O PROCESSO DE APRENDIZAGEM E OS ATRAVESSAMENTOS DA MEDICALIZAÇÃO: O OLHAR DOS GRADUANDOS DE PEDAGOGIA THE LEARNING PROCESS AND THE CROSSINGS OF MEDICALIZATION: A LOOK OF PEDAGOGY GRADUATION STUDENTS Pamela Barbosa Barros – graduando em Psicologia – Unisalesiano [email protected] Vanessa Cristina de Oliveira – graduando em Psicologia – Unisalesiano [email protected] Profª Liara Rodrigues de Oliveira – Unisalesiano – [email protected] RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo conhecer e analisar a opinião dos alunos do segundo, terceiro e quarto ano do curso de pedagogia, em relação à medicalização de crianças na tenra idade no ambiente escolar. O trabalho adotou uma perspectiva metodológica quanti-qualitativa, o que possibilitou viabilizar a importância de trazer a luz uma discussão não só crítica, mas também fundamentada socialmente, acerca dos amplos questionamentos que englobam a temática da medicalização no ambiente escolar como um todo, desde a visão dos futuros educadores até mesmo a abordagem do tema durante a formação pedagógica. Para levantar os dados foi utilizada a ferramenta do Google Drive, que é um serviço para armazenar e sincronizar os arquivos, que permitiu que fossem enviados 58 questionários via email contendo 17 questões semi-abertas acerca dos atravessamentos da medicalização infantil no ambiente escolar. Os dados obtidos foram analisados através da abordagem Histórico-cultural, pois essa teoria permite que se faça uma conexão entre o homem e a ciência e também um apontamento crítico sobre as relações entre psicologia e história, podendo desta forma compreender criticamente os caminhos que levam a sociedade a ser cada vez mais medicalizada. Palavras-chave: Medicalização e Educação. Psicologia e Pedagogia. Formação Pedagógica. Histórico-cultural. ABSTRACT This study aimed to identify and anlyze the opions of second, third and fourth year pedagogy’s student about children’s medicalization at the early age at school. The research used as method a quantitative-qualitative perspective, which enable the importance of bringing to light not only a critical discussion, but also a discussion socially grounded about the broad questions that encompass the thematic of medicalization in school environment in its totality, since a future educators standpoint until the subject approach during the pedagogical training. To get the research data it was used Google Drive Tool, which is a service to store and Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 1 synchronize files, and allowed to be sent 58 questionnaires via e-mail containing containing 17 semi-open questions about crossings of child medicalization in school environment. All the research data were analyzed using historical-cultural approach because this theory allows making a connection between man and science and also a critical note on the relationship between psychology and history, thus being able to understand critically the pathways that lead society to be increasingly medicalized. Key words: Medicalization and Education. Psychology ans Pedagogy. Teacher training. Historical-cultural. INTRODUÇÃO A referente pesquisa tem por objetivo conhecer e analisar a opinião dos alunos do segundo, terceiro e quarto ano do curso de pedagogia, em relação à medicalização de crianças na tenra idade no ambiente escolar. A pergunta problema da pesquisa consiste em averiguar se a medicalização está sendo entendida como um dos principais recursos para o enfrentamento das dificuldades ensinoaprendizagem. Nessa perspectiva elaborou-se esse artigo, para se confirmar a hipótese inicial que visa averiguar a visão que os graduandos de pedagogia têm sobre a medicalização de crianças no ambiente escolar. O local escolhido para a investigação foi uma instituição universitária privada, devido a possibilidade de acesso aos alunos. Em suma, o estudo acerca do tema medicalização vem se reafirmando em nossa sociedade, destacando a importância de fomentarmos a conscientização dos futuros profissionais de educação para que desmistifiquem tabus e construam um olhar crítico e sensível para as crianças que apresentam alterações de comportamentos e atenção. É esperado então que o profissional da educação busque uma interação maior com a família e não somente culpabilize a criança em si por apresentar uma dificuldade de aprendizagem, sem levar em consideração aspectos naturais de sua própria existência, bem como variáveis externas presentes na sua formação e desenvolvimento, pois quando se patologiza a criança, retira-se a possibilidade que o indivíduo tem de expressar e ter reações naturais nos ambientes em que vive. