A formação médica no atual contexto: os efeitos na saúde “de quem cuida” no setor público brasileiro. Avance de investigación en curso Grupo de trabalho N°18: Saúde e segurança social. Transformações sociais e impactos na população Silvana Maria Bitencourt, Brasil Universidade Federal de Mato Grosso Departamento de Sociologia e Ciência Política Bárbara Juliana da Silva, Brasil Universidade Federal de Mato Grosso Faculdade de Medicina Resumo Em uma sociedade marcada pelos efeitos da globalização, o médico passou a se especializar cada vez mais. A especialização garantiu ao médico uma melhor remuneração, contudo a esta nova configuração da formação médica têm feito alguns profissionais vivenciarem precárias condições de trabalho, sendo estas ainda mais evidentes no setor público. Essas dificuldades vinculadas à formação começam durante o processo seletivo para entrar em uma faculdade de Medicina. Na faculdade o estudante para adquirir o saber técnico necessário ao exercício correto da profissão, muitas vezes, vivenciam esta fase com forte pressão psicológica. Partindo desta perspectiva, este trabalho que se encontra em andamento tem como objetivo compreender como estes estudantes lidam com o cotidiano da formação médica Além disso, busca-se investigar se estes estudantes têm procurado suportes emocionais para lidar com as dificuldades vivenciadas durante a formação., para isto realizou-se trabalho de campo e entrevistas semiestruturadas com estudantes de Medicina de uma faculdade pública brasileira. Palavras-chave: estudante de Medicina, saúde pública, qualidade de vida. INTRODUÇÃO O direito à saúde a todos brasileiros foi garantido pela nova Constituição Federal em outubro de 1988 por meio do artigo 196, o qual afirma que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Para assegurar este direito, o artigo 198 discorre sobre a criação do Sistema Único de Saúde - SUS explicitando que as ações e serviços públicos de saúde integrariam uma rede regionalizada e hierarquizada, organizada sob as diretrizes da descentralização, atendimento integral e participação da comunidade, estruturado de modo a proporcionar o acesso universal e gratuito dos cidadãos quando da necessidade de assistência à saúde (Machado, 1997). Ao lado dos avanços das Políticas de Saúde no Brasil, a Medicina também teve suas conquistas e se modernizou, ganhando destaque nesse cenário o médico especialista. De acordo com a representação social criada ao longo da história pelo exercício da Medicina esta profissão ainda é vista como sacerdócio. Contudo, não podemos esquecer que por trás do médico está uma pessoa que necessita de recursos materiais para sobreviver. Com o avanço da Medicina e da indústria farmacêutica, e a possibilidade de diagnóstico e tratamento das doenças que antes causavam grande mortalidade, o médico passou a se especializar cada vez mais, se tornando detentor de conhecimentos específicos de determinado órgão. A profissão de médico tem sido historicamente representada por sujeitos que possuem considerável poder econômico, mas para sustentar tal status trabalham numa carga horária excessiva e estabelecem mais de um vínculo empregatício¹ situação estressante que piora quando somada as condições precárias de trabalho de alguns serviços. Isso os leva a apresentarem sintomas de esgotamento profissional como: fadiga, mau desempenho e insegurança no trabalho, além de serem suscetíveis a doenças ordem psíquica e emocional como: ansiedade, depressão, dependência química entre outras. Os médicos de hoje vivem em uma sociedade de consumo, sendo geralmente obrigados a vender sua força de trabalho a valores não condizentes com sua formação e seu preparo que demandam cerca de 10 anos (Pimentel, 2004). No entanto, a formação desse profissional começa antes de se tornar médico, inicia-se na seleção para entrar em uma faculdade de Medicina, pois o jovem para ingressar na faculdade no início se abstém de momentos de lazer para se dedicar aos estudos que o levarão a aprovação. Na faculdade continua com uma rotina “árdua”, pois precisará estudar muito para adquirir o saber técnico necessário ao exercício correto da profissão. Ao se formarem passam por outro momento de seleção, o da residência médica, uma vez que precisam se especializar para garantir boa remuneração num mercado de trabalho cada vez mais competitivo e com uma oferta de mão de obra de profissionais de saúde crescente. 