RECONSTRUÇÃO PÁLPEBRAL COM RETALHO DE TRIPIER EYELID RECONSTRUCTION USING TRIPIER FLAP ROGÉRIO BITTENCOURT Médico Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru . CHRISTIAN KAIMOTO Instrutor de Ensino do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru ALAN JEZIOROWSKI Preceptor do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru. GUILHERME PINTARELLI Médico Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru. EDUARDO DA S. NUNES Médico Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru. JOSÉ AUGUSTO PUPIO REIS JUNIOR Médico Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru. SERVIÇO DE CIRURGIA PLÁSTICA Hospital Universitário Cajuru - PUC - PR - Av. São José 300 Curitiba-PR CEP: 80050-350 - Email: [email protected] DESCRITORES RECONSTRUÇÃO, ANATOMIA, OLHO KEYWORDS RECONSTRUCTION, ANATOMY, EYER RESUMO Introdução: As perdas horizontais de pálpebra inferior constituem um desafio para o cirurgião, seja pela necessidade de restituir-se a proteção da córnea, bem como garantir um resultado estético satisfatório à uma área em evidência. Objetivo: Mostrar a experiência do Serviço com o retalho de Tripier nos reparos de perdas horizontais pós-traumáticas da pálpebra inferior. Métodos: Um retalho miocutâneo bipediculado de pálpebra superior, ou de Tripier na descrição original, foi usado no tratamento de três pacientes com perdas horizontais pós-traumáticas de graus variados de pálpebra inferior. Resultados: A oclusão palpebral foi restabelecida e observamos um bom resultado estético a despeito de perdas horizontais importantes. Discussão: A anatomia da região palpebral é complexa e muitas são as técnicas reconstrutoras, tendo a de Tripier uma indicação precisa de acordo com o tipo de dano. Conclusão: O retalho, transposto sob a forma de uma ponte, mostrou-se bastante versátil, houve uma boa combinação entre a área doadora e receptora e a técnica admitiu variações como o enxerto cartilaginoso autólogo. ABSTRACT Background: Horizontal defects became a major challenge to the plastic surgeon who needs to restore the adequate corneal protection and achieve a good aesthetic result. Methods: We used a bipedicled musculocutaneous flap, or just Tripier flap in the first description, to correct horizontal posttraumatic defects in the lower lid of three patients. Results: A satisfactory eyelid occlusion and a good aesthetic 118 result could be observed despite important horizontal defects. Conclusion: The flap is transposed in a bridge shape and showed to be very versatile and presented a good color match between the donor and de recipient area. Finally, in order to keep a structural support, autologus cartilage graft was used as a variation of the original technique. INTRODUÇÃO O objetivo da reconstrução palpebral é a proteção da córnea, a reestruturação da lamela e o estabelecimento da simetria facial1. Um procedimento inadequado pode levar à exposição corneana e conseqüente ceratopatia2. Vários tipos de retalhos podem ser utilizados para a reconstrução da pálpebra inferior tendo como área doadora as regiões adjacentes à periórbita ou diretamente da pálpebra superior. Os retalhos provenientes da pálpebra superior trazem tecidos com as mesmas características da área a ser reparada. O retalho bipediculado da pálpebra superior foi descrito por Tripier3,4,5 em 1888, possivelmente o primeiro miocutâneo relatado. Constitui-se uma opção importante para o tratamento de defeitos horizontais da pálpebra inferior e é composto por pele e músculo orbicular da pálpebra superior, transposto sob a forma de uma ponte (Figura 1). A presença de fibras musculares fornece suporte e aumenta a vascularização local. Seus pedículos se situam próximos aos cantos medial e lateral. A área doadora é fechada primariamente diminuindo a morbidade. OBJETIVOS Mostrar a experiência do Serviço com o retalho Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 de Tripier nos reparos de perdas horizontais pós traumáticas da pálpebra inferior. MÉTODOS Dentre os casos de reconstrução palpebral realizados no Hospital Universitário Cajuru, utilizamos o método descrito por Tripier em pacientes com seqüelas de trauma horizontal. Apresentamos um caso de um paciente do sexo masculino, de 28 anos, com perda horizontal de 6 mm da margem ciliar medial e ectrópio da porção lateral (Figura 2). A lesão foi reconstruída com um retalho de Tripier e a lamela posterior reparada apenas por descolamento da conjuntiva até o fundo de saco conjuntival inferior (Figura 3), não sendo necessária a utilização de enxerto cartilaginoso devido à presença residual do tarso lateral (Figura 4). Em outro caso, uma paciente do sexo feminino, de 36 anos, com perda completa da pálpebra inferior pós trauma (Figura 5), sendo submetida ao mesmo procedimento (Figura 6 e 7). O terceiro caso refere-se a um paciente do sexo masculino, com idade de 32 anos, apresentando perda completa da pálpebra inferior (Figura 8). Pela ausência completa do tarso optamos pela inclusão de enxerto de cartilagem auricular, fixando-o nas extremidades do resquício de tarso (Figura 9). A face do pericôndrio foi posicionada em contato com o globo ocular e coberta pelo retalho de Tripier (Figura 10). As bases dos pedículos foram seccionadas duas semanas após a transposição. Mesmo com a oclusão ocular atingida, orientamos os pacientes a fazer uso de pomadas oftálmicas e colírios lubrificantes por 2 a 3 semanas. Fig. 3: Trans-operatório, descolamento até fundo de saco conjuntival. Fig. 4: Pós-operatório. Fig.5: Pré-operatório, perda horizontal completa Fig. 1: Técnica de Tripier Fig. 6: Per-operatório, observar os pedículos presentes. Fig. 2: Pré-operatório, perda horizontal medial e ectrópio lateral. Fig. 7: Pós-operatório tardio com oclusão completa. Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 119 Fig. 8: Pré-operatório, perda horizontal lateral e lesão granulomatosa. ser obtida por meio de enxertos de pele ou retalhos locais. Já o reparo de lesões de toda a espessura palpebral pode ser mais difícil, e exigir opções variadas. Quando o defeito de espessura total é menor, o fechamento pode ser primário e se maior, temos que seccionar o ligamento cantal lateral para consegui-lo. Se a perda é total, necessitamos de retalhos e enxertos para reconstruir as 2 lamelas2,7,8 e cartilagem para manter estrutura palpebral. Em 1 caso utilizamos enxerto de cartilagem auricular, e nos outros o tarso residual foi suficiente para a estrutura. Levin e Leone incorporaram os pedículos do retalho de Tripier na área receptora diminuindo em um tempo a reconstrução. Nós realizamos em 2 tempos e achamos que a área doadora fica menor e de bom aspecto. CONCLUSÃO O retalho de Tripier mostrou-se bastante versátil nas lesões pós- traumáticas por ser uma técnica simples, sem cicatrizes aparentes e possibilita o uso de enxertos de cartilagem mantendo uma pálpebra estável e com bom resultado estético e funcional. Fig. 9: Trans-operatório, fixação do enxerto de cartilagem. REFERÊNCIAS Fig. 10: Pós-operatório com os pedículos ainda presentes. RESULTADOS Nos casos relatados o resultado foi satisfatório com os retalhos viáveis e boa oclusão palpebral e resultado estético satisfatório. Apenas no caso em que utilizamos o enxerto de cartilagem com o pericôndrio voltado á superfície ocular houve hiperemia conjuntival temporária, e com a utilização de pomadas e colírios evitou-se a abrasão corneana. Não foram observadas outras complicações. DISCUSSÃO O reparo dos defeitos palpebrais precisa ser cuidadosamente elaborado de modo que a função seja restaurada e o olho protegido1. A pálpebra é dividida didaticamente em duas lamelas1,3,6. A reconstrução de defeitos da lamela anterior pode 120 1. Kelly Bickle, MD and Richard G. Bennett, MD. Tripier Flap for Medial Lower Eyelid Reconstruction. Dermatol Surg 2008;34:1545–8. 2. David H. Verity and J. Richard O. Collin. Eyelid reconstruction: the state of the art. Curr Opin Otolaryngol Head Neck Surg 2004; 12:344–8. 3. Trindade F, Rosa J. Tripier myocutaneous flap as a versatile technique to reconstruct the lower eyelid. JEADV 2008, 22, 1236–78. 4. D. Elliot, J.A. Britto. Tripier’s innervated myocutaneous flap 1889. Br J Plast Surg 2004; 57, 543–9. 5. Tripier L. Lambeau musculo-cutané en forme de pont. Appliqué à la restauration des paupières. Gazette dês Hôpitaux de Paris 1889;62:1124-5. 6. Arshad R. Muzaffar, M.D., Bryan C. Mendelson, F.R.C.S.Ed., F.R.A.C.S., F.A.C.S., and William P. Adams, Jr., M.D. Surgical anatomy of the ligamentous attachments of the lower lid and lateraah l canthus. Plast. Reconstr. Surg 2002; 110 (3): 873-84. 7. Jorge O. Guerrissi, M.D. Surgical reconstruction of the palpebral border: upper lid eyebrow-musculocutaneous island flap. Plast. Reconstr. Surg 2005; 115 (4): 1118-23. 8. Serhat Tuncer, M.D., Muzaffer Çelik, M.D., Ufuk Emekli, M.D., and Sinan Nur Kesim, M.D. Subcutaneous bipedicle island flaps on the face. Plast. Reconstr. Surg 2001; 107 (1): 148-51. 9. Glenn W. Jelks, M.D., Paul M. Glat, M.D., Elizabeth B. Jelks, M.D., and Michael T. Longaker, M.D. Medial Canthal Reconstruction Using a Medially Based Upper Eyelid Myocutaneous Flap. Plast. Reconstr. 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