos Santos. O filme é um documentário musical no
Daniel Teixeira/AE - Direção. Dora e
Nelson: escolha por apenas sons e
imagens
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sentido mais radical do termo. As pessoas - Tom Jobim, Elis Regina, Frank Sinatra, Gal Costa, que é
a primeira a aparecer, só cantam. Nenhuma entrevista, nenhum letreiro. Imagens e sons. É a antítese
do moderno documentário musical, em que outras pessoas - em geral, os mesmos - dão seus
depoimentos sobre os artistas focados. A crítica dessa tendência é feita pelo diretor Victor Lopes em
As Aventuras de Agamenon, quando o jornalista Nelson Motta revela-se confuso e pergunta para qual
filme está dando depoimento, e sobre quem.
Nelson acha graça da história contada pelo repórter. Todo mundo já entrou para a sessão especial de
A Música Segundo Tom Jobim e agora Dora Jobim e ele estão à disposição do repórter no lobby do
cinema no Rio. O conceito de Nelson fica expresso por meio de uma frase que só aparece no final.
Seria óbvio colocá-la no começo, ela aparece só no fim, depois que o espectador já fez sua parte.
Todo filme se constrói no imaginário do público, que precisa reconstituir no inconsciente o que acaba
de ver, No caso de A Música Segundo Tom Jobim, mais ainda. A frase é do próprio Tom: "Só a
linguagem musical basta".
Houve um período que até Hollywood quis contar a história de Tom Jobim. O próprio Nelson foi
chamado para dirigir o filme. Iniciaram-se as tratativas. Tom hesitava. Nelson não tem medo de ser
politicamente incorreto. "Ele tinha medo de que Hollywood pusesse algum viado para interpretá-lo e a
coisa não evoluiu." Veio de um cineasta, Marco Altberg, a sugestão de que Nelson fizesse um
documentário. Por que não? O patrocínio foi fechado no fim de 2009, no fim de 2010 o filme deveria
ter ficado pronto. O prazo estourou. Menos por excesso de material e mais pelo cuidado em reunir
material que Nelson e Dora Jobim, a esta altura incorporada ao projeto, consideravam imprescindível.
Dora trabalhou num projeto, Jobim Music, no começo dos anos 2000, que lhe permitiu conhecer o
acervo do avô, mas reuni-lo não foi fácil. Foi preciso esperar o trecho do Japão. Judy Garland foi
outra negociação interminável. O YouTube exigiu rios de dinheiro pelos direitos de Insensatez.
Quando o material chegou, a qualidade deixava a desejar. "Judy já estava acabada, dá a impressão
de cantar numa nuvem" afirma Nelson. Na lista de canções e artistas que não poderiam faltar
estavam, claro, Sinatra, Elis Regina e Elizeth Cardoso. A cantora que era chamada de ‘divina’ canta
Eu Não Existo Sem Você, cujas imagens em preto e branco pertencem a este Rio do alvorecer da
bossa nova.
A cidade, como a cultura brasileira, estava em pleno processo de ebulição. No Planalto Central,
Brasília estava sendo erguida. No Rio, construía-se o aterro. Elizeth canta, Agostinho dos Santos,
também, e justamente A Felicidade, da trilha de Orfeu do Carnaval, que correu mundo como filme,
premiado em Cannes, de Marcel Camus (mais tarde refeito por Cacá Diegues). E seguem as
músicas. Elis e Tom, Águas de Março. Sinatra e Tom, Girl from Ipanema, Sarah Vaughan, Wave. E
Diana Kroll, Pierre Barouh, Henri Salvador, Silvia Telles...
Uma grande reticência, porque não há um só intérprete que, fazendo uma leitura da música segundo
Tom, não proponha algo denso, rico, original - mesmo quando a voz sai tão leve que parece não
envolver o mínimo esforço. Gal Costa, Se Todos Fossem Iguais a Você.
A ‘história’, propriamente dita, de Tom é contada quase imperceptivelmente por meio de detalhes.
Uma foto aqui, um filme ali, mas sem a indicação da época exata. Tom e Chico Buarque na final do
Festival Internacional da Canção. A expressão do jovem Chico quando o público racha e as pessoas
aplaudem e vaiam Sabiá. O que representava aquela música, aquela declaração de amor ao Brasil,
às raízes, em plena ditadura? Não era o reverso exato de uma canção engajada como Caminhando,
de Geraldo Vandré?
Nelson já levou A Música Segundo Tom Jobim a festivais internacionais - Nova York, Santa Maria da
Feira (Portugal), Amsterdã. Em toda parte, a acolhida é entusiasmada, e emocionada. Ele sabe que
fez um belo trabalho. Está sereno. Pronto para recomeçar. O próximo filme será um retorno à ficção,
sobre Dom Pedro II. Nelson não antecipa o que será, mas com certeza quer falar mais uma vez de
mudança. Com o imperador de brancas barbas, o Brasil monárquico virou republicano. Nelson, aos
80 anos, continua filmando revoluções - artísticas, humanas, políticas. O contexto é outro, não mais o
do Cinema Novo, mas ele permanece fiel a si mesmo, e isso é ótimo.
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Nelson Pereira dos Santos conhecia Tom Jobim desde o alvorecer do Cinema Novo. "O Tom fez a
trilha de muitos filmes da gente, na época", ele conta. Quem o apresentou foi Cacá Diegues. Anos
mais tarde, Nelson fez, na antiga Manchete, um especial de quatro episódios que já se chamava A
Música Segundo Tom Jobim. Lá, sim, havia entrevistas com luminares da música popular e da erudita
- por exemplo, Radamés Gnatalli -, que Tom entrevistava para contar uma história da música no País.
O Globo - Conquista da China / Coluna / Ancelmo Gois
(12/1/2012) O cineasta José Padilha já trouxe muitas vitórias para o Brasil. Agora, tem outro desafio
de bom tamanho. Pela primeira vez, um filme brasileiro, “Tropa de elite 2”, estreou no circuito
comercial da China. Por lá, filmes brasileiros só eram vistos em festivais.
Brasil Econômico – Filme: Jobim no olhar de Nelson Pereira dos Santos
(13/1/2012) Com a palavra, Tom Jobim. Ou melhor, suas canções, recortadas em trechos no
documentário musical A Música Segundo Tom Jobim, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, da
velha guarda do Cinema Novo, e Dora Jobim, neta do bastião da bossa nova.
Sem brecha alguma para narrações biográficas, Nelson constrói um mosaico de fotos, apresentações
antigas e interpretações de outros artistas para as canções de TomJobim.Omaterial é valiosíssimo. A
música do mestre ganha tinta única na voz de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Judy Garland, Maysa e
em clássicas parcerias de Tom como ao lado de Frank Sinatra.
Da nova geração, Fernanda Takai, da banda mineira Pato Fu, e a gracinha Stacey Kent destacam- se
diante de uma Diana Krall mirrada e sem graça.
A música, claro, é, de longe, a jóia do documentário, apesar de tão recortada em trechos que quase
setem a impressão de um assassinato. Para quem não viveu a bossa nova o jogo de adivinhações de
intérpretes em fases menos conhecidas em termos de imagem dá um ritmo exaustivo. É para bom
entendedor e conhecedor. Para quem só conheceu Tom pelos discos, há de esperar os créditos - e
que consolação há quando se encontra nomes conhecidos!
Entenda: Nelson, que fez um documentário sobre Tom para a TV em 1985 (de quatro horas!) e
Miucha Buarque de Hollanda, roteiristas, querem fazer poesia. Por isso colam trecho em trecho,
mostram a globalidade da obra de Tom com interpretações estranhas de cantores dinamarqueses e
japoneses. É aí que a poesia transmuta-se em lembrança da breguice de outros tempos. Que pena,
que pena.
O diretor também volta e meia abandona uma espécie de projeto de linearidade. Mistura de tudo um
pouco ilustrar cada canção. E comove (sim!) ao mostrar uma declaração de amor e saudade ao seu
poetinha, o eterno parceiro e camarada Vinícius de Moraes.
Então o videoclipe ad eternum nos oferece um respiro. E que respiro! Tom e Elis Regina, lindos,
marotos, despojados, trocam versos e gracejos em Águas de Março. Ali, Nelson Pereira dos Santos é
monumental ao graciar o espectador com tamanho desbunde musical.
Folha de S. Paulo – Estreias consagram o uso do 3D em filmes de autor e animações
CINEMA 2012 Formato será usado em gêneros diversos e por cineastas de peso como Scorsese e
Wim Wenders
Safra brasileira trará os novos longas dos diretores Beto Brant e Cao Hamburger, e do ator Wagner
Moura
Gabriela Longman, colaboração aara A Folha
(13/1/12) Dois mil e doze parece ser o ano da consagração dos filmes em 3D.
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Se até então o formato era reservado a grandes produções de animação ou aventura, uma nova
perspectiva se abre ao longo dos próximos meses, dado o número expressivo de estreias e a
variedade de gêneros -ação, terror, ficção científica- que exploram a nova tecnologia.
Homem-Aranha, Pina Bausch, George Clooney. Os três desfilarão pelas telas na tridimensionalidade,
confundindo os olhos do espectador. É em 3D, ainda, que cineastas consagrados, como Martin
Scorsese e Wim Wenders, fazem suas novas investidas numa linguagem que ainda está para ser
decifrada.
Em junho acontecem as estreias de grandes animações infantis, que focam nas crianças entediadas
em casa durante as férias. As novas sequências de "A Era do Gelo" e "Madagascar ", por exemplo,
devem chegar aos cinemas nessa época, como alternativa de entretenimento para pais e filhos.
Neste ano, chega às telas brasileiras três dos filmes mais elogiados no último Festival de Veneza, em
setembro passado: "Carnage", de Roman Polanski, "Um Método Perigoso", de David Cronenberg, e o
impressionante "Fausto", de Aleksandr Sokurov, vencedor do festival.
Dialogando, respectivamente, com o teatro, com a psicanálise e com a literatura, cada um mostra que
o cinema de autor segue vivíssimo e discute as relações humanas, o poder, o amor e a morte.
Após um ano de boas bilheterias, a produção brasileira promete uma nova e boa safra com a estreia
de "Xingu", novo longa de Cao Hamburger selecionado para mostra paralela no festival de Berlim, ou
"A Cadeira do Pai", com Wagner Moura, que será exibido em Sundance antes de desembarcar por
aqui.
"Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios", de Beto Brant, traz Camila Pitanga (nua e
linda) vivendo Lavínia, a mulher casada capaz de enlouquecer de amor um fotógrafo em meio a uma
vila de garimpo no norte do país.
Correio Braziliense – Ancestralidade respeitável
Mostra de cinema e show aproximam o brasiliense da cultura indiana
YALE GONTIJO
É possível que o chitravina seja o instrumento mais antigo a resistir pelos séculos e continuar sendo
usado pelo homem. Registros históricos apontam uma trajetória milenar. Se pensarmos por essa
lógica, aos 44 anos, o músico indiano Ravikiran é mestre e protetor de uma das técnicas musicais
mais antigas do mundo ainda em utilização. A carreira do artista também é longeva. “Eu comecei a
me apresentar quando eu tinha apenas 2 anos. Aos 5, já excursionava em turnês e comecei a usar
também o vocal nas apresentações. Com 10 anos, fazia concertos de chitravina”, relembra o indiano,
já instalado no Brasil para uma série de performances comemorativas dos 61 anos da Proclamação
da República Indiana.
Uma das apresentações promovidas pela Embaixada da Índia será o show gratuito que ele fará hoje,
às 20h, no Teatro Oi Brasília. Assim como o pai e o avô, Ravikiran é representante do gênero carnatic
music, extremamente ligada à tradição hinduísta. “A música indiana é muito especial, especialmente a
carnatic, que tem um balanço muito bom com ritmos e melodias interessantes. São composições que
permitem improvisação e isso está ligado à criatividade do artista”, acredita.
É a primeira vez que ele visita o Brasil, país não exatamente desconhecido para ele. “Tenho alguma
experiência com música brasileira e já toquei com brasileiros em alguns fusion concerts, como
Hermeto Pascoal e o pianista Jovino Santos Neto. Faz algum tempo, uns 10 anos. É bom me
reencontrar com músicos brasileiros, principalmente estando no Brasil. A improvisação é bastante
familiar para os artistas daqui e é uma coisa que nós também gostamos de fazer”, afirma ele.
Já sobre o chitravina, parceiro mais antigo de Ravikiran, o indiano se desmancha em elogios. “É um
instrumento muito especial, que praticamente “raciocina” sozinho. O tipo de som que se pode extrair
dele é quase o som de uma orquestra inteira”, explica. Com 42 anos de carreira, o indiano ainda
carrega uma porcentagem excessiva de modéstia: “Sempre há alguma coisa para aprender com o
chitravina. Digamos que eu tenha aprendido apenas 1% e ainda faltam 99% por aprender (risos)”.
Ravikiran se apresentará acompanhado dos percussionistas Jayachandra Rao, Giridhar Udupa e da
violinista Charumathi Raghuraman.
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Longa duração
Além da apresentação de música, a Embaixada da Índia organizou uma mostra de filmes indianos.
Conhecido como o maior país produtor de cinema por ano, a Índia tem uma cinematografia tão
diversa quanto as diferentes culturas existentes em seu território. “Quando a gente pensa na Índia,
tem de pensar na diversidade. É o mesmo que acontece no Brasil, onde as regiões são muito
diferentes nas características culturais, nos sotaques e nos cheiros. Seria injusto apresentar só um
tipo de cinema indiano”, opina uma das curadoras da mostra e assessora da embaixada Hadassah
Levyski.
Astro do cinema indiano, ator Aamir Khan está em dois filmes selecionados. Como estrelas na Terra,
longa que abre a mostra a partir de hoje, foi dirigido e estrelado por ele. O diretor narra a história de
um garoto que precisa da ajuda de um professor de artes para acreditar na capacidade de vencer na
vida. Khan também está no elenco de um dos filmes indianos de maior sucesso no exterior, a
comédia 3 idiotas, que encerrará a mostra no sábado.
Em se tratando de cinema indiano, é bom lembrar que a duração dos filmes costuma ser imensa. O
mais longo dos selecionados, Sholay — Um faroeste Made in India, que será exibido na quarta, tem
199 minutos de duração. O mais curto é o elogiado drama Escuridão, a opção da sexta, com duas
horas. Na quinta, será exibido outro drama, Iqbal, de Nagesh Kukunoor, com 127 minutos.
Folha de S. Paulo – Proposta de sustentabilidade de "Amazônia" é louvável, mas a sua
realização é discutível
Crítica reality show
GIULIANA MIRANDA, DE SÃO PAULO
(17/1/12) O reality "Amazônia" é uma mistura de "No Limite" com "Casa dos Artistas".
Largadas no meio da floresta, doze quase celebridades competem por R$ 1 milhão. Metade do
prêmio precisa ser doada a uma ONG.
Apresentado por Victor Fasano, o programa tem como proposta unir ação à divulgação da
importância do bioma e sua preservação. Mistura que acaba servindo como justificativa para que,
volta e meia, algum participante abrace uma árvore.
Embora a proposta de sustentabilidade seja louvável, o resultado é discutível. O show mostrou que
todo o guaraná consumido no programa (da marca do patrocinador, é claro) vem de garrafas
retornáveis de vidro, "facilmente recicláveis".
Mas as garrafas plásticas não foram abolidas. Estão bem representadas na água dada aos
competidores.
A moda de celebridades engajadas tardou a chegar aqui. Nos EUA, do ex-vice-presidente Al Gore ao
ator Leonardo DiCaprio, vários se dedicaram a seus próprios projetos sobre o tema.
O Estado de S. Paulo - Produções começam a ser exportadas pela televisão brasileira
Na esteira da crise europeia e da proximidade de Copa e Olimpíada, seriados, animações, filmes e
até reality shows brasileiros ganham território internacional
Cristina Padiglione
(17/1/2012) O Brasil vai bem na fita, obrigado. As boas contas da economia e a proximidade de Copa
e Olimpíada colocaram o País em evidência. E isso ajuda a explicar por que as novelas, embora
ainda dominem o mercado, já não estão sozinhas na imagem que o Brasil exporta por meio de sua
indústria televisiva. Documentários, séries de dramaturgia, reality shows e animações têm cruzado
fronteiras com êxito.
O feito é obra da produção independente, do crescimento da TV paga e das leis de incentivo. Desde
o ano passado, o Brasil foi alçado ao posto de maior mercado de TV por assinatura da América Latina
em números absolutos, com 12,4 milhões de pagantes e largo potencial de crescimento, já que
apenas 20,4% de domicílios dispõem do serviço.
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"O Brasil começou a incrementar seu audiovisual independente a partir da TV por assinatura, que
tinha orçamento mais baixo e buscava serviços de terceiros, motivado depois pela criação das leis de
incentivo", diz Marco Altberg, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes, a
ABPI-TV, que nas feiras internacionais se apresenta como Brazilian TV Producers (BTVP) desde
2004, com apoio do BNDES.
Recursos como o Artigo 39, Parágrafo 3.º A e o Fundo do Setor de Audiovisual (FSA), liberado pela
Ancine, aquecem as chances de coprodução com grupos locais ou internacionais cá estabelecidos,
como Discovery, Turner, Fox, HBO e ESPN, e também contemplam interesses de canais de fora. Em
geral, toda produção nascida no Brasil já tem passaporte garantido para ir ao ar nos canais desses
grupos por toda a América Latina.
É o caso de uma série sobre futebol de praia, em fase de finalização pela Conspiração para a ESPN.
Vale também para uma série sobre o Pantanal, destinada ao National Geographic (NatGeo), obra da
Bossa Nova Films. Acontece ainda com Escola pra Cachorro, produção da Mixer para a Nickelodeon.
Ou com À Brasileira, série da Cinevídeo para o canal TLC, do grupo Discovery.
"Dificilmente um grande projeto é bancado por uma só fonte de financiamento, e os parceiros
internacionais procuram possibilidades viáveis para uma coprodução, por meio de leis de incentivo",
afirma Fernando Dias, da Grifa, produtora da série Extinção, coprodução com a França, Cingapura,
Canadá e Brasil, vista aqui pela TV Brasil e em mais de 40 países.
Com a ESPN, a produtora desenvolve um documentário sobre o mundial faturado pelo Flamengo em
1981. E tem ainda O Brasil da Pré-história, outra coprodução com a França, vista em mais de 60
países. "O Brasil não entrou na rota dos países procurados por ser um país barato. Entrou porque
passou a se firmar como bom desenvolvedor de conteúdos, é um parceiro que hoje tem possibilidade
de alavancar recursos para o projeto", argumenta Dias.
A crise internacional só torna o cenário mais favorável. A falência de empresas pela Europa e EUA
afeta também a indústria do audiovisual. "A crise na Europa nos coloca em vantagem", concorda
Denise Gomes, da Bossa Nova Films, produtora que negocia com um canal internacional uma
coprodução sobre futebol. Mantido ainda sob sigilo, o projeto nasceu em função da Copa de 2014.
"Quando vamos ao Mipcom (importante feira internacional de TV), ninguém mais pergunta se
moramos no meio da selva, estamos em um país em crescimento, as pessoas vêm nos procurar",
atesta Carolina Guidotti, da Cinevideo. Produtora de Amazônia, reality show lançado no início do mês
pela Record, a Cinevideo assiste à possibilidade de exportação do programa a seis países.
Também é da Cinevídeo o documentário Drums, que explora as nuances entre os vários ritmos e
intensidade da batucada pelo mundo, que incluiu o Brasil a pedido da rede árabe Al-Jazeera. "O
Brasil não é visto como exportador só de serviços", retoma Dias, da Grifa. "As pessoas associam
muito o audiovisual com cultura, isso vende turismo, tecnologia, futebol."
O Estado de S. Paulo - Animações são novas estrelas
(17/1/2012) Um grupo de brasileiros desembarca em Nova York no dia 15 de fevereiro, não
exatamente em busca de compras na Times Square. Na ocasião, 37 profissionais de produção
independente, em nome de 27 empresas brasileiras, representados pela Brazilian TV Producers
(BTVP), estarão na Kidscreen, a mais importante feira de animação do calendário mundial. "Hoje,
60% das produtoras associadas são de animação", informa o presidente da APBI-TV (BTVP no
exterior).
Caçula como gênero no audiovisual brasileiro, a animação não enfrenta as barreiras da língua
portuguesa, pois pressupõe facilidade na dublagem. E ainda há as vantagens do licenciamento de
produtos, um grande negócio, que já rende dividendos aos produtores em todos os segmentos, de
papelaria a brinquedos e roupas, antes mesmo da exibição. Nessa categoria estão Peixonauta, Meu
Amigãozão, Escola Pra Cachorro, Princesas do Mar e uma nova versão do Sítio do Picapau Amarelo.
"Os primeiros passos para as produções independentes começaram a aparecer a partir da TV paga,
mas aí a gente chegava nas feiras internacionais com o produto e eles queriam saber por que esse
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produto não estava no ar na TV aberta do nosso país", lembra Kiko Mistrorigo, da TV Pinguin,
produtora do Peixonauta, exibido no Brasil pelo SBT. "Acabou acontecendo um movimento de fora
para dentro, e a TV aberta brasileira só foi prestar atenção nesse movimento depois que outros
países já tinham feito isso."
A Turma da Mônica é um caso clássico desse diagnóstico. Mesmo sendo sucesso como gibi, o título
animado chegou à Itália e outros países antes de ser aceito pela TV brasileira e, ainda assim, sob
incentivo inicial do internacional Cartoon Network, para só depois desembarcar na Globo.
Meu Amigãozão é uma coprodução da 2Dlab com o Canadá, também no ar aqui pelo Discovery Kids
e já exibido em países como EUA, Coreia, Nova Zelândia, Catar, Tailândia e Turquia, além do próprio
Canadá. "Foi um acordo entre as Ancines dos dois países, e o Canadá se ocupou da maior parte do
roteiro, da gravação das vozes em inglês, enquanto a gente criava artes, cenários, personagens
animados e story board para 52 episódios", conta Andrés Lieban, da 2DLab. Tanto Amigãozão como
Peixonauta já têm segunda temporada em andamento e preparam longa-metragem para o cinema.
Outra coprodução com o Canadá é Vivi, nova animação da Mixer, que faz Escola Pra Cachorro,
também com os canadenses e vista na Nickelodeon, além de O Sítio do Picapau Amarelo animado.
No fim de fevereiro, após o carnaval, será a vez de atrair os chamados players internacionais
(compradores de audiovisual) para o Rio de Janeiro, onde acontece a 2.ª edição do Rio Content
Market, evento nascido no ano passado, sob organização da ABPI-TV para mostrar a exibidores e
distribuidores o que é que o Brasil tem na tela, e não só para inglês ver. / C.P.
O Globo - Da Boca do Lixo para o mundo
Esquecidos no Brasil, filmes produzidos entre os anos 1960 e os 80 na degradada região de SP
ganham status de ‘cult’ com homenagem no Festival de Roterdã, na semana que vem
André Miranda
(17/1/2012) Nos últimos meses, um dos
assuntos mais comuns na caixa de e-mails do
professor Gabe Klinger foi “Senta no meu”.
Eram mensagens profissionais, com o objetivo
de dar sequência a uma importante
homenagem ao cinema brasileiro no exterior e,
ele garante, sem cunho pornográfico. Nascido
no Brasil mas radicado nos EUA desde criança,
Klinger é um dos curadores, ao lado do
holandês Gerwin Tamsma, da mostra A Boca
do Lixo, uma seção especial do Festival de
Roterdã, que começa na semana que vem (dia
25) e vai até 5 de fevereiro.
“O BANDIDO DA LUZ VERMELHA” (1968)
Um dos principais do mundo, o festival vai homenagear o cinema marginal produzido em São Paulo
entre o fim dos anos 1960 e meados dos 1980. Serão exibidos 16 filmes, de títulos sugestivos como
“Fuk fuk à brasileira”, de Jean Garret; “Orgia ou o homem que deu cria”, de João Silvério Trevisan;
“Oh! Rebuceteio”, de Cláudio Cunha; e, claro, “Senta no meu, que eu entro na tua”, de Ody Fraga —
todos agora enxergados como cult no exterior, mas praticamente ignorados em seu país de origem, o
Brasil.
A Boca do Lixo era o termo utilizado para se referir a uma região no centro da cidade de São Paulo
onde funcionavam produtoras, distribuidoras e empresas de equipamento cinematográfico, mais ou
menos no local que hoje é chamado de Cracolândia. Seus filmes nunca tiveram uma temática única,
mas foram associados aos movimentos do Cinema Marginal e da Pornochanchada.
Só que, no cinema produzido na Boca, foram feitos faroestes, melodramas, kung-fus, comédias
eróticas e qualquer outro tipo de obra de baixo orçamento com caráter popular. Seu principal cinema
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era o Cine Marabá, uma sala bonitona que servia como palco para a estreia dos filmes daquela
turma.
— O que a gente ganhava num filme, gastava no próximo,
sempre procurando melhorar o nível artístico e profissional
— afirma Cláudio Cunha, diretor de “Oh! Rebuceteio” e
“Snuff, vítimas do prazer” (ambos incluídos na mostra de
Roterdã), que vai viajar para o festival holandês. — O
povão ia ver filme brasileiro porque não sabia ou não tinha
agilidade para ler as legendas. Assim, o Cinema da Boca
fazia sucesso.
“A MARGEM” (1967)
Os filmes ficavam semanas em cartaz, e nós nos
tornamos os novos ricos do Brasil.
