menu ICTR20 04 | menu inic ial ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina GESTÃO INTEGRADA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E A MINIMIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS Adriana Antunes Lopes Valdir Schalch PRÓXIMA Realização: ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável NISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP menu ICTR20 04 | menu inic ial GESTÃO INTEGRADA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E MINIMIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS ADRIANA ANTUNES LOPES VALDIR SCHALCH 2 3 RESUMO O presente trabalho visou analisar a gestão dos resíduos sólidos urbanos com enfoque nos métodos de disposição final, a fim apontar diretrizes para a minimização dos impactos ambientais negativos nos recursos hídricos, baseado na revisão da literatura. A falta de locais disponíveis e apropriados para o descarte desses resíduos, o limite da vida útil dos aterros e as dificuldades para o confinamento seguro dos mesmos são alguns dos maiores desafios das administrações públicas. No Brasil, toneladas diárias de resíduos são dispostas inadequadamente sem tratamento prévio. A ausência de medidas para o controle e prevenção da poluição pode contribuir para a poluição e contaminação das águas superficiais e subterrâneas, pois os poluentes podem migrar para o entorno, comprometendo a qualidade ambiental e a saúde pública. Apenas uma minoria dos municípios possui aterros sanitários, recomendados pelas normas e órgãos brasileiros. Geralmente, os locais de descarte não obedecem aos critérios estabelecidos pelas resoluções ambientais, as quais recomendam a elaboração de estudos para a previsão dos impactos negativos. Pesquisas realizadas nesses locais demonstram que os recursos hídricos podem estar sendo afetados, de maneira que os padrões para a manutenção da qualidade dos corpos d´ água, bem como a emissão de poluentes devam respeitar às legislações pertinentes. Nesse sentido, é fundamental que políticas públicas sejam implementadas com vistas à redução da geração de resíduos, bem como ao controle e monitoramento das áreas de disposição final. Palavras-chave: resíduos sólidos urbanos, disposição final, impactos ambientais 2 Doutoranda do Curso de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada, Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, [email protected] 3 Docente do Curso de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada, e do Departamento de Hidráulica e Saneamento, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, [email protected] 1363 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial INTRODUÇÃO O presente trabalho teve como objetivo analisar a gestão dos resíduos sólidos urbanos por meio dos métodos de disposição final, a fim apontar diretrizes para a minimização dos impactos ambientais negativos nos recursos hídricos, com base na revisão da literatura. No Brasil, o sistema atual de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos continua visando o “final de tubo”, ou seja, apresenta avanços limitados na questão da minimização da geração dos resíduos últimos, pois a maior preocupação das administrações municipais ainda é a procura por áreas para destinação final desses resíduos e não a prevenção e controle da poluição gerada pelos mesmos. Apenas uma pequena quantidade dos resíduos sólidos urbanos coletados no país são devidamente tratados e dispostos. Os lixões predominam como forma de disposição final de resíduos sólidos na maioria das comunidades brasileiras. Apenas uma minoria dos municípios possui aterros sanitários, recomendados pelas normas e órgãos brasileiros. Dos 8381 distritos brasileiros, apenas 1868 dispõem seus resíduos em aterros controlados e 1452 em aterros sanitários, conforme o INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2000). Mesmo os municípios que possuem aterros, muitas vezes as áreas de disposição não são operadas satisfatoriamente, devido à ausência de investimentos financeiros e métodos inadequados de compactação, cobertura, drenagem dos líquidos e dissipação dos gases. Dessa forma, os cursos d´água, próximos a esses locais, bem como as águas subterrâneas podem estar sendo comprometidos. MATERIAL E MÉTODOS Para a elaboração do presente trabalho foi realizada pesquisa bibliográfica de referências pertinentes ao assunto proposto. A discussão do trabalho baseou-se em dados da literatura específica referente ao tema, como livros, teses, dissertações, órgãos públicos, entre outras fontes. GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS O Projeto BRA/92/017 - Gestão e Tecnologias de Tratamento de Resíduos Sólidos (SÃO PAULO, 1999 apud LEITE, 1997), define gestão integrada como “a articulação