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O PROCESSO DE APRENDIZAGEM E OS ATRAVESSAMENTOS DA
MEDICALIZAÇÃO: O OLHAR DOS GRADUANDOS DE PEDAGOGIA
THE LEARNING PROCESS AND THE CROSSINGS OF MEDICALIZATION: A
LOOK OF PEDAGOGY GRADUATION STUDENTS
Pamela Barbosa Barros – graduando em Psicologia – Unisalesiano
[email protected]
Vanessa Cristina de Oliveira – graduando em Psicologia – Unisalesiano
[email protected]
Profª Liara Rodrigues de Oliveira – Unisalesiano – [email protected]
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer e analisar a opinião dos alunos do
segundo, terceiro e quarto ano do curso de pedagogia, em relação à medicalização
de crianças na tenra idade no ambiente escolar. O trabalho adotou uma perspectiva
metodológica quanti-qualitativa, o que possibilitou viabilizar a importância de trazer a
luz uma discussão não só crítica, mas também fundamentada socialmente, acerca
dos amplos questionamentos que englobam a temática da medicalização no
ambiente escolar como um todo, desde a visão dos futuros educadores até mesmo a
abordagem do tema durante a formação pedagógica. Para levantar os dados foi
utilizada a ferramenta do Google Drive, que é um serviço para armazenar e
sincronizar os arquivos, que permitiu que fossem enviados 58 questionários via email contendo 17 questões semi-abertas acerca dos atravessamentos da
medicalização infantil no ambiente escolar. Os dados obtidos foram analisados
através da abordagem Histórico-cultural, pois essa teoria permite que se faça uma
conexão entre o homem e a ciência e também um apontamento crítico sobre as
relações entre psicologia e história, podendo desta forma compreender criticamente
os caminhos que levam a sociedade a ser cada vez mais medicalizada.
Palavras-chave: Medicalização e Educação. Psicologia e Pedagogia. Formação
Pedagógica. Histórico-cultural.
ABSTRACT
This study aimed to identify and anlyze the opions of second, third and fourth year
pedagogy’s student about children’s medicalization at the early age at school. The
research used as method a quantitative-qualitative perspective, which enable the
importance of bringing to light not only a critical discussion, but also a discussion
socially grounded about the broad questions that encompass the thematic of
medicalization in school environment in its totality, since a future educators
standpoint until the subject approach during the pedagogical training. To get the
research data it was used Google Drive Tool, which is a service to store and
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synchronize files, and allowed to be sent 58 questionnaires via e-mail containing
containing 17 semi-open questions about crossings of child medicalization in school
environment. All the research data were analyzed using historical-cultural approach
because this theory allows making a connection between man and science and also
a critical note on the relationship between psychology and history, thus being able to
understand critically the pathways that lead society to be increasingly medicalized.
Key words: Medicalization and Education. Psychology ans Pedagogy. Teacher
training. Historical-cultural.
INTRODUÇÃO
A referente pesquisa tem por objetivo conhecer e analisar a opinião dos
alunos do segundo, terceiro e quarto ano do curso de pedagogia, em relação à
medicalização de crianças na tenra idade no ambiente escolar. A pergunta problema
da pesquisa consiste em averiguar se a medicalização está sendo entendida como
um dos principais recursos para o enfrentamento das dificuldades ensinoaprendizagem.
Nessa perspectiva elaborou-se esse artigo, para se confirmar a hipótese
inicial que visa averiguar a visão que os graduandos de pedagogia têm sobre a
medicalização de crianças no ambiente escolar. O local escolhido para a
investigação foi uma instituição universitária privada, devido a possibilidade de
acesso aos alunos.
Em suma, o estudo acerca do tema medicalização vem se reafirmando em
nossa sociedade, destacando a importância de fomentarmos a conscientização dos
futuros profissionais de educação para que desmistifiquem tabus e construam um
olhar crítico e sensível para as crianças que apresentam alterações de
comportamentos e atenção. É esperado então que o profissional da educação
busque uma interação maior com a família e não somente culpabilize a criança em si
por apresentar uma dificuldade de aprendizagem, sem levar em consideração
aspectos naturais de sua própria existência, bem como variáveis externas presentes
na sua formação e desenvolvimento, pois quando se patologiza a criança, retira-se a
possibilidade que o indivíduo tem de expressar e ter reações naturais nos ambientes
em que vive.
