I See Brazil

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ABr - Antonio Cruz
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ABr - Antonio Cruz
Edição no 04 | 4o trimestre de 2014
IMAGEM EXTERNA DO BRASIL
PIORA EM 2014
Olhar internacional mais crítico no ano passado leva I See Brazil Index a registrar 3,77 pontos
A
percepção do Brasil no exterior não é mais tão positiva quanto há alguns anos – e isto ficou bem claro
no ano passado. Ao longo de 2014, diversos acontecimentos chamaram a atenção sobre o país, como
a Copa do Mundo de Futebol, as eleições presidenciais, as incertezas na economia e a Cúpula dos Brics
em Fortaleza (CE). No entanto, o olhar internacional seguiu uma tendência mais crítica.
Como comparação, em 2009 – quando a Imagem Corporativa lançou a newsletter Boletim Brasil – a imagem do
Brasil no exterior era bastante positiva. Naquele ano, a visibilidade do país era beneficiada pelo crescimento
econômico e pelo seu protagonismo em diversos fóruns internacionais (com destaque para a Conferência
sobre Mudanças Climáticas – a COP-15). Foi naquele ano que a revista britânica The Economist publicou sua
emblemática capa do Cristo Redentor decolando – simbolizando a arrancada da economia brasileira. Em 2009,
81% das reportagens publicadas no exterior sobre o Brasil apresentaram teor positivo. Esta percepção se
manteria em 2010, mas foi encolhendo ano a ano – chegando a 2014 a seu nível mais baixo, quando apenas
45,5% dos textos mostraram uma visão favorável do país.
1
PANORAMA
Após terem sido lançadas quatro edições adotando a metodologia do I See Brazil Index é possível mensurar
de forma precisa como a imagem do Brasil no exterior foi impactada ao longo de 2014. O índice, que pondera
as avaliações da imprensa e dos especialistas internacionais e atribui uma nota à percepção do país no
exterior, atingiu 3,775 pontos. Vale lembrar que, em uma escala de zero a dez pontos (0 = extremamente
negativa; 10 = extremamente positiva), apenas os resultados acima de 5 são considerados positivos. A
percepção externa diante de temas relacionados à política obteve uma nota acima da média geral, com
4,443 pontos; o mesmo ocorreu no que se refere ao tema economia, que atingiu 4,088 pontos. Os assuntos
socioambientais, contudo, tiveram a pior classificação, não ultrapassando 2,999 pontos no ano.
2
Nas 1.726 reportagens publicadas pela imprensa internacional e analisadas pelo I See Brazil Index fica nítido
que houve um interesse maior sobre assuntos ligados à economia (45,57% do total) – com destaque para
negócios, perspectivas a respeito dos indicadores macroeconômicos do Brasil e investimentos. Em razão das
eleições, das críticas às obras governamentais ligadas à Copa do Mundo e o surgimento do Caso Petrobras,
temas relacionados à política também tiveram uma exposição considerável no ano (38,33%). Já a pauta de
assuntos socioambientais não ultrapassou 16,09% dos textos publicados no período.
COPA DO MUNDO
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Apesar de relacionado à esfera esportiva, o assunto teve
um impacto bastante forte sobre a percepção externa
a respeito de temas ligados à política e a questões
socioambientais. Isto porque já havia na sociedade
brasileira, desde as manifestações de junho de 2013,
um grande descontentamento popular diante dos
investimentos federais para a construção dos estádios
onde seriam realizados os jogos. Slogans pedindo
serviços públicos como saúde, segurança e educação no
“padrão Fifa” viraram lugar-comum.
CLARÍN, 17 DE MAIO DE 2014
Em paralelo a isso, as obras sofreram atrasos consideráveis –
colocando em dúvida se o Brasil teria efetivamente condições
de sediar os jogos. Esse estado de incerteza se estendia à
infraestrutura de transportes do país, sobre a qual pesavam
críticas de que não seria capaz de atender ao fluxo extra de
turistas nos meses da Copa. Greves dos metroviários de São
Paulo, motoristas e cobradores de ônibus em Salvador (BA) e
funcionários de aeroportos só contribuíam para elevar o temor
de que o evento seria um fracasso.
