FLAMBAGEM TÉRMICA DE CHAPAS RETANGULARES COM DEGRAUS DE ESPESSURA UNIFORMEMENTE AQUECIDAS Caio de Oliveira Alves Projeto Final de Graduação apresentado ao Departamento de Engenharia Naval e Oceânica, Escola de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do diploma de Engenheiro Naval. Orientador: Murilo Augusto Vaz Rio de Janeiro Março de 2015 FLAMBAGEM TÉRMICA DE CHAPAS RETANGULARES COM DEGRAUS DE ESPESSURA UNIFORMEMENTE AQUECIDAS Caio de Oliveira Alves PROJETO FINAL SUBMETIDO À BANCA APROVADA PELO COLEGIADO DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA – ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO DIPLOMA DE ENGENHEIRO NAVAL. Aprovado por: _____________________________________________ Murilo Augusto Vaz, Ph.D. _____________________________________________ Júlio César Ramalho Cyrino, D.Sc. _____________________________________________ Marcelo Igor Lourenço de Souza, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL MARÇO DE 2015 1 Agradecimentos Existe uma série de pessoas que, sem as quais, eu não estaria hoje onde estou, realizando esse estudo e me tornando engenheiro naval. Esse agradecimento vai à essas pessoas. Primeiramente, minha família, que sempre me apoiou e me proporcionou todas as condições para que eu estudasse e me instruísse, visando sempre meu crescimento pessoal. Reconheço que nada seria possível sem eles e sou muito grato por isso. Em segundo, a todos os professores que já me passaram algum conhecimento. Em especial ao meu orientador, Murilo, que sempre foi muito presente, desde o ínicio de nosso trajeto, com muita paciência, vontade de ensinar e palavras de motivação. Ensinar não é uma tarefa simples, principalmente quando o nível do conteúdo passado é elevado desta forma, e são poucas as pessoas que o fazem com essa segurança e eficácia. Por último, a todos os meus amigos que fiz na faculdade e contribuíram de alguma forma para minha graduação. E um agradecimento em especial aos poucos e bons, que a vida me deu, e que guardarei pra sempre comigo. 2 Resumo do Projeto Final apresentado ao Departamento de Engenharia Naval e Oceânica – Escola Politécnica / UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Diploma de Engenheiro Naval. FLAMBAGEM TÉRMICA DE CHAPAS RETANGULARES COM DEGRAUS DE ESPESSURA UNIFORMEMENTE AQUECIDAS Caio de Oliveira Alves Março/2015 Orientador: Murilo Augusto Vaz Departamento: Engenharia Naval e Oceânica Na engenharia, desde que o aço começou a ser largamente utilizado, chapas metálicas se tornaram componentes estruturais importantíssimos em equipamentos e sistemas mecânicos. Existe uma grande preocupação com o projeto destes sistemas com relação a segurança e redução de gastos, e isso está diretamente relacionado ao dimensionamento eficiente desses elementos estruturais. Chapas devem ser projetadas para resistir aos esforços solicitantes à estrutura sem que haja nenhuma falha, comprometendo a integridade do sistema. Um modo comum de falha é a flambagem, quando a estrutura perde sua estabilidade no plano quando a carga axial que ela sustenta ultrapassa um certo valor crítico. Além do problema mecânico, existe também a preocupação com a parte térmica. Quando um elemento estrutural é aquecido, ele tende a expandir. Porém alguns apoios em suas extremidades não permitem essa expansão, gerando tensões compressívas internas no elemento. Se essas tensões internas forem suficientemente altas, pode gerar a falha da estrutura por flambagem térmica O objetivo deste trabalho é determinar a variação de temperatura crítica de flambagem de chapas retangulares com degraus de espessura que sofrem variações uniformes de temperatura, além de explicar detalhadamente a obtenção destas soluções analíticas. 3 Índice 1. Introdução ............................................................................................................................. 5 2. Revisão Histórica e Bibliográfica ......................................................................................... 9 3. Vibração e Flambagem Mecânica ....................................................................................... 10 4. Cargas Térmicas .................................................................................................................. 17 4.1. Cargas Térmicas em Vigas .......................................................................................... 18 4.2. Cargas Térmicas em Chapas ....................................................................................... 19 5. Algorítimo Para Obtenção da Temperatura Crítica ............................................................. 22 6. Resultados ........................................................................................................................... 24 6.1. Comparação do Resultado Analítico com Soluções Simplificadas ............................. 27 7. Conclusão ............................................................................................................................ 28 8. Referências Bibliográficas .................................................................................................. 30 4 1. Introdução Chapas de aço e outros materiais são utilizadas largamente em diversas áreas da engenharia, seja na construção de equipamentos de alta tecnologia e precisão, ou em obras enormes como estruturas navais e civis. O comportamento mecânico dessas chapas sob as mais diversas condições é estudado de maneira a garantir um funcionamento seguro da estrutura ou equipamento, assim como baratear custos de contrução, manutenção e reparo. Na engenharia naval, o estudo de chapas reforçadas com perfis de viga é fundamental. Um navio é construído a partir de uma grande coleção de painéis reforçados e grandes vigas primárias, no fundo da embarcação, costado e em todos os convéses. Portanto, a compreensão do comportamento mecânico de chapas é inerente à construção naval. A figura 1 mostra um exemplo de porão de mineraleiro, onde pode-se ver a estrutura composta de painéis reforçados. Figura 1. Modelo 3D de porão de carga de navio mineraleiro (Brotto e