Reprodução ABr - Antonio Cruz Reprodução ABr - Antonio Cruz Edição no 04 | 4o trimestre de 2014 IMAGEM EXTERNA DO BRASIL PIORA EM 2014 Olhar internacional mais crítico no ano passado leva I See Brazil Index a registrar 3,77 pontos A percepção do Brasil no exterior não é mais tão positiva quanto há alguns anos – e isto ficou bem claro no ano passado. Ao longo de 2014, diversos acontecimentos chamaram a atenção sobre o país, como a Copa do Mundo de Futebol, as eleições presidenciais, as incertezas na economia e a Cúpula dos Brics em Fortaleza (CE). No entanto, o olhar internacional seguiu uma tendência mais crítica. Como comparação, em 2009 – quando a Imagem Corporativa lançou a newsletter Boletim Brasil – a imagem do Brasil no exterior era bastante positiva. Naquele ano, a visibilidade do país era beneficiada pelo crescimento econômico e pelo seu protagonismo em diversos fóruns internacionais (com destaque para a Conferência sobre Mudanças Climáticas – a COP-15). Foi naquele ano que a revista britânica The Economist publicou sua emblemática capa do Cristo Redentor decolando – simbolizando a arrancada da economia brasileira. Em 2009, 81% das reportagens publicadas no exterior sobre o Brasil apresentaram teor positivo. Esta percepção se manteria em 2010, mas foi encolhendo ano a ano – chegando a 2014 a seu nível mais baixo, quando apenas 45,5% dos textos mostraram uma visão favorável do país. 1 PANORAMA Após terem sido lançadas quatro edições adotando a metodologia do I See Brazil Index é possível mensurar de forma precisa como a imagem do Brasil no exterior foi impactada ao longo de 2014. O índice, que pondera as avaliações da imprensa e dos especialistas internacionais e atribui uma nota à percepção do país no exterior, atingiu 3,775 pontos. Vale lembrar que, em uma escala de zero a dez pontos (0 = extremamente negativa; 10 = extremamente positiva), apenas os resultados acima de 5 são considerados positivos. A percepção externa diante de temas relacionados à política obteve uma nota acima da média geral, com 4,443 pontos; o mesmo ocorreu no que se refere ao tema economia, que atingiu 4,088 pontos. Os assuntos socioambientais, contudo, tiveram a pior classificação, não ultrapassando 2,999 pontos no ano. 2 Nas 1.726 reportagens publicadas pela imprensa internacional e analisadas pelo I See Brazil Index fica nítido que houve um interesse maior sobre assuntos ligados à economia (45,57% do total) – com destaque para negócios, perspectivas a respeito dos indicadores macroeconômicos do Brasil e investimentos. Em razão das eleições, das críticas às obras governamentais ligadas à Copa do Mundo e o surgimento do Caso Petrobras, temas relacionados à política também tiveram uma exposição considerável no ano (38,33%). Já a pauta de assuntos socioambientais não ultrapassou 16,09% dos textos publicados no período. COPA DO MUNDO Reprodução Apesar de relacionado à esfera esportiva, o assunto teve um impacto bastante forte sobre a percepção externa a respeito de temas ligados à política e a questões socioambientais. Isto porque já havia na sociedade brasileira, desde as manifestações de junho de 2013, um grande descontentamento popular diante dos investimentos federais para a construção dos estádios onde seriam realizados os jogos. Slogans pedindo serviços públicos como saúde, segurança e educação no “padrão Fifa” viraram lugar-comum. CLARÍN, 17 DE MAIO DE 2014 Em paralelo a isso, as obras sofreram atrasos consideráveis – colocando em dúvida se o Brasil teria efetivamente condições de sediar os jogos. Esse estado de incerteza se estendia à infraestrutura de transportes do país, sobre a qual pesavam críticas de que não seria capaz de atender ao fluxo extra de turistas nos meses da Copa. Greves dos metroviários de São Paulo, motoristas e cobradores de ônibus em Salvador (BA) e funcionários de aeroportos só contribuíam para elevar o temor de que o evento seria um fracasso. 