FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E PRÁXIS SOCIAL Júlio César Werlang Universidade de Passo Fundo – UPF e-mail: [email protected] Resumo: Reflexão teórica crítica sobre a imbricação entre a filosofia da educação, no processo histórico, e a práxis social. Ênfase na educação contemporânea com referência na Escola de Frankfurt, de modo particular em Adorno. Procura de uma perspectiva crítica e emancipadora para a educação no universo do capitalismo tardio. A educação como prática social formativa de sujeitos livres e interventores sociais. Palavras-chaves: Filosofia da educação; Práxis social; Emancipação; Sujeito; Formação cultural; Semicultura. A filosofia da educação situa-se na fronteira entre a filosofia e as ciências da educação, neste sentido ela já é posicionamento, tomada de consciência e crítica. É posicionamento na medida em que procura refletir a partir de fundamentos e concepções antropológicas e sociais. É tomada de consciência quando interroga a respeito do quê e do para quê educacional. É crítica, ao refletir, interpretar, negar de forma consistente, os processos formativos, ou melhor dizendo, os processos semi-formativos que não conduzem a emancipação e a humanização dos sujeitos. O educar e o filosofar encontram sentido e significado na perspectiva da emancipação. A fronteira entre a filosofia e a educação é demarcada pela pergunta sobre o humano, sobre a natureza humana, sobre as possibilidades da humanidade, assumindo todo o contraditório, o ambivalente, o limite e o ilimitável da condição humana. A filosofia da educação na sua relação com a prática e a ação social estabelece um vínculo reflexivo e crítico com os processos formativos, já que a educação se apresenta como prática social, que visa a formação de sujeitos livres, autônomos e emancipados. O papel de filosofia da educação é refletir sobre os problemas da formação humana e cultural e, portanto, refletir criticamente sobre as práticas educativas e seus fundamentos nos diferentes tempos e contextos, provocando, de forma permanente a reelaboração das ações educacionais na sociedade. Ao longo da história, a filosofia da educação teve ênfases diferentes, adequando-se aos contextos econômicos e sociais ao mesmo tempo em que antecipava novas possibilidades e concepções. Alguns exemplos da imbricação entre o processo formativo e a ação social ao longo da história. A educação Grega cuja matriz é a Paidéia procurava formar o homem integral, desde a sua dimensão corpórea intelectual e volitiva. A Paidéia Grega foi a primeira manifestação 2 sistematicamente desenvolvida de fé no poder transformador da educação, uma vez que atribui a importância ao mundo das idéias como fonte e princípio referencial de cultura voltada ao bem e ao belo. Os gregos entendiam que cabia um papel importante à educação na formação política, ética e estética do homem grego e na manutenção da cultura helênica. Jaeger considera que a genuína Paidéia grega não brotava de um modelo de um homem individual, mas da idéia do homem político, comunitário, genérico, com valores e princípios universais. A educação Clássica na Grécia procurava formar o homem como ser livre e responsável, desafiando o próprio destino e procura a sabedoria sem jamais possuí-la totalmente. A educação clássica formava para a liberdade na perspectiva da ação em sociedade, produzindo uma práxis social qualificada e interventora. A educação Romana por seu lado visava formar o cidadão, o homem que pudesse servir à sua pátria, à sua nação. Os romanos atribuíram importância ao papel integrador da educação para a solidificação do império. Criaram-se escolas e o ensino tornou-se público e gratuito; ouve a preocupação, inicial com a apropriação da cultura grega, entendendo que por meio da cultura os gregos poderiam minar a estrutura do poder Romano; por isso, o estado mantinha um controle sobre as iniciativas de ensino, atribuindo-lhe uma função essencialmente cívica. A esse propósito diz Cícero na república: “A pátria nos criou sob a condição de que dediquemos a seu serviço a maior parte e as mais belas energias de nosso espírito, de nosso talento e de nossa inteligência”. Trata-se de uma educação pela vida e para a vida, portanto de caráter prático-humanista, onde a dimensão retórica recebe ênfase particular. Nesse sentido, a práxis social que emerge desse processo formativo clássico Romano se apresenta como uma adequação ideológica ao sistema social predominante, enfatizando o caráter pragmático da formação. A filosofia da educação no período clássico tem um caráter forte na perspectiva da práxis social na medida em que a educação tem peso na produção de subjetividades que procuram a participação no processo social como interventores e reprodutores. Mantém a tensão entre a dimensão de adaptação ao contexto e configuração ao real e a autonomia dos sujeitos e busca de seus processos emancipatórios. Dando um salto na história, chega-se à filosofia moderna com suas conseqüências para o campo educacional, que deixa marcas revolucionárias do ponto de vista social: O período iluminista. A filosofia iluminista com seus ideais, que permanecem como desafios para a humanidade atual traz uma nova visão antropológica e, por conseguinte, uma outra concepção de intervenção social. A educação Iluminista deseja formar o ser humano emancipado e livre de todas as tutelas. 