Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Pró

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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Faculdade de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado Interinstitucional PUCRS/UNIPAR
OBESIDADE MÓRBIDA, HOSTILIDADE ENCOBERTA E SUAS
IMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL
CRISTINA DI BENEDETTO
Dissertação apresentada ao
Programa de Mestrado em Psicologia da PUCRS,
como requisito parcial para a obtenção do
Grau de Mestre em Psicologia
Área de Concentração:
Psicologia Social e da Personalidade
Orientador: Prof. Dr. Cícero Emidio Vaz
Porto Alegre
Julho de 2002
2
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D536o
Di Benedetto, Cristina
Obesidade mórbida, hostilidade encoberta e suas
implicações no processo de interação social / Cristina
Di Benedetto. -- Porto Alegre : PUCRS, 2002.
113p.
Orientador: Prof. Dr. Cícero Emidio Vaz.
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, 2002.
1. Obesidade Mórbida – Aspectos Psicológicos. 2.
Hostilidade. 3. Agressão. 4 Interações Sociais. I. Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. II.Título.
CDD: 613.24
Bibliotecária Responsável
Inês Gemelli
CRB 9/966
3
OBESIDADE MÓRBIDA, HOSTILIDADE ENCOBERTA E SUAS
IMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL
CRISTINA DI BENEDETTO
Dissertação apresentada para apreciação e parecer da
Comissão Examinadora:
________________________________
Prof. Dr. Cícero Emidio Vaz, PUCRS
Orientador Presidente
PUCRS
________________________________
Prof. Dr. Nédio Seminotti
PUCRS
_________________________________
Prof. Dr. Paulo Kroeff
UFRGS
4
“Tempo, quero viver mais duzentos anos (...)
Quero não ferir meu semelhante, nem por isso
quero me ferir. Vamos precisar de todo mundo,
para banir do mundo a opressão, para construir
a vida nova, vamos precisar de muito amor”.
Beto Guedes. O sal da terra
5
SUMÁRIO
1. JUSTIFICATIVA ............................................................................ 10
2. OBJETIVOS .................................................................................. 14
2.1 Geral ........................................................................................ 14
2.2 Específico ................................................................................. 14
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................
3.1 Concepções sobre a obesidade.....................................................
3.1.1 Obesidade e obesidade mórbida .............................................
3.1.2 Obesidade sob o ponto de vista médico ..................................
3.1.3 Obesidade e sua relação com a atividade física .......................
3.1.4 As influências familiares presentes no desenvolvimento da
obesidade ....................................................................................
3.1.5 Aspectos sociais envolvidos na obesidade ..............................
3.1.6 Obesidade e os referenciais psicológicos ................................
3.1.7 Raiva, hostilidade e agressão ................................................
3.1.8 A hostilidade encoberta nos obesos mórbidos .........................
14
15
15
20
23
25
29
39
55
59
4. PROBLEMA .................................................................................. 63
5. HIPÓTESES ................................................................................... 63
6. MÉTODO ......................................................................................
6.1 População .................................................................................
6.2 Amostra ....................................................................................
6.3 Instrumentos .............................................................................
6.4 Procedimento ............................................................................
64
64
64
65
66
7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................... 68
8. DISCUSSÃO .................................................................................. 78
CONCLUSÕES .................................................................................. 91
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 93
ANEXOS .......................................................................................... 103
Anexo A ........................................................................................ 104
Anexo B ........................................................................................ 109
Anexo C ........................................................................................ 113
6
AGRADECIMENTOS
À minha querida avó Albertina (com quem toda essa história se
iniciou), todo o amor e gratidão deste mundo;
Aos meus pais que me ensinaram que é preciso sempre, sempre,
persistir nos objetivos e a “não entregar o jogo no primeiro tempo”;
Agradeço aos participantes da minha pesquisa que com sua honrosa,
gentil e solícita colaboração me ajudaram a desvelar e estudar aspectos de
sua vida psíquica tão desconhecidos a eles mesmos;
Ao Dr. Daoud Nasser, por ser exemplo de médico eficientíssimo e
por considerar como muito importantes os aspectos psicológicos de seus
pacientes;
Ao
Orientador,
Prof.
Dr.
Cícero
Emidio
Vaz,
que
abriu
definitivamente as portas para que eu pudesse desenvolver-me e galgar
outros degraus no campo da pesquisa científica;
À Universidade Paranaense, pelo crédito pessoal concedido e pelo
suporte durante a realização deste trabalho;
Agradeço a Cléo, que “sem saber direito o que é que eu estava
mesmo fazendo” naqueles eternos dias, presa ao computador, motivou,
cuidou, preocupou-se e acreditou;
Aos queridos amigos de longe e de perto, por ajudarem de diversas
formas: importando material para enriquecer meu trabalho, lendo, apoiando
e sendo compreensivos nas ausências e também pela força diante do meu
“semblante preocupado” que tantas vezes nos afastou;
7
Finalmente, a todas, exatamente todas as pessoas que passaram em
minha vida, minha profunda gratidão pelas mudanças que em mim
realizaram.
8
RESUMO
O propósito central deste estudo foi o de investigar a presença da variável
psicológica hostilidade encoberta e a relação com o empobrecimento da
interação social em obesos mórbidos. Foram pesquisados dois grupos,
sendo 20 participantes obesos mórbidos inscritos no Hospital Universitário
de Maringá para realizar cirurgia de redução do estômago, e 20 não obesos
nos quais foram administrados os instrumentos: Inventário de Expressão de
Raiva como Estado e Traço (STAXI) de Spielberger - para avaliar a
presença da hostilidade, além de um Questionário elaborado pela autora do
trabalho,
que
procurou
fazer
a
correlação
positiva
entre
a
baixa
expressividade de raiva e o empobrecimento e prejuízo das interações
sociais nos obesos mórbidos. Os resultados demonstraram a presença
significativa de hostilidade encoberta no grupo de obesos mórbidos, maior
do que no grupo de não obesos, no que diz respeito às subescalas Controle
de raiva e Expressão de raiva do STAXI. A análise final dos dados também
apontou para a relação positiva entre o que o obeso mórbido percebe como
apreciação negativa das outras pessoas e o empobrecimento das suas
interações sociais.
Palavras chave: obesidade mórbida; aspectos psicológicos; hostilidade
encoberta; raiva; interações sociais.
9
ABSTRACT
The main purpose of this study was to investigate the presence of the
psychological
variable
covered
hostility
and
the
relation
with
the
impoverishment of social interaction in morbid obese. It was researched
two
groups,
having
20
participants
morbid
obese
inscribed
in
the
University Hospital of Maringá to make a surgery of stomach reduction,
and 20 non-obese who performed evaluations: Inventory of Expression of
Anger as Being and Character (STAXI) of Spielberger – to evaluate the
presence of hostility, besides a Questionnaire elaborated by the researcher,
who tried to make a positive correlation between low expressivity of anger
and the impoverishment and damage of social interactions in morbid obese.
Results demonstrated significant presence of covered hostility in the group
of morbid obese, greater than in the group of non-obese, concerned to the
subscales Anger control and Anger expression of STAXI. Final analysis of
data also pointed to a positive relation between what morbid obese
perceives
as
negative
appreciation
than
other
people
and
the
impoverishment of their social interactions.
Key
words: morbid obesity; psychological aspects; covered hostility;
anger; social interactions.
10
1. JUSTIFICATIVA
A avaliação da sociedade com relação à obesidade vem sofrendo
enormes modificações nos últimos tempos. Da referência unânime do bebê
gordinho como símbolo de saúde à perseguição crescente da magreza (a
partir dos anos sessenta) como ideal a ser alcançado a qualquer preço
estabeleceram-se enormes mudanças nos conceitos a respeito da adequação
de nossos corpos.
Recentemente, mais e mais estudiosos têm destacado que um modelo
abrangendo várias áreas científicas é o mais adequado para compreender
apropriadamente a obesidade. Assim, por ser multideterminada em seus
fatores causais, a obesidade constitui-se não apenas um problema estético,
mas sim uma questão cuja abrangência se estende atualmente até as esferas
de saúde pública (com o crescimento descontrolado do número de obesos
no Brasil e no mundo).
Existem pessoas obesas que desenvolvem a doença em função de
aspectos orgânicos (hereditariedade, distúrbios endócrinos e fisiológicos),
hábitos alimentares inadequados e sedentarismo. Contudo, Santos (1993)
comenta que existem outros aspectos relevantes a serem examinados, como
a predominância da influência familiar, social e de aspectos psicológicos
para o seu desenvolvimento. Há a necessidade das contribuições e análises
dessas múltiplas áreas a fim de favorecer o aumento de conhecimento
teórico e empírico sobre essa interação complexa de fatores que se enredam
na obesidade.
11
Apesar de não haver pontos que possam ser considerados mais ou
menos importantes no estudo, investigação e análise da obesidade, um
psicólogo
acaba
conseqüências
da
por
enveredar-se
interação
social
nos
aspectos
dentro
deste
emocionais
grupo
e
nas
populacional.
Comecei a desenvolver meu interesse por desvendar este tópico através da
observação, no trabalho que realizo há cerca de uma década, na clínica
psicológica, com avaliação e acompanhamento de pacientes portadores de
obesidade mórbida. No contato com essa clientela, impressionaram-me
alguns pontos que pareciam convergentes ao discurso de quase a maioria
dos pacientes. Em suas queixas despontam freqüentes relatos de percepção
do outro como hostil, o que faz supor que, nos obesos aparecem
sentimentos de não aceitação por parte das outras pessoas, fazendo-os
desenvolver, em conseqüência, um elevado padrão de autodesvalorização.
