A violência da passagem ao ato de uma “dama de companhia”

Propaganda
A violência da passagem ao ato de uma “dama de companhia”
Autora: Jaíra Perdiz de Jesus
Psicóloga Clinica. Especialista em Clinica Psicanalítica pelo IPUB-UFRJ e
Mestre em Teoria Psicanalítica pela UFRJ. Membro da AFCL/EPFCL-Brasil.
Endereço completo:
Domicílio: Rua 3 número 921/900 – Setor Oeste - Goiânia, Goiás – CEP 74115050.
(endereço para correspondência).
Residência temporária: Rua Prudente de Moraes, 1022/301 – Ipanema – Rio de Janeiro –
RJ.
e-mail. [email protected]
Sumário:
Este trabalho discute, numa vinheta clínica, a violência dos efeitos temporais na clinica das
psicoses, onde nos deparamos com a eficácia do tempo e do ato, que se desdobra na
passagem ao ato. Há sujeitos constituídos sem assunção simbólica satisfatória e cuja
existência obedece cegamente a um supereu arcaico (Didier-Weill, 1977). A articulação da
violência dos efeitos temporais com o supereu arcaico oferece discussão para nossa clinica.
O que pode surgir do encontro de analista e analisando, quando este vem buscar análise e,
desde o início manifesta, pela fala, o empuxo à morte? Trabalho árduo para um analista que
não recua ante a psicose: do seu lugar, trabalha no sentido de aceitar, respeitar e admitir seu
não-saber ante os efeitos violentos do tempo, na escolha do ato do paciente, fazendo o
trabalho possível, e o paciente passa ao ato, suicidando-se.
Lacan ensina: “O suicídio é o único ato que possa ter êxito sem falha. Se ninguém
nada sabe sobre ele é porque ele procede do parti-pris de nada saber.” (Lacan, 1974, p. 74).
1
A violência da passagem ao ato de uma “dama de companhia”
Um pouco sobre Helena e os efeitos do tempo
Helena procura ajuda com a seguinte demanda de análise: “Vim aqui para falar com
uma psicóloga. Quero um lugar para falar, onde minha mãe não interfira”. Ela é moradora
de um bairro “nobre” do Rio de Janeiro; pode pagar o tratamento particular, mas busca o
serviço público para que sua mãe não interfira custeando o tratamento.
No início desse tratamento, Helena não consegue formular frases completas, porque
seu pensamento é interrompido, constantemente, pela fuga de idéias, sem que ela se dê
conta disso. Ela está medicada quanto a sua depressão. Aproximadamente um ano depois,
falando como pode, aos poucos, ela consegue perceber que ora os assuntos lhe “fogem da
cabeça” (sic), ora consegue construir frases completas e expressar o seu pensar de modo
menos cindido. Conclui os assuntos e passa de um tema a outro, mesmo perdendo o sentido
em algumas ocasiões. Apresenta um discurso fragmentado, que, no início, escapa a
qualquer tentativa de associar um tema ao outro. Progressivamente alcança uma melhor
organização simbólica para se expressar, o que é percebido, por ela, como sinal de melhora,
e vivido com uma certa alegria. Ainda assim, mantém-se deprimida ao longo de todo seu
tratamento, embora seja assistida por psiquiatra que a recebe em consulta duas vezes por
mês e a medica com antidepressivos e antipsicóticos.
Passemos a sua história. Ela é a filha caçula de um casal, e perdeu o pai ainda na
adolescência. Fez uso de drogas pesadas (começou com maconha, usou cocaína, tornou-se
dependente de álcool e fez uso de morfina, por um certo tempo), mas declara-se recuperada
do “vício” (sic), por participar de reuniões do grupo de Alcoólicos Anônimos.
Não se casou, mas engravidou e passou por abortos, todos conduzidos e apoiados
por sua mãe. Queria ter filhos, mas sua mãe não aceitava que ela se tornasse mãe solteira.
Ela própria achava que nenhum namorado era bom o suficiente para ser seu marido.
Em seu relato, aparece destacada uma expressão com que a designavam desde
criança e que, após seu surto, funciona como um lugar no mundo: “dama de companhia” de
sua mãe. A mãe não a deixa sequer lavar um copo, preparar uma refeição ou mesmo sair só,
pois ela é uma “dama de companhia”. Percebemos então, nesses episódios do cotidiano,
2
como a situação marcada pelo significante “dama de companhia” apresentava uma certa
ambigüidade. A situação é agravada depois que ela abriu uma crise psicótica e foi
internada, por alguns meses, em uma clínica particular.
