universidade federal do tocantins

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1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE GURUPI
MESTRADO EM PRODUÇÃO VEGETAL
Althiéris de Souza Saraiva
Efeito das técnicas de manejo de plantas daninhas sobre a acarofauna da
cultura do pinhão-manso (Jatropha curcas L.)
GURUPI–TO
AGOSTO DE 2013
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE GURUPI
MESTRADO EM PRODUÇÃO VEGETAL
Althiéris de Souza Saraiva
Efeito das técnicas de manejo de plantas daninhas sobre a acarofauna da
cultura do pinhão-manso (Jatropha curcas L.)
Dissertação apresentada a Universidade Federal do
Tocantins, como parte das exigências do Programa de Pósgraduação em Produção Vegetal, para obtenção do titulo
de Mestre em Produção Vegetal na área de concentração
Fitossanidade.
Orientador: Prof. Dr. Renato de Almeida Sarmento
(Universidade Federal do Tocantins).
Co-Orientador: Prof. Dr. Eduardo Andrea Lemus Erasmo
(Universidade Federal do Tocantins).
GURUPI–TO
AGOSTO DE 2013
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS UNIVERSITARIO DE GURUPI
MESTRADO EM PRODUCAO VEGETAL
Efeito das técnicas de manejo de plantas daninhas sobre a acarofauna da
cultura do pinhão-manso (Jatropha curcas L.)
Data da defesa: 18 de Janeiro de 2013.
Banca Examinadora:
________________________________________
Prof° Dr. Renato de Almeida Sarmento
Universidade Federal do Tocantins (Orientador)
________________________________________
Prof. Dr. Eduardo Andrea Lemus Erasmo
Universidade Federal do Tocantins (Co-orientador)
________________________________________
Prof. Dr. Marçal Pedro Neto
Universidade Federal do Tocantins (Examinador)
________________________________________
Prof. Dr. Danival José de Souza
Universidade Federal do Tocantins (Examinador)
GURUPI–TO
AGOSTO DE 2013
4
A Deus,
Pelo dom da vida e por ser
fortaleza no alcance de meus objetivos.
OFEREÇO
“Coragem pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua
classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização
humana.”
Edmondo de Amicis.
“Nós só temos o direito de esperar pelo impossível depois que fizermos tudo o que nos
foi possível.”
Pe. Fábio de Melo.
5
A minha família que não mediu esforços
para que a concretização deste sonho
fosse possível.
DEDICO
Aos Professores Dr. Renato de
Almeida Sarmento e Dr. Eduardo Andrea
Lemus Erasmo, pelos ensinamentos,
apoio, amizade e incentivo.
O MEU SINCERO RECONHECIMENTO
6
AGRADECIMENTOS
A Deus sou muito grato pelas conquistas concedidas a mim.
Aos meus pais Aroldo e Irene pelos ensinamentos, suporte, amor, carinho e incentivo.
À minhas irmãs Thamiris e Suhéllen pelo amor e carinho.
À minha namorada Diana Cléssia pelo amor, carinho, incentivo e companheirismo.
Exemplo de mulher cativante, que irradia felicidade seguindo os princípios da fé e do
amor.
Aos meus avós Petrina e Ranulfo pelo apoio, amor e carinho.
À “vó Chica” (in memorian), pelo amor e dedicação que teve comigo durante 10 anos
de minha vida.
À madrinha “Loide” pelo apoio e amor;
Aos meus tios e tias pelo apoio e palavras de incentivo.
Aos meus primos e primas pelas palavras de apoio, assim como eu são vencedores,
exemplos de pessoas com valores éticos e morais. Em especial agradeço ao Dr. Gilson
Dourado pelo apoio e incentivo na minha primeira formação profissional (Téc. Em
Agricultura 2004/1 e Téc. Em Sistemas de Informação 2005/2 – CEFET URUTAÍ –
GO, atual IFG Goiano).
Aos meus sogros (André e Divina) e cunhado (a) (Anderson e Amanda) pela
convivência.
À madrinha Edna e família pelo apoio, convivência e incentivo, serei eternamente grato.
À “Cidinha” e Ronivaldo (Urutaí – GO) pelo apoio.
Ao João Neto e Marcos (Anápolis – GO) pelo apoio e incentivo.
À “Cida” (Montes Claros – MG) pelo apoio e incentivo.
A todos meus amigos (as), obrigado pelas palavras de apoio. Conselhos dos amigos
Edward Pereira e Darlan Andrade, sempre levarei comigo na trajetória estudantil e
profissional. Em especial agradeço a Wagner Rocha, Diego Gomes, Marcus Vinícius
7
Santana, Robson Antunes, Bruno Dornelas, Diego Dornelas e João Antônio Barbosa
pela amizade sincera e duradoura.
À Escola Municipal Teodomiro Corrêa (São João das Missões – MG) e seu corpo
docente, pelo ensinamento base.
Aos colegas do grupo de oração Kairós pela experiência de vivenciar sempre a palavra
de Deus.
Ao grupo de pesquisa do laboratório de Acarologia pela ajuda, convivência e
aprendizado mútuo: Wilton Cruz, Wennder Oliveira, Carlos Henrique, Aline Silvestre,
Renata Vieira, Diogenis Fontenele, Marcos Carvalho, Kleyciane Marques, Manoel
Júnior e Emiliano Brandão. Em particular agradeço: ao Prof. Dr. Renato de Almeida
Sarmento pela orientação; ao Bolsista PNPD Dr. Marçal Pedro Neto pelo empenho na
identificação de espécies de ácaros, apoio e orientações; a Prof. Ms. Marcela C.A.C.
Silveira pelo suporte nas análises estatísticas; as bolsistas de iniciação científica Laila
Rezende e Daniella Gonçalves pela ajuda constante na avaliação dos experimentos; ao
Doutorando Ernesto Canarte pelo apoio e orientações.
Ao grupo de pesquisa do laboratório de Malerbologia, na pessoa do Dr. José Iran
Cardoso da Silva e ao Ms. Thomas Vieira Nunes, pelo apoio.
Ao professor Eduardo Andrea Lemus Erasmo pela amizade, conselhos, apoio e
incentivo.
À Universidade Federal do Tocantins por ter contribuído na minha formação de Eng°
Agrônomo (2010/2).
Aos Professores da Pós-graduação em Produção Vegetal e Funcionários da
Universidade Federal do Tocantins, que contribuíram na minha formação. Em particular
agradeço ao professor Dr. Raimundo Wagner Souza Aguiar e aos técnicos do
laboratório de Manejo Integrado de Pragas e Fitopatologia pela disponibilidade em
utilização de equipamentos.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa
concedida.
8
SUMÁRIO
Revisão Bibliográfica.....................................................................................................13
Influência dos Sistemas de Manejo de Plantas Daninhas na Ocorrência de Ácaros16
Referências Bibliográficas ............................................................................................ 18
CAPÍTULO I
Práticas de Manejo de Plantas Daninhas Afetam A Diversidade e a Abundância
Relativa de Ácaros em Pinhão-Manso (Jatropha curcas L.) ...................................... 21
Resumo ...........................................................................................................................21
Abstract .......................................................................................................................... 21
Introdução ...................................................................................................................... 22
Material e Métodos ........................................................................................................ 23
Resultados ...................................................................................................................... 25
Discussão ........................................................................................................................ 27
Efeitos dos tratamentos na diversidade de ácaros e plantas daninhas .............................27
Relação entre a diversidade de plantas daninhas e a diversidade de ácaros ....................27
Efeito dos tratamentos nas abundâncias relativas de ácaros e de plantas daninhas ........ 29
Conclusões ...................................................................................................................... 29
Lista de Tabelas e Figuras ............................................................................................ 30
Referências Bibliográficas ............................................................................................ 36
CAPÍTULO II
Plantas Daninhas Como Hospedeiras de Ácaros Em Cultivo De Pinhão-manso
(Jatropha curcas L.) .......................................................................................................40
Resumo ...........................................................................................................................40
Abstract .......................................................................................................................... 40
Introdução ......................................................................................................................41
Material e Métodos ........................................................................................................ 42
Resultados ...................................................................................................................... 43
9
Discussão ........................................................................................................................45
Conclusões ......................................................................................................................46
Lista de Figuras e Tabelas ............................................................................................47
Referências Bibliográficas ............................................................................................52
CAPÍTULO III
Distribuição Sazonal da Acarofauna Fitófaga e Predadora no Dossel de Plantas de
Pinhão-Manso (Jatropha curcas L.) .............................................................................55
Resumo ...........................................................................................................................55
Abstract ..........................................................................................................................55
Introdução ......................................................................................................................56
Material e Métodos ........................................................................................................57
Resultados ......................................................................................................................58
Discussão ........................................................................................................................59
Conclusões ......................................................................................................................60
Lista de Tabelas e Figuras ............................................................................................61
CAPÍTULO IV
Glyphosate Afeta a Reprodução Dos Ácaros Fitófagos Polyphagotarsonemus latus
Banks (1904) e Tetranychus bastosi Tuttle, Baker e Sales (1977) (Acari:
Tarsonemidae; Tetranychidae). ................................................................................... 69
Resumo ...........................................................................................................................69
Abstract ..........................................................................................................................69
Introdução ......................................................................................................................70
Material e Métodos ........................................................................................................71
Resultados ......................................................................................................................73
Discussão ........................................................................................................................74
Conclusões ......................................................................................................................75
Lista de Figuras .............................................................................................................76
Referências Bibliográficas ............................................................................................80
10
CONCLUSÕES GERAIS .............................................................................................82
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I
Tab. 1 Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’, média ± desvio padrão) de
espécies de ácaros em pinhão-manso e de plantas daninhas associadas. ........................ 31
Tab. 2 Abundância relativa (“Pi”) de ácaros fitófagos, predadores e de hábito alimentar
indefinido em pinhão-manso. .......................................................................................... 33
Tab. 3 Abundância relativa (“Pi”) de plantas daninhas. .................................................33
CAPÍTULO II
Tabela 1. Riqueza e hábito alimentar de ácaros encontrados em plantas daninhas
associadas a cultivo de pinhão-manso, em função da sazonalidade, entre Novembro de
2011 a Novembro de 2012. .............................................................................................49
Tabela 2: Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) de espécies de ácaros em
plantas daninhas associadas a cultivo de pinhão-manso, em função da sazonalidade,
entre Novembro de 2011 a Novembro de 2012. ..............................................................51
CAPÍTULO III
Tabela 1. Riqueza de ácaros nos diferentes estratos da planta de pinhão-manso em
função da sazonalidade, entre novembro de 2011 a novembro de 2012. ........................ 61
Tabela 2. Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) de ácaros em diferentes
estratos da planta de pinhão-manso. ................................................................................61
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO I
Fig. 1 Correlação Spearman entre a diversidade de ácaros (fitófagos + predadores +
indefinidos) e a diversidade de plantas daninhas (Spearman, r = 0,44; p = 0,05). ..........32
Fig. 2 Correlação de Spearman entre a diversidade de ácaros de hábito alimentar
indefinido e a diversidade de plantas daninhas (Spearman, r = 0,58; p < 0,006). ...........32
CAPÍTULO II
Figura 1. Temperatura e precipitação médias de Gurupi/TO, de novembro de 2011 a
novembro de 2012. Fonte: INMET/UFT......................................................................... 47
11
Figura 2. Frequência de plantas daninhas (P < 0,05) e riqueza de ácaros (P < 0,05) em
função da sazonalidade, entre Novembro de 2011 a Novembro de 2012. ...................... 47
CAPÍTULO III
Figura 1. Temperatura e precipitação médias de Gurupi/TO, de novembro de 2011 a
novembro de 2012. Fonte: INMET/UFT......................................................................... 61
Figura 2. Curvas de acúmulo de espécies padronizadas pelos números totais de ácaros
(predadores + fitófagos) (a), predadores (b) e fitófagos (c) nos diferentes estratos da
planta de pinhão-manso (apical, mediano e basal). Curvas geradas pelo estimador Mao
Tao (total de 120 Plantas). ...............................................................................................61
Figura 3. Abundância total de ácaros (a) (X2= 3,47, GL= 2, P = 0,17). Abundância de
ácaros predadores (b) (X2 = 1,857773, GL = 2, P = 0,39). Abundância de ácaros
fitófagos (c) (X2 = 1,25, GL = 2, P = 0,53). Estratos da planta de pinhão-manso
(tratamentos): 1 = apical, 2 = mediano e 3 = basal. Gráfico plotado a partir de dados não
transformados. .................................................................................................................61
Figura 4. Abundância total de ácaros (a), (Estrato: F2, 717 = 2,22, p < 0,10; Estação: F1,
717 = 8,02, p <0,005; Estação*Estrato: F2, 717 = 0,51, p < 0,59); abundância de ácaros
predadores (b), (Estrato: F2, 717 = 0,95, p < 0,38; Estação: F2, 717 = 1,97, p < 0,16;
Estação*Estrato: F2, 717 = 0,51, p < 0,59); e abundância de ácaros fitófagos (c), (Estrato:
F2, 717 = 0,93, p < 0,39; Estação: F1, 717 = 27,86, p < 0,0001; Estação*parte: F2, 717 = 0,42,
p < 0,65). Gráfico plotado a partir de dados não transformados. ....................................61
CAPÍTULO IV
Fig. 1 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes do herbicida Glyphosate sobre
a reprodução de Polyphagotarsonemus latus (Acari: Tarsonemidae). ............................ 76
Fig. 2 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes do herbicida Glyphosate sobre
a reprodução de Tetranychus bastosi (Acari: Tetranychidae). ........................................ 76
Fig. 3 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes de glyphosate sobre a
reprodução de Polyphagotarsonemus latus (Acari: Tarsonemidae) ao longo do período
de 7 e 6 dias respectivamente. .........................................................................................76
Fig. 4 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes de glyphosate sobre a
reprodução de Tetranychus bastosi (Acari: Tetranychidae) ao longo do período de 11 e
7 dias respectivamente. .................................................................................................... 76
12
RESUMO
Efeito dos sistemas de manejo de plantas daninhas sobre a acarofauna da
cultura do pinhão-manso (Jatropha curcas L.)
A demanda por óleos vegetais para produção de biodiesel fez com que a cultura do
pinhão-manso se destacasse como boa fonte alternativa de energia sustentável. Pouco
se conhece sobre os sistemas de manejo da cultura do pinhão-manso. No entanto, a
ocorrência de pragas pode vir a comprometer a produção desta oleaginosa, a exemplo
de ácaros fitófagos. O conhecimento da acarofauna associada aos vegetais é de
grande importância para estudos de manejo, tendo em vista que as plantas daninhas
podem servir como reservatório para ácaros fitófagos ou podem abrigar ácaros
predadores, os quais podem funcionar como agentes de controle biológico de pragas
de pinhão-manso. O plantio de pinhão-manso no Estado do Tocantins vem
apresentando problemas como o ataque de ácaros fitofágos, sendo que os ácaros
Polyphagotarsonemus latus e Tetranychus bastosi tem se destacado como potenciais
pragas que podem inviabilizar o cultivo de pinhão-manso no Estado. O controle de
plantas daninhas na cultura do pinhão-manso em grandes áreas de cultivo geralmente
é feito com a aplicação do herbicida glyphosate. Contudo diversos trabalhos da
literatura científica tem relatado o impacto de Glyphosate sobre organismos não alvo.
Com o incentivo ao cultivo do pinhão-manso, tornam-se necessários estudos sobre os
sistemas de manejo de plantas daninhas na cultura, bem como a influência destes
sistemas de manejo na distribuição e ataque de ácaros. No presente estudo foram
avaliados sistemas de manejo de plantas daninhas na cultura do pinhão-manso e
influência sobre acarofauna. Os sistemas de manejo avaliados foram capina, roçada e
aplicação de herbicida (Glyphosate). A diversidade de ácaros na cultura do pinhãomanso foi maior nos tratamentos onde houve aplicação de Glyphosate. Maiores
riquezas de ácaros predadores foram encontradas no estrato basal da planta de
pinhão-manso enquanto ácaros fitófagos encontraram-se distribuídos no estrato
apical. As técnicas de manejo não tiveram efeito sobre a acarofauna em plantas
daninhas, sendo a sazonalidade o fator determinante na ocorrência de ácaros
fitófagos e predadores. A espécie daninha Andropogon gayanus, foi à hospedeira de
maior frequência dentre as espécies estudadas, além de abrigar maior riqueza e
diversidade de ácaros predadores da família Phytoseiidae. Plantas daninhas podem
ser mantidas na entrelinha da cultura do pinhão-manso contribuindo com a
manutenção da acarofauna predadora e por consequência com o controle biológico
de ácaros-praga na cultura, além de evitar custos com roçada. As espécies fitófagas
P. latus e T. bastosi, principais ácaros-praga da cultura do pinhão-manso não foram
encontradas no presente estudo. Porém estudos de laboratório comprovaram que o
herbicida Glyphosate afeta a reprodução dos ácaros fitófagos P. latus e T. bastosi.