Presos em seus próprios corpos e psicologicamente fragilizados, os
obesos desenvolvem formas de lidar com o outro tentando diminuir a
impressão de constante ameaça de rejeição: ora tornam-se extremamente
extrovertidos e simpáticos representando o mito do “gordo bem humorado”,
ora apresentam um padrão de esquiva e isolamento social. Pode-se supor
que o papel de “gordo agradável” (jolly fat) ajude-os a se proteger contra a
experiência da ansiedade, depressão e disforia, além do sentimento de
rejeição e isolamento social (Palinkas, 1996), decorrente de sua condição.
Quando, porém, percebem o sentimento de ameaça (emoções negativas,
conflitos a serem resolvidos, etc.) como sendo deles próprios, a forma de
controlar o sentimento de raiva e outros sentimentos ansiógenos, aparece
sob a resposta do comer compulsivamente. A esquiva de sentimentos
12
negativos é representada por uma via de mão dupla: dá-se quando se sentem
ameaçados (externa e/ou internamente).
Os profissionais que trabalham com a obesidade mórbida têm que
levar em conta o fato de que, quando chegam ao consultório, seus pacientes
estão contaminados com uma visão distorcida da sociedade sobre a
etiologia, desenvolvimento e manutenção de sua doença. Via de regra, lhe é
atribuída a total responsabilidade por sua obesidade, o que de fato, não
condiz com a realidade. Isto acarreta desgaste e sensação de fracasso a
estes pacientes. É difícil aceitar que, ainda hoje, haja uma parcela de
pessoas, que pode ser representada pelos médicos, assistentes sociais,
enfermeiros e mesmo a população em geral que acredite ser “a força de
vontade” (que eles julgam ausentes nos obesos mórbidos) o único fator para
o sucesso no tratamento da obesidade. Isto gera um enorme desequilíbrio
no que diz respeito aos aspectos emocionais e sociais destes pacientes.
Durante o processo de trabalho psicoterapêutico desenvolvido desde
1993, na cidade de Maringá, PR, com obesos e obesos mórbidos, este
quadro aparece bastante nítido e delineado. Esses pacientes chegam com
uma carga excessiva diante da expectativa de ajuda: carregam consigo um
excesso considerável de peso corporal paralelo à já condenação pessoal por
esse estado de coisas. Na escuta profissional que realizo com esta clientela
tem emergido sistematicamente aspectos psicológicos dignos de maior
investigação, entre outros: persistente índice de auto-estima rebaixada,
déficit considerável da percepção de auto-imagem, repertório pobre em
expressividade emocional (que vem a ser o reconhecimento e expressão
genuínos de seus sentimentos consigo e com os outros) e sensação de
13
fracasso. Estas são observações interessantes e constantemente presentes na
prática clínica que me estimulam a realizar uma pesquisa voltada para as
questões emocionais inerentes à obesidade mórbida, onde vai-se procurar
realizar uma revisão atual acerca de todos os fatores que possam interferir
no que foi delineado como objeto de estudo.
A relação entre comer excessivamente, a obesidade e o bem estar
emocional e social tem atraído a atenção de cientistas já há longo tempo.
Esta pesquisa procurou responder em parte algumas destas questões. O foco
das
análises
foi
direcionado
à
expressividade
emocional,
o
não
reconhecimento e não expressão dos sentimentos ligados à vivência de
raiva nos obesos mórbidos, e o empobrecimento de suas interações pessoais
(esses certamente são dados importantes para se avaliar o nível de bem
estar emocional destas pessoas). Isto me levou a investigar, até que ponto
os portadores de obesidade mórbida apresentam comportamentos
de
hostilidade encoberta (raiva não revelada), e a relação desta agressividade
com seus relacionamentos sociais.
Além dos objetivos próprios desta pesquisa, espera-se que o presente
trabalho auxilie a esvanecer o estigma que recai sobre esta população,
possibilitando que, diante de suas dificuldades, se possa haver uma
aceitação dos obesos mórbidos assim como se tem de outros tipos de
pacientes que convivam com dificuldades emocionais e físicas, com um
esforço para melhor entendê-los e ajudá-los. Espera-se poder com este
trabalho ajudar a melhorar a compreensão (num âmbito social e mesmo na
área médica) de que o problema não é a obesidade em si, nem tampouco os
obesos; o problema é o preconceito.
14
2. OBJETIVOS
2.1 Geral
Investigar a presença de hostilidade encoberta e o empobrecimento
da interação social em pacientes obesos mórbidos.
2.2 Específico
Investigar as repercussões da obesidade nas interações sociais das
pessoas obesas.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A
obesidade
tem
sido
extensamente
estudada
e
divulgada
na
atualidade. O interesse pelo assunto passa pela área de saúde, estética,
meios de comunicação social em geral, moda. Notadamente nos meios
científicos tem havido avanços significativos nas pesquisas médicas a
respeito da etiologia e tratamento da obesidade e obesidade mórbida. Este
campo é fértil para pesquisa e de interesse, inclusive, para os laboratórios
farmacêuticos, que investem consideráveis quantias na condução de
reflexões sobre o tema. Em conseqüência das descobertas realizadas, são
múltiplos os enfoques de tratamento clínico para a obesidade dentro da
medicina.
Entretanto, os aspectos sociais e psicológicos que envolvem a
obesidade mórbida, principalmente a questão da expressividade emocional
(no nosso caso, a hostilidade encoberta), apresentam um campo de pesquisa
a
ser
explorado,
por
serem
reconhecidamente
importantes
no
15
desenvolvimento e manutenção da obesidade em um grupo extenso da
população.
Este trabalho enfoca a obesidade e, principalmente a obesidade
mórbida dentro dos vários pontos de vista que a delineiam, procurando
explorar, principalmente as subdivisões que dizem respeito aos veios
psicológicos e as relações destes com a melhoria ou o empobrecimento das
interações sociais deste grupo.
Isto pode significar o favorecimento do aumento de dados empíricos
sobre estas questões e suas conseqüentes correlações teóricas no campo
psicológico relativo ao entendimento dos pacientes portadores de obesidade
mórbida.
3.1 Concepções sobre a obesidade
3.1.1 Obesidade e obesidade mórbida
A obesidade, de maneira geral, e a obesidade mórbida são patologias
que vêm sofrendo um enorme aumento em sua incidência e prevalência na
contemporaneidade, em função de vários aspectos que dizem respeito às
mudanças de estilo de vida num mundo cada vez mais industrializado.
Não obstante, a convivência com obesidade não é prerrogativa apenas
das épocas recentes da civilização humana. Sabe-se que a humanidade
convive com a obesidade e busca formas de descrevê-la desde épocas muito
remotas. A literatura aponta, por exemplo, que uma das primeiras
representações da forma humana nomeada de Vênus de Wilendorf é datada
do período Paleolítico e trata-se da estátua de uma mulher extremamente
16
obesa com grandes peitos e abdome enorme (Loli, 2000). Esculturas préhistóricas gregas, babilônicas e egípcias também demonstram a preferência
por mulheres de abdomes largos, com os quadris e as coxas amplas.
A representação artística no renascimento é plena em retratar
mulheres roliças em poses sensuais. Ser obeso, à época, não assumia a
conotação de doença. Uma certa “opulência de carnes” (Segal, 1999, p. 5)
era, ao contrário, mais do que bem vista: demonstrava um evidente sinal de
sucesso e saúde. A magreza, neste período, é que representava exatamente
o oposto (Brownell e Fairburn, 1995). De fato, durante muitos anos em
diversas culturas, ganhar peso e acumular gordura foram sinais de saúde e
prosperidade, e a obesidade constituiu um índice de beleza muito
valorizado, sobretudo em mulheres.
Ao longo do processo de desenvolvimento histórico e cultural, o
conceito de obesidade foi sofrendo modificações nas diversas áreas que a
estudam. No campo da medicina, com o desenvolvimento de estudos sobre
o metabolismo humano e o ganho de peso, a obesidade passou a ser
associada a uma série de complicações orgânicas e ao aumento da taxa de
mortalidade. Ela deixa então de ser vista como um referencial de saúde e
passa a ser apontada como doença (Benedetti, 2002), e posteriormente
como doença mental, a partir do momento em que a psicologia passa a
figurar na lista de áreas científicas que estudam a obesidade.
Atualmente, se utiliza a definição clássica de obesidade como sendo
o acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo (Coutinho, 1998;
Halpern, 2000; Segal, 1999). Esse acúmulo de adiposidade é considerado
patológico quando há uma correlação entre a distribuição da gordura e o
17
seu impacto específico sobre a morbi-mortalidade da pessoa associada à
obesidade. Para caracterizar esse quadro Segal (1999) enumera três
aspectos principais no que concerne ao acúmulo de tecido adiposo e sua
correlação com a saúde: aumento da morbi-mortalidade quando há excesso
de tecido adiposo ou uma relação peso/altura muito elevada; risco maior
quando o excesso de tecido adiposo é estocado acima da cintura, isto é,
quando há uma deposição tipo andróide; o depósito adiposo que apresenta
maior potencial aterogênico é aquele que ocorre dentro da cavidade
abdominal, ao redor das vísceras. A quantidade de gordura abdominal tem
um papel central na determinação do grau de comprometimento da saúde
causado pela obesidade (Segal, 1999, p. 36).