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 2 1 EDUCAÇÃO, MEDICALIZAÇÃO E PSICOLOGIA Antes de aprofundar no tema a respeito da medicalização dentro do ambiente escolar, se faz se necessário uma breve introdução acerca da história da criança e os papéis desenvolvidos dentro do contexto familiar, escolar e social. A sociedade tradicional segundo Ariés (1981), enxergava negativamente as crianças e os adolescentes, a criança perdia o mundo da fantasia e do lúdico para tonar-se um mini adulto, deste modo não passava pelas etapas necessárias do desenvolvimento. Dentro deste período as transmissões dos valores, conhecimentos e a socialização da criança não eram de responsabilidade dos pais ou da família, pois devido ao crescimento precoce a criança e o jovem adulto aprendiam o que deveriam ou não fazer através, da convivência do dia-a-dia, ajudando nas tarefas e afazeres dos adultos. Só no final do século XVII segundo Ariés (1981), através da substituição da aprendizagem para educação, a escola passou a oferecer não só matérias relacionadas ao ensino regular, mas também ao que se referia a maneiras e bons costumes, deste modo à criança saia do mundo do adulto. Esta separação pode ser nomeada como umas das faces do movimento de moralização ligado tanto a igreja como também as leis do Estado. A educação ganhou importância, pois se encarregava pelo processo de formação dos indivíduos, que deveriam seguir o modelo de homem que era almejado pela sociedade e assim, estariam aptos para trabalhar, obedecendo as regras que o sistema político-econômico implantou. Diante deste contexto, a Psicologia no Brasil surgiu em meio a esse processo de transformação da sociedade política e econômica, visando atender a ordem do sistema, isto porque, a psicologia tinha por objetivo naquele período, explicar os comportamentos do sujeito bem como os pensamentos que designavam as suas ações de acordo com as condições de vida do meio em que estava inserido. Patto (1987) indica que a escola, assim como a psicologia, configurava-se como instrumento utilizado para a ideologia da classe dominante, ou seja, a escola teria como papel além de ensinar as técnicas e conhecimentos, ensinar as regras, moral e bons costumes, relacionando com a psicologia que conquistou grande Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 3 espaço na sociedade brasileira, mas que deveria atuar no controle social, visando a manutenção do poder da classe dominante. Todos os que passam pela escola são recheados de ideologia que convém ao papel que vão desempenhar na sociedade de classe: modéstia, resignação, submissão, consciência profissional, moral, cívica, nacional e apolítica altamente desenvolvida, no caso dos explorados, que são os que deixam a escola mais cedo [...]. (PATTO, 1987, p. 40) Observa-se então que no meio escolar, deve ser oferecido ao aluno, determinantes que o vincule com a sociedade, pautando para ele todos os aspectos e condições cabíveis para o seu desenvolvimento, seja em sua adaptação com o meio, seja em sua transformação. Através de suas considerações Patto (1987) indica que a Psicologia Escolar ao estabelecer uma prática mais voltada à identificação e tratamento dos problemas dos indivíduos, torna-se uma “psicologia do escolar”, onde atua-se como se houvesse uma separação do sujeito para as questões da educação, respaldando assim mais uma vez uma psicologia a serviço do poder da classe dominante. Sobretudo Viotto Fillho (2012), acredita que desta forma, a Psicologia Escolar desconsidera as diversas determinantes presentes no processo educativo, contribuindo assim para a construção dos processos de culpabilização do sujeito. Os educadores (psicólogos, pedagogos, professores, funcionários, etc.) ao construírem coletivamente novos espaços de reflexão, de crítica e de relação social humanizadora na escola, valorizando o diálogo, as trocas recíprocas de conhecimento e experiências, permeados pela filosofia, pela ciência, pela política, pela ética e pelas artes, dentre outras objetivações humanas, terão condições de efetivar situações diferenciadas de desenvolvimento das individualidades numa direção livre e universal, ou seja, em direção a liberdade e emancipação humana. (VIOTTO FILHO, 2012, p. 22) Portanto, compreende-se que ceder esse novo espaço na educação, permeando a ação conjunta dos educadores, terá sobretudo uma práxis educativa que superará aquela ideia inicial reducionista, onde se implicavam análises patologizantes dos alunos e assim sendo ocorrerá aquela transformação qualitativa que tanto se almejou na relação da Psicologia com a Educação. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 4 1.1 Medicalização na educação: breve histórico Segundo as autoras Collares e Moysés (1994), o termo medicalização referese a ação de transformar questões de origem social e política em questões médicas, ou seja, é a busca eminente por soluções para a problemática através da medicina, onde considera-se que o problema centraliza-se apenas no indivíduo e não em uma determinante coletiva. A partir daí, entendesse que toda responsabilidade que deveria ser do sistema sociopolítico é retirada, resultando na culpabilização do indivíduo. Guarido e Voltolini (2009) indicam que o conceito de medicalização passou a ser utilizado em diversos estudos em 1970 do século XX, para discutir a maneira pela qual os problemas de aprendizado das crianças foram comumente explicados. Esse fenômeno também se fez presente na educação, pois segundo Collares e Moysés (1994, p. 26): A Educação, assim como todas as áreas sociais, vem sendo medicalizada em grande velocidade, destacando-se o fracasso escolar e seu reverso, a aprendizagem, como objetos essenciais desse processo. A aprendizagem e a não-aprendizagem sempre são relatadas como algo individual, inerente ao aluno, um elemento meio mágico, ao qual o professor não tem acesso - portanto, também não tem responsabilidade. Diante disso, Lerner (2014), menciona o fato de que tendo como base um comportamento considerado ideal, desconsidera-se todos os outros comportamentos que seja diferente desse. Portanto o indivíduo que não faça parte da ideologia do comportamento ideal, é diagnosticado com alguma patologia (distúrbio ou transtorno) e assim precisa ser tratado com medicamentos. 1.2 O papel da escola frente à frente da medicalização Quando se refere à educação o que se percebe é a importância que se tem atribuído ao denominado “diagnóstico”, tanto pelos profissionais da educação como também pelos profissionais da área da saúde, pois há um deslocamento de responsabilidade e em meio a isso os professores desempenham um papel de Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 5 intercessores quanto aos encaminhamentos gerados para os profissionais da saúde, transferindo desta forma os problemas mesmo que indiretamente e de maneiras brandas o não aprender como uma responsabilidade do aluno. Portanto, compreende-se que o professor também é responsável pela aprendizagem de seus alunos, assim o processo de não aprender confere aos docentes a responsabilidade de buscar uma metodologia que almeje o êxito da aprendizagem, englobando a todos, para que não haja exclusão nesse processo. 1.3 Perspectivas e necessidades de avaliação na escola . A avaliação descrita por Sousa (1993) traz à luz a preocupação de enquadrar esta técnica em uma teoria conservadora, porém se analisarmos apenas a palavra avaliação em si, perceberemos que estamos a todo tempo nos autoavaliando, seja na escolha do produto a ser comprado no supermercado ou a que roupa usar para ir ao trabalho, se refletíssemos desta forma por que então a avaliação no âmbito escolar tem sido tão discutida? A questão não é a técnica de avaliar um aluno e mensurar o grau de sua aprendizagem, mas sim a forma em que ela vem sendo empregada, considerando os dados isoladamente para uma finalidade classificatória. Conceito de avaliação da aprendizagem que tradicionalmente tem como alvo o julgamento e a classificação do aluno necessita ser redirecionado (...) desponta como finalidade principal da avaliação o fornecer sobre o processo pedagógico informações que permitam aos agentes escolares decidir sobre a intervenção e redirecionamentos que se fizerem necessários em face do projeto educativo definido coletivamente e comprometido com a garantia da aprendizagem do aluno. (SOUSA, 1993, p.46) a função adequada para uma avaliação pedagógica seria aquela em que os contextos sociais e culturais de cada aluno fossem levados em consideração, bem como suas características individuais e seu desenvolvimento no que se refere à aprendizagem, realizando a aplicação da técnica de modo fiel a realidade de cada aluno, sendo desta forma, uma possível oportunidade de trabalhar as dificuldades de aprendizagem do educando, evidenciando a importância da relação com seus conhecimentos e habilidades e não o segregando pelas mesmas. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 6 1.4 Técnicas de avaliação psicológicas empregadas na escola. No que se refere a “técnicas” psicológicas utilizadas na escola, ressalta-se a necessidade do psicólogo no ambiente escolar para realização desta prática. No entanto no cenário atual da educação o que se encontra em evidência são educadores encaminhando alunos para o serviço de psicologia com um pré diagnóstico, embasado pelo senso comum, ou enviesado por uma concepção conservadora e meramente patologizante. Um aluno que foge do padrão aceitável de comportamento estabelecido pela sociedade, por exemplo, é pré-diagnosticado como hiperativo, sendo tal fundamentação realizada apenas pela avaliação no âmbito educacional. A perigosa tendência de tornar natural aquilo que é historicamente determinado. Passa a ser algum atributo individual como justificativa para o fracasso. A história desse olhar culpabiliza o sujeito oficializou-se o desenvolvimento das ciências humanas, cujos argumentos isentavam a desigualdade social, inerente ao nosso sistema, da reponsabilidade pelas diferenças sociais. Desta forma, tornou-se natural e legalmente instituída a crença na possibilidade de medirmos a inteligência e a capacidade individual das pessoas como se fossemos constituídos fora das relações sociais. (MACHADO, 2000, p.145) Fica claro diante a afirmação de Machado (2000), a impossibilidade de se avaliar qualquer indivíduo isolando suas relações e contextos sociais. As práticas empregadas no ambiente escolar carecem de uma melhor preparação para o olhar do Educador diante a diversidade dos comportamentos considerados normais do desenvolvimento infantil, para os comportamentos possivelmente patológicos. 1.5 Transtornos recorrentes no ambiente escolar A não aprendizagem se dá pela falta de estruturação do ensino, por ausência de professores, desigualdade social, e não meramente por culpa do aluno e seus fatores biológicos, os alunos que evidenciam seus comportamentos destoantes ao esperado são facilmente rotulados, e posteriormente encaminhados para avaliações e tratamentos, dentre os transtornos presentes e recorrentes no ambiente escolar Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 7 estão o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno de Oposição Desafiante (TDO) e Dislexia. 2 METODOLOGIA A presente pesquisa foi embasada em um suporte teórico da Psicologia Histórico-Cultural, para a compreensão dos dados por propiciar uma visão mais crítica das questões sobre os atravessamentos da medicalização infantil, uma vez que compreendendo o ser humano como uma unidade de totalidade, pode-se visualizar e compreender melhor os processos de não aprender e não se comportar na escola, bem como os aspectos que vão desde como é realizada a identificação desses problemas pelos profissionais da educação e a visão que eles têm acerca do tema, relacionando esse contexto com a psicologia e a história. Adotou-se nesse trabalho a pesquisa descritiva e exploratória, apoiada em procedimentos quanti-qualitativos. A união dos métodos quantitativos e qualitativos tem sido considerada uma condição necessária para a compreensão de processos sistêmicos e multideterminados, dada a natureza das contribuições de ambos os métodos para a coleta e para análise de dados. Por outro lado, o uso isolado, tanto de um quanto de outro, mostra-se limitado para responder diferentes questões de pesquisa, sobretudo aqueles referentes a processos de desenvolvimentos familiar. (DESSEN; SILVA; DESSEN, 2011, p.19) A pesquisa pretendida visa conhecer e analisar a compreensão dos futuros educadores sobre a medicalização no ambiente escolar com o apoio da abordagem quanti-qualitativa. Para coleta de dados o utilizou-se de um questionário (virtual) elaborado conteve 17 questões semi-abertas acerca dos atravessamentos da medicalização infantil no ambiente escolar, que foram enviadas no e-mail pessoal de cada participante que se dispôs a participar da pesquisa voluntariamente. Após o término do prazo do questionário foram analisados os dados obtidos grupalmente a luz da psicologia histórico-cultural. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 8 Utilizou-se como ferramenta o Google Drive, que é um serviço de armazenamento e sincronização de arquivos, apresentado pela Google em 24 de abril de 2012. Google Drive abriga o Google Docs, um leque de aplicações de produtividade, que oferece a edição de documentos, folhas de cálculo e apresentações. O Google Drive baseia-se no conceito de computação em nuvem, pois o internauta poderá armazenar arquivos através deste serviço e acessá-los a partir de qualquer computador ou outros dispositivos compatíveis, desde que ligados à internet. 