Captura e coleta de morcegos: necessidade e aspectos éticos Marcelo R. Nogueira Laboratório de Mastozoologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica - Rio de Janeiro - Brazil ______________________________________________________________________ *Corresponding author. Email: [email protected] A grande diversidade taxonômica e ecológica que caracteriza a ordem Chiroptera, aliada ao importante papel desempenhado por esse grupo no funcionamento dos ecossistemas, tem atraído o interesse de um crescente número de estudantes e pesquisadores. Esses interessados devem estar cientes de que a pesquisa com morcegos vai requerer, na maioria das vezes, a captura de espécimes, que por sua vez demanda treinamento e conhecimento não só das técnicas disponíveis e suas limitações, como também de aspectos básicos da biologia dos morcegos. Dessa forma, torna-se possível conjugar eficiência amostral com bem estar animal. A coleta biológica é outra parte fundamental da pesquisa de campo com morcegos, principalmente em países tropicais ainda pouco estudados como o Brasil. O material preparado nas expedições científicas constitui prova testemunhal das identificações e permite um acesso mais seguro ao status taxonômico das populações amostradas. Além disso, ao ser depositado em uma coleção científica, esse material passa a compor um acervo permanente da biodiversidade, garantindo futuras reavaliações taxonômicas à luz de novos dados e técnicas. Com o fortalecimento desse acervo, que deve incluir amostras suficientemente grandes e representativas dos gradientes ecológicos envolvidos na distribuição das espécies, será possível diagnosticá-las com maior clareza e propor chaves de identificação que contemplem, ao invés de mascarar, a variação morfológica presente dentro e entre elas. A grande maioria dos inventários realizados no Brasil tem material testemunho associado, mas em geral poucos espécimes são retidos, gerando hipóteses pouco robustas acerca do status taxonômico das populações. Números entre 10 e 15 espécimes de cada sexo têm sido recomendados, mas mesmo esses devem ser considerados com cautela. Análise de poder baseadas em experimentos piloto revelam que, dependendo do táxon e da variável considerada, 30 indivíduos podem ser insuficientes, ao passo que, em alguns casos, até com menos de 10 indivíduos já é possível detectar diferenças significativas do ponto de vista estatístico. Uma vez coletados, os espécimes devem ser aproveitados ao máximo, com particular atenção à preservação de tecido para análises moleculares. A American Society of Mammalogists dispõe de um guia de conduta para o uso de mamíferos em pesquisas que deve ser consultado por todos os interessados em trabalhar com morcegos. Palavras-chave: Chiroptera, coleções científicas, taxonomia 15