A partir da definição, emerge outra questão onde há diversidade de
opiniões entre os profissionais. Quando se considera uma pessoa como
obesa? Muitas são as formas de se mensurar e classificar a obesidade. Não
é o propósito deste trabalho fazer um delineamento extenso sobre o tópico,
mas existe, no Brasil e no mundo, um consenso por parte dos especialistas
em utilizar o Índice de Massa Corpórea (IMC), que se baseia no cálculo do
Peso dividido pela Altura elevada ao quadrado. Este método é conhecido
como Índice de Quetelet (Coutinho, 1998; Halpern, 2000; Segal, 1999) e
tem sido usado por ser de fácil aplicação e mostra-se razoavelmente
sensível e específico na identificação de indivíduos com adiposidade
corporal excessiva.
Considerando este método de mensuração do nível de adiposidade
corporal, os indivíduos podem ser classificados então, com relação à sua
18
obesidade ou não obesidade, da seguinte forma, segundo informações de
Coutinho (1998, p. 197):
IMC entre 10 e 20: Abaixo do peso
IMC entre 20 e 25: Saudável
IMC entre 25 e 30: Sobrepeso
IMC entre 30 e 40: Obeso
IMC entre 40 e 70: Obeso Mórbido
Nesta pesquisa os pacientes estudados enquadravam-se no IMC entre
40 e 70, que os classifica como Obesos Mórbidos; os participantes do
Grupo Controle estavam na classificação entre 20 e 25 (Saudável).
Há
ainda na literatura a presença de uma generalização mais extensa ao falarse sobre Obesidade, indicando os níveis que medem o Sobrepeso, a
Obesidade Moderada e a Obesidade Mórbida. Assim, poderão se encontrar
os termos Obesidade e Obesidade Mórbida quando da revisão de literatura
que realizei.
A obesidade mórbida especificamente caracteriza-se por ser uma
doença crônica grave que põe em risco a vida do indivíduo por estar
associada a outras complicações orgânicas. De fato, a literatura refere um
aumento de risco de complicações orgânicas tais como hipertensão arterial,
complicações cardíacas, dificuldades respiratórias, aumento de incidência
de alguns tipos de câncer, apenas para citar algumas (Garrido Jr., 1998).
Os países desenvolvidos têm concentrado seus esforços na área de
saúde pública, na prevenção das doenças não transmissíveis (como a
obesidade). Para tanto, ênfase tem sido dada à redução da obesidade,
modificação do padrão alimentar e redução do sedentarismo. Nota-se,
19
porém, como atestam Fonseca, Sichieri e Veiga (1998) que os resultados
são desencorajadores. Quanto mais prevalente se torna a obesidade, maior o
estímulo para se estudar grupos populacionais mais vulneráveis ao
problema, onde se possam levantar hipóteses relacionadas à determinação
dessa patologia bem como formas eficientes de tratá-la.
No que diz respeito à obesidade mórbida tem-se verificado que as
alternativas de tratamento que respondam eficazmente quanto à redução e
manutenção posterior do peso perdido tornam-se restritas. O surgimento
das cirurgias de redução do estômago (gastroplastias) tem se mostrado
como uma intervenção eficaz para responder às necessidades da perda e
manutenção posterior do peso corporal adquirido (Benedetti, 2001; Garrido
Jr, 1998; Rabner, Dalton e Greenstein, 1993; Yale e Weiler, 1991). A
possibilidade da manutenção do peso a níveis aceitáveis provê benefícios
psicológicos aos obesos submetidos a este tratamento, a saber: melhora do
humor, auto-estima, autoconfiança, imagem corporal e aumento do nível de
atividade têm sido apontados por pacientes operados, bem como por seus
familiares (Balsiger, De Leon e Sarr, 1997). Uma pesquisa realizada num
hospital francês que praticava a cirurgia como tratamento da obesidade
apontou dados positivos para a melhora da satisfação pessoal e qualidade
de vida bem como aumento de sentimento de adequação profissional após a
intervenção cirúrgica (Terra, 1997). O mesmo estudo mostra alguns índices
de sintomas depressivos após a cirurgia, mas sem história de necessidade
de uso de medicamentos para a maioria dos pacientes.
Atualmente a classe médica em geral e os profissionais que trabalham
na área de obesidade mórbida vêm se estruturando para lidar com todos os
20
vieses pertinentes a esta modalidade de tratamento cirúrgico, para garantir
aos pacientes uma vida mais satisfatória no pós – operatório imediato e
posterior (tanto nos níveis físicos como no que diz respeito à reestruturação
psicológica que se segue ao emagrecimento via gastroplastia).
3.1.2 Obesidade sob o ponto de vista médico
Dentro da avaliação médica, muito se tem estudado questões relativas
à obesidade, por esta ter-se se tornado, um grave problema de saúde
pública, além de apresentar um quadro progressivo de incidência.
Sob o enfoque médico, sabe-se que a obesidade constitui importante
fator de risco para diversas condições clínicas associadas. Essas condições
clínicas variam muito em quantidade e em intensidade, dependendo da
gravidade do quadro do paciente. Dentre as mais importantes, Piccini
(1996)
destaca
o
desenvolvimento
das
doenças
cardiovasculares;
o
surgimento de diabetes mellitus; osteoartrites, colecistopatias, câncer,
disfunções respiratórias, distúrbios dermatológicos, complicações pósoperatórias e probabilidade aumentada para acidentes, entre outros.
Já
é
consenso
na
classe
médica
que
a
obesidade
determina
importantes alterações orgânicas, com redução da qualidade e duração da
vida média, que são estatisticamente comprovadas (Coutinho, 1998;
Halpern, 2000; Romiti,1997; Segal, 1999). Também se observa muito
comumente uma união forte entre obesidade e uma extensa diminuição de
bem estar físico associado (Mannucci et al., 1999). Pessoas obesas são
vítimas de seu próprio corpo e, em função disso, ficam praticamente
impedidas
de
realizar
atividades
motoras
e
deambulatórias
simples,
21
acessíveis à maioria das pessoas, como, por exemplo: amarrar cordões de
sapatos e tênis, cortar unhas, levantar-se e sentar-se de maneira ágil,
tornando-se até o próprio ato de respirar uma dificuldade, e apnéia do sono
é uma doença que acomete com relativa freqüência os portadores de
obesidade mórbida.
Como se vê, a questão da obesidade não pode ser encarada de forma
apenas estética ou sob a ótica psicológica. Atualmente, a alta prevalência
da obesidade altera padrões estatísticos e epidemiológicos de saúde
pública. Halpern (2000) enfatiza que o contínuo aumento da obesidade no
ocidente (e mesmo no oriente) vem afetando até mesmo a expectativa de
vida desse grupo populacional; também declara que na América Latina,
cerca de 220 mil pessoas morrem por ano, segundo dados da OMS, antes de
completar 70 anos, em decorrência de complicações geradas pelo excesso
de peso.
Esse quadro, que demonstra e comprova a relevância dos aspectos
orgânicos
que
interferem
na
obesidade
aumenta
o
interesse
dos
pesquisadores em desenvolver medicamentos para tratar a doença. Observase que isso gera como efeito o lançamento no mercado de uma variedade
extensa destes fármacos que prometem eficácia garantida na redução do
peso. Segal (1999) pondera que o uso de medicação para emagrecimento no
Brasil apresenta um dos índices mais elevados do mundo, o que o autor
considera como inaceitável.
Há que se considerar a ênfase do autor em
apontar para o absurdo da prescrição abusiva de medicamento como
alternativa para o emagrecimento, na medida em que se sabe que os
fármacos só serão úteis em determinados casos, e mesmo assim, sempre
22
com a associação da realização de dieta (reestruturação
de hábitos
alimentares) e atividade física; sem contar com a prática da psicoterapia
que tem como foco a mudança de comportamento e do estilo de vida
(Kerbauy, 1987). Dentro da área psicológica tem-se notícias da eficácia da
intervenção
com
os
obesos,
principalmente
dentro
dos
modelos
de
psicoterapia de grupo com enfoque cognitivo – comportamental, que
procuram trabalhar as variáveis externas e
encobertas
que controlam o
comer excessivo. Dentro de minha área de atuação profissional, trabalho
desde 1992, com grupos de obesos moderados nestes moldes, tanto em
consultório particular como em nível institucional, obtendo, via de regra,
resultados satisfatórios com este tipo de intervenção.
Entretanto, essas conclusões se modificam quando se fala de
intervenções eficazes para os obesos mórbidos. Repetidas evidências
sugerem que os tratamentos tradicionais (com a intervenção das áreas
psicológica, médica, nutricional e com aumento de atividade física) para a
obesidade moderada auxiliam em muito aos obesos a terem considerável
sucesso
em
seus
resultados.
Porém
pesquisas
demonstram
que
tais
tratamentos não resultam em redução de peso significativa para a população
de obesos mórbidos. Casos há em que os clientes chegam a perder quantias
consideráveis de peso com estes métodos restritivos de alimentação. Porém,
o índice de pessoas que conseguem manter a perda de peso, via tratamentos
clínicos, surpreende, pois praticamente todos os obesos voltam a engordar
após algum tempo. Como conseqüência, o tratamento, via cirurgia, para a
obesidade mórbida vem sendo aumentado consideravelmente (Benedetti,
2001; Rabner, Dalton, Greenstein, 1993).
23
Estudos de seguimento (follow up) de pacientes obesos mórbidos
submetidos a gastroplastia reportam consistentemente que os pacientes
experimentam um substancial incremento de bem – estar social, psicológico
e de saúde após a perda de peso conseqüente à cirurgia, pelo menos nos
primeiros anos (Rabner et al., 1993; Stunkard e Wadden, 1992).
3.1.3 Obesidade e sua relação com a atividade física
Ainda ao falar-se de obesidade, pode-se destacar como importante
causa de seu crescimento na população em geral as mudanças de hábito com
relação a práticas de atividades físicas. Assim, um dos fatores mais
freqüentemente responsáveis pelo desenvolvimento da obesidade é o
sedentarismo associado à vida atual nas civilizações ocidentais da era
industrial.
