RECONSTRUÇÃO BILATERAL DE PÁLPEBRA INFERIOR - RELATO DE CASO BILATERAL LOWER EYELID RECONSTRUCTION - CASE REPORT ANTONIO CARLOS S. MINUZZI FILHO1, TIAGO FALCÃO CUNHA2, ADRIANA ROSA MILANI2, ANDRÉ ALVES VALIATI3, ELISETE PEREIRA DE SOUZA4, PEDRO BINS ELY5, RESUMO Os tumores malignos da pele têm uma elevada incidência em nosso país, sendo muitas vezes situados na região das pálpebras inferiores. Neste relato de caso é apresentado uma paciente com múltiplos carcinomas cutâneos, e envolvimentos de ambas pálpebras, a qual foi submetida a extensa ressecção cirúrgica das lesões e posterior reconstrução do aparato palpebral com diferentes técnicas. Utilzou-se retalho de Tripier associado a enxerto fibromucoso de palato e cantopexia com enxerto de pele. Paciente com boa evolução pós-operatória demonstrando a eficácia do tratamento. DESCRITORES: 1. Pálpebra inferior; 2. Reconstrução; 3. Tumor maligno da pele. ABSTRACT Malignant tumors of the skin have a high incidence in our country and are often located in the region of the lower eyelids. In this case report is presented a patient with multiple cutaneous carcinomas, and the involvement of both eyelids, which underwent extensive surgical resection of the lesions and subsequent reconstruction of the eyelid apparatus with different techniques depending on the resulting defect. We used Tripier flap associated with fibromucosal palate graft and canthopexy with skin graft. Patient with good postoperative outcome demonstrating the effectiveness of treatment. Localização delicada, pois pode comprometer o aparato palpebral, nobre estrutura que possui uma anatomia complexa e tem como principal função a proteção da córnea através da perfeita oclusão palpebral e lubrificação do globo ocular. Assim, nesta região, a reconstrução cirúrgica deve priorizar a função e, secundariamente, o resultado estético. Existem atualmente diversas técnicas de reconstrução de pálpebra e o presente estudo tem como objetivo relatar um caso de utilização de enxerto fibromucoso do palato associado a de retalho de Tripier à direita e cantoplastia à esquerda. OBJETIVOS Relatar o caso de paciente com carcinomas de pele acometendo as pálpebras inferiores, apresentando o tratamento através de reconstrução palpebral bilateral com técnicas distintas e os resultados pós-operatórios. MÉTODOS Relato do caso de uma paciente feminina, branca, 37 anos, que veio ao Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Santa Casa de Porto Alegre por apresentar lesões cutâneas em face. Após ter sido submetida a biópsias realizadas pela equipe da Dermatologia, a paciente foi encaminhada para tratamento com a equipe de Cirurgia Plástica com o diagnóstico anatomopatológico de carcinomas epidermóides na face. KEYWORDS: 1. Lower eyelid; 2. Reconstruction; 3. Skin carcinoma. INTRODUÇÃO Os tumores malignos da pele tem uma elevada incidência em nosso país e são sendo muitas vezes encontrados na região das pálpebras. 1. Residente de cirurgia plastica - UFCSPA 2. Residente do Serviço de Cirurgia Plástica da ISCMPA 3. Cirurgião Plástico 4. Preceptora do Serviço de Cirurgia Plástica da ISCMPA 5. Chefe do Serviço de Cirurgia Pástica da ISCMPA 50 Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012 RESULTADOS DISCUSSÃO O caso apresentava inúmeras dificuldades, mas a mais importante era o comprometimento muito extenso dos três terços da face e da região palpebral inferior bilateral, impossibilitando a realização de grandes retalhos locais da face. O tratamento então proposto foi a realização da retirada das lesões de forma parcelada. Sendo escolhido como primeira etapa a ressecção das lesões na hemiface direita, com reconstrução palpebral utilizando enxerto fibromucoso do palato combinado com retalho de Tripier da pálpebra superior com pedículo lateral (única zona próxima com pele não comprometida por lesões) e enxerto de pele total da região supraclavicular direita na área restante. Os tumores malignos das pálpebras correspondem a 40% dos tumores periorbitais e, destes, 90% acometem as pálpebras inferiores. O carcinoma epidermóide é o segundo tipo histológico mais