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1
EDUCAÇÃO, MEDICALIZAÇÃO E PSICOLOGIA
Antes de aprofundar no tema a respeito da medicalização dentro do ambiente
escolar, se faz se necessário uma breve introdução acerca da história da criança e
os papéis desenvolvidos dentro do contexto familiar, escolar e social. A sociedade
tradicional segundo Ariés (1981), enxergava negativamente as crianças e os
adolescentes, a criança perdia o mundo da fantasia e do lúdico para tonar-se um
mini adulto, deste modo não passava pelas etapas necessárias do desenvolvimento.
Dentro deste período as transmissões dos valores, conhecimentos e a socialização
da criança não eram de responsabilidade dos pais ou da família, pois devido ao
crescimento precoce a criança e o jovem adulto aprendiam o que deveriam ou não
fazer através, da convivência do dia-a-dia, ajudando nas tarefas e afazeres dos
adultos.
Só no final do século XVII segundo Ariés (1981), através da substituição da
aprendizagem para educação, a escola passou a oferecer não só matérias
relacionadas ao ensino regular, mas também ao que se referia a maneiras e bons
costumes, deste modo à criança saia do mundo do adulto. Esta separação pode ser
nomeada como umas das faces do movimento de moralização ligado tanto a igreja
como também as leis do Estado.
A educação ganhou importância, pois se encarregava pelo processo de
formação dos indivíduos, que deveriam seguir o modelo de homem que era
almejado pela sociedade e assim, estariam aptos para trabalhar, obedecendo as
regras que o sistema político-econômico implantou. Diante deste contexto, a
Psicologia no Brasil surgiu em meio a esse processo de transformação da sociedade
política e econômica, visando atender a ordem do sistema, isto porque, a psicologia
tinha por objetivo naquele período, explicar os comportamentos do sujeito bem como
os pensamentos que designavam as suas ações de acordo com as condições de
vida do meio em que estava inserido.
Patto (1987) indica que a escola, assim como a psicologia, configurava-se
como instrumento utilizado para a ideologia da classe dominante, ou seja, a escola
teria como papel além de ensinar as técnicas e conhecimentos, ensinar as regras,
moral e bons costumes, relacionando com a psicologia que conquistou grande
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espaço na sociedade brasileira, mas que deveria atuar no controle social, visando a
manutenção do poder da classe dominante.
Todos os que passam pela escola são recheados de ideologia que
convém ao papel que vão desempenhar na sociedade de classe:
modéstia, resignação, submissão, consciência profissional, moral,
cívica, nacional e apolítica altamente desenvolvida, no caso dos
explorados, que são os que deixam a escola mais cedo [...]. (PATTO,
1987, p. 40)
Observa-se então que no meio escolar, deve ser oferecido ao aluno,
determinantes que o vincule com a sociedade, pautando para ele todos os aspectos
e condições cabíveis para o seu desenvolvimento, seja em sua adaptação com o
meio, seja em sua transformação.
Através de suas considerações Patto (1987) indica que a Psicologia Escolar
ao estabelecer uma prática mais voltada à identificação e tratamento dos problemas
dos indivíduos, torna-se uma “psicologia do escolar”, onde atua-se como se
houvesse uma separação do sujeito para as questões da educação, respaldando
assim mais uma vez uma psicologia a serviço do poder da classe dominante.
Sobretudo Viotto Fillho (2012), acredita que desta forma, a Psicologia Escolar
desconsidera as diversas determinantes presentes no processo educativo,
contribuindo assim para a construção dos processos de culpabilização do sujeito.
Os educadores (psicólogos, pedagogos, professores, funcionários,
etc.) ao construírem coletivamente novos espaços de reflexão, de
crítica e de relação social humanizadora na escola, valorizando o
diálogo, as trocas recíprocas de conhecimento e experiências,
permeados pela filosofia, pela ciência, pela política, pela ética e pelas
artes, dentre outras objetivações humanas, terão condições de
efetivar situações diferenciadas de desenvolvimento das
individualidades numa direção livre e universal, ou seja, em direção a
liberdade e emancipação humana. (VIOTTO FILHO, 2012, p. 22)
Portanto, compreende-se que ceder esse novo espaço na educação,
permeando a ação conjunta dos educadores, terá sobretudo uma práxis educativa
que superará aquela ideia inicial reducionista, onde se implicavam análises
patologizantes dos alunos e assim sendo ocorrerá aquela transformação qualitativa
que tanto se almejou na relação da Psicologia com a Educação.