Carvalho, 2011 [1]) Recentemente, com o avanço da indústria offshore e, consequentemente, das tecnologias envolvidas na fabricação das embarcações, unidades de produção e equipamentos que compõem esses sistemas, uma preocupação cada vez maior com essas chapas é necessária. Em obras de altíssimo custo, a redução de custos é fundamental, porém, sem comprometer a integridade dos equipamentos, o que resultaria em gastos adicionais, e principalmente, sem comprometer a segurança dos trabalhadores a bordo das unidades. Portanto, a motivação para melhor entender o comportamento de chapas e para o desenvolvimento de modelos que analisem com maior fidelidade à realidade está sempre presente. Chapas podem falhar de diversas formas. Os modos mais comuns são: por escoamento, quando a tensão interna na chapa ultrapassa a tensão de escoamento do material que ela é feita, o que acontece, na maioria dos casos, devido a cargas axiais trativas ou a cargas laterais (como por exemplo, comuns na engenharia naval, a pressão hidrostática exercida pela água nas chapas submersas do navio); ou por instabilidade em algum plano, a flambagem, que acontece devido à cargas axiais compressivas e torcionais, na maioria das vezes. 5 O estudo desse trabalho será feito sobre esse segundo modo de falha apresentado, a flambagem, que é um modo muito estudado, mas ainda assim, existe muito o que se aprimorar no entendimento e na confecção de modelos que representem com fidelidade esse problema, devido aos inúmeros elementos que influenciam no fenômeno. Navios estão sujeitos a extensas ondas em alto mar cujos comprimentos são da ordem do comprimento da própria embarcação. Isso significa que o navio passa por situações onde sua estrutura não está uniformemente apoiada pelas forças de empuxo. Quando sua meia nau passa pela crista ou pelo cavado de uma dessas ondas, como ilustrado na figura 2, aparecem grandes momentos fletores ao longo de seu comprimento, momentos de tosamento e alquebramento, o que gera cargas significativas nos chapeamentos do fundo e do convés. Figura 2. Navio nas condições de a) Alquebramento , b) Tosamento Essas cargas na estrutura podem resultar na falha do chapeamento por flambagem global do painel, por torção do reforçador, local do reforçador ou a flambagem do chapeamento entre os reforçadores. A figura 3 ilustra tipos de flambagem do painel. Figura 3. Flambagem de painéis [2] O estudo desse tipo de falha é um tema complexo, quando incorporados nas relações todos os elementos que influenciam o fenômeno. Porém, muitas aproximações e hipóteses podem ser feitas para se ter uma idéia do resultado esperado. A resposta da chapa real nunca será igual a resposta obtida pelo modelo devido a essas aproximações, mas é possivel se ter uma boa noção do comportamento da estrutura. 6 Modelos que estão sendo desenvolvidos partem de definições onde a chapa tem uma geometria ideal, seja ela retangular, circular ou alguma figura regular. Geralmente são compostos de materiais uniformes, cujas propriedades não se alteram ao longo da chapa. Alguns modelos consideram as propriedades do material como funções da temperatura, outros não. Assim como o modo de flambagem, sendo traduzido como uma senóide. Uma série de suposições podem ser feitas para tornar o problema mais simples de ser resolvido analiticamente. Quando a carga axial que a chapa está suportando ultrapassa um certo valor, a chapa falha por flambagem. Portanto, chamamos esse valor de Carga Crítica de Flambagem e é esse o resultado que procuramos achar em análises desse tipo. Esse valor crítico depende de uma série de fatores como a geometria da placa, as propriedades do material e as condições de contorno, onde uma chapa pode estar engastada em suas extremidades, simplesmente apoiada, livre ou uma combinação destas. Esse, porém, é apenas o problema mecânico. Temos também um problema térmico muito comum, onde essas cargas axiais são resultado de expansões térmicas na chapa. Devido às restrições nas extremidades, que não deixam a chapa se expandir livremente, tensões vão sendo acumuladas e, dependendo das condições do equipamento e do aquecimento, essas tensões podem se aproximar do valor crítico mencionado anteriormente. Por isso, encontram-se diversos estudos abordando essa preocupação. A figura 4 mostra uma viga engastada nas duas extremidades e sujeita a um aquecimento uniforme. As linhas sólidas mostram a viga antes do aquecimento, sem tensões internas, já as linhas pontilhadas mostram a viga após o aquecimento e a flambagem. Figura 4. Flambagem térmica de viga Em equipamentos que suportam altas temperaturas, estruturas que sofrem grandes aquecimentos, seja na operação, no reparo ou até mesmo na construção, essa possibilidade deve ser levada em consideração a fim de evitar indesejados danos. Exemplos comuns de projetos que se preocupam com o fenômeno são estruturas aeroespaciais, que enfrentam altíssimas temperaturas devido á reentrada na atmosfera. Estruturas de reatores nucleares também são projetos onde os efeitos desse fenômeno são muito significativos. 7 Já na engenharia naval, temos muitas ocorrências desse tipo de falha. Tanto na operação, em equipamentos que funcionam em altas temperaturas, como a saída dos queimadores em unidades de produção de petróleo. No reparo de certas estruturas menos robustas, onde o calor concentrado do procedimento de soldagem pode levar a essa falha de alguns perfís. E até mesmo em situações fora do perfil operacional, como situações de incêndio ou explosões, onde os projetistas devem prever e garantir a integridade da estrutura, e consequentemente, a segurança da tripulação a bordo. Um exemplo de incêndio a bordo de um navio é ilustrado na figura 5. Figura 5. Incêndio a bordo de navio [3] Lembrando que a maior parte dos estudos realizados são simplificados para geometrias ideais de chapas, com larguras exatas e espessuras constantes, temos discrepâncias entre os resultados obtidos pelos modelos analíticos e o caso real, onde é impossível termos uma chapa com parâmetros geométricos perfeitamente definidos. Assim que são produzidas, elas