2 Partindo desta perspectiva centrada na subjetividade do estudante de Medicina, este trabalho tem como objetivo refletir a formação deste estudante no contexto contemporâneo das políticas públicas. Para tanto foram feitas entrevistas semiestruturadas com estudantes de Medicina de uma Universidade pública brasileira com perguntas centradas sobre as mudanças cotidianas vivenciadas pelos estudantes durante a entrada no curso e os cuidados com a saúde dos mesmos. Inicialmente discutiremos as bases curriculares do curso de Medicina no Brasil para em seguida analisar as entrevistas a fim de refletir a formação deste estudante. O CURSO DE MEDICINA NO BRASIL O currículo é um instrumento que resulta na contextualização das práticas pedagógicas escolares; é uma representação dos processos de produção e reprodução do conhecimento, é um documento que orienta, normatiza e organiza as decisões do poder educativo (PACHECO, 2005). Nessa perspectiva, falar do currículo do curso de Medicina é contextualizar o que as faculdades estão tomando como referência para organizar os seus saberes. Segundo as diretrizes curriculares nacionais1 do curso de graduação em Medicina o aluno após o curso deve ser um médico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Logo, há competências e habilidades a serem atingidas por meio do ensino. Segundo este documento, o curso de Medicina deve ter um projeto pedagógico centrado no aluno e o professor deverá atuar como facilitador da aprendizagem. O curso de Medicina tem duração de seis anos e conta com o estágio obrigatório, de 2700h – conhecido como internato que deve ser supervisionado. Este estágio de treinamento em serviço inclui necessariamente aspectos essenciais nas áreas de Clínica Médica, Cirurgia, Ginecologia-Obstetrícia, Pediatria e Saúde Coletiva. O curso também conta com as atividades complementares, que podem ser monitorias e estágios, programas de iniciação científica; programas de extensão e outras¹. Cada colegiado de curso deverá utilizar metodologias que privilegiem a participação ativa do aluno na construção do conhecimento e a integração entre os conteúdos, e deve 1 Resolução CNE/CES 3/2014. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de junho de 2014 – Seção 1 – pp. 8-11 3 vincular a formação médico-acadêmica às necessidades sociais da saúde, com ênfase no SUS¹. A metodologia mais usada no Brasil é o ensino tradicional, mas várias universidades já adotam em suas faculdades de Medicina o modelo de Ensino Baseado em Problemas (do inglês Learnig Based Problem -PBL).E, outras universidades mesclam as duas formas de ensino. Discorreremos brevemente sobre essas metodologias. A divisão tradicional do curso é em ciclo básico, profissionalizante ou clínico e internato. No ciclo básico o aluno explora o homem biológico por meio de disciplinas como Anatomia, Histologia e Fisiologia, geralmente durante quatro semestres. O ciclo clínico abrange as quatro grandes especialidades: Clínica Médica, Cirurgia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, e outras disciplinas como Semiologia, Patologia, as especialidades como Infectologia, Radiologia, Psiquiatria dentre outras. O internato dura três ou quatro semestres e caracteriza-se pelo treinamento em serviço, com assistência a pacientes, sob a supervisão do professor nas diversas especialidades (Fiedler, 2008). O método PBL por sua vez é uma estratégia pedagógico/didática centrada no aluno. Um dos fundamentos principais do método ensinar o aluno a aprender, permitindo que ele busque o