SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: UMA INFLEXÃO PARADIGMÁTICA NO CONTEXTO DAS COMUNIDADES RURAIS DO AMAZONAS (BRASIL) Therezinha de Jesus Pinto Fraxe1, Antonio Carlos Witkoski2, Marília Gabriela Gondim Rezende3 RESUMO: O acentuado crescimento dos problemas ambientais tem gerado impactos negativos em escala global (SPETH e HAAS, 2006), transcendendo as fronteiras dos Estados Nacionais, levando consequentemente à necessidade de transcendência de proposições mitigadoras e sustentáveis. Dentre as propostas apresentadas na atualidade, destacam-se os projetos de extensão rural voltados à sustentabilidade ambiental, que tem garantido resultados promissores. Nesse contexto, o estado do Amazonas emerge em uma conjuntura diferenciada, por fazer parte do Programa Estratégico de Transferência de Tecnologias para o Setor Rural (Pró-Rural), mais precisamente do Projeto Fortalecimento da Organização Social e Identificação dos Mercados Potenciais, visando a sustentabilidade econômica em comunidades rurais do Amazonas. O PróRural é um projeto de extensão rural que está sendo desenvolvido pela Universidade Federal do Amazonas, mais precisamente pelo Núcleo de Socioeconomia em parceria com outras instituições. Esse programa tem como objetivo o fortalecimento da organização social e o desenvolvimento de mercados potenciais. O projeto tem apresentado resultados satisfatórios por meio do desenvolvimento local alinhado à sustentabilidade. Desta forma, o objetivo deste artigo foi analisar a sustentabilidade ambiental e suas inflexões paradigmáticas no contexto das comunidades rurais do estado do Amazonas. Para atingir o objetivo proposto foram realizados trabalho de campo em 14 municípios do Amazonas, com a construção de diagnósticos participativos que serviram de suporte para a elucidação das questões ambientais (sociais, econômicas, políticas) e para a identificação dos mercados potenciais. O horizonte metodológico centrou-se na estratégia multimétodos (SILVA, 2000), que permite e facilita a articulação de dados qualitativos e quantitativos, gerando um processo analítico mais próximo do real, por abarcar um número considerável de variáveis representativas. Os dados foram sistematizados em planilhas no Programa Excel, originando gráficos explicativos da realidade representada. Os resultados da pesquisa mostram que a organização social das comunidades rurais do Amazonas perpassa o âmago dos fenômenos transversais constituintes do sistema real amazônico. As relações de sociabilidade são atreladas ao múltiplo aproveitamento dos bens comuns, construído pelo conhecimento geracional. Esse conhecimento traduz a percepção 1 Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Professora Associada e Coordenadora do Núcleo de Socioeconomia da Universidade Federal do Amazonas, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Amazonas, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Universidade Federal do Amazonas, Brasil. E-mail: [email protected] ambiental individual e coletiva desses grupos sociais, marcada pelas representações de mundo engendradas em uma teia de saberes. O respeito à resiliência ecossistêmica e à sazonalidade ambiental são características marcantes dessas comunidades rurais, entretanto as relações externas são obstadas pela ausência de associativismo e cooperativismo. O Programa Pró-Rural tem sido um estratagema inovador atuando no fortalecimento da organização social e identificando mercados potenciais em vários municípios do Amazonas: Autazes, Caapiranga, Manacapuru, Careiro da Várzea, Manaus, Presidente Figueiredo, Beruri, Anori, Anamã, Iranduba, São Gabriel da Cachoeira, Manicoré, Maués e Parintins. Um dos elementos identificados em todos os municípios estudados foi a escassez de profissionais atuantes na área de organização social, tanto nas escolas técnicas como nas universidades, fator que leva ao aprofundamento das lacunas do processo produtivo. O processo de capacitação dos agentes de transferência tecnológica nos munícipios facilitou a construção do diagnóstico participativo e a identificação dos mercados potenciais. Dentre as potencialidades identificadas destacam-se a malvicultura, piscicultura, pecuária sustentável, horticultura, fruticultura, avicultura, e o artesanato. Os sujeitos da pesquisa desenvolvem atividades agrícolas relacionadas com outras atividades, a partir de uma racionalidade ambiental advinda do etnoconhecimento, difundido geracionalmente. Os agroecossistemas no Amazonas são resultantes dessas relações e interações, e são formados pelos sistemas de produção e seus desdobramentos, que contribuem significativamente para a conservação das espécies vegetais. Os espaços produtivos, além de importância econômica, são impregnados de significado, e são dotados de significância pela materialização das relações sociais e dos modos de vida peculiares. O manejo desses agroecossistemas é feito por meio da mão-de-obra familiar, podendo estender-se para comunidades próximas, de acordo com a necessidade sazonal. Desta forma, pode-se inferir que o Programa Pró-Rural tem subsidiado os elementos chaves para o desenvolvimento local, por meio do fortalecimento da organização social a partir do associativismo e do cooperativismo. O diagnóstico participativo nos 14 municípios forneceu um panorama geral para o planejamento das atividades a serem desenvolvidas, envolvendo participação social efetiva, sustentabilidade ambiental e práticas agroecológicas. As tecnologias sociais também foram importantes para o desenvolvimento das práticas econômicas sustentáveis nos municípios abrangidos pelo Programa, e garantiram a conservação e preservação do ambiente e da cultura material e imaterial dos grupos sociais envolvidos. A agricultura familiar no Amazonas, por meio da experiência vivida e vivificada nesses municípios pode ser desenvolvida e fortalecida significativamente, respeitando a autonomia e o modo de vida peculiar das comunidades rurais. O Pró-Rural enfrentou dificuldades nos desdobramentos das metas propostas, como a falta de parcerias institucionais para o desenvolvimento das atividades planejadas, porém conseguiu alcançar os objetivos propostos e os resultados esperados, proporcionando a sustentabilidade para as comunidades rurais do Amazonas abrangidas pelo projeto, por meio da transferência de tecnologias sociais através das trocas de saberes. A ideia de desenvolvimento sempre esteve atrelada à questão econômica (LEFF, 2000), obstando a emergência de questões prioritárias e tão importantes quanto as questões da economia. Em consequência da crise do modelo desenvolvimentista no Amazonas, pautado na exacerbação do econômico em detrimento do social, emergiu o movimento pela sustentabilidade ambiental, atenuando conflitos e garantindo o desenvolvimento local, construído endogenamente. Palavras-chave: Sustentabilidade, extensão rural, comunidades rurais. REFERÊNCIAS LEFF, E. Ecologia, Capital e Cultura: Racionalidade Ambiental, Democracia Participativa e Desenvolvimento Sustentável. Blumenau: Editora da FURB, 2000. SILVA, Daniel José. O paradigma transdisciplinar: uma perspectiva metodológica para a pesquisa ambiental. In: Livro Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais. Org.: JÚNIOR, Arlindo Philippi; TUCCI, Carlos Morelli; HOGAN, Daniel Joseph; NAVEGANTES, Raul. 2000. SPETH, James Gustave; HAAS, Peter M. Global Environmental Governance. Washington, DC: Island Press, 2006.