têm certas imperfeições, ligeiras curvaturas e variações de espessura ao longo de sua extensão, que são reduzidas pelo controle de qualidade da usina mas nunca serão completamente eliminadas. E essas imperfeições pioram drasticamente com o tempo devido a impactos, deformações na construção e, principalmente na área naval, corrosão. Portanto, é importante um modelo que consiga receber essas informações e entregar um resultado mais próximo da realidade. A fim de aumentar o grau de refinamento do modelo analítico estudado nesse trabalho, adotou-se a solução analítica para a flambagem térmica de chapas com a espessura variando de forma discreta ao longo do comprimento da chapa, como degraus. Dessa forma, pode-se melhor modelar a geometria de chapas reais, com imperfeições ou atacadas pela corrosão, e descobrir a temperatura crítica que leva à falha por flambagem. O material utilizado para o estudo de resultados é o aço comercial, porém, o modelo desenvolvido pode ser aplicado para qualquer tipo de material, desde que suas propriedades não se alterem significativamente com o aumento da temperatura, uma suposição adotada no estudo deste modelo. 8 O trabalho foi elaborado da seguinte forma: primeiramente, foi levantada uma revisão histórica sobre o assunto e as contribuições mais significativas até agora na literatura e os principais estudos utilizados como referência. Em segundo, serão abordados os principais conceitos sobre flambagem mecânica e o desenvolvimento detalhado da solução analítica para chapas com degraus de espessura e as possíveis condições de contorno. A próxima etapa consiste em um estudo do problema termomecânico, onde serão desenvolvidos os efeitos da variação térmica nas cargas axiais sofridas pela placa e, por fim, foram gerados uma série de resultados para diversas chapas diferentes a fim de se estudar o comportamento desse fenômeno com a variação dos parâmetros envolvidos. Procurou-se deixar bem claro o desenvolvimento das relações matemáticas ao longo do processo e a apresentação dos resultados para que a conclusão seja o mais intuitiva possível. 2. Revisão Histórica e Bibliográfica De modo a começar o estudo do assunto, é necessário uma revisão histórica e bibliográfica abrangendo os mais importantes artigos e trabalhos literários que estão disponíveis, principalmente para assuntos que não são cobertos no curso natural de uma graduação. É necessário estar familiarizado com os termos, equações gorvernantes e referências clássicas de modo que a compreensão do assunto se dê de uma forma mais natural e intuitiva. Primeiramente, é fundamental o estudo de deformação lateral e vibração de membranas e chapas. O livro “Ship Structural Design: A Rationally-based, Computer-aided, Optimization Approach” (Hughes, 2005) [4] cobre diversos assuntos sobre o tema, como a teoria de pequenas deflexões, a derivação da equação de governo e a teoria para grandes deflexões, incluindo os efeitos de cargas axiais e cargas laterais. É um grande ponto de partida para se situar no assunto. Para a solução exata da flambagem mecânica de chapas, temos algumas contribuições importantíssimas para o estudo. Em 1823, Navier [5], utilizando uma série geométrica dupla que satisfizesse as condições de contorno, obteve a solução exata para a deformação de uma chapa rectangular com todas as bordas simplesmente apoiadas. Já em 1899, Levy [6] desenvolveu um método para resolver o problema de deformação de uma chapa retangular com duas extremidades opostas simplesmente apoiadas e as outras duas com qualquer combinação de apoios, utilizando uma única série de Fourier. Esse método é muito importante para o estudo pois é utilizado na parte mecânica do problema. 9 Ao longo dos anos, muitos autores vêm contribuindo com soluções analíticas para o problema de chapas com variação de espessura. Wittrick e Ellen [7] desenvolveram em 1962 um método para solução de chapas com variação linear da espessura, ao longo de uma direção. Já Pines e Gerard [8] levaram em consideração uma variação de espessura não-linear ao longo de uma direção e, Olhoff [9], ao longo das duas direções. Uma grande influência para esse estudo foi o artigo de Xiang e Wang [10], que aborda o problema de vibração e flambagem de chapas com variação de espessura de forma discreta, como degraus, utilizando o método de Levy. De modo a agregar um maior conhecimento sobre deformações térmicas e tensões internas, um autor muito estudado foi Jones [11, 12]. Em seus artigos publicados no AIAA, em 2004 e 2005 respectivamente, Jones cobre a flambagem térmica plástica de vigas e chapas retangulares sob aquecimento uniforme. A teoria básica sobre as tensões geradas em estruturas devido o aquecimento é muito bem explicada por ele e foi fundamental para o entendimento do assunto como um todo. 3. Vibração e Flambagem Mecânica O problema puramente mecânico, como estudado por Xiang e Wang (2008) [10], é dado da seguinte forma. Considere a seguinte chapa isotrópica, elástica e retangular, com n degraus de espessura. De largura L, comprimento aL, módulo de elasticidade E, coeficiente de Poisson ν, e módulo de cisalhamento 𝐺 = 𝐸/[2(1 + 𝜈)]. A chapa tem espessura constante na direção y e n degraus na direção x, com espessura ℎ𝑖 (i=1, 2, 3, ..., n) para o degrau i. Como vemos na figura 8, a origem do sistema de coordenadas é definido no centro da extremidade BC. A chapa é simplesmente apoiada nas extremidades BC e AD. As outras extremidades, paralelas ao eixo y, AB e CD, podem ser livres, simplesmente apoiadas ou engastadas. A chapa pode estar sujeita a cargas uni-axiais ou bi-axiais, compressivas ou trativas, no plano principal. Sua geometria detalhada está ilustrada na figura 8. 10 Figura 6. Geometria e sistema de coordenadas da chapa Como a geometria completa da chapa é conhecida, a posição de cada interface também é. Como ilustrado na figura 6, vamos chamar a posição da interface genérica entre o degrau i e o 𝐼𝑛𝑡 degrau i+1 de 𝑥𝑖−𝑖+1 . Segundo a teoria clássica de placas finas, a equação diferencial parcial governante para o i-ésimo degrau em vibração harmônica estudada por é dada por [13]: 𝐷𝑖 ( 𝜕 4 𝑤𝑖 𝜕 4 𝑤𝑖 𝜕 4 𝑤𝑖 𝜕 2 𝑤𝑖 𝜕 2 𝑤𝑖 + 2 + + 𝛽𝑁 + 𝛾𝑁 − 𝜌ℎ𝑖 𝜔2 𝑤𝑖 = 0 , ) 𝜕𝑥 4 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑦 4 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 (1) Para i = 1, 2, 3, ... , n Onde o índice i se refere ao i-ésimo degrau de espessura da placa, 𝑤𝑖 (𝑥, 𝑦) é a função deslocamento transversal no ponto (x,y) do sistema de coordenadas adotado. 