Além de Cunha, destacaram-se diretores como Walter
Hugo Khouri, Carlos Reichenbach, Ozualdo Candeias, Ody Fraga, Rogério Sganzerla, David Cardoso
e José Mojica Marins. Uns faziam filmes de vanguarda; alguns, aventuras comerciais; outros,
comédias eróticas. Na lista do Festival de Roterdã estão “A margem”, de Candeias; “O império do
desejo”, de Reichenbach; “O despertar da besta”, de Mojica; e “O Bandido da Luz Vermelha”, de
Sganzerla. A Cinemateca Brasileira ajudou na restauração de algumas das cópias.
A maioria dos filmes nunca havia sido legendada antes, e um dos trabalhos mais árduos da equipe
da mostra foi traduzir alguns dos títulos selecionados. “Fuk fuk à brasileira”, por exemplo, virou “Fuk
fuk Brazilian style”. Já no caso de “Oh! Rebuceteio”, não foi encontrada uma tradução apropriada.
— O cinema da Boca do Lixo é uma alternativa interessante ao Cinema Novo porque tem mais a ver
com a realidade urbana contemporânea do brasileiro — explica Klinger. — A primeira ideia de
Roterdã era fazer uma mostra sobre o sexo no cinema brasileiro.
Mas aí percebemos que o recorte de filmes da Boca do Lixo era mais interessante, com mais a se
debater. Há obras que exploram o sexo, e outras que mostram a realidade mais triste do brasileiro.
Além disso, é uma maneira de exibir São Paulo no exterior. A imagem mais comum que se tem do
brasileiro internacionalmente é a do Rio, nunca a de São Paulo.
O curioso quanto ao cinema da Boca do Lixo é que sua incessante busca pelo sucesso foi também a
responsável por seu fim — e ainda serve de explicação para o preconceito existente hoje contra parte
daqueles filmes. Durante os anos 1970, alguns de seus cineastas passaram a optar por incluir cenas
de sexo explícito, principalmente após “O Império dos sentidos”, do japonês Nagisa Oshima, ter
recebido autorização para chegar às telas brasileiras a partir de uma medida judicial. Por conta do
polêmico filme japonês, os diretores da Boca descobriram o caminho do sexo e das medidas judiciais.
E conseguiram exibir seus filmes com toda a sacanagem que pudessem imaginar.
A intenção era atrair cada vez mais público. Mas também afastou as famílias das salas e fez com
que o cinema brasileiro ficasse marcado pelos anos seguintes como um cinema baixo, sujo e
apelativo.
— A censura atacava por um lado, e a banda podre da
mídia, por outro. Chamavam todos os nossos filmes de
“porno” alguma coisa. Era pornodrama, pornocomédia,
pornochanchada ou pornoterror. Eu fiz o “Sábado
alucinante” e chamaram de pornodiscoteca — lembra
Cláudio Cunha. — Foi isso que acabou com o nosso
cinema. Nós deixávamos os departamentos de censura
com os filmes retalhados e depois enfrentávamos uma
mídia que nos tratava como marginais.
Agora, após a homenagem em Roterdã, essa história
pode ser revista. Gabe Klinger pretende aproveitar as
“O IMPÉRIO DO DESEJO”(1980)
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novas cópias dos filmes e levar a mostra para outros cantos do mundo, sobretudo para o Brasil. Seria
uma maneira de resgatar um gênero que foi taxado com vários nomes pejorativos. Mas que,
sobretudo, deveria ser lembrado como uma importante escola do cinema brasileiro.
O Globo - Armada brasileira invade a Holanda
(17/1/2012) A seleção dos filmes da Boca do Lixo tem muito a ver com o perfil atual do Festival de
Roterdã, de privilegiar um cinema independente ou feito por diretores estreantes. Tem a ver, ainda,
com o espaço que o festival costuma dar ao cinema brasileiro, sobretudo a uma nova geração de
cineastas que vem ganhando voz há menos de dez anos. Nesta 41aedição do festival, por exemplo,
serão exibidos oito longas-metragens e cinco curtas nacionais. Além disso, a atriz Helena Ignez fará
parte do júri oficial.
Pela mostra competitiva, a principal de Roterdã, estarão na disputa os filmes “Sudoeste”, de Eduardo
Nunes, e “O som ao redor”, de Kléber Mendonça Filho, ambos longas-metragens de estreia de seus
diretores. Estarão em mostras paralelas os também longas “As hiper mulheres”, de Leonardo Sette,
Carlos Fausto e Takuma Kuikuro; “Rânia”, de Roberta Marques; “Febre do Rato”, de Cláudio Assis;
“Girimunho”, de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina; “Rua Aperana 52”, de Júlio Bressane; e
“Histórias que só existem quando lembradas”, de Julia Murat. Já os curtas nacionais selecionados
são: “Ovos de dinossauro na sala de estar”, de Rafael Urban; “Dona Sonia pediu uma arma para seu
vizinho Alcides”, de Gabriel Martins; “Praça Walt Disney”, de Renata Pinheiro e Sergio Oliveira;
“Duelo antes da noite”, de Alice Furtado; e “Dois”, de Thiago Ricarte.
— O público em Roterdã está acostumado a produções que contradizem a percepção comum das
coisas. Os filmes brasileiros que nós exibimos nos anos recentes e os que vamos exibir este ano, por
exemplo, não costumam ser os “filmes de favela” a que todos estão acostumados quando pensam no
Brasil — afirma o holandês Gerwin Tamsma, um dos curadores da mostra A Boca do Lixo e
programador do festival. — São obras que diferem do mecanismo comercial de violência e indignação
moral quanto às classes pobres que faz sucesso em alguns filmes brasileiros. Espero que os
espectadores estejam abertos a todos os tipos de cinema e abertos a novas e diferentes imagens do
Brasil.
Folha de S. Paulo – Usina de Belo Monte é invadida por cineastas
Onda de documentários sobre a região atrai produtoras independentes e universitários
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
(18/1/2012) Se depender do cinema documental, o debate sobre a construção da usina hidrelétrica de
Belo Monte não vai esfriar em 2012.
A começar por um extenso projeto da produtora LC Barreto, a "TV Belo Monte", uma série de filmes
sobre o empreendimento feitos especialmente para a internet.
O projeto é custeado pela Norte Energia, empresa responsável pela construção da usina. Parte dos
filmes já está no ar, no site www.tvbelomonte.com.br.
O lançamento pega embalo na onda de documentários realizados sobre a usina (veja ao lado os
principais projetos). Mas com uma diferença: a TV Belo Monte parece um pouco mais empenhada em
apontar pontos positivos no empreendimento.
A contratação da LC Barreto, a mesma produtora que produziu o filme "Lula, o Filho do Brasil", foi
feita sem concorrência ou licitação -o que não é ilegal, uma vez que a Norte Energia é formada por
um consórcio de empresas públicas e privadas.
A Eletrobras, que é pública, tem 49,98% das ações.
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O contrato, segundo o produtor Daniel Tendler, um dos responsáveis pelo projeto da TV Belo Monte,
deve ser renovado anualmente, até a conclusão das obras da usina.
Tendler afirma que a Norte Energia não exige que os filmes funcionem como peças institucionais.
"Não é para ser a favor ou contra Belo Monte", diz. No entanto, os entrevistados parecem escolhidos
a dedo.
Um deles é José Moreira, 60, pequeno agricultor que terá de deixar sua propriedade em Vitória do
Xingu (PA). "Quero é que esses homens me botem para ir embora."
Ao evitar alguns dos conflitos gerados com a instalação da usina, o projeto vai na contramão de um
movimento criado por documentaristas do mundo inteiro.
Altamira, uma das principais cidades da região à beira do rio Xingu, no Pará, sofre uma invasão de
cineastas.
O diretor americano James Cameron foi um dos primeiros a documentar o conflito na região, para
extras do filme "Avatar".
Hoje, a ONG Xingu Vivo, que tem sede em Altamira, fala em ao menos 15 solicitações de entrevistas
para documentários, feitas por equipes de universitários, produtoras independentes nacionais e
internacionais.
"Muitos documentaristas estão filmando com recursos próprios", atesta Marcelo Salazar, coordenador
do programa Xingu/Terra do Meio, do Instituto Socioambiental.
"Vai ser bom comparar os documentários com a TV Belo Monte, para perceber o discurso ideológico
por trás do empreendimento", diz André D"Élia, diretor do documentário "Belo Monte - Anúncio de
uma Guerra", que ainda não tem previsão de estreia.
D"Élia aponta ainda um fenômeno resultante da veiculação de vídeos na internet -seu projeto foi
custeado com R$ 140 mil depositados por internautas.
Trechos de seu filme lançados no YouTube e no Vimeo, por exemplo, já ganharam versões e edições
que ele não reconhece como suas.
"Mas tudo isso é interessante para alimentar o debate. É um assunto que precisa ser discutido por
todos", diz.
Frases
"Não é para ser a favor ou contra Belo Monte"
DANIEL TENDLER
produtor da TV Belo Monte
"Vai ser bom comparar os documentários com a TV Belo Monte, para perceber o discurso ideológico
por trás do empreendimento"
ANDRÉ D"ÉLIA
Cineasta
O Globo - ‘O artista’ lidera disputa ao Bafta com 12 indicações
Oscar britânico, que sai em fevereiro, seleciona ‘Senna’ para a disputa de melhor documentário
(18/1/2012) Com 12 indicações, “O artista” saiu na frente na disputa pelo Bafta (British Academy Film
Awards), o Oscar britânico. O filme mudo, rodado em preto e branco e dirigido pelo francês Michel
Hazanavicius, teve 12 indicações ao prêmio, que vai ser anunciado no próximo dia 12 de fevereiro,
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enquanto “O espião que sabia demais”, adaptação de um clássico da espionagem de John le Carré
dirigida pelo sueco Tomas Alfredson, teve 11 indicações.
As duas produções disputam também os prêmios de melhor filme, melhor diretor e melhor ator para
os protagonistas Jean Dujardin (“O artista”) e Gary Oldman (“O espião que sabia demais”). Nesta
categoria, estão também George Clooney (“Os descendentes”), Brad Pitt (“O homem que mudou o
jogo”) e Michael Fassbender (“Shame”). Outros indicados ao prêmio de melhor filme foram “Os
descendentes”, “Drive” e “Histórias cruzadas”.
Michelle Williams, interpretando Marilyn Monroe em “Sete dias com Marilyn”, e Meryl Streep, vivendo
a exprimeira- ministra britânica Margaret Thatcher em “A dama de ferro”, estão concorrendo ao
prêmio de melhor atriz do Bafta. As outras indicadas são Tilda Swinton (“Precisamos falar sobre o
Kevin”), Berenice Bejo (“O artista”) e Viola Davis (“Histórias cruzadas”).
Scorsese e Woody Allen
Além de Hazanavicius e Alfredson, a premiação de melhor diretor tem como indicados Martin
Scorsese (“A invenção de Hugo Cabret”), Nicolas Winding Refn (“Drive”) e Lynne Ramsay
(“Precisamos falar sobre o Kevin”). Já Woody Allen viu seu “Meia-noite em Paris” ser indicado ao
prêmio de melhor roteiro original.
O Brasil está presente na premiação, indiretamente, por meio do filme “Senna”, que conta a trajetória
do tricampeão de Fórmula 1. Dirigido pelo inglês Asif Kapadia, “Senna” concorre ao prêmio de melhor
documentário, tendo como rival outro trabalho de Scorsese, “Living in th e material world”, sobre a
vida do ex- Beatle George Harrison. No último domingo, “O artista” foi o grande vencedor do Globo de
Ouro, nos Estados Unidos, faturando três prêmios.
TEATRO E DANÇA
Folha de S. Paulo – Nelson Rodrigues e Shakespeare dominam os espetáculos em 2012
Centenário do brasileiro e obras do dramaturgo inglês inspiram trabalhos que estreiam neste ano
"Hamlet" e "Macbeth" vão ganhar novas montagens; peças de Nelson serão tema de mostra no
Teatro Arena
GUSTAVO FIORATTI, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
(12/01/12) William Shakespeare (1564-1616) se transformou numa espécie de convidado inesperado
ao centenário de Nelson Rodrigues (1912-1980). Ao menos três montagens de peças do autor
britânico se destacam em 2012.
A começar pela investida do diretor mineiro Gabriel Villela, que chamou Ana Paula Arósio e Marcello
Antony para criar uma versão de "Macbeth". A tragédia teve recente montagem com Renata Sorrah e
Daniel Dantas, sob direção de Aderbal Freire-Filho.
Ron Daniels, especialista em Shakespeare -o mesmo que dirigiu Raul Cortez em "Rei Lear" (2000)se dedica hoje ao projeto de dirigir Thiago Lacerda em "Hamlet", com estreia programada para
novembro.
Mas o centenário, afinal, é de Nelson Rodrigues, que terá grande destaque.
Ainda em fevereiro, um projeto de ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet resgata peças como
"Os Sete Gatinhos", com direção de Marco Antônio Braz.
O mesmo programa apresenta ainda uma espécie de colagem de textos com o título "As Noivas de
Nelson".
Em março, Antônio Fagundes volta aos palcos na peça "Vermelho", que tem direção de Jorge Takla
para texto do norte-americano John Logan.
Na peça, o ator interpreta o pintor expressionista Mark Rothko (1903-1970) no momento em que o
artista cria os murais para o restaurante Four Seasons, em Nova York. No espetáculo, Fagundes
contracena com seu próprio filho, Bruno Fagundes.
Dois projetos ainda prometem aquecer o teatro de pesquisa fomentado pelas companhias teatrais de
São Paulo. O Teatro da Vertigem segue lapidando espetáculo sobre o bairro do Bom Retiro.
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E o Club Noir, fundado por Roberto Alvim e Juliana Galdino, se empenha em dois projetos de fôlego:
encenar peças de autores contemporâneos garimpados em oficinas ministradas por Alvim e montar a
obra completa do autor clássico grego Ésquilo.
No circuito dos musicais, destaque para José Mayer interpretando o protagonista da peça "Um
Violinista no Telhado", versão da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, que estreia em São Paulo.
Já Marisa Orth e Daniel Boaventura estão à frente da montagem de "A Família Addams".
Outro espetáculo do gênero que chega a São Paulo é "Tim Maia - Vale Tudo, o Musical", que traz o
neto de Silvio Santos, Tiago Abravanel, no papel do cantor.
Folha de S. Paulo – Musical "Xanadu" vira superprodução em versão brasileira
Miguel Falabella dirige Danielle Winits e Sidney Magal em adaptação de filme de sucesso dos anos
1980
Espetáculo que mistura patins, mitologia grega e disco music estreia amanhã no Rio e chega a São
Paulo em março
LUIZA SOUTO, DO RIO
(12/01/12) Em 1980, Olivia Newton-John e Gene Kelly, que brilharam em musicais hoje clássicos -ela
em "Grease", ele em "Cantando na Chuva" e tantos outros-, protagonizaram o filme "Xanadu", dirigido
por Robert Greenwald.
Agora, a obra chega aos palcos brasileiros, na versão dirigida por Miguel Falabella que estreia
amanhã no Rio.
Antes disso, o filme -cuja trama misturava mitologia grega, disco music e patinação- fora adaptado
com sucesso na Broadway, em 2007.
"A gente dá de dez a zero no deles", diz Sidney Magal à Folha, comparando a versão de Arthur
Xexéo com a norte-americana.
Em seu quarto musical, Magal faz o papel que foi de Kelly no cinema. Ele é Danny Maguire e também
Zeus, que incentiva o jovem pintor Sonny Malone (Thiago Fragoso) a abrir um negócio.
"Quando me lembram disso até acho graça. Ele faz altas coreografias e eu quase recusei porque não
ia conseguir imitar", diz, sorrindo.
"Graças a Deus me livraram dos patins", completa o bem-humorado cantor.
Como ocorria no filme, os outros 13 atores que compõem o espetáculo cantam e dançam sobre
rodinhas.
"Tomei infinitos tombos. Num ensaio derrubei todas as pessoas que estavam fazendo a coreografia.
Eram uns dez atores e levei todo mundo pro chão", diz Fragoso.
Sonny é um artista fracassado e encontra em sua musa, Kira (Danielle Winits), inspiração para achar
seu Xanadu, "o lugar aonde ninguém ousa ir", como diz uma das canções da peça.
Kira é também a musa Clio, enviada do Olimpo para dar uma forcinha ao artista.
"Ele é péssimo pintor. No momento em que ele pensa em se matar, encontra a Kira, e ela o ajuda a
abrir uma 'roller disco'", conta Fragoso.
O espetáculo de Falabella não deve frustrar os que esperam uma superprodução: são mais de 15
cenários, uma centena de figurinos, pássaros robotizados, telões de fibra óptica e ainda um voo de
Winits e Fragoso.
"O da Broadway é bem mais simples. Aqui a exigência está sendo bem maior", afirmou Winits, que,
com este, chega ao oitavo musical.
Folha de S. Paulo – Montagem leva Strindberg aos anos Lula
Alessandra Negrini estrela releitura de peça do autor sueco feita por Walter Lima Jr.
ROSANGELA HONOR, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
(12/01/12) Ano de início do primeiro mandato do ex-presidente brasileiro Lula, 2003 foi escolhido por
Walter Lima Jr. como pano de fundo para uma nova leitura de "Senhorita Júlia", de August Strindberg
(1849-1912), clássico da dramaturgia mundial.
Batizada de "A Propósito de Senhorita Júlia", a montagem, que estreia hoje no Rio, teve ainda como
inspiração "After Miss Julie", em que o inglês Patrick Marber adaptava a trama aos anos 1940.
O espetáculo devolve aos palcos cariocas a atriz Alessandra Negrini, que divide a cena com Armando
Babaioff e Dani Ornellas.
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Encenada no ano que marca o centenário de morte do dramaturgo sueco, a peça discute temas
característicos da obra do autor, como duelo de classes sociais e relação de poder entre homem e
mulher.
"Foi coincidência encenar a peça no centenário de morte de Strindberg. Ela trata de assuntos
permanentes e atuais", diz Lima Jr.
O diretor fez questão de ter Alessandra Negrini no papel central. "Não podia fazer com qualquer uma,
e Alessandra vive sua plenitude como mulher e atriz."
A peça reafirma a bem-sucedida parceria do cineasta de longas premiados, como a "Ostra e o Vento"
e "Inocência", com o teatro.
"Não faço um espetáculo cult. Uso os signos do teatro para mostrar uma visão do Brasil. E me
associei a algumas ideias de Strindberg, que me fascina", afirma o diretor que, assina a adaptação
com José Almino.
Lima Jr. elucida o estranhamento que pode causar a ponte criada entre a obra de Strindberg e o
momento político brasileiro.
"Foi feita uma adaptação na Inglaterra que marcou o momento político inglês, quando os trabalhistas
tomaram o poder. Vivemos uma situação parecida, havia uma aspiração de poder da classe
trabalhadora. Faço parte de uma geração que viu outro Brasil. A subida do Lula tem um significado
enorme."
O encenador afirma que foi difícil transpor a história de Júlia, moça de família rica, rebelde e
transgressora, para os dias atuais, pois o tema poderia perder força.
Na nova versão, Júlia é filha de um deputado federal e se envolve com Moacir, o motorista da casa. O
triângulo se completa com Cristiane, moça séria que também se envolve com o motorista.
Para Negrini, fazer Strindberg exige muito empenho. "Ele é um dos grandes, e o personagem é
trágico", diz.
Assim como Lima Jr., a atriz minimiza a sensualidade exigida pelo papel. "Não é sensualidade, é só
uma maquiagem da coisa. O que move é um desejo de ser amado."
Valor Econômico - A gênese da Vertigem
Por Valmir Santos | Para o Valor, de São Paulo
(13/1/12) A historiografia da cultura brasileira destina
lugar cativo e nada convencional ao Grupo Teatro da
Vertigem, de São Paulo. Nas últimas duas décadas, seus
espetáculos realizados em igrejas, hospitais e presídios,
nem sempre desativados, além da montagem de "BR-3"
(2006), dramaturgia de Bernardo Carvalho, que ocupou
as margens e o leito de um trecho do rio Tietê, encerram
cada um deles um capítulo de fôlego. Os criadores e o
público saíram do conforto da plateia e do palco à
italiana, frontal, e permitiram-se outros desvios e desvãos
no encontro da arte ao vivo em espaços inusitados.
Araújo pratica o "processo colaborativo" nas
artes cênicas: equipe tem tanto poder quanto o
diretor em espetáculos que interagem com o
público, como "BR-3", encenado no rio Tietê
O diretor mineiro Antônio Araújo tinha 26 anos quando
estreou "O Paraíso Perdido", de Sérgio de Carvalho, na
igreja de Santa Ifigênia, no centro paulistano. Foi na noite
de 5 de novembro de 1992, incitando minoria fundamentalista católica que cogitou interromper a
temporada, em vão - o então cardeal-arcebispo d. Paulo Evaristo Arns contornou o conflito.
Araújo e os seus então companheiros de grupo de estudo, a maioria alunos da Universidade de São
Paulo (USP), buscaram inspiração no poema homônimo do inglês John Milton, além de excertos de
William Shakespeare, Jorge Luis Borges, Rilke, T.S. Eliot e de livros bíblicos, entre eles o "Gênesis".
Jamais poderiam imaginar que a investigação sobre a épica do anjo caído e os princípios da
mecânica clássica aplicada ao movimento expressivo do ator abririam um flanco para o tema do
sagrado na conformação de uma trilogia bíblica composta ainda por "O Livro de Jó" (1995), de Luís
Alberto de Abreu, e "Apocalipse 1,11" (2000), de Fernando Bonassi. Traços de um sobrevoo espiritual
a respeito da queda e um rasante sobre a cidade às voltas com suas feridas, a aids e violência
disseminadas, vide o massacre dos 111 presos do extinto Carandiru.
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Atualmente conciliando a condição de professor na graduação e na pós-graduação em artes cênicas,
Araújo tornou-se um dos diretores mais premiados do Brasil, tendo inscrito no vocabulário dos
criadores de sua geração a rubrica "processo colaborativo". Esse modo de criação deseja fazer que
as demais funções do convívio teatral, como ator, autor, cenógrafo, figurinista, diretor de arte, enfim,
emanem igual poder de argumentação e proposição em contraponto à onisciência do diretor.
No semestre passado, em meio aos ensaios do próximo espetáculo, previsto para maio e fruto de
minuciosa pesquisa assentada no bairro do Bom Retiro, Araújo abriu janelas para ministrar cursos em
universidades da França e da Holanda. O Vertigem já o levou a países como Rússia, Alemanha,
Polônia, Venezuela e Chile. Uma exposição em cartaz na Funarte-SP, até março, permite conferir por
que o grupo patrocinado pela Petrobras venceu na categoria melhor realização de uma produção, por
"BR-3", na 12ª Quadrienal de Praga - Design e Espaço da Performance 2011. Em dezembro, às
vésperas de lançar "A Gênese da Vertigem: o Processo de Criação de 'O Paraíso Perdido'" (editora
Perspectiva), desdobramento do mestrado, o diretor fez ao Valor um apanhado das duas décadas.
Valor: Na experiência de criação do novo espetáculo, que aspectos daquele início, 1991, 1992, são
remanescentes nos procedimentos do Teatro da Vertigem?
Antônio Araújo: Algumas coisas permanecem. Como a ideia de um trabalho guiado pela noção de
pesquisa; os processos considerados longos, de quatro, cinco anos de prospecção; o
desenvolvimento do texto com um dramaturgo convidado; as improvisações livres dos atores e os
workshops internos em que cada um comanda cenas mais elaboradas; a valorização do depoimento
pessoal; e a opção de transitar por espaços que não são necessariamente o palco. O Vertigem vem
aprofundando tudo isso em quase duas décadas de inserção na cidade. Nosso último ensaio em
2011 aconteceu justo nas ruas do Bom Retiro, realmente ao ar livre, um pouco do que tinha sido o
espetáculo "BR-3" no Tietê.
Valor: Em relação aos temas, ficou claro, talvez mais a partir do "Jó", uma necessidade de
interpretação do Brasil contemporâneo. Quando o grupo parte para uma criação, como essa do "Bom
Retiro", entra aí uma intenção de ler criticamente o seu tempo?
Araújo: Eu acho que sim. Para mim isso é um dado do teatro. A maneira como o "Paraíso" se deu é
distinta. Isso está mais claro a partir do "Jó". No "Paraíso" isso era sub-reptício. A ideia ali era estudar
juntos. Não tínhamos a intenção de fazer uma peça. Isso só foi se dar lá na frente, depois de vários
meses de trabalho, quando a gente olha aquele material e passa a articulá-lo. Talvez essa
preocupação que você levanta, ela não está como ponto de partida, diferente do "Jó" e de todos os
trabalhos posteriores. Agora, curiosamente, o que "O Paraíso Perdido" provoca como espetáculo, na
sua estreia e depois, essa questão premente do teatro na cidade nos dias de hoje, naquele momento
está colocada. O espetáculo surpreendeu até a gente. Daí a necessidade de falar da aids no "Jó", por
exemplo, quando São Paulo concentrava a dianteira dos casos no Brasil e já era um problema de
saúde pública.
Valor: E na obra que circunscreve o "Bom Retiro", quais são os vetores?
