O processo de Acreditação do HemoPar1 Autoria: Renata Cesar Torres, Kleber Fossati Figueiredo Resumo: O HemoPar é um hospital público cuja finalidade é prestar assistência na especialidade de hematologia, coordenar atividades relacionadas a coleta e distribuição de sangue e seus derivados e desenvolver atividades de ensino e pesquisa. Já há alguns anos o hospital vem desenvolvendo ações com o objetivo de melhorar a qualidade de seus serviços internos e externos. Os primeiros passos foram no sentido de projetar e colocar em prática um programa de qualidade. Em seguida o HemoPar trabalhou no processo de acreditação do “ciclo do sangue” e isto foi conseguido. Mais recentemente o hospital começou o processo de acreditação na área de assistência, uma atividade mais complexa por tratar com o atendimento de pacientes com doenças hematológicas. Este processo de acreditação vem preocupando os dirigentes porque uma série de não-conformidades foi identificada pela instituição acreditadora. Uma próxima rodada de avaliação está próxima e a direção tenta remover os obstáculos que podem levar ao fracasso da iniciativa. Introdução O fim do mês de março de 2008 se aproximava e, da janela de sua sala localizada no 10º andar, Maria Clara observava o ir e vir de carros na movimentada avenida de Curitiba onde se localizava o hospital, prestes a completar 57 anos de existência. Como responsável pela Assessoria de Qualidade era ela, em última instância, a responsável pelo sucesso ou fracasso desta nova etapa de busca pela qualidade: a acreditação2 da área de assistência. Eram três as áreas principais de atuação do HemoPar: coleta e distribuição de sangue e seus derivados (conhecido também por ciclo do sangue), atendimento de pacientes com doenças hematológicas (chamada de assistência) e a área de ensino e pesquisa. A acreditação do ciclo de sangue acabara de ser conseguida. Agora, era necessário obter a acreditação da assistência. E era isto que preocupava tanto a assessora de qualidade naquele momento. As não conformidades apresentadas na visita de diagnóstico da equipe externa de acreditação continuavam presentes e Maria Clara não sentia que o HemoPar estava preparado para agendar a visita final de avaliação. Na lista de não conformidades ainda constavam oito itens. Alguns de aparente fácil resolução, mas que, no entanto, mesmo após meses de trabalho contínuo ainda insistiam em manteremse vivos. A equipe de médicos e enfermeiros apresentava resistência às mudanças. As lideranças da área de assistência não pareciam acreditar na importância do projeto. O número crescente de colaboradores terceirizados comprometia o processo de treinamento. Aspectos relativos à infra-estrutura do prédio ainda precisavam ser remodelados. Maria Clara perguntava-se como fazer para eliminar estas barreiras em tão pouco tempo. Em poucos minutos começaria uma reunião que ela marcou com sua equipe para traçar um plano de ação para os próximos meses. 1 Histórico e áreas de atuação A instituição conhecida como HemoPar, foi fundada no ano de 1951. Instalado em um prédio localizado no centro de Curitiba, foi indicado para sediar o primeiro banco de sangue da região sul do país. Já naquela época, a instituição possuía características de hemocentro, pois atuava como centro de distribuição para os setores de emergência de diversos hospitais do estado do Paraná. O serviço de assistência em Hematologia foi agregado ao banco de sangue em 1963, oferecendo tratamento a pacientes com uma série de doenças hematológicas. Foi constituído, assim, o Instituto de Hematologia do Paraná, ou HemoPar. Em março de 1971 foi dado mais um importante passo rumo ao desenvolvimento da instituição: foram iniciadas as obras da nova sede, também no centro de Curitiba. A finalidade era expandir as atividades do Instituto de Hematologia, incluindo atividades de pesquisa, treinamento e formação de técnicos que conseguisse atender uma demanda crescente pelo atendimento a estes tipos de enfermidades hematológicas. A nova unidade foi inaugurada em setembro de 1976. Desde então, o HemoPar atua nestas três áreas principais. A área de desenvolvimento institucional é composta pelas atividades de ensino e pesquisa e busca de novas tecnologias. Como produto destas atividades, o Hospital oferece cursos internos e externos, pós-graduação em hemoterapia, residência médica e de enfermagem e diversos estágios profissionais. Conta com uma programação permanente de atividades de treinamento e desenvolvimento em hematologia, hemoterapia e em áreas relacionadas com o aprimoramento das práticas de gestão em saúde. O trabalho do HemoPar relativo ao ciclo do sangue envolve uma série de etapas: atendimento aos doadores de sangue, atendimento da demanda de sangue e componentes da hemorrede, realização de testes sorológicos no sangue coletado na unidade e nas demais unidades integrantes da rede, fracionamento do sangue coletado, armazenamento do sangue e seus componentes, distribuição do sangue nas unidades da rede, controle da utilização do sangue utilizado, controle de estoque do sangue e componentes e seu remanejamento quando necessário. A partir de uma dose de sangue doado, é possível extrair três componentes: células vermelhas utilizadas em pacientes submetidos a cirurgias ou que sofreram algum tipo de traumatismo, plasma (porção líquida do sangue) é administrado a pacientes com problemas de coagulação e, por fim, as plaquetas, atuantes no processo de coagulação e que são geralmente usadas em pacientes com câncer ou que foram submetidos a transplantes3 Maria Clara observava o volume de atendimentos daquela unidade. Só no ano de 2008, o HemoPar