𝐷𝑖 = 𝐸ℎ𝑖3 / [12(1 − 𝜈 2 )] é a rigidez flexional da chapa. βN e γN são as cargas por unidade de comprimento 11 que a chapa está suportando nas direções x e y respectivamente. ω é a frequência circular de vibração e ρ é a densidade mássica da chapa. Temos que as condições de contorno para as duas extremidades paralelas ao eixo x, que foram fixadas como simplesmente apoiadas, em y = 0 e y = L, são dadas por: 𝑤𝑖 = 0 , (𝑀𝑦 )𝑖 = 0, 𝑒𝑚 𝑦 = 0 , 𝐿 (2a-b) Onde (𝑀𝑦 )𝑖 é o momento fletor em y, definido como: (𝑀𝑦 )𝑖 = 𝐷𝑖 ( 𝜕 2 𝑤𝑖 𝜕 2 𝑤𝑖 + 𝜈 ) 𝜕𝑦 2 𝜕𝑥 2 (3) Já para as outras duas extremidades, paralelas ao eixo y, em x = -aL/2 e x = aL/2, as equações das condições de contorno vão depender de como está disposta a borda considerada. Caso a extremidade seja simplesmente apoiada, as condições de contorno serão 𝑤𝑖 = 0 , 𝜕 2 𝑤𝑖 𝜕 2 𝑤𝑖 (𝑀𝑥 )𝑖 = 𝐷𝑖 ( 2 + 𝜈 ) = 0, 𝑒𝑚 𝑥 = ±𝑎𝐿/2 𝜕𝑥 𝜕𝑦 2 (4a-b) Caso a extremidade esteja engastada, as condições de contorno serão 𝜕𝑤𝑖 = 0, 𝑒𝑚 𝑥 = ±𝑎𝐿/2 𝜕𝑥 𝑤𝑖 = 0 , (4c-d) Caso a extremidade esteja livre, as condições de contorno serão (𝑉𝑥 )𝑖 = 𝐷𝑖 ( 𝜕 3 𝑤𝑖 𝜕 3 𝑤𝑖 + (2 − 𝜈) ) = 0, 𝜕𝑥 3 𝜕𝑥𝜕𝑦 2 = 0, (𝑀𝑥 )𝑖 = 𝐷𝑖 ( 𝜕 2 𝑤𝑖 𝜕 2 𝑤𝑖 + 𝜈 ) 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 (4e-f) 𝑒𝑚 𝑥 = ±𝑎𝐿/2 Onde (𝑉𝑥 )𝑖 é a força cortante efetiva. Adotando-se o método de Levy (1899), uma variação do método clássico de Navier, onde representa-se a função deslocamento por uma única série de Fourier, ao invés de duas, por conta das duas condições de contorno das extremidades paralelas a x serem necessariamente apoiadas, de modo que a convergência do resultado é mais rápida e eficiente. Portanto, tem-se que a função deslocamento transversal será do tipo 𝑚𝜋 𝑤𝑖 (𝑥, 𝑦) = sin ( 𝑦) 𝑋𝑖 (𝑥) , 𝐿 𝑖 = 1, 2, 3, … , 𝑛 (5) 12 Portanto, uma senóide na direção y, onde m será o número de meia-ondas, e 𝑋𝑖 é uma função desconhecida de x que precisamos determinar. Derivando a função deslocamento temos 𝜕𝑤𝑖 𝑚𝜋 = sin ( 𝑦) 𝑋𝑖′ (𝑥) 𝜕𝑥 𝐿 (6a) 𝜕 2 𝑤𝑖 𝑚𝜋 = sin ( 𝑦) 𝑋𝑖′′ (𝑥) 2 𝜕𝑥 𝐿 (6b) 𝜕 2 𝑤𝑖 𝑚𝜋 2 𝑚𝜋 = − ( ) sin ( 𝑦) 𝑋𝑖 (𝑥) 2 𝜕𝑦 𝐿 𝐿 (6c) 𝜕 3 𝑤𝑖 𝑚𝜋 = sin ( 𝑦) 𝑋𝑖′′′ (𝑥) 3 𝜕𝑥 𝐿 (6d) 𝜕 3 𝑤𝑖 𝑚𝜋 2 𝑚𝜋 = − ( ) sin ( 𝑦) 𝑋𝑖′ (𝑥) 2 𝜕𝑥𝜕𝑦 𝐿 𝐿 (6e) 𝜕 4 𝑤𝑖 𝑚𝜋 = sin ( 𝑦) 𝑋𝑖′′′′ (𝑥) 4 𝜕𝑥 𝐿 (6f) 𝜕 4 𝑤𝑖 𝑚𝜋 2 𝑚𝜋 = − ( ) sin ( 𝑦) 𝑋𝑖′′ (𝑥) 2 2 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝐿 𝐿 (6g) 𝜕 4 𝑤𝑖 𝑚𝜋 4 𝑚𝜋 = ( ) sin ( 𝑦) 𝑋𝑖 (𝑥) 4 𝜕𝑦 𝐿 𝐿 (6h) Substituindo as derivadas da função deslocamento (6) na equação de governo (1) e colocando o termo seno vezes a rigidez flexional em evidência e organizando os termos que multiplicam 𝑋𝑖 (𝑥) e 𝑋𝑖′′ (𝑥) temos 𝑚𝜋 𝑚𝜋 2 𝛽𝑁 ′′ 𝑠𝑒𝑛 ( 𝑦) 𝐷𝑖 [𝑋𝑖′′′′ (𝑥) − (2 ( ) − ) 𝑋𝑖 (𝑥) 𝐿 𝐿 𝐷𝑖 𝑚𝜋 4 𝑚𝜋 2 𝛾𝑁 𝜌ℎ𝑖 𝜔2 − (− ( ) + ( ) + ) 𝑋𝑖 (𝑥)] = 0 𝐿 𝐿 𝐷𝑖 𝐷𝑖 (5) 13 Utilizando a técnica do espaço de estados, podemos utilizar (7) e representá-la na forma de um sistema de equações Ψ ′ 𝑖 (𝑥) − 𝐻𝑖 Ψ𝑖 (𝑥) = 0, 𝑖 = 1, 2, 3, … , 𝑛 (6) Onde 𝑋𝑖 𝑋𝑖′ ′ 𝑋𝑖 𝑋𝑖′′ Ψ𝑖 = ; Ψ′𝑖 = ′′ 𝑋𝑖 𝑋𝑖′′′ ′′′′ {𝑋𝑖′′′ } {𝑋𝑖 } (7) E 𝐻𝑖 é uma matriz 4x4. Expandindo (8) com essas informações, podemos determinar 𝐻𝑖 . Temos que o sistema na forma matricial é: 𝑋𝑖′ (𝐻11 )𝑖 ′′ 𝑋𝑖 (𝐻21 )𝑖 ′′′ − (𝐻 ) 𝑋𝑖 31 𝑖 ′′′′ (𝐻 [ 𝑋 41 )𝑖 { 𝑖 } (𝐻12 )𝑖 (𝐻22 )𝑖 (𝐻32 )𝑖 (𝐻42 )𝑖 (𝐻13 )𝑖 (𝐻23 )𝑖 (𝐻33 )𝑖 (𝐻43 )𝑖 𝑋𝑖 (𝐻14 )𝑖 𝑋𝑖′ (𝐻24 )𝑖 =0 (𝐻34 )𝑖 𝑋𝑖′′ (𝐻44 )𝑖 ] {𝑋𝑖′′′ } (10) Abrindo o sistema em 4 equações, temos 𝑋′𝑖 − (𝐻11 )𝑖 𝑋𝑖 − (𝐻12 )𝑖 𝑋′𝑖 − (𝐻13 )𝑖 𝑋𝑖′′ − (𝐻14 )𝑖 𝑋𝑖′′′ = 0 (11a) 𝑋𝑖′′ − (𝐻21 )𝑖 𝑋𝑖 − (𝐻22 )𝑖 𝑋′𝑖 − (𝐻23 )𝑖 𝑋𝑖′′ − (𝐻24 )𝑖 𝑋𝑖′′′ = 0 (11b) 𝑋𝑖′′′ − (𝐻31 )𝑖 𝑋𝑖 − (𝐻32 )𝑖 𝑋′𝑖 − (𝐻33 )𝑖 𝑋𝑖′′ − (𝐻34 )𝑖 𝑋𝑖′′′ = 0 (11c) 𝑋𝑖′′′′ − (𝐻41 )𝑖 𝑋𝑖 − (𝐻42 )𝑖 𝑋′𝑖 − (𝐻43 )𝑖 𝑋𝑖′′ − (𝐻44 )𝑖 𝑋𝑖′′′ = 0 (11d) De (11a) temos que (𝐻11 )𝑖 = 0, (𝐻12 )𝑖 = 1, (𝐻13 )𝑖 = 0 e (𝐻14 )𝑖 = 0 De (11b) temos que (𝐻21 )𝑖 = 0, (𝐻22 )𝑖 = 0, (𝐻23 )𝑖 = 1 e (𝐻24 )𝑖 = 0 De (11c) temos que (𝐻31 )𝑖 = 0, (𝐻32 )𝑖 = 0, (𝐻33 )𝑖 = 0 e (𝐻34 )𝑖 = 1 Dado que para que a solução seja não-trivial, o termo seno e a rigidez flexional que estão em evidência na equação inteira não serão nulos. Portanto, podemos reescrever (7) da seguinte forma, 𝑚𝜋 4 𝑚𝜋 2 𝛾𝑁 𝜌ℎ𝑖 𝜔2 𝑋𝑖′′′′ (𝑥) − (− ( ) + ( ) + ) 𝑋𝑖 (𝑥) − (0)𝑋𝑖′ (𝑥) 𝐿 𝐿 𝐷𝑖 𝐷𝑖 𝑚𝜋 2 𝛽𝑁 ′′ − (2 ( ) − ) 𝑋𝑖 (𝑥) − (0)𝑋𝑖′′′ (𝑥) = 0 𝐿 𝐷𝑖 (12) 14 Logo, por analogia a equação (11d), temos que (os termos 𝑋𝑖′ (𝑥) e 𝑋𝑖′′′ (𝑥) aparecem nesta equação para facilitar o entendimento desta analogia) (𝐻42 )𝑖 = 0, (𝐻44 )𝑖 = 0 e 𝑚𝜋 4 𝑚𝜋 2 𝛾𝑁 𝜌ℎ𝑖 𝜔2 (𝐻41 )𝑖 = − ( ) + ( ) + 𝐿 𝐿 𝐷𝑖 𝐷𝑖 (13a) 𝑚𝜋 2 𝛽𝑁 (𝐻43 )𝑖 = 2 ( ) − 𝐿 𝐷𝑖 (13b) Portanto, temos definidos todos os elementos de 𝐻𝑖 . A solução de (8) pode ser expressa como: Ψ𝑖 = 𝑒 𝐻𝑖𝑥 𝑐𝑖 (14) Onde 𝑒 𝐻𝑖𝑥 é a matriz exponencial de 𝐻𝑖 𝑥 , 4x4 , e é a matriz geral de solução para (8), 𝑐𝑖 é um vetor 4x1 de constantes que serão determinadas através das condições de contorno e/ou interface entre os degraus. Ao longo de toda a interface entre o degrau i e o degrau i+1, deve existir continuidade entre a deformação, o ângulo da deformada (ou seja, a primeira derivada da função deslocamento) e os esforços nos dois lados da interface. Ou seja, ao longo das interfaces, 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 𝑤𝑖 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) = 𝑤𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) (15a) 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 𝜕𝑤𝑖 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) 𝜕𝑤𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) = 𝜕𝑥 𝜕𝑥 (15b) 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 (𝑀𝑥 )𝑖 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) = (𝑀𝑥 )𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) (15c) 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 (𝑉𝑥 )𝑖 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) = (𝑉𝑥 )𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) (15d) Lembrando