Araújo: O universo do trabalho é uma questão, especificamente o setor têxtil. Outro elemento é a
própria multiculturalidade do bairro. A pesquisa nasceu no Bom Retiro, em diálogo vital com questões
que vieram de lá, então a ideia é fazer o espetáculo lá. A história do bairro, das diferentes correntes
migratórias, isso está ficando menos forte.
Valor: O fato de vocês nascerem como um grupo de estudos inclinado a entender cientificamente a
pesquisa em arte e não necessariamente uma companhia que produz espetáculos - pelo menos não
era um desejo a priori - foi determinante para a inscrição do conceito de "processo colaborativo" na
cultura de teatro no Brasil. Essa é uma derivação da criação coletiva que ganhou força na década de
1970, reação aos contextos histórico e político de ditaduras militares e civis no continente sulamericano. Você concorda que o Vertigem sistematizou e ajudou a disseminar esse caráter
processual da investigação nos campos da interpretação, da dramaturgia e da encenação?
Araújo: Sim. Para isso, o vínculo com a universidade foi decisivo. Diferentemente de quando se pensa
nas trajetórias de personalidades ou grupos como o Oficina de Zé Celso, o Arena do José Renato e o
Antunes Filho, o Vertigem é decorrência muito concreta dessa experiência universitária. A maior parte
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das pessoas se conhece no âmbito da Escola de Comunicações e Artes [ECA-USP]. Elas estudam,
criam, praticam teatro juntas e, claro, quando formadas, esse desejo de continuar permanece e a
ideia de manutenção de um núcleo de estudo é sacramentada. Contracenar com o campo da
universidade não significa limitação, como já ouvi criticarem, e não só o nosso grupo, como se
buscássemos legitimar o trabalho pela vinculação acadêmica. A universidade está em nossa raiz por
formação. Não é uma escola técnica, mas universitária. Esses vínculos se dão mesmo em outras
circunstâncias. Como separar a formação da prática do Antunes no TBC [Teatro Brasileiro de
Comédia]? Aquele acompanhamento que ele fez dos diretores italianos com certeza o marcou.
Valor: Da formação original aos sucessivos espetáculos, nota-se hoje um enxugamento da equipe. É
como se, ao mesmo tempo, o processo tivesse convergindo para a figura do diretor, contrariando um
pouco a noção colaborativa que o Vertigem preconiza.
Araújo: Quando você fala em enxugamento, eu concordo. Não sei se foi natural, até pelo próprio
movimento da vida das pessoas. Mas isso não foi projetado. Hoje, somos cinco pessoas no núcleo
mais constante: o desenhista de luz Guilherme Bonfanti, os atores Roberto Audio e Luciana
Schwinden, a assistente e diretora de cena Eliana Monteiro e eu. Agora, quando eu penso nesse
núcleo de cinco pessoas, ele é muito ativo, muito forte. Não o sinto a reboque, gravitando. Quem de
fato carrega o grupo somos nós. As decisões continuam sendo tomadas democraticamente. Há
ocasiões em que eu perco. Não acho que seja minha palavra, minha voz, e os outros vão atrás. O
grupo é um organismo vivo, tem entradas e saídas decorrentes disso. Se você me perguntar se gostei
de o Matheus [Nachtergaele] ter saído, eu diria não. Outra pessoa que teve pouco tempo com a
gente, o Luís Miranda, tampouco gostaria de ele ter saído. Fica um carinho enorme, um vínculo pela
cumplicidade. Por ocasião do lançamento do livro sobre "O Paraíso Perdido", recebi há pouco um email da Mariana [Lima] em que ela fala quanto a passagem pelo Vertigem foi fundamental na
trajetória dela.
Valor: Os 20 anos do Vertigem coincidem com a ascensão do teatro de grupo no país. Que defeitos e
virtudes você apontaria nessa vertente em termos de produção, de criação e de mobilização por
políticas públicas?
Araújo: É difícil olhar e falar hoje sobre aquilo em que ainda estamos muito mergulhados. Pode até
ser um pouco óbvio, mas no começo dos anos de 1990 essa questão do teatro de grupo enquanto
movimento ainda não estava dada. Você tinha alguns grupos expressivos em atividade, mas não
representavam conjuntamente a força atual. Isso reapareceu de forma mais intensa, ganhou corpo
com presenças artística e política, fazendo que as próprias políticas públicas fossem repensadas e
revistas a partir dessa experiência, caso do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade
de São Paulo. No momento, isso está mais consolidado. Não é nenhuma situação ideal, ao contrário.
O fato de ela estar mais consolidada, curiosamente, e isso é um paradoxo, parece que virou vidraça.
Ou seja, é como se, e às vezes percebo isso num ou noutro comentário, é como se essa presença do
teatro de grupo tivesse se tornado hegemônica. Não sei se isso é correto. Se a gente pensar hoje no
panorama de São Paulo, claro que você tem uma vertente forte, que talvez não tivesse 20 anos atrás,
mas você tem também uma forte concentração de musicais na cidade. E tem outra vertente, a do
"stand-up comedy". Talvez o que tenha perdido força seja o teatro de ator de televisão. E falo isso
sem ser um historiador, puxando um pouco pela memória, e pensando em São Paulo, já que no Rio é
diferente. Mas o fato é que todas essas forças ainda estão em jogo, e de maneira mais complexa.
Valor: Você já foi sondado para trabalhar na televisão ou no cinema?
Araújo: No caso de ator e dramaturgo, isso parece tão evidente. No caso de diretor, eu não sei, sinto
que o universo audiovisual é completamente outro. Quase como se começasse do zero. No caso da
direção, posso estar equivocado, mas me parece outra seara. Eu não sei, meu grande barato são as
artes cênicas. Ao pensar outras coisas, eu penso justamente em dança, em ópera [em 2008 ele
dirigiu "Dido e Enéas", de Henry Purcell]. Engraçado, não penso em cinema e televisão. Não tenho
esse movimento. Não sei se vou ter.
Valor: Já passou pela clássica abordagem do artista de televisão que se dispõe ao desafio de atuar
tendo ao lado um destacado diretor?
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Araújo: Isso aconteceu comigo lá atrás, hoje não mais. Na época do "Jó", do "Apocalipse", recebi
muitos convites para dirigir. Eu até, de certa forma, me arrependo de não ter aceitado alguns deles,
porque eram atores dos quais gostava muito, até já morreram, como o Raul Cortez e o Paulo Autran.
Tinha uma coisa de responsabilidade, mas também de estar envolvido em trabalhos do Vertigem e
sentir que, naquele momento, não podia. Tem a ver também com o meu ritmo biológico, eu sou muito
lento, sou paquidérmico. Talvez o que eu não consiga mesmo é fazer dois processos de criação ao
mesmo tempo.
O Globo - Elba, de volta para o aconchego do teatro
Cantora leva show acústico hoje ao palco do Ginástico, ‘onde tudo começou’
(16/1/2012) Elba Ramalho faz hoje no Rio, às
19h, o show “Acústico e intimista”, como parte
do projeto Som de Verão, do SESC Rio. O
palco é o do Teatro Ginástico, no Centro —
que não poderia ser mais simbólico.
— É uma grande emoção cantar ali, onde
tudo começou — diz ela, que, em 1978, fez
naquele teatro sua entrada em cena, atuando
e cantando na “Ópera do Malandro”, de Chico
Buarque.
show em um espetáculo à parte, no qual canta de Bob Marley
a Cole Porter
A cantora que move multidões com seu
eletrificado baile de carnaval, acena para as
suas origens no teatro, num show
introspectivo, acompanhada por Marcos
Arcanjo (violão e guitarra) e Mestrinho
(sanfona). Nada que a assuste — aliás, ao contrário.
— Eu sempre fiz shows em teatros. O público tem mais cumplicidade comigo e adora. Eu converso
muito, conto histórias e atendo a pedidos de músicas. O roteiro é imprevisível — conta Elba.
“Acústico e intimista” nasceu naturalmente, explica. — Não que eu tivesse decidido montar um show
acústico. É que, no meu show de carreira, já existia um set acústico, que o público ia aplaudindo e
que eu ia ampliando a cada apresentação.
No “Acústico”, Elba canta sucessos como “Gostoso demais”, “Chão de giz”, “Canção da despedida” e
“Banho de cheiro”. Mas também ataca de Quincy Jones (“Miss Celie’s blues (sister)”, da trilha do filme
“A cor púrpura”), Bob Marley (“Is this love”) e Cole Porter (“Every time we say goodbye”). Isso, além
de oferecer surpresas de Cartola e de Roberto Carlos.
— Ainda não defini o roteiro, mas tenho todas na manga — garante ela, que em 2012 festeja os 30
anos de lançamento do LP “Alegria”. — Foi um marco. Meu primeiro disco de ouro, e um sucesso
impressionante com “Bate coração”. Consegui alçar um voo muito alto.
Com uma gravação de “Todo sentimento” incluída na trilha da novela “A vida da gente”, Elba traça os
planos para o ano que se inicia: — Quero muito gravar Chico Buarque. Só me tornei cantora por
intermédio dele, e hoje me sinto com propriedade para cantar suas canções, principalmente as feitas
para o teatro. (S.E.)
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O Globo - Nelson Leirner quer guinada aos 80 anos
O ‘enfant terrible’ da arte brasileira faz aniversário hoje e conta que procura uma ‘quebra’ para a
linearidade de sua obra
O ARTISTA em sua casa, no Jardim Botânico: “Fico me perguntando: como eu posso ser um louco sem ir para o hospício?”
Audrey Furlaneto
(16/1/2012) Nelson Leirner faz 80 anos hoje, mas garante que não se sente mais velho — ao menos
na arte. Dono de uma obra linear, de crítica à sociedade de consumo e à própria definição da arte, ele
ainda diz ser “curioso” o fato de se sentir igual no trabalho, embora “envelhecido socialmente”.
— Eu me sinto mais velho, sim, na vida cotidiana, nas minhas possibilidades de praticar esportes, na
mobilidade, em querer sair, ver gente. Nisso, me sinto hoje muito mais idoso e cansado. Agora, na
arte, não houve mudança nenhuma com o tempo. O que também não sei se é bom — diz,
incomodado. Leirner, que ganhará exposição no Rio e livro sobre seus mais recentes trabalhos, em
setembro, não se sente confortável com a linearidade e diz precisar de “uma guinada”. Nada anormal
para o “enfant terrible” da arte brasileira, que, em 1967, enviou um porco empalhado ao Salão de Arte
Moderna de Brasília e questionou publicamente o júri sobre o que o levou a aceitar sua obra na
mostra.
— Mas o que eu vou fazer? Não sei como guinar. Penso no (artista americano) Frank Stella. De
repente, eu o tenho como meu modelo de pensamento: sempre construtivista, geométrico, e, um dia,
ele começa a fazer baleias! Do geométrico, pulou para baleias, nos anos 1960. Conseguiu esse
rompimento. Artista é muito linear. É difícil ver alguém que consegue guinar. Penso: qual seria a
minha quebra?
A última ideia de quebra foi inspirada em David Hockney, que pinta seus próprios cães. Leirner, dono
do cãozinho Dog, gostou do tema e quis tentar algo novo. Pouco depois, recorria à apropriação, que
usa desde o início da carreira: buscou brinquedos em forma de cães em pet shops e criou a série
“Hot dogs” (“Ou seja, novamente, fiz um trabalho identificado como meu”).
O artista paulista que escolheu o Rio para viver nos anos 1990 já se “apropriou” de miniaturas de
Mickey Mouse, de imagens do candomblé e de superheróis para criar procissões ou reuni-los de
forma a questionar o consumo e a arte. Em 1966, com Wesley Duke Lee e Geraldo de Barros, fundou
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o grupo Rex, que também questionava — com o humor que acompanha as obras de Leirner — o
sistema da arte. — Tenho um problema: venho de uma geração que realmente não tem a mesma
cabeça dessa geração de hoje.
Na de hoje, que, para ele, é formada pelas pessoas nascidas a partir dos anos 1970, “a única
preocupação da arte é a comercialização”. Mas o fato, afirma, não o entristece. Leirner vê o negócio
da arte como uma forma de defesa da sociedade.
— Como se aprende a se defender? Consumindo. Você
desmistifica a arte, acabou. Isso é até bom, faz com que o
jovem se desprenda de querer agradar. Ele pode fazer o que
quer e tudo vai ser consumido. Isso não é bom? Você não
precisa mais ficar preocupado em fazer algo que não vai
vender. Isso é ótimo.
Leirner afirma ainda que, “com toda essa comercialização,
vivemos um momento em que a arte está mais desprendida,
mais solta e mais leve”, mas sempre vai haver “aquele que faz
arte para colocar na parede, para vender”. Ele próprio diz ser
desligado das negociações de seus trabalhos, mas
reconhece: — O artista é um investimento; as galerias sabem
mais de mim do que eu mesmo.
Leirner não deixa de produzir e, mesmo sem foco definido,
volta ao “depósito” (é assim que chama o ateliê que mantém
no mesmo prédio em que vive, no Jardim Botânico) com
frequência para organizar objetos coletados ao longo de anos
pela Saara, no Centro do Rio, pela Rua 25 de Março, em São
Paulo, e por mercados populares do mundo. O colecionismo
não é hobby — daí o fato de ele repetir ultimamente que
precisa de um hobby.
“LIBERTA QUAE SERA TAMEN”
(2009): procissão
— Quero parar de trabalhar na arte, estou cansado. Quero fazer outra coisa, mas não vou ficar
jogando dama como aposentado — diz, rindo. — Essa vida de lazer não combina comigo.
Nos últimos meses, investe em aulas de informática. Anda fascinado com seu computador (“Tem um
brilho, um colorido maravilhoso”). A grande questão aos 80, porém, segue sendo a guinada: — Fico
me perguntando: como eu posso ser um louco sem ir para o hospício? ■
ARTES PLÁSTICAS
Folha de S. Paulo – MAM expõe coleção que salvou museu
Depois de perder seu acervo para a USP nos anos 60, a instituição se reergueu com uma doação de
81 trabalhos
Entre as obras doadas por Carlo Tamagni estão peças de Tarsila do Amaral, Volpi, Lívio Abramo e
Aldo Bonadei
SILAS MARTÍ, DE SÃO PAULO
(12/01/12) Quando decidiu doar sua coleção para a Universidade de São Paulo em 1963, Ciccillo
Matarazzo esvaziou o Museu de Arte Moderna, até então detentor do acervo. Veio depois um limbo
de cinco anos em que o MAM ficou sem obras e sem uma sede.
Conselheiros pressionaram sem sucesso para que fosse anulada a doação de Matarazzo à USP e
chegaram a pedir ajuda a Nelson Rockefeller, do MoMA, em Nova York, para salvar o museu.
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Foi só no fim da década que o MAM se reergueu, quando o conselheiro Carlo Tamagni entregou as
81 peças de sua coleção ao museu ainda sem espaço
definitivo.
Agora, esse acervo, que tem obras de Lívio Abramo, José
Pancetti, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, entre outros, é
exibido junto de documentos, cartas e atas de reunião que
narram o desmanche do MAM e sua retomada.
Também estão expostas obras contemporâneas, que
entraram depois para o acervo, como a performance de Paulo
Bruscky em que um funcionário da casa trabalha o dia todo na
sala expositiva.
“Paisagem”, tela de Tarsila do Amaral feita em
1948 e doada por Carlo Tamagni ao acervo do
"Foi uma operação de reposição, reexibir uma coleção
MAM nos anos 1960
importante, que refundou o MAM", diz Fernando Oliva, um dos
curadores da mostra. "É também criar uma situação de tensão
ou fricção entre essas obras, e não criar uma hierarquia entre trabalhos e arquivo da instituição."
No caso, o arquivo vale como âncora da mostra, já que até hoje não ficou claro o motivo exato que
levou Matarazzo a se desfazer do acervo.
"É esclarecedor que ele tenha tornado a Bienal uma fundação no ano anterior à doação", diz Felipe
Chaimovich, curador do MAM. "Ele perdeu interesse na inércia burocrática do museu e quis focar na
Bienal, que ele via como evento diplomático."
Mas é outra a diplomacia que se estabelece agora entre obras antigas (como uma paisagem prémodernista de Tarsila do Amaral ou um retrato de Volpi que em nada lembra suas bandeirinhas) e
performances como as de Bruscky ou Laura Lima, que põe um palhaço em pleno museu.
Trabalhos contemporâneos se espalham pelo MAM como pontos de tensão contrapostos às peças
dos anos 30 e 40, expostas em enormes painéis giratórios no espaço.
Com isso, a cronologia se perde. Visitantes vão alterando a configuração da mostra ao girar essas
instalações, destruindo e criando vínculos novos entre as obras de forma um tanto aleatória.
É uma estratégia que também reflete a coleção de Tamagni, que juntou suas obras por afinidades
com artistas, entre mais conservadores, como Bonadei e Rebolo, e vanguardistas, como Abramo.
Folha de S. Paulo – Trabalho de Mônica Nador dá sentido à produção da arte
Uma das salas da galeria Luciana Brito, que recebe exposição da
artista Mônica Nador
Crítica artes plásticas
FABIO CYPRIANO, CRÍTICO DA FOLHA
(12/01/2012) Desde 1996, a artista Mônica Nador
realiza um trabalho que deu à sua pintura uma nova
dimensão: abandonou a produção no ateliê protegido e
distante do mundo para colorir as paredes de casas
modestas da periferia.
Não se tratou de um ato paternalista. Nador ensinou
aos moradores dessas casas como utilizar técnicas
como o estêncil (máscaras de papel que permitem pintura seriada), tendo como motivos temas
simples, de objetos de cozinha a animais ou plantas.
Essa proposta ganhou maior consistência quando a artista implantou o Jamac (Jardim Miriam Arte
Clube), em 2004, uma associação na periferia da zona sul da cidade, onde, além da pintura, passou a
promover debates sobre arte e cidadania.
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A exposição em cartaz na galeria Luciana Brito, "Cubo Cor - Mônica Nador [Autoria Compartilhada]",
é uma síntese dessa proposta.
Na sala principal da galeria, a artista e os membros do Jamac usaram as paredes como suporte, da
mesma maneira como pintam as casas.
Em outros espaços, há trabalhos sobre papel e sobre tela. Em todos eles, a repetição de motivos e o
uso elegante de cores é a tônica.
Tal qual a famosa capela do expressionista abstrato Mark Rothko (1903-1970), em Houston, o espaço
da galeria ganha contornos metafísicos, sustentados no uso de cores. Finda a mostra, no entanto, as
paredes novamente retornarão ao branco.
Com isso, Nador alia a tradição da pintura a um exercício colaborativo e conceitual, que coloca em
prática a máxima pregada pelo radical Joseph Beuys: "Todo mundo é um artista". Num circuito
dominado por valores comerciais um tanto discutíveis, a obra de Nador segue dando sentido à
produção da arte.
O Estado de S. Paulo - Coleção de modernos
Tarsila. A paisagem de 1948 foi pintada no ano em que o museu foi criado por Ciccillo
MAM mostra a coleção que deu origem ao acervo do museu, doada pelo industrial Carlo Tamagni
ANTONIO GONÇALVES FILHO
(12/1/2012) Carlo Tamagni (1900-1966) é um nome pouco lembrado, mas sem ele não existiria o
núcleo da coleção do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, que inaugura hoje uma
exposição com as 81 primeiras obras a entrar no acervo da instituição após a decisão de Francisco
(Ciccillo) Matarazzo Sobrinho, então seu presidente, de transferir a coleção original para o Museu de
Arte Contemporânea (MAC), criado em 1963. Tamagni, colecionador e então conselheiro do MAM,
doou sua coleção ao museu e, em 1968, foi organizada uma mostra com as mesmas obras expostas
em O Retorno da Coleção Tamagni, que tem curadoria de Felipe Chaimovich e Fernando Oliva.
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Trata-se de uma coleção irregular, feita de grandes nomes do modernismo, como Tarsila do Amaral e
Di Cavalcanti, e pintores hoje esquecidos, mas nela há lugar para obras boas e raras de mestres
como Volpi, Pancetti e Bonadei. E, graças às estruturas giratórias que servem de suporte às obras,
criadas pelo argentino Nicolás Guagnini (chamadas por ele de "máquina curatorial"), os visitantes
podem reordenar visualmente a mostra. Tamagni teria gostado da ideia, pois sua coleção, antes de
seguir uma linha rígida, foi construída com flexibilidade e de forma afetiva, conforme a intuição do
colecionador, sobre o qual se sabe pouco além de ter sido um antifascista e bem-sucedido
empresário do ramo gráfico.
Tamagni, conde, amigo de trotskistas, inimigo de Mussolini, deixou a Itália nos anos 1930. Ao chegar,
tornou-se próximo dos pintores que gravitavam em torno da Família Artística Paulista, de origem
proletária e italiana. Ele doou a coleção para que o Museu de Arte Moderna, criado em 1948, não
desaparecesse do mapa, depois que Ciccillo Matarazzo, interessado em promover a Bienal, doou seu
acervo (além de sua coleção particular) ao MAC, provocando reações dos conselheiros da instituição
- documentadas com as cartas de protestos originais expostas na mostra. Chaimovich e Oliva, na
tentativa de reconstituir o processo embrionário do MAM e a história da coleção base do museu,
pretendiam fazer a exposição do jeito que ela foi organizada após a morte de Tamagni, em 1968, no
auditório do Banco Nacional de Minas Gerais, na Avenida Paulista (o museu ainda não tinha sede).
Mas o espaço é outro, o tempo idem e essas obras acabam adquirindo outro significado expostas 44
anos depois.
Os curadores Chaimovich e Oliva não queriam tratar as obras como relíquias. Acabaram optando por
um confronto com a produção contemporânea, colocando no mesmo espaço trabalhos de Marcelo
Cidade, Chelpa Ferro, Laura Lima e Fabiano Marques. "Nosso objetivo é refletir sobre o que significa
para o Museu de Arte Moderna de São Paulo possuir um conjunto de obras com este perfil, pensar
sobre sua origem e sua refundação", diz Oliva. "Essa coleção se integra ao museu num momento
traumático, de perda - das obras, de sua sede", completa Chaimovich, concluindo que a "síndrome do
acervo perdido" de que falava o ex-curador do MAM, Tadeu Chiarelli - ou seja, o golpe sofrido com a
transferência de suas obras para o MAC - criou um vazio historiográfico que esta exposição com a
coleção Tamagni pode, eventualmente, ajudar a corrigir.
Qual história recontar a partir dela? Certamente mais de uma. O visitante da exposição verá uma
paisagem de Tarsila de uma época (1948) em que já não mais queria ser modernista, uma marinha
pintada por Volpi em Santos, em 1926, bem antes de se tornar um dos primeiros grandes
construtivistas brasileiros, três boas pinturas do modernista Di Cavalcanti de diferentes períodos
(inclusive dos anos 1920), cinco ótimas obras de Pancetti (entre elas dois desenhos e o óleo Leitura,
de 1944, do mesmo ano que precede sua primeira exposição, em 1945), além de pinturas de Mario
Zanini (do Grupo Santa Helena) e do crítico Sergio Milliet, que catalogou as primeiras doações do
MAM em 1966, ano de sua morte e a de Tamagni.
Uma xilogravura de Lívio Abramo, de 1937, O Vendedor de Palmitos, foi o primeiro trabalho
catalogado do acervo do novo MAM, que finalmente ganharia sua sede sob a marquise do Parque do
Ibirapuera em 1969. A presença de Abramo na coleção de Tamagni comprova seu interesse por
obras artísticas de cunho social, ele que chegou a ser preso, no Rio, durante o Estado Novo, por seu
envolvimento com grupos de esquerda.
Folha de S. Paulo - Milhões em cores
Artista das mais valorizadas do país, Beatriz Milhazes prepara mostra "monumental" em Buenos
Aires, enquanto decora apartamento no Leblon
Mônica Bergamo
(15/1/2012) A artista plástica Beatriz Milhazes, 51, prepara a maior exposição retrospectiva de sua
carreira; em setembro, ela mostra suas obras no Malba, o Museu de Arte Latino-Americana de
Buenos Aires. O espaço será invadido pela luz filtrada dos vitrais berrantes de Beatriz, que serão
instalados em toda a fachada de vidro irregular.
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"Só me interessa o projeto que é
monumental", diz ela à repórter Thais
Bilenky, em seu ateliê no Jardim
Botânico, no Rio. Um andar do museu
será tomado por Milhazes. Deverão estar
lá mais peças do que as 32 que estavam
em sua última grande exposição, na
Pinacoteca do Estado de SP, em 2008.
Naquele ano, seu quadro "O Mágico" foi leiloado por R$ 1,7 milhão na Sotheby's de NY -um recorde
entre artistas brasileiros vivos. Em 2011, perdeu o posto para Adriana Varejão e sua "Parede com
Incisões a la Fontana II", de R$ 2,9 milhões. Mas se superou em junho passado, com "O Moderno",
vendido por R$ 1,8 milhão.
Beatriz gosta de rotina. "Sempre me senti uma operária." Ela usa as manhãs para fazer ginástica e
resolver tarefas administrativas. Almoça ao meio-dia e então se tranca no ateliê até as 19h.
Ela se mudou recentemente para um apartamento no Leblon. Mora sozinha, mas convive com os
rastros de seu ex-marido, o arquiteto Chico Cunha, que decorou a casa. Eles se separaram "não sei
dizer há quanto tempo", depois de dez anos juntos. Não tiveram filhos. Mas o sobrinho Thomaz, filho
de sua única irmã, está espalhado por sua vida. Tem fotos dele na tela do BlackBerry e no ateliê, e
outras "marcas", como a fita crepe que ele colou no teto do estúdio para tampar goteira.