recebeu, em média, cerca de 350 doadores voluntários por dia e abastecia mais de 200 outros hospitais. Ele era o chamado Hemocentro Coordenador de uma rede de mais 26 unidades denominadas como Hemocentro Regional, Núcleos de Hemoterapia e Unidades de Coleta e Transfusão. Estes fatos ilustram a importância do controle da qualidade do sangue coletado e distribuído. Já o atendimento aos pacientes com doenças hematológicas era definido como o atendimento a pacientes externos e a pacientes internados. Para isto, possuía, em 2006, 77 leitos. Ainda em 2 2006 seu serviço de Hematologia possuía mais de 10 mil pacientes ativos, em tratamento e realizou cerca de 23.500 atendimentos de emergência, 51.000 atendimentos ambulatoriais e 2.000 internações. Para atender a este significativo volume de atendimentos, a organização contava com 1.450 funcionários. Eram 104 médicos fixos (nem todos possuíam vínculo direto com o Estado, mas obedeciam a um regime de cooperativas). As funções de limpeza, alimentação, vigilância, manutenção, refrigeração, zeladoria e portaria eram realizadas por funcionários terceirizados (em torno de 300). O início da preocupação com a Qualidade Foi no ano de 2001 que começou a caminhada do HemoPar em direção a Qualidade com a realização de um Seminário de Integração Organizacional, considerado a pedra fundamental da história de qualidade da instituição. Este Seminário foi mais um momento de elaboração da lista de reclamações de cada uma das áreas do que qualquer outra coisa – relembra Maria Clara. Em suas palavras: “Não foram feitos planejamentos estratégicos, não foram traçadas táticas gerenciais. A instituição encontrava-se num beco sem saída, com problemas ocorrendo a toda hora e a todo lugar. O nível de insatisfação dos funcionários era geral, a falta de motivação e o desânimo tomavam conta do ambiente institucional. Era preciso fazer alguma coisa”. Foi então que a diretora do HemoPar à época, a Dra. Kátia Dias, trouxe uma apostila sobre qualidade que acabara de ganhar de um amigo, descrevendo as etapas de um programa de qualidade. Ela queria trazer este conceito para o HemoPar e acreditava que este seria o caminho para resolver as dificuldades que a organização enfrentava. E foi através de sua inspiração e liderança que as mudanças começaram a ocorrer. De acordo com esta diretora: “Nosso objetivo era preparar a organização para os desafios que estavam por vir, como a carência de recursos, necessidade de melhorar o desempenho e a qualidade dos serviços prestados tanto a pacientes quanto aos demais usuários, fossem eles doadores de sangue, acompanhantes ou outros hospitais”. No ano seguinte, o Instituto Brasileiro de Qualidade Nuclear (IBQN) foi contratado para implantar o Programa de Gestão pela Qualidade Total. As verbas disponíveis eram bastante limitadas, mas o HemoPar conseguiu a liberação dos recursos necessários através da Fundação Pró-Instituto de Hematologia e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). A finalidade do trabalho era efetuar mudanças na forma de gerenciar a organização. Para isso o IBQN realizou um levantamento dos principais problemas enfrentados pelo hospital, resultando num diagnóstico interno que serviu como base para o desenvolvimento do planejamento para a implantação do programa de qualidade total. Ao mesmo tempo, o IBQN procurou identificar, em conjunto com o HemoPar, quem seriam os stakeholders da instituição e definiu como uma de suas metas a busca pela satisfação destes clientes: doadores, pacientes ambulatoriais, pacientes internados, paciente emergencial, familiares, hospitais, funcionários, órgãos financiadores (Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e demais órgãos financiadores), fornecedores e a sociedade (todas as comunidades de alguma forma influenciadas pelas ações e serviços prestados pelo HemoPar). 3 Após este diagnóstico inicial e definição dos principais stakeholders, duas ações principais ocorreram: o desenvolvimento do Plano de Implantação do Programa de Qualidade Total e o desenvolvimento do Planejamento Estratégico. O Plano de Implantação do Programa de Qualidade Total foi composto principalmente pela definição de uma estrutura de suporte composta por comitês e pelo início da implantação de um Plano de Indicadores. A estrutura de comitês apresentava a seguinte composição: Comitê de diretrizes, Comitê de Coordenação, Secretaria Executiva, Comitê de Educação para a Qualidade, Comitê de Promoção e Divulgação e Comitê de Valorização Humana. O Anexo 1 descreve as principais funções de cada um dos seis comitês. Os comitês desempenhavam também o papel de facilitadores da implantação do programa de Qualidade Total e, para cada um deles, foram definidas uma missão, objetivos e prazos a serem cumpridos. Estes comitês foram constituídos por pessoas dos diversos níveis hierárquicos e com representatividade de diferentes setores. O desenvolvimento do Planejamento Estratégico foi feito com a participação das chefias e assessorias do HemoPar. O objetivo foi incorporar as principais lideranças ao processo para promover um maior comprometimento. Para isto, o primeiro passo foi a definição da missão, da visão e valores do HemoPar. A seguinte missão foi definida: “Atuar como Centro de referência em Hematologia e Hemoterapia, exercendo com ética e Qualidade as funções de Hemocentro coordenador do Estado do Paraná”. A visão, por outro lado, foi assim estabelecida: “Ser reconhecido como um centro de excelência em Hematologia e Hemoterapia”. Como valores da instituição foram definidos: qualidade, ética e honestidade, satisfação do cliente, trabalho em equipe, solidez, competência, amor