VIII Colóquio Internacional de Paulo Freire/ Educação como Prática da Liberdade: saberes e vivências e (re) leituras de Paulo Freire MESA DE DIÁLOGO EIXO TEMÁTICO: (7) FORMAÇÃO DOCENTE E ENSINO SUPERIOR A CRISE DA LEGITIMIDADE DO PAPEL SOCIAL DA UNIVERSIDADE: NOTAS DE DIÁLOGO DO GRUPO DE ESTUDOS E LEITURAS DE PAULO FREIRE –GELPF ALMEIDA, Admário Luiz de1 COSTA, Janaina Santana da2 Submetemos nosso trabalho “A crise da legitimidade do papel social da universidade: notas de diálogo do Grupo de Estudos e Leituras de Paulo Freire –GELPF” no Colóquio Internacional Paulo Freire por acreditarmos ser um importante espaço de diálogo e socialização das experiências de pesquisa e grupo de estudos, ao caracterizar-se como um instrumento do diálogo entre a gênese do pensamento de Paulo Freire e sua atualidade. O Grupo de Estudos e Leituras de Paulo Freire da Universidade Federal do Tocantins-UFT, que coordenamos, integra ao colóquio por caminharmos nosso diálogo na Educação como Prática da Liberdade: saberes, vivências e (re) leituras em Paulo Freire. O VIII Colóquio integra nossas ações a partir da nossa experiência no GELPF/UFT, baseada nas ideias e ideais de Paulo Freire e por ele realizada. O Grupo de Estudos e Leituras de Paulo Freire – GELPF, inicia sua caminhada no ano de 2010 da Universidade Federal do Tocantins -UFT, Campus Arraias-UFT/CUAR, como uma atividade integrante do curso de pedagogia. Constituído por acadêmic@s 3dos cursos de Licenciatura da Matemática e do curso da Pedagogia, egressos da Universidade, comunidade externa, bem como militantes sociais e professores da educação básica do Município de Arraias-TO e região. Os membros responsáveis pelo grupo são docentes da UFT, que reuniram em torno de sua caminhada de ensino – pesquisa - extensão universitária e história de vida na educação popular para terem um espaço diálogo a cerca de questões da formação docente, o papel social da universidade e as crises da universidade pública no Brasil. Soma-se ao debate leituras do educador progressista Paulo Freire. O circulo de diálogo no GELPF tem suelado4 nossas reflexões e nosso trabalho docente. No século XX, encontramos idéias, experiências e atitudes que tentam redefinir o papel social da escola. 1 Universidade Federal do Tocantins –UFT, Doutor em Educação, [email protected] , coordenador do Grupo de Estudos e Leituras de Paulo Freire –GELPF –UFT. Docente do Colegiado de Licenciatura da Matemática, Campus Universitário de Arraias –UFT/ CUAR 2 Universidade Federal do Tocantins – UFT, Mestre em Educação, [email protected], coordenadora do Grupo de Estudos e Leituras de Paulo Freire. Docente do Colegiado da Pedagogia, Campus Universitário de Arraias-UFT/ CUAR. 3 Utiliza-se @ no texto para vincar a discussão de gênero no texto, feminino e masculino. 4 Sul - eador escrevemos com o intuito de vincar, de forma clara, o sentido que o termo nos deve franquear: Sul, no caso, se volta para os povos do Sul. O termo sulear tem sido utilizado na obra de Freire “Pedagogia da Esperança” de modo explícito. Significa construir paradigmas endógenos, alternativos, abertos, enraizados em nossas próprias circunstâncias que reflitam a complexa realidade que temos e vivemos. (STRECK, D.; REDIN, E.; ZITRKOSKI, J. (Orgs.), 2008: 396-397) VIII Colóquio Internacional de Paulo Freire/ Educação como Prática da Liberdade: saberes e vivências e (re) leituras de Paulo Freire A Constituição de Weimar, na Alemanha, por exemplo, suprimiu, em 1920, as escolas preparatórias, na tentativa de eliminar também o caráter dualista do ensino básico alemão que abrigava dois tipos de escola: uma popular e gratuita, destinada à classe operária e uma segunda, paga, destinada às crianças originárias das classes dirigentes. Na União Soviética, Lênin vai interessar-se pela escola politécnica. Mas as referências mais importantes no processo de reorganização da escola, entre o final do século XIX e o início do século XX, são, sem dúvida, o da escola do trabalho, de Kerschensteiner, e da escola ativa, de Dewey e as idéias progressistas de Paulo Freire e Cristóvam Buarque sobre o papel