conhecimento nos inúmeros meios de difusão do conhecimento hoje disponíveis e que aprenda a utilizar e a pesquisar estes meios. Assim, ocorrem discussões em grupos tutoriais em duas fases. Na primeira fase o problema é apresentado e os alunos formulam objetivos de aprendizado a partir da discussão do mesmo. Na segunda fase, após estudo individual realizado fora do grupo tutorial, os alunos rediscutem o problema à luz dos novos conhecimentos adquiridos. O curso de Medicina analisado neste trabalho tem como metodologia de ensino o modelo tradicional associado ao PBL, seu currículo é divido por módulos temáticos da metodologia PBL, possuindo discussões em grupos de tutoria e aulas do modelo tradicional das disciplinas do ciclo básico e profissionalizante, e nos últimos dois anos o curso é feito em regime de internato. A seguir discutiremos as entrevistas realizadas com os alunos dessa faculdade sobre o que acham desse modelo de ensino e as dificuldades e desafios encontrados durante sua formação médica. DISCUSSÃO: DESAFIOS E DIFICULDADES DO ESTUDANTE DE MEDICINA 4 Para entender a formação do estudante de Medicina entrevistamos cinco graduandos2 de uma universidade pública brasileira, do primeiro, terceiro, e sexto ano, homens e mulheres com a intenção de ouvir o que eles tinham para nos contar sobre a entrada do curso até o momento em que estão hoje. O roteiro das entrevistas centrou-se em perguntas sobre o método de ensino, sobre as técnicas que utilizam para se cuidar, sobre as mudanças que a graduação fez em seus cotidianos, sobre suas expectativas em relação ao futuro e sobre o que é ser médico. Conforme os dados coletados, verificamos que o estudante de Medicina inicia sua rotina de estudos antes mesmo de entrar na faculdade, pois precisa preparar-se para os vestibulares que são disputados. O futuro médico, muitas vezes, passa por um ou mais anos no cursinho pré-vestibular até conseguir sua aprovação, portanto há todo um investimento emocional e material anterior ao ingresso na faculdade de Medicina. Após a aprovação a rotina de estudos continua, só que de forma mais intensa e com outra expectativa, de ser no futuro um bom profissional, assim a competitividade continua presente na vida do estudante. No cursinho tinha que ser produtivo, exigia resultados. A faculdade te deixa frouxo, as notas não representam muita coisa, a cobrança parte de você. Principalmente na parte prática quando você tem o contato com o paciente e precisa ser bom médico. (João3, aluno do 5° semestre) De acordo com a opinião dos entrevistados o primeiro ano do curso assusta pela quantidade de informações e por muito deles terem que mudar de cidade para fazer a faculdade: Traumatizante, de todos os anos o mais difícil, acredito que seja devido à adaptação e pela matéria de anatomia. Eu morava fora e não conhecia ninguém, mas me adaptei bem, pois todo mundo estava sozinho e se 2 .Priorizamos um estudo qualitativo, pois os estudantes mostraram-se com pouco tempo livre para realização destas entrevistas. Assim, obtivemos uma amostra pequena contendo cinco universitários, sendo destes quatro do sexo feminino e um do sexo masculino, mostrando também que os homens foram menos acessíveis ao estudo. 3 Todos os nomes utilizados neste texto são fictícios para preservar a identidade dos entrevistados. 5 apoiava uns aos outros. Mas a faculdade no primeiro ano é traumatizante. (Ana³, aluna do 12° semestre) Quanto à metodologia de ensino os estudantes entrevistados acreditam que por ser o modelo tutorial são obrigados a estudar, mas criticam a forma que o método é conduzido pelos professores, sentem falta de conteúdos e de professores preparados para lidar com essa nova metodologia. É um modelo novo, que ainda está em fase de implantação. Acredito que tem potencial para ser um ótimo modelo de ensino, desde que seja melhorado. No momento o que percebo é que a maioria dos professores ainda não entendeu bem a proposta desse modelo de ensino, enquanto outros se