Após sua alta, a mãe passa a dormir com ela, na mesma cama, e, durante noites
seguidas, passa a mão diante de suas narinas, para verificar se respirava. Ela constrói uma
idéia de perseguição, que inclui sua vizinha e seu irmão em uma ameaça de invasão de seu
computador com a intenção de descobrir o conteúdo particular de seus e-mails. Em vista
disso, afasta-se do mundo, pois deixa de usar o computador e não tem mais amigos.
Apesar do lugar de endereçamento oferecido pela analista, não houve possibilidades
de trabalhar e mesmo construir Um significante dentre aqueles que pulverizaram seus
pensamentos desde sua internação (Um dentre Uns). Alguns foram ficando cada vez mais
impossíveis, assim como a perspectiva de construir uma suplência que a amparasse,
particularmente, a partir de um significante que mencionaremos adiante. Ela começara sua
análise, apoiando-se no significante “dama de companhia”, que a mortificava na relação
com sua mãe. Tal significante não se dialetiza no seu discurso, sendo acompanhado por um
desejo de morte. Fala constantemente em suicídio e está sempre anunciando seu desejo de
morrer para livrar-se do lugar indesejado – representado pelo significante “dama de
companhia”, significante indesejado, já que não encontra outra posição para sua existência.
Repete diversas vezes que, desde pequena sua mãe a apresentava aos outros como a caçula
e a “dama de companhia”, o que se intensificou após a morte do pai. Diz que, no princípio,
acreditou que isso era um privilégio na vida, mas que, naquele momento, começava a se dar
conta de que essa posição a fazia prisioneira da mãe, e a morte era sua única saída.
Consegue falar de seu sentimento de ódio pela mãe, alegando, porém, que não pode
se separar dela, já idosa. Acha que não há lugar para as duas no mundo. Diz
constantemente: “Ou eu ou ela! Ela é forte, dura e não morre tão cedo. Ela é muito má. Eu a
odeio!”
Queixa-se constantemente de insônia. Em inúmeras sessões apresenta-me o que nela
é seu “inconsciente a céu aberto” Quer sonhar, mas não consegue. Conta que, durante as
noites, percebe os movimentos e os barulhos da mãe, dos cachorros e da rua, acreditando
estar acordada. A mãe, no entanto, a contesta e afirma que ela dormira sob efeito dos
remédios. Durante o sono, a mãe observava a filha, com medo de que esta morresse. Desde
3
que sua filha foi internada com um surto psicótico, a mãe manifestava abertamente o medo
de que ela viesse a se suicidar.
Antes do surto, Helena conseguia adormecer pensando em letras de músicas, mas,
após a internação, não consegue mais dormir. Segundo ela, dormira apenas uma noite
durante um período de duas semanas, ficando deitada o restante do tempo, fingindo dormir.
A situação torna-se motivo de discussão entre elas e, por isso, a mãe não a deixava dormir
durante o dia, para ter a certeza de que à noite ela sentirá sono. Assim, a idéia de
permanecer acordada, mesmo em períodos em que estivera dormindo, é da ordem de uma
certeza inabalável e constante. Diz que, ao deitar-se, seus pensamentos continuam como
durante o dia.
O pensamento contínuo e ininterrupto, juntamente com a certeza delirante de que
não dorme, nos remete a Freud, quando comenta sobre o adoecimento de Schreber. No
princípio, ele apresentava insônia e, posteriormente, estabeleceu um sistema de
“pensamento forçado” para evitar que a falha narcísica evoque um vazio no pensar e para
que não passe por “idiota” (FREUD, 1911/1988, p. 42). Assim, sugerimos que, em
Schreber, há a continuidade temporal do pensamento. Retomando Schreber, Lacan comenta
tal condição a partir da linguagem, anunciando que todo sem-sentido se anula, isto é, todo
sentido dirige-se a uma outra significação que remete a outra, permanecendo, entretanto,
sem direção. Não há ponto de basta (LACAN, 1955, p.159).