que (𝑀𝑥 )𝑖 e (𝑉𝑥 )𝑖 são respectivamente o momento fletor e a força cortante no degrau considerado, já foram definidos anteriormente em (4e–f). Substituindo a função deslocamento (5) e suas derivadas (6), e lembrando que o termo seno não muda de um degrau para o outro (apenas o termo desconhecido 𝑋𝑖 muda para 𝑋𝑖+1 ) e pode ser cortado em ambos os lados das equações, podemos reescrever as equações de contorno (4) e as equações de interface (15) e igualá-las a zero. A primeira equação de contono (4a) se torna 𝑚𝜋 sin ( 𝑦) 𝑋𝑖 (±𝑎𝐿/2) = 0 𝐿 15 Ou seja, 𝑋𝑖 (±𝑎𝐿/2) = 0 (16a) Usando a mesma idéia da equação anterior, temos que as equações de contorno podem ser reescritas como 𝑋𝑖 ′(±𝑎𝐿/2) = 0 (16b) 𝑚𝜋 2 𝐷𝑖 [− ( ) 𝑋𝑖 (±𝑎𝐿/2) + 𝜐 𝑋𝑖′′ (±𝑎𝐿/2)] = 0 𝐿 (16c) 𝑚𝜋 2 𝐷𝑖 [𝑋𝑖′′′ (±𝑎𝐿/2) − (2 − 𝜐) ( ) 𝑋𝑖′ (±𝑎𝐿/2)] + 𝛽𝑁 𝑋𝑖′ (𝑥 ± 𝑎𝐿/2) = 0 𝐿 (16d) Já as condições de interface (15) se tornam 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 𝑋𝑖 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) − 𝑋𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 )=0 (17a) 𝐼𝑛𝑡 ′ 𝐼𝑛𝑡 𝑋𝑖 ′(𝑥𝑖−𝑖+1 ) − 𝑋𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 )=0 (17b) 𝑚𝜋 2 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 𝐷𝑖 [− ( ) 𝑋𝑖 (𝑥𝑖−𝑖+1 )] ) + 𝜐 𝑋𝑖′′ (𝑥𝑖−𝑖+1 𝐿 𝑚𝜋 2 𝐼𝑛𝑡 ′′ 𝐼𝑛𝑡 − {𝐷𝑖+1 [− ( ) 𝑋𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) + 𝜐 𝑋𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 )]} = 0 𝐿 (17c) 𝑚𝜋 2 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 𝐷𝑖 [𝑋𝑖′′′ (𝑥𝑖−𝑖+1 ) − (2 − 𝜐) ( ) 𝑋𝑖′ (𝑥𝑖−𝑖+1 )] + 𝛽𝑁 𝑋𝑖′ (𝑥𝑖−𝑖+1 ) 𝐿 𝑚𝜋 2 ′ ′′′ 𝐼𝑛𝑡 𝐼𝑛𝑡 − {𝐷𝑖+1 [𝑋𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 ) − (2 − 𝜐) ( ) 𝑋𝑖+1 (𝑥𝑥𝑖−𝑖+1 )] 𝐿 (17d) ′ 𝐼𝑛𝑡 + 𝛽𝑁 𝑋𝑖+1 (𝑥𝑖−𝑖+1 )} = 0 𝐼𝑛𝑡 Lembrando que, como definido no início do capítulo, 𝑥𝑖−𝑖+1 é a posição da interface genérica entre os degraus i e i+1. Podemos então montar um sistema que consiste nas equações de contorno (dentre as equações (16), as que se aplicam a placa estudada) e equações de interface (17). Teremos duas equações de contorno para uma extremidade, duas equações de contorno para a outra 16 extremidade e quatro equações de interface para cada interface, portanto, esse sistema terá um total de 4n equações, onde n é o número de degraus de espessura na chapa. Pela definição da solução para Ψ𝑖 , equação (14), cada termo da função desconhecida 𝑋𝑖 e suas derivadas serão multiplicados por elementos do vetor de constantes 𝑐𝑖 . Quando substituímos então os termos 𝑋𝑖 e suas derivadas pela solução dada, podemos reescrever o sistema de 4n equações de contorno/interface da forma matricial 𝑐1 𝑐2 ⋮ [𝐾]4𝑛 𝑥 4𝑛 𝑐 = {0} 𝑖 ⋮ {𝑐𝑛 } (18) Onde cada 𝑐1 , 𝑐2 , … , 𝑐𝑛 é um vetor 4x1 de constantes, definido anteriormente, e [𝐾] é uma matriz 4n x 4n composta de todos os elementos que multiplicam cada uma dessas constantes. Para determinarmos a frequência natural de vibração 𝜔 (setando N como sendo zero) ou a carga crítica de flambagem N (setando 𝜔 como sendo zero), para que a solução seja não trivial, calculamos o valor tal que o determinante de [𝐾] seja zero. Temos solucionado assim, o problema mecânico de flamabagem de chapas com degrau de espessura. 4. Cargas Térmicas Materiais que se encontram sob variações de temperatura sofrem deformações térmicas. Aquecimentos resultam em expansões térmicas e resfriamentos, em contrações. Na maioria dos equipamentos e estruturas, essas variações de temperatura são pequenas e os elementos da estrutura têm certa liberdade para expandir, resultando em pequenas deformações, insignificantes para o projeto. Porém, quando essas variações são grandes, os projetistas precisam de fato se preocupar com tais deformações que podem resultar em tensões indesejadas. O problema é maior ainda pois alguns objetos podem se encontrar impedidos de se expandir em alguma direção, por terem suas extremidades engastadas ou apoiadas em configurações que não permitam o movimento lateral dessas extremidades. Vigas e chapas são as ocorrências mais comuns desse tipo de situação. Nesses casos, o equipamento, impedido de se expandir, acumula tensões internas que, se negligenciadas, podem resultar na falha da estrutura. 17 4.1. Cargas Térmicas em Vigas Para entender o conceito por trás das tensões geradas no material de extremidades restritas devido ao aquecimento, é mais intuitivo estudar o caso simples, unidimensional. Esse conceito se aplica ao longo de todas as dimensões e pode ser usado para o estudo de chapas. Para tratar o problema térmico, utiliza-se o princípio da superposição de dois diferentes casos: o problema de expanção térmica livre e o problema da força de restrição térmica. Para deduzir as forças que aparecem na viga de extremidades restritas que é aquecida, primeiro consideramos que ela pode se expandir livremente uma certa quantidade ∆, que pode ser calculada pelas formulações de expansão térmica, e depois, calculamos a força compressiva necessária para trazer a viga de volta à posição inicial (restrita), ou seja, a força necessária para fazer a extremidade da viga se deslocar ∆ novamente na outra direção. Essa superposição está visualmente representada na figura 7 a fim de tornar o entendimento mais intuitivo. Figura 7. Representação da barra restrita por superposição dos fenômenos A viga que vamos estudar é conhecida, onde temos o comprimento inicial L, o material que ela é feita e a variação de temperatura uniforme ∆𝑇 que será aplicada a ela. Ela encontra-se bi-apoiada de maneira que seu movimento na direção longitudinal está restrito nas duas extremidades. Portanto, tensões serão geradas na viga após seu aquecimento. Pela superposição, dividimos o fenômeno em duas etapas, como mostra a figura 9. Analisando o primeiro caso, de expansão térmica livre (ETL), podemos determinar ∆𝐸𝑇𝐿 como sendo ∆𝐸𝑇𝐿 = 𝛼 𝐿 ∆𝑇 (19a) Dado que a deformação térmica é 𝜀 𝑇 = 𝛼 ∆𝑇 (19b) Na segunda etapa, calcula-se a força restritiva térmica (FRT) P. Podemos expressar ∆𝐹𝑅𝑇 pela lei de Hooke (Hooke, 1676) para compressão axial, onde a tensão 𝜎 = 𝑃/𝐴 (onde A é a área da viga) e a deformação 𝜀 = ∆𝐹𝑅𝑇 /𝐿 , portanto, ficamos com 18 𝑃𝐿 𝐴𝐸 Como a viga não se expande de fato, temos que ∆𝐹𝑅𝑇 = ∆𝐸𝑇𝐿 = ∆𝐹𝑅𝑇 (19c) (20) Portanto, igualando os deslocamentos obtidos em (19a) e (19c) e dividindo os dois lados da equação por L, temos 𝑃 = 𝐸 𝛼 ∆𝑇 𝐴 (21) Comparando com a formulação clássica de Euler para a carga crítica de flambagem P* 𝑃∗ = 𝜋 2 𝐸𝐼 = 𝐸 𝛼 ∆𝑇 ∗ 𝐴 𝐿2 (22a) Temos que a variação de temperatura crítica de flambagem para uma viga bi-apoiada é dada por 1 𝐸𝐼 (22b) 𝜋2 2 𝐸∝𝐴 𝐿 A ideia por trás dessa dedução é importante pois pode-se aplicar o mesmo raciocínio ∆𝑇 ∗ = para deduzir as cargas na direção do eixo x e do eixo y em uma chapa, o próximo passo desse estudo. 