Fragmentação de habitats e a diversidade de morcegos no sudeste brasileiro, com ênfase para o Estado de São Paulo Wagner André Pedro Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, São José do Rio Preto, SP. Professor Adjunto do Departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal, Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, Araçatuba, SP, 16050-680 ______________________________________________________________________ *Corresponding author. Email: [email protected] Por que algumas espécies de morcegos são mais abundantes que outras, havendo menos espécies “abundantes” do que o esperado pelo acaso e, inversamente, mais espécies “raras” do que o esperado pelo acaso, nas comunidades de morcegos em geral? Os dados publicados sobre a estrutura das comunidades de morcegos refletem a realidade em termos de riqueza e abundância de espécies? São os Molossidae e Vespertilionidae subamostrados? E as demais famílias? Quais as implicações dessas considerações? Para que possamos manter a diversidade tropical, devemos, em um sentido amplo, conhecer as alterações ecológicas que as populações e as comunidades sofrem, devido à fragmentação de hábitats, e assim, identificar os mecanismos de perda de espécies decorrentes desse processo. Algumas localidades na América do Sul, cobertas por florestas, contêm acima de 70 espécies de morcegos. Co-ocorrência ou co-existência? Assembléia ou comunidade? No Brasil, pode-se afirmar que poucas espécies adaptamse a ambientes modificados pelo homem ou urbanos. Aproximadamente apenas 20% da quiropterofauna nacional beneficiam-se das atividades humanas, enquanto que a maioria é dependente, em maior ou menor grau, de áreas florestais para conseguir alimento e/ou abrigo. Muitas espécies de morcegos parecem ser capazes de coexistir em pequenos fragmentos florestais. A alta mobilidade, dada à capacidade de voar, e o oportunismo na exploração de diferentes recursos espaciais e tróficos, pode ser a causa da fraqueza obtida, em geral, nas relações entre tamanho da área e riqueza em espécies de morcegos. Contudo, incluindo-se os dados de áreas acima de 10 mil ha, a relação entre a riqueza estimada em espécies e o tamanho da área é positiva e significativa. Portanto, a preservação de grandes áreas florestais pode maximizar a conservação da diversidade em Chiroptera. Uma multiplicidade de processos e fatores parece estar envolvidos e relacionados na determinação da estrutura dos conjuntos taxonômicos de morcegos, como competição, mutualismo, disponibilidade de abrigos e de recursos, habilidades de dispersão e outros aspectos ligados à própria história natural das espécies. A abundância local, em morcegos de áreas florestais brasileiras, parece sofrer uma forte influência da posição da espécie na cadeia trófica. As espécies frugívoras, consumidoras primárias, são as mais abundantes e, aparentemente, menos sensíveis à redução do tamanho das áreas florestais (fragmentação de hábitat). As espécies insetívoras, consumidoras secundárias e terciárias, seriam mais sensíveis, desaparecendo nos fragmentos menores. Devido à particularidade do vôo, e conseqüente grande mobilidade dos morcegos, pequenos fragmentos próximos podem favorecer o deslocamento dos quirópteros nesse mosaico de florestas, e maximizar a diversidade em espécies. Devem ser estimuladas ações para a recuperação das matas-de-galeria, uma vez que elas concentram boa parte dos recursos alimentares em florestas, e representam corredores que ligam diferentes fragmentos. É fundamental a proteção das áreas florestadas remanescentes, uma vez que 19 apenas 20% das espécies de morcegos no Brasil parecem ser capazes de viver em ambientes urbanos, periurbanos e rurais. Considerando-se apenas o estado de São Paulo, que inclui aproximadamente 70 espécies de morcegos, a conservação de áreas florestadas pode representar a preservação de cerca de 40 espécies, as quais são dependentes de recursos típicos das florestas. Estas espécies, devido às suas atividades, seja como polinizadores, dispersores de sementes, ou reguladores das populações de insetos e de vertebrados, contribuem fundamentalmente para a manutenção da integridade desses habitats. Palavras-chave: quirópteros, conservação, fragmentação 20