Perfil dos fatores de riscos cardiovasculares em profissionais de enfermagem de uma grande emergência Profile of risks factors cardiovasculares nursing professionals an emergency Thais de Rezende Bessa Guerra Mestre em Ciências Medicas. Hospital Municipal Souza Aguiar E-mail: [email protected] Laura Sestari Teixeira Especialista em Terapia Intensiva. Hospital Municipal Souza Aguiar E-mail: [email protected] Magali Carvalho Delfino Enfermeira. Hospital Municipal Souza Aguiar E-mail: [email protected] Miriam da Silva Rufino Enfermeira. Hospital Municipal Souza Aguiar E-mail: [email protected] José Ari da Silva Enfermeiro. Hospital Municipal Souza Aguiar. E-mail: [email protected] Resumo As doenças cardiovasculares são responsáveis por uma alta morbidade e mortalidade no Brasil. Estudos têm despertado o interesse por atingirem grandes bases populacionais e profissionais de saúde. Estudo tem por objetivo conhecer o perfil cardiovascular dos profissionais de enfermagem atuantes em uma grande emergência da rede pública de saúde do Rio de Janeiro. Como método de estudo optou-se pelo observacional, descritivo e transversal, realizado no período de 2014 a 2015 com os profissionais de enfermagem. O protocolo empregado foi realização da anamnese e medidas antropométricas de risco cardiovascular (circunferência abdominal, índice de massa corporal) e aferição de pressão arterial. Foram realizadas entrevistas. Na discussão e conclusão ficou evidenciado que tem um número elevado de profissionais com hipertensão, obesidade e fatores de riscos cardiovasculares na unidade hospitalar estudada. Se faz necessária, a inserção e atuação de um profissional de saúde do trabalhador neste ambiente, cabendo-lhe o papel de educador e interventor nas condições de saúde deste grupo, através de métodos e técnicas de rastreamento e monitoramento da saúde, bem como, a adoção de medidas preventivas e intervenções a fim de tratar os indivíduos com riscos cardiovasculares. Palavras-chave: Doenças cardiovasculares; fatores de riscos; hipertensão arterial; profissionais da saúde; enfermagem. Abstract Cardiovascular diseases are responsible for high morbidity and mortality in Brazil. Studies have aroused interest in reaching large population bases and health professionals. This study aims to know the cardiovascular profile of nursing professionals working in a major emergency of the public health network in Rio de Janeiro. As a study method, the observational, descriptive and cross-sectional study was carried out between 2014 and 2015 with nursing professionals. The protocol used was anamnesis and anthropometric measures of cardiovascular risk (abdominal circumference, body mass index) and blood pressure measurement. Interviews were conducted. In the discussion and conclusion it was evidenced that it has a high number of professionals with hypertension, obesity and cardiovascular risk factors in the hospital unit studied. It is necessary, the insertion and actuation of a worker's health professional in this environment, being the role of educator and intervener in the health conditions of this group, through methods and techniques of health monitoring and tracking, as well as The adoption of preventive measures and interventions in order to treat individuals with cardiovascular risks. Key words: Cardiovascular diseases; risk factors; hypertension; professionals health; nursing. Introdução As doenças cardiovasculares apresentam elevados custos sociais e econômicos no Sistema Único de Saúde. Cerca de 30% das mortes que ocorreram no mundo, o que corresponde a quase 15 milhões de óbitos por ano, a maioria é proveniente dos países em desenvolvimento 1. Segundo o DataSUS, base de dados com registro de morbidade e mortalidade do Sistema Único de Saúde do Brasil, no ano de 2015 foram registrados 289.000 óbitos de origem cardiovascular, sendo 20% com adultos jovens entre os 20 a 49 anos de idade e 41,2% com grupo de idade de risco acima de 50.2 Dentre as patologias cardiovasculares, a hipertensão arterial sistêmica é o fator de risco mais importante, 80% são mortes por acidente vascular cerebral e 40% refere a óbitos por doença coronariana resultantes de hipertensão. A doença hipertensiva, por si só é responsável diretamente por cerca de 5% dos óbitos dentro do grupo das doenças cardiovasculares 2,3 . Os aspectos que envolvem o elevado índice de morbidade e mortalidade das doenças cardiovasculares estão relacionados com os fatores de riscos suscetíveis à modificação por mudanças nos hábitos de vida e/ou por medicamentos. Quanto aos fatores de risco não modificáveis temos a raça, sexo hereditariedade e idade. Dentre os fatores modificáveis temos a hipertensão, dislipidemias, diabetes melitus, hipertrigliceridemia, obesidade, sedentarismo, tabagismo, uso de anticoncepcionais hormonais e estresse . 