e respeito e justiça. Assim, o Planejamento Estratégico foi elaborado, sendo possível resumi-lo através de três diretrizes principais: 1. Avaliar e controlar os processos de forma sistemática através de indicadores; 2. Prestação de serviços de qualidade com foco no cliente; 3. Respostas rápidas às demandas dos clientes. Em 2004 o HemoPar conseguiu estruturar seu Sistema de Medição de Desempenho. Cada setor possuía uma missão, visão, metas e processos críticos. Estes foram desdobrados em indicadores, medidos e avaliados por um Comitê de Indicadores. Diversos resultados positivos foram alcançados, como por exemplo: redução do tempo de espera dos doadores de 3 horas e 30 minutos para 1 hora e 15 minutos e aumento do número de doadores em 18% no período de um ano. Dois anos após o início do processo de gestão da qualidade (já em 2004), veio o primeiro reconhecimento: o Diploma Categoria Prata do Projeto Qualidade Paraná “Gestão Rumo à Excelência”. Em 2005, o HemoPar recebeu o prêmio Destaque PROCON/Paraná - Governo do Estado do Paraná e o Prêmio Qualidade Paraná (PQParaná) veio no ano de 2007. Após a implantação do Programa de Qualidade Total, com todos os processos envolvidos e diversas mudanças efetuadas na organização, o HemoPar sentiu-se confiante para buscar a acreditação. Na verdade, aquele parecia o caminho natural, quase como um complemento do 4 Programa de Qualidade. Após tantos prêmios ligados à área de gestão, era importante levar esta cultura à área técnica da organização. O objetivo do HemoPar era conseguir a acreditação em uma de suas áreas mais importantes: o ciclo de sangue. O objetivo desta acreditação era alcançar melhoria na qualidade e segurança nos processos de coleta, processamento, testagem, distribuição e administração do sangue e de seus sub-produtos. O processo foi desafiador mas, em 2007 o HemoPar conseguiu a acreditação pela American Association of Blood Banks. E ele foi o primeiro Hemocentro em toda a América Latina a conquistar esta certificação. De fato, foi uma grande vitória e Maria Clara considerava esta acreditação o resultado de um longo caminho percorrido desde 2001 com o Programa de Qualidade Total. Apesar disto, Maria Clara sabia que ainda era necessário ampliar o processo de acreditação para toda a área de assistência, o que incluía o atendimento a pacientes com enfermidades hematológicas. Era preciso ter parâmetros mais objetivos dos processos assim como aprimorá-los. O que se ouvia pelos corredores era que todos os prêmios se referiam a gestão. Era como se houvesse duas organizações num mesmo espaço. Era preciso trazer a área técnica para a cultura da qualidade. E aquele seria um dos maiores desafios da instituição, não só pela complexidade dos processos como pelos diversos stakeholders envolvidos. A nova Acreditação Foram meses de discussão entre as possíveis entidades onde poderiam buscar a acreditação: CBA (Consórcio Brasileiro de Acreditação), única instituição no Brasil a representar a Joint Commission International ou ONA. A certificação pela ISO foi abandonada logo de início por não apresentar especificidades da área de saúde, não possuir padrões de melhoria da satisfação dos pacientes, não indicar normas de como melhorar os resultados de saúde e, por fim, não possuir linguagem acessível a equipe de médicos da instituição. Em relação a CBA e ONA, cada uma apresentava pontos positivos e negativos na opinião de Maria Clara e a decisão foi pela certificação CBA. Diversos critérios justificaram a decisão: a possibilidade de reconhecimento internacional, comparação de seus indicadores com instituições de todo o mundo e, finalmente, o entendimento de que as exigências de mudanças estruturais exigidas pela ONA não poderiam ser cumpridas em toda a sua plenitude pelo HemoPar, por limitações orçamentárias impostas por ser um hospital público. Em abril de 2008, Maria Clara e sua equipe da Assessoria da Qualidade encontravam-se reunidos para discutir que ações poderiam ser tomadas para superar os obstáculos a acreditação. Em pauta o diagnóstico inicial da equipe da CBA que apontava várias não conformidades com os padrões exigidos. João Paulo, líder do Comitê de Educação para a Qualidade, iniciou a reunião mencionando que aspectos que considerava relevantes: “Temos conseguido durante todos estes anos desenvolver uma cultura de qualidade no HemoPar. Já desenvolvemos as metodologias necessárias, temos o conhecimento e o reconhecimento sobre a importância estratégica da qualidade, mas os médicos continuam relutantes. Temos enfrentado dificuldades com eles. Com os enfermeiros e nutricionistas também. Os prontuários nunca são preenchidos, assinados e carimbados corretamente. Desta forma, ficamos impossibilitados de identificar 5 corretamente a evolução do tratamento e os profissionais responsáveis por cada caso – e isto implica em não conformidades relacionadas a Continuidade do Cuidado e Avaliação dos Pacientes, assim como da Qualificação dos Profissionais.” Joana, também membro do Comitê de Educação para a Qualidade, complementou: “Os médicos não consideram importante a assinatura dos pacientes no Termo de Consentimento Informado. Este também tem sido um problema recorrente. Isso tem implicações importantes no capítulo referente aos Direitos do Paciente e Familiares.” Neste momento, Ana Lúcia que era membro da própria assessoria de qualidade, pediu a palavra: “Outro ponto que precisamos solucionar com urgência é a questão do diagnóstico inicial dos pacientes internados. Precisamos cumprir o prazo máximo de avaliação de 24 horas e isto não tem ocorrido. Precisamos encontrar formas de conseguir com que os médicos, enfermeiros, nutricionistas e assistentes sociais cumpram esta rotina. Nossa meta deve ser 100% das avaliações dentro do prazo estabelecido! Sem isto, estaremos com uma não conformidade dentro dos parâmetros da CBA.”