3
Rafael Ribeiro - CBF
DESTAQUES DO ANO
Fernando Frazão – ABr
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ECONOMIST, 12 DE JULHO DE 2014
Essa percepção negativa só mudaria durante e após o evento – quando, no final das contas, o caos que se
esperava não se concretizou. A cordialidade dos brasileiros ao receberem os turistas estrangeiros e o correto
funcionamento da malha de transportes durante a Copa deram um tom positivo ao olhar externo. No final, o
Brasil ganhou a Copa – ao menos fora dos gramados.
MACROECONOMIA
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O desencanto externo já havia se mostrado claro em setembro de 2013, quando a revista The Economist
dedicou uma capa à deterioração da economia brasileira (cuja ilustração, por sua vez, fazia referência à
clássica imagem do Cristo Redentor prestes a decolar, de 2008 – quando o país era visto como a “bola da vez”).
Neste ano essa percepção só se aprofundou – com a divulgação do fraco crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB) em 2013, e a perda de dinamismo da economia brasileira na comparação com outros países
emergentes. Logo no início do ano, a agência classificadora de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota do
Brasil, deixando o país próximo de perder o investment grade.
Houve uma ligeira melhora nesta percepção no segundo trimestre,
quando o país ainda era visto como destino de investimentos – ainda
que análises pessimistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do
Banco Mundial ainda gerassem preocupação com as perspectivas do
Brasil. Na segunda metade do ano, contudo, predominou um olhar
mais crítico com relação ao futuro – fortemente vinculado ao cenário
eleitoral e às diferentes visões da economia praticadas pelos três
principais candidatos – a presidente Dilma Rousseff e os oposicionistas
Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB).
Reprodução
Uma mudança começou a surgir em dezembro, quando se anunciou
a nova equipe econômica. De caráter menos intervencionista (e mais
THE ECONOMIST, 18 DE OUTUBRO DE 2014
amigável ao mercado), o ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, recebeu elogios
– ainda que tenham sido levantadas
dúvidas sobre a disposição da presidente
Dilma Rousseff em apoiar esse novo
direcionamento da política econômica.
FT, 24 DE SETEMBRO DE 2014
4
‘
ELEICOES PRESIDENCIAIS
Reprodução
‘
Praticamente ausente do radar internacional
no primeiro semestre, a disputa eleitoral para
a Presidência da República ganhou contornos
dramáticos já em agosto. Se antes considerava-se a
vitória da presidente Dilma Rousseff como certa, a
morte do candidato Eduardo Campos (PSB) lançou
sérias dúvidas sobre o resultado. Sua vice, a exsenadora Marina Silva (PSB), ganhou os holofotes
imediatamente, encarnando o desejo por mudanças
dos brasileiros, passou a ser vista como uma “terceira
via” mais promissora do que a reeleição da presidente
ou a vitória do candidato Aécio Neves (PSDB).
ECONOMIST, 11 DE OUTUBRO DE 2014
Do ponto de vista internacional, Marina Silva contava
ainda como vantagens sua trajetória de defesa do meio ambiente. A oposição existente entre ela e Dilma
Rousseff quando ambas estavam no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (como ministras do Meio
Ambiente e da Casa Civil, respectivamente) foi usada como exemplo dos diferentes enfoques das candidatas,
e Marina Silva foi vista com simpatia no exterior.
José Cruz - ABr
Ichiro Guerra
Igo Estrela
As reviravoltas na preferência do eleitorado, que levariam à queda de Marina Silva nas pesquisas e a um
acirrado embate entre Dilma Rousseff e Aécio Neves no segundo turno das eleições, mantiveram o interesse
externo no assunto. No final, a reeleição da presidente gerou posicionamentos críticos – a revista The
Economist, por exemplo, assumiu ter apoiado Aécio Neves e considerou o resultado contraditório com
o desejo dos brasileiros por mudanças, ao passo que o Financial Times apontou a existência de um “país
dividido” após as eleições.