3 A educação passou a ser entendida como resultante da capacidade criadora da racionalidade humana e da liberdade do sujeito de criar e procurar resposta para os mais diferentes problemas da humanidade. O iluminismo influenciado pelo ideário da burguesia emergente, defendia como premissa necessária para a instauração de uma nova sociedade a liberdade absoluta do pensar e do agir do indivíduo, orientado unicamente por critérios racionais. A nova ordem exigia a superação do obscurantismo vigente até então pelas luzes, de forma que a via de emancipação humana deveria passar pela educação laica universal, única e gratuita. A educação escolar assumia dessa forma o enfoque totalizador e profético, na medida em que por seu intermédio poderiam ser promovidas as transformações sociais necessárias para instauração de uma nova ordem social política e cultural. (Mühl, 2003, p. 223). Essa conjugação produtiva, entre capacidade criadora da racionalidade humana e a liberdade do sujeito de criar e recriar a sua realidade caracteriza bem o período iluminista e a ascensão do pensamento moderno que postula a autonomia e a ênfase no sujeito que pensa. O sujeito pensante é capaz de livrar-se do obscurantismo irracional e orientar o seu agir por critérios racionais. A educação orientada por esses princípios adquire um caráter verdadeiramente profético, crítico e messiânico, em ter a tarefa de formar cidadãos revolucionários a partir de uma outra concepção. A educação tem seu papel ampliado, já que, desse processo, depende a continuidade da revolução no plano social e cultural. A instauração da nova ordem necessita do processo educativo para se consolidar, pois diz respeito a uma mudança de mentalidade, mudança de concepções o que exige como premissa a formação das subjetividades nessa nova perspectiva. Immanuel Kant que proclama a saída do homem do estado de incapacidade (menoridade) em que jazia sob o peso da tradição e da autoridade. Desafia o homem para que se atreva a servir-se da sua própria razão de forma pública, atingindo sua maioridade. A base da formação pedagógica de Kant sustenta-se numa razão que se efetiva como forma de pensar transcendental, isto é, como universal e crítica, que permanentemente coloca sob julgamento seus próprios fundamentos. Formar o sujeito crítico e transformador é o intento da filosofia e da pedagogia iluminista. A premissa que fundamenta toda concepção pedagógica iluminista é o princípio da subjetividade. A liberdade da subjetividade é que passa a determinar as configurações da cultura moderna na medida em que todos os aspectos essenciais patentes na realidade são desenvolvidos para dar acesso aos direitos do indivíduo. (Mühl, 2003, p. 224). 4 Essa premissa iluminista que dá fundamento à concepção pedagógica é o princípio da subjetividade. Esse princípio se faz articulador do projeto moderno e é a partir dele que se organiza a nova sociedade. A liberdade da subjetividade e a sua autonomia, bem como a reelaboração do agir humano com o critério racional sustentam a concepção moderna e iluminista numa perspectiva de emancipação do indivíduo de todas as tutelas. Goethe propõe o desenvolvimento das forças e aptidões específicas de cada educando. O desenvolvimento do singular e do diferente como afirmação da maioridade incluindo a formação da vontade.Goethe representa mais o movimento romântico moderno no qual a dimensão volitiva e emocional se insurgem contra o exacerbado racionalismo. O sujeito que sente, que pensa e faz bom uso de sua vontade caminha na perspectiva da maior liberdade assumindo mais integralmente o humano como tensão propositiva e como conflito que desafia ao crescimento e aperfeiçoamento. A contemporaneidade se apresenta como tempo da diversidade de posturas e propostas educativas em meio à crise da modernidade. A barbárie mostra a debilidade das sociedades modernas, o desenvolvimento aliado a desumanização e exploração do próprio homem. A Escola de Frankfurt procura refletir sobre a crise da modernidade e