4,5 Os fatores de riscos cardiovasculares têm sido relacionados entre profissionais de saúde, principalmente na profissão da enfermagem. Portanto, este estudo considera relevante conhecer o perfil cardiovascular dos profissionais atuantes na rede hospitalar de emergência no município do Rio de Janeiro. Metodologia O objetivo deste estudo é conhecer o perfil cardiovascular dos profissionais de enfermagem em uma grande emergência hospitalar do Sistema Único de Saúde. Trata-se de um estudo observacional, transversal. Realizado no período de dezembro de 2014 a fevereiro de 2015. O cenário do estudo foi um hospital público com perfil de atendimento de emergência, localizado no centro do Rio de Janeiro-Brasil. Foram convidados a participar do estudo profissionais de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem), cujo critério de inclusão foi aceitar participar da pesquisa e avaliação da composição corporal; e critérios de exclusão foram profissionais com licença médica com até trinta dias anteriores a coleta e no período atual da coleta. Como protocolo de estudo tivemos a etapa 1: instrumento de anamnese com história pregressa e atual do profissional e aferição de sinais vitais, e etapa 2: avaliação antropométrica: peso, altura e circunferência abdominal. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética sob o número 1.255.814. Descrição das etapas Na primeira etapa: foi realizada a anamnese e ao final (no intuito de garantir a fidedignidade da aferição e repouso) foi aferida a pressão arterial. Os valores da pressão arterial foram realizados pelo método indireto com utilização do aparelho oscilométrico de marca específica (Dixtal®-modo automático) e manguitos com bolsa de borracha compatível à circunferência braquial do indivíduo. Os níveis tensionais foram obtidos por meio de duas medidas consecutivas, com intervalo de 120 segundos entre cada uma, obedecendo-se os critérios preconizados: foi considerado valor ótimo de pressão arterial: <120 x 80 mmHg, valor normal de pressão arterial: < 130/85 mmHg, valor ideal de pressão arterial para pessoas com risco de diabetes e doença renal: <130 x 80 mmHg 7. Para pressão arterial acima dos valores normais foram realizadas três aferições subsequentes para obter a média da pressão arterial. Na segunda etapa: para as medidas antropométricas foram realizadas a pesagem com a balança da marca Filizola® e Estadiômetro. Para verificar o índice de massa corporal, utilizou-se valor obtido através da divisão do peso do indivíduo em quilos, pelo quadrado de sua altura em metros (kg/m2). Os uniformes foram previamente pesados e descontados do peso total de cada indivíduo em aproximadamente 800 Kg. Análises, resultados e discussão A organização dos dados foi realizada pelo programa Microsoft Excel, 2010, tabulados e analisados pelo programa SPSS v.17.0 (Statiscal Package for the Social Sciences). As variáveis categóricas foram expressas através de distribuições com frequências absolutas e relativas e percentuais (%). Para as variáveis contínuas foram realizados cálculos de média, mediana, desvio padrão e percentis. O estudo foi realizado com profissionais de enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares) (n=196). Quanto à cor autodeclarada branca: 64,2 %, média de idade: 58,8± 12,2 DP, média do peso corporal 78,5± 28 DP e estatura média 171±31 DP. Tabela 1 – Perfil Corporal (IMC) dos profissionais de enfermagem. Rio de Janeiro. Brasil, 2016 Profissionais 2 Índice de massa corporal (kg/m ) % (n=196) < 25 (Normal) 68 35 25 a 27,4 (Sobrepeso) 47 24 27,5 a 29,9 (Obesidade grau I ou leve) 41 21 30 a 39,9 (Obesidade grau II ou moderada) 34 17 6 3 n=196 100% 40 (Obesidade grau III ou grave) TOTAL Observa-se que tanto o sobrepeso quanto à obesidade leve á moderada foram predominantes nos profissionais de enfermagem. A obesidade está comumente associada à diversos fatores de riscos cardiovasculares, dentre eles: resistência à insulina, o que pode levar à intolerância à glicose e consequente desenvolvimento do diabetes tipo 2 e doença arterial coronária8. Dados do Ministério da Saúde indicam que em média 1/5 (um quinto) dos adultos estão obesos . A obesidade está relacionada com a elevada prevalência de hipertensão. Entre indivíduos 5,6 obesos normotensos há uma maior probabilidade de ocorrência de complicações hipertensivas e cardiovasculares9. Tabela 2–Perfil de pressão arterial dos profissionais de enfermagem. Rio de Janeiro, Brasil, 2016. Profissionais Valores de pressão arterial Valor ótimo de pressão arterial: <120 x 80 mmHg % (n=196) 20 10 69 35 107 55 196 100 Valor normal de pressão arterial: < 130/85 mmHg Valor ideal de pressão arterial para pessoas com risco de diabetes e doença renal: <130 x 80 mmHg TOTAL A prevenção da hipertensão e o controle da pressão arterial são medidas necessárias para reduzir a morbidade e a mortalidade cardiovascular. As mudanças no estilo de vida são ferramentas importantes para a redução efetiva da pressão arterial.10 A avaliação de fatores de riscos cardiovasculares deve estar associada com a história de antecedentes familiares de primeiro grau11. Os riscos de doenças coronarianas aumentam em relação ao grau de parentesco que apresenta a doença, ou, ainda se a percentagem de membros da família com doenças coronarianas for elevada, mais precoce será a manifestação das doenças cardiovasculares12. Este estudo mostra que os antecedentes familiares apresentam 32% de hipertensão, sendo o pai, a mãe e os irmãos. A