3 Rafael Ribeiro - CBF DESTAQUES DO ANO Fernando Frazão – ABr Reprodução ECONOMIST, 12 DE JULHO DE 2014 Essa percepção negativa só mudaria durante e após o evento – quando, no final das contas, o caos que se esperava não se concretizou. A cordialidade dos brasileiros ao receberem os turistas estrangeiros e o correto funcionamento da malha de transportes durante a Copa deram um tom positivo ao olhar externo. No final, o Brasil ganhou a Copa – ao menos fora dos gramados. MACROECONOMIA Reprodução O desencanto externo já havia se mostrado claro em setembro de 2013, quando a revista The Economist dedicou uma capa à deterioração da economia brasileira (cuja ilustração, por sua vez, fazia referência à clássica imagem do Cristo Redentor prestes a decolar, de 2008 – quando o país era visto como a “bola da vez”). Neste ano essa percepção só se aprofundou – com a divulgação do fraco crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, e a perda de dinamismo da economia brasileira na comparação com outros países emergentes. Logo no início do ano, a agência classificadora de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota do Brasil, deixando o país próximo de perder o investment grade. Houve uma ligeira melhora nesta percepção no segundo trimestre, quando o país ainda era visto como destino de investimentos – ainda que análises pessimistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial ainda gerassem preocupação com as perspectivas do Brasil. Na segunda metade do ano, contudo, predominou um olhar mais crítico com relação ao futuro – fortemente vinculado ao cenário eleitoral e às diferentes visões da economia praticadas pelos três principais candidatos – a presidente Dilma Rousseff e os oposicionistas Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). Reprodução Uma mudança começou a surgir em dezembro, quando se anunciou a nova equipe econômica. De caráter menos intervencionista (e mais THE ECONOMIST, 18 DE OUTUBRO DE 2014 amigável ao mercado), o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, recebeu elogios – ainda que tenham sido levantadas dúvidas sobre a disposição da presidente Dilma Rousseff em apoiar esse novo direcionamento da política econômica. FT, 24 DE SETEMBRO DE 2014 4 ‘ ELEICOES PRESIDENCIAIS Reprodução ‘ Praticamente ausente do radar internacional no primeiro semestre, a disputa eleitoral para a Presidência da República ganhou contornos dramáticos já em agosto. Se antes considerava-se a vitória da presidente Dilma Rousseff como certa, a morte do candidato Eduardo Campos (PSB) lançou sérias dúvidas sobre o resultado. Sua vice, a exsenadora Marina Silva (PSB), ganhou os holofotes imediatamente, encarnando o desejo por mudanças dos brasileiros, passou a ser vista como uma “terceira via” mais promissora do que a reeleição da presidente ou a vitória do candidato Aécio Neves (PSDB). ECONOMIST, 11 DE OUTUBRO DE 2014 Do ponto de vista internacional, Marina Silva contava ainda como vantagens sua trajetória de defesa do meio ambiente. A oposição existente entre ela e Dilma Rousseff quando ambas estavam no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (como ministras do Meio Ambiente e da Casa Civil, respectivamente) foi usada como exemplo dos diferentes enfoques das candidatas, e Marina Silva foi vista com simpatia no exterior. José Cruz - ABr Ichiro Guerra Igo Estrela As reviravoltas na preferência do eleitorado, que levariam à queda de Marina Silva nas pesquisas e a um acirrado embate entre Dilma Rousseff e Aécio Neves no segundo turno das eleições, mantiveram o interesse externo no assunto. No final, a reeleição da presidente gerou posicionamentos críticos – a revista The Economist, por exemplo, assumiu ter apoiado Aécio Neves e considerou o resultado contraditório com o desejo dos brasileiros por mudanças, ao passo que o Financial Times apontou a existência de um “país dividido” após as eleições. CASO PETROBRAS Ag. Petrobras As denúncias da existência de um esquema de corrupção na Petrobras, feitas inicialmente pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa (que envolveram o doleiro Alberto Yousseff e representantes de empresas com contratos com a Petrobras), provocaram uma série de análises sobre a extensão da corrupção no Brasil. De menções feitas na campanha do segundo turno das eleições, o assunto foi ganhando cada vez mais relevância na percepção externa do Brasil; a prisão de dezenas de executivos de companhias que teriam participado do esquema, em novembro, contribuiu para tornar o Caso Petrobras recorrente na