Palavras-chave: Vegetação nativa; Controle mecânico; Controle químico; Ácaros.
13
Revisão Bibliográfica
A produção de biodiesel e bioquerosene se tornou a atividade econômica na qual
o Brasil tem o maior potencial de competitividade em relação aos demais países do
mundo (Durães et al. 2011). É grande a disponibilidade de terras para ampliar a
fronteira agrícola, fartura de luz solar e água, recursos humanos, tecnologia agrícola e
insumos (Furlan Júnior et al. 2006). Além disso, por não ser fonte de alimento humano,
o pinhão-manso não compete com demais culturas oleaginosas.
A demanda por óleos vegetais para produção de biodiesel e bioquerosene, fez
com que a cultura do pinhão-manso se destacasse como uma grande fonte alternativa de
energia sustentável, visto que as fontes energéticas hoje utilizadas são escassas e não
renováveis.
O pinhão-manso é uma espécie perene que pode produzir por 40 anos, em
colheita parcelada, possibilitando a fixação da mão-de-obra no campo (Saturnino et al.
2005; Castro et al. 2008). Seus métodos de cultivo podem ser através da reprodução por
semente ou multiplicação por estacas. A produtividade varia muito, em função da região
de plantio, método de cultivo e tratos culturais, idade da cultura, bem como da
quantidade de chuva e da fertilidade do solo (Arruda et al. 2004).
Pelo emprego do seu óleo para a produção energética, o pinhão-manso tem se
difundido em diversas regiões do país. Sarmento et al. (2011) ressalta que o pinhãomanso está se tornando uma planta cada vez mais popular no norte do Brasil, a exemplo
do Estado do Tocantins. No entanto, pouco se conhece sobre as pragas associadas à
cultura do pinhão-manso, sendo que a ocorrência destas, a exemplo de ácaros fitófagos,
pode comprometer a produção da oleaginosa e contribuir para a utilização de
agrotóxicos (Rodrigues et al. 2009).
Assim o controle biológico surge como alternativa de controle, bem como, a
redução do uso de produtos químicos nocivos ao meio ambiente. Este método consiste
na regulação natural dos números dos indivíduos de uma população de uma espécie
praga através da ação de outra população cujos indivíduos apresentam hábitos de
predação, parasitismo, antagonismo ou patogenia. Contudo, dentre os agentes de
controle, os ácaros predadores se destacam com grande potencial para o controle
biológico de ácaros-praga (Menezes, 2003).
14
As espécies de ácaros fitófagos de maior importância agrícola são pertencentes
às famílias Eriophydae, Tarsonemidae, Tenuipalpidae e Tetranychidae. Os ácaros em
sua maioria são dióicos com dimorfismo sexual acentuado. A fecundação é interna, por
cópula ou através da transferência de espermatóforos, podendo ocorrer partenogênese
arrenótoca e telítoca. Podem ainda ser ovíparos ou ovovivíparos, sendo que o ciclo
evolutivo inclui um ou mais estágios imaturos ativos. Esses ácaros são minúsculos e se
diferem dos insetos por apresentarem a segmentação do corpo bastante reduzida, pela
ausência de antenas e asas e por apresentarem quatro pares de pernas quando adultos
(Garcia, 1999; Severino, 2007; Moraes e Flechtmann, 2008).
O conhecimento da acarofauna associada aos vegetais é de grande importância
para estudos de manejo, tendo em vista que essas plantas podem servir como
reservatório para ácaros fitófagos ou podem abrigar ácaros predadores, merecendo
destaque ácaros da família Phytoseiidae, os quais podem atuar como agentes de controle
biológico de pragas de pinhão-manso. Contudo, a vegetação associada a um
determinado cultivo pode influenciar o modo de colonização e a abundância de
possíveis pragas e seus predadores (Verona, 2010). Feres et al. (2007), por exemplo,
verificaram que a família que apresentou maior riqueza foi Phytoseiidae, com 23
espécies em estudos de padrões ecológicos da acarofauna de euforbiáceas nativas.
Além do hábito predatório, os phytoseideos podem se alimentar também de
pólen, fungos e substâncias açucaradas produzidas pelos insetos. O ciclo biológico deste
predador inclui as fases de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto. O
desenvolvimento da fase imatura tem duração de uma semana, sendo que os adultos
vivem entre 20 e 30 dias tendo uma deposição de 30 a 40 ovos por fêmea. Estes
inimigos naturais se caracterizam por apresentar movimentos rápidos e serem
fototróficos negativos. Diversos ácaros-praga têm sido controlados eficientemente em
diversas culturas com o uso de ácaros predadores. Contudo o potencial de predação
pode variar entre as diferentes espécies (Moraes e Flechtman, 2008).
Com a intensa devastação de ambientes naturais, muitas espécies de ácaros
predadores que poderiam ser utilizadas como inimigos naturais de pragas agrícolas
podem estar desaparecendo mesmo antes de serem conhecidas (Demite & Feres, 2005).
As plantas produtoras de pólen servem de reservatório no período de floração,
mantendo esses ácaros no ambiente, promovendo assim seu aumento populacional
(Daud & Feres, 2004). Desta maneira, o sucesso de um programa de controle biológico
15
depende de informações bioecológicas que definam os motivos que levam determinado
ácaro fitófago a causar danos na cultura comercial (Monteiro, 2003).
Diferentes partes da planta também podem influenciar a ocorrência da
comunidade de ácaros associada, pois dependendo de seu tamanho, receberá distintos
níveis de incidência solar, vento, umidade e de outros fatores abióticos, o que interfere
diretamente no desenvolvimento das espécies (Feres et al. 2010). Outro fator a ser
considerado é sazonalidade, podendo esta ter influência significativa sobre a ocorrência
e distribuição de ácaros presentes na cultura do pinhão-manso (Cruz et al. 2012; Cruz et
al. 2013).
Verona (2010) avaliando ácaros associados à Jatropha spp. no Brasil pôde
observar que as espécies Polyphagotarsonemus latus Banks (1904) (Acari:
Tarsonemidae) e Tetranychus bastosi Tuttle, Baker e Sales (1977) (Acari:
Tetranychidae) compreenderam quase que em totalidade do número de indivíduos
coletados. No Estado do Tocantins o plantio de pinhão-manso em maior escala vem
apresentando problemas com o ataque de ácaros fitofágos. Sendo que P. latus e T.
bastosi tem se destacado como potenciais pragas que podem inviabilizar o cultivo de
pinhão-manso no Estado (Sarmento et al., 2011).
O ácaro P. latus conhecido como ácaro-branco ataca principalmente os tecidos
jovens das plantas, fazendo com que as folhas se desenvolvam de forma anormal,
reduzindo seu tamanho e deformando-as. Já o ácaro T. bastosi se caracteriza por
recobrir as folhas com grande quantidade de teias, e seu ataque promove rompimento
das células, sendo que a remoção da clorofila e a ação da saliva injetada levam a
disfunções nas folhas atacadas e aumento na taxa de transpiração. Assim, as folhas
atacadas apresentam o limbo levemente ondulado e, quando infestadas por populações
densas ficam encarquilhadas, podendo apresentar manchas necróticas, de extensão
variável, chegando a causar rasgadura e até queda da folha (Santos et al. 2006; Moraes
& Flechtmann, 2008).
Ácaros da família Phytoseiidae, a exemplo de Iphiseiodes zuluagai Denmark &
Muma e Euseius concordis Chant, apresentam efeito predatório sobre T. bastosi e P.
latus. Sendo que a taxa de predação de I. zuluagai é maior quando é alimentado com P.
latus quando comparado com T. bastosi. Além disso, a taxa de predação de E. concordis
é menor do que a de I. zuluagai para ambas as espécies fitófagas (Rodrigues et al. 2009;
Sarmento et al. 2011). Mais recentemente em estudos de laboratório, foi verificado que
16
o ácaro predador Tiphlodromalus clavicus (Denmark & Muma, 1973) também pode ser
considerado agente de controle biológico dos ácaros-praga T. bastosi e P. latus em
pinhão-manso, com maior potencial predatório sobre este ultimo (Cruz et al. 2012; Cruz
et al. 2013).
Influência dos Sistemas de Manejo de Plantas Daninhas na Ocorrência de Ácaros
Com o incentivo ao cultivo do pinhão-manso e a escassez de informações
técnicas, torna-se necessário estudos sobre os sistemas de manejo desta oleaginosa, e a
influência destes sistemas na distribuição e ataque de ácaros fitófagos bem como a
ocorrência de ácaros predadores.
Arruda (2004) afirma que apesar do pinhão-manso ser considerado uma planta
rústica é necessário manter o terreno sempre livre de plantas daninhas, principalmente
em volta das plantas, pois a concorrência destas por água, ar, luz e nutrientes pode
prejudicar e atrasar o desenvolvimento do pinhão-manso, além de abrigar pragas e/ou
insetos transmissores de doenças.
Entre os métodos de manejo das plantas daninhas utilizados em culturas perenes,
o uso de herbicidas seletivos aplicados em plantas daninhas pode ser uma excelente
alternativa, considerando principalmente o manejo dessas espécies em extensas áreas de
plantio. Costa et al. (2009) relatam o uso do herbicida Glyphosate no controle de
plantas daninhas em áreas de plantio comercial de pinhão-manso. No entanto, os
diferentes genótipos de pinhão-manso apresentam níveis variáveis de tolerância aos
herbicidas (Rocha et al. 2010).
Hardman et al. (2010) avaliando o efeito da largura da faixa de herbicidas sobre
a dinâmica de ácaros em pomares de maçã, observou que o uso de herbicidas em faixas
mais largas promove o aumento da qualidade nutricional das folhas e um maior
potencial de rápido crescimento da população de Tetranychus urticae Koch (Acari:
Tetranychidae), e, em menor medida da população de Panonychus ulmi (Acari:
Tetranychidae). Por outro lado, as maiores taxas de imigração de ácaros da cobertura
vegetal do solo podem promover um maior número de ácaros da espécie T. urticae na
copa das árvores. Esses autores relatam que o impacto da largura da faixa de herbicida
17
depende da composição e tamanho do complexo de ácaros predadores da família
Phytoseiidae e do impacto dos pesticidas sobre a predação dos mesmos.
Mailloux et al. (2010) afirma que a aplicação de herbicidas ou roçadas reduz a
densidade de ácaros predadores da família Phytoseiidae. Contudo, ressaltam que reduzir
a frequência de corte da cobertura vegetal torna-se uma boa alternativa para deixar os
ácaros predadores se desenvolverem na cobertura do solo.
De
acordo
suaveolens, Peltaea
com
Cruz
et
riedelii, Urochloa
al.
(2012)
as plantas
mutica e Andropogon
daninhas Hyptis
gayanusapresentam
potencial para manutenção de ácaros predadores na cultura de pinhão-manso, enquanto
as
espécies
daninhas Sida
mucunoides, Urena
rhombifolia,
lobata,Waltheria
Bauhinia
angulata, Calopogonium
americana, Helicteres
guazumifolia, Sida
cordifolia e Sida urens, são hospedeiras de ácaros fitófagos, quando associadas a
cultivos de pinhão-manso.
Monteiro et al. (2002) avaliando a influência do manejo de plantas daninhas
sobre o deslocamento de ácaros em um pomar de macieira, verificaram abundancia de
Neoseiulus californicus em manejos que proporcionaram desenvolvimento de plantas
daninhas na linha de plantio, ocorrendo, igualmente, maiores quantidades de
tetraniquídeos. Já a população de tetraniquídeos foi significativamente maior sobre as
macieiras cultivadas nas parcelas cujas plantas daninhas foram controladas por
herbicidas. Dessa forma, a vegetação associada a um determinado cultivo pode
influenciar o modo de colonização e a abundância de possíveis pragas e seus predadores
(Verona, 2010).
Bellini et al. (2008), em estudos com ácaros de seringueira e de euforbiáceas
espontâneas no interior dos cultivos, observaram 8.954 ácaros de 38 espécies,
pertencentes a 31 gêneros de 11 famílias sendo que, Tydeidae e Phytoseiidae
apresentaram a maior diversidade de espécies, 9 e 7 espécies respectivamente.
A
abundância de espécies de ácaros fitófagos foi consideravelmente menor nas
euforbiáceas espontâneas, comparada às seringueiras. Assim, a presença de ácaros
fitófagos nas lavouras de pinhão-manso e a presença de algumas espécies em
determinadas lavouras pode sugerir uma relação com a vegetação de entorno (Verona,
2010).
18
No entanto, a constatação de alguns poucos ácaros predadores sobre uma planta
não significa que ela possa ser considerada como seu reservatório (Bellini et al. 2005).
Estudando plantas de ocorrência espontânea como substratos alternativos para
fitoseídeos em cultivos de seringueira, estes autores verificaram que em Panicum
maximum foram encontrados apenas dois espécimes de fitoseídeos em três amostras da
planta, sugerindo que estes pudessem estar por acaso sobre esta planta, durante o
processo de dispersão.
Diante do exposto, é possível observar a ampla gama de fatores abióticos, a
exemplo de plantas daninhas, capazes de influenciar a ocorrência de ácaros no
agroecossistema. Para tanto, estimativas de diversidade, abundância e riqueza da
acarofauna expostas à ação do herbicida Glyphosate, além de parâmetros reprodutivos
das espécies de ácaros, devem ser estudados tanto na cultura principal, quanto nas
plantas daninhas presentes no interior do cultivo. Logo, o presente estudo teve como
objetivo avaliar o efeito dos sistemas de manejo de plantas daninhas sobre a acarofauna
da cultura do pinhão-manso (Jatropha curcas L.).
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21
___________________________________________________________CAPÍTULO I
Práticas de Manejo de Plantas Daninhas Afetam A Diversidade e a Abundância
Relativa de Ácaros em Pinhão-Manso (Jatropha curcas L.)
Resumo
Práticas de manejo de cultivos agrícolas afetam a comunidade de plantas daninhas, que
por sua vez influenciam padrões de diversidade e abundância de artrópodes associados.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de práticas de manejo de plantas
daninhas sobre a diversidade e abundância relativa de ácaros fitófagos e predadores em
pinhão-manso. Os tratamentos consistiram nas seguintes práticas de manejo no controle
de plantas daninhas: (1) aplicação de herbicida na linha e roçada na entrelinha; (2)
capina na linha e roçada na entrelinha; (3) aplicação de herbicida na linha e sem roçada
na entrelinha; (4) capina na linha e sem roçada na entrelinha e (5) sem manejo
(controle), sendo que o herbicida utilizado foi o Glyphosate. A diversidade, medida pelo
índice de Shannon-Wiener (H’), para ácaros na cultura do pinhão-manso e em plantas
daninhas foram maiores nos tratamentos onde houve aplicação de Glyphosate. A
aplicação de herbicida na linha do pinhão-manso e roçada na entrelinha foi à prática de
manejo que resultou na maior diversidade total de ácaros (fitófagos + predadores +
indefinidos). A aplicação de herbicida na linha de cultivo do pinhão-manso promoveu
um aumento da diversidade de ácaros predadores enquanto não influenciou a
diversidade de ácaros-praga. Maiores diversidades de ácaros indefinidos foram
encontradas no tratamento onde houve aplicação de herbicida na linha do pinhão-manso
e sem roçagem na entrelinha. No entanto, a abundância relativa de plantas daninhas não
foi correlacionada com a abundância relativa de ácaros fitófagos e predadores
encontrados na cultura do pinhão-manso. Conclui-se que plantas daninhas mantidas na
entrelinha da cultura do pinhão-manso podem contribuir para o controle biológico de
ácaros-praga na cultura.
Palavras-chave: controle químico, controle mecânico, diversidade de espécies, controle
biológico.
Abstract
Management practices of agricultural crops affect weed community, which in turn
influence patterns of diversity and abundance of arthropods associated. This study
aimed to evaluate the effect of management practices on weed diversity and relative
abundance of phytophagous and predatory mites in jatropha. Treatments consisted of
the following management practices on weed control: (1) herbicide application on line
and mowing between rows, (2) weeding and mowing the line spacing, (3) herbicide in
line and without mowing between the rows; (4) weeding in line and without mowing
between rows and (5) no management (control), and the herbicide glyphosate was used.
The diversity measured by the Shannon-Wiener (H ') for mites in the culture of jatropha
and weeds were higher in treatments where there was application of Glyphosate. The
herbicide application on line jatropha and mowing between rows was the management
practice that resulted in higher total diversity of mites (phytophagous + predators +
22
undefined). The application of herbicide in the crop row of jatropha promoted an
increased diversity of predatory mites while not influence the diversity of pest mites.
