2.1. INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DAS ALTERAÇÕES CLIMATÉRICAS Só há 20-30 anos se começou a ouvir falar deste tipo de problemas. No entanto, para os cientistas este facto já era estudado desde o séc XIX. Joseph Fourier - parece ter sido o primeiro de avaliar o papel da atmosfera em agir como um fator de estufa (a temperatura da terra é maior do que seria na sua ausência). Claude Pouillet - apontou o vapor de água e dióxido de carbono como os principais gases de efeito estufa. Svante Arrhenius - Formulou quantitativamente essas ideias. Não só estava Arrhenius ciente do possível efeito negativo dos gases emitidos pela queima de carvão pela indústria de seu tempo como foi um passo além e calculou esse efeito sobre as temperaturas. Ele concluiu que a temperatura média global pode subir vários graus. Na década de 1930, o aquecimento global já era uma realidade, embora a maioria dos cientistas invocasse algum tipo de ciclo natural para explicá-lo. Guy Stewart Callendar - insistiu numa ligação entre o dióxido de carbono provocado pelo homem e o aquecimento global. No entanto pensou que o aquecimento global poderia ser benéfico No final dos anos 1950, as novas TIC, permitiram aos cientistas tratar a questão do clima, lançando programas internacionais. Nos últimos 50 anos, os resultados apelam para uma sociedade de consciência. Um passo importante foi a declaração formal na ONU, em 1992, segundo a qual todos os signatários concordaram sobre a Convenção de Mudança do Clima, expressando a determinação em estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa em um nível que exclua qualquer perturbação antropogénica perigosa (ou seja, humanos) pelo sistema climático - Medidas específicas para implementar esta Declaração foram inicialmente adotadas em1997, em Kyoto e entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005. Dezembro de 2009, a Convenção realizada em Copenhaga - tratado vinculativo procurado por muitos países, define uma meta de limitar o aquecimento global a uma redução da elevação de temperatura até 2 graus centígrados. Mas deixa cada país a definir suas próprias metas para 2020. É ainda menos obrigatório que o Protocolo de Kyoto. É claro que a implementação de medidas eficazes destinadas a lutar contra o presente aquecimento global não pode ser feita sem o apoio dos cidadãos do mundo, totalmente ciente da ameaça iminente para o planeta. O papel da ciência é a apresentação fazer convencer, apesar de todas as incertezas: de todos os motivos para 2.2. AQUECIMENTO GLOBAL 2.2.1 TEMPERATURAS CRESCENTES Nunca, no último milénio, as temperaturas mostraram uma taxa tão elevada e a aumentar. Não é só o aumento das temperaturas e precipitações médias mas também a sua maior variabilidade sobre o planeta nos últimos cem anos. Diferenças importantes entre a terra e o mar, entre as diferentes regiões, entre as estações, ou mesmo entre o dia e a noite são fenómenos dos nossos dias. - Os invernos aquecem mais rápido Sul da Europa) - dias frios notavelmente temperaturas sufocantes são mais frequentes: do que os verões reduzidos enquanto os (leste e dias com Outras fontes para além da medição de temperatura: 2.2.2. PRECIPITAÇÕES A Evaporação anda de mãos dadas com o aumento das temperaturas o que contribui para o aumento de 2% das precipitações registadas nos últimos 100 anos. O que poderia ser um benefício, não o é, pois está mitigado pelas grandes diferenças regionais. Estes aspetos da precipitação geralmente apresentam grande variabilidade natural: Mais precipitação cai agora sob a forma de chuva, em vez de neve em regiões do norte, por ex. 2.2.3. OS OCEANOS TAMBÉM ESTÃO LENTAMENTE A AQUECER Tanto os níveis dos oceanos como as temperaturas têm vindo a aumentar desde o final do séc. XIX e o fenómeno tem vindo a acelerar desde os anos 90’s. Em alguns locais esta observação pode dever-se a causas naturais. No entanto, as alterações observadas à escala planetária não podem deixar de estar ligada ao aquecimento global. A dinâmica dos oceanos e das condições locais induzem diferenças de aquecimento entre os diferentes mares - o aquecimento é desigualmente distribuído. Devido à sua inércia térmica, a água do mar tem aquecido muito menos do que a atmosfera. Isso significa que, mesmo que as temperaturas um dia se estabilizem, os oceanos continuarão a mostrar efeitos visíveis e irão continuar a sua expansão. 2.2.4. DEGELO DOS GLACIARES Particularmente marcado desde o início do séc. XX. Nos últimos 100 anos os montes Quênia e Kilimanjaro, por exemplo, perderam 92% e 82% dos seus glaciares, respetivamente. Se o degelo dos glaciares africanos pode estar ligado a variações locais no ciclo da água, não existe consenso sobre as razões, em observações semelhantes noutras partes do planeta. O degelo é muito rápido para invocar o aquecimento global como a causa final. Em qualquer caso, neva muito menos; uma parte substancial do gelo do Ártico está a derreter, apesar de variabilidade de ano para ano, sendo a superfície perdida de cerca de 30.000 km2/ano. 2.2.5. O FLUXO DA ENERGIA Existe um consenso da comunidade científica que liga o aumento das temperaturas às atividades humanas, especialmente, à utilização de combustíveis fósseis. A pergunta não será tanto “por que é que as temperaturas estão a aumentar?” mas antes “por que é que as atividades humanas estão por trás disto?” A resposta está nas modificações trazidas pelo fluxo de energia em todo o sistema climático por gases emitidos através da queima de combustíveis: o assim chamado gases de efeito estufa. Devemos