Como bem observam Fonseca et al. (1998), a atividade física é um
importante determinante das características físicas do adolescente, e
posteriormente do indivíduo adulto. Eles sustentam que a obesidade em
adolescentes resulta do desequilíbrio entre atividade reduzida e excesso de
consumo de alimentos densamente calóricos, tendo mostrado que o número
de horas que um adolescente passa assistindo TV é um importante fator
associado à obesidade, acarretando um aumento de 2% na prevalência da
obesidade para cada hora adicional de televisão em jovens de 12 a 17 anos.
Esse índice recrudesce gradativamente no decorrer da passagem da
adolescência para a vida adulta, e surge como importante fator de
manutenção da obesidade na população em geral.
24
As alterações do estilo de vida nas sociedades modernas realmente se
traduzem em diminuição drástica no gasto de energia. As pessoas
movimentam-se cada vez menos para realizar suas tarefas diárias e,
geralmente permanecem sentadas e ociosas tempo suficiente para auxiliar o
desenvolvimento da obesidade e também de outras doenças.
Halpern (2000) alerta que a epidemia da obesidade que ameaça várias
populações no mundo todo tem sua incidência aumentada em função
exatamente desta diminuição de atividades físicas. E o autor não se refere
como atividade física somente aquela realizada nas academias de ginástica
ou em práticas desportivas, mas também a simples atos corriqueiros, como
andar a pé pelo bairro, em parques ou para visitar amigos, por exemplo.
A prática de exercícios é um método preconizado para auxiliar o
tratamento da obesidade. Provavelmente, essa idéia obtenha aceitação
porque existe o raciocínio lógico bastante simples, segundo Benedetti
(2001): se a obesidade decorre de um equilíbrio positivo entre ingestão e
gasto energético, diante da constância do consumo o emagrecimento
ocorrerá do aumento do gasto de calorias pela prática de exercícios físicos.
Embora esta análise faça sentido, o exercício, por si só não é o meio mais
eficaz para redução do peso. Segal (1999) entende que, isoladamente a
atividade física não leva ao emagrecimento. Avalia o autor que para
produzir perda de peso, o exercício precisa estar associado à reeducação
alimentar. Ainda que seja assim, as investigações sobre o papel positivo da
prática da atividade física são reafirmadas por diversos autores, segundo
afirmam Pollock e Wilmore (1993).
25
Apesar da relevância atribuída e creditada ao exercício físico para
auxiliar no tratamento da obesidade, novamente se deve ressalvar que
quando
se
diz
respeito
ao
obeso
mórbido,
estes
dados
ganham
significâncias relativas, devido às proporções em que a obesidade atinge e
prejudica as condições físicas e corporais desses pacientes. Não há na
literatura
notícias
de
estudos
que
demonstrem
efetivamente
a
aplicabilidade do benefício da prática física em obesos mórbidos. Benedetti
(2001) salienta de forma bastante esclarecedora que as dificuldades
respiratórias, a incapacidade de se movimentar livremente e as doenças
articulatórias freqüentes nesses pacientes, seriam um obstáculo à prática de
tais exercícios tornando-se até mesmo uma simples caminhada torna-se
bastante aversiva.
3.1.4 As influências familiares presentes no desenvolvimento da
obesidade
Apesar das diferenças conceituais que existem entre as diversas
teorias do desenvolvimento em Psicologia, fica demonstrado que a relação
mãe-criança desde muito cedo provê um contexto para que ela tenha a
aquisição de um repertório mais saudável ou menos adaptativo para lidar
com suas emoções e para também lidar adequadamente com os conflitos que
surgem nas relações interpessoais.
A pessoa obesa que traz consigo uma história de vida e de
desadequação
de
padrões
alimentares,
não
está
sozinha.
Ela
vem
freqüentemente de um meio onde a alimentação assume, via de regra, um
papel importante, principalmente por parte das mães. Tem havido uma
26
crescente aceitação nos últimos 40 anos de que existe uma associação entre
problemas emocionais apresentados pelas pessoas e problemas nas relações
familiares
(Brownell
e
Fairburn,
1995;
Fiscella
e
Campbell,
1999;
Kahtalian, 1992; Margolin e McIntyre-Kingsolver, 1988).
Também se verifica essa associação nas disfunções físicas (alguns
tipos de doenças) dos indivíduos. A natureza da relação entre saúde e
relacionamentos familiares é bem complexa e não pode ser vista de maneira
linear. Depende da mesma forma de características individuais e variáveis
de personalidade de cada um. Contudo, pode-se afirmar que a relação
familiar pode ser uma das muitas variáveis que medeiam a relação entre
desordens físicas e emocionais e a saúde psíquica e física de uma pessoa
(Margolin e McIntyre-Kingsolver, 1988).
Com relação a este tópico, vários indícios apontam para respostas
conclusivas a respeito de que em famílias com membros que apresentam
desordens alimentares, estes percebem o clima social de suas famílias como
mais disfuncional do que pessoas de famílias “normais”.
Sob este aspecto, Brookings e Wilson (1994) salientam que as
pessoas obesas percebem seu ambiente familiar como mais rígido e
superprotetor. Também surgem percepções de menos coesão e organização,
além de possibilitar pouca expressividade emocional a seus membros. Não
é raro, ao se analisar as pessoas obesas, essa ligação efetivamente ocorrida
no ambiente familiar. Elas vêm de lares onde a postura com relação à
comida é muito rígida, e é constante a presença de, no desenvolvimento de
sua história de vida, ligações afetivas com relação ao ato de comer: agradar
aos pais, ser considerado como uma boa pessoa, obediente e gentil. Esses
27
fatores tornam-se arraigados simbolicamente, o que dificulta em muito, na
adesão a um programa de tratamento, desvincular comida do ato de
preencher-se
afetivamente,
e
não
com
um
ato
para
alimentar
uma
necessidade fisiológica.
Observa-se amiúde que o problema da obesidade só vem a ser
enfrentado tardiamente, quando na idade adulta, mas as raízes de seu
desenvolvimento encontram-se na maioria das vezes nos primeiros anos de
vida. A obesidade já é, atualmente, em grande parte, um problema das
crianças, e muitas dessas crianças com excesso de peso serão adultos com
excesso de peso (Lemes, Moraes, e Vítolo, 1997).
Os
pais
obesos
freqüentemente
terão
crianças
com
grandes
possibilidades de serem obesas. Nas famílias em que o consumo de
alimento é alto e encorajado, a prevalência da obesidade é elevada (isto
sem se levar em conta os aspectos genéticos). Para as crianças, as
dificuldades sociais e psicológicas são conseqüências da obesidade e da
associação afetiva com alimento. Para as mais novas, os pais são os mais
poderosos fatores de influência. Com efeito, é com freqüência sobre a base
de uma alimentação abundante e dada ao menor grito (Lemes et al., 1997),
que o bebê vai se achar engajado numa via onde qualquer desgosto, de
qualquer natureza, será afagado por um aporte alimentar. E as gratificações
para diversos conflitos podem, desde cedo, ser solucionadas através da
alimentação.
Mas qual a razão por que algumas mães sentem a necessidade de
superalimentar seus filhos? Nos primeiros meses de vida, a nutrição faz
supor os gestos essenciais de comunicação entre mãe e filho, e é nessa
28
comunicação que reside o erro, que consiste em satisfazer imediatamente e
sem demora qualquer necessidade ou mal-estar por meio do alimento. O
pedido e a insatisfação são cumulados por uma resposta uniforme, como
uma chave que serve para todas as fechaduras: a satisfação alimentar. Desta
forma, pode-se supor que o papel da mãe com relação ao desenvolvimento
emocional de seu filho seja inegável. Muitas mães, ao tentarem adequar-se
a este papel, podem de fato, colaborar para que o filho torne-se frágil, no
que diz respeito a lidar com os conflitos emocionais. A mãe pode desde
muito cedo se sentir motivada para superalimentar o filho para lidar com
seus próprios conflitos como também para dar a entender que está sendo
adequada com relação ao seu papel, perante os outros. Quando a criança
recebe alimento para ser o alívio de qualquer mal-estar, começa a associar
frustração e desconforto à saciação com o alimento (Campos, 1993). No
estabelecimento deste vínculo primário, a função da mãe deve ser de
mediadora, ou seja, suficiente para que a criança possa desenvolver seus
próprios recursos para lidar com a realidade e com seus limites (Lemes et
al., 1997). Assim pode-se facilitar ao futuro obeso que venha a adquirir
padrões de comportamento mais saudáveis. Como atesta Campos (1993), ao
se
manter
essa
relação
de
saciedade
emocional,
via
alimento,
as
conseqüências podem ser várias: dificuldade em adiar satisfações (baixa
tolerância à frustração) não conseguindo adiar nenhum tipo de “fome”,
dificuldade em obter satisfação nas relações sociais, desadequação do papel
sexual e da imagem corporal etc.
Pelas pesquisas realizadas, apreende-se que os fatores que dizem
respeito ao mundo familiar e vínculos parentais fazem-se de importância
29
crucial no entendimento dos obesos. Estas informações são de muita valia
quando se está buscando junto aos pacientes alternativas para a solução de
seus problemas relativos à ligação “amorosa” com a comida.
3.1.5 Aspectos sociais envolvidos na obesidade
Além das questões referentes ao microcosmo familiar, observa-se
uma outra variável quando se lida com a população de obesos: há na
sociedade em geral um crescente aumento do preconceito, discriminação e
não aceitação da obesidade, evidenciando um quadro com características
bem peculiares.