. “Não podemos nos esquecer das questões de infra-estrutura” – interrompeu Clarisse Antunes, coordenadora da Secretaria Executiva. “Ainda temos rampas a serem construídas, colocação dos corrimãos e, mais importante ainda, a troca de todos os elevadores! Nossos elevadores são muito antigos, não tem um tamanho adequado para a entrada das macas e são extremamente lentos, o que tem ocasionado muitas filas e lentidão no transporte dos pacientes. Onde conseguiremos verbas para uma mudança estrutural deste porte? Todos estes itens tem um impacto no capítulo de Gerenciamento e Segurança das instalações. ” Assim, a equipe mapeou as dificuldades enfrentadas e as relacionou com as normas do Joint Commission International. Oito normas ainda não estavam sendo cumpridas e era preciso identificar as causas deste descumprimento e que fatores apresentavam-se como impeditivos ao sucesso da implementação (ver Anexo 2). Neste momento, Maria Clara retomou a palavra: “Precisamos traçar um plano de ação para solucionar estes problemas. Gostaria de propor a definição dos elementos facilitadores e os obstáculos que estamos enfrentando para esta etapa da acreditação. Quais são os fatores que acreditamos ser essenciais para conseguir atingir nossa meta e como estimular o desenvolvimento destes fatores? Este será nosso dever de casa. Nossa próxima reunião será em uma semana e espero que cada um traga as alternativas para discussão. Até lá”. 6 O processo de Acreditação do HemoPar Anexo 1 Os Comitês do Programa de Qualidade e suas funções Comitê Comitê de Diretrizes Principais funções e desdobramentos Definição de estratégias, diretrizes e metas para o Programa de Qualidade Total. Deliberação sobre propostas que envolvam recursos financeiros e / ou mudanças estruturais. Outras funções: • • • Comitê de Coordenação Secretaria Executiva Coordenação e apoio das atividades dos comitês, promoção da interface entre os comitês e a estrutura formal do HemoPar, encaminhar ao comitê de diretrizes as propostas que envolvam recursos financeiros e/ ou mudanças estruturais, acompanhar e avaliar o desempenho dos comitês. E assegurar o cumprimento das etapas do Plano de Implantação do Programa de Qualidade Total. Promoção da interface entre o Comitê de Diretrizes e o Comitê de Coordenação através de: • • • • Comitê de Educação para a Qualidade Comitê de Promoção e Divulgação Comitê de Valorização Humana Avaliar resultados do Programa de Qualidade Total quanto a necessidade ações corretivas; Orientar ações do comitê de Coordenação; Tomar medidas que internalizem o Programa de Qualidade Total Promover interface HemoPar- IBQN; Arquivar publicações produzidas pelo Programa Qualidade Total; Promover a interface entre os diversos comitês; Gerenciar todo o processo de implantação do programa. de Preparar material didático para os treinamentos, propor cursos, palestras e seminários ao Comitê de Coordenação, preparar conteúdo programático dos cursos, selecionar e preparar instrutores internos para disseminar o conhecimento. Planejamento e execução das ações estratégicas para a promoção da qualidade total. Ações realizadas: • • • • Reestruturação do jornal institucional; Adequação de murais, caixas de sugestão; Ações de confraternização; Peças teatrais. Identificar necessidades, expectativas e carências dos funcionários. 7 O processo de Acreditação do HemoPar Anexo 2 Não conformidades apresentadas de acordo com Padrões de Acreditação da Joint Commission International para Hospitais 1. ACC. 1.3 - As instituições frequentemente atendem a comunidades com uma população diversificada. Os pacientes podem ser idosos, portadores de deficiências, falar diferentes idiomas ou dialetos, ser provenientes de culturas diferentes, ou apresentar outras barreiras que dificultem muito os processos de acesso e cuidado. A instituição precisa estar familiarizada com essas barreias e implementar processos para eliminá-las ou reduzi-las durante o processo de internação. A instituição também deve reduzir o impacto destas barreiras na prestação de serviços. 2. ACC. 2.1 – Para manter a continuidade do cuidado durante a permanência do paciente na instituição, o profissional responsável pelo cuidado ao paciente, de forma geral ou em cada etapa particular do cuidado, deve estar claramente identificado. Esse responsável pode ser um médico ou outro profissional qualificado. Esse profissional é identificado no prontuário do paciente ou dado a conhecer de outra maneira aos profissionais da instituição. 3. PFR.6 – O consentimento informado do paciente deve ser obtido através de um processo definido pela instituição e implementado por profissionais treinados. 4. AOP.1.4.1 – As avaliações iniciais médica e de enfermagem devem ser completadas nas primeiras 24 horas após a internação do paciente. 5. AOP. 1.5 – Os achados da avaliação devem estar documentados no prontuário do paciente e prontamente disponíveis para os responsáveis pelo cuidado ao paciente. 6. OP.3 – Profissionais qualificados devem realizar as avaliações e reavaliações. Esses processos são críticos e requerem formação, treinamento, conhecimento e habilidades especiais. Assim, a instituição deve identificar os profissionais qualificados para realizar cada tipo de avaliação e definir suas responsabilidades por escrito. Em particular, os profissionais qualificados para fazer avaliações de emergência ou avaliações das necessidades de enfermagem devem ser claramente identificados. As avaliações são realizadas por cada disciplina, dentro do escopo de sua prática, licença, leis e regulamentos aplicáveis, ou certificação. 