CASO PETROBRAS
Ag. Petrobras
As denúncias da existência de um esquema de
corrupção na Petrobras, feitas inicialmente pelo
ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa
(que envolveram o doleiro Alberto Yousseff e
representantes de empresas com contratos com a
Petrobras), provocaram uma série de análises sobre
a extensão da corrupção no Brasil. De menções
feitas na campanha do segundo turno das eleições,
o assunto foi ganhando cada vez mais relevância na
percepção externa do Brasil; a prisão de dezenas de
executivos de companhias que teriam participado
do esquema, em novembro, contribuiu para tornar o
Caso Petrobras recorrente na imprensa internacional.
Refinaria Abreu e Lima
5
Reprodução
WSJ, 16 DE DEZEMBRO DE 2014
LE MONDE, 8 DE
SETEMBRO DE 2014
Dado o potencial de dano à imagem brasileira, tanto do
ponto de vista político quanto econômico, o escândalo da
Petrobras deverá se manter em 2015
como um fator que irá determinar –
ou pelos menos influenciar de forma
bastante acentuada – a percepção
externa em torno do país no exterior.
Levando-se em conta que não teremos
neste ano eventos que permitam uma
exposição positiva do Brasil (a não ser
a Cúpula Climática de Paris – e isso se
o país se destacar nas negociações), e
tendo em vista um cenário de letargia
da economia, a tendência é que
persista um viés desfavorável ao longo
do ano, influenciado fortemente pelas
denúncias de corrupção na estatal.
A IMAGEM DO BRASIL
NO 4O TRIMESTRE DE 2014
PANORAMA
No quarto trimestre de 2014, o I See Brazil Index - metodologia do I See Brazil que pondera as avaliações
da imprensa e dos especialistas internacionais e atribui uma nota à percepção do país no exterior –
reverteu o resultado observado na última edição e atingiu o menor nível do ano: 3,125 pontos entre
outubro e dezembro de 2014, em uma escala de zero a dez pontos (0 = extremamente negativa; 10 =
extremamente positiva), na qual as notas acima de 5 são consideradas positivas. Este indicador representa uma queda de 1,877 ponto na comparação com o 3º trimestre do ano, quando
o I See Brazil Index foi de 5,002 pontos – o maior resultado de 2014. Isto indica que, após a atenção (e
simpatia) externa acarretada pela realização da Copa do Mundo e pelo início da disputa eleitoral no Brasil,
o olhar internacional voltou a exibir um certo pessimismo com relação ao país.
As denúncias de corrupção antes e depois das eleições presidenciais
de outubro (culminando no escândalo da Petrobras) e o fraco
desempenho da economia brasileira (e as perspectivas pessimistas
para 2015) foram fatores que influenciaram a percepção, tanto da
mídia quanto de especialistas internacionais, durante o período.
As reviravoltas no cenário eleitoral deram o tom das matérias sobre
política – e as revelações em torno das irregularidades na Petrobras
direcionaram esta percepção para o campo negativo. As dificuldades
trazidas à governabilidade por uma Câmara dos Deputados com um
número excessivamente alto de partidos políticos e a falta de punição
aos torturadores apontados pelo relatório apresentado no final do
6
“
A TRADICIONAL
RESISTÊNCIA DO
GOVERNO EM DIMINUIR
OS GASTOS PÚBLICOS
IRÁ CONTINUAR A
DRENAR A ECONOMIA
DO PAÍS.
CSIS, “DOES DILMA’S REELECTION
MEAN MORE OF THE SAME FOR
BRAZIL?”, 27 DE OUTUBRO DE 2014
ano pela Comissão Nacional da Verdade também tiveram impacto sobre a percepção externa. Assim, o
I See Brazil Index de Política foi o que apresentou o pior resultado do período: caiu de 5,88 pontos (a
maior nota do terceiro trimestre, considerando um grupo que reúne ainda o Index de Economia e o Index
Socioambiental) para 2,80 pontos – o menor indicador do último trimestre de 2014.