Sabe-se que o preconceito gera um prejulgamento negativo de um
grupo e seus membros individuais. O preconceito predispõe contra uma
pessoa com base apenas no fato de a identificarmos a um grupo
determinado (Myers, 2000). Assim o é diante de grupos minoritários como
as mulheres, os negros, os homossexuais. Também o é diante dos obesos e
obesos mórbidos. Existe hoje em dia uma verdadeira guerra contra a
obesidade (e, em conseqüência, contra os obesos). Para Fischler (1995, p.
69) “uma das características de nossa época é sua lipofobia, sua obsessão
pela magreza, sua rejeição quase maníaca à obesidade”. Ser obeso é
considerado quase uma contravenção, uma aberração social diante dos
padrões estéticos vigentes.
As razões pela reação cultural negativa para com a obesidade podem
ser muitas. Desde o fato de que ser obeso não seja mais considerado
saudável, até à questão da indústria da moda, que imprime o conceito de
magreza absoluta (normalmente artificial) para o ideal de beleza feminino
30
atual (Benedetti, 2001; Polivy e Thomsen, 1988). Reagir negativamente
contra
a
obesidade
também
está
ligado
ao
excessivo
aumento
da
preocupação com a auto-imagem e com a manutenção eterna da juventude.
“Devemos nos apresentar sempre magros para aparecer apropriados nas
roupas da moda” (Polivy e Thomsen, 1988, p. 347). A propósito da
preocupação com a imagem e com a (boa) aparência há que se notar que
todos os obesos sob tratamento, sem exceção, relatam que um de seus
maiores problemas com a obesidade (senão o principal) é a extrema
dificuldade em achar roupas adequadas para vestir-se no dia-a-dia ou em
ocasiões sociais. Verbalizações freqüentes que surgem são “Não quero
vestir-me com esses vestidos horríveis e sem estilo” ou “Não há lojas que
tenham roupas que me agradem” ou ainda “Nas lojas, as vendedoras já se
antecipam e dizem que não há nenhuma roupa que possa me servir”.
Outros referenciais influenciam no extremo cuidado com a obtenção e
manutenção de um corpo magro, e com maior cobrança no que diz respeito
às exigências feitas para com as mulheres deste novo século.
Os padrões de beleza modernos sofreram transformações radicais na
história recente da humanidade, e pode-se destacar entre eles que a imagem
de matrona como símbolo de fecundidade e boa maternidade, até há pouco
valorizada, perdeu o encanto quando a mulher entrou para o mercado de
trabalho. Desde então, a mulher passou a exercer dupla jornada e, na
qualidade de esposa, deixou de ser valorizada apenas pela sua capacidade
de ter filhos e cuidar do lar, mas também pelo companheirismo e
desempenho sexual (Benedetti, 2001). A corpulência da mulher puritana
31
deu lugar aos ideais de juventude e esbelteza de uma mulher sexualmente
ativa.
Quanto aos homens, Benedetti (2001) demonstra que embora o
sucesso, a prosperidade e a virilidade sejam considerados grandes fatores
de atração, também estão presentes a valorização da aparência jovem e
esbelta, podendo-se então generalizar que para ambos os sexos há, não só
forte pressão no sentido de emagrecimento e da manutenção do peso como
também da estigmatização de todo aquele que fuja a essa norma. Apesar
destes apontamentos observa-se que via de regra, nas inscrições dos
serviços hospitalares que tratam as desordens alimentares e a obesidade o
número prevalente é o de mulheres.
Porque deveriam as desordens alimentares e a obesidade ser problema
das mulheres em particular? Ballone (2001) aponta que a constante pressão
social seja um dos fatores que favorecem o surgimento, em freqüência mais
alta nas mulheres, de transtornos alimentares (como a bulimia; a anorexia
nervosa; a síndrome do binge eating) e a obesidade. Tais síndromes
representam, em essência, o medo extremo das mulheres em serem obesas,
ainda que seu peso corporal esteja dentro da normalidade. Polivy &
Thomsen (1988) enfatizam estes dados, apontando que entre os portadores
de desordens alimentares, os casos masculinos são em minoria. Mencionam
que colabora para tal, o fato de que a necessidade de parecer extremamente
magra é cobrada mais de mulheres do que de homens; advindo daí a idéia
de que ser extremamente magra está mais relacionado ao sexo feminino do
que ao masculino.
32
O ideal de figura feminina torna-se mais e mais magro, e as
imposições para as mulheres fazerem dieta tornaram-se mais acirradas.
Haja vista uma pesquisa desenvolvida pelas autoras que retornou com
resultados onde 80% das mulheres não se encontravam satisfeitas com seu
corpo e almejavam perder peso (mesmo as que se encontravam apenas com
um leve sobrepeso). Elas estavam mais interessadas em perder peso que os
homens. Os homens da pesquisa, ao contrário, acreditam que ganhar peso
não era tão negativo, pois tal fato era associado com o desenvolvimento dos
músculos (sinal evidente de “masculinidade”).
Este sortilégio atinge as mulheres também no que diz respeito ao
corpo que se espera que tenham. Ainda que a atual cultura da vaidade e
juventude eternas (predominante nestes tempos pós-modernos) se alastre
com exigências sobre os dois sexos, são as mulheres que têm que dar conta
de demonstrar sua perfeição ligada à apresentação de uma imagem corporal
perfeita e ideal. Ser obesa implica em ferir um suposto código social onde
se estabeleceu a beleza como fator fundamental para a identificação de
feminilidade e atratividade perante o sexo oposto, além de demonstrar que
a pessoa não possui “autocontrole” e eficiência (Stenzel, 2000).
Biancarelli (1999) em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo,
salienta que quando se trata de obesidade e vaidade, balança e espelho não
costumam se entender. O artigo publica resultados de pesquisas conduzidas
com pacientes obesos do sexo masculino e feminino, bem como com
homens e mulheres que não tinham problemas com o peso. Estas pesquisas
foram conduzidas na Divisão de Psicologia do Hospital das Clínicas da
Universidade
de
São
Paulo,
em
1999.
A
análise
destas
pesquisas
33
demonstrou que cerca de 55% dos homens obesos entrevistados sobre sua
auto-imagem, alegavam que não precisavam perder peso, pois se sentiam
bem como estavam. Ao contrário, com as mulheres as pesquisas mostraram
que 33,6% que estavam dentro de seu peso normal, acreditavam que deviam
fazer alguma coisa com relação a seu peso e sofriam por “sentirem-se
gordinhas”, ainda que outras pessoas lhes dissessem que estavam bem.
Estes dados corroboram a construção social do conceito de obesidade sobre
as mulheres, que ao terem um corpo perfeito, estariam respondendo
simbolicamente às exigências de perfeição nos outros aspectos de sua vida.
Homens e mulheres percebem a obesidade diferentemente e valorizam
diferentes ideais de corpo.
Neste sentido, surpreende a agudez de
pensamento de Denise B. Sant’Anna (doutora em História da Beleza),
professora da PUC/SP. Em depoimento a uma revista feminina de grande
circulação no Brasil, em julho de 2001, ela faz referência à escravidão das
mulheres ocidentais pela busca do corpo e sexualidade ideais, ser muito
parecida com a tirania que era recentemente imposta às mulheres do
Afeganistão, quando eram escravizadas e postas à margem da sociedade, em
função de um ideal político-religioso.
Há
ainda
um
campo
de
trabalho
vasto
no
que
concerne
à
desmistificação do feminino relacionado ao belo como obrigatoriedade.
Wooley (1995) aponta um grupo de estudiosos que pretende dar seguimento
às investigações e trabalhos informativos neste segmento de compreensão
sobre os efeitos nocivos das cobranças sociais extremadas sobre as
mulheres e seus corpos. Completando esse raciocínio, Stenzel (2000)
raciocina que se devem abrir espaços para uma nova visão do feminino.
34
Estes espaços são a escola, a família, os consultórios, as pesquisas que se
realizam. Encontram-se aí situações plenas de formas simbólicas de
identificar o feminino. Cabe então aos profissionais que trabalham com a
mulher e seu universo (que abrange além das questões da obesidade),
estarem atentos para as nuances, ora sutis, ora brutais, que colaboram para
que ela seja ainda hoje aprisionada, a padrões de subserviência e ditames
rígidos que empobrecem, marginalizam, discriminam.
Existe uma discriminação real para com os obesos em geral, e não
somente para com as mulheres. Este é um dos fatores sob os quais se apóia
o presente estudo. Até que ponto essa discriminação favorece o sentimento
de inadequação social e o conseqüente estado de raiva não manifesta, que
bloqueia as interações pessoais dos obesos é a questão que me intriga desde
que comecei a inteirar-me do assunto. Não houve uma entrevista sequer que
se tenha realizado aonde o aspecto da hostilização por parte do outro não
tenha sido citado pelos clientes. A impressão sentida por eles é confirmada
por muitas pesquisas realizadas. Fischler (1995) refere-se a inúmeros
trabalhos americanos realizados desde os anos 60 que buscaram verificar
como as pessoas percebem os obesos. Informa o autor que, em sua maioria,
os resultados mostram que geralmente as pessoas (adultos e crianças)
enxergam os obesos como pessoas trapaceiras, sujas, más, feias, etc.
Não raro, as pessoas de modo geral e mesmo a classe médica
creditam apenas e exclusivamente ao obeso a culpa de ocupar um excessivo
lugar no mundo, desconsiderando todas as outras características inerentes à
etiologia da obesidade (Medeiros-Neto, 1994; Polivy e Thomsen, 1988;
Rand e MacGregor, 1990). Este tipo de raciocínio é corroborado inclusive
35
pela Igreja Católica, que inclui a gula no rol dos sete pecados capitais. A
obesidade é considerada então, a evidência visual da culpa pelo pecado da
gula.