aproveitam desse modelo para digamos ‘enrolar’ ao em vez de exercer sua função. Os alunos parecem meio abandonados à própria sorte, os professores não cumprem os horários designados na planilha, os alunos têm que ‘implorar’ por aulas e elas geralmente são nos horários que os professores podem (quando não estão ocupados com seus consultórios, clínicas...) (Júlia³, aluna do 5° semestre). O ritmo intenso de estudos priva estes estudantes de atividades de lazer e dificultam os cuidados com a saúde. O turno integral, as atividades práticas, os estudos diários para acompanhar o curso, reduz o tempo desses estudantes para se comprometerem com atividades extracurriculares. A minha rotina é em função da faculdade; tento estabelecer períodos para prática de esportes e lazer, mas ainda os faço sem uma periodicidade, apenas ‘quando’ é possível. (Paula³, aluna do 3° semestre) Os cuidados com a saúde como: de seis a oito horas de sono, alimentação e prática de atividades físicas são deixadas de lado pela maioria dos estudantes, e estes reconhecem os riscos que correm com o estilo de vida que vivenciam no atual contexto. Falam de sentimentos de “medo” em adoecer e adquirir doenças crônicas degenerativas. 6 Eu tenho medo da minha saúde no futuro. Atualmente ela é boa. Tenho medo de desenvolver hipertensão e diabetes em decorrência do meu estilo de vida atual. (Ana, aluna do 12° semestre). Os estudantes reconhecem que o ritmo do curso de Medicina é intenso, com carga horária excessiva e uma rotina desgastante. O aluno se depara com doenças e consequentemente com a morte. Considerando que a cultura ocidental ainda apresenta diversas dificuldades para lidar com a morte, portanto o envelhecimento tem sido um tema e a geriatria uma especialidade pouco atraente para estes estudantes4. Aos futuros médicos é ensinado a dar diagnósticos e fazer procedimentos, portanto sem tempo para reflexão sobre o seu trabalho. Assim, são ensinados a promover a saúde, sendo que ao mesmo tempo “deixam de lado” sua própria saúde, portanto não se cuidam. É um ritmo muito intenso e na verdade desumanizador no meu ponto de vista. Eles exigem um profissional de saúde humano, mas o curso não oferece isso. (João, aluno do 5° semestre) Comparado aos demais cursos, acredito que o curso de Medicina exige bastante do aluno, não apenas no que diz respeito ao conhecimento, mas também em relação ao senso de responsabilidade, preparo psicológico para lidar com as adversidades diárias. (Camila³, aluna do 12° semestre) Em relação ao futuro demonstram ansiedade e preocupação. Nas falas dos estudantes verificamos que estes se sentiam ansiosos pelo curso de especialização que irão seguir e preocupados com a qualidade de sua formação e as condições de trabalhos que vão enfrentar, especialmente no sistema público, sendo este vivenciado durante o estágio. Ao serem questionados sobre o que é ser médico mostraram uma preocupação em aliviar a dor do paciente, sabendo que às vezes a cura não pode ser alcançada, entendem que como médicos podem amenizar o sofrimento do paciente e de sua família, mas para isso mostraram que é essencial enxergar o paciente por inteiro, corpo e mente e estar sempre se atualizando em relação aos estudos. 4 Sobre esta dificuldade de falar sobre a morte e o envelhecer ver Elias (2001). 7 Ser médico é ser capaz de olhar para a pessoa que te procura pedindo ajuda e ver o todo, o ser humano corpo e mente, e vendo esse todo ser capaz de ouvir, ver e tocar e com os dados obtidos tentar resolver o problema em questão, e quando não for capaz de resolver, ao menos amenizá-lo. E com esse trabalho conquistar a confiança e respeito de quem nos procura. (Júlia, aluna do 5° semestre) O médico de hoje tem dificuldade de pensar o cuidado a partir de uma visão global com o paciente, pois precisa cumprir uma carga horária de trabalho tão intensa que não consegue dedicar-se inteiramente a um caso. Conforme observações de campo, o médico muitas vezes é responsável pelo