comum, ocorrendo em cerca de 8 a 15% dos casos. Em virtude do fácil diagnóstico dos tumores palpebrais, consegue-se na grande maioria dos casos uma ressecção mais limitada e um tratamento mais simples com fechamento primário. Entretanto, ainda nos dias de hoje, alguns pacientes demoram muito para buscar o atendimento médico, apresentando lesões avançadas necessitando de cirurgias mais agressivas, como é o caso na nossa paciente. Algo que deve ser lembrado é que a pele ideal para reconstrução palpebral é a localizada na região periocular, pois apresenta coloração e espessura similares. Isto pode ser obtido através da confecção de retalhos locais como o retalho descrito originalmente por Leon Tripier5, retalho miocutâneo da pálpebra com pele e pequena faixa de músculo orbicular, mono ou bipediculado que possui vascularização abundante oferecida pela arcada supratarsal. Esta técnica no entanto apresenta limitações: necessidade de excesso de pele na pálpebra superior e assimetria necessitando de blefaroplastia contralateral para correção. A paciente do presente estudo apresentava múltiplas lesões cutâneas difusas por toda pele da face o que impossibilitava a realização de grandes retalhos locais, no entanto existia pele saudável na pálpebra superior, habilitando a confecção do retalho de Tripier, e as lesões eram todas superficiais o que garantia a realização de cirurgia com extensa área de ressecção, porém com pouca profundidade, apresentada assim uma boa zona receptora para enxerto de pele. O comprometimento da pálpebra inferior estava avançado e por isso necessitou da realização de enxerto fibromucoso do palato para reconstrução. O palato é ótima zona doadora de enxerto devido à abundância de tecido, boa cicatrização, cicatrizes imperceptíveis e por reconstruir de maneira adequada a lamela posterior da pálpebra. A blefarorrafia utilizada em ambos os lados é importante para a prevenção do ectrópio por retração cicatricial, devendo permanecer por no mínimo três meses. Na segunda etapa, três meses após, foi realizada ressecção das lesões em hemiface esquerda com ressecção do canto lateral da pálpebra inferior e reconstrução através de cantoplastia combinada a enxerto de pele. Ambos procedimentos realizados sob anestesia geral, sem intercorrencias, com confecção de curativo de Brown na área enxertada e blefarorrafia para proteção do globo ocular. Alta hospitalar no primeiro dia de pós operatório. Anatomopatológico das lesões com diagnóstico de Carcinoma Epidermóide bem diferenciado multifocal e limites cirúrgicos livres de neoplasia. A paciente apresentou ótima evolução pós operatória com viabilidade dos retalhos e adequada integração dos enxertos além de boa qualidade estética das cicatrizes. CONCLUSÃO A reconstrução de pálpebra com a combinação de enxerto fibromucoso do palato, retalho miocutâneo de Tripier e enxerto de pele oferece um método eficaz para defeitos de espessura total e com mais de 50% de perda em extensão. Ja o reatalho de avançamento associado a cantoplastia Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012 51 mostrou-se resolutivo para ressecção que envolve o canto lateral da pálpebra. Concluímos então que estas são táticas cirúrgica com bons resultados funcionais e estéticos. REFERÊNCIAS 1 - Kakizaki H, Malhotra R, Madge SN, Selva D. Lower eyelid anatomy an upddate. Ann Plast Surg. 2009;63(3):344-51. 2 - Verity DH, Collin RO. Eyelid reconstruction: the state of the art. Curr Opin Otolaryngol Head Neck Surg. 2004;12: 344-8. 3 - Mathijessen IM, Van der Meulen JC, Guidelines for reconstruction of the eyelids and canthal regions. J Plast Reconstr Aesthet Surg. Jun 24 2009. 4 - Cohen MS, Shorr N. Eyelid reconstruction with hard palate mucosa grafts. Ophthal Plast Reconstr Surg. 1992;8 (3):183-95. 5 - Tripier L. Lambeau músculo-cutané en forme de pont. Appliqué a la restauration de paupieres. Gazette dês Hopitaux de Paris 1889;62:1124-5. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Rua coronel corte real, 82 - porto alegre - RS CEP: 90630080 E-mail: [email protected] 52 Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012