Há tantas atitudes pejorativas com relação aos obesos que isto já se
tornou uma norma cultural arraigada (Rand e MacGregor, 1990). Essa idéia
é reforçada pela crença popular de que a obesidade é devida à falta de força
de vontade dos obesos, sendo estes normalmente vistos como preguiçosos,
desleixados e com problemas emocionais. Para comprovar estes dados, os
autores acima, estudaram uma população de obesos mórbidos antes e depois
da cirurgia bariátrica e obtiveram resultados que os confirmavam. Todos os
pacientes ao serem investigados no pré-operatório revelaram sentir-se
discriminados, repetidas vezes, no que diz respeito desde ao acesso aos
meios de transporte público, conseguir vaga para um emprego, freqüentar
locais públicos (principalmente restaurantes). Esses pacientes, homens e
mulheres, também referiram preconceito nas relações pessoais, ao sentiremse ridicularizados pelas costas por amigos de trabalho e alvo de chacotas de
crianças, perceberem que os filhos tinham vergonha de terem pais obesos, e
a dificuldade para relacionar-se com o sexo oposto. Embora os autores não
tenham verificado de que forma os pacientes reagiam frente a essa
discriminação e preconceito, não há como negar que venham a interferir
para o sofrimento emocional e a diminuição das habilidades sociais dos
obesos, bem como de sua autoconfiança e auto-estima. Decorridos quatorze
meses da cirurgia, em nova etapa de questionários, os autores observaram
que diminuiu sensivelmente no relato dos pacientes a noção de ser alvos de
preconceito e discriminação por parte de outras pessoas. A partir da perda
36
de peso, quando já podem ser considerados magros, os pacientes passam a
sentir uma significativa diminuição da discriminação e de pressão social
com relação a si mesmos.
Outro estudo (Gortmaker, Must, Perrin, Sobol, e Dietz, 1993), ilustra
e especifica o estigma ao qual os obesos são submetidos nas suas relações
pessoais, de trabalho e com o ambiente em que vivem. Ao avaliar mais de
10.000 adolescentes e jovens adultos com problemas crônicos de saúde,
incluindo aí os obesos, durante sete anos (1981 a 1988), verificaram que
além de problemas fisiológicos decorrentes da doença – obesidade – tais
pessoas sofriam influências sociais negativas devido a seu problema. Os
efeitos das condições crônicas da obesidade, não só afetavam a saúde, mas
também as condições de desempenho escolar e de trabalho, bem como suas
funções psicológicas. Os participantes, ao final da pesquisa haviam
completado menos anos na escola, tiveram menos acesso ao trabalho, ao
casamento e apresentavam auto-estima rebaixada em proporção maior do
que aqueles que não tinham problemas de sobrepeso. Um dos motivos para
tais resultados segundo Gortamaker et al. (1993), parece indicar para o
estigma envolvendo as pessoas obesas (principalmente as mulheres). Para
eles, a obesidade, diferente de outras enfermidades crônicas, parece ser
vista pelas pessoas como uma doença “sob controle voluntário de quem a
tem”, atribuindo-se única e exclusivamente ao obeso a responsabilidade por
sua condição e pela mudança de sua situação.
As investigações de Evans e Wertheim (1998), Gortmaker et al.
(1993) e Rand e Macgregor (1990) exemplificam e validam os dados
empíricos citados pelos pacientes (em sua quase maioria) e percebidos
37
pelos profissionais que com eles trabalham, sobre o fato de que ser obeso,
via de regra, é ser classificado pela sociedade como passível de expiar
culpa e ser merecedor de pena ou castigo.
Essa visão estereotipada vai além: socialmente, os obesos não só são
culpados por tornarem-se assim, mas também por manterem-se na condição
de obesos (Polivy e Thomsen, 1988). Ainda que os obesos mantenham sua
saúde mental e consigam lidar de forma positiva com seu excesso corporal,
pode-se supor que ao longo do tempo, tal situação discriminatória venha
realmente a comprometer os seus relacionamentos por não sentir por parte
do outro sua adequação como pessoa. Tais condições corroboram para que
os
obesos
vivenciem
um
sentimento
de
isolamento
social
e
em
conseqüência, diminuam seus contatos sociais (Valtolina, 1996). Para este
autor, porém, a sensação de isolamento social diminui consideravelmente
após tratamento para diminuição do peso, pois os obesos alegam que
percebem do grupo social maior aceitação de suas pessoas.
Por outro lado, deve-se mencionar aqui, uma pesquisa desenvolvida
por Miller, Rothblum, Brand e Felici (1995), que encontrou algumas
evidências de que não haveria diferenças no que diz respeito às relações
sociais,
evitação
social,
auto-estima
social,
competência
social
e
envolvimento em redes sociais entre mulheres obesas e não obesas em três
estados norte-americanos. Note-se, porém que a pesquisa foi conduzida
segundo o relato verbal de mulheres obesas e dos relatos verbais de seus
amigos e colegas de trabalho. Este fato curioso ocorre, segundo este grupo
de estudiosas da obesidade, em função de uma teoria interessante: a de que
o próprio estigma tenha propriedades autoprotetoras que possibilitem aos
38
obesos evitar uma responsabilidade pessoal pelas reações negativas de
outras pessoas porque estas reações podem, na realidade, acontecerem
função da discriminação (embora não se possa atribuir as conclusões
apenas a este aspecto). O ponto interessante levantado aqui foi o de que
existem ainda muitas lacunas a serem avaliadas quando se diz respeito às
dificuldades sociais enfrentadas pelos obesos.
Métodos investigativos deverão ser delineados (Miller et al. 1995)
para que se possa esclarecer as diferenças no que diz respeito aos relatos
verbais (a fala) sobre o problema e as ações dos obesos com relação às suas
dificuldades sociais. Isto se torna de extrema relevância, pois foi também
percebida pela autora
desta pesquisa a discrepância entre o que os
pacientes verbalizam quando das consultas e a realidade observada na
dificuldade de engajamento com a ação presente nesta população.
Em 1997, um grupo de pesquisadores italianos da Universidade de
Florença
(Mannucci
et
al.
1999),
sistematizou
a
validação
de
um
instrumento de medida de qualidade de vida de obesos denominado
Questionário ORWELL 97 (um instrumento que demonstrou ser simples e
confiável para mensurar a qualidade de vida de obesos, e pode ser usado
com obesos que procuram tratamento). Qualidade de vida como foi
entendida por estes pesquisadores, pode ser definida como a “satisfação dos
valores, metas e necessidades de um indivíduo em direção ao seu estilo de
vida. Exemplos de qualidade de vida envolvem a avaliação de várias áreas,
incluindo a física, psicológica e bem estar social” (Mannucci et al. 1999).
Os resultados deste trabalho demonstraram indícios de que a qualidade de
vida dos obesos mórbidos masculinos seja significativamente menor do que
39
as mulheres obesas mórbidas. Esta pesquisa também identificou e reiterou
que a pressão para ser mais magro recai de forma mais persistente sobre o
sexo feminino do que no sexo masculino. No que diz respeito à idade, a
aplicação do questionário não demonstrou muitas variações, no tocante à
qualidade de vida.
3.1.6 Obesidade e os referenciais psicológicos
Não obstante a relevância dos itens anteriores para se compreender e
avaliar a obesidade há que se considerar como importantes os aspectos
psicológicos que se delineiam nas pessoas obesas. A condição corporal, os
aspectos de vida sedentária e os maus hábitos alimentares, por si só
desencadeiam nos obesos consideráveis desequilíbrios emocionais que
devem ser examinados minuciosamente pelos estudiosos da área, para fins
de complementação do entendimento da obesidade. Reitera-se aqui a
questão do trabalho multidisciplinar no tratamento da obesidade.
Poucos transtornos são tão visíveis aos outros como a obesidade, e
ainda, não menos transtornos geram tanta ridicularização de suas vítimas e
os condena a ficar à margem dos demais. Os obesos respondem a isso
tipicamente com vergonha, pena e culpa. Muitos deles se vêem carregados
de um legado de fracassos para controlar seu peso - existem estudos que
mostram um índice aumentado de histeria, hipocondria, depressão e
introversão social (avaliados pelo Minnesota Multidimensional Personality
Inventory - MMPI) em obesos mórbidos (Grana, Coolidge e Merwin, 1989).
São
observadas
com
freqüência
a
presença
de
co-morbidades
associadas à obesidade, que podem intensificar nos obesos os sentimentos
40
de vergonha e de culpa. A frustração e pena (autopiedade) se intensificam
quando os clientes perdem peso e voltam a ganhá-lo, e às vezes, se vê
aumentada pelos profissionais que os atendem, que sugerem que “não
tinham muita vontade em perder peso, pois do contrário fariam mais
esforços”.
Estudos que fazem um acompanhamento do peso de obesos mórbidos
submetidos
a
gastroplastia
fornecem
pistas
interessantes.
Rand
e
MacGregor (1991) concluíram em uma pesquisa que os pacientes que
conseguiram manter sua redução de peso ao longo de pelo menos três anos
após a cirurgia, consideravam o período em que eram obesos mórbidos
como
verdadeiramente
estressante
em
suas
vidas.
Esses
pacientes
afirmaram na pesquisa que preferiram ter qualquer outra deficiência (como
por exemplo, surdez, dislexia, cegueira, doenças cardíacas e até mesmo
uma perna amputada) a serem obesos mórbidos. Todos os pacientes
disseram que prefeririam ter seu peso normal a serem obesos mórbidos,
mesmo que multimilionários. O estudo sugeriu que os obesos mórbidos
sentem sua condição corporal como sendo uma grande e enorme fragilidade
pessoal.