7. SQE.10 - A instituição deve ter um procedimento padrão, objetivo, baseado em evidências, para autorizar os membros do corpo médico a admitir e tratar pacientes, e a prestar outros serviços clínicos, de acordo com suas qualificações. 8. FMS.4 – A instituição precisa oferecer um ambiente físico seguro e protegido. A instituição deve inspecionar todos os prédios onde são prestados cuidados aos pacientes e deve ter um plano para reduzir riscos evidentes e proporcionar instalações físicas seguras para o paciente, familiares, profissionais e visitantes. 8 O processo de Acreditação do HemoPar Notas de Ensino 1. Resumo do Caso O HemoPar é um hospital público cuja finalidade é prestar assistência na especialidade de hematologia, coordenar atividades relacionadas a coleta e distribuição de sangue e seus derivados e desenvolver atividades de ensino e pesquisa. Já há algum tempo o hospital vem desenvolvendo ações com o objetivo de melhorar a qualidade de seus serviços internos e externos. Mais recentemente o hospital começou um processo de acreditação e isto vem preocupando seus dirigentes porque uma série de não-conformidades foi identificada pela instituição acreditadora. Uma próxima rodada de avaliação está próxima e a direção tenta remover os obstáculos que podem levar ao fracasso da iniciativa. 2. Objetivos de Ensino O caso proporciona elementos para uma discussão sobre programas de qualidade e mais especificamente a certificação de qualidade. Nessa última hipótese, permite examinar alternativas de certificação considerando os objetivos que a empresa procura alcançar com a certificação e os elementos presentes nas práticas de certificação de diferentes instituições certificadoras. O caso pode ser programado para disciplinas de pós-graduação voltadas para Gestão de Serviços ou Programas de Qualidade. Disciplinas ministradas na área de administração em saúde também encontram um excelente campo para aplicação do caso pois o locus do mesmo é um hospital envolvido em um processo de acreditação. 3. Questões de Preparação As seguintes questões podem ser úteis na orientação da preparação individual dos alunos, nas discussões em pequenos grupos e em sala de aula: a) b) c) d) Quais os motivadores que levaram o HemoPar a buscar a acreditação? Discuta os critérios considerados no processo de escolha da instituição acreditadora. Que diferenciais competitivos poderiam ser alcançados com a acreditação? Quais os elementos facilitadores e os obstáculos ao processo de acreditação no HemoPar? e) Quais as recomendações para os dirigentes do HemoPar para superar os obstáculos existentes? 4. Fundamentação teórica 4.1 Programas de Gestão de Qualidade em Serviços de Saúde De acordo com Martins e Toledo (1998), um programa de gestão de qualidade pode ser definido como a sequência de etapas necessárias para a implementação de um processo de mudança na organização, seguindo uma lógica que permita a orientação para a satisfação total do cliente, para a gerência dos processos e para a melhoria contínua. Para Sureshchandar, Rajendran e Anantharaman (2001), diversas são as dimensões consideradas críticas para sucesso de programas de qualidade em manufatura. No entanto, há poucas pesquisas que busquem identificar estas dimensões para programas de qualidade no setor de serviços. Com o objetivo de cobrir esta lacuna, os autores desenvolveram um estudo em empresas de serviços e identificaram 12 dimensões críticas: (1) comprometimento da alta 9 gerência e liderança visionária; (2) gerenciamento dos recursos humanos; (3) sistema técnico; (4) sistema de informação e análise; (5) benchmarking; (6) melhoria contínua; (7) foco no cliente; (8) satisfação dos funcionários; (9) relações trabalhistas; (10) responsabilidade social; (11) ambiente para prestação do serviço e (12) cultura de serviços. Segundo aqueles autores, o conceito de qualidade total em serviços é construído a partir da premissa de que há várias interdependências entre as dimensões, enfatizando a crença de que um programa de qualidade obedece a uma filosofia holística e um conjunto de práticas que precisam ser executadas como um todo, e não separadamente. No entendimento de Jackson (2001), para que iniciativas de qualidade total na área de saúde sejam bem-sucedidas, é preciso haver uma liderança forte que encoraje a abertura e a transparência na tomada de decisões, boa comunicação, empowerment, foco no cliente interno, times de trabalho, confiança entre os profissionais, disponibilidade de informações, comprometimento organizacional para com a melhoria contínua e mensuração constante do desempenho. Nesta mesma linha de entendimento, Ruiz (2004) afirma que as reformas nas instituições de saúde requerem o envolvimento efetivo de médicos e outros profissionais e que a maioria da literatura considera o comprometimento e o envolvimento destes profissionais essencial para a implementação bem sucedida de programas de qualidade. 