3 RESULTADOS E ANÁLISE A quantidade de 12 respostas recebidas aos 58 e-mails enviados, embora atenda à quantidade mínima esperada (10), pode estar relacionada à indisponibilidade de tempo ou interesse para responder ao questionário da pesquisa que receberam. Segundo Bauman (2004, p. 308): “Vivemos em tempos de desregulamentação, de descentralização, de individualização (...)”, o que sugere o baixo retorno das repostas. Para saber a opinião dos graduandos sobre o tema abordado, foi indispensável elaborar questões nas quais os estudantes definissem o conceito de atenção e hiperatividade. Para Vygotsky (1984) o campo de atenção da criança engloba um contexto das séries de campos perceptivos potenciais que formam composições dinâmicas e que se modificam ao decorrer do tempo, tão progressivamente quanto as próprias funções individuais. Já sobre o comportamento, segundo Moysés e Collares (2010) a medicalização nasceu de um ato da sociedade para enquadrar os comportamentos ou aquilo que não era considerado como normal, estar medicado e dentro de um processo de tratamento faz com que o indivíduo sinta-se, em parte inserido dentre deste contexto considerado normal. Desta forma pode-se refletir acerca dos comportamentos nomeados de desviantes e sua relação com esta inserção facilitadora da medicalização na sociedade, a partir do momento em que o comportamento excede o limite do aceitável, passa a ter um caráter de transgressão e incômodo, ficando mais cômodo e fácil recorrer ao medicamento. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 9 Com relação ao pensamento dos participantes sobre a realização de palestras e workshops sobre o tema medicalização, para que os professores pudessem identificar as patologias, 58,3% disseram concordar (07 respostas), 41,7% disseram concordar parcialmente e 0% não discordaram. Segundo Meira (2007), o papel do educador implica em diversos intermédios com a teoria, mas especificamente do ensino, mas também é necessário que se obtenha uma compreensão dos aspectos psicológicos para um melhor entendimento sobre como os alunos aprendem. Assim, possivelmente os graduandos que responderam concordar parcialmente com essa questão, tenham tido a cautela de um olhar crítico para a atuação do educador, onde identificar as patologias não seja de fato uma alternativa para desenvolver sua função, mas sim compreender como se dá esse processo. Na questão: “Em sua opinião, os resultados de tais encaminhamentos são: “, a maioria respondeu que são satisfatórios com 58,3% (07 respostas) e 41,7% responderam que não é possível avaliar (05 respostas). Diante todo o contexto abordado e discutido neste trabalho, a intervenção feita apenas através de observações em sala de aula complementada de uma longa entrevista acerca da anamnese, não pode ser parâmetro para possíveis diagnósticos, pois segundo Garrido e Moysés (2010), este fato direciona uma responsabilidade indevida da não aprendizagem e seus possíveis distúrbios e transtornos a criança, pois exclui seu contexto social considerando apenas fatores biológicos e os sintomas apresentados não aceitos socialmente. É possível observar a partir das respostas dos graduandos que a culpabilização do outro, ainda se faz presente no que concerne a dimensão da medicalização, fazendo com que eles esperem a melhoria do processo educacional a partir das políticas educacionais, não desconsiderando que o medicamento pode contribuir para o rendimento do aluno se for prescrito de forma correta. Segundo Moysés e Collares (2010) a medicalização ocorre na mesma medida e proporção em que a criança é culpabilizada por não aprender, diante as respostas podemos observar que há uma preocupação dos educadores em esbalecer um vínculo com a interação social do aluno fora da escola, pois é justamente esta interação que traz a luz o porque das dificuldades apresentadas em sua relação com Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 10 o aprender. De acordo com as respostas dos participantes o assunto acerca do tema medicalização foi abordado e discorrido durante o curso de graduação, porém realizando uma análise das respostas como um todo, nota-se que os aspectos abordados colaboram para uma visão geral e branda a respeito da importância e gravidade que permeiam o tema. Com relação a esse aspecto, Braghini (2016) enfoca que pensar no procedimento medicalizante e os aspectos que contribuem para o crescimento destas condutas na infância e adolescência torna-se essencial em nossa sociedade, onde os comportamentos passam por critérios classificatórios e assemelham-se a não possuir a compreensão necessária da sociedade acerca dos fatores de riscos e danos em que a infância está sendo exposta. Sobre a questão que questiona o motivo da utilização de remédio para o auxílio do processo educacional e as razões pela qual este fator ocorre, a maioria enfatizou que deve-se acontecer a melhoria do processo educacional, onde deve-se levar em conta as questões da política educacional, não depositando na medicação a intervenção imediata dos problemas de aprendizagem. Diante desse apontamento, Braghini (2016) a mudança deve acontecer em um âmbito geral, e primeiramente em nós mesmos enquanto seres humanos e profissionais, seja