Greater diversity of mites were found in indefinite treatment where herbicide
application was in line with jatropha and no weeding between rows. However, the
relative abundance of weeds was not correlated with the relative abundance of
phytophagous and predatory mites found in the culture of jatropha. We conclude that
kept weeds in the rows of jatropha can contribute to the biological control of pest mites
in culture.
Keywords: chemical control, mechanical control, species diversity, biological control.
Introdução
O pinhão-manso (Jatropha curcas L.; Euphorbiaceae) apresenta rendimento de
óleo com alta qualidade físico-química e potencial para ser usado na produção de
biodiesel e bioquerosene (Durães et al., 2011). No entanto, para o cultivo em larga
escala e aumento da produtividade, existem ainda vários fatores relacionados ao manejo
da cultura que devem ser estudados.
Considerando o manejo de plantas daninhas, o controle químico é o método mais
utilizado em plantios em larga escala devido à sua rapidez de operação, redução de
custos com mão de obra, além de poder ser executado em períodos chuvosos, quando o
controle mecânico é impraticável (Gonçalves et al., 2009). Dentre os herbicidas
utilizados, aqueles com o princípio ativo Glyphosate têm sido comumente utilizados por
permitirem o controle simultâneo de plantas daninhas dicotiledôneas e gramíneas.
Adicionalmente, o pinhão-manso apresenta tolerância à deriva deste herbicida (Costa et
al. 2009).
Herbicidas usados no controle de plantas daninhas podem também influenciar
populações de espécies não alvo como pragas e inimigos naturais presentes no
agroecossistema (Energia et al., 2013; Menezes et al. 2012). Esses produtos tem seu uso
fundamentado no tocante à eficiência no controle do alvo biológico (Cruz, 1986), sem
levar em consideração a influência sobre outros organismos não alvo presentes no
agroecossistema. Em cultivos em pequenas áreas, é comum o controle mecânico que, a
exemplo do controle químico também pode afetar a comunidade de ácaros (Mailloux et
al. 2010).
23
Plantas daninhas são importantes componentes do agroecossistema e reduções
em sua diversidade e abundância por meio tanto de métodos químicos quanto
mecânicos podem afetar negativamente a ocorrência de espécies benéficas como
artrópodes predadores nas plantas cultivadas (Marshall et al. 2003). Ácaros de habito
alimentar indefinido são considerados presas alternativas de ácaros predadores em
Pinhão-manso (Cruz et al. 2012), logo podem ser afetados pelas práticas de manejo de
plantas daninhas por estarem presentes no ambiente de cultivo.
Alterações na cadeia alimentar de artrópodes associados a culturas podem
ocorrer em consequência de práticas de manejo utilizadas (Giller, 1997; Pereira et al.,
2004; Robertson, 1994), podendo por exemplo, afetar a ocorrência e distribuição de
ácaros predadores devido a ausência de recursos alternativos como pólen e néctar de
plantas daninhas (Van Rijn & Tanigoshi 1999). Assim, a magnitude de respostas de
artrópodes aos sistemas de manejo de plantas daninhas (químico ou mecânico) pode
estar ligada, principalmente, aos efeitos indiretos decorrentes de mudanças no habitat,
como por exemplo, perda de cobertura vegetal e eliminação da fonte de alimentos
(Belden & Lydy, 2000, Cruz et al., 2012). Diante do exposto, o presente trabalho teve
como objetivo avaliar o efeito de práticas de manejo de plantas daninhas sobre a
diversidade e abundância relativa de ácaros fitófagos, predadores e indefinidos em
pinhão-manso.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido em uma lavoura experimental de pinhão-manso
com 4 anos de idade (espaçamento 2 x 3 m, com área total de 1.620 m2) localizada no
campus experimental da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Gurupi-TO, Brasil
(11 º 48'29 "S, 48 º 56'39" W, 280 m altitude), onde o clima predominante é do tipo Aw
segundo classificação climática de Rubel e Kottek (2010), definido como equatorial e
inverno seco.
Para uniformização das plantas, foi realizada poda a altura de 80 cm do solo,
seguida de duas adubações de cobertura em intervalos de 30 dias, utilizando-se 200g /
planta da fórmula NPK 10-10-10 (Drumond et al., 2009). O experimento foi instalado
no delineamento de blocos casualizados com cinco tratamentos e quatro repetições, com
seis plantas por parcela, totalizando 30 plantas por bloco. Os tratamentos consistiram
24
das seguintes práticas de manejo de plantas daninhas: (1) aplicação de herbicida na
linha e roçada na entrelinha; (2) capina na linha e roçada na entrelinha; (3) aplicação de
herbicida na linha e sem roçada na entrelinha; (4) capina na linha e sem roçada na
entrelinha e (5) sem manejo (controle).
A capina foi realizada abrangendo um metro de diâmetro a partir da base
caulinar de cada planta (Arruda et al., 2004), totalizando dois metros na linha da cultura.
A roçada na entrelinha, por sua vez, foi realizada com roçadeira elétrica a uma altura de
cinco centímetros do solo (Vaz de Melo et al., 2007). A capina ocorreu de modo a
deixar a linha da cultura sempre no limpo, enquanto a roçada na entrelinha foi realizada
sempre antes da floração das espécies daninhas (Amarante Júnior e Santos, 2002). No
total foram realizadas 6 capinas e 6 roçadas, sendo estas efetuadas no período chuvoso
(Dezembro/2011; Janeiro/2012; Fevereiro/2012; Março/2012; Abril/2012; e Maio 2012)
onde ocorreu maior infestação de plantas daninhas.
Para o controle químico das plantas daninhas, foi utilizado o herbicida
Glyphosate (Glifosato Transorb®, 480 g.l-1, do equivalente ácido de N-(fosfonometil)
glicina – Glifosato). O produto foi aplicado através de pulverizador costal manual,
utilizando bico tipo leque (número 03) com pressão regulada a 50 kpa e vazão de 400
l.ha-1 (1,44 l.ha-1 de e.a.). A aplicação foi realizada a uma altura de 20 cm do solo,
obedecendo também um metro de diâmetro a partir da base caulinar de cada planta
(Arruda et al., 2004), totalizando 2 metros na linha da cultura. Durante o período de
condução do experimento foram realizadas três aplicações do herbicida Glyphosate
(Janeiro/2012; Março/2012; e Maio/2012), visando manter a linha da cultura sempre
livre de plantas daninhas.
Após 15 dias da poda das plantas de pinhão-manso e instalação do experimento
começaram a serem realizadas as avaliações de diversidade e abundância da
comunidade de ácaros nos estratos apical, mediano e basal. Visto que cada parcela foi
constituída de seis plantas, três plantas por parcela foram avaliadas quinzenalmente
(formato “V”), de modo que se fosse obtido mensalmente dados de avaliação de toda a
parcela. As folhas de pinhão-manso coletadas foram etiquetadas, levadas para
laboratório e lavadas em peneira (325 mesh) (Spongoski et al., 2005). O resíduo foi
armazenado em tubos de Eppendorf contendo álcool 70% e os ácaros encontrados foram
25
retirados com auxilio de pincel para a sua montagem em lâminas com meio de Hoyer
(Flechtmann, 1989) utilizando microscópio estereoscópico. As espécies de ácaros foram
identificadas por especialista utilizando-se microscópio Bel Photonics®. Também foram
realizados levantamentos quinzenais da ocorrência de espécies de plantas daninhas na
entrelinha de cultivo (período de um ano), através da metodologia do quadrado
inventário (50 x 50 cm) por parcela (Braun‑Blanquet & Bolòs, 1979; Erasmo et al.,
2004; Cruz et al., 2012).
O índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) (Shannon, 1948) foi calculado
tanto para ácaros em pinhão-manso como para plantas daninhas utilizando a seguinte
fórmula:
H’= -Σ pi . (ln pi)
Em que “pi” representa a proporção de cada espécie na comunidade.
A equidade (eH’) foi determinada para verificar o padrão de distribuição de
indivíduos entre as espécies. Valores de eH’ elevados, indicam maior distribuição de
indivíduos. Foram realizadas correlações de Spearman (rs) entre os índices de
diversidade de Shannon-Wiener de ácaros (predadores, fitófagos e indefinidos) e de
plantas daninhas.
Proporções de espécies de ácaros e plantas daninhas (“pi”), calculadas para gerar
os índices de diversidade (H’) indicam os valores de abundância relativa (Tabela 3). Os
valores de “Pi” variam entre 0 e 1, tendendo a 0 quando todas as espécies estão
representadas pelo mesmo número de indivíduos e igual a 1 quando a totalidade dos
indivíduos pertencem a uma só espécie.
Resultados
A diversidade total de ácaros na cultura, medida através do índice de ShannonWiener, foi maior nos tratamentos onde houve aplicação de Glyphosate, com padrão de
distribuição de indivíduos entre as espécies (eH’) iguais a 3,83 e 3,85 (tratamentos 1 e 3,
respectivamente) (Tabela 1). Os tratamentos com controle mecânico apresentaram
padrão de distribuição de indivíduos menores que os tratamentos químicos, com valores
de eH’ iguais a 0,81 e 0,78 (Tratamentos 2 e 4, respectivamente) (Tabela 1). No entanto,
26
as plantas daninhas, quando não manejadas, resultaram em menor diversidade de
espécies de ácaros (Tabela 1).
Não foi possível calcular o índice de diversidade para ácaros fitófagos em
função do baixo número de espécies (Tabela 1). Enquanto que para espécies de ácaros
predadores, a aplicação de Glyphosate na linha e roçada na entrelinha (tratamento1)
implicou em maior diversidade de espécies, com padrão de distribuição de indivíduos
(eH’) igual a 1,67 (Tabela 1). Por outro lado, ácaros de hábito alimentar indefinido
apresentaram maiores diversidade de espécies onde houve aplicação de glyphotate
(Tabela 1) com padrão de distribuição de indivíduos (eH’) iguais a 1,37 e 1,85
equivalentes aos tratamentos 1 e 3, respectivamente.
Para as plantas daninhas, a aplicação de Glyphosate também resultou em maior
padrão de distribuição de indivíduos entre as espécies (eH’) para os tratamentos 1 e 3,
com valores iguais a 4,5 e 4,3 respectivamente (Tabela 1). Os tratamentos com controle
mecânico apresentaram padrão de distribuição de indivíduos iguais a 3,3 e 1,64
equivalentes aos tratamentos 2 e 4 respectivamente, enquanto o tratamento sem manejo
apresentou valor de eH’ igual a 1,96 (Tabela 1).
A
diversidade
de
plantas
daninhas
apresentou
correlação
positiva,
marginalmente significativa (rs = 0,44; p = 0,05), com a diversidade de espécies de
ácaros (fitófagos + predadores + indefinidos) (Figura 1). Para ácaros de hábito alimentar
fitófago, não houve correlação com a diversidade de plantas daninhas devido a
diversidade de espécies destes ácaros ter sido igual a 0. Por outro lado, a diversidade de
ácaros predadores não foi correlacionada com a diversidade de plantas daninhas (rs
=0,16; p > 0,05). No entanto, ácaros de hábito alimentar indefinido foram positivamente
correlacionados com a diversidade de plantas daninhas (rs = 0,58; p < 0,05) (Figura 2).
Foram encontradas um total de 20 espécies (122 espécimes) de ácaros habitando
plantas de pinhão-manso e 13 espécies de plantas daninhas no interior do cultivo, sendo
3 espécies de ácaro de hábito alimentar fitófago, 14 espécies
de ácaro de hábito
alimentar predatório, e 3 espécies de ácaro de hábito alimentar indefinido
(correspondente a 15% do total de espécies encontradas). As espécies encontraram-se
distribuídas em 9 famílias (Tabela 2).
Dentre os ácaros de hábito alimentar fitófago, Brevipalpus phoenicis foi a
espécie de maior abundância relativa, ou seja, aquela de maior proporção dentro da
comunidade, com valores de 0,13; 0,23; 0,10; 0,13; e 0,13 para os tratamentos 1, 2, 3, 4
27
e 5, respectivamente (Tabela 2). Para ácaros de hábito alimentar predatório,
Typhlodromalus clavicus apresentou valores médios de abundância relativa igual a
0,18,0,0 0,12, 0,05 e 0,0, equivalente aos tratamentos 1,2 3, 4 e 5 respectivamente
(Tabela 2). Ácaros da família Oribatidae, de hábito alimentar indefinido apresentaram
valores médios de abundância relativa igual a 0,28; 0,48; 0,26; 0,54; e 0,37 para os
tratamentos 1, 2, 3, 4 e 5 respectivamente (Tabela 2). De maneira geral, a aplicação de
herbicida na linha de cultivo do pinhão-manso resultou em maiores proporções das
espécies de ácaros.
Em se tratando de plantas daninhas, Andropogon gayanus teve maiores valores
de abundância relativa, de 0,47; 0,59; 0,48; 0,82; e 0,63 correspondentes aos
tratamentos 1, 2, 3, 4 e 5, respectivamente. Menores valores de abundância relativa de
Andropogon gayanus foram obtidos onde houve controle químico (tratamentos 1 e 3)
(Tabela 3).
Discussão
Efeitos dos tratamentos na diversidade de ácaros e plantas daninhas
São muitos os estudos de efeito de herbicidas sobre organismos não-alvo (Smith,
2001; Cauble & Wagner, 2005; Glusczak et al., 2006; Yasmin & D’Souza, 2007;
Achiorno et al., 2008). Assim como a influência do controle mecânico sobre a
população de ácaros (Mailloux et al., 2010). Porém é importante considerar os efeitos
indiretos sobre os artrópodes, provocados pela perda de cobertura vegetal e eliminação
da fonte de alimentos (Belden & Lydy, 2000). Desta forma, sugere-se que a baixa
diversidade de espécies de ácaros na cultura do pinhão-manso, no tratamento sem
manejo, comparado aos demais tratamentos, pode ser explicada devido os ácaros
estarem presentes nas plantas daninhas, já que não houve o controle (químico e/ou
mecânico) destas.
Relação entre a diversidade de plantas daninhas e a diversidade de ácaros
Plantas daninhas abrigam presas alternativas e produzem pólen e néctar, os quais
podem servir como fonte de alimento para ácaros predadores (Daud & Feres, 2004;
28
Moraes e Flechtmann, 2008). Ácaros praga e de hábito alimentar indefinido também
podem migrar de plantas daninhas para a cultura principal. Portanto, nos tratamentos em
que houve o controle de plantas daninhas, houve estímulo à migração de ácaros,
principalmente predadores (maioria das espécies encontradas). Assim, o manejo de
plantas daninhas pode favorecer a migração de predadores e fitófagos para as plantas
cultivadas.
Os ácaros Polyphagotarsonemus latus Banks (1904) (Acari: Tarsonemidae) e
Tetranychus bastosi Tuttle, Baker e Sales (1977) (Acari: Tetranychidae), principais
pragas da cultura do pinhão-manso (Sarmento et al., 2011; Cruz et al., 2012; Cruz et al.,
2013; Pedro Neto et al., 2013; e Marques et al., submetido) não foram encontrados no
presente estudo.
A família Phytoseiidae correspondeu à metade (10 espécies) do total de famílias
de ácaros predadores encontrados e representantes desta família são considerados
promissores no controle biológico de ácaros-praga (McMurtry & Croft, 1997; Lofego &
Moraes, 2005; Ahn et al., 2009) sendo também a mais abundante em plantas cultivadas
e silvestres (De Moraes, 2002; Ferla et al., 2007). Desta maneira, hipotetiza-se que o
controle com roçada das plantas daninhas, ou a exposição destas à deriva acidental do
glyphosate promoveram a migração de ácaros, principalmente predadores, para a cultura
principal em busca de presas, em função da ausência de alimento alternativo (pólen e
néctar de espécies daninhas).
Em estudos de laboratório, Benamú et al. (2010) observaram que o herbicida
Glyphosate provocou efeitos negativos sobre o aracnídeo Alpaida veniliae, reduzindo o
consumo de presas, construção de teias, fecundidade, fertilidade e tempo de
desenvolvimento de progênie. Corroborando com os autores anteriormente citados,
Pereira et al. (2007) observaram que a aplicação de Glyphosate promoveu reduções na
abundância de artrópodes, dentre eles os ácaros Cheyletus sp. (Acari: Cheyletidae),
Hypoaspis sp. (Acari: Laelapidae), e Galuminidae (Acari: Oribatida) na cultura do
feijoeiro. Por outro lado, Monteiro et al.(2002) observaram que a população de ácaros
fitófagos da família Tetranychidae foi significativamente maior onde houve controle
químico de plantas daninhas com herbicida.