Hoje Chico e ela são "muito amigos" e também parceiros profissionais. Ele trabalha na concepção
dos espaços das exposições dela, cada vez mais ligadas à arquitetura. Beatriz não gosta de falar
sobre relacionamentos. "É uma coisa muito privada."
A artista morava na Gávea antes de se mudar para o Leblon. Era perto do ateliê e ela escapava do
congestionamento. "Mas queria voltar a morar perto da praia. Nasci e me criei em Copacabana." Não
tem animais, mas plantas, que ela mesma rega.
Instalou-se em um prédio dos anos 1940 de formato arredondado. "Era casada com um arquiteto e
não curtia tanto. Mas tá sendo divertido brincar de dona de casa. Eu que trabalho com círculos agora
moro dentro de um."
A mesa de jantar é, claro, redonda, de Sérgio Rodrigues. As paredes são brancas. Os sofás têm as
cores da dona: roxo e mostarda.
"Tenho obras de amigos, como Leda Catunda, Luiz Zerbini e do próprio Chico, mas quase nada meu.
Já convivo o dia inteiro comigo. Cheguei em casa, encerrei o expediente." Raramente sai, para jantar
com amigos. "Nunca gostei de badalação." Gosta de ouvir ópera e Roberto Carlos.
Beatriz começou a pintar com a Geração 80, movimento artístico de vanguarda. Chico, o ex, também
fazia parte. Nos anos 1990, ficou "encantada" pelo estilo barroco. "Adorava novela mexicana." A partir
de 1995, quando expôs nos EUA pela primeira vez, foi ficando mais figurativa e depois abstrata. E
também conhecida por lá.
Ela encontrou a coluna em seu ateliê. Vestia calça social, blusa e cardigan pretos. "Tudo Agnès B",
grife francesa clean. Apenas as sandálias, da italiana Varda, eram vermelhas. Chegou alguns minutos
atrasada. Recolheu correspondências e foi se maquiar. "Filhinha, precisa de alguma coisa?",
perguntou a mãe, Gláucia, que a visitava. Vinte minutos depois, retornou quase que
imperceptivelmente retocada. Deu dicas para a fotógrafa.
"Vou abrir a janela, mas como tá nublado, você vai precisar de luz artificial. Se quiser [foto] em
movimento, vai precisar mudar a lente da câmera." Pediu para não ser fotografada de perfil. "Não é
meu ângulo preferido."
Desde 1995, passa temporadas nos EUA e na Europa. Um investimento "pessoal" que ajudou a
alavancar sua carreira internacional. "Me inspira. Você consegue entender o ambiente. Aqui [no Rio],
se eu faço uma exposição, estou concorrendo, vamos dizer assim, com os artistas brasileiros. Em
27
NY, eu concorro com os artistas do mundo inteiro", diz, num sotaque meio carioca, meio americano,
meio francês.
Agora mesmo está indo a Lisboa, onde abrirá uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, em
fevereiro. Ficará lá uma semana. Depois do evento, viaja para Paris e fica um mês por lá.
Em suas voltas pelo mundo, acabou conquistando colecionadores como Benedikt Taschen, dono da
editora Taschen ("é fiel e tem comprado as obras mais importantes"), e Peter Simon, dono das
marcas Monsoon e Accessorize ("tem todas as minhas gravuras"). Está em coleções como as do
MoMA (NY), Museu Reina Sofia (Madri) e Museu do Século XXI (Japão).
A crise econômica em 2011, para Beatriz, foi só uma marolinha. Vendeu as seis colagens que
produziu no ano, cada uma por 150 mil dólares (R$ 271 mil), além de gravuras. Expôs na Suíça, em
Berlim, em Paris e em Miami.
"Mesmo entre europeus e americanos, não são todos que chegam a esse patamar. O meu recorde
[do quadro "O Mágico"] foi incrível. Abri porta para os latino-americanos. A Adriana [Varejão] fez isso
agora [bateu o recorde nacional], mas não quer dizer que vá manter sempre."
"Interessante é que essa valorização esteja acontecendo. A gente tem como manter esse nível de
qualidade. Mas não é questão só de dinheiro, tá? É uma questão de respeitabilidade pelo que você
faz." A comparação de preços de obras é "horrível", diz ela. "Mas, ao mesmo tempo, entendo porque
infelizmente é através disso que se percebe [o valor do trabalho]."
"Sei que tem artista que se encanta com o outro lado [do sucesso], mas o que eu realmente gosto de
fazer é estar no ateliê. Sou uma artista feita à mão."/ Com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA
MESQUITA e THAIS BILENKY
O Globo - Mostra discute a relação do homem com a máquina
Artistas brasileiros e estrangeiros refletem sobre o tema em ‘High tech/Low tech’, a partir de hoje no
Oi Futuro Flamengo
(16/01/2012) Uma costureira de Taiwan tenta
com dificuldade fazer passar um fio pelo buraco
de uma agulha na máquina de costura de uma
fábrica desativada. O artista Chen Chieh-Jen
registra seu esforço ora em planos muito
fechados, que revelam a mão trêmula e cansada
diante da máquina, ora em planos abertos em
que surgem outras mulheres no mesmo
ambiente industrial desbotado e hostil. O vídeo
de Chen Chieh-Jen, principal nome da arte
contemporânea em seu país, está entre os
vários que discutem a relação do homem (e da
arte) com a máquina na exposição “High
tech/Low tech”, que será aberta hoje, às
19h30m, no Oi Futuro Flamengo.
VÍDEO do artista Chen Chieh-Jen, de Taiwan: ambiente
desbotado e hostil de uma fábrica desativada
Com curadoria de Alfons Hug, que esteve à frente, entre outras, das Bienais de São Paulo de 2002 e
de 2004, a mostra reúne 20 artistas do Brasil e estrangeiros que são destaque pelo mundo. O
taiwanês Chen Chieh-Jen, por exemplo, foi um dos principais nomes da Bienal de Taipei e, para Hug,
é um dos principais nomes da arte asiática.
Para o público, “High Tech/ Low Tech” é a chance de conhecer jovens artistas de diferentes
nacionalidades, como o vietnamita Dinh-Q.Lê. É dele a animação “South China Sea Pishkun”, em que
helicópteros e aviões de guerra despencam no mar, um a um. O trabalho divide uma sala com outros
cinco vídeos. No mesmo ambiente, sons se misturam e criam uma confusão proposital, que parece
lembrar o caos gerado pela intensa mecanização da sociedade.
28
— A ideia é mesmo misturar tudo. Eu poderia fazer cinco cubículos, um para cada vídeo. Mas as
pessoas não gostam daquelas caixas de sapato, e eu gosto dessa convivência que deixa muito
evidente que o artista prefere a situação manual à automatização — explica Hug.
‘Poder e força’
A ANIMAÇÃO “South China Sea Pishkun”, do vietnamita Dinh-Q.Lê:
helicópteros despencando sobre o mar
A maioria das obras tem,
segundo o curador, “mais a ver
com o fracasso da tecnologia, ou
seja, o low tech, no sentido
daquilo que não funciona”. Para
Hug, o que está em permanente
debate nos trabalhos é o conceito
de máquina, que, na Renascença,
por exemplo, surge relacionado a
questões militares e também ao
teatro, com o “Deus ex-maquina,
aquele aparelho invisível que
podia
resolver
a
situação
dramática do espetáculo”. Hug
retoma ainda a raiz da palavra
máquina em sânscrito, magh, que
se poderia traduzir como “poder ou força”.
— A arte contemporânea usa a máquina quebrada, fora de sua função. O artista não é engenheiro e
mostra como a fé cega no mundo moderno e na industrialização se transforma, agora, em
desencanto — avalia o curador.
— A arte contemporânea mostra uma visão mais sombria e, para mim, funciona melhor quando usa
sarcasmo e ironia.
A ironia surge em vídeos como “Standard time” (2007), em que Mark Formanek, da Alemanha, faz
funcionar um relógio com ponteiros de tábuas de madeira — em tempo real, ou seja, a cada minuto
um novo número deve ser construído. Para criticar o excesso de trabalho, o suíço Roman Signer faz
sua cadeira de escritório rodopiar, segurando em cada braço um foguete artesanal.
Entre os brasileiros, estão Vicente de Mello, que assina o imenso painel da fachada do Oi Futuro
Flamengo, e Mariana Manhães, que cria uma instalação de duas máquinas inúteis que parecem
conversar entre si. Estão também Kátia Maciel e André Parente, que apresentam hoje, às 19h, a
performance instalativa “Contorno” (disponível em vídeo na mostra), conjugando desenho,
performance, instalação e vídeo. Kátia e Parente fazem da tela de projeção seu palco e, grudados à
parede branca, vão se contornando com carvão e, à medida que caminham, são substituídos por
projeções de suas próprias imagens.
Sua obra (e o registro em vídeo dela) divide a sala com outros seis trabalhos em que o que está em
jogo é a mecanização, as situações em que o ser humano parece contaminado pela indústria.
Se quase tudo é vídeo ou instalação em “High tech/ Low tech”, a série de fotos da alemã Ricarda
Roggan expõe ambientes secos, monocromáticos. Ela recriou escritórios governamentais da
Alemanha Oriental, com cadeiras, mesas e objetos de edifícios públicos abandonados — sem
nenhuma máquina, sem nenhum ser humano. (A.F.)
Estado de Minas - A caligrafia do corpo
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Alex Flemming cultua o impacto da imagem (Murilo Medina/divulgação)
(17/1/2012) “O corpo humano éo centro do universo. Tudo dele decorre e tudo só vale a pena através
dele”, afirma o artista plástico Alex Flemming, de 57 anos, apontando tema recorrente de sua obra,
desenvolvida há mais de três décadas. Esse paulista mora e trabalha em Berlim, na Alemanha, mas é
presença regular no circuito de arte de Belo Horizonte. Até dia 25, trabalhos dele estarão em cartaz
na Quadrum Galeria de Arte.
A linguagem de Flemming, confrontando imagens estandardizadas e signos, busca extrair desejos,
especulações estéticas, tensões e alegorias do embate entre o verbal e o não verbal. Em Minas,
explica o artista, pode ser vista “mostra de câmara”. Isto é, só com trabalhos “íntimos” (as aspas são
dele), todos em papel.
“Íntimos, porque se trata da caligrafia básica de toda a obra que construí. Nesses desenhos e
colagens, que abrangem trabalhos da década de 1990 ao ano passado, está o cerne de todo o meu
pensamento: o homem como centro do universo, o ser humano como centro do universo”, enfatiza.
As obras, reforça ele, deixam claro o seu modo de trabalho: imagens criadas a partir de superfícies
não tradicionais. No momento, Alex explora desenhos sobre folhas retiradas de livros ou revistas,
impressas industrialmente. Ele se apropria desse material e o transforma.
“Arte é transformação, transubstanciacão, religião, vida. Não existe nada para mim que não seja arte”,
resume. “Escolho as imagens e as acoplo a outras, dando um terceiro – e meu – significadosignificante”, explica. As intervenções sobre o material com letras, sejam elas maiúsculas,
minúsculas, acentuadas, sem acento, cursivas, em itálico, em caixa baixa ou alta, sinalizam a
sedução pelas artes gráficas. Na origem desse gosto está o curso feito na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP, em que um semestre era dedicado apenas ao emprego de letras no desenho
industrial. As criptografias são outra curiosidade de Alex.
O encanto com o mundo das imagens está por trás dos trabalhos apresentados em BH. “Elas sempre
me impactam. Imagem é, exata e luteranamente, o que ela representa: uma imagem. Às vezes, estou
no avião, no barbeiro, no dentista; vendo algo que me interessa, rasgo a página e levo para casa.
Essa imagem fica hibernando, pode ser até alguns anos. De repente, bate um ‘eureka’. Faço isso
também com objetos”, conta. Quem já escreveu sobre Alex Flemming foi o poeta, tradutor e crítico
Haroldo de Campos (1923-2003).
“Conviver com Haroldo foi uma das grandes honras que a vida me proporcionou. Ele era grande,
gênio, absoluto. Aprendi com ele a tentar ter mais cultura. E a perseverar, mesmo tendo muitos
críticos contra, a sempre questionar o bom-mocismo, as boas letras e as boas artes em nosso país,
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onde, infelizmente, cultura vira pastelão de coluna social. Aprendi a ter paciência com os outros, até
porque via a paciência de Haroldo comigo”, conclui. (WS)
ALEX FLEMMING
Desenhos e colagens. Quadrum Galeria de Arte, Avenida Prudente de Moraes, 78, Cidade Jardim,
(31) 3296-4866. De segunda a sexta-feira, das 12h às 19h; sábado, das 10h às 14h. Até dia 25.
Estado de Minas - Litogravura em pauta
Trabalho do artista
(C/Arte/divulgação)
plástico
Fernando
Lucchesi
(17/1/2012) A Galeria Livrobjeto apresenta a
exposição Registros da arte brasileira –
Litogravuras série 2000, com trabalhos de 15
autores que apresentam olhares diversos
sobre a lito. Entre eles estão Amilcar de
Castro, Evandro Jardim, Manfredo de
Souzanetto, Fernando Lucchesi, Marcos
Benjamin, Maria Helena Andrés, Mônica
Sartori e Thaís Helt.
A mostra poderá ser conferida até 29 de
fevereiro, na Avenida Guarapari, 464,
Pampulha. O espaço fica aberto de segunda
a sexta-feira, das 9h às 18h. Informações:
[email protected].
O Globo - Mostra vê múltiplo como obra repetida, mas única
Galeria Anita Schwartz abre hoje ‘A primeira do ano’, com objetos cuja tiragem vai de três a 250
exemplares
Audrey Furlaneto
(18/1/2012) Tudo é único, embora seja fruto de
repetição. Na mostra “A primeira do ano”, que a
galeria Anita Schwartz abre hoje, às 19h, para
convidados e amanhã para o público, há apenas
múltiplos, objetos que são produzidos em escala —
aqui, com tiragem de três a 250 exemplares. São
trabalhos como “Balada”, livro de páginas em branco
em que Nuno Ramos atirou com um revólver. A bala
está incrustada em cada um dos exemplares, mas,
fato, um tiro de revólver nunca é exatamente igual ao
outro.
“SEM TÍTULO” (2011): Ana Holck mostra inédito em
que hexágonos lançam formas semelhantes
no ar
Nuno Ramos criou a célebre “Balada” em 1995,
quando fez 250 exemplares do livro. Hoje, restam
apenas alguns na galeria. Suas páginas amareladas
pelo tempo e rompidas pelo projétil parecem
homenagear o argentino-italiano Lúcio Fontana
(1899-1968).
Trabalhos de 21 artistas
Conhecido por “atacar” a superfície da tela, rompendo o plano bidimensional, Fontana surge em “A
primeira do ano” também no múltiplo de Gustavo Speridião. Na série “Retratos de combatentes”, o
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artista carioca amplia um projeto que iniciou em 2005, com “The great art history” — interferências
nas fotografias do livro “The great Life photographers”.
Em 2005, Speridião escreveu e desenhou sobre cada uma das 608 páginas do livro. Agora, cinco
das interferências foram ampliadas em grande formato para a exposição. Um ator de cinema, por
exemplo, aparece na imagem com a legenda coberta por uma pincelada de tinta preta e, em letras
garrafais, Speridião escreve: Lúcio Fontana. Um soldado do exército passa a ser Angelina Jolie. Um
homem baleado no chão é renomeado como Maiakóvski.
Ao lado das grandes fotos de Speridião, dois balões amarelos estão presos à parede por uma
delicada fita de borracha preta. A obra, “Parecidos” (2007), de Carla Guagliardi, brinca com a própria
ideia do múltiplo, objeto ao mesmo tempo igual e diferente.
Artistas jovens, como Guagliardi e Speridião, dividem
espaço com Abraham Palatnik e Waltercio Caldas. De
Palatnik, a mostra apresenta um trabalho de 2002, em que o
artista usa a técnica de “vacuum forming” (processo de
produção de peças plásticas) para criar superfícies brancas
com relevos. De Waltercio Caldas, há o múltiplo “OH”
(2010), homenagem a Hélio Oiticica.
Já Wagner Morales exibe fotografias de suas projeções em
paisagens, da série “White screen”. Na galeria carioca, em
formato de fotografia quase panorâmica, vê-se um faroeste
projetado na neve.
Fora da parede, “A primeira do ano” apresenta instalação
inédita de Ana Holck. Desdobramento de trabalho que a
“BALADA” (1995): Nuno Ramos usou um
artista mostrou em Londres, a obra parte de um hexágono
revólver para atirar num livro, com tiragem
de concreto na base que parece lançar no ar outros
de 250 exemplares
hexágonos em acrílico vermelho. Para a galerist a Anita
Schwartz, que assina a curadoria da exposição, a mostra, formada por obras de 21 artistas, é uma
resposta à demanda de novos colecionadores, cujos acervos ainda estão em formação.
Trata-se também de atender a uma questão comercial — além de geralmente serem menores e mais
fáceis de armazenar, os múltiplos, por não serem peças exatamente únicas saem mais em conta do
que grandes obras. E, acrescenta Anita, “enriquecem qualquer coleção”.
FOTOGRAFIA
Globo.com - Brasileiro Wilton Júnior ganha Prêmio Rei da Espanha de Fotografia
(12/1/12) Madri, 12 jan (EFE).- O brasileiro Wilton Júnior foi agraciado nesta quinta-feira com o
Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha na categoria Fotografia por uma imagem na qual
a presidente Dilma Rousseff parece ser atravessada por um espada empunhada por um militar que
lhe rende honrarias.
A imagem, clicada durante a cerimônia de entrega de espadins a 441 cadetes da Academia Militar
das Agulhas Negras (Aman), no Rio de Janeiro, foi publicada no jornal 'O Estado de S. Paulo' em 21
de agosto de 2011 e na revista 'Veja' em 31 de agosto.
O júri da 29ª edição dos prêmios, promovidos anualmente pela Agência Efe e pela Agência
Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), 'avalia especialmente a
habilidade do fotógrafo para captar um instante de perfeita sincronização cujo resultado produz
surpresa'.
Wilton de Sousa Junior, de 37 anos, é jornalista há 19 anos e desde 2001 trabalha na sucursal do Rio
de Janeiro do jornal 'O Estado de S. Paulo'.
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O fotógrafo participou de importantes coberturas como a captura dos assassinos do jornalista Tim
Lopes, em setembro de 2002, a passagem da tocha olímpica pelo Rio, em abril de 2004, a visita do
papa Bento XVI à cidade de São Paulo, a Copa América na Venezuela e a Copa do Mundo de 2010
na África do Sul.
Também colaborou com os jornais 'Folha Dirigida', 'Jornal dos Sports' e 'O Dia'.
Em 2003, foi um dos finalistas do Prêmio Ayrton Senna, com uma fotografia intitulada 'Caçada
Urbana'.
O Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha na categoria Fotografia é dotado com 6 mil
euros.
Folha de S. Paulo – Blog retrata moda da rua com fotos e modelos "naturais"
O que o Povão Usa mostra flagrantes de pessoas reais, em fotos sem iluminação artificial ou grifes
caras
"Quando a pessoa não pode comprar muito, se vê obrigada a exercitar a versatilidade", diz criador do
blog
VIVIAN WHITEMAN, DO RIO
(13/01/12) Cansado de sites de moda de rua que parecem editoriais de revistas de luxo? Pois o blog
O que o Povão Usa (colunistas.ig.com.br/oqueopovaousa), criado pelo pernambucano Douglas
Carlos, 22, vai revolucionar sua rota de navegação fashion.
Nada de modeletes, fashionistas e aspirantes a celebridades fotografados em portas de desfiles ou
lojas de grifes sofisticadas.
Nada de fotos montadas, feitas para imitar flagrantes e criar a ilusão de que as ruas são ocupadas
por multidões de pessoas que pagam milhares de euros numa sapatilha ou centenas de dólares
numa sacola de plástico.
"Comecei a fazer as fotos como pesquisa, mas percebi que existia uma criatividade muito grande
naquilo que eu via", diz Douglas, que foi convidado pela primeira vez para cobrir o Fashion Rio.
"Quando a pessoa não pode comprar muito, ela se vê obrigada a exercitar a versatilidade. A maioria
dos blogs de rua simplesmente escolhe ignorar esse fenômeno para repetir os looks de luxo", diz.
No Rio, viu desfiles e circulou pelas ruas cariocas fotografando peças similares em pontos populares
da cidade.
Esse contraponto é a base do blog, que mostra com imagens o diálogo que se estabelece entre rua e
passarela de forma inovadora.
As fotos, às vezes sem foco, mostram gente em movimento, tratando da vida. Não se trata também
do expediente "como usar o que está na passarela gastando menos".
Com sua despretensão, Douglas fotografou o fenômeno da moda em sua essência: as roupas muitas
vezes velhas de guerra dos populares voltam à moda de tempos em tempos, em ciclos.
"Fotografo gente que consome moda, mas não vive para a moda. As referências, mesmo que em
peças mais baratas ou de qualidade inferior, estão lá", analisa.
"Só que aparecem misturadas de uma maneira que os preconceituosos chamam de cafona, sem
perceber a riqueza de ideias", afirma.
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Douglas lamenta que muitos fashionistas endeusem blogs de rua como The Sartorialist e o de Tommy
Ton para o portal Style [ambos usam recursos de luz, priorizam grifes e interferem nos looks],
enquanto tratam a moda popular como cafona e fonte de piadas de mau gosto.
"Quero deixar bem claro que meu blog não faz chacota. Todos os dias surge um Tumblr [sistema de
rede social e microblog] ou alguma comunidade ridicularizando a moda do povo. É grosseria e
burrice, pura falta do que fazer", afirma.
Fã das "tropicalientes" grifes paulistanas Neon e Amapô, Douglas diz que suas andanças e pesquisas
revelaram que a estamparia farta e colorida é a grande rainha da moda popular.
"A estampa conversa com o povo, que as mistura com muita naturalidade. Se a Neon fizesse uma
coleção barata para redes como C&A e Riachuelo, seria um sucesso."
MÚSICA
Correio Braziliense – Festa no terreiro
Clara Nunes ganha homenagem com uma série de shows, vídeos e mesa-redonda
Irlam Rocha Lima
(12/1/2012) Clara Nunes foi a primeira
cantora brasileira a atingir a marca de
300 mil discos vendidos. Ao morrer,
em 2 de abril de 1983, ostentando a
condição de uma das maiores
estrelas da MPB, deixou um legado
de 16 LPs — relançados, no formato
de CD, 14 anos depois —, 230
músicas gravadas e incontáveis
sucessos. Pesquisadora e profunda
conhecedora do folclore, das danças
e das tradições afro-brasileiras e
convertida à umbanda, ela volta a ser
homenageada pela Portela neste ano,
com o samba-enredo Sonho de carnaval.
Antes, porém, ela ganha tributo no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com o projeto Contos de
areia — 70 anos de Clara Nunes. Na abertura hoje (com direito a bis, amanhã), às 21h, vão se
apresentar artistas de diferentes gerações: o veterano cantor e compositor carioca Monarco e a
novata cantora paulistana Verônica Ferriani. A série de seis espetáculos prosseguirá até o dia 29,
sempre de quinta-feira a domingo.
Contos de areia oferece um extenso e variado painel do repertório de Clara, que reúne músicas de
diferentes gêneros e fases, compostas por mestres como Vinicius de Moraes, Cartola, Nelson
Cavaquinho, Candeia, Sivuca, João Nogueira, Chico Buarque, João Bosco e Paulo César Pinheiro. A
canção da qual se originou o título da série, porém, tem a assinatura dos poucos conhecidos Romildo
e Toninho Nascimento.
No sábado e no domingo, sobem ao palco do CCBB as cantoras e compositoras Joyce e Teresa
Cristina. Até o fim de janeiro, virão Délcio Carvalho e Maíra Freitas (19 e 20); Nei Lopes e Nilze
Carvalho (21 e 22); Mariene de Castro e Pedro Miranda (26 e 27); Elton Medeiros e Fabiana Cozza
(28 e 29). Eles serão acompanhados pela banda formada por Luís Filipe de Lima (violão sete cordas,
arranjos e direção musical), Pedro Amorim (bandolim e cavaquinho), Zé Luiz Mia (baixolão),
Alexandre Maionese (flauta), Cláudio Brito, Paulino Dias e Thiago da Serrinha (percussão).
Coisas da antiga
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Em meio aos shows, serão exibidos pequenos vídeos que revelam um mosaico de histórias e
impressões sobre Clara. São pontos de vista de pessoas próximas, como Sérgio Cabral, Adelson
Alves, Guinga, Alcione e Agnaldo Timóteo; dos cantores participantes do projeto e de pessoas
ouvidas na rua. Quem quiser saber mais sobre a homenageada poderá assistir à mesa-redonda, na
próxima semana, com a participação do pesquisador e produtor Hermínio Bello de Carvalho, do
cantor e compositor Nei Lopes e do jornalista Vagner Fernandes (biógrafo da cantora).
Luís Filipe de Lima, que divide a curadoria de Contos de areia com Mônica Ramalho, diz que a ideia
desta maratona musical foi trazê-la para o tempo presente. “Clara permanece viva na memória de
quem acompanhou sua trajetória. Há muitos jovens que conhecem parte do seu repertório por meio
de pesquisa na internet. Nos seis shows da série — cada um com 16 canções —, eles terão uma
noção mais abrangente do que foi deixado por essa grande intérprete”, acredita o músico, que fez
novos arranjos para todas elas.