Na economia, o viés negativo permaneceu, mas a queda da nota do I See Brazil Index foi menor –
passando de 3,99 para 3,76 pontos no quarto trimestre. Mesmo com a deterioração dos indicadores
econômicos (inflação em alta, elevação dos juros, baixas perspectivas de crescimento econômico e
previsões pessimistas para 2015), ocorreram fatos no período que
mostraram um lado favorável da economia e das empresas brasileiras
Parece que a
– como o interesse gerado em torno do setor de telefonia no Brasil e a
presidente Rousseff
oferta para aquisição da Chiquita Brands. Mas há a percepção de que
finalmente aceitou
2015 será um ano difícil– como opinou no jornal El País o economista
tacitamente os
Thomas Piketty (autor do livro O Capital no Século XXI). “Estes frágeis
equívocos de sua
sucessos sociais [dos últimos anos] estão ameaçados por fatores
política econômica.
internacionais que afetam gravemente a economia brasileira, e a
THE ECONOMIST,
empurram rumo à recessão; e, sobretudo, pelas enormes desigualdades
29 DE NOVEMBRO DE 2014
que ainda perduram no país.”
A percepção da imprensa estrangeira e dos especialistas internacionais com relação a temas socioambientais
voltou a cair, passando de 3,8 para 2,9 pontos no quarto trimestre. Contribuíram para isso: a violência nas
grandes cidades; a crise no fornecimento de água no estado de São Paulo (e a relação entre o desmatamento
da floresta amazônica e a seca na região Sudeste); e os dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(Ipea), apontando o aumento no número de pessoas em situação de pobreza extrema no país.
NÃO ESPERAMOS QUE O BRASIL TENHA RACIONAMENTO DE ENERGIA EM 2015 PORQUE
O GOVERNO, ATÉ AGORA, TEM SIDO BEM-SUCEDIDO EM EVITAR TAL MEDIDA.
S&P, OUTLOOK FOR BRAZIL’S RATED ISSUERS, 1º DE DEZEMBRO DE 2014
7
ESPERANCA
E MEDO
‘
Considerada tanto por observadores do
país quanto internacionais como a disputa
presidencial mais acirrada desde 1989, a
corrida pelo Palácio do Planalto teve seu
desfecho no início do período analisado por
este I See Brazil. Com a saída da candidata
Marina Silva (PSB) da disputa no segundo turno
das eleições, a presidente Dilma Rousseff e o
oposicionista Aécio Neves subiram o tom das
críticas recíprocas – levando a um estado de
divisão na sociedade brasileira, de acordo
com alguns analistas políticos.
Considerando a distribuição dos governos
eleitos de acordo com seu posicionamento
em relação à administração federal, o
resultado do segundo turno das eleições
manteve praticamente inalterada a
distribuição de forças entre governo e
oposição, com algum avanço do primeiro em
detrimento do segundo.
CREDIT SUISSE, MACRO BRASIL, 27 DE OUTUBRO DE 2014
Após a reeleição de Dilma Rousseff, o foco passou para a gradual composição dos ministérios – cujos
primeiros nomes foram os da equipe econômica. Joaquim Levy (ministro da Fazenda), Nelson Barbosa
(Planejamento) e Alexandre Tombini (que permaneceu no Banco Central) foram bem recebidos no exterior.
Valter Campanato – ABr
“
2015 PARECE SER UM
ANO BEM DIFÍCIL PARA A
ECONOMIA BRASILEIRA EM
PARTICULAR, À MEDIDA EM
QUE A TAXA ENTRE O ALTO
GASTO PÚBLICO E O PIB IRÁ
PROVAVELMENTE LEVAR
A UMA CONSOLIDAÇÃO
FISCAL GRADUAL.