29
Efeito dos tratamentos nas abundâncias relativas de ácaros e de plantas daninhas
No tratamento capina na linha de cultivo do pinhão-manso e sem roçagem na
entrelinha houve uma maior abundância relativa da planta daninha A. gayanus,
ocorrendo o mesmo com ácaros de hábito alimentar indefinido na cultura do pinhãomanso, havendo correlação positiva entre ambos. Sugere-se que as condições naturais
do ambiente favoreceu tal correlação, pois como não houve controle de plantas
daninhas, estas se mostraram mais abundantes no meio.
Em relação aos tratamentos onde houve a aplicação do herbicida Glyphosate na
linha da cultura, um fator importante a considerar, é a deriva acidental (Ellis et al.,
2002; Tuffi Santos et al., 2006; Yamashita e Guimarães, 2006, Costa et al., 2009), ter
atingido as plantas daninhas não-alvo presentes na entrelinha de cultivo, promovendo
reduções na população das mesmas.
No entanto, para determinar se os efeitos do herbicida sobre a população de
ácaros no presente estudo foi resultante da ação direta ou indireta do herbicida,
experimentos adicionais estão sendo realizados em laboratório para verificar a
toxicidade do herbicida glyphosate sobre ácaros fitófagos (parâmetros reprodutivos) e
predadores
(parâmetros
reprodutivos,
potencial
predatório
e
capacidade
de
forrageamento).
Conclusões
A aplicação de herbicida na linha do pinhão-manso e roçada na entrelinha foi a
prática de manejo que resultou na maior diversidade total de ácaros (fitófagos +
predadores + indefinidos).
A aplicação de herbicida na linha de cultivo do pinhão-manso promoveu
aumento da diversidade de ácaros predadores, enquanto a diversidade de ácaros-praga
não é influenciada pelas práticas de manejo de plantas daninhas. Maiores diversidades
de ácaros indefinidos foram encontradas no tratamento onde houve aplicação de
herbicida na linha do pinhão-manso e sem roçagem na entrelinha.
30
A abundância relativa de plantas daninhas não apresentou correlação com a
abundância relativa de ácaros fitófagos e predadores encontrados na cultura do pinhãomanso.
A manutenção de plantas na entrelinha da cultura do pinhão-manso pode
contribuir para o controle biológico de ácaros-praga na cultura.
Lista de Tabelas e Figuras
Tab. 1 Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’, média ± desvio padrão) de
espécies de ácaros em pinhão-manso e de plantas daninhas associadas.
Tab. 2 Abundância relativa (“Pi”) de ácaros fitófagos, predadores e de hábito alimentar
indefinido em pinhão-manso.
Tab. 3 Abundância relativa (“Pi”) de plantas daninhas.
Fig. 1 Correlação Spearman entre a diversidade de ácaros (fitófagos + predadores +
indefinidos) e a diversidade de plantas daninhas (Spearman, r = 0,44; p = 0,05).
Fig. 2 Correlação de Spearman entre a diversidade de ácaros de hábito alimentar
indefinido e a diversidade de plantas daninhas (Spearman, r = 0,58; p < 0,006).
31
Tab. 1 Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’, média ± desvio padrão) de espécies de ácaros em pinhãomanso e de plantas daninhas associadas.
Tratamentos
1
Ácaros (Total)
H’ ± σ
e H’
1,34 ± 0,17 3,83
Ácaros Fitófagos
H’ ± σ
e H’
0,0 ± 0,0
1,0
Ácaros Predadores
H’ ± σ
e H’
0,51 ± 0,34
1,67
2
0,81 ± 0,59
2,26
0,0 ± 0,0
1,0
0,17 ± 0,34
1,18
0±0
1,0
1,20 ± 0,51
3,30
3
1,23 ± 0,33
3,45
0,0 ± 0,0
1,0
0,29 ± 0,34
1,34
0,61 ± 0,15
1,85
1,46 ± 0,53
4,30
4
0,78 ± 0,60
2,19
0,0 ± 0,0
1,0
0,33 ± 0,38
1,39
0,16 ± 0,31
1,17
0,50 ± 0,88
1,64
5
0,67 ± 0,48
1,96
0,0 ± 0,0
1,0
0,42 ± 0,50
1,53
0±0
1,0
1,09 ± 0,61
2,96
*
Ácaros Indefinidos
H’± σ
e H’
0,31 ± 0,36 1,37
Plantas Daninhas
H’ ± σ
e H’
1,5 ± 0,18
4,50
*Tratamentos: (1) aplicação de herbicida na linha e roçada na entrelinha; (2) capina na linha e roçada na
entrelinha; (3) aplicação de herbicida na linha e sem roçada na entrelinha; (4) capina na linha e sem roçada na
entrelinha e (5) sem manejo (controle).
32
Fig. 1 Correlação de Spearman entre a diversidade de ácaros (fitófagos + predadores +
indefinidos) e a diversidade de plantas daninhas (Spearman, rs = 0,44; p = 0,05).
Tratamentos: (1) aplicação de herbicida na linha e roçada na entrelinha; (2) capina na
linha e roçada na entrelinha; (3) aplicação de herbicida na linha e sem roçada na
entrelinha; (4) capina na linha e sem roçada na entrelinha e (5) sem manejo (controle).
Fig. 2 Correlação Spearman entre diversidade de ácaros de hábito alimentar indefinido e
diversidade de plantas daninhas (Spearman, rs = 0,58; p < 0,05). Tratamentos: (1)
aplicação de herbicida na linha e roçada na entrelinha; (2) capina na linha e roçada na
entrelinha; (3) aplicação de herbicida na linha e sem roçada na entrelinha; (4) capina na
linha e sem roçada na entrelinha e (5) sem manejo (controle).
33
Tabela 2. Abundância relativa (“Pi”) de ácaros fitófagos, predadores e de hábito alimentar indefinido em pinhão-manso.
Espécie
Família
Herbicida na linha e
roçada na entrelinha
Capina na linha e
roçada na entrelinha
Herbicida na linha e sem
roçada na entrelinha
Capina na linha e sem
roçada na entrelinha
Sem manejo
Fitófagos
Brevipalpus
phoenicis
Mononychellus
planki
Tarsonemus sp.
Tenuipalpidae
0,13
0,23
0,10
0,13
0,13
Tetranichidae
0,00
0,00
0,05
0,00
0,00
Tarsonemidae
0,05
0,05
0,00
0,00
0,00
Predadores
Typhlodromalus
clavicus
Typhlodromalus
limomonicus
Cheletogenes
ornatos
Asca sp.
Phytoseiidae
Phytoseiidae
Cheleydae
0,18
0,00
0,12
0,05
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,06
0,00
0,00
0,05
0,00
0,00
Ascidae
0,07
0,10
0,05
0,11
0,00
Asca germani
Ascidae
0,00
0,00
0,00
0,00
0,08
Amblyseius sp.
Amblyseius
compositus
Amblyseius
neochiapensis
Amblyseius
acalyphus
Euseius
citrifolius
Neoseiulus sp.
Phytoseiidae
0,00
0,00
0,03
0,00
0,06
0,00
0,06
0,00
0,00
0,00
0,04
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,06
0,00
0,00
0,00
0,04
0,00
0,00
0,00
0,04
0,05
0,00
0,00
0,00
0,00
Phytoseiidae
Phytoseiidae
Phytoseiidae
Phytoseiidae
Phytoseiidae
34
Proprioseiops
neotropicus
Phytoseiidae
...
Phytoseiidae
Aceodromus
convolvuli
Blattisociidae
0,04
0,00
0,05
0,00
0,00
0,03
0,00
0,00
0,03
0,00
0,00
0,02
0,00
0,05
0,00
Indefinidos
...
Oribatidae
0,28
0,48
0,26
0,54
0,37
...
Neotopacarus
mumai
Acaridae
0,05
0,00
0,00
0,00
0,00
Acaridae
0,04
0,00
0,12
0,10
0,00
* Valores tendem a 0 quando todas as espécies estão representadas pelo mesmo número de indivíduos e são iguais a 1 quando a
totalidade dos indivíduos pertencem a uma só espécie. Quanto maior o número de indivíduos de uma espécie, comparado às demais,
maior é sua abundância relativa.
35
Tab. 3 Abundância relativa (“Pi”) de plantas daninhas.
Tratamento
Herbicida na
linha e roçada
na entrelinha
Capina na linha
e roçada na
entrelinha
Herbicida na
linha e sem
roçada na
entrelinha
Capina na linha
e sem roçada na
entrelinha
Sem manejo
Andropogon Acanthospermum
gayanus
australe
Spermacoce
latifolia
Spermacoce
verticillata
Marsypianthes
chamaedrys
Cenchrus
ciliares
Diodia Euphorbia
teres
irta
Emilia
fosbergii
Sida sp.
Cyperus sp.
Ipomoea sp.
Brachiaria sp.
0,47
0,09
0,19
0,11
0,04
0,02
0,01
0,02
0,02
0,02
0,00
0,00
0,00
0,59
0,08
0,18
0,04
0,03
0,02
0,00
0,01
0,01
0,02
0,01
0,00
0,01
0,48
0,05
0,16
0,12
0,06
0,05
0,01
0,01
0,12
0,01
0,00
0,02
0,00
0,82
0,03
0,11
0,06
0,02
0,02
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,63
0,03
0,09
0,12
0,06
0,04
0,01
0,01
0,00
0,02
0,00
0,00
0,00
* Valores tendem a 0 quando todas as espécies estão representadas pelo mesmo número de indivíduos e são iguais a 1 quando a totalidade dos
indivíduos pertencem a uma só espécie. Quanto maior o número de indivíduos de uma espécie, comparado às demais, maior é sua abundância
relativa.
36
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40
______________________________________________________________CAPÍTULO II
Plantas Daninhas Como Hospedeiras de Ácaros em Cultivo de Pinhão-manso (Jatropha
curcas L.)
Resumo
O controle da vegetação nativa pode vir a ter influência na distribuição e ataque de ácaros
fitófagos e predadores, influenciando a ocorrência destes na cultura do pinhão-manso. Ácaros
predadores, por exemplo, além de se alimentarem de ácaros fitófagos podem ainda se
alimentar de pólen ou néctar, tendo as plantas daninhas como recurso alternativo. As técnicas
de manejo de plantas daninhas mais usuais na cultura do pinhão-manso são controle mecânico
(capina e roçada) e controle químico (herbicidas). Desta maneira, o presente estudo objetivou
avaliar a acarofauna presente em plantas daninhas associadas ao cultivo de pinhão-manso. Os
tratamentos consistiram das seguintes práticas de manejo de plantas daninhas: (1) aplicação
de herbicida na linha e roçada na entrelinha; (2) capina na linha e roçada na entrelinha; (3)
aplicação de herbicida na linha e sem roçada na entrelinha; (4) capina na linha e sem roçada
na entrelinha e (5) sem manejo (controle). Os resultados evidenciaram que as diferentes
técnicas de manejo de plantas daninhas não afetaram a acarofauna associada. Plantas daninhas
podem ser mantidas na entrelinha da cultura do pinhão-manso, sem necessidade de manejo,
evitando assim custos com roçada. O conjunto de espécies daninhas presentes na entrelinha de
cultivos de pinhão-manso podem apresentar interações positivas, contribuindo, por
consequência, com o controle biológico de ácaros-praga na cultura. A sazonalidade foi o fator
determinante na ocorrência de ácaros fitófagos e predadores em plantas daninhas. A espécie
daninha A. gayanus, foi à hospedeira de maior frequência dentre as espécies estudadas, além
de abrigar maior riqueza e diversidade de ácaros predadores da família Phytoseiidae,
potenciais predadores utilizados em programas de controle biológico.
Palavras-chave: Andropogon gayanus, acarofauna, riqueza, diversidade, sazonalidade.
Abstract
The control of native vegetation is likely to have influence on the distribution and attack
phytophagous and predatory mites, influencing their occurrence in the culture of jatropha.
Predatory mites, for example, in addition to feeding on phytophagous mites may also feed on
pollen or nectar, while the weeds as an alternative. The techniques for weed management
more usual in the culture of jatropha are mechanical control (mowing and weeding) and
chemical control (herbicides). Thus, the present study aimed to evaluate the mites present in
weeds associated with the cultivation of jatropha. Treatments consisted of the following
practices of weed management: (1) herbicide application on line and mowing between rows,
(2) weeding and mowing the line spacing, (3) herbicide application on line and without
mowing between the rows; (4) weeding in line and without mowing between rows and (5) no
management (control). Weeds can be kept in the rows of jatropha, without management, thus
avoiding mowing costs. The number of weed species present between rows of crops jatropha
can have positive interactions, contributing therefore to the biological control of pest mites in
culture. Seasonality was the determining factor in the occurrence of phytophagous and
predatory mites in weeds. The weed species A. gayanus, was the host with the highest
frequency among the species studied, in addition to housing the largest number of richness
and diversity of predatory mites of the family Phytoseiidae, potential predators used in
biological control programs.
41
Keywords: Andropogon gayanus, mite fauna, richness, diversity, seasonality.
Introdução
São inúmeras as espécies de plantas cultivadas, bem como o número de indivíduos que
compõem a entomofauna, sendo que muitas das espécies de plantas estão sendo exploradas
recentemente. Contudo, pouco se conhece sobre as práticas de manejo tanto de pragas quanto
de plantas daninhas de algumas culturas ainda em fases de estudo. Como é o caso da cultura
de pinhão-manso (Jatropha curcas L.), promissora oleaginosa para produção de biodiesel e
bioquerosene com informações das técnicas de manejo ainda escassas (Saturnino et al. 2005;
Erasmo et al. 2009; Durães et al. 2011).
É importante considerar que o controle da vegetação nativa pode vir a ter influência na
distribuição e ataque de ácaros fitófagos e predadores, influenciando a ocorrência destes na
cultura principal, pois de acordo com Van Rijn & Tanigoshi (1999) os ácaros predadores além
de se alimentarem de ácaros fitófagos podem ainda se alimentar de pólen ou néctar, tendo as
plantas daninhas como recurso alternativo.
As técnicas de manejo de plantas daninhas mais usuais na cultura do pinhão-manso
são controle mecânico (capina e roçada) e controle químico (herbicidas). Costa et al. (2009)
ressalta que o herbicida glyphosate tem sido comumente utilizado no controle de plantas
daninhas em áreas de plantio comercial da cultura, sendo esta tolerante a deriva deste
herbicida até a dose de 22,5 g ha-1 e.a. em plantas com 51 dias de idade. O fato é que
herbicidas podem exercer efeitos nocivos sobre a entomofauna, embora a magnitude de
respostas esteja ligada principalmente aos efeitos indiretos decorrentes de mudanças no
habitat pela perda de cobertura vegetal e eliminação da fonte de alimentos de alguns
artrópodes (Belden & Lydy, 2000).
Diversos relatos da literatura demostram que o glyphosate pode ter efeito prejudicial
sobre plantas e diversos outros organismos vivos, provocando alterações bioquímicas,
fisiológicas e imunológicas (Smith, 2001; Cauble and Wagner, 2005; Glusczak et al., 2006;
Yasmin and D’Souza, 2007; Achiorno et al., 2008).
A identificação e o conhecimento da diversidade de espécies de ácaros predadores e
fitófagos em plantas daninhas associadas à cultura do pinhão-manso são de suma importância
para se determinar meios de controle biológico (Cruz et al., 2012; Cruz et al., 2013). Alguns
42
autores afirmam ainda que plantas daninhas produtoras de pólen servem como fonte de
alimento no período de floração para ácaros predadores (Daud & Feres, 2004; Moraes e
Flechtmann, 2008).
Visto que plantas daninhas são hospedeiras alternativas de ácaros, considera-se que as
técnicas de manejo e o conhecimento fitossociológico destas, podem ser o fator determinante
no estabelecimento das interações ecológicas existentes no meio. Desta maneira, o presente
estudo objetivou avaliar a acarofauna presente em plantas daninhas associadas ao cultivo de
pinhão-manso.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido por período de 1 ano (Novembro de 2011 à Novembro
de 2012) em área de plantio experimental de pinhão-manso (espaçamento 2 x 3 m) da
Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus Universitário de Gurupi, localizado na
região sul do estado do Tocantins, a 280 m de altitude , longitude 11° 43`45” , sendo o clima
do tipo Aw segundo classificação climática de Rubel e Kottek (2010), definido como
equatorial e inverno seco.
O experimento foi instalado no delineamento de blocos casualizados com cinco
tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos consistiram das seguintes práticas de manejo
de plantas daninhas: (1) aplicação de herbicida na linha e roçada na entrelinha; (2) capina na
linha e roçada na entrelinha; (3) aplicação de herbicida na linha e sem roçada na entrelinha;
(4) capina na linha e sem roçada na entrelinha e (5) sem manejo (controle).
