FINANCIAMENTO Em ano eleitoral, investimentos em saúde crescem em média 48% Os investimentos do Ministério da Saúde em obras e compras de equipamento tem acelerado significativamente no período pré-eleitoral. A conveniente liberação de recursos foi constatada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que analisou a execução orçamentária da União durante os primeiros quadrimestres de 2001 a 2014. Segundo dados oficiais, o investimento nos anos de eleições gerais ou municipais subiu em média 48%, confirmando a tendência de aumento dos gastos públicos em anos de pleitos eleitorais e de contenção de despesas nos anos subsequentes. Para Carlos Vital, 1º vice-presidente do CFM, as informações que o ritmo de investimentos está mais relacionado ao interesse político do que ao interesse público. “Em anos eleitorais, tradicionalmente, os gastos costumam ser expandidos e a liberação mais benevolente. Esse ciclo de expansão e de contingenciamento é ruim, pois não permite a continuidade de projetos e obras que acabam ficando paradas até a próxima eleição”, criticou Vital. Ele destacou ainda a influência do calendário eleitoral em outras áreas de investimento, citando estudo elaborado em 2011 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com a análise do CFM, de abril a janeiro de 2014 as aplicações em saúde atingiram quase R$ 1,4 bilhão, impulsionadas significativamente pela postergação de pagamentos de despesas de 2013 para janeiro deste ano, com os chamados restos a pagar. No mesmo período de 2013, R$ 1 bilhão foi Investimentos Federais em Saúde investido. O valor do ano Janeiro a Abril passado foi inferior, no Relação % com mesmo entanto, ao aplicado em Ano Valor Pago* período do ano anterior 2012, quando 2001 R$ 812.899.668,13 aconteceram as últimas Eleições Gerais 2002 R$ 1.462.257.758,99 80% 2003 R$ 319.686.079,00 -78% eleições municipais em Eleições Municipais 2004 R$ 684.735.549,57 114% todo o país. Nos 2005 R$ 354.835.809,92 -48% primeiros meses daquele Eleições Gerais 2006 R$ 612.778.575,89 73% 2007 R$ 816.054.586,58 33% ano, o Ministério da Eleições Municipais 2008 R$ 527.096.598,91 -35% Saúde desembolsou 65% 2009 R$ 649.619.450,97 23% Eleições Gerais 2010 R$ 892.162.806,67 37% a mais que em 2011. Já em 2010, quando foram realizadas eleições presidenciais, também foi possível notar o crescimento dos Eleições Municipais Eleições Gerais 2011 2012 2013 2014 R$ 834.779.663,12 R$ 1.376.210.123,07 R$ 1.019.637.862,83 R$ 1.361.516.715,41 -6% 65% -26% 34% Fonte Siafi. Elaboração CFM De 2001 a 2014 até abril. Inclui os valores pagos do ano + os restos a pagar pagos. * Valores atualizados pelo IGP-DI, da FGV. investimentos em saúde nos quatro primeiros meses do exercício: foram R$ 892 milhões, R$ 243 milhões a mais que o investido durante o primeiro quadrimestre de 2009, em valores atualizados pela inflação (tabela ao lado). O ano de 2008 foi o único que não seguiu o padrão encontrado nos anos eleitorais, com queda de 35% nos investimentos do quadrimestre. Saúde não é prioridade Apesar da guinada dos investimentos em saúde nos primeiros meses, o levantamento do CFM constatou ainda que, em 2014, dos R$ 18,3 bilhões gastos com investimentos pelo Governo Federal, o Ministério da Saúde foi responsável por apenas 7,4% dessa quantia. Dentre os órgãos do Executivo, a Saúde aparece em quinto lugar na lista de prioridades no chamado “gasto nobre”. Significa dizer que, a frente da construção, ampliação e reforma de unidades de saúde e da compra de equipamentos médico-hospitalares para atender o Sistema Único de Saúde (SUS), constam obras em rodovias, estádios, armamento militar e até máquinas e equipamentos rurais. Entre janeiro e abril de 2014, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por exemplo, investiu R$ 1,5 bilhão. O valor é mais de 1.000% maior que o investido pelo órgão no mesmo período do ano passado. O aumento expressivo nos investimentos se deu na aquisição de motoniveladoras, retroescavadeiras, caminhões basculantes, caminhões cisternas e pás carregadeiras, distribuídas para municípios de até 50 mil habitantes. Os valores aplicados pelo MDA foram maiores do que os investimentos globais de ministérios responsáveis por obras relevantes como o da Saúde. Só para a ação de distribuição de equipamentos do desenvolvimento agrário foram aplicados R$ 918,1 milhões. O montante é maior, por exemplo, do que os aplicados no mesmo período em ações de assistência ambulatorial e hospitalar especializada (R$ 95,3 milhões), atenção básica em saúde (R$ 77,2 milhões), e, serviços urbanos de água e esgoto (R$ 58,1 milhões). Ipea confirma tendência Em 2011, o Ipea realizou estudo com base em dados de 1995 a 2011 e demonstrou que os investimentos do governo federal, dos estados e dos municípios em todas as áreas são influenciados pelo calendário eleitoral. “Os anos subsequentes às eleições presidenciais e dos governadores estaduais normalmente coincidem com quedas muito fortes da taxa de investimento público, relacionadas a programas de ajustes fiscais, que posteriormente são revertidas no decorrer do ciclo eleitoral”, aponta o estudo. Segundo o Ipea, em dezembro de 1998 (ano da reeleição de Fernando Henrique Cardoso), a taxa anualizada de investimento das administrações públicas era de 2,4% do PIB (proporção relativa a valores acumulados ao longo do ano), no ano seguinte cai para cerca de 1,5%. Em 2002 (ano da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva), a taxa chega a 2,2% e em 2003 desce para 1,5%. Em 2006 (reeleição de Lula), a taxa cravou 2% e em 2007 ficou abaixo de 1,8%. No ano passado, a mesma taxa superou os 2,8% e a projeção do Ipea para este ano é de que esteja abaixo de 2,5%.