Helena passa seus dias vendo TV com sua mãe e tem uma certeza: “não durmo,
passo as noites tendo insônia e ninguém acredita”. Sua mãe, entretanto, afirma com
convicção que ela dorme, já que verifica seu sono toda as noites. O conflito entre as duas
limita-se a essa situação do cotidiano. Ela é tida como “mentirosa” pela mãe. Uma vez que
se torna difícil aceitar que nem sua psiquiatra acredita em sua versão sobre a insônia, a
paciente passa a desconfiar da psiquiatra. O fato de sua analista acreditar é irrelevante para
ela. A condição de “dama de companhia” vai ficando insuportável, a ponto de que a morte
parece ser o único caminho para livrá-la de tal destino: uma “dama de companhia” não
pode dormir.
Em uma de suas sessões, traz sua irmã para falar sobre a mãe. A mãe, por sua vez,
passa a questioná-la sobre como seria sua vida se morresse. Acha que a filha será um peso
para os irmãos, fato que gera na paciente uma culpa de existir. A participação de sua irmã
4
alivia-lhe um pouco a culpa. Depois da entrevista, a irmã interfere na relação com a mãe e
Helena é autorizada a caminhar sozinha pela orla marítima ou mesmo pelas ruas do bairro.
A paciente começa a melhorar de sua depressão, e fica alegre com a pequena separação
possível da mãe. Sua fala está cada vez mais organizada e clara para ela.
Segundo a mãe, em certa ocasião, Helena decide não a acompanhar ao enterro de
um parente. Recusa-se, portanto, a ser “dama de companhia”. A paciente havia contado, em
análise, que detestava esse parente. Quando sua mãe retorna, depois do sepultamento,
encontra a filha agonizando, com uma overdose dos próprios medicamentos. Helena
suicidou-se, apesar de sua mãe afirmar, ao comunicar-nos o fato dias depois, que ela
morrera de parada cardíaca. A mãe conclui ter estado enganada ao longo da vida toda,
tratando-a com psiquiatras, quando “deveria tê-la levado a cardiologistas” (sic).
Sobre a questão da temporalidade
Há o tempo da eternidade, tempo mítico da pulsão, revelado por Schreber na sua
espera eterna de vir a ser a mulher de Deus (Freud, 1911/1988, op. cit.). É um tempo
diferente do tempo eterno da melancolia. Na melancolia, a vivência intuitiva do tempo
eterno mostra um presente eternizado.
O tempo encontrado na clínica da melancolia retrata uma temporalidade em que o
significante se apresenta sempre como atual, presentificando-se como eterno. Nos casos em
que o paciente oscila entre mania e melancolia, as experiências temporais apresentam-se
como investimentos contrários. Dito de outro modo, o maníaco vive a inflação do presente,
uma certa desordem que se justapõe a sua historicidade. A perturbação da experiência do
tempo é perceptível através da linguagem, mas é difícil de descrever, podendo ser indicada,
analogicamente, por meio da topologia. Assim, o maníaco apresenta um ritmo acelerado,
uma torrente de idéias e palavras. Sua fala surge como uma avalancha de palavras soltas e
de difícil ordenação, movimento retratado também na sua motricidade. O melancólico, por
sua vez, retrata a temporalidade em seu aspecto lento e, por vezes, em um estado de
depressão constante. Ele diz pouco e lentamente, revelando uma fala cindida, chegando a
não completar suas frases. O pensamento interrompido passa a ser uma constante.
Destacamos, em nossa experiência clínica, o caso de uma paciente melancólica, no
qual a questão da temporalidade torna-se evidente. Por outro aspecto, sua modulação
temporal retrata a violência dos efeitos da foraclusão. O que podemos formular diante desse
5
corte no instante, naquilo que marcava para a paciente como o tempo eterno? Diante da
angústia de não poder afirmar-se sem ser uma “dama de companhia”, a paciente passa ao
ato. Dito de outro modo, mediante a alienação ao significante que faz dela objeto de gozo
do Outro, a paciente quer separar-se dessa condição, e nada emerge ao sujeito nesse
instante de corte como outra possibilidade de posição. Só lhe resta o ato violento contra si
mesma.