Outros indícios que corroboram a hipótese de que a obesidade
influencia no funcionamento psíquico e no conseqüente prejuízo da
expressividade emocional são apontados por uma pesquisa conduzida por
Valtolina, em 1996. O autor analisou um grupo de pacientes antes e depois
de um programa de tratamento que incluía dieta, exercícios e treinamento
psicoeducacional numa abordagem behaviorista. Os resultados foram
consistentes em demonstrar um aumento de várias funções psicossociais:
41
rebaixamento da ansiedade e depressão; aumento generalizado do humor;
funcionamento social mais adaptativo, com diminuição da introversão
social.
Muitos investigadores explicam isso com base na maior autoaceitação conseqüente ao fato de que a pessoa começou a perder peso.
Além disso, colabora o fato de que começa a haver também um maior
aumento de aceitação das outras pessoas, sentimento de pertencer a um
grupo, diminuição dos sentimentos de isolamento e solidão e, também o
cuidado sentido por parte dos profissionais envolvidos no tratamento.
Estes tópicos direcionam o pesquisador interessado no assunto a
questionar se os obesos apresentam um padrão psicológico distinto ou se,
por outro lado, o preconceito e a discriminação social a que estão
submetidos é que contribuiriam para seus desajustes emocionais.
Em relação aos aspectos psicológicos da obesidade, existem várias
teorias
que
mencionam
fatores
etiopatogênicos,
ainda
que
muitas
investigações não demonstrem resultados conclusivos que as comprovem
(Buschiazzo e Saez, 1997; Larsen e Torgersen, 1989). Se os distúrbios
emocionais são causa ou conseqüência da obesidade parece ser ainda
questão aberta (Benedetti, 2001). Porém, estudos em diversos países do
mundo tentam investigar mais apuradamente estas relações entre obesidade
e aspectos emocionais.
Em defesa da idéia de que não existe um padrão psicológico típico
dos obesos e que em conseqüência, não existe nesta população um quadro
maior de psicopatologias encontram-se dois autores (Stunkard e Wadden,
1992) que podem ser considerados clássicos na investigação psicológica em
42
portadores de obesidade mórbida. Suas conclusões acerca dessa questão
baseiam-se em extensos estudos, realizados ao longo de vários anos, em
populações de obesos mórbidos, que buscavam como forma de tratamento a
cirurgia de redução do estômago. Uma das hipóteses que eles levantam para
atestar isto se delineia em função de que a população de obesos mórbidos
apresenta uma grande heterogeneidade no que diz respeito a características
psicológicas que os definem.
O fato de não haver um perfil psicológico único para os obesos
mórbidos não significa, porém que estes clientes estejam imunes ao
sofrimento psicológico intenso em função da obesidade (Stunkard e
Wadden, 1992). Ao contrário, para estes autores, “a obesidade cria uma
gigantesca carga psicológica (...) em termos de sofrimento; e esta carga
pode ser o efeito mais adverso da obesidade” (p. 524).
De maneira geral, cientistas que estudam a obesidade, concordam que
não
existe
clareza
e
argumentos
concretos
a
respeito
da
etiologia
psicológica desta síndrome (Grana et al., 1989), pois se faz necessário
abordar psicologicamente a obesidade com um enfoque que considere, tanto
a etiologia, como a manutenção, as variáveis cognitivas (crenças), as
variáveis afetivas e as variáveis ambientais (costumes, hábitos familiares,
etc.). Para tanto, é necessária uma abordagem específica para cada cliente,
devendo-se realizar uma avaliação completa da personalidade e do sistema
ambiental do obeso. Por isso deve-se insistir que os tratamentos “em
massa” para a obesidade são ineficazes, pois pressupõem que todos os
obesos tenham desenvolvido sua doença por iguais caminhos e então por
iguais caminhos devem se livrar dela.
43
Há, porém, autores que apontam para a relação entre obesidade e
alguns aspectos psicológicos de forma mais clara. Para começar a explorar
este aspecto, cito Martins (1986), que aponta que os obesos tendem a
hiperfagia em respostas a tensões emocionais, ao associarem o alimento
como gratificação substitutiva, como equivalente de afeto, compensação ou
recompensa. Para a autora, nos conflitos da vida social a agressividade
pode ser substituída pela alimentação exagerada. Deitos, Silva e Alves
(1995) mostram em seus estudos uma associação entre a obesidade e o
aparecimento de sintomas depressivos. Observam que as relações entre
alterações de apetite, peso e a síndrome depressiva foram identificadas
desde a antiguidade greco-romana por Areteo de Capadócia (Brownell e
Fairburn, 1995).
A partir de 1970, passou-se a admitir que mudanças de apetite e de
peso podem significar alterações psicológicas do humor, por serem
sintomas psicossomáticos e que os obesos compartilham marcadores
neuroendócrinos com os depressivos. O papel desempenhado pela obesidade
em suas relações etiopatogênicas com a depressão distribui-se em duas
categorias: a obesidade como origem da depressão e como sintoma da
mesma.
A despeito das descobertas que relacionam aspectos depressivos,
ansiedade e baixa capacidade à frustração dos obesos, reitera-se que não há
um único padrão psicopatológico onde se possa incluir todos os obesos,
como categoria psicopatológica. Grana et al. (1989), Duckro, Leavitt, Beal
e Chang (1983) além de Leon (1979) referem que não existe um perfil
psicológico unificado para se entender os obesos, uma vez que os mesmos
44
representam uma população heterogênea no que diz respeito aos aspectos
psicológicos. Num estudo com 199 pacientes obesos mórbidos do sexo
feminino Duckro et al. (1983), onde foi aplicado o MMPI, eles descobriram
três subgrupos de níveis psicológicos ao final de sua pesquisa. Cada
subgrupo tinha bem individualizadas as suas características. O primeiro
grupo não apresentava essencialmente nenhum desvio de acordo com as
normas,
sendo
os
participantes
considerados
com
bom
nível
de
funcionamento psicológico. No segundo grupo, apareciam com freqüência
traços neuróticos (depressão, hipocondria, baixa auto-estima e falta de
habilidades sociais). Especificamente neste grupo, notou-se um nível
mínimo de assertividade, com a supressão da expressão de raiva, que era
autodirigida.
O
terceiro
grupo
foi
caracterizado
pela
presença
de
psicopatia, esquizofrenia e hipomania, em níveis importantes, havendo a
presença de raiva e hostilidade, expressadas ativamente ou passivamente,
juízos sociais pobres e irritabilidade. O perfil deste subgrupo pode ser
denominado
de
desordens
de
caráter.
Os
autores
demonstram
estatisticamente neste trabalho, que não existe uma patologia psicológica
única que caracterize um perfil singular dos obesos. Tal fato já era
previsto, uma vez que nem todos os obesos desenvolvem sua doença por
razões únicas.
Apesar
destes
dados,
há
quem
afirme
existir
alto
índice
de
prevalência de depressão clínica e outros sintomas psicopatológicos
(redução de auto-estima e qualidade de vida dos pacientes) quando a
população estudada é a de obesos mórbidos (Segal, 1999; Terra, 1997,
Black, 1992).
45
Numa tentativa de réplica dos estudos de Duckro et al. (1983)
descobri em minha revisão de literatura um trabalho de Hafner, Watts e
Rogers (1997), na Austrália, que reitera as descobertas dos autores
anteriores. Notadamente se destacam os aspectos: índice mais alto de
hostilidade encoberta, insatisfação conjugal, ansiedade fóbica e depressão
nos obesos mórbidos, maior que na população de não obesos estudados.
O aspecto diferencial da proposta de análise deste estudo por mim
conduzido é o fato de que busco investigar as pistas que sugerem que uma
parcela consistente de pessoas obesas mórbidas apresente, além de
complicações
psicológicas
como
as
já
citadas,
um
perfil
de
não
assertividade e auto-agressividade. A pesquisa que conduzo procurará
responder à questão: há diferenças entre a responsividade aos obstáculos
emocionais dentro da população de pessoas sem problemas com seu peso
corporal e as obesas mórbidas? Em conformidade com as pesquisas de
Duckro et al. (1983), que sugerem uma constância de características de
padrões
passivo-dependente
e
passivo-agressivo
como
traços
freqüentemente encontrados entre os obesos mórbidos, Costa e Biaggio
(1998) investigaram as possíveis relações entre obesidade e as variáveis
psicológicas
ansiedade
e
raiva.
Ao
final
da
pesquisa,
encontraram
resultados positivos para a presença de raiva voltada para dentro no grupo
de obesos estudado. Isto parece comprovar a hipótese de que provavelmente
os indivíduos obesos direcionam a sua expressão de raiva para dentro mais
do que o fazem os indivíduos não obesos, confirmando a idéia de que haja
uma possível correlação entre obesidade e expressão de raiva para dentro.
Estes
dados
também
foram
verificados
por
Anaruma
(1995),
que
46
reconheceu a presença camuflada dos sentimentos de raiva em mulheres
obesas
que
foram
submetidas
à
investigação
durante
realização
de
tratamento para a obesidade em grupos de apoio psicológico. Uma pesquisa
realizada na Noruega por Larsen e Torgersen entre 1982 e 1985, com
pacientes obesos mórbidos inscritos no serviço de avaliação psicológica
para a realização da cirurgia de redução do estômago, também revelou
dados
que
reiteram
a
existência
de
dificuldades
em
expressão
de
sentimentos de hostilidade e agressividade neste grupo que também
apresentou uma taxa elevada de hipersensibilidade à crítica (Larsen e
Torgersen, 1989).