Do repertório da abertura do projeto, farão parte Jardim da solidão, Rancho da primavera e Vai, amor,
compostas por Monarco — a última em parceria com Walter Rosa. Integrante da Velha Guarda da
Portela, ele conheceu Clara no começo da carreira da cantora. “Fomos apresentados pelo radialista
Adelson Alves, nos corredores da Odeon (atual EMI Music), e nos tornamos amigos. Uma amizade
que se acentuou na Portela. Nos desfiles da escola, ela saía sempre no chão, esbanjando alegria.
Subiu no carro apenas quando ajudou a puxar os sambas-enredos de Ilu Ayê Odara, de 1972, e
Macunaíma, de 1975”, recorda-se Monarco.
Verônica Ferriani revela que o conhecimento sobre o legado de Clara Nunes vem de pesquisas feitas,
ouvindo discos, assistindo a vídeos. “Canto sempre alguns sambas gravados por ela nas rodas de
samba que participo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Clara é uma importante referência para
minha geração.”
Quando vim de Minas (Xangô da Mangueira), Você passa e eu acho graça (Ataulfo Alves e Carlos
Imperial), Guerreira (João Nogueira e Paulo César Pinheiro) e Tristeza pé no chão (Armando
Fernandes) estão entre as músicas que Verônica vai cantar no show. Com Monarco, ela interpretará,
no encerramento do show, Conto de areia (Romildo e Toninho Nascimento) e Portela na avenida
(Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro).
Contos de areia — 70 Anos de Clara Nunes
Show de abertura com Monarco e Verônica Ferriani hoje e amanhã, às 21h, no Centro Cultural Banco
do Brasil (Setor de Clubes Sul). Ingressos: R$ 6 e R$ 3 (meia-entrada para estudantes, professores,
maiores de 60 anos e clientes do Banco do Brasil). Não recomendado para menores de 14 anos.
Informações: 3108-7600.
Correio Braziliense - Maestro equaliza experiências para reger concerto no Teatro Nacional
Nahima Maciel
(12/1/2012) Suzie Matuda Magalhães tem 13 anos e começou a estudar violino aos 5. Na semana
passada, ela veio de Goiânia para participar do 34º Curso Internacional de Verão da Escola de
Música de Brasília. Ela é a mais jovem dos 60 alunos que formam a orquestra do curso. Uma dezena
de fileiras atrás da menina está o trompista Anderson Sabino, 27, formado pela Universidade de
Brasília (UnB) e professor da Escola de Música (EMB). Da trompa do instrumentista, vai sair o
aveludado e triste solo que introduz o segundo movimento da Sinfonia nº 5 de Tchaikovsky, peça
programada para o concerto de encerramento do curso, na próxima semana. Apesar das diferenças
de idade, de experiência e, consequentemente, de maturidade, a música produzida por Suzie e
Sabino será uma só, graças ao trabalho do maestro Ricardo Rocha. Ele tem a responsabilidade de
construir a identidade e a sonoridade para a orquestra, que se apresenta hoje, às 21h, na Sala VillaLobos do Teatro Nacional Claudio Santoro. A entrada é franca e a classificação, livre.
E Rocha tem a magia da batuta. Mágica, no caso, é mesmo algo inexplicável. O maestro não sabe
bem descrevê-la, mas consegue esboçar como as coisas acontecem. “A sonoridade é construída e
regência tem esse mistério. Um bom regente pode pegar uma orquestra ruim e fazer milagre. E um
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regente ruim pode atrapalhar uma orquestra. Ou funciona organicamente ou o músico abaixa a
cortina, fica tocando as notas e nada acontece.”
Na sala de ensaio do Teatro Nacional, alguma coisa acontecia na terça-feira. Podia não estar perfeito
— até o início da semana os músicos nem sequer se conheciam —, mas o solo da trompa
emocionou, os violinos encadearam a bela melodia de Tchaikovsky com entusiasmo e os
contrabaixos atenderam ao pedido para se fazerem mais audíveis. Todos entenderam quando Rocha
avisou: “A trompa é um instrumento divino, vocês sabiam?”. Marcio Telles, 28, aluno de regência e
assistente do maestro durante o curso, percebeu a maleabilidade do conjunto ao reger por alguns
instantes. “A identidade se formou muito rápido. Eles são muito maleáveis e, com poucos dias de
ensaio, responderam bem.”
Sem descanso
O esquema de estudo está estruturado para ocupar ao máximo os alunos. São quatro horas de
ensaio com a orquestra pela manhã, mais quatro de aulas individuais à tarde e uma hora de ensaio
de naipe à noite. Sem descanso, diariamente, até o dia 21. Para Suzie, o mais estimulante é poder
explorar um repertório novo. “É bem emocionante”, diz a menina, que também integra a Orquestra
Jovem de Goiás. “São coisas que, no normal, a gente não faria. Com uma orquestra, tem essa
oportunidade.” Emocionar-se com a experiência orquestral, nada tem a ver com idade. Sabino
encontra a mesma expectativa de Suzie quando se senta na fileira dos metais munido da trompa.
“Não temos muita oportunidade de tocar com orquestra no dia a dia e eu nunca tinha tocado a
Sinfonia nº 5”, conta.
Ricardo Rocha escolheu o repertório de hoje com cuidado pedagógico. Optou pelo Concerto duplo
para violino e violoncelo de Brahms porque podia contar com os solistas Pablo de Léon (violino) e
Raiff Dantas (violoncelo), ambos professores do curso. A Tri kartina, do carioca Nikolai Brucher, 32,
porque representa a jovem música contemporânea produzida no Brasil. A peça ganhou o primeiro
prêmio no Concurso de Composição Claudio Santoro de 2005. Para o concerto de encerramento, na
próxima semana, Rocha programou a Sinfonia nº 5, de Tchaikovsky, e trechos de A flauta mágica, de
Mozart, com participação dos alunos de canto do Curso de Verão. “A ideia foi construir um painel rico
na variedade e com diferentes épocas representadas. O que dá a unidade é essa variedade. Escolhi
a quinta de Tchaikovsky para jogar uma grande sinfonia do repertório ocidental A flauta mágica
porque precisava de outra atividade da música de concerto, no caso a ópera, e o Brucher porque
queria uma música brasileira.”
Trilhas de filme
No Teatro da Escola de Música de Brasília, o programa fica por conta do Fine Brass, grupo de metais
formado por Rodrigo Gontijo (trompete), Bruno Sigilião (trompete), Anderson Sabino (trompa), Tiago
Poty (trombone), Gleysson Costa (trombone) e Matheus Ribeiro (percussão). No repertório, entram
unicamente trilhas de filmes, a maioria clássica, como Superman Theme (John Williams), Peter Gunn
Theme — The Blue Brothers (Henry Mancin) e Phantom of the opera ouverture (Andrew Lloyd
Webber).
O concerto está marcado para as 19h e tem entrada franca.
ORQUESTRA SINFÔNICA
Regência: Ricardo Rocha. Hoje, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Entrada franca.
Classificação indicativa livre.
Folha de S. Paulo – Banda Eddie, de PE, relaxa e amadurece no CD 'Veraneio'
MARCUS PRETO, DE SÃO PAULO
(12/01/12) Quinto e o mais relaxado dos álbuns da banda Eddie, "Veraneio" ganha hoje à noite o
palco do Studio SP.
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Produzido por BiD, o trabalho dos pernambucanos foi lançado no final de 2011. Mas acabou
passando quase batido diante da exuberante produção de seus conterrâneos no segundo semestre.
O show é, portanto, a primeira chance de, ao vivo, reverter essa injustiça.
O Eddie surgiu nos anos 1990, foi estimulado pela explosão do mangue bit, mas ficou menos
conhecido do que contemporâneos como Nação Zumbi e Mundo Livre S/A.
E é aí que "Veraneio" faz diferença. É estimulante notar, nesse quinto capítulo da história, como a
banda conseguiu se livrar do peso de tamanho legado.
Soam menos preocupadas as fusões de frevo e samba com rock, surf music e música eletrônica.
Muito mais divertidas, portanto. Resta saber como vão se comportar em cena, tocadas ao vivo.
Embora o encarte não indique compositores, o álbum traz boas parcerias da banda com Lirinha (exCordel do Fogo Encantado) e Otto.
Pena que, para o show, não estejam programadas as ótimas participações especiais do disco: Karina
Buhr (quase uma integrante do Eddie, já que cantou em quatro dos cinco álbuns deles), Junio Barreto
e o próprio Otto.
Nos dias 20 e 21, sexta e sábado da semana que vem, a banda pode ser vista no Sesc Pompeia,
dentro do projeto Original Olinda Style, coletivo formado com a Orquestra Contemporânea de Olinda.
Mais informações sobre essas apresentações estão em www.sescsp.org.br.
Folha de S. Paulo – Musical "Xanadu" vira superprodução em versão brasileira
Miguel Falabella dirige Danielle Winits e Sidney Magal em adaptação de filme de sucesso dos anos
1980
Espetáculo que mistura patins, mitologia grega e disco music estreia amanhã no Rio e chega a São
Paulo em março
LUIZA SOUTO, DO RIO
(12/01/12) Em 1980, Olivia Newton-John e Gene Kelly, que brilharam em musicais hoje clássicos -ela
em "Grease", ele em "Cantando na Chuva" e tantos outros-, protagonizaram o filme "Xanadu", dirigido
por Robert Greenwald.
Agora, a obra chega aos palcos brasileiros, na versão dirigida por Miguel Falabella que estreia
amanhã no Rio.
Antes disso, o filme -cuja trama misturava mitologia grega, disco music e patinação- fora adaptado
com sucesso na Broadway, em 2007.
"A gente dá de dez a zero no deles", diz Sidney Magal à Folha, comparando a versão de Arthur
Xexéo com a norte-americana.
Em seu quarto musical, Magal faz o papel que foi de Kelly no cinema. Ele é Danny Maguire e também
Zeus, que incentiva o jovem pintor Sonny Malone (Thiago Fragoso) a abrir um negócio.
"Quando me lembram disso até acho graça. Ele faz altas coreografias e eu quase recusei porque não
ia conseguir imitar", diz, sorrindo.
"Graças a Deus me livraram dos patins", completa o bem-humorado cantor.
Como ocorria no filme, os outros 13 atores que compõem o espetáculo cantam e dançam sobre
rodinhas.
"Tomei infinitos tombos. Num ensaio derrubei todas as pessoas que estavam fazendo a coreografia.
Eram uns dez atores e levei todo mundo pro chão", diz Fragoso.
Sonny é um artista fracassado e encontra em sua musa, Kira (Danielle Winits), inspiração para achar
seu Xanadu, "o lugar aonde ninguém ousa ir", como diz uma das canções da peça.
Kira é também a musa Clio, enviada do Olimpo para dar uma forcinha ao artista.
"Ele é péssimo pintor. No momento em que ele pensa em se matar, encontra a Kira, e ela o ajuda a
abrir uma 'roller disco'", conta Fragoso.
O espetáculo de Falabella não deve frustrar os que esperam uma superprodução: são mais de 15
cenários, uma centena de figurinos, pássaros robotizados, telões de fibra óptica e ainda um voo de
Winits e Fragoso.
"O da Broadway é bem mais simples. Aqui a exigência está sendo bem maior", afirmou Winits, que,
com este, chega ao oitavo musical.
Folha de S. Paulo – Banda Eddie, de PE, relaxa e amadurece no CD 'Veraneio'
MARCUS PRETO, DE SÃO PAULO
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(12/01/12) Quinto e o mais relaxado dos álbuns da banda Eddie, "Veraneio" ganha hoje à noite o
palco do Studio SP.
Produzido por BiD, o trabalho dos pernambucanos foi lançado no final de 2011. Mas acabou
passando quase batido diante da exuberante produção de seus conterrâneos no segundo semestre.
O show é, portanto, a primeira chance de, ao vivo, reverter essa injustiça.
O Eddie surgiu nos anos 1990, foi estimulado pela explosão do mangue bit, mas ficou menos
conhecido do que contemporâneos como Nação Zumbi e Mundo Livre S/A.
E é aí que "Veraneio" faz diferença. É estimulante notar, nesse quinto capítulo da história, como a
banda conseguiu se livrar do peso de tamanho legado.
Soam menos preocupadas as fusões de frevo e samba com rock, surf music e música eletrônica.
Muito mais divertidas, portanto. Resta saber como vão se comportar em cena, tocadas ao vivo.
Embora o encarte não indique compositores, o álbum traz boas parcerias da banda com Lirinha (exCordel do Fogo Encantado) e Otto.
Pena que, para o show, não estejam programadas as ótimas participações especiais do disco: Karina
Buhr (quase uma integrante do Eddie, já que cantou em quatro dos cinco álbuns deles), Junio Barreto
e o próprio Otto.
Nos dias 20 e 21, sexta e sábado da semana que vem, a banda pode ser vista no Sesc Pompeia,
dentro do projeto Original Olinda Style, coletivo formado com a Orquestra Contemporânea de Olinda.
Mais informações sobre essas apresentações estão em www.sescsp.org.br.
O Globo - Música brasileira terá dia em sua homenagem em NY
ONG dona de vasto arquivo da MPB planeja shows para a semana de 7 de setembro
Carlos Albuquerque
(12/1/2012) O dia da Independência do Brasil vai virar “independence day”. O próximo 7 de setembro
será lembrado nos Estados Unidos — mais precisamente, em Nova York — como o Dia Mundial da
Música Brasileira. A iniciativa é da ONG americana Arc (Archive of Contemporary Music), um centro
de pesquisa e documentação que reúne, em sua sede, em Manhattan, uma das maiores coleções de
música pop dos EUA, com mais de dois milhões de gravações — em vinil, CD e até fitas cassete —,
sem contar livros, revistas, vídeos, filmes e fotos.
Scorsese e Bowie: consultores
Em parceria com a Universidade de Columbia, os organizadores do Brazil World Music Day
pretendem promover, na semana do evento, shows, seminários e palestras, além de criar um site
com informações sobre artistas de praticamente todos os gêneros, do rock à bossa nova, passando
por forró e eletrônica.
— O interesse pela música brasileira sempre foi constante no exterior. Nunca houve uma queda, e
isso nos motivou a criar essa data — conta Bob George, pesquisador, fundador da Arc e idealizador
do evento, ao lado do brasileiro Beco Dranoff. — Nossa ideia é fazer o máximo de atividades na data,
inclusive shows em Nova York e outras capitais.
Produtor do single “O Superman”, que lançou Laurie Anderson, em 1981, Bob George criou a Arc em
1985, com o mero objetivo de não ter que jogar fora a vasta coleção que havia adquirido ao longo da
vida, principalmente durante o tempo em que foi DJ de rádio.
— Eu tinha cerca de 50 mil discos, a maior parte de soul, hip-hop e rock. Não queria vender aquele
material e vê-lo diluído em sebos ou perdido por aí. E não tinha onde guardá- lo. Como qualquer
apaixonado por música, tenho muito apego pelos meus discos — conta George. — Tentei doar tudo
para algumas instituições, mas nenhuma demonstrou interesse. Aí resolvi criar, eu mesmo, uma
instituição a partir desse material.
Com a ajuda de alguns amigos, George conseguiu dinheiro para alugar um depósito e estabelecer as
bases da Arc. As poucos, esses mesmos amigos — gente ilustre como David Bowie, Lou Reed, Keith
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Richards, Nile Rodgers, Paul Simon e Martin Scorsese — foram doando itens de suas próprias
coleções. Hoje, fazem parte da equipe da Arc, como conselheiros ou consultores.
— A contribuição deles foi incrivelmente valiosa e nos deu o suporte para podermos crescer. Além
disso, eles cederam um material de incrível valor histórico — conta George. — Temos, por exemplo,
uma fantástica coleção de blues, cedida por Keith Richards; a trilha sonora de “Taxi driver”, em vinil,
assinada por Robert De Niro, e uma grande coleção de singles dos primórdios da dance music.
Acervo usado por Hollywood
Por falta de estrutura, os arquivos da Arc não estão totalmente abertos ao público, podendo ser
consultados somente por meio de uma requisição on-line (www.arcmusic.org) ou diretamente no
local.
Mas o material tem sido usado em pesquisas para programas da BBC, HBO, VH1 e CBS, além de
inúmeras produções de Hollywood.
— Contamos com um dedicado time de voluntários, entre eles alguns técnicos, que têm nos ajudado
a catalogar e organizar esse material, e esperamos poder abrir os arquivos totalmente ao público em
breve. A parceria com a Universidade de Columbia tem sido muito valiosa nesse sentido — diz
George.
Contribuições anuais de colecionadores de todo o mundo — EUA e Japão, em particular — têm
aumentado o acervo da Arc, fazendo com que a instituição se torne, cada vez mais, uma referência
na preservação da cultura pop. A Arc possui cerca de 21 mil discos de música brasileira, boa parte
doada por um colecionador de São Paulo durante uma visita de George ao país, no fim de 2011.
— Não há um Ministério da Cultura nos EUA, como existe no Brasil. Não há, portanto, uma política
clara das autoridades sobre a preservação de material cultural, ainda mais de música pop, que muitas
instituições nos EUA consideram, equivocadamente, de pouco valor — diz George. — Corremos o
risco de passar pelo mesmo problema que a indústria cinematográfica passou, há algum tempo,
quando descobriu que muitos filmes produzidos nos anos 50 tinham sido perdidos, por descaso ou
má conservação. Não podemos simplesmente jogar fora o primeiro compacto, em vinil, de Madonna,
ou ficar só com seu arquivo digital em uma nuvem. No futuro, ele vai ter um grande valor histórico.
Folha de S. Paulo – Em seu novo disco, "Avante", Siba surpreende esteticamente
Artista faz retrato autobiográfico do Nordeste guiado por guitarra
LUCAS NOBILE, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
(13/01/12) "Vou passar/ Como um anjo, mudo/ Mirando o alto, rindo/ Preparando o salto/ Deixando
pra trás... tudo."
Com esses versos, Sérgio Veloso, o Siba, termina a faixa de abertura de seu novo disco, "Avante",
que será apresentado nos dias 9 e 10/2, no Sesc Vila Mariana.
Não se trata de esquecer o passado ou de uma ruptura brusca com o que o cantor, compositor e
instrumentista construiu nos trabalhos com a Fuloresta, com Mestre Ambrósio e com Roberto Corrêa.
"Não estou rompendo. A estética do trabalho é diferente, mas o meu jeito de compor, que parte da
poesia, de tudo o que aprendi com o maracatu de baque virado, com os cantadores e os violeiros,
continua o mesmo", diz Siba.
Aos 42, ele, que mora atualmente em São Paulo, sentiu a necessidade de mudar de ares, deixando a
região de Nazaré da Mata (PE), onde viveu por mais de cinco anos.
A travessia pessoal e profissional foi retratada por Caio Jobim e Pablo Francischelli no documentário
"Nos Balés da Tormenta", que deve estrear no Festival de Cinema do Recife.
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Quem aguardava por mais do mesmo se surpreendeu. As 11 faixas foram amarradas por uma
sonoridade surpreendente: um retrato autobiográfico do
Nordeste guiado pela guitarra.
"Quando eu tive certeza do que queria, tive de redescobrir
a guitarra. Discordo de quem pensa que a guitarra torna o
disco moderno", diz. "No Congo, uma influência para mim,
os caras já usavam a guitarra nos anos 1940."
Na construção da estética, ele optou pela formação de um
quarteto, com guitarras e violas (Siba), vibrafone (Antonio
Loureiro), tuba (Leo Gervázio) e bateria (tocada nos
shows por Serginho Machado, que assumiu no lugar de
Samuel Fraga, do disco).
Siba dividiu a produção com Fernando Catatau, que toca
guitarra em "Qasida". O disco ainda conta com Lirinha,
em "Um Verso Preso", e Teco Cardoso (flauta), em
"Canoa Furada", regravação dos tempos de Fuloresta,
que, assim como "A Bagaceira", ganhou nova roupagem.
Correio Brazilliense - Ele é o bom
Luiz Prisco
(15/1/2012) Dono de uma voz marcante que encantou diversas gerações de mocinhas brasileiras,
Jerry Adriani, 64 anos, não parou no tempo. O cantor mostra que está longe da aposentadoria e
apresenta as credenciais do novo CD, Pop, Jerry & Rock, embarcando de vez na onda da internet,
com direito a site e a blog. O eterno galã da Jovem Guarda aposta no pop-rock para continuar
tocando nas rádios do país. O artista, que foi um grande amigo de Raul Seixas, revela ainda uma
certa preocupação com a indústria fonográfica e o caminho que o mercado tomou na era digital.
O que podemos esperar do Pop, Jerry & rock?
É o primeiro trabalho autoral que eu faço. Gravei este disco em mais ou menos um ano, em parceria
com o Reinaldo Arias, autor da melodia de Codinome beija-flor. Entre as músicas que são minhas, há
Rock around the time, uma brincadeira que fiz com Rock around the clock — primeira faixa de
sucesso de Bill Haley. É uma canção que conta a história do rock por meio dos tempos, como um
gênero musical que se colocou como definitivo. Afinal, no começo, ele era tido apenas como um
modismo.
Qual o estilo predominante no CD?
Nesse disco, fui para o lado do pop-rock, na realidade é o rock tradicional com um pouco de pop na
composição. O exemplo disso é a música Papo intelectual: a história de um cara que quer dar uns
amassos na namorada, mas a menina insiste em falar sobre coisas inteligentes e filmes cults. É
divertida e arrojada. Não é só a música, tem a letra também. Tentei colocar algumas coisas bem
atuais, bem 2011. Inclusive fiz um música chamada 2012, que brinca com essa coisa do fim do
mundo, das catástrofes climáticas. É uma coisa meio Discovery Channel sabe? Sinceramente, a
Discovery quer acabar com o mundo de qualquer jeito. Brinco que perguntei para o Tim Maia — que é
um Maia — se o mundo vai acabar mesmo. É uma coisa pop, com uma sonoridade dos 1980, 1970.
Esse é o estilo do Jerry?
Sou musical. Tive várias tendências e várias influências. Tive um momento de música popular
brasileira, que aprendi com meu pai. Depois, tive uma fase de canto lírico. É uma coisa bem variada.
É um pouco como o Freddy Mercury, ele não era só um cantor de rock, tinha uma voz diferenciada,
lírica. Mas é evidente que, como todo o pessoal da minha geração, o rock me influenciou muito.
Quem é sua principal referência?
As pessoas pensam que a minha maior influência vocal foi o Elvis, mas não foi. A grande influência
que tive foi o Roy Orbison. Quando era vocalista dos Rebeldes, minha maior influência vinha dele e
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da sua voz em falsete forte. Na realidade, eu sempre gostei dos cantores com vozeirão, os cantores
negros. Tive várias influências, da música clássica ao rock’n’roll e fui formando essa minha
personalidade artística, que é bem eclética.
E as suas inspirações?
É difícil pensar em alguém que seja minha grande inspiração. Mas eu gostava imensamente do Ray
Charles. Atualmente, gosto muito do Andrea Bocelli. Você pode perceber que são estilos
completamente diferentes, mas me cativam assim mesmo. Por isso que eu falo que sou eclético. Por
incrível que pareça eu também gosto muito do Phil Collins.
E sua relação com o Raul Seixas?
Raul foi um grande amigo, meu compadre. Um cara que tive uma relação muito estreita, um dos
grandes amigos que tive. Uma pessoa que faz muita falta para mim e para a música. Se foi cedo, ele
faz parte de um grupo de artistas que não foi feito para envelhecer, que parece condenado a morrer
cedo. Raul, Renato Russo, Cazuza, Elvis e, agora, Amy Winehouse. Parece que é um desafio, eles
ficam brincando com a vida como se fosse um brinquedo de criança. Artistas consagradíssimos que
tripudiam das regras e, talvez, internamente sintam-se deuses de certa forma. Você não pode abusar
das coisas. É uma coisa estranha, mas acontece.
E com o Renato Russo?
Tínhamos uma ligação bastante limitada. Nos vimos umas seis vezes, no máximo. O pessoal faz essa
associação por conta da voz e de algumas músicas que cantamos.
A industria fonográfica mudou muito nos últimos anos. Como lidar com isso?
A crise do mercado de discos obrigou as gravadoras a pensarem um novo caminho, uma nova forma
de se posicionar, de se colocar. Com o advento da internet, com esse lance da pirataria, a coisa
pesou mesmo, ficou difícil para as gravadoras. O sistema mudou radicalmente. As gravadoras
trabalham, mas elas perderam a força financeira que tinham há 15 ou 20 anos, em função do
faturamento, que caiu bruscamente.
Mas essas mudanças não criam oportunidades?
Tem um lado que acaba sendo muito bom. Os artistas jamais poderiam se autoproduzir na antiga
situação de mercado, na qual a gravadora era senhora absoluta de todas as ações. O artista jamais
poderia pensar em fazer qualquer coisa independente. Hoje em dia, o artista é produtor de si mesmo,
ele pode gravar um disco na casa dele.
Só sobrevive quem tem talento?
Vi artistas do passado morrerem frustrados porque a indústria não queria gravá-los. Uma delas foi a
Elizeth Cardoso, considerada uma das três maiores vozes do Brasil de todos os tempos. O pessoal
até me pediu uma vez para falar com as gravadoras. Mas não queriam e diziam que ela não vendia
discos. Seis meses depois, ela morreu chateada e frustrada por não ter conseguido gravar, mais uma
dessas idiotices do mercado.