CITIBANK, MARKET OUTLOOK,
OUTUBRO DE 2014
Mas a imprensa internacional também dedicou
espaço para os esforços dos parlamentares para
elevarem seus rendimentos. “Aproveitando uma
época no Brasil na qual muitas pessoas se preparam
para sair de férias, os líderes do Congresso
buscam aumentar seus próprios salários em pelo
menos 34%, para US$ 187 mil por ano”, noticiou
o The New York Times. Não escapou ao jornal a
contradição desse movimento do Legislativo com a
preocupação expressa na campanha eleitoral com o
déficit orçamentário, ou a indicação de um ministro
da Fazenda tido como favorável ao corte de gastos
públicos. Acrescentando que os parlamentares
ganhariam mais do que os dos EUA, a reportagem
pondera que esse tipo de iniciativa aumentaria o
ressentimento do país com os políticos de Brasília.
ALÉM DISSO, CONTINUAMOS
CÉTICOS A RESPEITO DO PANORAMA
PARA [REALIZAÇÃO DAS] REFORMAS,
INDEPENDENTEMENTE DE QUEM
GANHAR A ELEIÇÃO, ESPECIALMENTE
CONSIDERANDO QUE AS ELEIÇÕES
LEGISLATIVAS OCORRIDAS EM 5
DE OUTUBRO AUMENTARAM A
FRAGMENTAÇÃO NAS DUAS CASAS
[DO CONGRESSO]. NA CÂMARA DOS
DEPUTADOS, POR EXEMPLO, 28 PARTIDOS
POLÍTICOS SERÃO REPRESENTADOS.
DEUTSCHE BANK, SPECIAL REPORT - BRAZIL
ECONOMIC UPDATE, 10 DE OUTUBRO DE 2014
8
Reprodução
CASO PETROBRAS
O assunto ganhou desdobramentos importantes ao
longo do trimestre, com a prisão de executivos de
empreiteiras envolvidas e o início de investigações
pelo Departamento de Justiça dos EUA e pela
Securities and Exchange Comission (SEC).
A contínua atenção externa ao assunto foi
apontada pelos especialistas consultados pelo I
See Brazil. “A corrupção na Petrobras aumenta o
risco de instabilidade política [no Brasil]”, avaliou
o professor Zhiwei Zhou, do Centro de Estudos
Brasileiros do Instituto da América Latina, da
Academia Chinesa de Ciências Sociais.
FT, 30 DE DEZEMBRO DE 2014
O panorama de médio prazo para a economia brasileira permanece negativo, uma condição
que poderá se tornar mais complexa pelas investigações de corrupção na Petrobras.
MOODY’S, GLOBAL CREDIT RESEARCH, 16 DE DEZEMBRO DE 2014
Na imprensa internacional, a questão foi abordada tanto
do ponto de vista político, dando atenção à persistência
da corrupção na máquina estatal brasileira, quanto
do econômico – afinal, o valor das ações da Petrobras
despencou, e a companhia não pôde apresentar seus
resultados trimestrais no prazo pela recusa da companhia de
auditoria PricewaterhouseCoopers em aprovar o balanço.
Como um terremoto, o
escândalo [na Petrobras]
deverá ter várias réplicas,
o que compromete tanto
o segundo mandato da
presidente Dilma Rousseff
quanto a retomada do
crescimento [econômico].
LE MONDE, 23 DE DEZEMBRO DE 2014
“
É IMPOSSÍVEL SEPARAR O
EX-PRESIDENTE LULA DO CASO
QUE SACODE A PETROBRAS E DAS
RAMIFICAÇÕES QUE O ESCÂNDALO
ESTÁ REVELANDO.
EL PAÍS, 27 DE NOVEMBRO DE 2014
No El País, o colunista Juan Arias cobrou explicações do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (2004-2010). “Mais talvez
do que Dilma, que na verdade sempre foi subordinada a seu
criador Lula, é ele quem deveria tranquilizar uma sociedade
incrédula com o que está se passando.”
O impacto sobre os negócios da Petrobras também não
foi deixado de lado. No final do ano, o Financial Times
argumentava, no texto “Petrobras risks becoming investment
pariah”, que a estatal foi arremessada a uma situação
desordenada pelas investigações da Polícia Federal.
