datado de 1887. - memorialcacondense

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Transcrição de excerto do
"Relatorio apresentado ao Excm. Sr. Presidente da Provincia de S. Paulo",
datado de 1887.
Páginas 319-321.)
http://archive.org/stream/relatorioaprese00paulgoog#page/n344/mode/1up
COMARCA DE CACONDE
Divisas. — Confina este município ao norte com o de Mussambinho, a léste com
o de Cabo Verde, ao sul com o de Caldas, todos na província de Minas Geraes, a oeste
com os de Mocóca e S. José do Rio Pardo. As divisas constam das leis provínciaes n. 55
de 15 de abril de 1868 e n. 25 de 17 de março de 1871.
Aspecto geral. — O município é geralmente muito montanhoso e, com excepção
dos logares que, depois de cultivados, transformaram-se em capoeiras ou pastagens,
coberto de mattas virgens.
Serras.— É muito confuso o systema orographico do município. N’elle existem
diversas cordilheiras, formando uma rede de serranias que o atravessam em
differentes direcções. Destacam-se como principaes a serra de S. Matheus, que traça,
em grande parte, divisas com a província de Minas, a do Rio Pardo, a de S. Domingos e
a do Barreiro; nos limites de Poços de Caldas.
Rios. — Numerosos cursos d'agua banham o território. Além dos grandes
ribeirões do Bom Jesus, Guaxupé, Rio do Peixe, Fartura e S. Domingos, que recebem
em seu percurso vários córregos e regatos, é o município sulcado pelo Rio Pardo, que
corre de nordeste para oeste. Obstruído por muitas cachoeiras, este rio, que tem aliás
um volume d’agua considerável, não se presta á navegação, sendo apenas atravessado
por balsas e navegado por canoas nos logares remansados.
Salubridade. — Possuindo um clima frio, porém ameníssimo, igual ao de Poços
de Caldas, o município é em geral muito salubre.
Mineraes. — A considerável riqueza mineral de Caconde, já reconhecida e
explorada ha mais de um século, offerece o mais vasto campo de acção á industira
extractiva, infelizmente tão descurada e abandonada entre nós. Basta percorrer as
margens dos ribeirões e córregos do Bom Jesus, S. Matheus, Conceição, Bom Successo
e outros para encontrarem-se attestados irrefutáveis da existência de ouro em
abundância.
Velhas catas, notáveis trabalhos de arte para encanamento d'agua, indicam
claramente que a extracção do precioso metal foi o movel que attrahiu os primeiros
habitantes d’estas regiões. A imperfeição dos processos então empregados na
extracção do ouro, as desordens havidas entre os exploradores pela falta de
policiamento e outras muitas causas, emfim, que não a escassez do ouro, motivaram
frequentes debandadas, produzindo o abandono da mineração pelos faisqueiros.
As minas de ferro de S. Matheus são igualmente de considerável riqueza, já pela
excellente qualidade do metal explorado em outros tempos, com grandes vantagens,
já pela facilidade da extracção e notável abundância das jazidas, em nada inferiores,
segundo consta, ás do Ypanema e Yporanga. Além d'esses mineraes abundam no
município pedras de construcção e excellente argílla para telhas e tijolos. Nas serras de
S. João e da Apparição ha bellíssimas amostras de crystal de rocha.
Historia. — É bem difficil, senão impossível, determinar-se ao certo a data em
que fundou-se a primeira povoação no município. Os dados históricos fornecidos pelo
livro do tombo e pela tradição levam-nos a crer que, em meiados do século XVIII, os
exploradores de ouro, vindos de Cabo Verde, província de Minas, assentaram as bases
de uma pequena povoação no logar hoje denominado Bom Successo. A 13,2
kilometros da actual cidade. No anno de 1775 a então freguezia de N. S. do Bom
Successo do Rio Pardo, foi desmembrada, no que diz respeito á vigararia da vara, da de
Mogy-mirim, e, quanto ao parochiato, da de Mogy-guassú, sendo pelo bispo d. frei
Manoel da Resurreição traçadas as divisas da nova freguezia e comarca da vara.
Com excellente posição topographica e rodeada de terrenos fertílissimos, tendo
já boa igreja e possuindo arruamento bem regular, a julgar-se pelos vestígios ainda
existentes, a nova freguezia do Bom Successo teria progredido, si um incidente
lamentável não a houvesse lançado no mais completo abandono. Em principios d'este
século, quando a nova freguezia tomava o maior desenvolvimento, graças á direcção
do padre Francisco Bueno de Andrade, deu-se, em frente á porta da igreja matriz, um
conflicto entre alguns mineiros, do qual resultou a morte de um d'elles, ficando
também levemente ferido por uma bala o padre que na occasião celebrava a missa do
dia. Por esse facto, interdicta a igreja, e debandando grande numero de mineiros
comprometidos no conflicto, a florescente povoação começou a decahir, até que a
sede da freguezia foi transferida para as margens do Bom Jesus, no logar hoje
denominado Silvas, a 3 kilometros da cidade, e onde o padre Carlos Luiz de Mello fez
levantar uma pequena igreja. Para esse sitio convergiram então os mineiros.