cuidado de uma enfermaria ou UTI sozinho, ou possui mais de 30 pacientes aguardando sua vez para serem atendidos no seu ambulatório, ou ainda ele não pode deixar uma consulta se estender por muito tempo, porque não pode se atrasar para chegar ao plantão noturno do outro emprego, onde mais pacientes estarão o esperando. Observamos a partir do trabalho de campo que o aluno de Medicina vivencia antes da sua formação todos esses dilemas enfrentados pelos médicos, pois nos seus estágios trabalham atendendo ambulatórios lotados, vão aos finais de semana fazer visitas nas enfermarias dos hospitais, fazem plantões frequentam pronto atendimentos e UTIs, e em meio a todos esses locais se espelham nos profissionais que observam, pois são eles que têm como exemplo. Assim, aprendem as condutas certas e erradas, o modo de se relacionar com o paciente e sua família. Aprendem observando muito mais do que na teoria, pois a teoria traz a fisiopatologia, o diagnóstico, o tratamento da doença e a prática que observam ensina o dia a dia, o que se pode fazer quando o que está nos livros não está disponível no serviço em que trabalham. Aprendem a diferença do que seria correto a ser feito para aquilo que se é possível. De acordo com Fiedler (2008) durante a formação surgem sentimentos de angústias, frustrações e incertezas e como não são todas as faculdades de Medicina que ensinam os alunos a lidarem com esses sentimentos, o estudante se torna o único responsável pela manutenção da sua saúde física, mental e social, enfim da sua qualidade de vida. 8 Conforme alguns estudos (Schweller, 2014; Hojat, 2009) o nível de empatia5 dos alunos pelos pacientes vai diminuindo de acordo com o passar dos anos de graduação, ou seja, vai ocorrendo um esfriamento da relação médico-paciente, o que compromete a qualidade da consulta médica. De acordo com Aquino (2012), o estudante aprende a tratar dos pacientes e negligencia o cuidar de si por duas razões: na sua formação, a definição e a aplicação do conceito de qualidade de vida são obscuras e destituídas de importância, e o estudante aprende a identificar-se como sujeito diverso dos pacientes, e o que recomenda para estes não parece ser aplicável a si próprio, neste caso a contradição vivenciada na formação médica. Conforme observamos nas entrevistas e em alguns estudos consultados (Aquino, 2012; Fieldler, 2008; Schweller, 2014), a maior parte dos estudantes de Medicina relataram como fatores de estresse as mudanças na forma de aprendizado passiva para ativa, o volume de informações e matérias a serem estudadas, a diminuição do tempo dedicado ao lazer, a competitividade, o medo de falhar, as dificuldades econômicas, a escolha de uma especialização, as dificuldades para ingressar em um curso de residência médica e a limitação de tempo imposta por extensos currículos impede o desenvolvimento do interesse do aluno por outros temas que não a Medicina, podendo, dessa forma, bloquear sua imaginação e sua criatividade. CONCLUSÕES Marcel Maus (2003) em seu texto As técnicas do corpo constatou que estas técnicas são a maneira pela qual os homens de sociedade a sociedade podem servir-se de seus corpos, ou seja, toda técnica é um ato tradicional eficaz, pois pode ser transmitida de gerações em gerações. O estudante de Medicina em sua maioria entra na faculdade ainda adolescente e são obrigados a assimilar conhecimentos, posturas, habilidades e atitudes. Assim sendo, 5 Existe certa dificuldade na definição da palavra empatia. Rogers define que a empatia envolve um sentimento de sensibilização pelas mudanças sentidas e refletidas, momento a momento, pela outra pessoa. E segundo Davis, empatia é um processo psicológico conduzido por mecanismos afetivos, cognitivos e comportamentais frente à observação da experiência do outro (Costa, 2010). 