O PREÇO DAS RECENTES DECISÕES POLÍTICAS NO SETOR DE PETRÓLEO SE TORNOU
INSUPORTÁVEL, PARTICULARMENTE PARA A GIGANTE ESTATAL PETROBRAS.
EURASIA GROUP EM ARTIGO PARA O THE NEW YORK TIMES, 23 DE OUTUBRO DE 2014
9
‘
Com a deterioração dos indicadores da economia
brasileira, o principal foco do olhar internacional recaiu
sobre a área de negócios – e de forma positiva. Isso
ficou claro em especial no setor de telecomunicações,
com as negociações para a compra da PT Portugal,
braço da Oi com operações em Portugal e África, pela
Altice; as movimentações da Oi, em conjunto com
a Telefónica e a América Móvil, para a aquisição da
Tim da Telecom Itália; e a aprovação, pela Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel), da compra
da GVT pela Vivo. Completaram este cenário a oferta
conjunta de Cutrale e Safra pela Chiquita Brands
e as conversas entre o empresário Abilio Diniz e o
Carrefour Brasil – que levariam o empresário brasileiro
a controlar a unidade do grupo francês. Outro exemplo
deste descolamento da economia do governo e a das
empresas na percepção internacional foi a atenção
gerada pela compra do edifício Gherkin – marco
arquitetônico em Londres – pelo banco Safra.
“
APESAR DE TODOS OS
SINAIS RECENTES, AINDA
HÁ DÚVIDAS SE OS
PRÓXIMOS AJUSTES NA
POLÍTICA ECONÔMICA IRÃO
RECEBER O NECESSÁRIO
APOIO DO GOVERNO, EM
UM AMBIENTE POLÍTICO
MENOS FAVORÁVEL.
BBVA, BRAZIL ECONOMIC WATCH,
17 DE DEZEMBRO DE 2014
Reprodução
NEGOCIOS EM ALTA
FT, 11 DE
NOVEMBRO
DE 2014
O futuro chegou e,
infelizmente para países
como o Brasil, está carregado
de dívidas de consumo após
uma prolongada embriaguez
de crédito.
FINANCIAL TIMES, 31 DE OUTUBRO DE 2014
No entanto, as perspectivas negativas com relação à economia
predominaram. Para Roberto Vecchi, da Universidade de Bolonha
(Itália), o quadro do quarto trimestre seria caracterizado pela “queda
no crescimento e pela influência das circunstâncias políticas no
contexto político”; da mesma forma, Roberto Durán, da Pontificia
Universidade Católica (Chile), ponderou que existe uma ausência
de políticas definidas para se recuperar a economia, “ainda que se
suponha que, com a nomeação do atual ministro da Fazenda, o
panorama deverá ficar mais claro – particularmente no que se refere
ao investimento estrangeiro em setores cuja retomada implicaria uma
reação de forte e quase imediata expansão econômica”.
CALOR E DESMATAMENTO
Em meio ao aumento nas temperaturas no Brasil e a situação de seca de diversos reservatórios de água
da região Sudeste, o desmatamento da floresta amazônica foi lembrado como um fator de peso nos
desequilíbrios ambientais recentes. O The Wall Street Journal divulgou o estudo O Futuro Climático
da Amazônia, do cientista Antonio Donato Nobre – pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) -, que relacionou os dois fenômenos.
A reportagem deixou claro que, apesar do “grande apoio científico às principais conclusões” do relatório, as
autoridades brasileiras continuam negando a influência do desmatamento sobre o clima. “A Amazônia é uma
questão sensível para muitos brasileiros. Muitos têm profundamente arraigada a crença de que os países
desenvolvidos, incluindo os EUA, cobiçam a região e buscam obter seu controle”, acrescentou o texto. O
estudo também foi abordado em jornais como o Le Monde e o El País.
10
Reprodução
A questão social novamente se provou uma vulnerabilidade
à qual a imagem do Brasil é sempre associada no exterior. As
operações da Polícia Militar nas favelas do Rio de Janeiro, a
questão dos abortos clandestinos, o vigilantismo nas grandes
cidades, o déficit habitacional e a ausência de documentos
de identidade na população carcerária brasileira foram alguns
dos tópicos abordados no período. No entanto, os avanços
recentes ainda chamam a atenção – especialmente em razão
das exigências que a “nova classe C” deverá fazer ao Estado.