Lacan (1962-63) trabalha o tema da passagem ao ato no capítulo IX do Seminário
da Angústia. O que ele nos ensina sobre esse momento de extrema angústia? Desde Freud,
com o caso de homossexualidade feminina (Freud, 1920/1988), reconhecemos que a
expressão freudiana de “largar a mão” é correlata, na passagem ao ato, de “deixar cair”,
“sair de cena”. A passagem ao ato é o momento em que o sujeito está completamente
apagado pela barra do Outro, isto é, aquilo que o representa na linguagem, que ouvimos na
clinica pelos significantes, caiu. Diante da queda desse significante – no qual o sujeito foi
fundamentalmente historicizado (Lacan, 1962-63, op. cit., p.129), só lhe resta um embaraço
maior, visto que ele não tem como se manter no status de sujeito e assim diante do
embaraço trazido pela angústia, ele é tomado pelo distúrbio do movimento, acrescido de
intensa emoção, passando ao ato. Lacan ainda acrescenta que essa fuga errante para o
mundo puro é tal qual uma saída de cena. A partida é justamente a passagem da cena para o
mundo.
Helena era tomada constantemente por crises de angústia, mesmo estando bastante
medicada. Algumas vezes telefonou-me e mesmo pelo telefone pude intervir com ela,
assegurando-lhe seu retorno ao mundo que lhe foi dado: “dama de companhia”. O que ela
teria de suportar, manejar – e mesmo eu teria a contribuir para ela – era inventar sobre o
significante, visto que este era um suporte para si, e sem que ela se desse conta dessa
dimensão historicizante, escapou na dimensão do tempo, caiu. Posso indagar agora: por que
nesse dia ela não me telefonou?
Apesar de nossa perplexidade e desolação, continuamos refletindo sobre o
tratamento da paciente. Levantamos a hipótese diagnóstica de uma melancolia. Helena,
quando veio para ser atendida por mim, já tivera seu surto, sua hospitalização prolongada e
“parecia estabilizada” graças aos medicamentos. Esteve em outras psicólogas, mas não se
manteve em tratamento. Detestava todas, segundo me disse. Neste período, sua família
6
intensifica o uso do significante que a mortifica e congela, “dama de companhia” (uma
holófrase). É um significante que ela toma como um “destino” escolhido pela mãe,
portanto, indicativo da presença do desejo materno. Destino foi o termo empregado pela
paciente. Colocamos entre aspas para destacá-la da idéia de destino proposta pela
psicanálise, pois nesse caso o destino interrogaria o supereu, ou seja: o significante não
estaria congelado, ou retido, ou mesmo fixado, mas interrogaria o desejo do Outro. Aqui, o
significante não tem significação fálica e compõe uma holófrase. Trata-se, nesse caso, do
significante equivalente ao supereu arcaico, indicado por Didier-Weill (1977).
Entre ser e não ser “dama de companhia”, ela não consegue ter outro lugar no
mundo. Por outro lado, o lugar de “dama de companhia”, que um dia representou um tempo
eterno de mimos e caprichos, fê-la escolher e acreditar em um mundo idealizado que não se
sustentava na realidade, e que ela dizia encontrar, quando usava drogas. Esclarecemos que
o desejo materno é tomado em sua possibilidade de ser, também, um voto de morte.
Destaco o episódio dos abortos que a paciente realizou durante sua vida, todos eles
conduzidos e aprovados pela mãe. Como a paciente poderia permitir-se ocupar e exercer o
lugar de mãe, se era fixada no lugar de filha, sem dele poder se deslocar?
Podemos dizer que, com o suicídio, ela fez uma “escolha”, talvez a “única escolha”
ética de sua existência: recusar-se a ser “dama de companhia”. Ela viveu a vida como uma
continuidade: dormir e estar acordada, sonhar e viver a realidade. Quando não encontrava o
mundo que idealizava, usava drogas ou bebia para fazê-lo existir. Viveu uma temporalidade
em que a morte era o único modo de ter um lugar diferente, de provocar uma
descontinuidade no que se apresentava como contínuo em seu psiquismo: o tempo eterno.
