DIVERSIDADE SEXUAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS

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DIVERSIDADE SEXUAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO
DE REDENÇÃO-CE
Brena Kécia Andrade de Oliveira1, Silvana Patrícia Mendes Gomes2, Luma Nogueira de
Andrade3
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo identificar como se estabelece em escolas de Ensino
Médio do município de Redenção, a relação de poder em torno das sexualidades. Evidencia-se
a análise do cotidiano e sociabilidade na escola. Pretende responder questões como: A
diversidade sexual está comtemplada no Currículo Oficial, Currículo oculto, nos documentos
de gestão (Regimento Escolar, Projeto Político Pedagógico-PPP, Plano de desenvolvimento da
Escola – PDE, Calendário Escolar). Existe na escola alunos/as que se identificam como LGBTT
(gays, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais) ou outras formas? Como se sentem na escola?
Quais os problemas que enfrentam ou enfrentaram? O que relata gestores/as e professores/as
funcionários/as e alunos/as sobre a presença de gays, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais
na escola? Desenvolveremos uma pesquisa qualitativa de caráter etnográfico, fazendo uma
observação participante, diário de campo, questionário e entrevista em profundidade. Concluída
a pesquisa seus resultados subsidiaram a formação dos profissionais nas escolas parceiras. A
tomada de consciência de parte dos docentes promoveu mudanças de postura, pois estes não
tinham a percepção externa de como se relacionavam com a diversidade sexual não
hegemônica. Desta forma o trabalho contribuiu para colocar em pauta no campo de estudo tais
questões que são consideradas pelos/as conservadores/as como não relevantes para o processo
da educação formal.
Palavras-chave: Sexualidades. Escola. Preconceito.
1
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Instituto de Humanidades e
Letras, e-mail: [email protected]
2
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Instituto de Humanidades e
Letras, e-mail: [email protected]
3
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Instituto de Humanidades e
Letras, e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo compreender a abordagem sobre a diversidade sexual
nas escolas públicas estaduais localizadas na sede do município de Redenção-CE.
As escolas Públicas de Ensino Médio localizadas na sede do referido município, assim
como as demais do País têm a missão de incluir todos e todas cidadãos/ãs respeitando suas
diferenças, inclusive as sexualidades não hegemônicas deste estudo.
Devido a dinâmica de trabalho nem sempre os profissionais da educação percebem
como de fato estão praticando suas ações, não existem ou são escassas as formações (Inicial e
/ou contínua) que contemplem o tema, as leituras e até mesmo interesse em contribuir com a
inclusão das orientações sexuais abjetas como as que fazem parte do universo LGBTT (Lésbica,
Gay, Bissexual, Travesti e Transexual) na escola.
As singularidades dos/as LGBTT’s ainda na sociedade contemporânea é tabu,
principalmente na escola por ser o lugar por excelência destinado a formação dos/as jovens. A
cultura hegemônica ocidental está focada na heterossexualidade para o desenvolvimento
humano, sendo as demais variações sexuais consideradas, de procedência demoníacas, doença,
desvio de conduta e por tanto algo que deve ser extirpado a qualquer custo da prática humana.
Para assegurar a heteronormatividade é acionado um aparato tecnológico social para
impossibilitar desvios.
O referido aparato entra em atividade desde a infância e defini o que pode e o que não
pode ser praticado por quem nasce com o órgão genital definido como vagina ou pênis. A
exemplo da cor rósea para o enxoval das meninas e a cor azul para os meninos, além dos
brinquedos, os estilos de roupas, os sapatos, os gestos corporais se constroem no binarismo
entre o que é próprio para homens e o que é próprio para mulheres. A família e a sociedade
tenta manter estas regras de geração em geração na tentativa de assegurar a heterossexualidade
compulsória. O universo LGBTT não se enquadra na rigidez das normas heterossexuais e as
subvertem contrariando o esperado tradicionalmente por isso a vigilância na família e na escola
é uma constante como forma de adequar os corpos e suas performatividades à norma social.
METODOLOGIA
O presente trabalho faz o uso do método de pesquisa qualitativa podendo apresentar
caraterísticas específicas sendo estas a metodologia etnográfica utilizada pela antropologia.
O etnógrafo nas Ciências Sociais ao pretender compreender, tem paraa isso
que viver dentro do contexto em análise, apesar de não se transformar num
autóctone. Assim, a etnografia supõe um período de permanência no terreno,
cuja vivência é materializada no diário de campo, e em que o instrumento
principal de recolha de dados são as pessoas e o lugar do investigador, através
de um procedimento geralmente designado por observaçã participante. (Caria,
1999b: 2000 d).