4.2. Cargas Térmicas em Chapas Para chapas, o raciocínio é similar. Considere a geometria apresentada na figura 8, onde a é a largura da chapa, b é o comprimento e h é a espessura. Figura 8. Geometria de uma chapa uniforme Temos que a deformação total sofrida pela placa será a soma da deformação elastica mais a deformação térmica. Pela lei de Hooke (Hooke, 1676) em um material isotrópico, temos que as deformações elasticas são funções das tensões, do coeficiente de Poisson e do módulo de elasticidade do material. Portanto, temos que as deformações serão 19 1 [𝜎 − 𝜈𝜎𝑦 − 𝜈𝜎𝑧 ] + 𝜀 𝑇 𝐸 𝑥 1 𝜀𝑦 = [𝜎𝑦 − 𝜈𝜎𝑥 − 𝜈𝜎𝑧 ] + 𝜀 𝑇 𝐸 1 𝜀𝑧 = [𝜎𝑧 − 𝜈𝜎𝑥 − 𝜈𝜎𝑦 ] + 𝜀 𝑇 𝐸 𝜀𝑥 = (23a) (23b) (23c) Como a chapa encontra-se livre para expandir na direção z, a tensão 𝜎𝑧 será zero. E como a espessura da chapa é muito menor que as outras dimensões, podemos admitir que 𝜀𝑧 será aproximadamente zero. Portanto, podemos eliminar essas duas incógnitas das equações (23). Multiplicando (23a) por 𝜈 e somando as equações, podemos obter 𝜎𝑥 . Fazendo o mesmo procedimento com (23b), obtemos 𝜎𝑦 . 𝜎𝑥 = 𝐸 𝐸 (𝜀𝑥 + 𝜐𝜀𝑦 ) − 𝜀𝑇 2 (1 − 𝜐 ) (1 − 𝜐) (24a) 𝜎𝑦 = 𝐸 𝐸 (𝜀 + 𝜐𝜀𝑥 ) − 𝜀𝑇 (1 − 𝜐 2 ) 𝑦 (1 − 𝜐) (24b) Uma chapa com diversos degraus de espessura pode ser modelada como diversas chapas como a figura 11, uma ao lado da outra, com suas larguras iguais a 𝐿. Cada uma com seu 𝑎𝑖 e ℎ𝑖 . Um exemplo é ilustrado na figura 12, para uma chapa com 3 degraus de espessura (n = 3). Figura 9. Exemplo de chapa com 3 degraus de espessura Portanto, teremos um par de equações (32) para cada degrau da chapa, ou seja 2n equações para a chapa inteira. Como temos as restrições de movimentação nos bordos, por simetria no eixo y, 𝜀𝑦 será igual a zero. Não pode se dizer a mesma coisa sobre o eixo x pois cada degrau terá uma espessura diferente e um comprimento diferente, consequentemente, uma deformação 𝜀𝑥𝑖 diferente para cada degrau. Fazendo 𝜀𝑦𝑖 = 0, ficamos com as seguintes equações para cada degrau 𝜎𝑥𝑖 = 𝐸 𝐸 𝜀𝑥𝑖 − 𝜀𝑇 2 (1 − 𝜐 ) (1 − 𝜐) (25a) 𝜎𝑦𝑖 = 𝐸 𝐸 𝜐𝜀𝑥𝑖 − 𝜀𝑇 2 (1 − 𝜐 ) (1 − 𝜐) (25b) 20 Para que haja equilíbrio na chapa, temos que o somatório das forças na direção x e y têm de ser igual a zero. Na direção y, por simetria, teremos simplesmente que a força distribuída em um bordo do degrau será igual a força distribuída no outro bordo, em sentidos opostos, mas na direção x, é importante pois temos espessuras diferentes e, consequentemente, tensões diferentes que necessariamente irão produzir forças iguais ao longo da chapa, para que haja continuidade. Por tanto, abrangindo todas as interfaces, temos a seguinte equação de equilíbrio de força 𝜎𝑥1 ℎ1 = 𝜎𝑥2 ℎ2 = ⋯ = 𝜎𝑥𝑖 ℎ𝑖 = ⋯ = 𝜎𝑥𝑛 ℎ𝑛 (25c) De modo a organizar a utilização dessas equações no sistema de maneira produtiva, podemos igualar a força no primeiro degrau com a força em cada outro degrau (i.e. 𝜎𝑥1 ℎ1 = 𝜎𝑥2 ℎ2 ; 𝜎𝑥1 ℎ1 = 𝜎𝑥3 ℎ3 ; ... ; 𝜎𝑥1 ℎ1 = 𝜎𝑥𝑛 ℎ𝑛 ). Portanto, termos (n-1) equações. E finalmente, a última equação que nos auxilia é a equação de restrição de movimento longitudinal da placa. A restrição transversal e a simetria da chapa implicam em 𝜀𝑦𝑖 = 0, porém, na direção x, isso se desdobra um pouco. Tem-se que o comprimento total da chapa será constante, mas a posição das interfaces estão livres para movimentarem-se. Ou seja, o deslocamento longitudinal de cada degrau pode ser diferente de zero, mas o somatório destes deve resultar zero dado que o comprimento total da chapa não se altera 𝑎1 𝜀𝑥1 + 𝑎2 𝜀𝑥2 + ⋯ + 𝑎𝑖 𝜀𝑥𝑖 + ⋯ + 𝑎𝑛 𝜀𝑥𝑛 = 0 Ou seja 𝑛 ∑ 𝑎𝑗 𝜀𝑥𝑗 = 0 (25d) 𝑗=1 Dessa forma, temos um sistema bem definido com 3n equações e 3n incógnitas (𝜎𝑥𝑖 , 𝜎𝑦𝑖 𝑒 𝜀𝑥𝑖 para cada degrau). Substituindo (25a) nas equações (25c), pode-se simplificar o sistema. Dividindo os dois lados das equações por E, tem-se que, para (i = 1, 2, 3, ... , n) ℎ1 ( 𝜀𝑥1 𝜀𝑇 𝜀𝑥𝑖 𝜀𝑇 − = ℎ − ) ( ) 𝑖 (1 − 𝜐 2 ) (1 − 𝜐) (1 − 𝜐 2 ) (1 − 𝜐) (26) Reorganizando a equação e explicitando o termo 𝜀𝑥𝑖 , pode-se definir de forma genérica, para (i = 1, 2, 3... n) 𝜀𝑥𝑖 = ℎ1 [𝜀 − (1 + 𝜐)𝜀 𝑇 ] + (1 + 𝜐)𝜀 𝑇 ℎ𝑖 𝑥1 (27) Finalmente, substituindo (27) na equação (25d), colocando em evidência os termos que multiplicam a deformação térmica e explicitando 𝜀𝑥1 temos 21 −(1 + 𝜈)𝜀 𝑇 ∑𝑛𝑗=1 𝑎𝑗 (1 − 𝜀𝑥1 = ∑𝑛𝑗=1 𝑎𝑗 ℎ1 ) ℎ𝑗 ℎ1 ℎ𝑗 (28) Tendo calculado o valor de 𝜀𝑥1 pela equação acima, podemos substitui-lo em (27) e descobrir 𝜀𝑥𝑖 para cada degrau, substituindo o valor de ℎ𝑖 do degrau considerado. E finalmente, tendo em mãos o valor da deformação de cada degrau no eixo x, podemos então substituí-los nas equações (25) e resolvê-las para as tensões. Com as tensões, podemos facilmente avaliar o valor de cada força distribuída ao longo das extremidades da chapa, lembrando que elas serão o produto da tensão na direção considerada vezes a área do trecho considerado sobre o comprimento do trecho, ou seja, simplesmente a tensão vezes a espessura. Após os cálculos demonstrados, teremos mapeado as cargas ao longo das extremidades da chapa, conforme ilustrado na figura 10. Figura 10. Cargas térmicas em chapa com degraus de espessura Combinando os cálculos das cargas térmicas apresentados anteriormente com o precedimento para obtenção da carga de flambagem da chapa, podemos determinar, através de um algorítimo, qual a temperatura crítica de flambagem para cada geometria de chapa. 