Você acredita que é mais fácil se lançar hoje?
O problema não é gravar, a dificuldade é se posicionar no mercado, fazer o trabalho de marketing
adequado. Com a internet, a oferta de artistas ficou grande demais, posicionar-se no mercado ficou
difícil demais. Dentro dessa nova realidade, a gente está tentando descobrir a melhor forma. É muito
difícil para quem está começando. Quem é conhecido é procurado pelo pessoal, mas o novo fica
numa cilada. Ele não tem onde mostrar o trabalho. Quer se lançar de qualquer maneira, mas tem que
dividir com muita gente. Meu filho, que é talentoso, começou, mas já desistiu, está difícil.
Como você avalia o cenário do pop nacional?
Perdeu força, mas não é só no Brasil. É um fenômeno mundial. As coisas são muito mais difíceis e é
complicado você catalisar a atenção das pessoas. Hoje, existe uma profusão de acontecimentos
musicais novos todos os dias. É uma oferta muito grande. Estava conversando isso com o Tico Santa
Cruz esses dias. É preciso uma reação para elevar o pop nacional. Não acabou, mas perdeu força
demais.
Como você recebe a maturidade?
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Nesse CD, fiz a canção Trem da vida, que é uma reflexão sobre a minha vida. Hoje, aos 64 anos, eu,
que comecei aos 17, olho para trás e penso sobre tudo que passou. Você percebe que muitas
pessoas e personagens vão desaparecendo da sua vida. Isso é muito parecido com uma viagem de
trem. É complicado, mas a gente tem que ir se adaptando à vida e aos anos que passam. De vez em
quando, dá um branco na gente, mas é possível dar um jeito.
E a fama de galã?
Sou um ex-galã (risos). Mas confesso que essa imagem de galã me ajudou muito. A imagem é
importante, me deu uma força muito grande. A aparência me ajudou muito, facilitou minha vida em
diversos aspectos. A gente vê hoje essas mulheres que falam comigo contando histórias do tipo
“como eu gostava de você”, “já fugi de casa para ver um show seu”. É impressionante como a gente
marcou a vida dessas pessoas.
O galã quer voltar às telinhas?
Nunca tive pretensão de ser ator. É meio complicado. Para ser ator de novela, você tem que parar
com o outro lado. Olha o Fábio Júnior, por exemplo. Houve uma época em que ele fez novela e ficou
superconhecido, mas teve que parar com a vida de cantor. Essas produções tomam muito tempo, é
complicado. O Jerry cantor é maior que o Jerry ator, mas se pintar a oportunidade em um momento
adequando, eu toparia fazer. Tem que ser em uma época em que eu tenha disponibilidade.
Hoje você tem um site, um blog. Você se modernizou?
Estou usando as ferramentas. Mas quem me ajuda é uma moça que trabalha comigo, Gabriela, e o
meu filho. Nós estamos tentando abrir novas frentes, estamos apenas trabalhando. Mas não diria que
sou um cara supermoderno, mas tento me adaptar, senão você desaparece. Tenho que me adequar
a esse novo momento histórico. Não tem jeito, os artistas têm que buscar novos caminhos para se
inserir no mercado.
O Estado de S. Paulo - Cordas de aço
Inezita Barroso ganha tributo em caixa com discos que comprovam ser dela o nome mais importante
da música regional do País
JULIO MARIA
(14/1/2012) Só sobrou a cabeça do tecladista. E não foi
por falta de aviso. Assim que sentiu cheiro de teclado no
palco, Inezita fechou o tempo. "Mas o que é isso?" "É um
teclado, dona Inezita." Ela sabia o que era um teclado. O
sangue subiu. Ali, nada de teclado, guitarra, baixo elétrico,
bateria. Sanfona? De vez em quando. Nada contra os
músicos, mas Inezita Barroso já havia percebido há
tempos que só fazendo cara de rottweiler para não deixar
a viola sumir do mapa. "É melhor desaparecer com esse
teclado daqui, ou eu desapareço do palco." E, então, um
produtor olhou para quatro pés de café plantados em
umas latas e salvou o programa. "Pode deixar comigo,
dona Inezita." Quem assistiu ao Viola Minha Viola
transmitido direto de Itapira no ano 2000, no interior de
São Paulo, viu Inezita Barroso, Nalva Aguiar, Sérgio Reis
e a ponta da cabeça de um tecladista que tocou o tempo
todo escondido atrás de quatro pés de café.
Guardiã de uma cultura inteira? "Não, eu sou é uma
boba", diz em seu apartamento com jeitão de casa de
campo no bairro de Santa Cecília, centro de São Paulo. Ela olha para a caixa com seus seis primeiros
discos lançados entre 1955 e 1961, com faixas bônus retiradas de discos de 78 rotações que chegam
até 1962, e fica saudosa. "Bons tempos." São álbuns remasterizados, sob assinatura do pesquisador
Rodrigo Faour, com alta qualidade de áudio e alguns caprichos. O encarte traz para cada faixa
comentários generosos da própria Inezita. O primeiro disco funde os álbuns Inezita Barroso, de 1955
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(cinco anos depois de começar sua carreira), com Lá Vem o Brasil, de 1956. Aos 30 anos, em 1955,
Inezita está pronta. Vozeirão, vibrato firme, canta metade das músicas com orquestra regida por
Hervé Cordovil e outra metade com regional. Eram os dois lados de Inezita que iriam surgir antes
mesmo de inventarem a bossa nova, o iê-iê-iê, a Tropicália e Zezé Di Camargo.
Modismos nunca foram generosos com as violas. Quando chegavam era para sufocar mais ritmos
que ela mesma ajudou a catalogar. Chegaram um dia falando em música 'sertaneja' e Inezita, de
novo, fechou o tempo. "Criaram isso porque ficaram com vergonha do termo caipira. Sertanejo é uma
figura do Nordeste, não de São Paulo. Por acaso você vai para o sertão de Jundiaí?" Em seus anos
de Viola, ela viu de tudo. Quando preciso, tirou dinheiro do bolso para trazer caboclos mais humildes
para São Paulo.
Nada que a espante muito. Inezita nasceu em uma casa na Barra Funda em um domingo de
carnaval, enquanto passava em sua porta o Cordão Carnavalesco Camisa Verde. "Nasci ouvindo
marchinha paulista." Aos 7 anos, começou a andar na contramão. Garotinha no meio de barbados,
amigos de seu avô, esperava a chance para sua 'apresentação' na grande casa da Rua Conselheiro
Brotero. O velho a colocou na mesa da sala para cantar para os coronéis que jogavam baralho. E ela
cantou um tango daqueles de letra bem indecente. "Isso é música de cabaré!" Fuzuê armado, tiraram
a menina dali. Uma tia a socorreu: "Não fica triste, vou te arrumar uma professora de violão." Ponto
para a tia.
Mais ou menos. Violão era instrumento de vagabundo, mas era o que ela queria. A mãe sofreu.
Mulher decente tinha que se casar com farmacêutico ou advogado. Nas fazendas da família, as
primas não saíam da casa-grande. Inezita pulava a janela para ver os colonos tocando viola. "Deixa
eu tocar?", pediu. "Mexe com isso não, menina não toca viola." "Ah, deixa?" Jogaram um instrumento
em suas mãos e ela mandou de prima Boi Amarelinho, história triste de fazer peão abrir o berreiro. O
dono da viola não acreditou.
Nos anos 60, montou em um jipe para dirigir até a Paraíba, onde gravaria um filme sobre a Guerra do
Paraguai. No caminho, dirigindo por dois meses, registrava tudo o que via e ouvia. Sem gravador,
escrevia as notas nas pautas musicais. Em Salvador, cismou em testar a tração nas quatro rodas de
seu carro e o colocou para escalar as escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. No Espírito
Santo, quis treinar a pontaria. Pegou a espingarda, mirou em um urubu no céu e pum! O bicho caiu
agonizando ao seu lado. "Nunca mais, meu Deus, que trauma." No interior da Bahia, viu um homem
cantando algo e começou a anotar. Quando estava no meio, parou um caminhão e o motorista quis
saber o que a moça fazia ali. "Esse velho não tá com nada, a senhora tem que ouvir é a Rádio
Nacional do Rio de Janeiro." E aumentou o volume do rádio. Inezita perdeu a segunda parte da
cantiga.
Ao voltar, queria fazer um projeto com toda a riqueza que havia recolhido mundão afora. Bateu em
oito portas diferentes, entre emissoras de rádio e TV. Nenhuma se abriu. Inezita fez uma fogueira e
jogou sobre ela todas as anotações. O violão, ela quebrou. Foi sua única derrota em 86 anos de viola.
O Estado de S. Paulo - Periferia Atômica
Um remix sem parcimônia de todos os
guetos aponta para o futuro musical
ROBERTO NASCIMENTO
(14/01/2012) Cumbia, kuduro, footwork,
reggaeton, grime, funk carioca, kwaito. A
lista de ritmos que interligam a periferia
global é extensa, e nos últimos anos tem
sido recitada toda vez que se descreve a
pluralidade sonora que influencia muitos
produtores
de
música
underground
contemporânea. O fenômeno pode ser
apelidado de World Music 2.0, uma versão
43
para o século 21 da globalização musical que começou a pipocar no jazz e no rock em meados dos
anos 70, quando Miles Davis, Herbie Hancock, Paul Simon, David Byrne e outros começaram a
agregar estilos musicais do Terceiro Mundo às suas composições.
Mas os tempos mudaram. Em 2011, o que já foi restrito à garimpagem de sebos e viagens a lugares
remotos agora está disponível por meio de alguns cliques. Portanto, é cada vez menos surpreendente
que uma dupla de produtores americanos como o Nguzunguzu tenha uma sonoridade baseada na
cumbia colombiana e suas variações sul-americanas. Que o influente DJ Rupture (foto), do Brooklyn,
agregue todas essas tendências em mixtapes, programas de rádio e produções. Que uma onda de
produtores alemães dedique-se ao kuduro, de Angola. Ou que um dos discos mais elogiados do ano
passado tenha sido Eye Contact, do Gang Gang Dance (que esteve no festival Planeta Terra), em
que a banda parte do princípio, anunciado por um dos músicos na primeira faixa do disco, de que
"pode-se ouvir tudo. É hora de tudo".
A frase tornou-se um mantra para jornalistas e músicos em 2011. No caso do Gang Gang, seu
resultado é a concepção de uma psicodélica mistura de rock experimental e ritmos da periferia global.
Mas o que ela representa para os músicos e jornalistas que a citam constantemente é que uma
mistura pouco policiada de música das mais diversas épocas e dos pontos geográficos mais remotos
agora faz sentido.
De Bogotá a Luanda, a Belém do Pará, o som dos guetos que nutre essa prole de músicos e DJs tem
semelhanças, como se fossem sotaques de uma mesma língua. A produção é crua, projetada para
abalar as aparelhagens de som com poucos detalhes. O uso do característico software de afinação
Auto Tune é extenso, e as músicas incorporam elementos que vão do trance ao hip-hop sobre a
pegada rítmica local.
Parte do que instiga quem vasculha a internet atrás dessas vertentes é a forma com que elas
transpiram elementos familiares da música ocidental, do R&B ao house, formando uma re-reciclagem
dos sons que estamos acostumados a ouvir.
Como aponta Simon Reynolds, em um ensaio recente sobre o assunto (que o crítico, incansável
analista do impacto do passado na música contemporânea, chama de xenomania, uma fixação
musical dos países mais desenvolvidos pelo som das periferias estrangeiras), o "impulso de buscar
música exótica que já existe (muitas vezes há décadas, mas nunca esteve no radar de DJs do mundo
ocidental) pode substituir o impulso de buscar o futuro desconhecido, que um dia foi a força motriz da
vanguarda musical do Ocidente". Empenhado nessa busca há mais de uma década está o
cosmopolita DJ Rupture, que atua em diversos fronts, de DJ e produtor a criador de softwares
musicais. Rupture preconizou o canibalismo global pós-internet muito antes de ele virar praxe, com a
eletrizante mixtape Gold Teeth Thief, de 2001 (disponível para download gratuito no site
negrophonic.com). Mescla de ruído com hip-hop e música marroquina, a mixtape antecipou o fetiche
pela periferia que começaria quatro anos depois, quando Diplo popularizou o funk carioca nos discos
de M.I.A, servindo de exemplo para febres que incorporaram o kwaito sul-africano e a cumbia latina
aos beats americanos. Rupture tem um excelente programa quinzenal na rádio WFMU (vários
episódios estão arquivados), que é ouvido por muitos dos interessados nesse safari musical online.
Em sincronia com a agregação de estilos de Rupture está o disco Music From Saharan Cellphones,
que reúne canções obscuras de pop do Oeste africano, retiradas de telefones celulares. O álbum
exemplifica e busca por uma linguagem familiar, porém diferente, que tanto seduz os produtores
atuais.
Correio Braziliense - Musa do samba delicado
Um dos ícones da revitalização da Lapa carioca, a cantora Teresa Cristina comemora 14 anos de
carreira. Em Brasília, ela homenageia Clara Nunes no CCBB
Gabriela de Almeida e Maíra de Deus Brito
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(14/01/2012) “A Lapa está voltando a ser a Lapa/A Lapa confirmando a tradição/A Lapa é o ponto
maior do mapa do Distrito Federal/Salve a Lapa!” Escritos no fim da década de 1940, os versos de
Herivelto Martins e Benedito Lacerda se encaixariam perfeitamente na transformação do Centro do
Rio de Janeiro, do fim do século 20. Sufocada pela repressão do Estado Novo, a Lapa carioca nunca
deixou de lado a boemia. Tanto que, há 14 anos, viu surgir uma cantora que seria o símbolo da
revitalização, Teresa Cristina, que está na cidade hoje e amanhã para participar do projeto Contos de
Areia — 70 Anos de Clara Nunes, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Em 1998, Teresa era casada com o violonista
Bernardo Dantas, que tocava no grupo Acorda Bamba
e ensaiava todos os dias em casa. O contato diário
com a música despertou o gosto pelo meio, que
ganhou um empurrãozinho do destino com o CD
Samba de roda, de Candeia, resgatado por um amigo.
O álbum de 1975 está ligado à infância da carioca,
quando ela o escutava ao lado de seu pai. O
reencontro com Candeia fez com que Teresa virasse
noites sem dormir com “aquilo na cabeça”. “A música
tem esse poder de transportar a gente para qualquer
lugar, qualquer ano. Fiquei atordoada ouvindo aquelas
composições, até que eu tive uma ideia bem louca de
cantá-las. E eu não era cantora nem nada”, lembra.
A regravação da obra de Candeia ocorreu
paralelamente ao surgimento de uma forte amizade
com a Velha Guarda da Portela. Nomes como
Monarco, Tia Surica e Argemiro tiveram um carinho
especial com a menina criada na Vila da Penha, na
Zona Norte do Rio. Foi por causa do Guaracy 7
Cordas, da Velha Guarda, que ela se apresentou pela
primeira vez no Semente. O bar foi o cenário principal
do início da carreira artística de Teresa e batizou o
Grupo Semente, que a acompanhava. “Sem querer, Guaracy mudou a minha vida. Naquela noite, ele
não poderia cantar e me indicou no lugar dele. No começo, não tinha um repertório firme, cantava
músicas do Candeia e sucessos do rádio de Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes. O público gostou
e eu acabei ficando”, conta.
De ex-manicure e ex-funcionária do Detran, Teresa Cristina levou o samba para a Europa, a Ásia, a
América Latina e a África. Na discografia, homenagens e canções autorais em A música de Paulinho
da Viola (2002), O mundo é meu lugar (2005), Delicada (2007) e Melhor assim (2010). Em 2012, a
cantora pretende gravar um CD e um DVD em tributo ao rei Roberto Carlos com a banda Os Outros,
e um disco com músicas do Candeia.
Clara, a diva
Com a cantora Joyce Moreno, Teresa Cristina mergulha hoje e amanhã no projeto Contos de Areia —
70 Anos de Clara Nunes, onde interpreta músicas do repertório da artista mineira, como Novo amor
(Chico Buarque), O mar serenou (Candeia) e Tudo é ilusão (Aníbal Silva, Eden Silva e Tuffi Lauar).
Em um depoimento emocionado, Teresa lembra a homenageada com carinho: “Clara era uma diva,
com o que isso possa ter de melhor. Ela tinha tanta energia concentrada que, quando você vê uma
imagem dela cantando, parece que ela está viva. E mesmo cantando canções tristes, Clara trazia um
alento. Talvez seja isso que a gente sinta falta: a voz dela fazendo um carinho. Poder lembrar dela
desse jeito tão especial e com um projeto só pensando nela é ótimo. Eu homenageio Clara há mais
de 10 anos. Estou sempre cantando alguma coisa que ela já gravou e isso não é inédito. A novidade
é estar em um show específico para ela”.
Ponto a ponto// Teresa Cristina
Lapa
Antes, era difícil chegar à Lapa. Era um lugar muito perigoso e abandonado. Hoje, as pessoas veem a
Lapa como um lugar de música. Ela ter entrado para o cartão-postal da cidade é o pagamento mais
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justo que eu tive por tantos anos trabalhando ali. Isso é uma coisa que ninguém vai me tirar, o orgulho
que eu tenho de vê-la desse jeito.
Velha Guarda da Portela
Ela me ensinou como lidar com as pessoas que vão me ver cantar. Nunca deixei ninguém esperando
um autógrafo, uma presença, porque foi desse jeito que a Velha Guarda me recebeu. Sempre procuro
tratar as pessoas com o maior carinho possível. Esse é o melhor jeito de agir com alguém que gosta
do nosso trabalho.
Paulinho da Viola
A Velha Guarda da Portela fez um show inesquecível em São Cristóvão e o Paulinho era o grande
convidado. O Seu Jair me apresentou a ele e eu tive uma crise de choro ridícula. Não consegui
segurar a onda. Quando preparei o meu CD em homenagem a ele, nos reencontramos e o Paulinho
foi muito bacana: gravou comigo, deu dicas para os arranjos e falou das músicas que gostaria de
ouvir.
Mãe e filha
O sonho da minha mãe, dona Hilda, era ser cantora. Ela nunca tinha me contado isso. Quando
descobri que esse era um desejo dela, passei a chamá-la para cantar comigo. Ela deu canja no
Semente, no Carioca da Gema, no Centro Cultural Carioca. Lorena, minha filha, não precisa ser
cantora, mas quero que ela tenha a música como aliada. Eu vejo a canção como uma grande
companheira.
O Globo - Roberta Sá faz novo disco com atmosfera de carnaval
Cantora deixa o recato de lado em ‘Segunda pele’, no qual realiza sonho de gravar com orquestra de
sopros
(14/1/2012) Nem parece, mas lá se vão quase dez anos
desde que a cantora Roberta Sá debutou para o grande
público no “reality show de calouros” “Fama”. Agora, ao
lançar o seu quarto álbum autoral de estúdio (“Segunda
pele”, que vai para as lojas no dia 24), aquela moça da
TV definitivamente deu lugar à mulher dos palcos.
— Fazer 30 anos é uma maravilha, dá uma liberdade! —
festeja ela, que, aos 31 recém-completados, dá adeus ao
recato e evoca memórias de movimentados carnavais.
— Eu sempre fui bem-humorada, mas não conseguia
mostrar isso no palco. Aí, no finzinho da turnê do meu
DVD (“Pra se ter alegria”, de 2009), comecei a ter vontade de pular com as pessoas, de viver uma
energia diferente daquela do “todo mundo quieto, vamos me ouvir cantar”.
Com canções de antigos colaboradores (o marido, Pedro Luís, Lula Queiroga, Moreno Veloso) e
autores que não havia gravado ainda (Caetano Veloso, João Cavalcanti, Dudu Falcão, Gustavo Ruiz),
“Segunda pele” é um disco que Roberta gosta de resumir nos versos de Rubinho Jacobina na
balançada “Bem a sós”: “Olha todo mundo ao nosso lado / corre para chegar na frente / é nós dois
aqui atrás.”
— Esse disco fala disso, da sensação do primeiro olhar, do primeiro encontro, da sedução. E o
carnaval tem muito essa atmosfera, de beijo na boca, de luxúria — explana.
Roberta vinha do CD “Quando o canto é reza” (2010), todo de canções de Roque Ferreira, no qual foi
acompanhada pelo Trio Madeira Brasil.
— Achei que a gente ia fazer uma turnê curta, um show de teatro, mas fui surpreendida pela reação
do público. Acabamos tocando em praça pública, para 20 mil pessoas, todas cantando e dançando
tudo.
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Depois de ganhar um patrocínio da Natura Musical em edital público, Roberta viu que era a hora de
levar adiante um antigo sonho: um disco com uma orquestra de sopros. Realizou-o com o auxílio do
violonista Rodrigo Campello, produtor de seus dois primeiros discos, que agora volta ao posto em
“Segunda pele”.
— Os limites de orçamento nos obrigavam a ser criativos, mas os processos eram sempre sofridos.
Dessa vez, foi muito confortável — conta.
Mas, por causa do patrocinador, Roberta tinha prazo para acabar o disco. E sofreu para fechar o
repertório.
— Eu queria principalmente que fosse um disco de inéditas, dos meus compositores usuais, mas que
trouxesse novidades — conta ela, que tinha uma certeza: depois do disco de Roque Ferreira, não
queria gravar mais nenhum samba.
Mas, aí, João Cavalcanti, do Casuarina, veio com “O nego e eu”, samba sobre a dama que flerta com
todo mundo, mas depois passa batida, deixando um rastro de perfume.
— O samba é o meu nego, é pra onde eu volto, é a minha zona de conforto — admite.
Roberta mostra “Segunda pele” em uma turnê por dez capitais, “a preços populares”, também com
patrocínio da Natura. Começa em Salvador, no dia 1 de março, e chega ao Rio no dia 10, na
Fundição Progresso.
O Globo - Tulipa e Jeneci, nem efêmeros nem feitos para acabar
Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci tocam no Circo neste sábado, enquanto preparam seus novos discos
(14/1/2012) Ela chamou seu primeiro disco de “Efêmera”, ele
batizou o seu de “Feito pra acabar”. Mas tanto Tulipa Ruiz
quanto Marcelo Jeneci não parecem ter nada de transitório ou
de pouca duração. Dois talentos emergentes da nova MPB, os
cantores e compositores paulistanos se encontram, hoje à
noite, no palco do Circo Voador, em momentos coincidentes
de suas carreiras.
Ambos fecharam o ano passado com breves turnês
internacionais — Tulipa foi para a Europa, Jeneci se
apresentou nos Estados Unidos, com David Byrne na plateia
de um dos shows — e começam a esboçar os sucessores dos
discos que os tornaram conhecidos no ano retrasado.
“Efêmera” foi escolhido um dos discos de 2010 pelos críticos
do GLOBO, sendo incensado também por outras publicações.
“Feito pra acabar” também estava entre os melhores daquele
ano, gerou, pelo menos, dois hits (“Pra sonhar” e “Pense duas
vezes”) e teve uma música (“Felicidade”) incluída na trilha
sonora da novela “Aquele beijo”.
Música inédita
Na apresentação no Circo, uma música inédita,“Dia a dia, lado
a lado”, feita em parceria, vai unir ainda mais os dois artistas, que se apresentam com suas bandas e,
depois, cantam juntos.
— Essa a gente compôs há muito tempo. Nem tínhamos gravado nossos discos. Eu e a Tulipa temos
muitas afinidades, que se estendem, coincidentemente, até nos nomes que demos a esses trabalhos
de estreia — conta Jeneci. — Acho que caminhamos paralelamente, numa mesma direção. E “Dia a
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dia, lado a lado”, de certa forma, profetizou o que aconteceu com a gente no ano passado, desde que
começamos a evoluir.
Em dezembro de 2011, Tulipa viajou pela terceira vez à Europa, nessa ocasião acompanhada por
sua banda, fazendo shows em Paris, Lisboa, Copenhague e Londres.
— Nas outras vezes, fiz shows apenas com voz e violão, o que é interessante porque lidamos com a
essência do nosso trabalho. Mas com a banda completa, claro, é muito melhor — ela diz. — Fica
mais fácil usar a música como idioma nesses lugares.
Por sua vez, Jeneci levou sanfona e banda completa para apresentações, também no fim do ano
passado, em Miami, Washington e Nova York, onde teve o ex-Talking Head David Byrne na plateia.
— Foi uma viagem curta, mas muito proveitosa, que teve o apoio do Itamaraty, o que foi fundamental
para levar a banda toda — conta o músico. — O David Byrne apareceu depois de trocar emails
comigo, dizendo-se interessado no meu trabalho, o que me envaideceu muito. A gente se encontrou
nos camarins e conversou um pouco.
Segundo ele, o show do Circo vai ser, de certa forma, “libertador”.
— Digo isso porque já tenho algumas músicas novas, que venho testando nos shows, e ando meio
ansioso para me libertar desse material que já é conhecido. Apesar disso, não tenho muita pressa.
Levei 28 anos para gravar um disco. Acho que um novo só no começo de 2013. Mas devemos gravar
“Dia a dia, lado a lado” antes disso, talvez como um compacto físico ou somente para download.
Prometendo surpresas para a noite, Tulipa anuncia que o sucessor de “Efêmera” sai ainda neste ano
(“Possivelmente no começo do ano”) e garante que seu show está um pouco diferente daquele visto
pelo público carioca em apresentações anteriores.