orgânica dos diferentes agentes públicos locais e regionais atuantes na região metropolitana, mediante planejamento integrado, coordenação, controle e fiscalização participativos, e execução descentralizada até garantir a racionalidade e a eficiência do setor”. Por sua vez, os resíduos sólidos urbanos são definidos pela NBR 8419 (ABNT, 1992), como “resíduos gerados num aglomerado urbano, excetuados os resíduos industriais perigosos, hospitalares sépticos e de aeroportos e portos”. A gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos são tarefas complexas que envolvem aspectos políticos, normativos, de planejamento, ambientais, técnicos, operacionais, entre outros. Entre os aspectos envolvidos, a geração e o acondicionamento desses resíduos são fatores importantes a serem considerados. A origem e formação dos resíduos sólidos dependem do número de habitantes do local; área relativa de produção; variações sazonais; condições climáticas; hábitos e costumes da população; nível educacional; poder aquisitivo; tempo de coleta; eficiência de coleta; tipo de equipamento de coleta; disciplina e 1364 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial controle dos pontos produtores, leis e regulamentações específicas. As formas de acondicionamento dependem das características dos resíduos; quantidade; localização do domicílio, horário e freqüência da coleta. A responsabilidade pela prestação de serviços de limpeza urbana no Brasil é do município. Conforme JARDIM (1995), entre os serviços de limpeza urbana destacam-se: varrição; capinação e roçagem; limpeza de praias; limpeza de feiras livres; limpeza de bocas-de-lobo, galerias e córregos; remoção de animais mortos, pintura de meio-fio e coleta de resíduos volumosos e de construção e demolição. Na maioria das cidades brasileiras, a coleta de lixo é realizada pela iniciativa privada, sob forma de concessão, subcontratação ou permissão. Um dos desafios no setor de limpeza urbana é a falta de especialização dos agentes envolvidos, tanto dos funcionários da prefeitura quanto os da empresa contratada para a realização dos serviços. O conhecimento de informações sobre os aspectos sanitários e ambientais relacionados aos resíduos sólidos é essencial para manutenção e bom gerenciamento. De acordo com FRITSCH (2000), o Departamento de Limpeza Pública Municipal geralmente é subordinado à Secretaria de Obras. Esse Departamento é o responsável pela fiscalização das atividades que envolvem os resíduos sólidos, desde a produção até sua disposição final. O gerenciamento de todas as atividades relacionadas ao fluxo de resíduos sólidos deve se dar de forma integrada. Assim, prefeitura municipal, empresa coletora, órgãos ambientais fiscalizadores, entre outros envolvidos devem trabalhar em conjunto, buscando soluções para a minimização dos problemas. MÉTODOS DE DISPOSIÇÃO FINAL Para que um método de disposição final de resíduos sólidos no solo seja adotado é necessário o conhecimento dos métodos existentes, principalmente dos recomendáveis sanitária e tecnicamente. Essas informações são fundamentais para a escolha de áreas para disposição de resíduos (LIMA, 2003). Os resíduos sólidos urbanos devem ser dispostos em aterros sanitários, conforme NBR 8419 (ABNT, 1992). Entre as formas de disposição final, encontramse o lixão, o aterro controlado e o aterro sanitário. Lixão O lixão é considerado um método inadequado de disposição final de resíduos sólidos. Como não há controle no recebimento de resíduos, pode receber diversos tipos de resíduos, como resíduos de serviços de saúde e industriais, conforme OTERO D´ALMEIDA e VILHENA (2000). “Os lixões, também chamados de vazadouros, bota-fora, etc., se limitam a simples depósitos de lixo a céu aberto” (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO, 1979). Segundo BIDONE e POVINELLI (1999), esse método consiste no simples depósito de resíduos no solo, sem medidas de proteção ambiental ou à saúde pública; facilita a proliferação de vetores, como moscas, baratas e ratos; não evita a geração de odores indesejáveis nem a poluição das águas superficiais e subterrâneas pelo lixiviado, bem como não há controle sobre os resíduos encaminhados ao local. Aterro Controlado Os aterros controlados são originários, na maioria das vezes, da desativação de lixões. Esse método se caracteriza basicamente pelo simples recobrimento dos 1365 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial resíduos com terra. O termo é usado erroneamente como sinônimo de aterro sanitário, apesar do método eliminar alguns dos aspectos indesejáveis causados pelos depósitos de lixo a céu aberto, como a atração de urubus, por exemplo (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO, 1979). A norma brasileira