psicólogo, professores, terapeutas ocupacionais, pais e todos aqueles que mantem uma relação com as crianças, para a autora é necessário que seja resignificado a forma na qual o trabalho é de fato exercido e as normas são aplicadas, para que seja oferecido um trabalho com qualidade de escuta e que ofereça uma proteção para a criança e para o adolescente, diferente dos métodos e técnicas que são empregadas atualmente, onde o indivíduo é reduzido e enquadrado em uma patologia. Os futuros educadores conforme resposta do questionário, acreditam que para minimizar os efeitos do uso abusivo de diagnóstico e medicamentos realizados às crianças com dificuldades de aprendizagem devem ocorrer através de uma melhor interação entre os pais, educadores e profissionais de saúde. Assim para Braghini (2016) é necessário confiar na possibilidade de cuidado, que ultrapassa o ambiente de tratamento, pois o setting terapêutico em relação a criança, pode ser formado em qualquer espaço, desde que seja acolhedor, onde a criança se sinta protegida diante a relação construída com os sujeitos que a cercam. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 11 CONCLUSÃO O presente trabalho atingiu o objetivo de coletar informações acerca da temática que engloba a medicalização dentro do ambiente escolar, com o enfoque nos graduandos de pedagogia e suas possíveis visões e opiniões diante deste assunto presente no cotidiano, que divide em extremos as opiniões de profissionais da saúde e educação. A importância em discorrer a respeito da medicalização no ambiente escolar atualmente é indispensável, pois o aumento em diagnósticos relacionados a distúrbios e transtornos da não aprendizagem aumenta cotidianamente, ocasionando a culpabilização do aluno por não aprender e por não estar dentro de um padrão esperado pela sociedade ou não se comportar de forma aceitável socialmente, além de desencadear um processo de medicalização precoce e muitas vezes incompatível e excessivo diante da condição apresentada pela criança. O processo de engessamento provocado por essa padronização além de promover a segregação de crianças que se comportam de forma tida como disruptiva, cerceia a expressão da individualidade do sujeito, interrompendo ou afetando seu pleno desenvolvimento, tanto no plano atitudinal, como subjetivo. Não se pode deixar de apontar também como uma das preocupações que motivou a pesquisa, o excesso de medicalização que gera consequências inegáveis à infância, como a própria dependência química precoce pelo abuso do consumo de substâncias psicoativas. Este trabalho possibilitou trazer diversos outros questionamentos a respeito do tema e suas complexidades, como por exemplo, a falta de políticas públicas educacionais e a contribuição deste fator para a biologização da aprendizagem, pois as carências estruturais no ambiente de ensino contribuem para que se localize na criança o encargo das deficiências de aprendizagem, sem propor outro meio de recurso para o não aprender que não sejam encaminhamentos para psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e neurologistas. Os resultados junto ao público alcançado com a pesquisa foram abaixo do esperado, considerando o número de alunos matriculados no curso de graduação em Pedagogia, para os participantes voluntários e os respondentes, conseguimos Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 7, n.15, jul-dez de 2016 12 acessar o total de 12 alunos diante dos 150 matriculados, e os 58 e-mails enviados. O baixo número de participantes na pesquisa revela a fragilidade no que se refere ao interesse pelo assunto, assim possivelmente é necessário o aprofundamento e continuação da mesma. Através dos dados obtidos em pesquisa foi possível perceber que há um conceito brando a respeito do tema e do que compete à educação com relação a encaminhamentos e diagnósticos, por se tratar de uma pesquisa no âmbito da graduação de pedagogia, enfatiza-se a discussão e abordagem da medicalização no ambiente escolar, bem como a iniciativa de trabalhos científicos e novas propostas de estágios que possibilitem ao universitário estar inserido no cotidiano escolar e outros ambientes de intervenção. REFERÊNCIAS ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. COLLARES, C. L.& MOISÉS, M. A. A. A transformação do espaço pedagógico em espaço clínico (A Patologização da Educação). In Série Idéias nº 23, São Paulo: FDE, 1994, p. 25-31. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/amb_a.php?t =008> Acesso em: 20 ago. 2016 DESSEN, M. C.; SILVA, S. C.; DESSEN, M. A. Pesquisa com família: integrando métodos quantitativos e qualitativos. In: WEBER, L. 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