A capina foi realizada abrangendo um metro de diâmetro a partir da base caulinar de
cada planta (Arruda et al., 2004), totalizando dois metros na linha da cultura. A roçada na
entrelinha, por sua vez, foi realizada com roçadeira elétrica a uma altura de cinco centímetros
do solo (Vaz de Melo et al., 2007). A capina ocorreu de modo a deixar a linha da cultura do
pinhão-manso sempre no limpo, enquanto a roçada na entrelinha foi realizada sempre antes da
floração das espécies daninhas (Amarante Júnior e Santos, 2002). No total foram realizadas 6
capinas e 6 roçadas, sendo estas efetuadas no período chuvoso (Dezembro/2011;
Janeiro/2012; Fevereiro/2012; Março/2012; Abril/2012; e Maio 2012) onde ocorreu maior
infestação de plantas daninhas.
43
Para o controle químico das plantas daninhas, foi utilizado o herbicida Glyphosate
(Glifosato Transorb®, 480 g.l-1, do equivalente ácido de N-(fosfonometil) glicina – Glifosato).
O produto foi aplicado através de pulverizador costal manual, utilizando bico tipo leque
(número 03) com pressão regulada a 50 kpa e vazão de 400 l.ha-1 (1,44 l.ha-1 de e.a.). A
aplicação foi realizada a uma altura de 20 cm do solo, obedecendo também um metro de
diâmetro a partir da base caulinar de cada planta (Arruda et al., 2004), totalizando 2 metros na
linha da cultura. Durante o período de condução do experimento foram realizadas três
aplicações do herbicida Glyphosate (Janeiro/2012; Março/2012; e Maio/2012), visando
manter a linha da cultura sempre livre de plantas daninhas.
Após 15 dias da instalação do experimento foram feitos levantamentos de plantas
daninhas através da metodologia do quadrado inventário (50 x 50 cm) por parcela (Braun‑
Blanquet & Bolòs, 1979; Erasmo et al., 2004). As plantas daninhas foram coletadas,
identificadas, levadas para laboratório e lavadas em peneira (325 mesh) (Spongoski et al.,
2005). O resíduo foi armazenado em eppendorf contendo álcool 70% e posteriormente
avaliados através da confecção de lâminas em microscópio estereoscópico, as quais foram
identificadas utilizando microscópio Bel Photonics®. Posteriormente determinou-se a
frequência relativa (Fr. R) das plantas daninhas encontradas (Mueller-Dombois & Ellemberg,
1974).
Realizou-se ANOVA para determinar a riqueza total de ácaros (predadores, fitófagos e
indefinidos) presentes nas plantas daninhas hospedeiras em função da sazonalidade.
O índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) (Shannon, 1948) foi calculado para
ácaros em plantas daninhas utilizando a seguinte fórmula:
H’= -Σ pi . (ln pi)
Em que “pi” representa a proporção de cada espécie na comunidade.
A equidade (eH’) foi determinada para verificar o padrão de distribuição de indivíduos
entre as espécies. Valores de eH’ elevados, indicam maior distribuição de indivíduos.
Resultados
As técnicas de manejo, usualmente empregadas na cultura do pinhão-manso, no
presente experimento não afetaram a população de ácaros e nem a comunidade de plantas
44
daninhas (P > 0,05). No entanto, a sazonalidade influenciou a riqueza e frequência de plantas
daninhas, bem como na diversidade de ácaros (fitófagos, predadores e indefinidos) presentes
nas mesmas. Considerou-se estação chuvosa o período que compreende os meses de
Dezembro de 2011 (início das avaliações) à Abril de 2012 e Novembro de 2012. Já a estação
seca foi compreendida entre os meses de Maio à Outubro de 2012 (Figura 1).
Foram encontradas 13 espécies de plantas daninhas, sendo que Andropogon gayanus
foi à espécie de maior frequência, apresentando valores de 51,05% na estação chuvosa e
74,15% na estação seca (P < 0,05). A. gayanus, também foi à planta daninha hospedeira com
maior riqueza de ácaros em ambas as estações, abrigando 405 ácaros na estação chuvosa e 78
na estação seca (P < 0,05) (Figura 2).
As espécies de ácaros foram agrupadas em famílias e classificadas de acordo com o
hábito alimentar (Tabela 1), como sendo fitófagas (Tarsonemidae e Tetranychidae),
predadoras (Ascidae, Blattisociidae e Phytoseiidae) e indefinidos (Acaridae e Oribatidae). A
família de ácaros que apresentou maior número de espécies foi a Phytoseiidae com 15
espécies.
Haja vista que a planta daninha A. gayanus abrigou maior número de ácaros, o ácaro
Tetranycus sp. foi à espécie de maior ocorrência dentre as espécies de habito alimentar
fitófago com 9 espécimes na estação chuvosa e 50 espécimes na estação seca (Tabela 1). O
ácaro predador Amblyseius compositus (Denmark&Muma, 1973) apresentou o maior número
de espécimes na estação chuvosa, com 44 indivíduos, e a espécie predadora Asca sp. foi a de
maior ocorrência na estação seca com 8 indivíduos (Tabela 1). Em se tratando de ácaros de
hábito alimentar indefinido (Tabela 1), ácaros da família Oribatidae apresentaram número de
indivíduos igual a 254, quando teve por hospedeira a planta daninha A. gayanus na estação
chuvosa. Por outro lado, na estação seca a planta daninha que mais abrigou ácaros de hábito
alimentar indefinido foi à espécie Spermacoce latifólia com 19 indivíduos.
A diversidade de ácaros nas plantas daninhas, medida através do índice de ShannonWiener (Tabela 2), foi maior quando tiveram por hospedeira a espécie A. gayanus, com
padrão de distribuição de indivíduos entre as espécies (eH’) iguais a 3,88 e 3,52 para o total de
ácaros encontrados (chuva e seca, respectivamente). Para ácaros predadores, o padrão de
distribuição de indivíduos entre as espécies (eH’) foi de 5,01 e 4,85 equivalentes as estações
chuvosa e seca, respectivamente. Ácaros fitófagos apresentaram diversidade de espécies
somente na estação chuvosa, com valores de eH’ igual a 2,60. As plantas daninhas Spermacoce
45
verticillata (estação chuvosa) e Ipomoea sp.(estação seca) foram as espécies que apresentaram
maior diversidade de ácaros de hábito alimentar indefinido com os respectivos valores de eH’,
1,70 e 3,0.
Discussão
Diferenças significativas das técnicas de manejo sobre a população de ácaros e
comunidade de plantas daninhas não foram observadas. Isso se explica devido as coletas de
plantas daninhas terem sido realizadas nas entrelinhas da cultura do pinhão-manso, e, mesmo
sendo
utilizados
tratamentos
distintos,
aqueles
empregados
na
entrelinha
foram
correspondentes a roçada, sendo os demais manejos (capina e herbicida) empregados na linha
da cultura. Logo, corte das espécies daninhas não é considerado fator variante para sua
frequência, pois estas sendo roçadas ou não, estavam presentes no ambiente de estudo.
Sugere-se que mesmo não havendo pólen, devido a roçada das plantas daninhas, os
ácaros predadores presentes no meio teriam se alimentado de exudados e substâncias
açucaradas das plantas daninhas, enquanto ácaros fitófagos teriam a seiva da planta daninha
como fonte de alimento (Daud & Feres, 2004; Moraes e Flechmann, 2008).
No presente estudo, o fator determinante na ocorrência de ácaros foi à sazonalidade,
sendo que a precipitação interferiu na distribuição de ácaros em plantas daninhas, podendo a
dinâmica populacional de ácaros ser afetada (Cruz et al., 2012; Cruz et al., 2013).
A ocorrência de plantas daninhas em um sistema agrícola é variável, ou seja, ha
grande diversidade de espécies. Voll et al. (2005) afirma que certas espécies de plantas
daninhas são mais abundantes em alguns anos e menos comuns em outros, sendo essa
variação dependente de fatores bióticos e abióticos. Neste estudo, a planta daninha A.
gayanus, foi à espécie de maior frequência dentre as espécies, além de apresentar maiores
riquezas e diversidade de ácaros. A. gayanus já é conhecida por abrigar grande riqueza e
abundância de ácaros (Cruz et al., 2012; Cruz et al., 2013).
Verona (2010), avaliando a flutuação populacional de ácaros em plantas espontâneas
associadas a cultivo de pinhão-manso observou que a ocorrência de ácaros em diferentes
estações é dependente do ambiente de estudo bem como as espécies de ácaros que compõem o
agrossistema.
46
As espécies de plantas daninhas, em sua maioria, são mais expressivas na estação
chuvosa, sendo que as sementes dormentes que se encontram no banco de sementes do solo,
se viáveis, somente germinarão quando houver precipitação. Além da precipitação, Rizzardi
et al. (2009) ressalta que a temperatura também é fator importante para a emergência de
plantas daninhas.
Os resultados obtidos no presente trabalho estão em conformidade com aqueles obtidos
por Cruz et al. (2012) e Cruz et al. (2013), onde a família Phytoseiidae foi a que apresentou
maior riqueza de espécies de ácaros. Phytoseideos são considerados ácaros promissores que
viabilizam o controle biológico, (McMurtry & Croft, 1997; Lofego & Moraes, 2005; Ahn et
al., 2009) sendo também os mais abundantes em plantas cultivadas e silvestres (De Moraes,
2002; Ferla et al., 2007). Gerson et al. (2003) relatam ainda que a família Phytoseiidae
compreende a maioria das espécies de ácaros comercialmente utilizados em programas de
controle biológico.
Diante esses resultados, tornam-se necessários experimentos adicionais que
comprovem o potencial de A. gayanus em abrigar ácaros predadores da família Phytoseiidae,
verificando se há interação positiva entre a planta hospedeira e a comunidade de ácaros
predadores e se estes conseguem alimentar-se e reproduzir-se tendo como fonte de alimento
pólen desta espécie daninha.
Conclusões
Plantas daninhas podem ser mantidas na entrelinha da cultura do pinhão-manso, sem
necessidade de manejo, evitando assim custos com roçada.
O conjunto de espécies daninhas presentes na entrelinha de cultivos de pinhão-manso
podem apresentar interações positivas, contribuindo, por consequência, com o controle
biológico de ácaros-praga na cultura.
A sazonalidade foi o fator determinante na ocorrência de ácaros fitófagos e predadores
em plantas daninhas.
A espécie daninha A. gayanus, foi à hospedeira de maior frequência dentre as espécies
estudadas, além de abrigar o maior número de riqueza e diversidade de ácaros predadores da
família Phytoseiidae, os quais apresentam potencial de controle sobre ácaros-praga da cultura
do pinhão-manso.
47
Lista de Figuras e Tabelas
Figura 1. Temperatura e precipitação médias de Gurupi/TO, de novembro de 2011 a
novembro de 2012. Fonte: INMET/UFT.
Figura 2: Frequência de plantas daninhas (P < 0,05) e riqueza de ácaros (P < 0,05) em função
da sazonalidade, entre Novembro de 2011 a Novembro de 2012.
Tabela 1. Riqueza e hábito alimentar de ácaros encontrados em plantas daninhas associadas a
cultivo de pinhão-manso, em função da sazonalidade, entre Novembro de 2011 a Novembro
de 2012.
Tabela 2: Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) de espécies de ácaros em plantas
daninhas associadas a cultivo de pinhão-manso, em função da sazonalidade, entre Novembro
de 2011 a Novembro de 2012.
Precipitação (mm)
Temperatura (°C)
28,5
300
Temperatura (°C)
250
27,5
200
27,0
26,5
150
26,0
100
Precipitação (mm)
28,0
25,5
50
25,0
0
24,5
/11 z/11 an/12 ev/12 ar/12 br/12 ai/12 un/12 jul/12 go/12 et/12 ut/12 ov/12
s
j
j
f
o
a
m
n
nov de
a
m
Meses
Figura 1. Temperatura e precipitação médias de Gurupi/TO, de novembro de 2011 a
novembro de 2012. Fonte: INMET/UFT.
Frequência de Plantas Daninhas - Estação Chuvosa
Riqueza de ácaros - Estação Chuvosa
Frequência de Plantas Daninhas - Estação Seca
Riqueza de ácaros - Estação seca
80
70
60
50
40
30
20
10
0
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
Riqueza Total de ácaros
Frequência de Plantas Daninhas (%)
48
Espécies de Plantas Daninhas
Figura 2: Frequência de plantas daninhas (P < 0,05) e riqueza de ácaros (P < 0,05) em função
da sazonalidade, entre Novembro de 2011 a Novembro de 2012.
49
Tabela 1. Riqueza e hábito alimentar de ácaros encontrados em plantas daninhas associadas a cultivo de pinhão-manso, em função da sazonalidade, entre
Novembro de 2011 a Novembro de 2012.
Espécie ou
ordem
de ácaros
Família
Andropogon
gayanus
Chuva Seca
Acanthospermum
australe
Chuva
Seca
Spermacoce
latifolia
Chuva
Seca
Spermacoce
verticillata
Chuva
Seca
Marsypianthes
chamaedrys
Chuva
Seca
Cenchrus
ciliaris
Chuva
Diodia
teres
Seca
Euphorbia
irta
Chuva
Seca
Chuva
Emilia
fosbergii
Seca
Chuva
Seca
Sida
sp.
Ipomoea
sp.
Chuva Seca
Brachiaria
sp.
Chuva Seca Chuva Seca
Fitófagos
Mononychellus
planki
Tetranichidae
2
0
0
0
1
0
0
0
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Tarsonemus
confusus
Tarsonemidae
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Tarsonemus sp
Tarsonemidae
6
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Tetranychus sp
Tetranichidae
9
50
0
1
1
0
0
0
0
0
0
2
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
0
0
17
50
1
1
2
0
0
0
4
0
0
2
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
0
0
Total
Predadores
Aceodromus
convolvuli
Blattisociidae
23
0
4
0
0
1
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Amblyseius
compositus
Phytoseiidae
44
1
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
Amblyseius.
neochiapensis
Phytoseiidae
0
3
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Amblyseius sp
Phytoseiidae
2
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Asca germani
Ascidae
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
Asca sp
Ascidae
20
8
8
1
7
1
4
8
0
0
2
9
2
0
1
0
0
0
1
0
2
9
0
0
Cunaxidae
Phytoseiidae
0
0
0
0
1
0
2
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Neoseiulus affs
mumai
Phytoseiidae
2
1
0
0
0
0
2
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
50
Neoseiulus
idaeus
Phytoseiidae
2
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Neoseiulus sp.
Phytoseiidae
0
0
0
0
1
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0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Neoseiulus tunus
Phytoseiidae
2
0
0
0
0
0
0
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Neoseiulus sp.
Phytoseiidae
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Proprioseiopsis
cannaensis
Phytoseiidae
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Proprioseiopsis
mexicanus
Phytoseiidae
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Proprioseiopsis
neotropicus
Phytoseiidae
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Proprioseiopsis
sp
Phytoseiidae
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
...
Phytoseiidae
17
2
0
0
0
0
2
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
Typhlodromalus
aripo
Phytoseiidae
1
0
4
0
0
0
1
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
113
17
16
1
10
4
11
10
3
0
3
11
3
0
1
0
0
0
1
0
3
11
0
0
Total
Indefinidos
Neotopacarus
mumai
Acaridae
7
1
0
0
3
0
2
1
9
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Rhizoglyphus
echinopus
Acaridae
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
...
Acaridae
0
0
0
0
4
0
17
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
1
0
0
...
Oribatidae
254
8
60
1
80
19
87
1
41
4
0
1
0
0
2
1
2
1
12
5
2
1
2
0
Total
261
9
60
1
87
19
106
2
50
4
0
3
9
0
2
1
2
1
13
5
2
3
2
0
Total Geral
391
76
77
3
99
23
117
12
57
4
3
16
12
0
3
1
2
1
14
5
5
16
2
0
* A espécie daninha Cyperus sp. não aparece na tabela, devido esta não apresentar riqueza de ácaros.
51
Tabela 2: Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) de espécies de ácaros em plantas daninhas associadas a cultivo de pinhão-manso, em
função da sazonalidade, entre Novembro de 2011 a Novembro de 2012.