que orienta a implantação de aterros controlados é a NBR 8.849 (ABNT, 1985). Porém, esse método produz poluição localizada, pois como o aterro sanitário, a extensão da área de disposição é minimizada, comparado ao lixão. Contudo, o método não emprega técnicas de impermeabilização de base que evita a poluição e contaminação das águas subterrâneas, nem sistemas de coleta, tratamento de chorume e dispersão dos gases gerados. Aterro sanitário Aterro sanitário é o método de disposição final de resíduos sólidos urbanos recomendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos, consiste na técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho a intervalos menores se for necessário (NBR 8419/92). Os projetos para implantação de aterros sanitários em municípios brasileiros devem seguir as especificações técnicas dessa norma. O principal objetivo do aterro sanitário é dispor os resíduos sólidos no solo, de forma segura e controlada, garantindo a preservação do ambiente, a higiene e a saúde pública. Os aterros também podem servir para recuperação de áreas deterioradas, como pedreiras abandonadas, escavações para extração de argila e areia, entre outras. A maioria das cidades brasileiras confunde aterro sanitário com "vazadouros", "lixões", "depósitos", etc., métodos que, desprovidos de critérios científicos ou ecológicos, são condenados sob o ponto de vista sanitário (BRANCO e ROCHA, 1980 apud SCHALCH et al, 2000). O aterro sanitário é uma forma de disposição final de resíduos sólidos urbanos no solo, dentro de critérios de engenharia e normas operacionais específicas, proporcionando o confinamento seguro dos resíduos (normalmente, recobrindo com argila selecionada e compactada em níveis satisfatórios), evitando danos ou riscos à saúde pública e minimizando os impactos ambientais. Os critérios mencionados são: projeto de sistemas de drenagem periférica e superficial para afastamento de águas de chuva, drenagem de fundo para a coleta de percolado, tratamento do percolado drenado, dissipação e queima dos gases gerados durante o processo de bioestabilização da matéria orgânica (BIDONE e POVINELLI, 1999). O aterro sanitário exige cuidados especiais e técnicas específicas a serem seguidas, desde a seleção e preparo da área até a sua operação e monitoramento, apesar de ser o método mais simples de destinação final de resíduos sólidos. Esta técnica requer o tratamento dos efluentes líquidos e gasosos provenientes da massa de resíduos. Os líquidos gerados em áreas de aterro são chamados de líquidos percolados, os quais correspondem a mistura das águas de chuva ao chorume, 1366 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial líquido negro, com mau odor e elevado potencial poluidor, gerado durante a decomposição da matéria-orgânica presente nos resíduos (BIDONE e POVINELLI, 1999). Esses líquidos em contato com o meio natural podem poluir e contaminar solo e águas. Ressalta-se também a importância do cuidado com a produção dos gases, como CH4 (metano), CO2 (dióxido de carbono) e outros, pois podem contaminar o solo. Além disso, o metano é inflamável e pode explodir espontaneamente. No aterro sanitário os resíduos sólidos são descarregados, dispostos, compactados e cobertos com terra ao final do dia. O material para cobertura costuma ser retirado de áreas próximas ao aterro ou do próprio aterro. A compactação de resíduos possibilita a redução do volume, facilita o tráfego dos veículos de coleta e dos equipamentos usados na operação do aterro, além de reduzir o rebaixamento futuro da massa aterrada. O próprio trator compactador de resíduos pode realizar a compactação de terra, não há necessidade do emprego de equipamentos especiais, indicado para aterros de grandes dimensões (LIMA, 2003). Estudos apropriados devem ser realizados para garantir as condições sanitárias do aterro e evitar o comprometimento do lençol freático. Entre as medidas para a construção de aterros sanitários, deve-se: proteger as águas superficiais e subterrâneas de possível contaminação oriunda do aterro; dispor, acumular e compactar diariamente os resíduos na forma de células trabalhando com técnicas corretas para possibilitar o tráfego imediato de caminhões coletores, equipamentos e para reduzir recalques futuros do local; recobrir diariamente os resíduos com uma fina camada de terra de 20 centímetros para impedir a procriação de roedores, insetos, entre outros vetores, bem como a presença de catadores e animais à procura de materiais e alimentos; controlar os gases e líquidos que são formados no aterro; manter os acessos internos e externos em boas condições, mesmo em tempo de chuva; isolar e tornar indevassável o aterro e evitar incômodos a vizinhança. Segundo LIMA (2003), a camada