“Há uma expansão notável no volume da classe média urbana,
o que implica no crescimento substancial da demanda destes
setores. Melhores salários, sistemas sociais ao alcance da
população mais carente, melhorias na educação superior e
técnica não são exigências menores”, afirmou Roberto Durán,
da Pontificia Universidad Católica do Chile, comparando esta
situação à vivida pelo Chile em 2011 e à vivida hoje na China.
EL PAÍS, 1 DE DEZEMBRO DE 2014
PARA GARANTIR A ESTABILIDADE ECONÔMICA E OS LUCROS EMPRESARIAIS,
TAMBÉM É NECESSÁRIO PRESERVAR A TRANQUILIDADE SOCIAL. SOBRETUDO
EM UM PAÍS COM UMA LARGA HISTÓRIA DE DESIGUALDADES.
CLARÍN, 27 DE NOVEMBRO DE 2014
O que vem por aí
Alguns dos temas que poderão continuar presentes no primeiro
trimestre de 2015 são:
• A desaceleração econômica do Brasil;
• A nova composição ministerial de Dilma Rousseff; e
• Os desdobramentos do Caso Petrobras.
Outros assuntos que poderão ganhar força entre janeiro e março
deste ano incluem:
• A crise no abastecimento de água no estado de São Paulo;
• Os reajustes de combustíveis e energia no Brasil;
• A proposta de elevação na alíquota de impostos;
• Possíveis problemas no fornecimento de energia elétrica.
• A escolha da senadora Kátia Abreu (PMDB-GO) para ocupar o Ministério
da Agricultura. Percebida no Brasil e no exterior como
defensora do agronegócio, a ex-presidente da
Confederação Nacional da Agricultura (CNA) já presidiu
a bancada ruralista do Congresso Nacional, que busca
barrar quaisquer limitações de ordem ambiental ao
desenvolvimento da atividade agrícola.
11
• The New York Times (EUA); e
O I See Brazil é produzido pela agência de comunicação
Imagem Corporativa com a finalidade de mostrar como
está a imagem do Brasil em outros países, reunindo e
analisando referências à política, à economia e aos assuntos socioambientais. Os resultados são ponderados
e geram uma nota de zero a dez – o I See Brazil Index
– que traduz como o país foi visto no exterior naquele trimestre. Sua metodologia leva em conta a avaliação dos
principais veículos da imprensa internacional e de uma
equipe de especialistas de outros países.
• The Wall Street Journal (EUA).
Além disso, o boletim traz os resultados de uma pesquisa feita com especialistas internacionais que opinaram
sobre a imagem do país. Participaram desta edição Markus Fraundorfer, do Institute of Latin American Studies
- German Institute of Global and Area Studies – Giga
(Alemanha); Mary Paula Arends-Kuenning, do Lemann
Institute for Brazilian Studies da Universidade de Illinois
(EUA); Roberto Durán, do Instituto de Ciência Política da
Pontificia Universidad Católica do Chile (Chile); Roberto
Vecchi, do Departamento de Línguas, Literatura e Cultura da Universidade de Bolonha (Itália); Stephanie Dennison, da Leeds University (Reino Unido); e Zhou Zhiwei,
do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto da América
Latina, Academia Chinesa de Ciências Sociais (China).
O I See Brazil analisa as reportagens sobre o Brasil, publicadas entre julho e setembro de 2014, por oito veículos internacionais de imprensa:
• Clarín (Argentina);
• Der Spiegel (Alemanha);
• El País (Espanha);
Foram considerados ainda relatórios e análises sobre o
Brasil elaborados pelo Deutsche Bank, Citibank, BBVA,
Eurasia Group, Center of Strategic and International Studies (CSIS), Moody’s e Standard & Poor’s.
• Financial Times (Reino Unido);
• Le Monde (França);
• The Economist (Reino Unido);
12
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