Ainda sobre a questão da temporalidade na condução desse tratamento, faremos
uma consideração. Fica evidente que, na clínica das neuroses, a direção do tratamento
pulsa, na pulsação inconsciente, entre as operações de alienação e separação, enquanto na
clínica das psicoses, o caminho a seguir no tratamento é outro. Encontramos em Lacan
(1960-64) que a alienação ao Outro da linguagem é para todos: pela alienação nos
alienamos em um significante, geralmente dado pela mãe, e em outro marcado pelo pai – e
o sujeito surge entre esses dois significantes. Helena constitui-se em um só, ou seja, seu
Édipo não se estruturou o suficiente para ela estar na neurose. A direção do tratamento na
7
clínica das psicoses não comporta facilmente uma pulsação temporal. O pulsar do
inconsciente, aquele que abre e fecha, nas dimensões de continuidade e descontinuidade, só
cabe na clínica das neuroses. Na clínica das psicoses, a questão temporal pode indicar a
direção do tratamento, como revelado neste caso, visto que o inconsciente está a céu aberto.
Sua passagem ao ato suicida, gerada, possivelmente, por sua culpa de existir, evoca
uma saída que busca fazer desaparecer o peso que o Outro lhe atribui e que ela aceita em
relação a sua existência. Sob o domínio completo da culpa, não havia espaço para
problematizar sua “responsabilidade e suas escolhas”.
Para finalizar, indagaríamos sobre a possibilidade de ela ter articulado sua loucura
como um delírio a dois com sua mãe. Ao apresentar o caso Aimée, Lacan levanta tal
possibilidade. A manifestação delirante seria dirigida a um “ponto de ato” (ALLOUCH,
1997, p. 230), localizado na insistência de realização, e que, finalmente, culmina na
passagem ao ato suicida dirigido à mãe. Seu delírio final foi endereçado a sua mãe: tanto
ela quanto a mãe mantinham uma convicção delirante em relação ao irmão – o perseguidor
familiar – condição definitivamente cortada com sua passagem ao ato.
Depois da morte de Helena, sua mãe veio uma única vez falar conosco. Conta como
viviam: formavam “um casal”, tal qual um par, no qual a filha era sua “dama de
companhia”, desde que ficara viúva, e ela era “escrava” da filha (sic). Fala que viveu para a
filha e que agora sua vida não tem mais razão, pois o armário dela “estava vazio, sem roupa
alguma”. Indagamos se não resta alguma coisa e ela tem dificuldade de responder, mas logo
diz: “nada”. Insistimos um pouco mais, em razão de seu profundo desconsolo e desespero.
Então, surgem as fotografias que se tornam uma possibilidade de guardar algo de Helena.
Assim, nesse jogo de efeitos temporais, a partir da foraclusão, o efeito sintomático
da estrutura psicótica melancólica apresentada, é da vivência de eternidade, gerando uma
continuidade temporal, marcada pela presença de um significante. A violência, fúria da
pulsão de morte, manifestando crueldade para com o próprio sujeito, surge diante da
separação revelada no corte do significante. Nesse momento de grande angústia, em que o
que lhe daria um lugar no mundo cai, manifesta-se também o elo frágil, que caiu como a
possível ligação entre pulsão de vida e morte. Faz-se, no instante do corte, uma certa
eficácia do tempo e do ato, desdobrando-se na passagem ao ato. Reconhecemos, pela
8
clínica, o poder violento dos efeitos do tempo foracluído, quando há o desdobramento do
tempo e ato.
Referências bibliográficas
ALLOUCH, Jean (1997) Marguerite, ou, A Aimée de Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de
Freud.
DIDIER-WEILL Alain (1977) Os Três Tempos da Lei. Rio de Janeiro: JZE.
FREUD, Sigmund Edição Standard das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro:
Imago, 1988.
(1911) Nota psicanalítica sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia
(Dementia paranóides). Vol. XII.
(1920) Psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher. Vol. XVIII.
LACAN, Jacques (1955-56/1998) O seminário. Livro 3: As Psicoses. Rio de Janeiro: JZE.
________ (1962-63/2004) O seminário. Livro 10: A angústia. Rio de Janeiro: JZE.
________ (1974/1993) Televisão. Rio de Janeiro: JZE.
________ (1960-64/1998) “Posição do Inconsciente”. In: ________ Escritos (p. 843-864).
Rio de Janeiro: JZE.
________ (1965-66/1998) “A ciência e a verdade”. In: ________ Escritos (p. 855-892).
Rio de Janeiro: JZE.
________ (1984/1993) Os Complexos Familiares. Rio de Janeiro: JZE.
PERDIZ DE JESUS, Jaíra. Efeitos Temporais na Clinica das Psicoses. 2008. 153 p.
Dissertação (Mestrado em Teoria Psicanalítica) . UFRJ.
9
Download