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1.1 Medicalização na educação: breve histórico
Segundo as autoras Collares e Moysés (1994), o termo medicalização referese a ação de transformar questões de origem social e política em questões médicas,
ou seja, é a busca eminente por soluções para a problemática através da medicina,
onde considera-se que o problema centraliza-se apenas no indivíduo e não em uma
determinante coletiva. A partir daí, entendesse que toda responsabilidade que
deveria ser do sistema sociopolítico é retirada, resultando na culpabilização do
indivíduo.
Guarido e Voltolini (2009) indicam que o conceito de medicalização passou a
ser utilizado em diversos estudos em 1970 do século XX, para discutir a maneira
pela qual os problemas de aprendizado das crianças foram comumente explicados.
Esse fenômeno também se fez presente na educação, pois segundo Collares
e Moysés (1994, p. 26):
A Educação, assim como todas as áreas sociais, vem sendo
medicalizada em grande velocidade, destacando-se o fracasso
escolar e seu reverso, a aprendizagem, como objetos essenciais
desse processo. A aprendizagem e a não-aprendizagem sempre são
relatadas como algo individual, inerente ao aluno, um elemento meio
mágico, ao qual o professor não tem acesso - portanto, também não
tem responsabilidade.
Diante disso, Lerner (2014), menciona o fato de que tendo como base um
comportamento
considerado
ideal,
desconsidera-se
todos
os
outros
comportamentos que seja diferente desse. Portanto o indivíduo que não faça parte
da ideologia do comportamento ideal, é diagnosticado com alguma patologia
(distúrbio ou transtorno) e assim precisa ser tratado com medicamentos.
1.2 O papel da escola frente à frente da medicalização
Quando se refere à educação o que se percebe é a importância que se tem
atribuído ao denominado “diagnóstico”, tanto pelos profissionais da educação como
também pelos profissionais da área da saúde, pois há um deslocamento de
responsabilidade e em meio a isso os professores desempenham um papel de
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intercessores quanto aos encaminhamentos gerados para os profissionais da saúde,
transferindo desta forma os problemas mesmo que indiretamente e de maneiras
brandas o não aprender como uma responsabilidade do aluno.
Portanto, compreende-se que o professor também é responsável pela
aprendizagem de seus alunos, assim o processo de não aprender confere aos
docentes a responsabilidade de buscar uma metodologia que almeje o êxito da
aprendizagem, englobando a todos, para que não haja exclusão nesse processo.
1.3 Perspectivas e necessidades de avaliação na escola
. A avaliação descrita por Sousa (1993) traz à luz a preocupação de
enquadrar esta técnica em uma teoria conservadora, porém se analisarmos apenas
a palavra avaliação em si, perceberemos que estamos a todo tempo nos
autoavaliando, seja na escolha do produto a ser comprado no supermercado ou a
que roupa usar para ir ao trabalho, se refletíssemos desta forma por que então a
avaliação no âmbito escolar tem sido tão discutida? A questão não é a técnica de
avaliar um aluno e mensurar o grau de sua aprendizagem, mas sim a forma em que
ela vem sendo empregada, considerando os dados isoladamente para uma
finalidade classificatória.
Conceito de avaliação da aprendizagem que tradicionalmente tem
como alvo o julgamento e a classificação do aluno necessita ser
redirecionado (...) desponta como finalidade principal da avaliação o
fornecer sobre o processo pedagógico informações que permitam
aos agentes escolares decidir sobre a intervenção e
redirecionamentos que se fizerem necessários em face do projeto
educativo definido coletivamente e comprometido com a garantia da
aprendizagem do aluno. (SOUSA, 1993, p.46)
a função adequada para uma avaliação pedagógica seria aquela em que os
contextos sociais e culturais de cada aluno fossem levados em consideração, bem
como suas características individuais e seu desenvolvimento no que se refere à
aprendizagem, realizando a aplicação da técnica de modo fiel a realidade de cada
aluno, sendo desta forma, uma possível oportunidade de trabalhar as dificuldades de
aprendizagem do educando, evidenciando a importância da relação com seus
conhecimentos e habilidades e não o segregando pelas mesmas.
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1.4 Técnicas de avaliação psicológicas empregadas na escola.