5. Algorítimo Para Obtenção da Temperatura Crítica Para obtenção dos resultados propostos no estudo, um algorítimo foi programado. O software e a linguagem escolhidas para a programação foi o MATLAB, um software voltado para solução de problemas com matrizes. Permite a rápida criação de variáveis na forma de matrizes ou vetores e possui uma grande coleção de comandos imbutidos para operações com 22 matrizes. Portanto, para o problema em questão, o MATLAB foi uma ferramente incrivelmente eficiente, tornando muito mais fácil a criação do algorítimo do que linguagens mais convencionais, como Fortran ou Basic. Foi gerado um algorítimo para cada problema, um para o cálculo das frequências de vibração mecânica, um para o problema de flambagem mecânico e um para o de flambagem térmico. Os problemas são muito similares, portanto, os códigos são similares. Sendo assim, apenas será coberto o código referente ao problema de flambagem térmico. Como todas as equações do problema são construídas com o valor da carga distribuída (ou, para o caso da flambagem térmica, a variação de temperatura que causa essa carga) que a chapa está sofrendo e é exatamente essa que queremos descobrir, o MATLAB oferece uma ferramenta para construir o problema em função dessa incognita e, ao final da montagem do problema, resolver analíticamente para a carga (ou temperatura) que zera o determinante de K. Entretanto, existem muitas operações a serem feitas ao longo do problema, com valores altos e, além disso, o número de equações aumenta muito com o número de degraus que existem na chapa, portanto, computadores convencionais não tem capacidade de processamento para aguentar esse método de solução, mais computacionalmente intenso. A solução adotada foi utilizar um método mais simples de solução numérica, o método da bisseção, que embora seja mais lento, conseguiu resolver o problema com boa precisão. O algorítimo é bem direto. Primeiramente, o programa recebe as características do material (coeficiente de Poisson e o módulo de elasticidade), da chapa (sua geometria completa, como descrito na figura 6) e as condições de contorno das extremidadas x = aL/2 e x = –aL/2. No próprio código, são escolhidos uma variação de temperatura inicial e um passo. Ambos pequenos suficientes para que o programa não dê um salto grande demais e perca o primeiro modo de flambagem, aquele com a variação de temperatura mais baixa, ou seja, o mais crítico. E então começa o loop do método da bisseção, que o programa vai rodar, adicionando e refinando o passo, até a variação de temperatura chegar suficientemente próxima ao valor exato, dentro de uma tolerância já estabelecida no código (para os resultados ilustrativos gerados, foi utilizado uma tolerância de 0,5ºC). Esse loop consiste em duas etapas. Primeiro, utilizar a variação de temperatura considerada com as equações descritas no capítulo 4.2. para determinar as cargas na chapa e, com a carga obtida, executar o procedimento descríto no capítulo 3 e checar a flambagem da chapa. 23 Uma série de condicionais “ifs” selecionam as equações pertinentes para montar o sistema final com base na escolha das condições de contorno alimentadas ao programa, no bordo direito e no esquerdo, agregado com todas as equações de continuidade para cada posição de interface escolhida pelo usuário. Tendo o sistema de equações todo montado, um rápido procedimento identifica em cada equação quais os parâmetros que são multiplicados por cada vetor de constantes 𝑐1 , 𝑐2 , … , 𝑐𝑖 e monta assim a matriz 4n x 4n K. O programa então calcula o valor do determinante de K e guarda esse valor. O passo é adicionado à variável de variação de temperatura e o loop é executado novamente. Com o novo valor de determinante de K, ele é comparado com o valor obtido na iteração anterior e então pode-se definir se o passo escolhido foi suficiente para ultrapassar o valor crítico (quando o valor do determinante passa pelo zero, ou seja, troca de sinal). Caso seja verdade, o passo é refinado e seu sinal é invertido, caso contrário, o passo continua a ser adicionado. O programa continua executando esse loop até que o passo seja refinado e seu módulo seja menor que a tolerância. Isso sinaliza o programa para parar de executar o loop e mostrar os resultados na tela. 6. Resultados Devido à natureza do problema, existem muitos parâmetros envolvidos que influenciam a sua solução. Portanto, é impossível cobrir todos os casos possíveis na apresentação de resultados. A seguir, serão apresentados alguns exemplos de modo a ilustrar o problema. Para o material das chapas, foram utilizadas características clássicas de aço convencional. O coeficiênte de Poisson utilizado foi 𝜐 = 0,3, o módulo de elasticidade 𝐸 = 210 𝐺𝑃𝑎 e o coeficiente de expansão térmica 𝛼 = 14 𝑥 10−6 /°𝐶 . Primeiramente, de modo a validar os valores obtidos com uma solução já proposta, comparou-se os valores do gradiente crítico de temperatura obtidos pela solução analítica proposta para uma chapa uniforme (entramos no programa com dois degraus de mesma espessura) com a solução proposta por Thornton (1993) [10] para flambagem térmica de chapas uniformes. 24 Tabela 1. Comparação da solução proposta com a solução de referência a 1 1 1 2 2 2 h (mm) 20 25 35 20 25 35 Solução Proposta 36,12 56,51 110,70 22,60 35,34 69,16 Referência [10] 36,15 56,49 110,72 22,60 35,31 69,20 Erro Relativo (%) 0,090 0,039 0,015 0,021 0,099 0,055 Percebemos que a solução analítica proposta se encontra de acordo com soluções clássicas propostas para chapas uniformes. Isso quer dizer que as cargas térmicas foram bem calculadas e a formulação de flambagem, também. Seguem abaixo duas “famílias” de chapas, uma com 2 degraus e uma com 3. Os parâmetros variados em cada chapa estão ilustrados na figura 11 e 12, respectivamente. As determinações SS e CC significam os apoios nas extremidades AB e CD. Onde S é simplesmente apoiado (Simply Suported) e C é engastado (Clamped). Figura 11. Chapa com dois degraus de espessura A tabela 1 mostra a temperatura crítica de flambagem quando variamos alguns parâmetros da chapa. Manteve-se constante o valor de L = 1m e ℎ1 = 10𝑚𝑚 25 Tabela 2. Gradientes de temperatura críticos (°C) a 1,0 2,0 h2(mm) 10 15 20 10 15 20 0,3 9,01 15,10 19,55 5,65 9,40 12,13 Chapa S-S b 0,5 9,01 12,68 16,43 5,65 7,52 8,38 0,7 