diária de 20 centímetros de terra serve para evitar: proliferação de moscas; aparecimento de catadores, baratas e urubus; estabelecimento de catadores na área; espalhamento de papéis, plásticos finos e resíduos, pela redondeza, por ação do vento; criação e engorda de animais como porcos, que podem contrair doenças transmissíveis ao homem, poluição das águas subterrâneas e superficiais. Para operação e manutenção das obras dos aterros sanitários é essencial a contratação de um engenheiro para acompanhamento das operações, conforme previsto no projeto do aterro. Para a elaboração de projeto e implantação de aterro são necessários os seguintes estudos: caracterização e classificação dos resíduos e caracterização do local destinado à implantação do aterro (características geográficas, topográficas, hidrogeológicas e climatológicas). Quando finalizado ou selado, a área do aterro sanitário poderá ser utilizada para construção de parques, jardins, praças e áreas para práticas esportivas. Vantagens do aterro sanitário, segundo SCHALCH apud LIMA (2003): Evita qualquer tipo de resíduo; recupera áreas topograficamente inutilizadas; controla a proliferação de vetores; utiliza equipamentos e máquinas usadas em serviços de terraplanagem e possibilita a disposição de lodos provenientes de estações de tratamento de esgoto ou de tanques sépticos. Desvantagens do aterro sanitário, segundo SCHALCH apud LIMA (2003): necessitam grandes áreas para aterro, muitas vezes sendo longe da área urbana, acarretando despesas com transporte; sofre interferência da meteorologia; produz chorume e apresenta um período relativamente longo para a estabilização do aterro 1367 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial (3 a 5 anos). Os custos para operação e manutenção do aterro geralmente são absorvidos pelo orçamento municipal Métodos e classificação de aterros sanitários Os métodos construtivos e as operações de um aterro sanitário são determinados pela topografia do terreno escolhido para implantação do aterro; pela jazida com material adequado para a cobertura e pela profundidade do lençol freático. Os métodos para a construção de aterros sanitários são: Método da rampa; Método da trincheira ou valas e Método da área. Método da rampa O método da rampa é empregado quando o terreno possui declive. Os resíduos são depositados na declividade existente e cobertos com terra ao final de cada dia, até que a célula em construção atinja o topo do declive. A forma final das laterais da massa de resíduos é em rampa (LIMA, 2003). Método da trincheira ou vala O método da trincheira ou vala é utilizado em terrenos planos. Segundo SCHALCH (1997), o tamanho das trincheiras pode variar de 6 a 40 metros e a profundidade mínima recomendada pela ENTERPA S/A deve ser de 3,60 metros. As trincheiras poderão ser de dimensões variadas, as de pequenas dimensões são conhecidas como valas (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 1997). A distância do lençol freático deve ser a maior possível, recomenda-se a distância de 3 metros para solos argilosos e distâncias superiores para solos arenosos (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 1997). O material escavado poderá servir para cobertura da própria da vala. Durante o processo os resíduos são dispostos dentro das valas e cobertos ao final de cada dia com uma camada entre 20 a 30 centímetros de terra. A camada final de cobertura deverá ser de, no mínimo, uma espessura de 50 centímetros e estar acima da superfície natural do terreno para compensar a acomodação do mesmo durante a decomposição dos resíduos (LIMA, 2003). Para evitar inundação da vala ou trincheira em época de chuva, canaletas devem ser construídas perimetralmente à vala para captação das águas pluviais. A fim de evitar desmoronamento, a vala deve ser escavada com as paredes laterais inclinadas atendendo o ângulo de repouso do terreno. Na escolha do local para implantação do aterro, a qualidade do solo é de fundamental importância, pois não se deve escolher terreno com permeabilidade excessiva para não contaminar o lençol freático e nem tão pouco terreno rochoso, devido ao elevado custo de escavação. Em municípios menores os recursos financeiros são escassos para a construção de aterros sanitários e há falta de equipamentos para a sua operação, como tratores de esteiras, que possuem custo de aquisição e manutenção elevados. Além disso, o menor trator de esteiras disponível no mercado nacional tem capacidade para operar até 150 toneladas de resíduos por dia. Assim, municípios que geram quantidades de resíduos inferiores a essa, o equipamento pode ficar ocioso e ser transferido para outras obras. Dessa forma, o aterramento de resíduos poderia ser prejudicado, fato comum em pequenas comunidades (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 1997). 