— O show foi mudando ao longo do ano passado e hoje está mais pesado, mais heavy mesmo. Juro.
Jornal de Brasília - Resgate da música antiga
Instrumentos utilizados no passado voltam a despertar interesse
(14/1/2012) Você já ouviu falar em fagote, cravo, viola da
gamba e alaúde? Conhecê-los é embarcar em uma viagem
no tempo. Instrumentos de origem antiga, eles estavam
presentes na Idade Média e na sua transição para a Idade
Moderna, o Renascimento, e em diversos estilos artísticos da
época, como o Barroco. Alguns precederam instrumentos
bem conhecidos da atualidade, como o piano e o violão. Com
o crescente movimento de resgate da música antiga, os
instrumentos utilizados no passado voltaram a despertar o
interesse do público.
Prova disso é que eles fazem parte do cronograma de
estudos do 34º Curso Internacional de Verão, da Escola de
Música de Brasília, e atraem estudantes e professores de
várias partes do mundo. É o caso de Luís Maciel. Ele saiu de Portugal para Brasília há sete anos para
estudar o alaúde. “Quando era adolescente ouvi músicas produzidas com este instrumento e fiquei
com aquilo na cabeça por 20 anos”, diz. “Em Portugal não pude estudar o alaúde, mudei minha vida
para isso. Não é nada fácil. É preciso gostar de história para entender”, completa ele.
Para o professor de alaúde Guilher- me Camargo, o interesse pelos instrumentos antigos tem surgido
a partir de suas versões modernas. “O grande movimento de concertos pelo País tem contribuído.
Mas a maioria dos meus alunos que veio do violão abandonou o instrumento e investiu no alaúde”,
conta.
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HISTÓRIA
A viola da gamba também tem seus fãs. O professor belga Liam Fennely começou a estudar o
instrumento há 20 anos e dá aulas na Bélgica e Alemanha. Pela primeira vez no Curso de Verão,
explica como conheceu o instrumento. “A viola da gamba é esquisita. Só que eu venho de uma
família de músicos e acabei estudando a história da música”, conta. Ele diz que, apesar de ela ser
semelhante ao violoncelo, os sons se diferem bastante.
Inventado na Idade Média, o cravo tem mecanismo de produção de som parecido com o do violão e
da guitarra. “O cravo é como o avô do piano e pode ser tocado como instrumento solista, num
conjunto de música de câmara ou orquestra”, ensina o professor paulista Claudio Ribeiro, residente
na Holanda.
Vagner Ferreira Lopes, 31 anos, se apaixonou de cara pelo estranho fagote, um enorme tubo de
madeira, com chaves prateadas. “Entrei na Escola de Música para aprender outro instrumento. No
primeiro dia vi o fagote e não quis mais saber de estudar outra coisa”, relembra. Uma prova de que,
na música, não é a aparência que conta.
Estado de Minas - Retrato da MPB
Kiko Ferreira
Jucilene Buosi está
Noronha/Divulgação)
lançando
seu
segundo
disco
solo
(Túlio
(17/1/2012) Uma boa vantagem de estar longe da pressão
dos grandes centros de produção fonográfica de Rio e
São Paulo é a independência com que se pode conduzir
carreiras, sem panelinhas, falsas tendências ou modinhas
fabricadas. A cantora Jucilene Buosi, uma das artistas
mais importantes do Sul de Minas, exerce esse tipo de
independência, numa trajetória coerente, a maior parte
dela ao lado do companheiro Wolf Borges.
Depois da ousada estreia, com uma visão própria do 1984
de George Orwell, ela se define em Um retrato, disco de
preferências pessoais filtradas por seu canto educado,
que tem um pé na música lírica e outro na experiência em
noites, palcos e festivais. Considerado por ela mesma um
“álbum de retratos”, o CD tem uma concepção bem
mineira. Jucilene selecionou o repertório, o pianista Ravi
Kefi fez os arranjos e os músicos Marco Lobo, Lui
Coimbra e Widor Santiago entraram com peso e talento,
mas com a sonoridade já pensada e definida.
Se o musical 1984 foi um álbum de conceito fechado,
como uma ópera popular, Um retrato funciona como o real
disco tradicional de estreia, já que traz a variedade das seleções afetivas. Daí ter um clássico de
Alceu Valença (Na primeira manhã, em interpretação dramática, quase lembrando Bethânia), um hino
do rock progressivo (Carpet of the sun, do Renaissance) e dois temas de compositoras que são
referência na MPB: Joyce (Duas ou três coisas) e Fátima Guedes (Fraqueza). Ainda no terreno dos
símbolos femininos, ela recupera o poema de Leila Diniz, musicado por Milton Nascimento, que deu
na pouco lembrada Um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco. Milton volta na última
faixa, uma versão sem palavras de Maria, Maria.
Lembrando os tempos áureos dos festivais mineiros, com Pedra de atiradeira, de João Ayres e Binè
Zimmer, a cantora equilibra o cardápio gravando autores do quintal de casa, como Ravi Kefi (Amor
em vão), Marcos Mesquita Filho (Com os amigos), Elder Costa (Se outra paixão, com letra de
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Madhav Bechara) e, claro, Wolf Borges (Eu sei), que divide com ela os vocais de Balango, de
Raimundo Andrade. Outro dueto, com Carlos Lara, traz um clima de opereta, em Eles procuram um
amor. E a porção bossa aparece em Verão, de Dinho Caninana, boa surpresa, deixada para a
penúltima faixa. Em resumo, um disco de MPB como não se faz mais no mainstream.
Cotação: Bom
O Globo - Nara Leão ganha presente antipassado
Isabel Diegues lança site com todos os discos da mãe para evitar que ela seja vista como ‘cantora de
época’
Luiz Fernando Vianna
NARA LEÃO em foto do acervo doado ao Museu da Imagem e
do Som e utilizado na página da internet
(17/1/2012) Foi só no final de 2011, quando a
página www.naraleao.com.br estava praticamente
pronta, que Isabel Diegues percebeu que sua mãe
completaria 70 anos em 19 de janeiro, a próxima
quinta-feira. No ar desde a semana passada, o site
se transformou, então, num presente à memória
de Nara Leão, morta em 1989, com apenas 47
anos.
Um presente especialmente necessário num
momento em que os discos da cantora estão fora
de catálogo e ela só costuma ser lembrada como
“a musa da bossa nova”, embora tenha sido muito
mais.
— As pessoas da geração dela têm uma relação
muito íntima, falam da minha mãe com saudade.
Mas acho que os mais jovens conhecem pouco,
porque as músicas não tocam. Ela passou a ser
vista como uma cantora de época — lamenta
Isabel.
A cineasta e agora editora (da Cobogó) diz não ter esperança de que o site vá “reacender a chama”
e levar as canções novamente ao rádio. Mas o vê como uma porta de entrada para a carreira
diversificada e pioneira da mãe.
Quando a associavam à bossa nova, ela já estava estreando em disco, em 1964, gravando Cartola,
Nelson Cavaquinho, Zé Keti e música de protesto. Foi a principal intérprete do jovem Chico Buarque,
esteve no LP-manifesto do tropicalismo (1968), dedicou todo um disco à obra de Roberto e Erasmo
Carlos em 1978, quando isso ainda não era considerado charmoso. E nunca se acomodou.
— É importante que as pessoas tenham acesso aos discos como eles foram feitos, para entender
que as escolhas que ela fazia não eram aleatórias — afirma Isabel.
O comentário se refere às coletâneas, que se tornaram nos últimos anos a única forma de se ter em
CD gravações de Nara. A Universal, proprietária de todos os discos da cantora, lançou duas caixas
no início da década passada, mas não as manteve em catálogo. Até por isso Isabel optou por botar
as músicas na íntegra no site. Não é possível baixá- las, mas elas podem ser ouvidas em streaming.
Embora não tenha havido consulta formal, a Universal não proibiu. — Não ajudaram, mas não
atrapalharam — brinca ela.
Visual discreto e coerente
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Frederico Coelho fez a pesquisa para a página na internet, que foi desenvolvida pelo escritório 6D.
Tudo foi custeado por Isabel, que deu os primeiros passos na empreitada há três anos e decidiu não
buscar patrocínio. A navegação é simples, havendo cruzamentos entre os tópicos: cronologia, galeria
(fotos e vídeos), discografia (com capas e fichas técnicas), documentos (poucos) e pesquisa
(bibliografia).
O visual é discreto, coerente, portanto, com o jeito de Nara. Sua filha, aliás, preferiu não contar na
cronologia detalhes da doença que abreviou a vida da artista.
— Não tenho nenhum problema quanto a isso, mas ela nunca parou de trabalhar, meteu o pé na
porta e foi. Não faria sentido criar uma situação dramatizada em torno disso — justifica.
Nara teve um coágulo na cabeça descoberto em 1979. O tumor era inoperável, mas ela resistiu por
dez anos, nos quais realizou oito discos e dezenas de shows. Passou por um momento difícil no
início, o que levou Isabel e seu irmão, Francisco, a viverem seis meses com o pai, o cineasta Cacá
Diegues. Na maior parte da década de 1980, no entanto, eles moraram com a mãe.
Isabel tinha 18 anos e Francisco, 17, quando Nara morreu. Pouco depois, em 1990, doaram o acervo
ao Museu da Imagem e do Som. De acordo com a filha, só no ano passado foram iniciadas a
catalogação e a digitalização. Foi o MIS quem forneceu as imagens do site. Há fotos pessoais e de
fases diversas da carreira, inclusive duas com Chico Buarque. Também há um vídeo em que eles
cantam “Dueto”, do compositor. Roberto Menescal e Erasmo Carlos são outros que aparecem
cantando com ela. Se depender de Isabel, o conteúdo da página será gradualmente ampliado.
— É um organismo vivo. O que for aparecendo, podemos incluir — ressalta ela, afastando de si o
papel de dona da obra da mãe. — Não sou pesquisadora nem especialista, apenas a filha.
‘ Não fosse sua iniciativa, os 70 anos de Nara possivelmente passariam em branco. Em 2011, foi
montado o musical “Nara”, apresentado no Rio e em São Paulo.
LIVROS E LITERATURA
Valor Econômico - O nome dele é Maracanã
Por Tom Cardoso | Para o Valor, de São Paulo
(13/1/2012) Nelson Rodrigues revolucionou a crônica
esportiva brasileira. Certo? Não, errado. O próprio
autor de "Vestido de Noiva" reclamaria da dificuldade
de enxergar o óbvio ululante: o pai da moderna crônica
esportiva brasileira é Mario Filho (1908-1966), seu
irmão, menos conhecido, mas igualmente genial. Se
Nelson eternizou o Fla-Flu, Mario o criou. Foi ele quem
descobriu no futebol uma fonte inesgotável de
personagens mitológicos, isso numa época em que o
esporte era noticiado com a emoção de uma partida de
críquete. Mario também escreveu o mais importante
Mario Filho: "Nelson era passional, Mario, racional.
tratado sobre o tema, "O Negro no Futebol Brasileiro"
Se o primeiro era o 'gênio' da família Rodrigues,
(1947), uma obra-prima prefaciada por ninguém menos
Mario era um homem de perfil empreendedor,
que Gilberto Freyre. Se não bastasse, o jornalista,
visionário", afirma biógrafo.
pernambucano de nascimento, é responsável direto
por duas instituições cariocas: o desfile das escolas de samba, criado e idealizado por ele, e o estádio
do Maracanã, que hoje leva o seu nome - a única e grande homenagem a um personagem que
precisa, por obrigação histórica, sair do limbo.
E tudo indica que, em breve, sairá. Vem aí uma biografia sobre Mario Filho. Não se sabe se ela terá o
mesmo impacto que "O Anjo Pornográfico", escrita por Ruy Castro, teve para recuperar o legado de
Nelson Rodrigues, mas, se depender do entusiasmo dos envolvidos no projeto, o livro estará à altura
do biografado. O autor já está com a mão na massa. Mario Neto, filho do jornalista, entregou tudo o
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que guarda sobre o pai para Marcos Eduardo Neves, biógrafo responsável por "Nunca Houve um
Homem Como Heleno", obra sobre a vida do polêmico e trágico Heleno de Freitas (1920-1959), que
vai ganhar as telas este ano, com Rodrigo Santoro vivendo o protagonista. Pela mesma editora da
biografia (Pébola - Casa Editorial) sairá uma antologia composta por sete volumes com crônicas
escritas por Mario, selecionadas pelo pesquisador gaúcho Francisco Michielin.
"Embora reconheça a importância do Nelson Rodrigues para a dramaturgia brasileira e para a crônica
do futebol, creio que dificilmente existirá um jornalista mais importante para o futebol brasileiro do que
Mario Filho", afirma Cesar Oliveira, editor da Pébola. Para Neves, os dois irmãos jamais competiram
um com o outro. Admiravam-se. Completavam-se. "Nelson era passional, Mario, racional. Se o
primeiro era o 'gênio' da família Rodrigues, Mario era o grande executivo, um homem de perfil
empreendedor, visionário", diz o biógrafo. Mas a racionalidade de Mario jamais o transformou num
burocrata. Tinha tanto talento quanto o irmão para escrever crônicas. "Ele trouxe uma linguagem
popular para crônica esportiva. O jeito coloquial de falar da arquibancada, tão explorado por Nelson
em suas crônicas", afirma Neves.
Sujeito de grande eloquência, Mario Filho era uma fazedor de coisas. Hoje seria chamado de
"agitador cultural". Começou cedo. Com 17 anos foi trabalhar no jornal "A Manhã" - seis anos depois
já chefiava, a convite de Roberto Marinho, a editoria de Esportes do jornal "O Globo". Nunca se
limitou a fazer apenas o seu trabalho. Queria sempre mais. No "Mundo Esportivo", por exemplo, o
primeiro jornal dedicado exclusivamente a esportes do Rio, ele idealizou, quem diria, o primeiro
desfile de escolas de samba da cidade, na praça 11. Lembra-se do Torneio Rio-São Paulo? Pois é,
obra de Mario. E a expressão Fla-Flu? E os Jogos da Primavera? E a Manchete Esportiva?
Mas nada dava mais orgulho a Mario do que o Maracanã. Não só apenas pelo estádio levar o seu
nome (ele - o que é raro no país - ganhou a homenagem antes de morrer). Era pelo simples fato de
que o Maracanã não existiria sem o seu poder de persuasão e sua capacidade de aglutinar em torno
de suas ideias pessoas poderosas das mais diversas áreas. Na época, o principal opositor da
construção do estádio era ninguém menos do que Carlos Lacerda, o deputado federal mais influente
do Estado da Guanabara, futuro governador. Lacerda era inimigo político do então prefeito da cidade,
o general Ângelo Mendes de Morais, e defendia a construção do estádio no bucólico e distante bairro
de Jacarepaguá. Lacerda, que não ligava para futebol e duvidava de sua capacidade para atrair
multidões, também achava que o estádio deveria ser menor, com capacidade para, no máximo, 60 mil
pessoas.
Mario Filho bateu o pé. Queria um estádio para 150 mil pessoas e localizado num bairro com fácil
acesso para a população. "Ele mobilizou todo mundo. O Lacerda, por mais poderoso que fosse, não
era páreo para Mario Filho, que mantinha relações estreitas com gente como Roberto Marinho e João
Havelange [presidente da CBD, Confederação Brasileira de Desportos, hoje CBF]", conta Neves.
Ao vencer a queda de braço com Lacerda, explica o biógrafo, Mario Filho acabou transformando o
Maracanã no templo do futebol brasileiro e fortalecendo os clubes cariocas. "Imagine se Lacerda
ganhasse a disputa. Na época, não existia Barra da Tijuca, São Conrado. Até o Leblon era
considerado 'terra de índio'. O Maracanã em Jacarepaguá teria públicos irrisórios e o futebol carioca
não teria o charme que tem hoje."
Para Cesar Oliveira, que teve acesso ao diário inédito de Mario Filho, que será fonte preciosa para o
trabalho biográfico de Neves, o Maracanã poderia ser ainda melhor se o projeto arquitetônico de
Oscar Niemeyer, o favorito de Mario Filho, tivesse sido aprovado. "Era um estádio belíssimo. Seria
novo e revolucionário até hoje", diz.
O que Mario Filho acharia da Copa de 2014 no Brasil? Seria um entusiasta ou um crítico feroz da falta
de transparência em torno das reformas e construção dos estádios? A própria reforma do Maracanã,
sede da final da Copa, custará quase R$ 1 bilhão, 35% acima do valor previsto no início do
planejamento. Segundo Oliveira, Mario foi entusiasta, mas crítico na medida do necessário. Ele lutou,
já na segunda metade dos anos 1940, contra a corrupção. "Nunca deixou de apontar os problemas,
as tentativas espúrias, os erros disfarçando a corrupção, que já comia solta. Cobrava diariamente
pela retidão na construção do estádio do Maracanã", diz o editor. "Se estivesse vivo, certamente
estaria liderando os brasileiros que querem a Copa, mas acha que o País não pode ficar de quatro
para a Fifa, tampouco aceitaria essa farra indecente com o dinheiro público", completa.
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Quando Mario Filho morreu, em 1966, Nelson Rodrigues não teve dúvida em afirmar: "Mario foi tão
grande que deveria ser enterrado no Maracanã".
Correio Braziliense - O poeta e a muiraquitã
Primeiro livro de Roberto Bicelli em mais de 20 anos traz os relatos de uma aventura pelo Norte do
Brasil - e de uma outra viagem, para dentro de si mesmo
Bernardo Scartezini
(14/01/2012) O mais importante em uma viagem
não é o destino. É a própria viagem. Jack
Kerouac bateu a porta de casa, nos anos 1940,
sem saber muito bem onde a estrada iria dar.
Mas quem se importa, não é mesmo? Hit the
road, Jack. Ele podia não saber qual era o
motivo para sair de casa, mas o perceberia ao
encontrá-lo mais adiante.
“Em algum lugar ao longo da estrada eu sei que
haverá garotas, visões e tudo mais; na estrada,
em algum lugar a pérola me será ofertada.”
Essa clássica citação do livro On the road
(1957), o centro gravitacional da geração beatnik que naquele exato momento se fazia reconhecer,
bem poderia ser a epígrafe do poeta paulistano Roberto Bicelli para este seu mais recente volume:
Ego trip — Viajo e celebro a mim mesmo.
Poucas vezes um título e um subtítulo de um livro foram assim tão sinceros e esclarecedores sobre o
que a leitura trará. Verdade que Ego trip pode ser entendido como um relato de viagens, um
subgênero quase sempre autobiográfico que já foi explorado literariamente por autores tão distintos
quanto o alagoano Graciliano Ramos e o americano Paul Theroux. Mas para Roberto Bicelli, como
bem alerta o subtítulo ao viajante mais afoito, mais interessa o efeito interior, subjetivo, que a
paisagem exterior provoca em suas andanças. Viajo e celebro a mim mesmo.
Não seria mesmo de se esperar outra coisa, uma vez que Roberto Bicelli é um autor identificado com
a geração beat dos anos 1950. Membro honorário da geração 1960 de poetas de São Paulo, Bicelli,
ao lado dos parceiros e amigos Roberto Piva (1937-2010), Claudio Willer e Antonio Fernando de
Franceschi, teve parte de sua trajetória recuperada no recente Os dentes da memória (Atrito Art),
saboroso relato de época feito pelas jornalistas Camila Hungria e Renata D’Elia.
Aproveitando o interesse despertado por Os dentes da memória, a editora Livros de Safra manda
ligeiro para as livrarias este Ego trip. Bicelli escreve desde os anos 1960, mas ele sempre privilegiou
as performances e as leituras às publicações. Bicelli em livro, portanto, é algo raro. Encontrar seus
trabalhos anteriores — Antes que eu me esqueça (1977) e O colecionador de palavras (1987) — é
desafio para os arqueólogos dos sebos.
Este Ego trip mesmo correu sério risco de não ser publicado. Apesar de só agora ter sido lançado, o
novo livro de Bicelli, em verdade, não é lá muito novo. Foi escrito ao longo do primeiro semestre de
1983, quando o autor cansou da “vida burra” e subiu de São Paulo até o Nordeste para o carnaval de
Salvador. Dali pra Olinda e pro sertão de Pernambuco. Esticou até Fortaleza, Teresina, São Luís e
passou mais de um mês entre os hippies de Alcântara (MA). Viajou para Belém e só foi parar na Ilha
de Marajó.
Se Jack Kerouac queria conhecer a América rumo ao Oeste, o vento de Bicelli soprou para o norte do
Brasil. A “pérola” que Kerouac esperava que lhe ofertassem, Bicelli foi procurar em Marajó no formato
da muiraquitã, um amuleto dos índios tapajós apresentado à literatura brasileira por Mario de Andrade
em Macunaíma (1928).
53
Maleita
Mas não tem muiraquitã que dê jeito nisto — este poeta é bicho urbano. Roberto Bicelli reconhece
sua natureza e fez de sua viagem a um outro Brasil menos um exercício de antropologia que um novo
aprendizado sobre si mesmo. Era hora de sentir debaixo dos pés aquilo que aprendera/desaprendera
nas aulas do colégio.
“Desde criança divagava nas aulas de geografia por essa fantasia: pegar maleita no Rio Purus.”
Ego trip não tem uma narrativa convencional. Antes de contar a historinha de uma viagem, o livro
reproduz o formato quase aleatório e mesmo um tanto caótico de um diário escrito ao sabor do
momento. Pense naqueles escritos soltos de Julio Cortázar em Volta ao dia em 80 mundos (1967) e
Último round (1969).
Ego trip traz impressões diversas, rompantes confessionais, aforismos de maior ou menor eficácia,
certa crônica do desbunde dos anos 1970, citações mil de outros autores (de Federico Fellini a
Rogério Sganzerla), além de poemas feitos em guardanapos de papel e de cartas escritas para ou
recebidas de namoradas & amigos (como Roberto Piva e Pedro Nava). Se o livro às vezes se perde
nas citações pessoais feitas por Bicelli de gente que não conhecemos, e se às vezes se perde nas
private jokes lá deles, nas piadinhas, pode-se entender que é parte do risco que Bicelli aceitou correr
ao fazer Ego trip desse jeito.
Esta é uma viagem (também) ao redor do próprio umbigo, e isso Bicelli jamais negou. E aí caberá a ti,
leitor, embarcar ou não nessa viagem tão pessoal — ou pular pro dia seguinte, simplesmente passar
a página e ir adiante. Faz parte do jogo.
“Tenho uma imensa preguiça de escrever: tudo me parece perfeitamente inútil”, dá-se conta Bicelli,
de repente, em pleno sertão de Pernambuco a esperar uma chuva que não chega.
Mas como o sertanejo que insiste em procurar algum traço de nuvem no céu azul, o poeta volta aos
seus textos (volta a este livro) a cada dia, como num exercício. E como em qualquer outro tipo de
exercício, às vezes falha, outras vezes dá certo...
“Ontem tomei um ponto vermelho que me deram em Olinda e resvalei pelo mundo mágico. As portas
da percepção se abrindo. Além de algumas coisas muito pessoais, pude sentir/ver melhor a beleza
desta paisagem. Os leitos secos dos córregos desvendando pedras que na verdade são esqueletos
de antiquíssimos habitantes; misturados animais e homens. Espinha dorsal do tempo. A nítida
percepção que quero desfazer-me (corpo e alma) dessa maneira: apodrecer e petrificar-me num leito
seco de rio; nas areias de uma praia deserta. Continuar participando como mineral do mistério
cósmico.”
Às vezes dá certo, outras vezes falha. E aí Bicelli tem a fineza de nos alertar que, no caso de
tentarmos escrever qualquer coisa sob efeito da mescalina, mais prudente seria usar de um gravador
para registrar as ideias. Pois a caligrafia fica seriamente prejudicada pelos efeitos da droga — e o
caderno ganha garranchos que serão completamente incompreensíveis no dia seguinte. Obrigado
pelo aviso.
Como ocorria volta e meia a seus amigos beatniks, Roberto Bicelli chega a pensar em largar a urbe
para sempre e se lançar numa nova vida de bom selvagem. Como Thoreau no Lago de Walden...
Mas ele volta de avião para São Paulo quando os cobres apertam.
“A mim bastariam uma tenda aquecida, limpa, confortavelmente forrada de tapetes persas, o rio e o
mar para pescar, um pouco de caça e a poesia. Parece besteira escrever isso, parece ingenuidade, e
é... Mas é a pura verdade.”
Sim, Bicelli, parece ingênuo. E é. Mas talvez seja exatamente por isso que Ego trip tenha sua razão
de existir cá neste mundo tão cínico.
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O Globo - Livro revê 30 anos da delicada arte da pintora Cristina Canale
Artista, que vive em Berlim, virá ao Rio em abril para autógrafos e exposição
Audrey Furlaneto
(14/1/2012) Quando começou a estudar no
Parque Lage, Cristina Canale lembra que ainda
procurava uma linguagem. Tinha 18 anos e seu
trabalho era “algo estudantil”. Hoje, aos 50 anos,
com linguagem consistente, ela diz que pode ver
o caminho que percorreu “dentro de um
pacotinho” — trata-se do livro que leva seu nome
e que acaba de ser publicado pela Barléu,
assinado por Fernando Cocchiarale.
Cristina, que mora em Berlim desde os anos
1990, virá ao Rio em abril autografar o livro e
abrir individual na galeria Silvia Cintra + Box 4.
Em São Paulo, a galeria Nara Roesler
promoverá, para o lançamento da obra, um
debate com o curador Agnaldo Farias.
