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Veículo: Correio Data: 28/09/2013 Pág: Online
Temperaturas globais podem aumentar até cinco graus até o fim do século
O homem é apontado por estudos como um dos maiores culpados pelo aquecimento
global
A clássica queixa do calor excessivo em Salvador pode piorar ainda mais até o final
do século. A longínqua, porém preocupante previsão, foi apresentada ontem no
relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla
em inglês), na Suécia.
Segundo o texto, a temperatura mundial ficará entre 2,6°C e 4,8°C mais quente em
comparação no período 2081-2100 frente à média observada entre 1986 e 2005.
Sob uma ótica mais otimista, a elevação da temperatura varia entre 0,3°C e 1,7°C na
mesma comparação.
A maior responsabilidade ou, segundo a pesquisa, “extremamente provável”, é a
influência da atividade humana como a principal causa do aquecimento global. Os
especialistas calculam essa certeza em 95% contra os 90% do relatório anterior,
divulgado em 2007, que considerava “muito provável” a responsabilidade do homem.
“Para limitar a mudança climática, é necessário reduzir substancialmente e de forma
duradoura a emissão de gases do efeito estufa”, afirma Thomas Stocker, vicepresidente do painel.
Brasil
A primeira parte do novo relatório do IPCC não traz projeções específicas por países
– esses detalhes deverão aparecer na segunda parte, que será divulgada em abril
do próximo ano–, mas dá para tirar algumas conclusões para o Brasil.
Os modelos climáticos que avaliam a temperatura para todo o globo apontam para
uma elevação muito provável (probabilidade superior a 90%) da temperatura em
toda a América do Sul, com os valores mais altos para o sul da Amazônia.
A projeção é de um aumento da temperatura média de 0,5°C (centro-sul) a 1,5°C
(Norte, Nordeste e Centro-Oeste) no país até o final do século no cenário mais
otimista de emissões de gases de efeito estufa; e de 3°C (sul e litoral do Nordeste) a
7°C (Amazônia) no pior cenário.
Também é provável (probabilidade de mais de 66%) que ondas de calor se tornem
mais frequentes na Amazônia e no Nordeste. O IPCC afirma ainda que é muito
provável que o nível de precipitação vai subir na bacia do Prata e cair no Nordeste e
na porção oriental da Amazônia.
A tendência é a mesma apontada há pouco mais de duas semanas no 1º relatório
nacional de avaliação dos impactos das mudanças climáticas no Brasil. O trabalho
focado na nossa realidade foi compilado pelo Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas, a versão nacional do IPCC.
“Os dois estudos vão na mesma linha. Talvez não nos mesmos números, porque os
modelos climáticos usados diferem um pouco, mas a tendência é a mesma”,
comenta o pesquisador José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), membro tanto do IPCC quanto do PBMC.
Mar O órgão também revisou para cima as previsões sobre o aumento do nível do
mar, uma das principais consequências do aquecimento global. Os 259 especialistas
de 39 países diferentes disseram ter aperfeiçoado a medição do fenômeno do
degelo das geleiras da costa da Groelândia e do Antártico, que eleva o nível do mar.
Agora, o grupo do IPCC informa que a elevação das águas pode ficar entre 26 cm,
no melhor cenário, e 82 cm, na pior estimativa, durante o século 21, contra a
projeção de 2007, muito criticada por anunciar elevação entre 18 cm e 59 cm.
“Nosso trabalho é apresentar conclusões científicas. No relatório, reafirmamos a
urgência de reduzir as emissões. Espero que esta seja a mensagem que o
mundo aprenda”, afirmou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.
O relatório afirma ainda que a mudança climática afetará os processos do ciclo do
carbono, impulsionando o aumento de CO2 na atmosfera e, por sua vez, a
acidificação dos oceanos - que já absorveu 30% das emissões geradas por atividade
humana.
A concentração de gases cresceu a níveis “sem precedentes”, especialmente a de
CO2, que é 40% maior agora do que na era pré-industrial devido às emissões de
combustíveis fósseis. Além disso, esse provável aumento de temperatura também
vai
provocar
fenômenos
extremos
com
mais
frequência.
“As ondas de calor acontecerão com mais frequência e durarão mais tempo. Com o
aquecimento da Terra, acreditamos que acontecerão mais chuvas nas regiões
úmidas e menos nas regiões secas, mas teremos exceções”, disse Stocker.
IPCC
Criado há 25 anos pela Organização das Nações Unidas (ONU), o IPCC tem por
objetivo estabelecer um diagnóstico para orientar as decisões das autoridades
políticas e econômicas, mas não propõe medidas de ação concretas. Serão
publicados também dois outros volumes que discutirão os possíveis impactos
divididos por região do planeta e o último, que sairá até o mês de outubro do ano
que vem, vai apresentar a síntese do estudo. O relatório servirá de base para as
negociações internacionais sobre o clima que pretendem alcançar um acordo em
2015. Os países participantes querem limitar a 2°C o aumento da temperatura na
comparação com a era pré-industrial.
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