4.2 Acreditação Hospitalar A acreditação é “um processo de avaliação externa, de caráter voluntário, através do qual uma organização, em geral não-governamental, avalia periodicamente as instituições de saúde para determinar se as mesmas atendem a um conjunto de padrões concebidos para melhorar a qualidade do cuidado ao paciente” (ONA, 2009). Outra definição de acreditação estabelece que a acreditação é “um processo no qual uma entidade, geralmente não-governamental, separada e independente da instituição de saúde, avalia a instituição de saúde para determinar se ela obedece a uma série de requisitos (padrões) criados para aperfeiçoar a segurança e a qualidade do cuidado” (JOINT COMISSION INTERNATIONAL, 2008). No Brasil, dentre as diversas formas de se conseguir a acreditação de uma instituição de saúde (ou parte dela) as mais conhecidas são uma nacional e duas estrangeiras: a Organização Nacional de Acreditação (ONA), a Joint Comission International (JCI), representada pelo Consorcio Brasileiro de Acreditação, ou CBA (nome de fantasia da Associação Brasileira de Acreditação de Sistemas e Serviços de Saúde) e a Canadian Council on Health Services Accreditation (CCASS). Ao ser acreditado pela ONA, o serviço de saúde pode ser classificado em três níveis: (1) segurança, (2) organização dos processos e (3) praticas de gestão. O nível 1 diz respeito a disponibilidade de recursos humanos e de infra-estrutura. O nível 2 trata do planejamento dos processos e, finalmente o nível 3 refere-se a gestão. O modelo da JCI permite a realização de comparações com organizações de todo o mundo e sua avaliação está dividida em duas funções e estas em onze capítulos e o resultado da análise indica se a organização foi acreditada ou não: • • Funções relacionadas ao paciente: acesso e continuidade do cuidado; direitos dos pacientes e familiares; avaliação do paciente; cuidados ao paciente; educação dos pacientes e familiares; Funções relacionadas à organização: melhoria da qualidade e segurança do paciente; prevenção e controle de infecções; governo, liderança e direção; 10 gerenciamento do ambiente hospitalar e segurança; educação e qualificação profissionais; gerenciamento da informação. 4.2.1 - Motivações para Acreditação Huq e Martin (2000) discutem quais fatores seriam fundamentais na motivação das organizações de saúde na busca da qualidade. Os fatores motivadores principais são: competição, busca da satisfação e de um maior valor percebido por parte do consumidor com o serviço prestado, aumento de market share e aumento da lucratividade. Hayes e Shaw (1995) indicam a busca voluntária da qualidade como um dos principais motivadores para a acreditação, uma vez que esta também apresenta caráter voluntário. Além disto, outros fatores mencionados por estes autores apresentam interseção com os resultados proporcionados pelo processo de acreditação: construção de equipes, educação e gerenciamento da organização. Outros fatores mencionados na literatura incluem avaliação objetiva e garantia da qualidade, melhoria de processos, exigência do consumidor (seja ele governo, operadoras de saúde ou o cliente final propriamente dito) e cultura organizacional (SHAW, 2004; KLUCK, 2002). 4.2.2 - Diferenciais competitivos perseguidos De acordo com a JCI (2008) podem ser listados os seguintes benefícios resultantes do processo de acreditação: • • • • • • Aumento da credibilidade da organização, pois esta demonstra preocupação com a segurança e qualidade do atendimento ao paciente; Ambiente de trabalho mais seguro e eficiente, com impactos no nível de satisfação dos funcionários; Maior base para negociação junto às diversas fontes pagadoras por possuir indicadores e critérios mais objetivos em relação a qualidade do atendimento; Maior voz e atenção ao paciente e seus familiares; Cultura de aprendizagem; Estabelecimento de lideranças colaborativas. Por outro lado, a ONA (2009) menciona muitos dos fatores listados acima e acrescenta: construção de equipe e melhoria contínua, construção de instrumento de gerenciamento, desenvolvimento de critérios e objetivos concretos adaptados à realidade brasileira e caminho para a melhoria contínua. 4.2.3 - Fatores críticos de sucesso A literatura aponta uma série de fatores que são fundamentais para a obtenção de sucesso no processo de acreditação em um hospital, assim como aspectos que dificultam ou até impedem a acreditação. Dentre os aspectos relacionados com o sucesso, podem ser mencionados: o trabalho em equipe, o empowerment dos funcionários, o reconhecimento de que a qualidade desempenha um papel estratégico, a existência de um clima de aprendizagem, treinamento, foco no consumidor, qualificação e envolvimento das lideranças e envolvimento dos médicos – sendo estes últimos dois citados como os fatores críticos para o sucesso da acreditação (SHORTELL, 1995; WEINER, 1997; HUQ e MARTIN, 2000). No que se refere aos aspectos que dificultam e até impedem a acreditação, é possível observar que os mesmos fatores que impulsionam a acreditação, quando ausentes, podem ser responsáveis pelo fracasso do processo de certificação, sendo possível destacar a importância da cultura médica como principal fator dificultador do processo de acreditação. 11 4.2.4 - Escolha do Sistema de Gerenciamento de Qualidade Os diferentes modelos de gerenciamento da qualidade apresentam muitas semelhanças e diferenças e muitos destes fatores podem representar critérios para a escolha entre um ou outro modelo de acreditação pelos gestores das instituições de saúde. SANGÜESA et al (2007) examinaram o processo de seleção do sistema de gerenciamento de qualidade numa pesquisa realizada em hospitais espanhóis. Nesta pesquisa, foram comparados os critérios de seleção entre três sistemas: ISO, JCI e EFQM (European Foundation for Quality Management). Foram identificados 16 critérios no processo de tomada de decisão, dos quais quatro foram considerados muito relevantes (destacados em letras maiúsculas e negrito na Figura 1), onze foram considerados relevantes (destacados em negrito) e apenas um não foi considerado relevante dentre os hospitais pesquisados. A Figura 1 abaixo indica estes critérios e a