1368 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial As valas são preenchidas sem a compactação dos resíduos e a cobertura de terra é realizada manualmente. Porém, os equipamentos são imprescindíveis apenas na fase de abertura das valas. O confinamento dos resíduos sem compactação impede o aproveitamento total da área a ser aterrada, tornando seu uso não recomendável para a maioria das comunidades com produção de lixo superior a 10 toneladas por dia. Para a produção de resíduos acima dessa quantia, o uso da técnica implica na abertura constante de valas, tornando a operação inviável técnica e economicamente (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 1997). Para a escavação de valas deve-se procurar saber a profundidade do lençol freático e a constituição do solo. Os terrenos com lençol freático aflorante ou muito próximo da superfície são impróprios para a construção desse tipo de aterro, pois podem contaminar o aquífero. Os terrenos rochosos também não são indicados devido às dificuldades de escavação. Outro fator limitante são os solos excessivamente arenosos, estes não apresentam coesão suficiente, causando o desmoronamento das paredes das valas. Quando as condições forem semelhantes às descritas, recomenda-se o estudo de outras possibilidades. Método da área É uma técnica usada quando a topografia local possibilita o recebimento e confinamento dos resíduos sólidos, sem alteração da configuração natural. O método é empregado em zonas baixas, de topografia irregular, onde o lençol freático está próximo à superfície. Os resíduos são descarregados e compactados, formando uma elevação tronco-piramidada, que recebe o recobrimento com solo ao final de um dia. PREVISÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS Geralmente, os locais de disposição final de resíduos sólidos não obedecem aos critérios estabelecidos pelas resoluções ambientais, as quais recomendam a elaboração de estudos para a previsão dos impactos negativos. Pesquisas realizadas em áreas como essas demonstram que os recursos hídricos podem estar sendo afetados, de maneira que os padrões para a manutenção da qualidade dos corpos d´ água, bem como o grau de emissão dos poluentes devam respeitar às legislações pertinentes. MENEZES (1994) verificou a existência de uma pluma de contaminantes, proveniente de um lixão localizado em São Carlos (SP), que migra em direção a um manancial que abastece a cidade. Estudos realizados por GADOTTI (1997) constataram interferência de líquidos percolados, provenientes dessa mesma área, na água subterrânea. Em função desses problemas, a escolha de locais adequados para disposição de resíduos sólidos é fundamental. O órgão ambiental estadual estabelece alguns critérios técnicos para a seleção segura dessas áreas, entre eles: legislação do solo; distância de corpos d´ água, áreas urbanas e rodovias; profundidade do lençol freático; declividade do terreno; vida útil do aterro e previsão de usos futuros, entre outros. Ressalta-se a importância da adequação desses critérios às características ambientais do local que geralmente são distintas de lugar para lugar (GOMES et al, 2003). O distanciamento de corpos hídricos deve atender à Portaria no 124, de 20 de agosto de 1980, do Ministério do Interior que estabelece: “quaisquer indústrias potencialmente poluidoras, bem como as construções ou estruturas que armazenam 1369 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial substâncias capazes de causar poluição hídrica, devem ficar a uma distância mínima de 200 metros de coleções hídricas ou cursos d´ água mais próximos”. Com base em GOMES et al (2003), recomenda-se distância de 100 metros entre os aterros e o eixo das rodovias federais e estaduais. É recomendado que a distância entre os aterros e as residências seja de 500 metros e de 2000 metros a distância de áreas urbanas (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 1997). As áreas inundáveis ou de várzeas, onde ocorre a vazão máxima dos corpos d´ água nos períodos de alta pluviosidade, não são indicadas para a disposição de resíduos sólidos devido a possível contaminação dos corpos hídricos pelos líquidos gerados em aterros, de acordo com GOMES et al (2003). A Resolução CONAMA 01, de 23 de janeiro de 1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, institui a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente (SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE DE SÃO PAULO, 1995). Assim, para implantação de um aterro sanitário, a elaboração dos documentos estabelecidos por esta Resolução deve ser cumprida, a fim de evitar que possíveis danos futuros sejam caudados à saúde da população