social da universidade. A universidade tem que percorrer sua via crucis, até porque o primeiro passo de instituição que deseja promover a liberdade é obter sua própria liberdade, o que exige, antes, a consciência das amarras que a aprisionam (BUARQUE, 1989, p. 17). Obter sua própria liberdade, aqui, não tem a mesma conotação dada pelos pensadores neoliberais: privatizá-la. Na visão de Darcy RIBEIRO, a universidade de que precisamos, antes de existir como um fato do mundo das coisas, deve existir como um projeto, uma utopia, no mundo das idéias (1991, p. 172). Pensar a universidade com estas características é pensar numa universidade pública, gratuita e leiga. E isto só pode na condição de estatal, sem, entretanto, ser prisioneira do Estado, caso contrário, não faria muita diferença ser ou não ser privatizada, mesmo porque por estar prisioneira de departamentos e categorias científicas, a universidade se isola dos problemas reais, ou seja, deixa de cumprir seus compromissos históricos, se esta conquista serve apenas a uma minoria da população à custa da escravização da maioria dos seres humanos (BUARQUE, 1994, pp. 60 e 125). É olhando sobre este prisma que podemos retomar a legitimidade do papel social da universidade, sobretudo quando nos deparamos com as necessidades do país e a conseqüente busca de soluções para os seus variados dilemas. Recorrendo ao pensamento de BUARQUE, quando este constata que a universidade foi duramente maltratada pelo neoliberalismo e que o crescimento das universidades particulares, por outro lado, foi espantoso, podemos, então, entender que esta política pretende negar e dissolver a existência mesma do direito à educação, mais ainda, constitui uma precondição que garante (ou, ao menos, possibilita) o êxito das políticas de cunho claramente antidemocrático e dualizante (GENTILI, 1995, p. 244). TORRES (1995), quando focaliza esta questão, mostra que a privatização constitui um instrumento muito apropriado para despolitizar as práticas regulatórias do estado nas áreas de formação de políticas públicas. Entende, este autor, que muitos dos modelos de privatização só substituem o monopólio estatal, por um monopólio similar outorgado a uma empresa privada. Como exemplo emblemático de atuação do neoliberalismo, através de seus agentes, faz ver que mesmo partidos políticos de viés socialista, como o Partido dos Trabalhadores, quando no poder, não estão imunes ao assédio dos propagadores da receita neoliberal, como é o caso do Banco Mundial. E relata-nos o fato de que a prefeitura de São Paulo, entre 1990 e 1992, ao desenvolver uma política educacional inovadora conduzida por um educador radical como Paulo Freire, também recebeu uma delegação do Banco, tentando convencê-lo a aceitar financiamento que o ajudasse a levar adiante seus projetos de reforma curricular e de treinamento do magistério. Finalizando, segundo Goergem (2001), ao estudar a questão na perspectiva enfocada acima, o que importa não é o conhecimento em si, mas o conhecimento com seu atributo tornado essencial: sua utilidade (...). O pensamento transforma-se num processo matemático que resulta no técnico que, por sua vez, coisifica o sujeito e VIII Colóquio Internacional de Paulo Freire/ Educação como Prática da Liberdade: saberes e vivências e (re) leituras de Paulo Freire suprime a consciência (2001, p. 21). É exatamente por isto que Buarque (2003) propõe que a universidade faça sua própria revolução, buscando uma redefinição do seu papel social, ao mesmo tempo em que dificulte ou tente impedir a implementação das políticas neoliberais que agudizam e legitimam a crise na universidade, sobretudo quanto ao seu papel social. REFERÊNCIAS CONSULTADA BUARQUE, Cristovam. A apartação: o apartheid social no Brasil. São Paulo. Brasiliense, 1993. ____________. A segunda Abolição: um manifesto-proposta para a erradicação da pobreza no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1999. __________. A universidade brasileira está abandonada. Texto de Marcos Gripa. Revista Adusp, junho de 1999. __________. 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