imprensa internacional. Refinaria Abreu e Lima 5 Reprodução WSJ, 16 DE DEZEMBRO DE 2014 LE MONDE, 8 DE SETEMBRO DE 2014 Dado o potencial de dano à imagem brasileira, tanto do ponto de vista político quanto econômico, o escândalo da Petrobras deverá se manter em 2015 como um fator que irá determinar – ou pelos menos influenciar de forma bastante acentuada – a percepção externa em torno do país no exterior. Levando-se em conta que não teremos neste ano eventos que permitam uma exposição positiva do Brasil (a não ser a Cúpula Climática de Paris – e isso se o país se destacar nas negociações), e tendo em vista um cenário de letargia da economia, a tendência é que persista um viés desfavorável ao longo do ano, influenciado fortemente pelas denúncias de corrupção na estatal. A IMAGEM DO BRASIL NO 4O TRIMESTRE DE 2014 PANORAMA No quarto trimestre de 2014, o I See Brazil Index - metodologia do I See Brazil que pondera as avaliações da imprensa e dos especialistas internacionais e atribui uma nota à percepção do país no exterior – reverteu o resultado observado na última edição e atingiu o menor nível do ano: 3,125 pontos entre outubro e dezembro de 2014, em uma escala de zero a dez pontos (0 = extremamente negativa; 10 = extremamente positiva), na qual as notas acima de 5 são consideradas positivas. Este indicador representa uma queda de 1,877 ponto na comparação com o 3º trimestre do ano, quando o I See Brazil Index foi de 5,002 pontos – o maior resultado de 2014. Isto indica que, após a atenção (e simpatia) externa acarretada pela realização da Copa do Mundo e pelo início da disputa eleitoral no Brasil, o olhar internacional voltou a exibir um certo pessimismo com relação ao país. As denúncias de corrupção antes e depois das eleições presidenciais de outubro (culminando no escândalo da Petrobras) e o fraco desempenho da economia brasileira (e as perspectivas pessimistas para 2015) foram fatores que influenciaram a percepção, tanto da mídia quanto de especialistas internacionais, durante o período. As reviravoltas no cenário eleitoral deram o tom das matérias sobre política – e as revelações em torno das irregularidades na Petrobras direcionaram esta percepção para o campo negativo. As dificuldades trazidas à governabilidade por uma Câmara dos Deputados com um número excessivamente alto de partidos políticos e a falta de punição aos torturadores apontados pelo relatório apresentado no final do 6 “ A TRADICIONAL RESISTÊNCIA DO GOVERNO EM DIMINUIR OS GASTOS PÚBLICOS IRÁ CONTINUAR A DRENAR A ECONOMIA DO PAÍS. CSIS, “DOES DILMA’S REELECTION MEAN MORE OF THE SAME FOR BRAZIL?”, 27 DE OUTUBRO DE 2014 ano pela Comissão Nacional da Verdade também tiveram impacto sobre a percepção externa. Assim, o I See Brazil Index de Política foi o que apresentou o pior resultado do período: caiu de 5,88 pontos (a maior nota do terceiro trimestre, considerando um grupo que reúne ainda o Index de Economia e o Index Socioambiental) para 2,80 pontos – o menor indicador do último trimestre de 2014. Na economia, o viés negativo permaneceu, mas a queda da nota do I See Brazil Index foi menor – passando de 3,99 para 3,76 pontos no quarto trimestre. Mesmo com a deterioração dos indicadores econômicos (inflação em alta, elevação dos juros, baixas perspectivas de crescimento econômico e previsões pessimistas para 2015), ocorreram fatos no período que mostraram um lado favorável da economia e das empresas brasileiras Parece que a – como o interesse gerado em torno do setor de telefonia no Brasil e a presidente Rousseff oferta para aquisição da Chiquita Brands. Mas há a percepção de que finalmente aceitou 2015 será um ano difícil– como opinou no jornal El País o economista tacitamente os Thomas Piketty (autor do livro O Capital no Século XXI). “Estes frágeis equívocos de sua sucessos sociais [dos últimos anos] estão ameaçados por fatores política econômica. internacionais que afetam gravemente a economia brasileira, e a THE ECONOMIST, empurram rumo à recessão; e, sobretudo, pelas enormes desigualdades 29 DE NOVEMBRO DE 2014 que ainda perduram no país.” A percepção da imprensa estrangeira e dos especialistas internacionais com relação a temas socioambientais voltou a cair, passando de 3,8 para 2,9 pontos