e ao ambiente. O EIA-RIMA deve conter: informações gerais; caracterização do empreendimento; área de influência; caracterização ambiental da área de influência; análise ambiental; proposição de medidas mitigadoras; programa de acompanhamento e monitoramento e Relatório de Impacto Ambiental. No Estado de São Paulo a normatização dos procedimentos para obtenção do licenciamento ambiental foi estabelecida pela Resolução SMA 42/94, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, que instituiu dois instrumentos preliminares ao EIA-RIMA, o Relatório Ambiental Preliminar (RAP) e o Termo de Referência (TR). Essa Resolução estabelece que o licenciamento ambiental se dará por meio de três etapas: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO), respectivamente. O licenciamento ambiental aborda questões técnica, econômica e ambiental, as quais são abordadas integralmente e condizem com as exigências apresentadas pela legislação vigente. O RAP trata-se do primeiro documento para obtenção do Licenciamento Ambiental. Tem como função instrumentalizar a decisão de exigência ou dispensa do EIA-RIMA para a obtenção da Licença Prévia. Em caso de exigência, juntamente com outros documentos, subsidiará a elaboração do Termo de Referência para o EIA-RIMA (SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE DE SÃO PAULO, 1995). DISCUSSÃO Com base nas informações apresentadas, verifica-se a importância da redução de resíduos sólidos para o prolongamento da vida útil dos aterros e minimização de novas áreas para disposição final de resíduos sólidos. O recobrimento dos resíduos sólidos com terra contribui para minimizar os impactos ambientais e à saúde pública. Porém, o aterro controlado não substitui o aterro sanitário, é uma técnica recomendada apenas para municípios de pequeno porte, impossibilitados de investirem em projetos e equipamentos para implantação de um aterro sanitário em seu território. O conhecimento das áreas ocupadas é um importante parâmetro para o planejamento territorial, pois pode apontar as restrições e fragilidades ambientais, 1370 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial contribuindo para a minimização dos impactos ambientais negativos. A ausência de medidas para o controle e prevenção da poluição, como escolha de áreas para disposição final de resíduos sólidos, impermeabilização do solo, tratamento dos líquidos gerados pelos aterros, entre outras, pode contribuir para a poluição e contaminação das águas superficiais e subterrâneas, pois os poluentes podem migrar para o entorno, comprometendo a qualidade ambiental e a saúde pública. CONCLUSÃO Para uma gestão eficiente dos resíduos sólidos urbanos é necessária a articulação entre legislação, recursos tecnológicos e financeiros e, principalmente, envolvimento da sociedade civil. Com relação à disposição final segura dos resíduos sólidos, estudos devem ser elaborados para a escolha do método mais adequado para cada município. Porém, os gestores públicos devem investir em programas para redução da geração de resíduos, dessa forma os custos com a disposição final serão menores, bem como os impactos ambientais negativos. Nesse sentido, é fundamental que políticas públicas sejam implementadas com vistas à conscientização da população, bem como ao controle e monitoramento das áreas de disposição final dos mesmos. As considerações abordadas servem para orientar empreendedores públicos e privados sobre alguns aspectos a serem considerados para a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio e financiamento desta pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. IBGE, 2000. 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The absence of measures for the control and prevent pollution can contribute to the pollution and contamination of the superficial waters and groundwaters, because the pollutant can migrate to nearby, committing the environmental quality and the public health. Just a minority of the municipal districts possesses sanitary landfills recommended by the Brazilian norms and organs. Usually, the disposal places don't obey the established criteria for the environmental resolutions, which recommend the elaboration of studies for the forecast of negative impacts. Researches realized in those places confirm that water resources can be affected, so that the patterns for the maintenance of the water resources quality, as well as the emission of the pollutants should respect to the pertinent legislations. In that sense, it is fundamental that public policies being implemented with views to the reduction of the waste generation, as well as to the control and monitory of final disposal areas. Key-words: urban solid waste, final disposal, environmental impact 1372