forma pela qual eles foram extraídos dos modelos de certificação estudados: ISO • Implementação em áreas específicas •Avaliação por organização independente •Metodologia para verificação do sistema •Reconhecimento internacional EFQM • Sistema global •Metodologia para verificação do sistema •Comprometimento dos funcionários •Melhoria da satisfação do paciente •Resultados financeiros •Responsabilidadae social JOINT COMMISSION • Informação contínua •Linguagem e conteúdo específicos •Avaliação por organização independente •Resolução de problemas de saúde •Melhoria dos resultados de cuidados Critérios CRIT 2. SISTEMA GLOBAL CRIT. 7 COMPROMETIMENTO DOS FUNCIONÁRIOS CRIT. 11 INFORMAÇÃO CONTÍNUA CRIT. 10 MELHORIA DOS RESULTADOS DE SAÚDE Crit. 6 Melhoria da satisfação do paciente Crit. 4 Metodologia para verificação periódica do sistema Crit. 5 Resolução de problemas de saúde Crit. 3 Avaliação por uma organização independente Crit. 16 Linguagem e conteúdo específicos Crit. 1 Implementação em departamentos / áreas específicos Crit. 8 Reconhecimento internacional em saúde Crit. 15 Recomendações sobre saúde pública OUTROS • Lucros esperados •Duração da implementação •Recomendações em Saúde Coletiva Crit. 14 Duração da implementação Crit. 12 Responsabilidade social Crit. 13 Lucros esperados Figura 1: Dedução dos critérios de seleção e relevância dos 16 critérios. Fonte: Adaptado de SANGÜESA et al.(2007), p.619 e 622 5. Análise do caso a) Quais os motivadores que levaram o HemoPar a buscar a acreditação? A motivação principal foi dar seqüência ao que o Hospital já havia conseguido em termos de qualidade, quando implantou, há alguns anos, um programa de qualidade. A instituição enfrentava problemas das mais diversas ordens ocorrendo em toda a organização e causando a insatisfação de todos os funcionários. 12 A presença de uma liderança forte e comprometida e com uma visão de futuro permitiu ao HemoPar iniciar sua trajetória na busca pela qualidade. A inclusão de aspectos de gerenciamento da qualidade no planejamento estratégico do hospital também colaborou para o engajamento da instituição na conscientização da importância da qualidade Conseqüentemente, o processo de implantação de gestão da qualidade, iniciado em 2001, foi o principal motivador para a busca da acreditação. Após o desenvolvimento de uma cultura e domínio da metodologia da qualidade, a acreditação torna-se mais fácil (SEABRA, 2008) Além disto, era importante envolver de forma decisiva todo o corpo clínico da organização na cultura da qualidade e desenvolver avaliações mais objetivas dos serviços prestados assim como buscar a melhoria dos processos. Embora os resultados de um programa de qualidade possam ser entusiasmadores, a validação externa dos mesmos, através de um órgão certificador, pode eliminar as dúvidas daqueles que podem pensar que os resultados internos foram construídos pelos gestores atuais. Numa instituição pública é normal a existência de variáveis políticas (situação vs. oposição) e nada como uma avaliação externa neutra para comprovar os resultados obtidos. b) Discuta os critérios considerados no processo de escolha da instituição acreditadora. As avaliações externas de programas de qualidade sejam elas feitas com o objetivo de acreditação sejam, por exemplo, para concorrer a algum prêmio, se diferenciam pelos objetivos e pelos critérios de avaliação utilizados. Há avaliações mais abrangentes, outras menos. Cabe a empresa que queira obter a certificação eleger o processo pelo qual quer ver submetidas suas práticas de qualidade. O artigo de Sangüeza et al. (2007), sumarizado na figura 1, reúne objetivos perseguidos e critérios utilizados na avaliação de três instituições diferentes: ISO, EFQM e JCI. No caso do HemoPar, o processo de certificação através da ISO foi claramente descartado por não apresentar especificidades relativas ao setor de saúde. De acordo com a literatura apresentada, aspectos como melhoria dos resultados de saúde, melhoria da satisfação do paciente, resolução de problemas de cuidado em saúde e linguagem específica (acessível ao corpo clínico) são relevantes no processo de tomada de decisão dos gerentes da instituição que busca uma certificação. Desta forma, a decisão do HemoPar em buscar alternativas que contemplassem esta questão está de acordo com os pressupostos da literatura da área. No caso de uma instituição que busque reconhecimento internacional, assim como a possibilidade de benchmarking com outras organizações hospitalares em todo o mundo, a escolha da JCI seria a única alternativa atualmente disponível, tendo em vista que a acreditação pela ONA é restrita somente ao Brasil, impossibilitando o alcance dos benefícios supracitados. Existe um gap na literatura no que se refere as possibilidades de acreditação das instituições de saúde no Brasil. Aspectos relativos a maior rigidez dos critérios da ONA no que se refere a atributos estruturais dos hospitais não foram identificados na literatura, mas são apresentados no caso. c) Que diferenciais competitivos poderiam ser alcançados com a acreditação? O órgão certificador escolhido, a JCI, prevê que as instituições que se submetem a seus critérios podem obter os resultados listados no item 4.2.2. dessas Notas de Ensino. São certamente resultados interessantes que todo hospital ou clínica gostaria de alcançar. A contrapartida é um conjunto de padrões, procedimentos e normas que o postulante à acreditação deve cumprir. Daí decorrem as dificuldades como as enfrentadas pelo HemoPar. 