os processos de barbarização, fazendo uma crítica imanente e abrangente da sociedade capitalista tardia. A reflexão dos frankfurtianos sobre os processos formativos e culturais formula uma série de categorias e expressões categoriais que nos ajudam a compreender os problemas da educação e da cultura na sociedade atual. Ao analisar o fenômeno educativo o contexto contemporâneo se faz importante considerar as influências do âmbito extra-pedagógico sobre o processo de formação quando considerado de forma abrangente na sociedade capitalista tardia. Considerar nesta análise a força da Indústria Cultural se torna um imperativo para compreender com maior pertinência o fenômeno educacional. A Indústria Cultural, designa o processo de mercantilização da cultura e a produção cultural de massas destituída de seus aspectos críticos revolucionários e emancipadores. “O controle sobre os consumidores é mediado pela diversão” (Adorno, 1985, p. 128). O poder de convencimento da Indústria Cultural se realiza mediante o entretenimento, que gera uma passividade diante da realidade e um conformismo que se apresenta como confortável, já que oferece os artefatos de maneira pronta, impedindo de forma subrepticial a emergência da consciência autoreflexiva, que carece de esforço, disciplina e formação da vontade. A educação no universo das sociedades avançadas não pode ser considerada de forma isolada, mas necessita um olhar abrangente que inclua o que entendemos por cultura ou formação cultural. 5 Cultura, (Bildung), na tradição germânica, ao mesmo tempo em que compreende o conjunto de criações espirituais ( intelectuais, artísticas e religiosas) traz em si a exigência de formar seres humanos que, por sua vez, são consumidores/criadores da cultura. A dialética produto/processoconstitui sua historicidade, pelo menos em seus primórdios. O conceito de Bildung revela a tensão entre as dimensões: autonomia e liberdade do sujeito e a sua configuração à vida real. (Pucci, 1998, p. 90). Ao considerar a educação no universo cultural e formativo parece ser significativo observar essa tensão dialética presente. A educação é ao mesmo tempo reprodução social e transmissão de valores, mas não pode negar sua de dimensão emancipatória formação de subjetividades na perspectiva da liberdade da autonomia, da criação como processo permanentemente tensionado em relação a configuração do real. Ao tomar a noção de cultura a partir da tradição germânica (bildung) se está, de forma proposital, recuperando esse tensionamento dialético do processo formativo, sem o qual a educação perde o seu caráter emancipatório. Ao perder o potencial gerador de liberdade, a criatividade e autonomia, a educação se converte num processo semicultural. A conversão da cultura em semicultura é um processo que se foi estruturando com a universalização da razão instrumental. A formação cultural agora se converte em semiformação socializada, na onipresença do espírito alienado” (Adorno, 1996, p. 399). Trata-se de um processo impeditivo da formação cultural. A onipresença do espírito alienado torna perceptível a dificuldade de formar e educar para uma autoconsciência reflexiva e crítica e ajuda-nos a compreender o declínio cultural das sociedades ocidentais. É visível a desproporção entre os avanços científicos, tecnológicos e estruturais e a formação humana cultural e ética. A educação contemporânea não pode ser observada de forma criteriosa se não considerar a influência mediática. O mundo moderno se globaliza através dos mass media. A extensão dessa influência é necessária para um real diagnóstico da realidade cultural e educacional. A extensão da influência que os meios de comunicação de massa tem exercido sobre a platéia deriva não somente do que é dito, porém mais significadamente, do que não é dito... portanto, levando ao conformismo e fornecendo pouca base para uma apreciação crítica da sociedade, os 6 mass media, patrociandos comercialmente, restringem indireta mas efetivamente o desenvolvimento consciente de uma visão genuinamente crítica. (Adorno, 1990, p. 117). A noção de cultura de massa sugere não apenas a importância da quantidade, mas também a redução do pensamento e da experiência ao nível da mera condição de expectador. O declínio objetivamente programado do desenvolvimento de uma visão genuinamente crítica favorecem a manutenção do status perenis da sociedade tardia. O conjunto dessa reflexão crítica deseja recuperar o potencial emancipador da cultura e da educação. A filosofia da educação quer se tornar filosofia na educação, proporcionando as condições necessárias para o retorno da educação enquanto formação cultural. O papel da filosofia é inquestionável