Ácaros (Total)
Espécies de Plantas Daninhas
Chuva
H’
e
Ácaros Predadores
Seca
H’
H’
e
Chuva
H’
H’
e
Ácaros Fitófagos
Seca
H’
H’
Chuva
e
H’
H’
e
Ácaros Indefinidos
Seca
H’
H’
e
Chuva
H’
H’
e
Seca
H’
H’
e H’
Andropogon gayanus
1,35
3,88
1,26
3,52
1,61
5,01
1,58
4,85
0,96
2,60
0,00
1,00
0,12
1,13
0,35
1,42
Acanthospermum australe
0,79
2,21
1,10
3,00
1,04
2,83
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
Spermacoce latifolia
0,69
1,99
0,70
2,02
0,94
2,56
1,39
4,00
0,69
2,00
0,00
1,00
0,16
1,17
0,00
1,00
Spermacoce verticillata
0,94
2,55
1,10
3,00
1,52
4,56
0,64
1,90
0,00
1,00
0,00
1,00
0,53
1,70
0,69
2,00
Marsypianthes chamaedrys
0,97
2,63
0,00
1,00
1,10
3,00
0,00
1,00
0,56
1,75
0,00
1,00
0,47
1,60
0,00
1,00
Cenchrus ciliaris
0,64
1,89
1,45
4,27
0,64
1,89
1,04
2,84
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,69
2,00
Diodia teres
0,72
2,06
0,00
1,00
0,64
1,89
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
Euphorbia irta
0,64
1,89
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
Emilia fosbergii
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
Sida sp.
0,51
1,66
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,27
1,31
0,00
1,00
Ipomoea sp.
1,06
2,87
1,45
4,27
0,64
1,89
0,60
1,82
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
1,10
3,00
Brachiaria sp.
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
0,00
1,00
52
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55
___________________________________________________________CAPÍTULO III
Distribuição Sazonal da Acarofauna Fitófaga e Predadora no Dossel de Plantas de
Pinhão-Manso (Jatropha curcas L.)
Resumo
O pinhão-manso apresenta potencial na produção de biodiesel e bioquerosene. No entanto,
pragas que atacam a cultura, a exemplo de ácaros fitófagos podem causar reduções de
produtividade. Ácaros predadores que ocorrem naturalmente na cultura podem auxiliar no
controle de ácaros-praga. No entanto, pouco se conhece sobre a acarofauna fitófaga e
predadora que habita plantas de pinhão-manso. Daí a importância do estudo da distribuição
nos diferentes estratos da planta bem como a influência da sazonalidade na acarofauna
fitófaga e predadora. O presente estudo teve por objetivo avaliar a distribuição espacial da
acarofauna fitófaga e predadora em plantas de pinhão-manso bem como a influência da
sazonalidade nestes artrópodes. Foram realizadas avaliações de flutuação populacional de
ácaros por período de um ano de cultivo, dividindo-se a planta nos estratos apical, mediano e
basal (tratamentos). Para as amostragens, foram selecionadas 120 plantas de pinhão-manso na
área de estudo, sendo cada planta considerada 1 repetição. Foram determinados parâmetros de
riqueza, diversidade e abundância de ácaros. Maiores riquezas de ácaros predadores foram
encontradas no estrato basal da planta de pinhão-manso enquanto ácaros fitófagos
encontraram-se distribuídos no estrato apical, sendo B. Phoenicis a mais abundante. Ácaros
predadores da família Phytoseiidae foram aqueles de maior ocorrência, sendo o ácaro
predador T. clavicus o mais abundante. A sazonalidade foi o fator determinante na abundância
e ocorrência de ácaros fitófagos e predadores na cultura do pinhão-manso.
Palavras-chave: Jatrophacurcas L., biocombustíveis, pragas, distribuição de ácaros,
precipitação.
Abstract
The Jatropha has the potential to produce biodiesel and bio-kerosene. However, pests culture,
like phytophagous mites can cause yield reductions. Predatory mites that occur naturally in
the culture can help to control pest mites. However, little is known about the phytophagous
and predatory mite fauna inhabiting plant jatropha. Hence the importance of the study of the
distribution in the different strata of the plant as well as the influence of seasonality on
phytophagous and predatory mite fauna. The present study aimed to evaluate the spatial
distribution of phytophagous and predatory mite fauna in plants of jatropha as well as the
influence of seasonality in these arthropods. We evaluated population fluctuations of mites
per one year of cultivation, dividing the plant strata apical, median and basal (treatments). For
sampling, we selected 120 plants of jatropha in the study area, and each plant considered one
repetition. Were determined parameters richness, diversity and abundance of mites. Greater
riches predatory mites were found in the basal layer of the plant Jatropha as phytophagous
mites were found distributed in the apical stratum, and B. Phoenicis the most abundant.
Predatory mites of the family Phytoseiidae were those most frequent being the predatory mite
T. Clavicus the most abundant. Seasonality was the determining factor in the abundance and
occurrence of phytophagous and predatory mites in the culture of jatropha.
Keywords: Jatropha curcas L., biofuels, pests, mites distribution, precipitation.
56
Introdução
O pinhão-manso tem sido difundido como fonte renovável de energia promissora, com
rendimento de óleo satisfatório e alta qualidade físico-química, podendo ser utilizado para a
produção de biocombustíveis como o bioquerosene e o biodiesel (Durães et al., 2011). Dentre
as pragas que atacam a cultura do pinhão-manso, ácaros fitófagos são considerados as
principais pragas que podem inviabilizar o seu cultivo (Sarmento et al., 2011; Cruz et al.,
2012; Cruz et al., 2013; Pedro Neto et al., 2013; Marques et al., submetido).
O controle biológico natural de ácaros fitófagos por ácaros predadores ocorre em
cultivos de pinhão-manso, no entanto pouco se conhece sobre a acarofauna predadora e
fitófaga que ocorre na cultura. Ácaros podem ter preferência por diferentes estratos da planta
devido a fonte de alimento bem como pela incidência de luz solar e facilidade de dispersão
(Moraes e Flechtmann, 2008).
Diferentes partes da planta também podem influenciar a ocorrência da comunidade
associada, pois dependendo de seu tamanho, receberá distintos níveis de incidência solar,
vento, umidade, além de outros fatores abióticos, o que interfere diretamente no
desenvolvimento das espécies (Feres et al., 2010). Por exemplo, ácaros tarsonemídeos tem
preferência pelas folhas mais jovens do ápice da planta enquanto os ácaros tetraniquideos são
comumente encontrados na parte inferior das folhas completamente desenvolvidas do pinhãomanso em comparação com as folhas mais jovens (Moraes e Flechtmann 2008; Sarmento et
al., 2011).
A sazonalidade, por meio da precipitação, favorece o estabelecimento de ácaros fitófagos
na cultura do pinhão-manso à medida que ácaros predadores diminuem. Contudo, a
comunidade de predadores tende a aumentar gradativamente, reprimindo a comunidade de
ácaros fitófagos. Além disso, precipitações elevadas possuem efeito destrutivo sobre as
colônias de ácaros fitófagos (Rodrigues 2010).
Diante do exposto, o presente estudo teve por objetivo avaliar a distribuição espacial de
ácaros na cultura do pinhão-manso, bem como a influência da sazonalidade na ocorrência
destes artrópodes.
57
Material e Métodos
O experimento foi conduzido de novembro de 2011 a novembro de 2012 em área de
plantio experimental de pinhão-manso (espaçamento 2 x 3 m) da Universidade Federal do
Tocantins (UFT), Campus Universitário de Gurupi, localizado na região sul do estado do
Tocantins, a 280 m de altitude , latitude 11º 43’ S e longitude 49º 04’ W, sendo o clima do
tipo Aw segundo classificação climática de Rubel e Kottek (2010), definido como equatorial e
inverno seco.
Dados de precipitação e temperatura estão expressos na Figura 1. Considerou-se
estação chuvosa o período que compreende os meses de dezembro de 2011 (início das
avaliações) a abril de 2012 e novembro de 2012 enquanto a estação seca foi compreendida
entre os meses de maio a outubro de 2012.
Para as amostragens, foram selecionadas 120 plantas de pinhão-manso na área de
estudo, sendo cada planta considerada 1 repetição. Cada planta de Pinhão-manso foi dividida
nos estratos apical, mediano e basal (tratamentos). Para uniformização das plantas, foi
realizada poda a altura de 80 cm do solo, seguida de duas adubações de cobertura em
intervalos de 30 dias, utilizando-se 200g / planta da formula NPK 10-10-10 (Drumond et al.,
2009).
Após 30 dias da instalação do experimento iniciaram-se as avaliações de flutuação
populacional de ácaros. As folhas coletadas encontravam-se no quarto superior dos ramos, ou
seja, da quarta à oitava folha totalmente expandida. Foram realizadas 12 coletas, uma por
mês, e após cada coleta as folhas foram identificadas, levadas para laboratório e lavadas em
peneira (325 mesh) (Spongoski et al., 2005). O resíduo foi armazenado em eppendorf
contendo álcool 70% e posteriormente avaliados através da confecção de lâminas em
microscópio estereoscópico, as quais foram identificadas utilizando microscópio Bel
Photonics®.
Curvas de acúmulo de espécies de ácaros foram geradas pelo estimador Mao Tao
obtido através do software Estimates 7.52 (Colwel, 2011).
O índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) (Shannon, 1948) foi calculado tanto
para o total de espécies de ácaros (fitófagos + predadores) como para espécies de ácaros
fitófagos e predadores, em separado, utilizando a seguinte fórmula:
58
H’= -Σ pi . (lnpi)
Em que “pi” representa a proporção de cada espécie na comunidade.
A equidade (eH’), que é o padrão de distribuição de indivíduos entre as espécies, foi
determinada para definir a homogeneidade e uniformidade de distribuição das espécies dentro
da comunidade de ácaros encontrada.
Para a abundância de ácaros (total, predadores e fitófagos) nos diferentes tratamentos
foi realizada a análise não paramétrica de Kruskal-Wallis. Realizou-se ANOVA para medidas
repetidas para determinar a abundância de ácaros (total, predadores e fitófagos) em função
dos estratos da planta de pinhão-manso e sazonalidade. Os dados foram transformados em log
de x + 1. Para análise dos dados utilizou-se o software Statistica 8.0. (StatSoft, 2004).
Resultados
As espécies foram agrupadas em famílias e classificadas de acordo com o hábito
alimentar (Tabela 1), como sendo fitófagas (Tarsonemidae, Tenuipalpidae e Tetranychidae) e
predadoras (Ascidae, Blattisociidae, Cheleydae e Phytoseiidae). A família de ácaros que
apresentou maior número de espécies foi a Phytoseiidae com 10 espécies. O ácaro
Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) foi à espécie de maior ocorrência dentre as espécies
de habito alimentar fitófago. O ácaro predador Typhlodromalus clavicus (Denmark&Muma,
1973) foi o de maior ocorrência entre os predadores.
A riqueza total de espécies de ácaros foi maior no estrato apical seguido dos estratos
basal e mediano (Figura 2 a). A maior riqueza de espécies de ácaros predadores foi
encontrada no estrato basal, seguido dos estratos apical e mediano (Figura 2 b). Para ácaros
fitófagos, não foi possível estimar a riqueza de espécies nos estratos mediano e basal (Figura
2 c) enquanto o estrato apical apresentou apenas 1 espécie.
A diversidade total de ácaros na cultura do pinhão-manso (Tabela 1), medida através
do índice de Shannon-Wiener, foi maior no estrato apical com padrão de distribuição dos
indivíduos (eH’) igual a 7,840, seguido dos estratos mediano e basal com valores de eH’ iguais
a 6,748 e 5,925 respectivamente.
59
No índice de diversidade para espécies de ácaros predadores (Tabela 2), observou-se
que o estrato basal foi aquele em que houve maior padrão de distribuição de indivíduos com
valor de eH’ igual a 7,458, seguido dos valores 5,033 e 3,987 equivalentes aos estratos apical e
mediano respectivamente. Para espécies de ácaros fitófagos (Tabela 1), o estrato apical
implicou em maior diversidade de espécies, com padrão de distribuição de indivíduos (eH’)
igual a 1,67, seguido do estrato mediano com valor de eH’ igual a 1,458. No estrato basal não
houve diversidade de espécies.
A abundância total de ácaros (Figura 3 a) (P = 0,17) bem como as abundâncias de
ácaros predadores (Figura 3 b) (P = 0,39) e fitófagos (Figura 3 c) (P = 0,53) não foram
influenciadas pelo estrato da planta.
A abundância de ácaros em função dos estratos e sazonalidade é expressa na figura 4.
Não houve diferença significativa na abundância de ácaros nos diferentes estratos (P< 0,10) e
nem na interação estação e estrato (P< 0,59). Desta maneira, observa-se que a sazonalidade
foi o fator determinante na abundância total de espécies de ácaros (P< 0,005).
Ácaros predadores (Figura 4 b) não apresentaram diferenças em sua abundância
quando avaliados diferentes estratos (P< 0,38), influência da estação (P< 0,16) e interação
entre estes dois fatores (P< 0,59).
Por outro lado, a abundância de ácaros fitófagos foi maior na época chuvosa (Figura 4
c) (P< 0,0001). Os estratos apical, mediano e basal apresentaram comportamento semelhante
em relação à abundância de ácaros fitófagos (P< 0,39) assim como a interação estrato e planta
não apresentou relação significativa (P< 0,65).
Discussão
A riqueza e diversidade de ácaros apresentaram a mesma heterogeneidade de
distribuição de espécies ao longo do dossel da cultura do pinhão-manso. A riqueza e
diversidade de ácaros predadores foram variáveis ao longo dos estratos da planta de pinhãomanso, pois esta produz sempre em ramos do ano, e, visto que as plantas do presente estudo
foram submetidas à poda, houve um estimulo a produção de ramos secundários.
Consequentemente, as novas brotações em todas as partes da planta, apresentaram folhas de
diversas idades. Logo, a distribuição de ácaros pode ter sido favorecida de acordo com a
preferência alimentar de cada espécie fitófaga, bem como a distribuição de ácaros predadores
que se alimentam destes.
60
No Estado do Tocantins, o potencial produtivo do pinhão-manso se dá na estação
chuvosa, pois entre os meses de maio a outubro nesta região ocorre pouco ou nenhuma
precipitação, além da temperatura elevada (Figura 1), período no qual a planta perde parte de
suas folhas e entra em estado de dormência (Cortesão 1956; Brasil 1985). Esse fator
contribuiu para que a sazonalidade fosse o fator determinante na ocorrência de ácaros na
cultura do pinhão-manso.
As diferentes estações exerceram influência sobre a abundância de ácaros, confirmando
resultados encontrados por Cruz et al., 2012 e Cruz et al., 2013, onde os autores afirmam que
a ocorrência de fitófagos e predadores seguem a mesma tendência de distribuição em função
da sazonalidade.
Na cultura do cafeeiro, Pedro Neto et al. (2010) afirmam que períodos de menor
precipitação pluviométrica tende a uma maior ocorrência de ácaros predadores e fitófagos. No
entanto, os resultados aqui obtidos evidenciam que no pinhão-manso ocorre de maneira
inversa devido à planta ser caducifólia (Cortesão 1956; Brasil 1985), ou seja, por não haver
folhas na estação seca. Por consequência, a ocorrência de ácaros neste período é menor.
A espécie fitófaga B. phoenicis é considerada potencial praga do pinhão-manso. Assim
como o ácaro T. clavicus pode ser considerado agente promissor no controle biológico de
ácaros-praga na cultura, a exemplo de P. latus e T. bastosi, ácaros não encontrados no
presente estudo (Cruz et al., 2012) e Cruz et al., 2013).
Visto que ácaros da família Phytoseiidae foram aqueles de maior ocorrência, alguns
autores consideram esta família como uma das mais promissoras que viabilizam o controle
biológico, (McMurtry&Croft, 1997; Lofego& Moraes, 2005; Ahn et al., 2009) sendo também
a mais abundante em plantas cultivadas e silvestres (De Moraes, 2002; Ferlaet al., 2007).
Gerson et al. (2003) relatam ainda que a família Phytoseiidae compreende a maioria das
espécies de ácaros comercialmente utilizados em programas de controle biológico.
Conclusões
Maiores riquezas de ácaros predadores foram encontradas no estrato basal da planta de
pinhão-manso, enquanto ácaros fitófagos encontraram-se distribuídos no estrato apical, sendo
a espécie fitófaga B. phoenicis a de maior ocorrência.
61
Ácaros predadores da família Phytoseiidae foram aqueles de maior ocorrência, sendo o
ácaro predador T. clavicus o de maior expressividade.
Os ácaros fitófagos, P. latuse T. bastosi, principais ácaros-praga da cultura do pinhãomanso não foram encontrados no presente estudo.
A sazonalidade foi o fator determinante na abundância e ocorrência de ácaros fitófagos
e predadores na cultura do pinhão-manso.
Lista de Tabelas e Figuras
Tabela 1. Riqueza de ácaros nos diferentes estratos da planta de pinhão-manso em função da
sazonalidade, entre novembro de 2011 a novembro de 2012.