No que se refere a “técnicas” psicológicas utilizadas na escola, ressalta-se a
necessidade do psicólogo no ambiente escolar para realização desta prática. No
entanto no cenário atual da educação o que se encontra em evidência são
educadores encaminhando alunos para o serviço de psicologia com um pré
diagnóstico, embasado pelo senso comum, ou enviesado por uma concepção
conservadora e meramente patologizante. Um aluno que foge do padrão aceitável
de comportamento estabelecido pela sociedade, por exemplo, é pré-diagnosticado
como hiperativo, sendo tal fundamentação realizada apenas pela avaliação no
âmbito educacional.
A perigosa tendência de tornar natural aquilo que é historicamente
determinado. Passa a ser algum atributo individual como justificativa
para o fracasso. A história desse olhar culpabiliza o sujeito
oficializou-se o desenvolvimento das ciências humanas, cujos
argumentos isentavam a desigualdade social, inerente ao nosso
sistema, da reponsabilidade pelas diferenças sociais. Desta forma,
tornou-se natural e legalmente instituída a crença na possibilidade de
medirmos a inteligência e a capacidade individual das pessoas como
se fossemos constituídos fora das relações sociais. (MACHADO,
2000, p.145)
Fica claro diante a afirmação de Machado (2000), a impossibilidade de se
avaliar qualquer indivíduo isolando suas relações e contextos sociais. As práticas
empregadas no ambiente escolar carecem de uma melhor preparação para o olhar
do Educador diante a diversidade dos comportamentos considerados normais do
desenvolvimento infantil, para os comportamentos possivelmente patológicos.
1.5 Transtornos recorrentes no ambiente escolar
A não aprendizagem se dá pela falta de estruturação do ensino, por ausência
de professores, desigualdade social, e não meramente por culpa do aluno e seus
fatores biológicos, os alunos que evidenciam seus comportamentos destoantes ao
esperado são facilmente rotulados, e posteriormente encaminhados para avaliações
e tratamentos, dentre os transtornos presentes e recorrentes no ambiente escolar
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estão o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno de
Oposição Desafiante (TDO) e Dislexia.
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METODOLOGIA
A presente pesquisa foi embasada em um suporte teórico da Psicologia
Histórico-Cultural, para a compreensão dos dados por propiciar uma visão mais
crítica das questões sobre os atravessamentos da medicalização infantil, uma vez
que compreendendo o ser humano como uma unidade de totalidade, pode-se
visualizar e compreender melhor os processos de não aprender e não se comportar
na escola, bem como os aspectos que vão desde como é realizada a identificação
desses problemas pelos profissionais da educação e a visão que eles têm acerca do
tema, relacionando esse contexto com a psicologia e a história.
Adotou-se nesse trabalho a pesquisa descritiva e exploratória, apoiada em
procedimentos quanti-qualitativos.
A união dos métodos quantitativos e qualitativos tem sido
considerada uma condição necessária para a compreensão de
processos sistêmicos e multideterminados, dada a natureza
das contribuições de ambos os métodos para a coleta e para
análise de dados. Por outro lado, o uso isolado, tanto de um
quanto de outro, mostra-se limitado para responder diferentes
questões de pesquisa, sobretudo aqueles referentes a
processos de desenvolvimentos familiar. (DESSEN; SILVA;
DESSEN, 2011, p.19)
A pesquisa pretendida visa conhecer e analisar a compreensão dos futuros
educadores sobre a medicalização no ambiente escolar com o apoio da abordagem
quanti-qualitativa.
Para coleta de dados o utilizou-se de um questionário (virtual) elaborado
conteve 17 questões semi-abertas acerca dos atravessamentos da medicalização
infantil no ambiente escolar, que foram enviadas no e-mail pessoal de cada
participante que se dispôs a participar da pesquisa voluntariamente.
Após o término do prazo do questionário foram analisados os dados obtidos
grupalmente a luz da psicologia histórico-cultural.
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Utilizou-se como ferramenta o
Google Drive, que é um serviço de
armazenamento e sincronização de arquivos, apresentado pela Google em 24 de
abril de 2012. Google Drive abriga o Google Docs, um leque de aplicações de
produtividade,
que
oferece
a
edição
de
documentos,
folhas
de
cálculo e apresentações. O Google Drive baseia-se no conceito de computação em
nuvem, pois o internauta poderá armazenar arquivos através deste serviço e
acessá-los a partir de qualquer computador ou outros dispositivos compatíveis,
desde que ligados à internet.