no quarto trimestre. Contribuíram para isso: a violência nas grandes cidades; a crise no fornecimento de água no estado de São Paulo (e a relação entre o desmatamento da floresta amazônica e a seca na região Sudeste); e os dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), apontando o aumento no número de pessoas em situação de pobreza extrema no país. NÃO ESPERAMOS QUE O BRASIL TENHA RACIONAMENTO DE ENERGIA EM 2015 PORQUE O GOVERNO, ATÉ AGORA, TEM SIDO BEM-SUCEDIDO EM EVITAR TAL MEDIDA. S&P, OUTLOOK FOR BRAZIL’S RATED ISSUERS, 1º DE DEZEMBRO DE 2014 7 ESPERANCA E MEDO ‘ Considerada tanto por observadores do país quanto internacionais como a disputa presidencial mais acirrada desde 1989, a corrida pelo Palácio do Planalto teve seu desfecho no início do período analisado por este I See Brazil. Com a saída da candidata Marina Silva (PSB) da disputa no segundo turno das eleições, a presidente Dilma Rousseff e o oposicionista Aécio Neves subiram o tom das críticas recíprocas – levando a um estado de divisão na sociedade brasileira, de acordo com alguns analistas políticos. Considerando a distribuição dos governos eleitos de acordo com seu posicionamento em relação à administração federal, o resultado do segundo turno das eleições manteve praticamente inalterada a distribuição de forças entre governo e oposição, com algum avanço do primeiro em detrimento do segundo. CREDIT SUISSE, MACRO BRASIL, 27 DE OUTUBRO DE 2014 Após a reeleição de Dilma Rousseff, o foco passou para a gradual composição dos ministérios – cujos primeiros nomes foram os da equipe econômica. Joaquim Levy (ministro da Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (que permaneceu no Banco Central) foram bem recebidos no exterior. Valter Campanato – ABr “ 2015 PARECE SER UM ANO BEM DIFÍCIL PARA A ECONOMIA BRASILEIRA EM PARTICULAR, À MEDIDA EM QUE A TAXA ENTRE O ALTO GASTO PÚBLICO E O PIB IRÁ PROVAVELMENTE LEVAR A UMA CONSOLIDAÇÃO FISCAL GRADUAL. CITIBANK, MARKET OUTLOOK, OUTUBRO DE 2014 Mas a imprensa internacional também dedicou espaço para os esforços dos parlamentares para elevarem seus rendimentos. “Aproveitando uma época no Brasil na qual muitas pessoas se preparam para sair de férias, os líderes do Congresso buscam aumentar seus próprios salários em pelo menos 34%, para US$ 187 mil por ano”, noticiou o The New York Times. Não escapou ao jornal a contradição desse movimento do Legislativo com a preocupação expressa na campanha eleitoral com o déficit orçamentário, ou a indicação de um ministro da Fazenda tido como favorável ao corte de gastos públicos. Acrescentando que os parlamentares ganhariam mais do que os dos EUA, a reportagem pondera que esse tipo de iniciativa aumentaria o ressentimento do país com os políticos de Brasília. ALÉM DISSO, CONTINUAMOS CÉTICOS A RESPEITO DO PANORAMA PARA [REALIZAÇÃO DAS] REFORMAS, INDEPENDENTEMENTE DE QUEM GANHAR A ELEIÇÃO, ESPECIALMENTE CONSIDERANDO QUE AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS OCORRIDAS EM 5 DE OUTUBRO AUMENTARAM A FRAGMENTAÇÃO NAS DUAS CASAS [DO CONGRESSO]. NA CÂMARA DOS DEPUTADOS, POR EXEMPLO, 28 PARTIDOS POLÍTICOS SERÃO REPRESENTADOS. DEUTSCHE BANK, SPECIAL REPORT - BRAZIL ECONOMIC UPDATE, 10 DE OUTUBRO DE 2014 8 Reprodução CASO PETROBRAS O assunto ganhou desdobramentos importantes ao longo do trimestre, com a prisão de executivos de empreiteiras envolvidas e o início de investigações pelo Departamento de Justiça dos EUA e pela Securities and Exchange Comission (SEC). A contínua atenção externa ao assunto foi apontada pelos especialistas consultados pelo I See Brazil. “A corrupção na Petrobras aumenta o risco de instabilidade política [no Brasil]”, avaliou o professor Zhiwei Zhou, do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto da América Latina, da Academia Chinesa de Ciências Sociais. FT, 30 DE DEZEMBRO DE 2014 O panorama de médio prazo para a economia brasileira permanece negativo, uma condição que poderá se tornar mais complexa pelas investigações de corrupção na Petrobras. MOODY’S, GLOBAL CREDIT RESEARCH, 16 DE DEZEMBRO DE 2014 Na imprensa internacional, a questão foi abordada tanto do ponto de vista político, dando atenção à persistência da corrupção na máquina estatal brasileira, quanto do