ENTRE AS OBRAS de seu ateliê, em Berlim: Cristina
prepara novas telas para mostrar na galeria Silvia
Cintra
No livro, é Cocchiarale quem escreve o texto principal, que refaz a trajetória de Cristina. Ele também
selecionou imagens de cem trabalhos dela e criou uma compilação de textos de outros curadores,
como Luiz Camillo Osorio.
Paisagens líquidas
Cocchiarale escreve que “Cristina Canale não poderia supor que se tornaria uma das pintoras mais
importantes do Brasil”. Ela, de fato, talvez não soubesse. Cursou Economia na PUC ( “sem qualquer
entusiasmo”, ainda segundo o curador), fez dança clássica e moderna, aventurou- se no cinema e
experimentou o desenho, antes da pintura. Em 1984, já formada na Escola de Artes Visuais do
Parque Lage, participou da emblemática exposição “Como vai você, Geração 80?”. Quase 30 anos se
passaram desde então, e as obras de Cristina estão em importantes coleções, como as de João
Sattamini e Gilberto Chateaubriand, e no acervo da Pinacoteca de São Paulo.
— Comecei a trabalhar no papel, porque é algo que você controla com facilidade. Trabalhava de
forma bruta, maltratava o papel, coitado — diz, rindo, em entrevista por telefone ao GLOBO. — Segui
para a pintura e cheguei às cruzes e aos círculos.
Embora as formas estivessem distantes ainda de sua linguagem madura, Cristina conta que as
cruzes e os círculos a levaram às paisagens (“Fiquei, enfim, à vontade”). As cruzes viraram ilhas, e os
círculos, ondas do mar. A mudança para a Alemanha, em seguida, foi vital para o aprofundamento da
linguagem e para o que chama de “libertação dos cânones”.
— Me libertei, e minha obra, então, entrou num momento em que a forma ficou mais importante,
entrou mais figura, mais narrativa — afirma.
Agora preparando seis ou sete telas que trará à exposição do Rio, ela diz que os desafios são
“resolver o momento pictórico de cada plano e deixar o quadro oferecer uma história por si”. Ela sente
que está, desde sempre, “tentando juntar formas que não nasceram para conviver”.
O Globo - Bartolomeu Campos de Queirós, escritor
Premiado no Brasil e no exterior por sua obra infantojuvenil, autor mineiro trabalhou pela difusão da
leitura
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Guilherme Freitas
(17/1/2012) Consagrado internacionalmente como autor de livros infantojuvenis, o mineiro Bartolomeu
Campos de Queirós teve o mesmo sucesso quando publicou seu primeiro romance, “Vermelho
amargo” (Cosac Naify), no ano passado. Com uma prosa lírica e melancólica, o livro é narrado por um
homem que revisita lembranças dolorosas da infância, quando ele e os irmãos procuravam lidar com
a ausência da mãe, o alcoolismo do pai e os abusos da madrasta.
Em entrevista ao GLOBO na época do lançamento do livro, em maio, Queirós contou que, embora
seja em parte autobiográfico, o romance usa a ficção para explorar a maneira como todos nós
lidamos com o passado: “A memória é sempre um lugar onde o vivido e o sonhado conversam”,
disse.
Autor deixa um livro inédito
Mesmo antes de “Vermelho amargo”, Queirós já
tinha amplo reconhecimento, tanto no Brasil como no
exterior. Publicou mais de 40 livros, entre eles “O
peixe e o pássaro” (1974) e “Raul” (1978), e recebeu
os mais importantes prêmios literários do país, como
o Jabuti, o da Academia Brasileira de Letras, o da
Fundação Nacional do Livro para Crianças e Jovens
(FNLIJ), o Prêmio Ibero-americano SM de Literatura
Infantil e Juvenil e o Grande Prêmio da Crítica em
Literatura Infantil/Juvenil da Associação Paulista de
Críticos de Arte (APCA). Foi condecorado como
Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres, na
França, e recebeu a Medalha Rosa Branca,
concedida pelo governo de Cuba.
BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS publicou seu
último livro, o romance “Vermelho amargo”, em 2011
Queirós foi também educador e teve atuação destacada na promoção da leitura entre os jovens no
país. Foi um dos idealizadores do Movimento Por Um Brasil Literário, lançado em 2009 durante a
Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). O manifesto de criação do projeto, assinado por ele,
declarava o desejo de fazer do Brasil “uma sociedade leitora”, através da promoção de “atividades
mobilizadoras que promovam o exercício da leitura literária”.
Colaborou também com o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), criado em 1992 e
vinculado à Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Foi ainda presidente da Fundação Clóvis
Salgado/Palácio das Artes e membro do Conselho Estadual de Cultura, em Minas Gerais.
Nascido em 1944 na cidade de Papagaio, interior de Minas Gerais, Queirós morreu na madrugada de
domingo para segunda- feira, aos 67 anos, em Belo Horizonte, em decorrência de um problema nos
rins. Era solteiro e não tinha filhos.
A Cosac Naify anunciou que o autor deixou um livro inédito, uma narrativa breve e onírica intitulada
“Elefante”, sem data de publicação definida. ■
ARQUITETURA E DESIGN
Brasil Econômico – Jorge Amado vale 100 vezes um Paulo Coelho
Com uma agenda que vai do carnaval à exposições e regravação de novela Gabriela, celebração do
centenário de nascimento do autor baiano deve atrair grandes empresas
Daniela Paiva
(13/1/2012) Há um abismo entre dois dos nossos escritores brasileiros mais famosos, vendidos e
traduzidos e - incluindo aí vivos e mortos. Paulo Coelho, vivinho da silva, pode até vender mais, mas
precisa fazer mágica para transformar a lebre numa boa crítica. Jorge, morto em 2001, é e será
sempre amado em uníssono. No ano de seu centenário, comemorado em 10 de agosto, não é preciso
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recorrer a caminhos esotéricos para desdobrar sua obra em produtos interessantes para o público e o
mercado.
Hoje, Jorge Amado é uma marca registrada e administrada desde 2004 pela Copyrights Consultoria
Ltda, que também cuida dos direitos autorais de artistas mortos, como Renato Russo, vivos, como
Leo Jaime e cineastas, caso de Glauber Rocha, que presta serviços para a empresa dos filhos do
autor, Grapiúna Produções.
“A ideia não é ganhar dinheiro com a marca, mas limitar ou controlar a autorização, e cobrar quando
se tratar de uma destinação comercial”, diz Sílvia Gandelman, advogada da Copyright. No ano de
celebração de 100 anos de nascimento do baiano, a agenda começa com a inspiração natural para o
carnaval. Porém, desde 20008 Jorge Amado retornou às prateleiras em roupagem revigorada pela
Companhia das Letras, que em 2008 venceu uma concorrência pelo catálogo.
São cerca de 40 livros cujo mais aguardado ganha as prateleiras junto com a data de aniversário:
Jorge & Zélia, Correspondência Inédita. “Temosumprojeto amplo de como rejuvenescer a obra”, diz
Thyago Nogueira, responsável pela edição do autor baiano da Companhia. Potencial de circulação
não falta, até pela adoção de títulos como Capitães de Areia no currículo escolar . A nova edição do
clássico vendeu 600 mil cópias. “O projeto todo já se pagou”, destaca Thyago.
Procurada pela reportagem, a Rede Globo não confirmou a regravação de Gabriela, sucesso dos
anos 70 que revelou Sônia Braga. Mas já se fala até em Juliana Paes como substituta certa da atriz
para a adaptação televisiva de Gabriela, Cravo e Canela. E o momento para a regravação não
poderia ser mais oportuno para a Globo atrair anunciantes de peso, principalmente pela ascensão da
chamada classe C. “A mercearia do turco (Nacib), por exemplo, é uma grande plataforma para Nestlê,
Unilever, P&G”, opina Júlio Moreira, professor da ESPM. Ele ressalta que é uma novela que
provavelmente será exportada, por isso deve captar investimento de empresas globais e ainda
estimular o turismo na Bahia quando o mundo está com sede para desvendar o país da Copa, das
Olimpíadas e distante das crises. “O Brasil hoje é um produto fácil de ser digerido”, diz.
Receita da família
Sílvia explica que os ganhos da família variam caso a caso. Para a novela Gabriela, por exemplo, o
contrato não prevê lucros com a publicidade. A emissora paga uma quantia, e faz o que quiser, desde
que respeite cláusulas autorais. Já na adaptação da obra para o cinema e para o teatro, pode haver
ganhos em cima da bilheteria. Na reprodução da obra literária, a porcentagem em cima de cada livro
vendido varia de 8 a 15%. Uma obra de uma riqueza sem fim - emtodos os sentidos.
AGENDA JORGE AMADO
FEVEREIRO O autor baiano será homenageado pela escola de samba Imperatriz Leopoldinense no
carnaval carioca. Em Salvador, também inspira a folia, além do romance O País do Carnaval (1930)
servir de tema em camarote do circuito Barra-Ondina.
MARÇO Uma mega exposição intitulada “Jorge, Amado e Universal” ocupará o Museu da Língua
Portuguesa, em São Paulo. O livro de memórias “Navegação de Cabotagem” terá edição especial
ilustrada. Em Salvador, Jorge CineAmadoGráfico apresentará as adaptações para o cinema.
ABRIL “Mar Morto” ganha edição de bolso voltada para o público jovem.
MAIO Sua obra terá edição infantojuvenil, selecionada por Heloísa Prieto.
JUNHO “O Compadre de Ogum” chega às prateleiras em edição econômica e baratinha.
AGOSTO No mês de seu aniversário, a exposição “Jorge, Amado e Universal” desembarca no Museu
da Bahia, em Salvador. O livro “Os Velhos Marinheiros” sai em edição comemorativa e ilustrada. O
lançamento mais aguardado também fica para este mês: “Jorge & Zélia, Correspondência Inédita,
organizado por João Jorge Amado. O II Colóquio de Literatura Brasileira, em Salvador, ministra o
Curso Jorge Amado.
Fonte: Site oficial do Centenário de Jorge Amado. www.jorgeamado.com.br
Clárin - Brasilia, orgullo modernista
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Una muestra itinerante sobre la historia de la capital de Brasil llegó a Buenos Aires y se podrá visitar
en la embajada del país vecino hasta el 12 de febrero.
(16/1/2012) La muestra itinerante Brasilia, medio siglo de la capital de Brasil se creó en 2010 para
conmemorar los 50 años de la creación de la ciudad y ahora recaló en Buenos Aires, más
precisamente en la Embajada de Brasil. Allí pueden verse fotos actuales y de la construcción de
Brasilia, planos originales que fueron presentados por Lucio Costa, al igual que maquetas de algunos
de los edificios más emblemáticos de la ciudad, diseñados por Oscar Niemeyer. Pero el mayor
atractivo de la muestra sin duda es la maqueta de 30 m2 en escala 1:3500 que exhibe una pristina
fotografía aérea de la ciudad junto con los bloques de los edificios contemplados en el plan original
implantados sobre él.
La exposición, de entrada libre y gratuita, podrá visitarse hasta el 12 de febrero, de lunes a sábado de
11 a 18 en el Espacio Cultural de la Embajada de Brasil, Arroyo 1142.
OUTROS
Folha de S. Paulo – Decreto de Dilma afeta convênios da Cultura com setor audiovisual
Caravana de produtores ao Festival de Berlim e espaço Tempo Glauber estão entre os afetados
Medida presidencial foi tomada depois de escândalos com ONGs nas pastas do Turismo e do
Transporte, em 2011
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e MATHEUS MAGENTA, DE SÃO PAULO
(12/01/12) A ida de produtores brasileiros ao Festival de Berlim e um espaço dedicado a Glauber
Rocha (1939-1981), no Rio, foram afetados por um decreto presidencial que suspendeu os repasses
federais para entidades privadas sem fins lucrativos.
Publicado em setembro, o decreto de Dilma Rousseff tinha como objetivo moralizar a relação entre
governo e parceiros, na esteira de suspeitas de fraude nos ministérios do Transporte e do Turismo.
Mas a ação criou um efeito dominó na Esplanada. Seis convênios com o Ministério da Cultura, que
somavam mais de R$ 2 milhões, foram interrompidos (veja ao lado).
Segundo a pasta, eles não cumpriam exigências básicas do decreto -ser realizado há pelo menos
cinco anos contínuos e ter a prestação de contas aprovada pelo MinC.
O programa Cinema do Brasil, que se dedica à divulgação da produção brasileira no mercado
internacional, perdeu R$ 1,3 milhão.
Com isso, foi cancelado o subsídio (hotel, credencial e passagem) para que 30 produtores pudessem
ir ao Festival de Berlim, em fevereiro.
O MinC diz que o convênio começou em 2006, mas teve um intervalo em 2008 -logo, quebrou-se a
continuidade.
À frente do projeto, o cineasta André Sturm mostrou à Folha troca de e-mails com a pasta naquele
ano referente a um convênio estendido para 2007-2008. Segundo ele, a correspondência prova que o
programa não foi paralisado.
GLAUBER ROCHA
O decreto atingiu também o Tempo Glauber, entidade fundada em 1983 para preservar a obra do
cineasta.
Presidente da instituição, Paloma Rocha, filha de Glauber, diz que um repasse de R$ 200 mil chegou
a ser previsto no orçamento do MinC, mas o dinheiro nunca veio. Depois, a parceria foi cancelada.
"Estou mantendo o local com dinheiro próprio. Se dependesse da Cultura, o centro estaria fechado
agora."
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Doze foram demitidos.
Outro projeto afetado foi o fórum de debates do Instituto Cultural Cinema Brasil. Criado em 1996, o
projeto reúne mais de 2.000 pessoas, como o diretor Roberto Farias ("Assalto ao Trem Pagador").
Segundo Marcos José Marins, presidente do instituto, a nota de empenho de R$ 50 mil foi cancelada
por atraso da última prestação de contas do convênio devido a um problema no site do MinC.
Procurada sobre esse ponto, a pasta não respondeu.
A "Revista de Cinema" não será produzida neste bimestre pois o convênio de R$ 100 mil, realizado
há oito anos, foi suspenso após o decreto.
Isso porque, segundo Julie Tseng, diretora do projeto, o MinC atrasou a aprovação da última
prestação de contas.
"Há um bocado de coisa errada, mas a gente, que faz tudo direito, foi prejudicado."
O ministério diz que a "análise de prestação de contas não foi finalizada".
O Estado de S. Paulo - Cultura privilegia SP
O MinC destinou R$ 9,17 milhões - com promessa de R$ 20 milhões - para projeto de municípios
ligados a deputados do PT
Troca de favores no MinC
Ministério envia R$ 9 milhões para grupo do interior de São Paulo, enquanto os Pontos de cultura
estão à míngua há 1 ano
JOTABÊ MEDEIROS - O Estado de S.Paulo
(13/1/12) Aos amigos, tudo. Aos inimigos, o rigor da lei. A frase, atribuída ao presidente Arthur
Bernardes (1922- 1926), pode aplicar-se à política cultural do primeiro ano da ministra da cultura, Ana
de Hollanda.
Após um ano de penúria nas ações do ministério, a ministra firmou, em setembro, um convênio com
um grupo de municípios, dirigido a partir de Monte Alto (cidade de 46 mil habitantes a 350 km da
capital), no interior de São Paulo, no valor de R$ 9,17 milhões (o MinC, em seu site, promete que o
repasse total será de R$ 20 mi).
Paradoxalmente, os mais de 300 Pontos de cultura de todo o Estado (geridos pela Secretaria de
Estado da cultura) ainda esperam pagamento da terceira parcela de 2011. O valor em atraso para
todo o Estado (beneficiando 176 municípios nas 15 regiões do Estado) não chega a 20% do chamado
Grupo de Monte Alto. Um dos programas mais elogiados da gestão anterior, os Pontos de cultura
paulistas ainda não têm notícia sobre a continuidade do programa.
Qual a explicação para a notável demanda cultural detectada na região de Monte Alto? Contatos
políticos ajudam a explicar. A ONG que intermediou o acordo que resultou no convênio (batizado de
Consórcio culturando), a Associação de Gestão cultural do Interior Paulista (AGCIP), tem longo
relacionamento com o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) - que propôs lei tornando de
utilidade pública a associação.
O jornalzinho da AGCIP mostra foto recente da ministra Ana de Hollanda, de Antonio Grassi
(presidente da Funarte), do deputado estadual João Paulo Rillo (PT-SP, propositor da lei que torna a
AGCIP de utilidade pública) e Vicente Cândido "durante reunião sobre o consórcio criado pela
AGCIP", segundo diz o texto. No Congresso, Cândido tem se constituído num dos pilares da
sustentação da gestão de Ana de Hollanda. O deputado está em férias, e sua assessoria informou
que ele só estará disponível para comentar esses temas na semana que vem.
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O deputado Vicente Cândido disse que achou "exemplar" o esforço de formação do consórcio em
Monte Alto e que se trata de "bons gestores". Segundo disse, foi a primeira vez que viu 20 prefeitos
discutindo um programa cultural, e que o governo de São Paulo"não liga para a cultura".
Para o deputado, ele interferiu pela última vez no final do ano, para a liberação de uma verba. "A
partir daí, não houve mais interferência. É tudo fruto do empenho deles". Consultado, o ministério
ficou de comentar a acusação de favorecimento político, mas a poucos minutos do fechamento desta
edição informou que o setor jurídico iria analisar novamente a resposta.
A ação de Monte Alto incluiria 16 municípios. Edemilson José do Vale, secretário executivo do
consórcio, nega que haja um substrato político no repasse de verbas para a região. "Vicente Cândido
vem constantemente apoiando as ações da AGCIP; exemplo é a audiência, em 2007, de encontro
dos dirigentes da entidade com o então secretário estadual da cultura, João Sayad", disse. "Talvez
por faltarem mais parlamentares a abraçar a pauta da cultura é que os focos se dirigem aos poucos
que fomentam a cultura como política pública de cidadania."
Segundo Edemilson, a iniciativa da ONGs de buscar verbas se deu porque "os recursos não chegam,
nunca passam de Campinas" e que a AGCIP surgiu para fazer com que "o Estado e o governo
federal" passem a olhar com mais atenção para o interior do Estado.
A AGCIP informou que vem trabalhando em mais de 30 municípios da região para ajudar a criar
projetos para as leis de incentivo ("Criamos um know how", informou, em nota), mas ressalta que
"não há relação institucional" entre as duas entidades (AGCIP e consórcio), embora admita que "as
pessoas que trabalham na AGCIP iniciaram o projeto de criação do consórcio". A Lei do Consórcio
Público foi regulamentada em 2007. A ONG diz que o consórcio representa mais de 1 milhão de
habitantes. "Desde o ano passado, vêm jogando todas as ONGs num saco só e botando no lixo",
desabafou Vale.
O Globo - Mostra multimídia vai reunir frutos de décadas de paixão
Doações de todo o país contêm fotos, áudios, vídeos, jornais e revistas
ALLEN GUIMARÃES, cuja obsessão por Elis começou no dia da morte da cantora, está reunindo o
acervo da exposição que passará por ao menos cinco estados a partir de abril
(15/1/2012) RIO - Allen Guimarães nasceu Alcindo 45 anos atrás e há 30 vive boa parte de seu tempo
em nome de Elis Regina. Foi vendo os programas exibidos quando da morte da cantora, ocorrida em
19 de janeiro de 1982, que ele constatou que conhecia, sim, aquela voz, a de sucessos como
"Lapinha" e "Madalena". E que precisava ver e ouvir mais essa mulher, desaparecida aos 36 anos em
função de uma combinação possivelmente acidental de álcool e cocaína.
O projeto "Viva Elis", maior evento inspirado nas três décadas sem a artista, só começará a rodar o
país em março (ver datas e locais em box nesta página) graças a fãs apaixonados como Allen — o
nome foi adotado durante uma estada nos EUA, já que um amigo não conseguia pronunciar
"Alcindo". O paulistano se transformou no epicentro de uma rede de pessoas que, sem receber ordem
ou dinheiro de ninguém, vinham montando acervos dedicados a Elis à espera de uma chance de
torná-los públicos. A chegada desse momento permitiu a reunião inédita de, por enquanto, cerca de
500 fotos, mil reportagens de jornais e revistas, 36 horas de vídeos e um tempo ainda não calculado
de áudios.
— E toda semana nos ligam oferecendo mais coisas — conta João Marcello Bôscoli, de 41 anos, o
mais velho dos três filhos da cantora e principal responsável pelo "Viva Elis", projeto de R$ 6 milhões
patrocinado pela Nívea e com programação gratuita cujo carro-chefe é uma exposição multimídia
baseada no material reunido.
Seu desejo é, após o fim da mostra, manter tudo — inclusive o pouco que a família tem — na sede de
um Instituto Elis Regina, a ser criado em São Paulo, Rio ou Porto Alegre (cidade natal da artista).
— Não vamos guardar numa caixa — diz ele.
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Documentário de seis horas
Allen está há seis anos na Trama, produtora e
gravadora de João Marcello, e trabalha com
Maria Rita, que participará de "Viva Elis"
cantando o repertório da mãe. Ganhou o emprego
graças à fama de obcecado pela cantora firmada
entre 2000 e 2005, quando era funcionário da
Universidade Federal de Uberlândia. Com o
respaldo acadêmico, contatou instituições e
emissoras de outros estados e países, formando
uma coleção preciosa. Por exemplo: especiais de
TV de Portugal, França e Alemanha, matériaprima de um possível DVD futuro.
Mal resolveu estudar cinema, pôs na cabeça a
ideia de um filme sobre Elis. Câmera na mão e
mochila nas costas, fez 48 entrevistas. Foi
reprovado por faltas. Ouviu em Uberlândia que
documentário com mais de 20 minutos é chato. O
seu tem seis horas, que foram exibidas em
capítulos numa semana dedicada à cantora na
universidade. A exposição de "Viva Elis" terá uma
versão reduzida. A transcrição das entrevistas
responde pela maior parte de um livro de Allen
(também batizado de "Viva Elis"), que será
enviado a bibliotecas na mesma época da mostra.
Do acervo que está em suas mãos, 90% vieram
do Elis em Movimento, grupo criado em 1 de maio
de 1982, em São Paulo, com o intuito de coletar o
que dissesse respeito à carreira da cantora, não à
vida pessoal. Chegaram a ser 700 sócios, enviando de todo o país fitas, fotos, bilhetes, revistas. A
busca de um patrocínio foi em vão.
— Havia preconceito. Uma companhia aérea disse que ela era uma "fumeira" (usava drogas) —
lembra um dos diretores, o sociólogo e assessor de imprensa Beto Previero, de 69 anos. — Não
queríamos parecer um bando de alucinados. Foi preciso que saíssem uns fanáticos que viam Elis em
cima da geladeira, em qualquer lugar. E realizamos 29 edições da Semana Elis. Agora, a função está
cumprida.
Eles receberam de mães cujos filhos morreram em consequência da Aids coleções deixadas sobre a
cantora. Em 2011, temendo que, após morrer, sua família jogasse fora o acervo montado ao longo
dos últimos 46 anos (ingressos de todos os espetáculos, 40 discos de vinil, 70 CDs, dez pastas com
recortes de jornais, três retratos de Elis que comprou de pintores de rua e 300 fitas de programas de
rádio gravados na empresa de peças para relógios em que trabalhava), a paulista Isaura de Oliveira,
de 62 anos, doou tudo para Allen.
— Ele me prometeu digitalizar. Não quero ganhar dinheiro, mas que tudo fique preservado — diz ela.
A jornalista carioca Teresa Cavalleiro também nunca vendeu os registros em super-8 que, ao lado do
amigo Acyr Fonseca, fez do último show de Elis aberto ao público, em novembro de 1981, no Teatro
João Caetano — em dezembro daquele ano, ela realizou um fechado para uma empresa. São
imagens sem nitidez, mas históricas, de "Se eu quiser falar com Deus" e "O trem azul".
— Para ver minhas imagens na exposição, vou levar uma caixa de lenços — imagina Teresa, de 53
anos, que tem na sala de trabalho um pôster do show "O trem azul". — Nos dias 19 de janeiro e 17
de março (data de nascimento de Elis), uso a camisa do "Saudade do Brasil" (show de 1980), com o
nome dela na bandeira no lugar de "Ordem e progresso".
61
‘VIVA ELIS’
Show
A primeira apresentação de Maria Rita
cantando o repertório da mãe será em 17 de
março, no Auditório Ibirapuera, em São
Paulo, com as portas abertas para o parque,
pois toda a programação do evento é gratuita.
Nas quatro semanas seguintes ela cantará no
Rio, em Porto Alegre, Belo Horizonte e
Recife, mas a ordem não está definida. No
Rio, será no Aterro do Flamengo, na área do
Monumento aos Pracinhas.
ELIS no show “Falso brilhante” (acima), de 1976, e
improvisando um palco na infância, em Porto Alegre
Exposição
Começará em abril pelo Centro Cultural São Paulo, em dia ainda incerto. Serão seis semanas em
cada cidade: Porto Alegre (Usina do Gasômetro), Rio (Centro Cultural Banco do Brasil, com abertura
em agosto), Belo Horizonte (Palácio das Artes) e Recife (Parque Dona Lindu). Há outros convites
para 2013.
Folha de S. Paulo – Programa de Índio / Coluna
Mônica Bergamo
(18/1/2012) Será prorrogada até abril a mostra "Índios no Brasil", exibida na Bélgica no festival
Europalia, patrocinado pelo Ministério da Cultura.
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