9,01 11,30 13,70 5,65 6,43 6,74 a 1,0 2,0 h2(mm) 10 15 20 10 15 20 0,3 17,29 30,02 37,84 6,66 12,05 16,59 Chapa C-C b 0,5 17,29 23,77 30,41 6,66 9,32 11,27 Com o próximo exemplo, foi utilizada uma chapa um pouco mais robusta, aproximadamente 1 polegada, e um degrau de menor espessura no centro, simulando uma corrosão. Figura 12. Chapa com três degraus de mesmo comprimento Já a tabela 2 mostra a variação de temperatura crítica de flambagem para a chapa representada na figura 12, variando alguns parâmetros da geometria. Manteve-se constante 𝐿 = 1𝑚 e ℎ1 = ℎ3 = 25𝑚𝑚. Tabela 3. Gradientes de temperatura críticos (°C) a 1,0 2,0 3,0 h2(mm) 25 23 20 25 23 20 25 23 20 S-S 56,51 52,76 47,13 35,34 32,6 28,7 31,35 28,59 24,24 C-C 108,1 100,4 89,55 41,82 38,23 33,15 33,15 29,87 25,02 26 0,7 17,29 21,98 25,65 6,66 7,68 8,23 Vemos que a temperatura crítica de flambagem aumenta com a espessura da chapa. Isso se dá pois a carga que a chapa sofre aumenta, mas sua rigidez flexional aumenta ainda mais, com a terceira potência da espessura. Portanto, a chapa se torna mais resistente aos efeitos da flambagem térmica. Da mesma forma, quando aumenta-se a região da chapa de menor espessura, como era de se esperar, tem-se que a variação de temperatura crítica da chapa diminui. Assim como em soluções de flambagem para chapas com espessura constante, vemos que o gradiente de temperatura de flambagem diminui com o aumento da razão de aspecto, ou seja, a chapa fica menos resistênte a falha por flambagem. Também pode-se observar, pela tabela 2, que quanto maior a razão de aspecto, menores são os efeitos do tipo de apoio que a chapa está submetida. 6.1. Comparação do Resultado Analítico com Soluções Simplificadas A engenharia atua sempre fazendo um paralelo entre a ciência e a vida prática. Portanto, é muito comum e de extrema importância estudos que simplifiquem soluções analíticas ricas e complexas para uso em campo, ou em fases preliminares de projeto. Isso, com um baixo nível de discrepância. A fim de ilustrar essa tarefa, comparou-se o resultado analítico exato obtido neste trabalho com uma comum de simplificação aplicada em campo: uma média das espessuras ponderadas pelo comprimento de cada degrau, que possua uma área lateral igual a chapa em questão. Considere a “família” de chapas ilustrada na figura 12 onde ℎ1 = ℎ3 e varia-se apenas ℎ2 . Então, comparamos a solução exata obtida para essa chapa com a solução para uma chapa de espessura constante igual a ℎ̅. Essa solução para chapa uniforme, simplesmente apoiada em todos os bordos, pode ser obtida segundo [2]. Tabela 4. Comparação entre a solução proposta (°C) para a chapa real e a solução de referência (°C) para a chapa simplificada a 1 1 2 2 3 3 h1 0,025 0,025 0,025 0,025 0,025 0,025 h2 0,023 0,02 0,023 0,02 0,023 0,02 h3 0,025 0,025 0,025 0,025 0,025 0,025 h médio 0,0243333 0,0233333 0,0243333 0,0233333 0,0243333 0,0233333 Solução Proposta 52,76 47,13 32,6 28,7 28,59 24,24 Referência 53,52 49,21 33,45 30,75 29,73 27,34 Erro Relativo (%) 1,43 4,41 2,60 7,16 3,99 12,78 27 Percebe-se que para chapas com razão de aspecto baixa, o erro relativo é bem baixo (em torno de 5%), possibilitando que a simplificação para um chapa de espessura constante e igual a média das espessuras seja uma boa estimativa inicial. Porém, quanto maior a discrepância entre as espessuras e quanto maior a extensão dos degraus, maior esse erro relativo se torna, fazendo com que essa estimativa seja cada vez menos eficaz para traduzir o problema. Nesses casos, há uma necessidade de obter a solução analítica pelo modelo mais completo. 7. Conclusão O objetivo do trabalho foi estudar o fenômeno de flambagem térmica de placas retangulares uniformemente aquecidas e suportadas por uma combinação de apoios. Assim como os efeitos da variação dos parâmetros físicos e geométricos sobre o fenômeno. Na primeira parte do estudo, foi necessário um período de pesquisa de trabalhos anteriores, pertinentes ao assunto, a fim de consolidar a compreensão e preparar a mente para entender intuitivamente as investigações relacionadas à teoria de placas. Foram abordados diversos temas como carregamento lateral, flexão pura de placas, etc. Como descrito, alguns artigos em especial foram fundamentais para o entendimento do problema mecânico e também das cargas térmicas decorrentes do aquecimento uniforme. Em seguida, foi apresentado o passo-a-passo da solução analítica de Xiang para o problema mecânico de flambagem e vibração. Esse é um passo importantíssimo para o estudo pois serve de base para os resultados finais e, portanto, é descrito com todo o cuidado necessário. Então, associou-se o problema térmico ao estudo. A determinação analítica das tensões internas decorrentes do aquecimento uniforme pode ser agregada à solução do problema mecânico, gerando uma nova solução, um novo procedimento e um novo algorítmo para o problema. O estudo se mostrou positivo na determinação da temperatura crítica de flambagem de chapas com degraus de espessura. O procedimento foi pensado, explicado em detalhe e então executado. Exemplos de sua aplicação foram então apresentadas a fim de ilustrar a solução. Estas soluções são importantes pois servem como elementos de análise de comportamento de chapas em projetos de estruturas ou então para validação e desenvolvimento de novas técnicas de análise, mais simplificadas ou não. Após a comparação dos resultados da solução proposta com a simplificação sugerida, de uma chapa uniforme de mesma área lateral que a chapa estudada, percebemos que a solução 28 analítica é importante dado que, para grandes razões de aspecto, grandes degraus e diferenças de espessura, a solução da chapa simplificada começa a diferir muito da solução analítica desenvolvida. Isso mostra que essa simplificação pode ser utilizada como uma ferramenta preliminar, para ter-se uma ideia do comportamento da chapa, porém apresenta discrepâncias relativamente grandes com os valores da solução analítica proposta. 29 8. Referências Bibliográficas [1] Brotto, G. ; Carvalho, E. (2011). 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