história familiar de hipertensão tem sido apontada como fator predisponente para elevação da pressão arterial e deve ter maior atenção os indivíduos com essas características13. Os filhos de pais hipertensos estão mais propensos a desenvolver a doença do que aqueles filhos com pais normotensos14. Além disso, nossos resultados revelam que 27% destes profissionais possuem pai e/ou mãe realizando tratamento para diabetes melitus tipo I e II, importante fator de risco cardiovascular. Informações relacionadas ao estilo de vida A boa saúde é influenciada pelo estilo de vida que interfere diretamente na qualidade de vida. Um dos aspectos que compõem o estilo de vida saudável é a realização de atividades físicas15. Neste estudo foram observados que 41% realizam algum tipo de atividade física. As atividades físicas e de lazer registradas foram: futebol 58%, ciclismo 12% e caminhada 10%. A atividade física regular associa-se com múltiplos benefícios para a saúde, incluindo a redução da incidência de doenças cardiovasculares, como decorrentes de ateroscleroses coronarianas15. Além disso, reduz a pressão arterial, o peso corporal e contribui para a redução do risco de indivíduos normotensos desenvolverem hipertensão8. Outro fator de risco relacionado ao estilo de vida saudável investigado foi o tabagismo. No presente estudo, observa-se que 30% eram fumantes e 30% relataram não ser fumantes e/ou ex-fumantes. O fumo é considerado importante causa de perda de saúde, estando associado ao desenvolvimento de doenças respiratórias, cardiovasculares e neoplásicas16. Quanto ao consumo de bebida alcoólica 66% relataram que consomem algum tipo pelo menos uma vez por semana. O tipo de bebida consumida pela maior parte dos participantes foi: cerveja com consumo de 77%, seguida por aguardente com consumo de 18,5%. Embora os efeitos do consumo do álcool estejam relacionados á quantidade e regularidade da ingestão, do tipo de bebida, do estado nutricional e suscetibilidade individual e de fatores genéticos17, o álcool eleva a pressão arterial e a variabilidade pressórica, aumentando a prevalência de hipertensão, sendo considerado fator de risco para acidente vascular cerebral e causa de resistência a terapêutica anti-hipertensiva. 18 O estresse é um dos fatores que afeta a qualidade vida que tem sido relacionado por vários autores. No momento de estresse, o corpo prepara-se para lutar ou para fugir da situação através de uma série de mudanças, tais como aumento na produção de adrenalina e uma maior constrição dos vasos sanguíneos entre outras mudanças, fazendo com que o coração bata mais rápido, ao mesmo tempo em que a resistência é aumentada nos vasos sanguíneos periféricos. Com o aumento da resistência e da atividade cardíaca, a pressão tende a aumentar 20 . Para investigar este fator de risco questionou-se se o trabalhador se considerava ser uma pessoa estressada ou nervosa: 37% indicaram estressadas ou nervosas e apontaram o serviço e a casa como os principais ambientes onde frequentemente ficavam estressados. Informações relacionadas ao atendimento de saúde Procurou-se obter informações sobre a utilização dos serviços de saúde e em quais ocasiões os profissionais o procuravam e se realizavam algum tratamento medicamentoso. Dos profissionais que constituíram a população do estudo apenas 21% sabiam que eram hipertensos, sendo que 15% realizavam tratamento farmacológico. A presença de diabetes nesta população em tratamento foi referida em 7%. Esta informação na unidade hospitalar é um importante indicador de saúde do trabalhador, a partir daí, poderemos planejar ações de educação em saúde para o trabalhador com objetivo de melhorar a adesão ao tratamento, assegurar o rastreamento na saúde e prevenir eventos cardiovasculares na população estudada. Conclusões Concluímos que este grupo de profissionais de enfermagem estão expostos aos fatores de riscos de doenças cardiovasculares pela: falta de exercícios, tabagismo, ingestão de álcool e obesidade. Observa-se ainda, que as equipes de enfermagem possuem baixa adesão ao tratamento. Diante disso, pensando no impacto socioeconômico e assistencial, sugere-se implementar ações de educação em saúde nesta população estudada a fim de prevenir eventos cardiovasculares. Sugere-se que políticas de saúde pública do trabalhador sejam inseridas neste ambiente, cabendo-lhe o papel de educador e interventor nas condições de saúde deste grupo, através de métodos e técnicas de rastreamento e monitoramento da saúde dos trabalhadores, bem como, a adoção de medidas preventivas e intervenções a fim de tratar os indivíduos com riscos cardiovasculares. Referências bibliográficas 1. Duncan BB; Chor D; Aquino E.M.L; Bensenor I.M; Mill J.G; Schmidt M.I; Lotufo P.A; Vigo A; Barreto S.M. Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil: prioridade para enfrentamento e investigação. Rev. Saúde Pública 2012; 46 (Supl):126-34. 2. Ribeiro A.L; Duncan B.B; Brant L.C; Lotufo P.A, Mill J.G; Barreto S.M. Cardiovascular Health in Brazil: Trends and Perspectives. Circulation. 2016 Jan 26; 133(4):422-33. 3. BRASIL. Ministério da Saúde. 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