nesse processo que reconduz a educação à perspectiva da emancipação. “Para Adorno o objetivo da práxis educacional é a emancipação”. (Zuin, 1999, p. 118). A emancipação é o processo de formação cultural que abre caminho para maioridade do ser humano que se expressa na autonomia e na liberdade dos sujeitos. Se o processo educacional não conduz à emancipação pode-se questionar se esse processo pode ser chamado educativo. Esse objetivo fundamental da prática educacional visa barrar e tornar impeditivo o retorno das condições que conduzem a humanidade à barbárie. A educação, nesse sentido é processo de desbarbarização. “A barbárie, significa o preconceito delirante, a repressão, o genocídio e a tortura”. ( Ramos de Oliveira, 1992, p. 93) e significa a continuidade do potencial autoritário, das condições que geraram a situação de terror. São também todas as formas de violência e destruição das possibilidades de emancipação do ser humano. A filosofia da educação nos horizontes da teoria crítica torna consciente as condições objetivas e subjetivas que conduzem a barbarização através da reflexão radical, rigorosa e de conjunto. Com os avanços da cultura visual, é pertinente falar da estética da violência ou da barbárie: A estética da barbárie, exteriorizada nas manchetes e nos títulos bombásticos, na exclusão de temas socialmente necessários, na exploração do grotesco e do incomum próprios da cobertura jornalística, difunde-se imperceptivelmente nas técnicas de produção da notícia, em sua conformação aos meios de comunicação e de suas linguagens. Trata-se de uma condição inerente a produção da notícia 7 em função das condições industriais da produção e do fato de ela buscar naturalmente a sensacionalização dos acontecimentos sociais. O controle exploratório do espetacular se conforma as formas de produção que propiciam a fragmentação, desmontagem, aceleração do processo de produção e consumo de informações, favorecendo no seu conjunto, a distorção, o falseamento da realidade, a exposição cindida de fatos simplificados. A concepção de estética da barbárie deve ser estendida a apreensão da relação entre conteúdo e forma que condiciona a exposição e apropriação das mercadorias simbólicas. (Guimarães da Costa, 2002, p.6). A produção da notícia, a sensacionalização dos acontecimentos sociais, montagem e o consumo das informações dizem da exploração, da dissimulação e da fragmentação da qual todos participam enquanto espectadores acriticos da estética da barbárie. O que interessa sobremaneira é por meio da crítica imanente desses processos abrangentes de formação é verificar as reais possibilidades da educação enquanto emancipação, pelo viés da crítica autoreflexiva. Essas possibilidades de uma perspectiva crítica e emancipadora para a educação podem ser apresentadas mediante: A auto-reflexão crítica e a racionalidade emancipadora; a elaboração do passado; o foco do sujeito; autoridade e relação pedagógica; a formação intelectual dos educadores; a radicalidade do pensamento e a continuidade da experiência formativa; as condições para a formação cultural; a dimensão de utopia na educação. Auto-reflexão crítica e a racionalidade emancipadora: “Contudo, a única possibilidade de sobrevivência que resta à cultura é a auto-reflexão crítica sobre a semiformação, em que necessariamente se converteu”.(Adorno, 1996, p.410). Associar a auto-reflexão crítica a possibilidade de uma racionalidade emancipadora é perceber a intrínseca relação entre razão e auto-reflexão. Razão e auto-reflexão crítica se constituem forças subversivas do existente e resistência a semicultura. Elaboração do passado: Implica em não perder a memória histórica em elaborar a dimensão de temporalidade e continuidade para ser possível estabelecer os nexos entre o passado, o presente e as possibilidades do futuro. O foco do sujeito: Num tempo de massificação e produção forçada da subjetividade o foco do sujeito se apresenta como necessidade de recuperação do princípio da diferenciação para a garantia da autenticidade, liberdade e autonomia do sujeito. 