13 A instituição precisa, em curto espaço de tempo, cumprir as oito não conformidades listadas no anexo 2 do caso e que foram levantadas numa primeira visita dos auditores da JCI. d) Quais os elementos facilitadores e os obstáculos ao processo de acreditação no Hemopar? Conforme já mencionado na revisão da literatura apresentada, podemos destacar os seguintes fatores críticos de sucesso: envolvimento das lideranças, envolvimento do corpo clínico (especialmente os médicos), reconhecimento estratégico da qualidade, trabalho em equipe e metodologia da qualidade. No caso apresentado, os principais fatores que se apresentam como impeditivos ao sucesso da acreditação são: resistência da equipe de médicos, não envolvimento das lideranças médicas e ausência de recursos financeiros para as mudanças estruturais necessárias. Em relação a resistência da equipe médica, um agravante seria a existência de funcionários cooperativados e terceirizados, dificultando o processo de treinamento e sensibilização da equipe. O desenvolvimento de formas de sensibilização da equipe médica é o fator mais importante para que o sucesso seja alcançado. Dentro deste processo, a identificação de líderes médicos e a busca de seu envolvimento com o processo de qualidade são fundamentais e devem ser buscados o mais breve possível. Os recursos financeiros são críticos para qualquer organização e suas limitações tornam-se ainda mais evidentes no caso de um hospital público. A busca de financiamentos em órgãos de fomento ou a articulação política com as Secretarias de Estado são fundamentais para a superação destas barreiras. e) Quais as recomendações para os dirigentes do HemoPar para superar os obstáculos existentes? A identificação de médicos com papel de liderança sobre o corpo clínico deve ser o primeiro passo a ser dado. Após a identificação das lideranças, podemos sugerir a formação de comitês ou grupos de trabalho para discussão das dificuldades enfrentadas e dos objetivos organizacionais com as mudanças sugeridas. No caso do não preenchimento e carimbo dos formulários, por exemplo, foram comprados carimbos para todo o grupo de enfermeiros. Em relação aos médicos, pode-se indicar um médico responsável por plantão para verificação e acompanhamento do preenchimento e assinatura (com carimbo) de todos os prontuários. O problema dos termos de consentimento pode ser abordado da mesma forma. Para o caso da avaliação inicial dentro do prazo de 24 horas é importante definir processos de trabalho. Um quadro, por exemplo, poderia ser afixado em cada enfermaria onde uma pessoa (médico líder) seria o responsável por listar cada paciente que deu entrada (dia e hora) e cada profissional de sua equipe (enfermeiro, nutricionista, assistente social, etc) deveria verificar tal quadro no início e fim de seu plantão identificando os pacientes que precisariam ser avaliados. As lideranças identificadas poderiam passar por treinamento intensivo de qualidade, inclusive em outras organizações de saúde já acreditadas, ouvindo o relato de colegas médicos que poderiam mostrar as vantagens para a própria dinâmica e segurança da equipe no atendimento as normas estabelecidas. Estes médicos líderes deveriam servir como multiplicadores para o restante do corpo clínico. Finalmente, em relação às mudanças relacionadas a infra-estrutura, por tratar-se de organização governamental, é necessário um planejamento maior, incluindo a busca por 14 financiamento através de órgãos como Finep ou BNDES que já incluem em suas políticas o financiamento para a busca de acreditação. 6. Abordagem de ensino e sugestão de organização do quadro Este caso foi escrito para ser utilizado seguindo as etapas da metodologia de ensino através de casos, ou seja, que os alunos aprendam por descoberta. Assim sendo, a idéia é não passar qualquer teoria e iniciar a aula diretamente com a discussão do caso. Se houver a possibilidade de os alunos se reunirem em grupos antes da sessão plenária, melhor. O professor pode começar a discussão seguindo as questões de discussão e, quando necessário, “abrir janelas” para explicar conceitos como em que consiste um programa de qualidade, quais os objetivos, dificuldades e resultados que podem ser esperados, etc. Quando a discussão chegar no tema da Acreditação, a mesma seqüência pode ser obedecida. O quadro pode ser um ótimo instrumento para organizar o debate. Uma sugestão de quadro está apresentada a seguir. Se sobrar tempo, o professor pode explorar um pouco mais o referenciado artigo de Sangüeza et al. (2007) sobre as diferenças entre as instituições acreditadoras. Outra alternativa é trabalhar o site da ONA, instituição normalmente preferida por hospitais e clínicas brasileiras para uma primeira acreditação. Motivadores Melhoria de processos Reconhecimento nacional e internacional Diferenciais competitivos Obstáculos identificados Eficiência Cultura médica (-) Reconhecimento Foco no atendimento do paciente Avaliação objetiva Desempenho Cultura de qualidade Qualificação equipe Pressões da sociedade Pressões governamentais Fatores críticos de sucesso Envolvimento médicos dos Identificação líderes de Não envolvimento de lideranças Envolvimento (-) líderes de Trabalho em equipe da Resistência a Clima de mudança mudança (-) Acesso Educação e treinamento Visão de futuro Poder de negociação junto as fontes pagadoras Foco no paciente Funcionários terceirizados (-) Melhoria contínua Reconhecimento estratégico da qualidade 15 7. Referências CBA. Disponível em http://cbacred.org.br Acesso em: março de 2009. HAYES, J.; SHAW, C. (1995). Implementing Accreditation Systems. International Journal for Quality in Health Care. v. 7, n.2, pp.165 – 171. HUQ, Z.,; MARTIN, T. (2000). 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