Nesse sentido a etnografia se apresenta como o melhor método para a pesquisa
favorecendo a compreensão do que acontece no espaço escolar em relação as sexualidades para
além do que é exposto nos documentos de gestão e no currículo oficial, isso devido a
convivência no lugar da pesquisa permitindo desse modo desvendar suas subjetividades.
Vale realçar a extrema importância do diário de campo e a observação participante para
a etnografia e consequentemente para esse estudo. A pesquisa de campo na condição de método
da antropologia passa a ser instrumento fundamental para o desenvolvimento de trabalhos
produzidos por especialistas com a técnica de imersão no universo social do sujeito que se
propõe a ser pesquisado.
A pesquisa passou por quatro etapas a primeira foi análise dos documentos de gestão, a
segunda foi a análise dos livros didáticos, a terceira fez-se a observação participante e na quarta
e última etapa foi a aplicação de questionários para alunos(as), professores(as) e gestores(as).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O foco da análise dos Documentos escolares era encontrar pontos que citassem a
diversidade sexual contida em algum contexto. No Regimento escolar, PPP, PDE e no
Calendário escolar não foi detectado referências ao tema. Essa ausência já se torna algo
preocupante, pois revela a ausência da temática LGBTT nas escolas.
De acordo com a análise dos Livros didáticos utilizados na escola do primeiro ao terceiro
ano o livro de Sociologia do Ensino Médio de autoria de Nelson Dacio Tomazi, volume único
foi o único que mencionava sobre a diversidade sexual (pag. 227 a 228), tendo como foco os
movimentos sociais LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Trangêneros)
expondo os objetivos desse movimento, qual a sua principal preocupação, como surgiu no
Brasil e as manifestações realizadas.
O livro apesar de fazer referência à diversidade Sexual seu conteúdo é insuficiente, ou
seja, tem poucas informações sobre as singularidades da população LGBTT. Devido a essa
insuficiência alunos(as) acabam por não saberem sobre a diversidade sexual e
consequentemente quando se deparam com casos de homossexualidades ou travestilidades não
sabem como lidar o que muitas vezes acaba por reproduzirem a LGBTTfobia.
No calendário escolar as datas de conquistas importantes tais como: Libertação dos
Escravos no Ceará, Dia do Trabalhador, Funcionário Público, Consciência Negra e dentre
outros estão presentes com atividades a serem desenvolvidas na escola. Porém, não consta
nenhuma referência às datas em fusão a diversidade sexual/orientação sexual como, por
exemplo, o dia 29 de Janeiro (dia da visibilidade trans.) e dia 28 de Junho (dia mundial do
Orgulho LGBT).
Em relação aos questionários aplicados ficou evidenciado que os(as) participantes não
conseguem se quer distinguir as identidades sexuais do universo LGBTT e em sua maioria não
conseguem estabelecer sociabilidade com os corpos e performatividades que subvertem a
heteronormatividade tradicional.
CONCLUSÕES
Contudo é possível constatar que em relação a diversidade sexual ocorre a ausência da
temática nos documentos de gestão submetidos à análise e nos processos educativos em geral.
É válido relatar que inclusive na documentação, há um caráter de isentar- se ao debate sobre a
diversidade sexual na tentativa de conduzir a questão para o debate apenas nas universidades.
Sendo que a ausência do debate sobre a diversidade no espaço da educação formal contribui
para o processo de “evasão involuntária” da população LGBTT nas escolas em estudo.
AGRADECIMENTOS
A família, a orientadora, a comunidade escolar das instituições envolvidas e amigos que
contribuíram com o apoio necessário.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Constituição (1998). Constituição da Republica Federativa do Brasil: promulgada
em 5 de outubro de 1988.
CARDOSO,R. (Org). A aventura antropológica: teoria e pesquisa. São Paulo: Paz e
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CARIA, Telmo H. Há uma antropologia não implicada? Comunicação ao II Congresso
Português de Antropologia – praticas e terrenos da Antropologia em Portugal. Lisboa:
Associação Portuguesa de Antropologia, 1999b.
___________. A mediação Intercultural no debate sobre a relação ciência e acção social.
Educação, sociedade Colocar i) Culturas, n. 14. P.89-102,2000d.
__________. História da sexualidade. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
__________. História da sexualidade. Vol. 1: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
__________. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis-RJ:Vozes,1987.
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