8 Autoridade e relação pedagógica: A formação cultural se constitui em torno de referenciais sólidos e capazes de ser indicativos firmes e estruturadores de uma personalidade equilibrada o mais possível. A autoridade pedagógica é necessária e sua intervenção dá segurança ao processo ensino aprendizagem. A relação pedagógica construída na interação professor e aluno não esquecendo de contemplar a influência extra pedagógica se constitui numa relação produtiva e esclarecedora onde cada sujeito é convidado a fazer uso público de sua razão, a começar pela sala de aula para chegar aos âmbitos maiores da vida social. A formação intelectual dos educadores: Em Mínima Moralia, Adorno reflete sobre a tentação de afrouxamento da exigência no plano intelectual: A tentação para quem se ocupa no plano teórico ou artístico, de afrouxar a exigência espiritual em si próprio, de descer de nível, de acompanhar – tanto em termos de assunto, como da maneira de expressão – todos os possíveis hábitos que se rejeitaram quando a percepção estava alerta. (Adorno, 1993, p. 22). A perda do hábito do aprofundamento não é ocasional, mas uma imposição semicultural que precisa encontrar resistência nos processos formativos dos professores. Os professores não podem continuar a ser tarefeiros da educação. O resgate de sua condição intelectual é necessária para recompor sua mais autêntica dignidade: A categoria de intelectual é útil de diversas maneiras. Primeiramente ela oferece uma base teórica para examinar-se a atividade docente como forma de trabalho intelectual, em contraste com sua definição em termos puramente instrumentais ou técnicos. Em segundo lugar ela esclarece os tipos de condições ideológicas e práticas necessárias para que os professores atuem como intelectuais. Em terceiro lugar, ela ajuda esclarecer o papel que os professores desempenham na produção e legitimação de interesses políticos, econômicos e sociais variados através das pedagogias por eles endossadas e utilizadas. (Giroux, 1997, p. 161). A radicalidade do pensamento e a continuidade da experiência formativa: A permanência da experiência formativa só poderá acontecer mediante a radicalidade do pensamento. A experiência formativa é aquela que forma os seres humanos para um 9 pensamento consistente e radical, forma para a auto reflexão. “A razão é um poder subversivo” (Marcuse, 1973, p. 125). As condições para a formação cultural: Num contexto de declínio do pensamento crítico, é necessário reforçar todos os possíveis âmbitos onde permanecem vivas a força do pensar crítico e radical. A condição para isso é o esclarecimento: Um dos eixos fundamentais da educação contemporânea deveria ser o de enfatizar, mesmo contra a corrente, o imprescindível caráter de autonomia do falar com a própria boca, da emancipação do sujeito. (Pucci, 2000, p. 4). A dimensão de Utopia na Educação: A utopia será possível num pensamento que preserva radicalmente a negatividade? A negação do existente abre caminhos para a utopia na medida em que ao não se conformar com o status quo trabalha na tentativa de produzir novos sentidos e procurar diferentes alternativas. Ao se considerar que as idéias são signos negativos e pro isso atuam nos interstícios entre o que é e o ainda-não, quer se indicar que a radicalidade da auto-reflexão crítica é prenhe de esperança e de utopia. “Na teoria crítica a teimosia é mantida como qualidade autêntica do pensamento filosófico” (Marcuse In: Pucci, 1998, p. 154). Essa realidade refletida da relação filosofia da educação e práxis social nos faz perceber o contributo pedagógico na formação de sujeitos transformadores e agentes emancipados da ação social. O desafio da formação para uma práxis transformadora se apresenta como urgente e necessário. A formação de agentes e interventores sociais é condição básica para a continuidade dos processos emancipatórios. O caráter pedagógico da ação social não pode ser esquecido já que toda ação que visa a emancipação necessariamente passa por uma dimensão formativa. Esse processo de formação de agentes sociais no contexto da globalização, da sociedade de consumo, da indústria cultural, da semicultura passa pela recuperação e fortalecimento do pensamento autoreflexivo e crítico e da proposição de uma perspectiva emancipadora para a educação. 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, Theodor W. Teoria da Semicultura. In: Educação e Sociedade – Revista Quadrimestral de Ciência da Educação, Campinas: Papirus, ano XVII, nº 56, p. 388 – 411, dez/ 1996. ____. Minima moralia. 2 ed. São Paulo: Ática, 1993. MÜHL, Eldon Henrique. Habermas e a Educação: Ação Pedagógica como Agir Comunicativo. Passo Fundo: UPF, 2003. PUCCI, Bruno. Teoria Crítica e Educação: A questão da formação cultural na Escola de Frankfurt. Patrópolis, RJ: Vozes; São Carlos, SP: EDUFISCAR, 1994. ____. Adorno: O poder educativo do pensamento crítico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: Rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Trad. Daniel Bueno. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. COSTA, Belarmino César Guimarães. Estética da violência: Jornalismo e produção de sentidos. Campinas, SP: Autores Associados. 2002. ZUIN, Antonio A. A indústria cultural e educação: O novo canto da sereia. Campinas: Autores Associados, 1999.