3
RESULTADOS E ANÁLISE
A quantidade de 12 respostas recebidas aos 58 e-mails enviados, embora
atenda
à
quantidade
mínima
esperada
(10),
pode
estar
relacionada
à
indisponibilidade de tempo ou interesse para responder ao questionário da pesquisa
que receberam. Segundo Bauman (2004, p. 308): “Vivemos em tempos de
desregulamentação, de descentralização, de individualização (...)”, o que sugere o
baixo retorno das repostas.
Para saber a opinião dos graduandos sobre o tema abordado, foi
indispensável elaborar questões nas quais os estudantes definissem o conceito de
atenção e hiperatividade. Para Vygotsky (1984) o campo de atenção da criança
engloba um contexto das séries de campos perceptivos potenciais que formam
composições dinâmicas e que se modificam ao decorrer do tempo, tão
progressivamente quanto as próprias funções individuais.
Já sobre o comportamento, segundo Moysés e Collares (2010) a
medicalização nasceu de um ato da sociedade para enquadrar os comportamentos
ou aquilo que não era considerado como normal, estar medicado e dentro de um
processo de tratamento faz com que o indivíduo sinta-se, em parte inserido dentre
deste contexto considerado normal. Desta forma pode-se refletir acerca dos
comportamentos nomeados de desviantes e sua relação com esta inserção
facilitadora da medicalização na sociedade, a partir do momento em que o
comportamento excede o limite do aceitável, passa a ter um caráter de
transgressão e incômodo, ficando mais cômodo e fácil recorrer ao medicamento.
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Com relação ao pensamento dos participantes sobre a realização de
palestras e workshops sobre o tema medicalização, para que os professores
pudessem identificar as patologias, 58,3% disseram concordar (07 respostas),
41,7% disseram concordar parcialmente e 0% não discordaram. Segundo Meira
(2007), o papel do educador implica em diversos intermédios com a teoria, mas
especificamente do ensino, mas também é necessário que se obtenha uma
compreensão dos aspectos psicológicos para um melhor entendimento sobre como
os alunos aprendem. Assim, possivelmente os graduandos que responderam
concordar parcialmente com essa questão, tenham tido a cautela de um olhar
crítico para a atuação do educador, onde identificar as patologias não seja de fato
uma alternativa para desenvolver sua função, mas sim compreender como se dá
esse processo.
Na questão: “Em sua opinião, os resultados de tais encaminhamentos
são: “, a maioria respondeu que são satisfatórios com 58,3% (07 respostas) e
41,7% responderam que não é possível avaliar (05 respostas). Diante todo o
contexto abordado e discutido neste trabalho, a intervenção feita apenas através de
observações em sala de aula complementada de uma longa entrevista acerca da
anamnese, não pode ser parâmetro para possíveis diagnósticos, pois segundo
Garrido e Moysés (2010), este fato direciona uma responsabilidade indevida da não
aprendizagem e seus possíveis distúrbios e transtornos a criança, pois exclui seu
contexto
social
considerando
apenas
fatores
biológicos
e
os
sintomas
apresentados não aceitos socialmente.
É possível observar a partir das respostas dos graduandos que a
culpabilização do outro, ainda se faz presente no que concerne a dimensão da
medicalização, fazendo com que eles esperem a melhoria do processo educacional
a partir das políticas educacionais, não desconsiderando que o medicamento pode
contribuir para o rendimento do aluno se for prescrito de forma correta.
Segundo Moysés e Collares (2010) a medicalização ocorre na mesma medida
e proporção em que a criança é culpabilizada por não aprender, diante as respostas
podemos observar que há uma preocupação dos educadores em esbalecer um
vínculo com a interação social do aluno fora da escola, pois é justamente esta
interação que traz a luz o porque das dificuldades apresentadas em sua relação com
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o aprender.
De acordo com as respostas dos participantes o assunto acerca do tema
medicalização foi abordado e discorrido durante o curso de graduação, porém
realizando uma análise das respostas como um todo, nota-se que os aspectos
abordados colaboram para uma visão geral e branda a respeito da importância e
gravidade que permeiam o tema. Com relação a esse aspecto, Braghini (2016)
enfoca que pensar no procedimento medicalizante e os aspectos que contribuem
para o crescimento destas condutas na infância e adolescência torna-se essencial
em nossa sociedade, onde os comportamentos passam por critérios classificatórios
e assemelham-se a não possuir a compreensão necessária da sociedade acerca
dos fatores de riscos e danos em que a infância está sendo exposta.