9 adquirem as técnicas da anamnese, do exame físico, das condutas propedêuticas e terapêuticas. Para tanto possuem um currículo extenso e complexo e a oportunidade de vivenciarem os processos de saúde, doença e morte. Cada vez mais cedo os currículos da escola médica pregam o contato precoce do aluno com o paciente, fazem estágios em postos de saúde, hospitais e vêm de perto as dores e o sofrimento das pessoas enfermas. Os estudantes são ensinados a orientarem estes pacientes sobre a tomada das medicações, a dieta, muitas vezes, necessária ao tratamento, e a realização de atividades físicas. Enfim, os alunos detentores das técnicas de saúde transmitem as técnicas aprendidas aos seus pacientes. Contudo, até que ponto é eficaz o médico, detentor da técnica, transmiti-la ao paciente se não a põe em prática na sua vida? A primeira técnica da Medicina é a relação entre médico e paciente, mesmo com todos os avanços das últimas décadas em se tratando de diagnósticos e tratamentos, a boa relação entre o médico e seu paciente é e continuará sendo a melhor forma de conduzir um tratamento. O que observamos é que essa relação está se tornando fragilizada, devido ao pouco tempo para uma consulta a fim de construir empatia, logo confiança entre o médico e o paciente. Assim sendo, é necessário dar maior ênfase, na educação médica, principalmente no que se refere à importância das habilidades não cognitivas do médico, da sua maturidade e de sua competência social. Pois, como Jung disse "Somente se o médico souber lidar com ele mesmo e com seus próprios problemas ele será capaz de ensinar o paciente a fazer o mesmo”. BIBLIOGRAFIA Aquino, M. T. (2012). Prevalência de transtornos mentais entre estudantes de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. 197f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde). Faculdade de Medicina da UFMG. Belo Horizonte. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. 10 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (2007). A saúde dos médicos no Brasil. Coordenação de Genário Alves Barbosa et al. Brasília: Conselho Federal de Medicina. Costa, F.D.; Azevedo, R.C.S (2010). Empatia, Relação Médico-paciente e Formação em Medicina: um Olhar Qualitativo. Revista Brasileira de Educação Médica 34 (2): 261–269. Davis M.H (1994). Empathy: A Social Psychological Approach. Madison: Brown and Benchmark Publishers. Elias, N. (2001). A solidão dos Moribundos, seguindo de envelhecer e morrer. Rio de Janeiro: Zahar. Fieldler, P. T. (2008). Avaliação da qualidade de vida do estudante de medicina e da influência exercida pela formação acadêmica. 308f. Tese. (Doutorado em Ciências)-Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo. Hojat M., et al (2009). The Devil is in the Third Year: A Longitudinal Study of Erosion of Empathy in Medical School. Academic Medicine: Journal of the Association of American Medical Colleges. October. Rogers, C R. (1992). The necessary and sufficient conditions for therapeutic personality change. J Consult ClinPsychol; 60(6):827-32. Machado, M.H.(1997), coord. Os médicos no Brasil: um retrato da realidade. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 244 p. ISBN: 85-85471-05-0. Available from Scielo. Mauss, M. (2003). Sociologia e Antropologia. São Paulo. “As técnicas do corpo”, Cosac & Naify, Sexta parte: pp. 399-422. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior (2014) Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em 11 Medicina e dá outras providências. Resolução CNE/CES 3/2014. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de junho de 2014 – Seção 1 – pp. 8-11. Pacheco, J. A. (2005). O lado político: Políticas curriculares e políticas educativas e Referenciais conceptuais das políticas curriculares. In: Políticas Curriculares. Porto, Portugal: Porto Editora. Pimentel, A. J. P et al. (2004). Os estudantes de Medicina e o ato médico: Atitudes e valores que norteiam seu posicionamento. Brasília, DF: Conselho Federal de Medicina. Schweller, M. (2014). Ensino de Empatia no curso de graduação em Medicina. 138f. Tese (Doutorado em Clínica Médica). Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. 12