primeiro entender como o planeta transmite e transforma a energia que recebe do Sol. De acordo com as estimativas mais recentes, a Terra recebe, na parte superior da atmosfera, sob a forma de radiação de ondas curtas, a radiação solar média de 341,3 W/m2. Parte dela (totalizando 101,9 W/m2) retorna diretamente da atmosfera e da superfície do planeta. Consequentemente, 341,3 W/m2- 101,9 W/m2 = 239,4 W/m2 constitui a energia solar absorvida pelo planeta, que induz movimento na atmosfera e nos oceanos, definindo o clima. Esta energia absorvida segue um curso de transformações e de trocas complexas entre os agentes climáticos. Esta energia não pode permanecer na Terra: o planeta seria aquecido até níveis insustentáveis. Na verdade, é devolvida para o espaço em forma de radiação de ondas longas. Estima-se o seu valor em 238.5 W/m2. Deste modo, a diferença entre a energia absorvida (239,4) e a devolvida (238,5) é de 0.9 W/m2. Significa que 0,9 W/m2 não são devolvidas para o espaço exterior: foram capturados pela atmosfera da Terra. O resultado é claro: A Terra está a aquecer e, assim, as temperaturas vão subindo. 2.2.6 A ENERGIA RADIANTE E TEMPERATURAS Falámos sobre radiação de onda curta (entrada) e radiação de onda longa (saída). O que queremos dizer com isso? O termo energia é conhecido num certo número de formas diferentes (térmica, mecânica, química, elétrica, elástica, nuclear, etc.). A Terra realiza as trocas de energia com o espaço quase que exclusivamente através de um única forma: a energia radiante ou a luz, isto é, sob a forma de ondas eletromagnéticas. Este tipo de energia é intrínseco a todos os organismos cuja temperatura está acima do zero absoluto, na chamada a escala de Kelvin, em que 0 º K= -273 º C. Pelo simples facto de ter uma temperatura acima do zero absoluto, um corpo emite luz: a radiação de corpo negro. A radiação de corpo negro fornece-nos um conjunto de equações muito precisas que permitem relacionar a temperatura de um objeto com a luz que ele emite. A intensidade com que um dado comprimento de onda é emitido depende da temperatura do corpo. radiância espectral Observamos que o pico diminui em magnitude e desloca-se para a posição da região de comprimentos de onda mais longo quando a temperatura diminui. Isto significa que a luz emitida por corpos muito quentes (> 7000 K) é essencialmente luz ultravioleta (radiação de onda curta). À medida que o corpo se torna mais frio (4000 K - 7000 K), a maior parte da energia radiante é em forma de luz visível; para temperaturas abaixo de 4.000 K de luz infravermelha (radiação de onda longa). Ou seja, corpos mais quentes tendem a emitir luz branca enquanto que corpos a temperaturas baixas emitem ondas de infravermelho. A temperatura do exterior, parte visível do Sol (a fotosfera) é de aproximadamente 5700 K. O pico é, portanto, na faixa visível. É por isso que vemos o brilho solar. Por outro lado, a temperatura média da Terra é de 288 K (15 ° C), na gama infravermelha. É por isso que o nosso planeta não "brilha", o que não significa que ele não irradia luz: apenas que a luz simplesmente não é visível. A radiação de saída (238,5 W/m2) é essencialmente radiação infravermelha. E é nesta fase que os gases do efeito estufa entram em ação. Veremos nas próximas secções. 2.2.7. EFEITOS ATMOSFÉRICOS Nem toda a radiação solar recebida nos limites exteriores da atmosfera atinge a superfície da terra. A atmosfera seleciona vários componentes da radiação solar. Como já mencionado, parte da radiação solar é refletida de volta. A que não é refletida é, ou absorvida ou espalhada por gases atmosféricos, vapores e partículas de pó. Os gases da atmosfera absorvem a energia solar, em determinados intervalos de comprimento de onda, chamadas bandas de absorção. Os intervalos de comprimentos de onda que não são absorvidos são conhecidos como bandas de transmissão ou janelas atmosféricas. Os mais letais, gama de comprimentos de onda (raios gama, raios-X e raios UV) são absorvidos pelo oxigénio, nitrogénio e ozono. O dióxido de carbono e vapor de água, por outro lado, absorve a faixa do infravermelho. Devido à reflexão, difusão e absorção de radiação, a quantidade de energia solar que chega é muito reduzida em intensidade. Esta redução varia com o comprimento de onda da radiação e depende do comprimento através do qual a radiação solar atravessa na atmosfera. Também varia com fatores como latitude, estação, cobertura de nuvens e os poluentes atmosféricos. Por outro lado, a superfície terrestre absorve e emite luz. Esta reflexão a partir do solo é principalmente luz visível. Se o vapor de água é responsável pela maior parte do aquecimento atmosférico, por que se fala tanto sobre as emissões antropogénicas do dióxido de carbono? O aquecimento é um efeito natural. Naturalmente aquece mas também esfria, irradiando para o espaço sideral. Quando ambos os mecanismos de regulação estão em equilíbrio, a atmosfera atinge uma temperatura mais ou menos constante. Isso permite a existência de vida na Terra, porque, sem a atmosfera, as condições seriam muito parecidas com as da Lua. O problema surge quando há um desequilíbrio entre o aquecimento e o arrefecimento na atmosfera. É o que esta a ocorrer atualmente. O dióxido de carbono, embora menor agente de aquecimento do que o vapor de água, está a aumentar a sua concentração para uma taxa muito elevada. Elevada o suficiente para perturbar o equilíbrio aquecimento-arrefecimento (permanecendo constante a concentração de vapor de água) e, assim, ser responsável pelo aumento da temperatura.