Sobre a questão que questiona o motivo da utilização de remédio para o
auxílio do processo educacional e as razões pela qual este fator ocorre, a maioria
enfatizou que deve-se acontecer a melhoria do processo educacional, onde deve-se
levar em conta as questões da política educacional, não depositando na medicação
a intervenção imediata dos problemas de aprendizagem. Diante desse apontamento,
Braghini (2016) a mudança deve acontecer em um âmbito geral, e primeiramente em
nós mesmos enquanto seres humanos e profissionais, seja psicólogo, professores,
terapeutas ocupacionais, pais e todos aqueles que mantem uma relação com as
crianças, para a autora é necessário que seja resignificado a forma na qual o
trabalho é de fato exercido e as normas são aplicadas, para que seja oferecido um
trabalho com qualidade de escuta e que ofereça uma proteção para a criança e
para o adolescente, diferente dos métodos e técnicas que são empregadas
atualmente, onde o indivíduo é reduzido e enquadrado em uma patologia.
Os futuros educadores conforme resposta do questionário, acreditam que
para minimizar os efeitos do uso abusivo de diagnóstico e medicamentos realizados
às crianças com dificuldades de aprendizagem devem ocorrer através de uma
melhor interação entre os pais, educadores e profissionais de saúde. Assim para
Braghini (2016) é necessário confiar na possibilidade de cuidado, que ultrapassa o
ambiente de tratamento, pois o setting terapêutico em relação a criança, pode ser
formado em qualquer espaço, desde que seja acolhedor, onde a criança se sinta
protegida diante a relação construída com os sujeitos que a cercam.
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CONCLUSÃO
O presente trabalho atingiu o objetivo de coletar informações acerca da
temática que engloba a medicalização dentro do ambiente escolar, com o enfoque
nos graduandos de pedagogia e suas possíveis visões e opiniões diante deste
assunto presente no cotidiano, que divide em extremos as opiniões de profissionais
da saúde e educação.
A importância em discorrer a respeito da medicalização no ambiente escolar
atualmente é indispensável, pois o aumento em diagnósticos relacionados a
distúrbios
e
transtornos
da
não
aprendizagem
aumenta
cotidianamente,
ocasionando a culpabilização do aluno por não aprender e por não estar dentro de
um padrão esperado pela sociedade ou não se comportar de forma aceitável
socialmente, além de desencadear um processo de medicalização precoce e muitas
vezes incompatível e excessivo diante da condição apresentada pela criança. O
processo de engessamento provocado por essa padronização além de promover a
segregação de crianças que se comportam de forma tida como disruptiva, cerceia a
expressão da individualidade do sujeito, interrompendo ou afetando seu pleno
desenvolvimento, tanto no plano atitudinal, como subjetivo.
Não se pode deixar de apontar também como uma das preocupações que
motivou a pesquisa, o excesso de medicalização que gera consequências inegáveis
à infância, como a própria dependência química precoce pelo abuso do consumo de
substâncias psicoativas.
Este trabalho possibilitou trazer diversos outros questionamentos a respeito
do tema e suas complexidades, como por exemplo, a falta de políticas públicas
educacionais e a contribuição deste fator para a biologização da aprendizagem, pois
as carências estruturais no ambiente de ensino contribuem para que se localize na
criança o encargo das deficiências de aprendizagem, sem propor outro meio de
recurso para o não aprender que não sejam encaminhamentos para psiquiatras,
psicólogos, terapeutas ocupacionais e neurologistas.
Os resultados junto ao público alcançado com a pesquisa foram abaixo do
esperado, considerando o número de alunos matriculados no curso de graduação
em Pedagogia, para os participantes voluntários e os respondentes, conseguimos
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acessar o total de 12 alunos diante dos 150 matriculados, e os 58 e-mails enviados.
O baixo número de participantes na pesquisa revela a fragilidade no que se refere
ao interesse pelo assunto, assim possivelmente é necessário o aprofundamento e
continuação da mesma.
Através dos dados obtidos em pesquisa foi possível perceber que há um
conceito brando a respeito do tema e do que compete à educação com relação a
encaminhamentos e diagnósticos, por se tratar de uma pesquisa no âmbito da
graduação de pedagogia, enfatiza-se a discussão e abordagem da medicalização no
ambiente escolar, bem como a iniciativa de trabalhos científicos e novas propostas
de estágios que possibilitem ao universitário estar inserido no cotidiano escolar e
outros ambientes de intervenção.
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