econômico – afinal, o valor das ações da Petrobras despencou, e a companhia não pôde apresentar seus resultados trimestrais no prazo pela recusa da companhia de auditoria PricewaterhouseCoopers em aprovar o balanço. Como um terremoto, o escândalo [na Petrobras] deverá ter várias réplicas, o que compromete tanto o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff quanto a retomada do crescimento [econômico]. LE MONDE, 23 DE DEZEMBRO DE 2014 “ É IMPOSSÍVEL SEPARAR O EX-PRESIDENTE LULA DO CASO QUE SACODE A PETROBRAS E DAS RAMIFICAÇÕES QUE O ESCÂNDALO ESTÁ REVELANDO. EL PAÍS, 27 DE NOVEMBRO DE 2014 No El País, o colunista Juan Arias cobrou explicações do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (2004-2010). “Mais talvez do que Dilma, que na verdade sempre foi subordinada a seu criador Lula, é ele quem deveria tranquilizar uma sociedade incrédula com o que está se passando.” O impacto sobre os negócios da Petrobras também não foi deixado de lado. No final do ano, o Financial Times argumentava, no texto “Petrobras risks becoming investment pariah”, que a estatal foi arremessada a uma situação desordenada pelas investigações da Polícia Federal. O PREÇO DAS RECENTES DECISÕES POLÍTICAS NO SETOR DE PETRÓLEO SE TORNOU INSUPORTÁVEL, PARTICULARMENTE PARA A GIGANTE ESTATAL PETROBRAS. EURASIA GROUP EM ARTIGO PARA O THE NEW YORK TIMES, 23 DE OUTUBRO DE 2014 9 ‘ Com a deterioração dos indicadores da economia brasileira, o principal foco do olhar internacional recaiu sobre a área de negócios – e de forma positiva. Isso ficou claro em especial no setor de telecomunicações, com as negociações para a compra da PT Portugal, braço da Oi com operações em Portugal e África, pela Altice; as movimentações da Oi, em conjunto com a Telefónica e a América Móvil, para a aquisição da Tim da Telecom Itália; e a aprovação, pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), da compra da GVT pela Vivo. Completaram este cenário a oferta conjunta de Cutrale e Safra pela Chiquita Brands e as conversas entre o empresário Abilio Diniz e o Carrefour Brasil – que levariam o empresário brasileiro a controlar a unidade do grupo francês. Outro exemplo deste descolamento da economia do governo e a das empresas na percepção internacional foi a atenção gerada pela compra do edifício Gherkin – marco arquitetônico em Londres – pelo banco Safra. “ APESAR DE TODOS OS SINAIS RECENTES, AINDA HÁ DÚVIDAS SE OS PRÓXIMOS AJUSTES NA POLÍTICA ECONÔMICA IRÃO RECEBER O NECESSÁRIO APOIO DO GOVERNO, EM UM AMBIENTE POLÍTICO MENOS FAVORÁVEL. BBVA, BRAZIL ECONOMIC WATCH, 17 DE DEZEMBRO DE 2014 Reprodução NEGOCIOS EM ALTA FT, 11 DE NOVEMBRO DE 2014 O futuro chegou e, infelizmente para países como o Brasil, está carregado de dívidas de consumo após uma prolongada embriaguez de crédito. FINANCIAL TIMES, 31 DE OUTUBRO DE 2014 No entanto, as perspectivas negativas com relação à economia predominaram. Para Roberto Vecchi, da Universidade de Bolonha (Itália), o quadro do quarto trimestre seria caracterizado pela “queda no crescimento e pela influência das circunstâncias políticas no contexto político”; da mesma forma, Roberto Durán, da Pontificia Universidade Católica (Chile), ponderou que existe uma ausência de políticas definidas para se recuperar a economia, “ainda que se suponha que, com a nomeação do atual ministro da Fazenda, o panorama deverá ficar mais claro – particularmente no que se refere ao investimento estrangeiro em setores cuja retomada implicaria uma reação de forte e quase imediata expansão econômica”. CALOR E DESMATAMENTO Em meio ao aumento nas temperaturas no Brasil e a situação de seca de diversos reservatórios de água da região Sudeste, o desmatamento da floresta amazônica foi lembrado como um fator de peso nos desequilíbrios ambientais recentes. O The Wall Street Journal divulgou o estudo O Futuro Climático da Amazônia, do cientista Antonio Donato Nobre – pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) -, que relacionou os dois fenômenos. A reportagem deixou claro que, apesar do “grande apoio científico às principais conclusões” do relatório, as autoridades brasileiras continuam negando a influência do desmatamento sobre o clima. “A Amazônia é uma questão sensível para muitos