Tabela 2. Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) de ácaros em diferentes estratos da
planta de pinhão-manso.
Figura 1. Temperatura e precipitação médias de Gurupi/TO, de novembro de 2011 a
novembro de 2012. Fonte: INMET/UFT.
Figura 2. Curvas de acúmulo de espécies padronizadas pelos números totais de ácaros
(predadores + fitófagos) (a), predadores (b) e fitófagos (c) nos diferentes estratos da planta de
pinhão-manso (apical, mediano e basal). Curvas geradas pelo estimador Mao Tao (total de
120 Plantas).
Figura 3. Abundância total de ácaros (a) (X2= 3,47, GL= 2, P = 0,17). Abundância de ácaros
predadores (b) (X2 = 1,857773, GL = 2, P = 0,39). Abundância de ácaros fitófagos (c) (X2 =
1,25, GL = 2, P = 0,53). Estratos da planta de pinhão-manso (tratamentos): 1 = apical, 2 =
mediano e 3 = basal. Gráfico plotado a partir de dados não transformados.
Figura 4. Abundância total de ácaros (a), (Estrato: F2, 717 = 2,22, p < 0,10; Estação: F1, 717 =
8,02, p <0,005; Estação*Estrato: F2, 717 = 0,51, p < 0,59); abundância de ácaros predadores (b),
(Estrato: F2, 717 = 0,95, p < 0,38; Estação: F2, 717 = 1,97, p < 0,16; Estação*Estrato: F2, 717 =
0,51, p < 0,59); e abundância de ácaros fitófagos (c), (Estrato: F2, 717 = 0,93, p < 0,39; Estação:
F1, 717 = 27,86, p < 0,0001; Estação*parte: F2, 717 = 0,42, p < 0,65). Gráfico plotado a partir de
dados não transformados.
62
Tabela 1. Riqueza de ácaros nos diferentes estratos da planta de pinhão-manso em função da
sazonalidade, entre novembro de 2011 a novembro de 2012.
Espécie
Família
Brevipalpus phoenicis
Tetranychus sp.
Tarsonemus sp.
Estação Chuvosa
Estação Seca
Estrato da planta de pinhão-manso
Apical Mediano Basal
Apical Mediano
Basal
Fitófagos
Tenuipalpidae
4
1
2
13
6
2
Tetranichidae
0
0
0
1
0
0
Tarsonemidae
1
0
0
1
0
0
Predadores
Typhlodromalus
Phytoseiidae
clavicus
Typhlodromalus
Phytoseiidae
limomonicus
Cheletogenes ornatos
Cheleydae
Asca sp.
Ascidae
Asca germani
Ascidae
Amblyseius sp.
Phytoseiidae
Amblyseius compositus Phytoseiidae
Amblyseius
Phytoseiidae
neochiapensis
Amblyseius acalyphus Phytoseiidae
Euseius citrifolius
Phytoseiidae
Neoseiulus sp.
Phytoseiidae
Proprioseiopsis
Phytoseiidae
neotropicus
...
Phytoseiidae
Aceodromus sp.
Blattisociidae
Aceodromus convolvuli Blattisociidae
2
3
2
5
1
1
1
0
0
0
0
0
0
1
0
2
1
1
2
0
0
0
0
4
1
0
1
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
0
1
0
0
1
0
0
0
0
0
0
1
1
0
0
0
0
0
1
0
1
1
1
0
0
0
0
0
0
1
1
0
0
1
0
0
0
0
0
Tabela 2. Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) de ácaros em diferentes estratos da
planta de pinhão-manso.
Estrato
Apical
Mediano
Basal
Total
H'
2,058
1,908
1,778
H'
e
7,840
6,748
5,925
Predador
H'
eH'
1,615
5,033
1,380
3,978
2,008
7,458
Fitófago
H'
eH'
0,518
1,679
0,377
1,458
0,000
1,000
63
Precipitação (mm)
Temperatura (°C)
28,5
300
Temperatura (°C)
250
27,5
200
27,0
26,5
150
26,0
100
Precipitação (mm)
28,0
25,5
50
25,0
0
24,5
/11 z/11 an/12 ev/12 ar/12 br/12 ai/12 un/12 jul/12 go/12 et/12 ut/12 ov/12
s
j
j
f
o
a
m
n
nov de
a
m
Meses
Figura 1. Temperatura e precipitação médias de Gurupi/TO, de novembro de 2011 a novembro de 2012. Fonte:
INMET/UFT.
64
a
b
c
Figura 2. Curvas de acúmulo de espécies padronizadas pelos números totais de ácaros (predadores + fitófagos)
(a), predadores (b) e fitófagos (c) nos diferentes estratos da planta de pinhão-manso (apical, mediano e basal).
Curvas geradas pelo estimador Mao Tao (total de 120 Plantas).
65
Figura 3. Abundância total de ácaros (a) (X2= 3,47, GL= 2, P = 0,17). Abundância de ácaros predadores (b) (X2 =
1,857773, GL = 2, P = 0,39). Abundância de ácaros fitófagos (c) (X2 = 1,25, GL = 2, P = 0,53). Estratos da planta
de pinhão-manso (tratamentos): 1 = apical, 2 = mediano e 3 = basal. Gráfico plotado a partir de dados não
transformados.
66
Figura 4. Abundância total de ácaros (a), (Estrato: F2, 717 = 2,22, p < 0,10; Estação: F1, 717 = 8,02, p <0,005;
Estação*Estrato: F2, 717 = 0,51, p < 0,59); abundância de ácaros predadores (b), (Estrato: F2, 717 = 0,95, p < 0,38;
Estação: F2, 717 = 1,97, p < 0,16; Estação*Estrato: F2, 717 = 0,51, p < 0,59); e abundância de ácaros fitófagos (c),
(Estrato: F2, 717 = 0,93, p < 0,39; Estação: F1, 717 = 27,86, p < 0,0001; Estação*parte: F2, 717 = 0,42, p < 0,65).
Gráfico plotado a partir de dados não transformados.
67
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69
___________________________________________________________CAPÍTULO IV
Glyphosate Afeta a Reprodução Dos Ácaros Fitófagos Polyphagotarsonemus latus Banks
(1904) e Tetranychus bastosi Tuttle, Baker e Sales (1977) (Acari: Tarsonemidae;
Tetranychidae).
Resumo
No Estado do Tocantins as principais pragas que podem inviabilizar o cultivo de pinhãomanso são os ácaros branco Polyphagotarsonemus latus e o vermelho Tetranychus bastosi. O
manejo de plantas daninhas em cultivos de pinhão-manso é geralmente feito com o herbicida
Glyphosate. Contudo, não é conhecido os efeitos deste herbicida em organismos não alvos
como ácaros fitófagos presentes na cultura. Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de
Glyphosate sobre a reprodução dos ácaros P. latus e T. bastosi haja vista que ambas as
espécies habitam plantas de pinhão-manso e podem ser submetidas ao herbicida por meio da
deriva. O efeito tópico e residual de Glyphosate foi estudado em laboratório em P. latus e T.
bastosi a doses crescentes do herbicida (a titulo de comparação, foram avaliadas duas doses
menores e duas doses maiores que a dose utilizada em campo): 0 (água destilada - controle);
0,36 l.ha-1 de e.a.; 0,72 l.ha-1 de e.a.; 1,44 l.ha-1 de e.a. (dose recomendada para o controle de
plantas daninhas), 2,88 l.ha-1 de e.a. e; 5,76 l.ha-1 de e.a.. O herbicida Glyphosate afetou a
reprodução dos ácaros fitófagos P. latus e T. bastosi. A dose usualmente utilizada em campo
(1,44 l.ha-1 de e.a.) promoveu reduções significativas na oviposição quando avaliado o efeito
residual do herbicida sobre os ácaros P. latus e T. bastosi. A dose de 0,36 l.ha-1 de e.a. foi
àquela que mais estimulou a oviposição do ácaro P. latus quando submetido ao efeito residual
do herbicida glyphosate. Quando avaliado o efeito tópico, a oviposição de P. latus foi afetada
negativamente, enquanto o ácaro T. bastosi apresentou maior taxa reprodutiva. O herbicida
Glyphosate afetou a reprodução dos ácaros fitófagos P. latus e T. bastosi. A dose usualmente
utilizada no controle de plantas daninhas em campo (1,44 l.ha-1 de e.a.) promoveu menor
oviposição do ácaro P. latus quando exposto ao efeito residual, enquanto o efeito tópico
estimulou a oviposição do ácaro T. bastosi. Contudo, o aumento das doses de Glyphosate
ocasionou redução na oviposição de T. bastosi expostos ao efeito residual do herbicida. As
diferentes doses afetaram a reprodução de P. latus entre o 1° e 3° dia de oviposição em ambas
as formas de exposição (residual e tópico), ao passo que T. bastosi teve a reprodução afetada
entre o 1° e 5° dia de oviposição quando exposto somente ao efeito residual. Estudos
posteriores devem ser realizados para verificar o efeito do herbicida Glyphosate sobre os
demais atributos biológicos P. latus e T. bastosi.
Palavras-chave: Herbicida; Toxicidade; ácaros-praga; organismos não-alvo; oviposição.
Abstract
In the State of Tocantins major pests that can derail the cultivation of jatropha are mites
Polyphagotarsonemus latus and Tetranychus bastosi red. The management of weeds in crops
of jatropha is usually done with the herbicide Glyphosate. However, it is not known the
effects of the herbicide glyphosate on non-target organisms such as mites species present in
the culture. This study aimed to evaluate the effect of glyphosate on the reproduction of mites
P. latus and T. bastosi given that both species inhabit plants jatropha and may be subject to
the herbicide through drift. The topical effect and residual Glyphosate has been studied in
laboratory P. latus and T. bastosi increasing doses of the herbicide (for comparison were
evaluated and two low doses two higher doses than the dose used in field) 0 (distilled water control), 0.36 and l.ha-1; 0, 72 l.ha-1 and; 1.44 l.ha-1 and (recommended dose for weed
70
control), 2.88 l.ha-1 and e; 5.76 l.ha-1 ea. The herbicide glyphosate affected the reproduction
of phytophagous mites P. latus and T. bastosi. The dose usually used in the field (1.44 l.ha-1
and) produced significant reductions in oviposition when evaluated the carryover effect on
mites P. latus and T. bastosi. The dose of 0.36 l.ha-1 and it was that which had stimulated
oviposition mite P. latus when subjected to the residual effect of the herbicide glyphosate.
When assessing the effect topic oviposition P. latus was negatively affected, while the mite
bastosi had higher reproductive rate. The herbicide glyphosate affected the reproduction of
phytophagous mites P. latus and T. bastosi. The dose usually used in weed control in the field
(1.44 l.ha-1 and) promoted less oviposition mite P. latus when exposed to the residual effect,
while the effect topic stimulated oviposition by the mite T. bastosi. However, increasing doses
of glyphosate decreased the oviposition of T. bastosi exposed to the carryover effect. The
different doses affected the reproduction of P. latus between the 1st and 3rd day of oviposition
in both forms of exposure (residual and topic), while T. bastosi had affected the reproduction
between the 1st and 5th day of oviposition when exposed only to the residual effect. Further
studies should be performed to verify the effect of the herbicide glyphosate on other
biological attributes P. latus and T. bastosi.
Keywords: Herbicide; toxicity; mite pests, non-target organisms; oviposition.
Introdução
As principais pragas da cultura do pinhão-manso no Estado do Tocantins são os ácaros
branco Polyphagotarsonemus latus Banks (1904) (Acari: Tarsonemidae) e vermelho
Tetranychus bastosi Tuttle, Baker e Sales (1977) (Acari: Tetranychidae) (Sarmento et al.
2011; Cruz et al. 2012; Cruz et al. 2013; Pedro Neto et al. 2013; Marques et al. submetido).
No Brasil, P. latus é considerado praga de várias culturas atacando principalmente as
brotações (Grin et al. 2005; Maketon et al. 2008). O tamanho reduzido e a coloração deste
ácaro dificultam sua identificação em campo, sendo sua identificação possível quando já
atingiu altas densidades populacionais, o que pode comprometer a eficiência de controle.
O ácaro vermelho T. bastosi produz uma grande quantidade de teia, o que impede a
ação de predadores, no entanto facilita sua identificação no campo (Moraes & Flechtmann,
2008). O primeiro relato de T. bastosi em plantas de pinhão-manso no Brasil foi feito no
Estado de Sergipe, com ocorrência em plantas menos vigorosas, apresentando sintomas de
redução e encarquilhamento do limbo (Santos et al. 2010).
Em relação ao manejo de plantas daninhas na cultura, Costa et al. (2009) afirma que o
controle em áreas de cultivo de pinhão-manso em maior escala é geralmente feito com
aplicação do herbicida Glyphosate. O herbicida Glyphosate é classificado como não seletivo e
apresenta largo espectro de ação, atuando sobre plantas de folhas largas e estreitas bem como
anuais e perenes (Galli & Montezuma, 2005). Atualmente, o Glyphosate é um dos herbicidas
71
mais utilizados no mundo e devido sua eficácia e preço aceitável, tornou-se necessário a
implementação de programas de monitoramento (Amarante Jr. et al. 2002; Pedrinho Jr. et al.
2002).
O fato é que aplicações de Glyphosate podem afetar organismos não alvos que se
alimentam da cultura onde este foi aplicado, podendo os efeitos negativos do herbicida serem
ocasionados pelos surfactantes presentes em sua composição, que podem agir por intoxicação
direta (Santos et al. 2007). Além disso, o impacto pode ser provocado pelas alterações
causadas pelo herbicida na comunidade de plantas daninhas, afetando por consequência a
abundância e distribuição de artrópodes (Pereira, 2009).
Em abordagem ecológica sobre o impacto do Glyphosate sobre Chrysoperla externa,
Schneider et al. (2009) observaram que este herbicida apresenta vários efeitos a longo prazo,
implicando em impactos negativos sobre as características de tabela de vida e parâmetros
demográficos. Os relatos de efeitos do herbicida Glyphosate são inúmeros, variando entre
espécies de organismos não alvo, sendo influenciado também pelo tipo de cultivo e fatores do
ambiente. Segundo Costa et al. (2009) o pinhão-manso apresenta boa tolerância à deriva do
herbicida Glyphosate até a dose de 22,5 g ha-1.
Desta maneira, o presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de Glyphosate
sobre a reprodução dos ácaros P. latus e T. bastosi considerados como potenciais pragas da
cultura do pinhão-manso.
Partindo da hipótese que a concentração de sais e equivalentes ácidos presentes na
composição do Glyphosate podem agir por intoxicação direta, foram realizados dois
experimentos em laboratório (efeito residual e tópico) a fim de verificar como o herbicida
Glyphosate afeta a reprodução de P.latus e T. bastosi.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no laboratório de acarologia da Universidade Federal do
Tocantins, em sala climatizada a 26±1ºC e 70±5% de UR, com fotófase de 12 horas. Os
ácaros para estudo foram obtidos da criação estoque (idade uniforme), sendo o ácaro T.
bastosi com 8 dias de idade (Pedro Neto et al. 2013) e o ácaro P. latus com 4 dias de idade
(Lopes, 2009).
O herbicida utilizado foi o Glyphosate (480 g. l-1 de equivalente ácido, e.a.). Adotouse volume de calda correspondente a 400 l.ha-1, correspondendo a 3 l.ha-1do produto
72
comercial. O herbicida utilizado contém 48% (480 g.l-1) de equivalente ácido (e.a.), desta
maneira, a dose que atuou efetivamente como herbicida foi de 1,44 l.ha-1 de e.a.
O experimento de efeito residual e tópico de Glyphosate sobre T. bastosi e P. latus
constituiu-se de 6 tratamentos (a titulo de comparação, foram avaliadas duas doses menores e
duas doses maiores que a dose utilizada em campo), sendo eles: água destilada (controle);
0,36 l.ha-1 de e.a.; 0,72 l.ha-1 de e.a.; 1,44 l.ha-1 de e.a. (dose recomendada para o controle de
plantas daninhas); 2,88 l.ha-1 de e.a.; e 5,76 l.ha-1 de e.a.. Foram avaliadas 20 repetições para
T. bastosi e 15 repetições para P. latus.
Foram confeccionados discos (Ø = 3 cm) a partir da segunda e quarta folha de pinhãomanso, para criação de P. latus e T. bastosi, respectivamente. Os discos foram postos em
placa de Petri (Ø = 15 cm) sobre algodão hidrofóbico e circundado por guardanapo úmido, o
qual serviu de barreira para evitar a fuga dos ácaros. Tanto o algodão quanto o guardanapo
foram constantemente umedecidos para garantir maior viabilidade dos discos.