Em 1781 foram ahi descobertas abundantes minas de ouro, tão ricas que
despertaram a attenção do bispo frei Manoel da Resurreição, que, por carta de 24 de
dezembro d'aquelle anno, mandou tomar posse do novo descoberto das Itapuavas do
Rio Pardo, barra do Bom Jesus. A posse solemne foi tomada pelo padre Bueno de
Azevedo, a 14 de fevereiro de 1782, como consta do livro do tombo. Ou fosse pela
impropriedade do terreno, muito acanhado e sujeito a inundações, ou fosse, como
reza a tradição, em consequência de novos conflictos entre os mineiros, o certo é que
a povoação do Bom Jesus foi por sua vez abandonada, sendo a freguezia transferida
para o logar em que está actualmente edificada a cidade de Caconde e onde foi
celebrada, no dia 24 de dezembro de 1824, a primeira missa pelo padre Carlos de
Mello. A nova freguezia foi elevada a villa pela lei provincial n 6 de 5 de Abril de 1868,
e a cidade pela de n. 10 de 9 de março de 1 883.
Topographia. — Acha-se a cidade situada ao norte da capital da provincia, a 3
kilometros de distancia do Rio Pardo, sobre uma planalto em terreno safaro. Tem um
bonito largo, ladeado de casas térreas, bem construidas, destacando-se no centro a
igreja matriz, edificio bem regular, com duas torres, numa das quaes ha um excellente
relógio. Ao fundo do largo, e situada em magnifico logar, eleva-se a cadeia, vistoso
sobrado, ainda em construcção. As ruas, posto que mal alinhadas, offerecem agradável
perspectiva, pelo agrupamento das casas, entre as quaes notam-se alguns sobrados.
Ha também a igreja do Rosário, não concluída, um cemitério, todo cercado de muros
de pedra, tendo no recinto uma capella de .S. Miguel, e, finalmente, uma excellente
casa doada pelo povo para residência do parocho.
População. — A população do municipio é de 9177 almas, sendo 5075 da
freguesia de N. S. da Conceição de Caconde, e 4102 da freguezia do Espirito Santo do
Rio do Peixe,
Agricultura e Pecuaria.— As terras do município prestam-se para todo o género
de plantações : cereaes, fumo, canna de assucar, videira e principalmente para o café,
que constituea sua principal lavoura. Possue terrenos feracissmos e na maior parte
inaccessiveis ás geadas, pelo que é feito com grande vantagem o cultivo do café,
havendo ainda excellentes terrenos para augmentar e desenvolver essa cultufa. É
abundante a creação de gado bovino e suíno.
Rendas publicas. — As rendas geraes e províndaes são arrecadadas por uma
agencia da collectoria de Casa-Branca e por isso vão incluídas nas desse município.
Instrucção. — Em 1886 funccionavam no município 2 escolas publicas primarias
para o sexo masculino, nas quaes achavam-se matriculados 46 alumnos, que
mantinham a frequência de 38, o que produz a média de 19 frequentes por escola.
Funccionavam também 2 escolas publicas primarias para o sexo feminino, nas quaes
achavam-se matriculadas 31 alumnas, sendo a frequência de 30, o que dá a média de
15 alumnas frequentes por escola. Cada escola publica corresponde a 2.294
habitantes.
Divisão ecclesiastica. — O município comprehende duas parochias —a de N. S.
da Conceição de Caconde e a do Espirito Santo do Rio do Peixe, a 19,8 kilometros da
cidade.
Divisão policial. — Conta o município uma delegacia e duas subdelegacías — a
de Caconde e a do Rio do Peixe.
Curiosidades naturaes.— É digna de menção a cataracta do Varadouro, no Rio
Pardo, a 5 kilometros de distancia da cidade. O rio, que tem a largura média de 60
metros, de súbito comprime-se num estreito canal aberto na rocha, de mais de 100
metros de comprimento e medindo 5 metros no máximo, e 3 no mínimo, de largura.
Ahi, nas primeiras repontas da enchente é bello o espectáculo que apresenta o saltar
dos peixes, que á porfia tentam vencer o obstáculo que intercepta a sua subida.
Distancias.— Dista esta cidade:
Da capital da província . . . . 343 kilometros
De S. José do Rio Pardo . . . . 26 “
Da freguezia do Rio do Peixe . . 19 “
Da cidade de Mocóca . . . . 42 “
De Poços de Caldas (Minas) . . 39 “
De Mussambinho (Minas). . . . 26 “
De Cabo Verde (Minas) . . . . 39 “
De Guaxupé (Minas) . . . . . .26 “
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