brasileiros. Muitos têm profundamente arraigada a crença de que os países desenvolvidos, incluindo os EUA, cobiçam a região e buscam obter seu controle”, acrescentou o texto. O estudo também foi abordado em jornais como o Le Monde e o El País. 10 Reprodução A questão social novamente se provou uma vulnerabilidade à qual a imagem do Brasil é sempre associada no exterior. As operações da Polícia Militar nas favelas do Rio de Janeiro, a questão dos abortos clandestinos, o vigilantismo nas grandes cidades, o déficit habitacional e a ausência de documentos de identidade na população carcerária brasileira foram alguns dos tópicos abordados no período. No entanto, os avanços recentes ainda chamam a atenção – especialmente em razão das exigências que a “nova classe C” deverá fazer ao Estado. “Há uma expansão notável no volume da classe média urbana, o que implica no crescimento substancial da demanda destes setores. Melhores salários, sistemas sociais ao alcance da população mais carente, melhorias na educação superior e técnica não são exigências menores”, afirmou Roberto Durán, da Pontificia Universidad Católica do Chile, comparando esta situação à vivida pelo Chile em 2011 e à vivida hoje na China. EL PAÍS, 1 DE DEZEMBRO DE 2014 PARA GARANTIR A ESTABILIDADE ECONÔMICA E OS LUCROS EMPRESARIAIS, TAMBÉM É NECESSÁRIO PRESERVAR A TRANQUILIDADE SOCIAL. SOBRETUDO EM UM PAÍS COM UMA LARGA HISTÓRIA DE DESIGUALDADES. CLARÍN, 27 DE NOVEMBRO DE 2014 O que vem por aí Alguns dos temas que poderão continuar presentes no primeiro trimestre de 2015 são: • A desaceleração econômica do Brasil; • A nova composição ministerial de Dilma Rousseff; e • Os desdobramentos do Caso Petrobras. Outros assuntos que poderão ganhar força entre janeiro e março deste ano incluem: • A crise no abastecimento de água no estado de São Paulo; • Os reajustes de combustíveis e energia no Brasil; • A proposta de elevação na alíquota de impostos; • Possíveis problemas no fornecimento de energia elétrica. • A escolha da senadora Kátia Abreu (PMDB-GO) para ocupar o Ministério da Agricultura. Percebida no Brasil e no exterior como defensora do agronegócio, a ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) já presidiu a bancada ruralista do Congresso Nacional, que busca barrar quaisquer limitações de ordem ambiental ao desenvolvimento da atividade agrícola. 11 • The New York Times (EUA); e O I See Brazil é produzido pela agência de comunicação Imagem Corporativa com a finalidade de mostrar como está a imagem do Brasil em outros países, reunindo e analisando referências à política, à economia e aos assuntos socioambientais. Os resultados são ponderados e geram uma nota de zero a dez – o I See Brazil Index – que traduz como o país foi visto no exterior naquele trimestre. Sua metodologia leva em conta a avaliação dos principais veículos da imprensa internacional e de uma equipe de especialistas de outros países. • The Wall Street Journal (EUA). Além disso, o boletim traz os resultados de uma pesquisa feita com especialistas internacionais que opinaram sobre a imagem do país. Participaram desta edição Markus Fraundorfer, do Institute of Latin American Studies - German Institute of Global and Area Studies – Giga (Alemanha); Mary Paula Arends-Kuenning, do Lemann Institute for Brazilian Studies da Universidade de Illinois (EUA); Roberto Durán, do Instituto de Ciência Política da Pontificia Universidad Católica do Chile (Chile); Roberto Vecchi, do Departamento de Línguas, Literatura e Cultura da Universidade de Bolonha (Itália); Stephanie Dennison, da Leeds University (Reino Unido); e Zhou Zhiwei, do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto da América Latina, Academia Chinesa de Ciências Sociais (China). O I See Brazil analisa as reportagens sobre o Brasil, publicadas entre julho e setembro de 2014, por oito veículos internacionais de imprensa: • Clarín (Argentina); • Der Spiegel (Alemanha); • El País (Espanha); Foram considerados ainda relatórios e análises sobre o Brasil elaborados pelo Deutsche Bank, Citibank, BBVA, Eurasia Group, Center of Strategic and International Studies (CSIS), Moody’s e Standard & Poor’s. • Financial Times (Reino Unido); • Le Monde (França); • The Economist (Reino Unido); 12