Para o experimento de efeito residual, os discos foram imersos nas respectivas
soluções (tratamentos) por 10 segundos e secos em condições ambiente do laboratório por 1h.
Em seguida foram colocados uma fêmea e um macho de P. latus por disco. Para o ácaro T.
bastosi, foi colocada somente uma fêmea por disco, visto que este ácaro-praga é capaz de
reproduzir-se sem a presença do macho (Partenogênese arrenótoca). Depois de 24 horas,
foram avaliados diariamente, a taxa de oviposição de P. latus e T. bastosi, por um período de
7 e 6 dias, respectivamente.
Para o experimento de efeito tópico, a pulverização foi feita utilizando simulador de
aplicação composto por 2 borrifadores encaixados em torre (30 cm de altura por 15,5 cm de
diâmetro) confeccionada a partir de garrafas pet, sendo a base de isopor. Os borrifadores
foram posicionados em lados opostos da torre e quando pressionados formou-se uma névoa,
minimizando o tamanho e impacto da gota sobre os ácaros. A pulverização foi feita em
fêmeas de T. bastosi e P. latus, contidas em folhas de pinhão-manso postas em placa de Petri
(Ø = 15 cm) sobre algodão hidrofóbico e circundado pelo mesmo, o qual serviu de barreira
para evitar a fuga dos ácaros. Para a pulverização do herbicida teve-se uma placa de Petri para
cada tratamento, totalizando 6 placas por espécie. Para cada tratamento foi utilizado uma
torre, tanto para pulverização em P. latus quanto em T. bastosi. A quantidade de produto que
caiu efetivamente sobre a placa de Petri contendo os ácaros equivaleu a 0,1051 gramas.
Posteriormente uma fêmea (pulverizada) e um macho (não pulverizado) de P. latus
foram colocados em discos sem resíduo. Para o ácaro T. bastosi, foi colocada somente uma
73
fêmea (pulverizada) por disco, visto que este ácaro-praga é capaz de reproduzir-se sem a
presença do macho (Partenogenese arrenótoca), característica comum de ácaros da família
Tetranychidae (Moraes e Flechtmann, 2008). Foram avaliados diariamente, depois de 24
horas, a taxa de oviposição de P. latus e T. bastosi, por um período de 11 e 7 dias
respectivamente.
Dados de oviposição de ambas as espécies de ácaros, em função das doses de
aplicação (tratamentos) e a oviposição das espécies de ácaros em cada dose ao longo do
tempo foram submetidos à análise de regressão. Realizou-se ANOVA seguida de teste de
Tukey para verificar a influência das doses em cada tempo de avaliação. Os dados usados nas
análises de regressão e ANOVA foram normalizados através de raiz quadrada de x. Na analise
dos dados utilizou-se o software Statistica 8.0. (StatSoft, 2004). Os gráficos foram plotados
utilizando o software Sigma Plot (Sigma Plot, 2004).
Resultados
Houve uma redução na oviposição de P. latus com o aumento da dose de Glyphosate
tanto para o efeito residual quanto para o tópico (Figura 1 a e b). Quando avaliado efeito
residual (Figura 1a), o ácaro P. latus apresentou menor oviposição na dose utilizada em
campo (1,44 l.ha-1 de e.a.), comparada à testemunha. Em relação ao efeito tópico do herbicida
Glyphosate sobre a reprodução de P. latus (Figura 1b) observou-se que a dose controle foi
àquela em que houve maior oviposição do ácaro.
Em relação ao efeito residual das doses do herbicida Glyphosate sobre a reprodução
do ácaro T. bastosi, verificou-se tendência de queda na oviposição de acordo o aumento da
dose (Figura 2a), sendo que maior oviposição do ácaro ocorreu na dose controle (P < 0,05).
Oscilações na oviposição do ácaro T. bastosi foram observadas quando submetido ao efeito
tópico do herbicida Glyphosate (Figura 2b), apresentando maior oviposição na dose
recomendada para controle de plantas daninhas no campo (1,44 l.ha-1 de e.a.) (P < 0,05). De
maneira geral, quando exposto ao contato direto com o herbicida, houve estimulo à
oviposição do ácaro T. bastosi, exceto para a dose 2,88 l.ha-1 de e.a..
Visto que o tempo de avaliação do efeito do herbicida Glyphosate sobre a reprodução
do ácaro P. latus foi de seis dias, foi verificado o comportamento das doses de glyphosate ao
74
longo do tempo e em cada tempo sobre a reprodução dos ácaros para ambas as formas de
exposição (residual e tópico). Para efeito residual (Figura 3 a), a taxa de oviposição
apresentou tendência à queda ao longo do tempo. Quando comparadas às doses no 1º e 2 º dia
de avaliação, observou-se influência significativa destas no comportamento do ácaro quanto a
oviposição, sendo que a dose de 0,36 l.ha-1 de e.a., expressou maiores oviposições do que
quando comparada a dose controle. Em relação ao efeito tópico do herbicida para P. latus
(Figura 3 b), também foi observado tendência à queda na taxa de oviposição de acordo o
decorrer do tempo de avaliação. Foram observadas diferenças significativas entre as doses
avaliadas no 2º e 3º dia de avaliação, sendo a dose controle àquela com maior taxa de
oviposição do ácaro.
Para o ácaro T. bastosi, o tempo de avaliação do efeito do herbicida Glyphosate sobre
sua reprodução foi de sete dias, sendo determinado o comportamento das doses ao logo do
tempo e em cada tempo de avaliação. Para efeito residual (Figura 4 a), a taxa de oviposição
apresentou tendência à queda ao longo do tempo. Quando comparadas às doses do 1º ao 5 º
dia de avaliação, observou-se influência significativa destas no comportamento do ácaro
quanto a oviposição, sendo maiores taxas de oviposição observadas na dose controle. Em
relação ao efeito tópico do herbicida para T. bastosi (Figura 4 b), também foi observado
tendência à queda na taxa de oviposição ao longo do tempo de avaliação, sendo que
diferenças significativas entre as doses avaliadas, não foram observadas.
Discussão
A aplicação de herbicidas interage de maneira complexa com artrópodes em sistemas
agrícolas e, portanto, podem ter efeitos na teia alimentar (Wrinn et al. 2012). No entanto,
estudos do efeito do herbicida Glyphosate sobre ácaros-praga não são comuns na literatura.
Mas sabe-se que o tipo de sal presente na formulação de sua molécula se constitui em fator
preponderante para a toxicidade sobre organismos não alvos (Giolo et al. 2005b).
Este trabalho comprova a hipótese de que o herbicida Glyphosate afeta a reprodução
dos ácaros-pragas em estudo, indicando que os ácaros P. latus e T. bastosi tiveram a
reprodução afetada quando submetidas a doses do herbicida Glyphosate, sendo que o ácaro P.
latus teve uma menor oviposição quando submetido ao efeito tópico do herbicida, comparado
75
ao efeito residual. Isso provavelmente ocorreu devido o contato direto do ácaro com o
herbicida. Benamú et al. (2010) também encontraram resultados semelhantes, onde o
Glyphosate teve efeito negativo (efeitos letais diretos) sobre a fecundidade e fertilidade de
Alpaida veniliae. Por outro lado, para o ácaro T. bastosi ocorreu o inverso, onde o efeito
tópico estimulou a oviposição do ácaro, principalmente na dose recomendada em nível de
campo (1,44 l.ha-1 de e.a.), corroborando com resultados obtidos por (Pereira, 2009), onde
aplicações intensivas de glyphosate (3 aplicações em cultivo de soja, a dosagem de 1.080
g.ha-1) promovem maiores densidades de alguns artrópodes, a exemplo de Tetranychus sp.
Quando avaliadas as doses ao longo do tempo, ambas as espécies de ácaros estudadas
apresentaram comportamento de queda na taxa de oviposição, sendo que reduções na
capacidade de reprodução já foram constatados em estudos anteriores em outros artrópodes
expostos a toxidade do Glyphosate, como no parasitóide Trichogramma pretiosum (Manzoni
et al. 2006), na minhoca Eisenia fetida (Yasmin e D'Souza, 2007) e no predador Chrysoperla
externa (Schneider et al. 2009).
Menores doses do herbicida Glyphosate contribuiram significativamente na oviposição
dos ácaros P. latus e T. bastosi nos primeiros dias de avaliação. Em estudos de laboratório,
Benamú et al. (2010) também verificaram efeitos subletais significativos de Glyphosate sobre
parâmetros biológicos de A. veniliae, a exemplo da fecundidade.
Este trabalho é o primeiro relato dos efeitos do herbicida Glyphosate sobre os ácarospraga da cultura do pinhão-manso (P. latus e T. bastosi). Visto que os ácaros P. latus e T.
bastosi tiveram sua reprodução afetada, estudos posteriores devem ser realizados para
verificar o efeito do Glyphosate sobre os demais atributos biológicos dessas espécies de
ácaros.
Conclusões
O herbicida Glyphosate afetou a reprodução dos ácaros fitófagos P. latus e T. bastosi.
A dose usualmente utilizada no controle de plantas daninhas em campo (1,44 l.ha-1 de
e.a.) promoveu menor oviposição do ácaro P. latus quando exposto ao efeito residual,
enquanto o efeito tópico estimulou a oviposição do ácaro T. bastosi. Contudo, o aumento das
doses de Glyphosate ocasionou redução na oviposição de T. bastosi expostos ao efeito
residual do herbicida.
76
As diferentes doses afetaram a reprodução de P. latus entre o 1° e 3° dia de oviposição
em ambas as formas de exposição (residual e tópico), ao passo que T. bastosi teve a
reprodução afetada entre o 1° e 5° dia de oviposição quando exposto somente ao efeito
residual.
Estudos posteriores devem ser realizados para verificar o efeito do herbicida
Glyphosate sobre os demais atributos biológicos P. latus e T. bastosi.
Lista de Figuras
Fig. 1 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes do herbicida Glyphosate sobre a
reprodução de Polyphagotarsonemus latus (Acari: Tarsonemidae).
Fig. 2 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes do herbicida Glyphosate sobre a
reprodução de Tetranychus bastosi (Acari: Tetranychidae).
Fig. 3 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes de glyphosate sobre a reprodução de
Polyphagotarsonemus latus (Acari: Tarsonemidae) ao longo do período de 7 e 6 dias
respectivamente.
Fig. 4 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes de glyphosate sobre a reprodução de
Tetranychus bastosi (Acari: Tetranychidae) ao longo do período de 11 e 7 dias
respectivamente.
77
1,6
a
1,4
1,2
1,0
0,8
Número de ovos/fêmea
0,6
0,4
0,2
0,0
1,6
b
1,4
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
76
5,
88
2,
0,
0,00
3
0, 6
72
1,
44
0,0
Dose de Glyphosate l.ha-1 e.a.
Fig. 1 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes do herbicida Glyphosate sobre a reprodução de
Polyphagotarsonemus latus (Acari: Tarsonemidae). 1,44 l.ha-1 de e.a. corresponde à dose recomendada para o
controle de plantas daninhas no campo. Dados não transformados. {a (y = 0,559 – 0,030x, F1, 628 = 4,8314, P <
0,05, R2 = 0,087); b (y = 0,433 – 0,032x, F1, 538 = 5,2696, P < 0,05, R2 = 0,098)}. Barras de erro indicam erro
padrão.
1,6
a
1,4
1,2
1,0
Número de ovos/fêmea
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
1,6
b
1,4
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
6
5, 7
8
2, 8
4
1,4
0,0
0,30
0,76
2
0,0
Dose de Glyphosate l.ha-1 e.a.
Fig. 2 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes do herbicida Glyphosate sobre a reprodução de
Tetranychus bastosi (Acari: Tetranychidae). 1,44 l.ha-1 de e.a. corresponde à dose recomendada para o controle
de plantas daninhas no campo. Dados não transformados. {a (y = 0,454 – 0,079x, F1, 1318 = 63,8094, P < 0,05, R2
= 0,098); b (y = 0,710 + 0,035x, F1, 314 = 3,6449, P < 0,05, R2 = 0,107)}. Barras de erro indicam erro padrão.
78
a
b
Fig. 3 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes de Glyphosate sobre a reprodução de
Polyphagotarsonemus latus (Acari: Tarsonemidae) ao longo do período de 7 e 6 dias respectivamente. Dados
não transformados. {a (Controle: F1, 103 = 21,501, P < 0,05, R2 = 0,415; 0,36 l.ha-1: F1, 103 = 72,353, P < 0,05, R2
= 0,642; 0,72 l.ha-1: F1, 103 = 35,97 P < 0,05, R2 = 0,508; 1,44 l.ha-1: F1, 103 = 12,243, P < 0,05, R2 = 0,325; 2,88
l.ha-1: F1, 103 = 28,788, P < 0,05, R2 = 0,467; 5,76 l.ha-1: F1, 103 = 13,795, P < 0,05, R2 = 0,343); b (Controle: F1, 88
= 31,32, P < 0,05, R2 = 0,512; 0,36 l.ha-1: F1, 88 = 9,687, P < 0,05, R2 = 0,314; 0,72 l.ha-1: F1, 88 = 0,614, P > 0,05,
R2 = 0,083; 1,44 l.ha-1: F1, 88 = 20,292, P < 0,05, R2 = 0,432; 2,88 l.ha-1: F1, 88 = 0,939, P > 0,05, R2 = 0,102; 5,76
l.ha-1: F1, 88 = 0,939, P > 0,05, R2 = 0,198)}. ANOVAs seguidas de testes de Tukey foram conduzidos para testar
o efeito das doses de glyphosate na reprodução de P. latus em cada dia de avaliação. Asteriscos indicam
diferença significativa na reprodução de P. latus entre doses de glyphosate em determinado dia (P < 0,05).
Barras de erro indicam erro padrão.
79
a
b
Fig. 4 Efeito residual (a) e tópico (b) de doses crescentes de glyphosate sobre a reprodução de Tetranychus
bastosi (Acari: Tetranychidae) ao longo do período de 11 e 7 dias respectivamente. Dados não transformados. {a
(Controle: F1, 218 = 40,483, P < 0,05, R2 = 0,395; 0,36 l.ha-1: F1, 218 = 24,63, P < 0,05, R2 = 0,318; 0,72 l.ha-1: F1,
2
-1
2
-1
218 = 30,54, P < 0,05, R = 0,350; 1,44 l.ha : F1, 218 = 11,362, P < 0,05, R = 0,222; 2,88 l.ha : F1, 218 = 27,536, P
2
-1
2
< 0,05, R = 0,334; 5,76 l.ha : F1, 218 = 1,061, P > 0,05, R = 0,069); b (Controle: F1, 138 = 67,778, P < 0,05, R2 =
0,573; 0,36 l.ha-1: F1, 138 = 90,366, P < 0,05, R2 = 0,629; 0,72 l.ha-1: F1, 138 = 90,36, P < 0,05, R2 = 0,629; 1,44
l.ha-1: F1, 138 = 57,006, P < 0,05, R2 = 0,540; 2,88 l.ha-1: F1, 138 = 44,176, P < 0,05, R2 = 0,492; 5,76 l.ha-1: F1, 138 =
57,05, P < 0,05, R2 = 0,540)}. ANOVAs seguidas de testes de Tukey foram conduzidos para testar o efeito das
doses de glyphosate na reprodução de P. latus em cada dia de avaliação. Asteriscos indicam diferença
significativa na reprodução de P. latus entre doses de glyphosate em determinado dia (P < 0,05). Barras de erro
indicam erro padrão.
80
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82
CONCLUSÕES GERAIS
• A diversidade de ácaros na cultura do pinhão-manso foi maior nos tratamentos onde houve
aplicação de Glyphosate.
• Maiores riquezas de ácaros predadores foram encontradas no estrato basal da planta de
pinhão-manso enquanto ácaros fitófagos encontraram-se distribuídos no estrato apical.
• As técnicas de manejo não tiveram efeito sobre a acarofauna em plantas daninhas, sendo a
sazonalidade o fator determinante na ocorrência de ácaros fitófagos e predadores.
• A espécie daninha A. gayanus, foi à hospedeira de maior frequência dentre as espécies
estudadas, além de abrigar maior riqueza e diversidade de ácaros predadores da família
Phytoseiidae.
•
Plantas daninhas podem ser mantidas na entrelinha da cultura do pinhão-manso
contribuindo com a manutenção da acarofauna predadora e por consequência com o
controle biológico de ácaros-praga na cultura, além de evitar custos com roçada.
• As espécies fitófagas P. latus e T. bastosi, principais ácaros-praga da cultura do pinhão
manso não foram encontradas no presente estudo. Porém estudos de laboratório
comprovaram que o herbicida Glyphosate afeta a reprodução dos ácaros fitófagos P. latus
e T. bastosi.
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