Ainda sob o aspecto de que possa haver uma diminuição da
expressividade
de
sentimentos
negativos
como
Kahtalian (1992), observa que a agressividade
reprimida.
Para
ele,
muitas
vezes
essa
a
raiva
nos
obesos,
nestes pacientes é muito
agressividade
manifesta-se
psicopatologicamente como forma de enganar o médico ou outras pessoas,
“fazer artes”, desfazer compromissos, boicotar o tratamento, etc.
Em 1982, Igoin e Apfelbaum observaram a diferença entre a
tolerância à frustração em grupos de obesos moderados e obesos mórbidos.
Eles encontraram alguns indícios de que haja realmente diferença na forma
de reagir aos conflitos nessa população. Seus achados mostram que os
obesos moderados e os obesos mórbidos têm atitudes opostas com relação à
frustração. Enquanto os obesos moderados tendem a ter reações agressivas
dirigidas ao mundo exterior, os obesos mórbidos minimizam as frustrações
ou procuram soluções que não envolvam outras pessoas, como, por
exemplo, comer compulsivamente ou entrar em um padrão de autopiedade e
47
culpa, utilizando-se com freqüência do mecanismo de negação. Esse grupo
tende a minimizar suas necessidades ou tentam resolver o problema sem
lançar mão do outro, o que pode significar tentativas de evitar relações
interpessoais, especialmente àquelas que envolvem conflitos.
Do
ponto
de
vista
terapêutico
é
útil
levar-se
em
conta
as
especificidades da frustração especialmente quando se está tratando obesos
mórbidos: sua aparente normalidade pode facilmente mascarar a utilização
de mecanismos de defesa como a negação. De fato, as verbalizações dos
obesos na clínica sempre vão em direção ao mal estar físico, corporal,
social. Raramente consultei um obeso mórbido que relatasse desconforto
emocional ou psicológico inerentes à própria obesidade.
No curso de seu trabalho clínico institucional e em consultório
privado, Benedetti (2001) parece vivenciar a mesma situação que intriga e
inquieta. Esta psicóloga observa igualmente que os obesos mórbidos
chegam com histórias sucessivas de problemáticas referentes aos aspectos
“externos” ou sociais: verbalizam sobre infinitas dietas e tratamentos (de
inspiração médica ou não) já realizados e os sucessivos fracassos nos
mesmos; chegam relatando a frustração de recuperação persistente de peso
após cada emagrecimento, freqüentemente seguida por superação do peso
inicial; sabem o valor calórico dos alimentos, bem como os que fazem
engordar mais e quais menos; têm acesso aos lançamentos mais recentes de
medicações de última geração, e dissertam acerca da importância dos
exercícios
físicos.
Conhecem
as
causas
da
obesidade
e
arriscam
justificativas sobre a origem da sua. Com discurso freqüentemente
queixoso, relatam as implicações da doença em sua vida, mostrando de que
48
maneira seu cotidiano é afetado por ela. As histórias são inúmeras e versam
basicamente sobre a insatisfação com o próprio corpo, a dificuldade para
enfrentar o preconceito social de que são vítimas e a incapacidade de
desempenhar atividades rotineiras, como andar de ônibus sem “entalar na
catraca”, dirigir, subir escadas
sem se cansar, dificuldades para realizar
higiene pessoal e andar na rua sem ser alvo de chacotas. Para estes
pacientes, o emagrecimento é visto como a única (e última) possibilidade
de viver melhor.
Em verdade, nota-se que os obesos mórbidos, não se referem a
dificuldades psicológicas específicas, como diminuição de auto-estima,
sintomas depressivos ou mesmo dificuldades sexuais. Os mesmos atêm-se
basicamente às dificuldades “externas”, bem como àquelas que mais
comumente estão sendo veiculadas pela mídia no momento.
Habitualmente, notam-se nos pacientes reações de autodepreciação
explícitas, quando fazem brincadeiras pejorativas acerca de si mesmos
(antes que os outros as façam), na busca de evitar a qualquer custo
possíveis situações de conflito interpessoal. Sob o ponto de vista de Gold
(1976) isto pode estar ligado à percepção geral de que o obeso não tenha
desenvolvido um senso de profundidade emocional e de sentimentos no seu
contato com os outros.
Ao analisar o obeso com um olhar mais sensível, deve-se estar atento
para o fato de que se poderá encontrar, sob a superficial aparência de uma
natureza boa e bem humorada “um depósito de angústia, raiva e violência,
contidas e reprimidas por anos de humilhação e (exposição ao) ridículo”
(Gold, 1976, p. 89). O autor pontua de forma bem nítida para o fato de que
49
a comida venha a ser o substituto (no âmbito da fantasia) para preencher
necessidades não resolvidas de frustrações na vida, no trabalho, nas
ambições sociais, insatisfações sexuais e tédio. Assim, a fome substitui os
sentimentos apropriados de excitação, tristeza ou raiva. Este quadro
confirma como a vida emocional e social dos obesos, é certamente plena de
vazios a serem preenchidos. Em conseqüência, a ingestão alimentar
excessiva, de certa forma, pode cumprir este papel de complementar as
lacunas das gratificações emocionais não realizadas. Seguindo o raciocínio
de Gold (1976), apreende-se que o corpo grande pode representar força e
segurança.
Há ainda os obesos que comem demais como uma forma de
autopunição onde a raiva é dirigida para dentro. Paradoxalmente, o apetite
descontrolado
pode
simbolizar
um
controle
pobre
de
respostas
comportamentais de agressividade, de hostilidade ou raiva, que poderiam
ou deveriam encontrar sua via de expressão de forma direta e aberta.
Note-se
o
papel
da
influência
familiar
no
estabelecimento,
desenvolvimento e manutenção de imaturidade emocional entre seus
membros. A dificuldade psicológica em expressar sentimentos de forma
propícia e genuína pelos obesos parece ter uma ligação com aspectos de
superproteção familiar estabelecida na relação parental. Gold (1976),
encontrou entre seus pacientes obesos com freqüência considerável uma
dependência de suas mães que tendia a criar e perpetuar vínculos onde seria
difícil (senão impossível) estabelecer-se uma atmosfera propícia para o
desenvolvimento de auto-estima apropriada ou segurança emocional. Esta
dependência leva ao desenvolvimento de um padrão persistente da inibição
50
da expressão direta da raiva. Na medida em que o obeso funcione num
padrão de dependência, qualquer estímulo para a raiva pode levar à
inibição da expressão direta do sentimento em virtude das possíveis
conseqüências para sua segurança emocional e sua ligação afetiva de
dependência. A ansiedade gerada por esses conflitos se torna especialmente
difícil para o indivíduo obeso que tem baixa tolerância à frustração. Sua
raiva pode ser “negociada” através da compensação e a formação de reação,
e assim se chega novamente à representação do estereótipo da jovialidade.
Este tipo hostilidade-dependência marca caracteristicamente uma ansiedade
que está envolvida nas relações que indiquem intimidade. Os sentimentos
de proximidade podem precipitar quase automaticamente uma retirada de
afeto ou a irupção abrupta e inesperada de hostilidade sem controle (Gold,
1976). Às vezes esses sentimentos de fragilidade nas relações interpessoais
podem colaborar para a interrupção dos tratamentos e dietas. Normalmente
os obesos, em sua jornada para emagrecer, já se vincularam a inúmeros
profissionais e os “abandonaram” quando sentiam que seus esforços não
estavam atendendo às expectativas dos mesmos. Aparece aí a dificuldade de
lidar com conflitos interpessoais. Isto se repete em todos os níveis de
relacionamentos dos obesos.
Descrições do funcionamento psicológico dos indivíduos obesos têm
sido desmerecidas em alguns estudos realizados. Existe também pouca
atenção dada às implicações da alexitimia – um conceito que define a
inabilidade de identificar ou expressar emoções. Beales e Dolton (2000)
definem a alexitimia como uma síndrome que descreve a inabilidade em
identificar e expressar sentimentos, e também a inabilidade em distinguir
51
entre emoções e sensações corporais. Tal quadro se faz muito presente em
pessoas que tendem a somatizar emoções. Pessoas com alexitimia podem
não conseguir distinguir a ansiedade da depressão ou diferenciar excitação
de fadiga, ou, até mesmo, raiva de fome, segundo Beales e Dolton (2000).
Estes autores fizeram descobertas que os levaram a apontar ligações
importantes entre pessoas com bulimia e anorexia e a presença de traços de
alexitimia, com forte tendência à somatização
do estresse emocional. Os
autores citam também a probabilidade de haver na população de obesos,
fortes indícios de reações semelhantes às apresentadas no quadro dos
portadores de alexitimia.
A importância destas descobertas é que elas podem auxiliar a prover
novas formas de atuação psicoterapêuticas junto à população de transtornos
alimentares, incluindo os obesos (Beales e Dolton, 2000). Assim, algumas
metas da psicoterapia seriam enfraquecer os aspectos relativos à presença
da alexitimia: encorajar os clientes a reconhecer, identificar, diferenciar e
manejar suas emoções; habilita-los a adquirir vocabulário que expresse
seus sentimentos de forma precisa e apropriadamente. Desta forma,
raciocinam os autores, se propiciará aos clientes o fortalecimento para
atuar efetivamente nas situações sociais e se construirá sua auto-estima.
A
relação
entre
obesidade
e
características
específicas
de
personalidade vem sendo estudada por diversas escolas psicológicas, com o
intuito de se tentar estabelecer, no contexto psicológico, quais as possíveis
ligações entre o desenvolvimento emocional saudável ou patológico e a
conseqüente propensão para a obesidade e os distúrbios alimentares (como
por ex., anorexia e bulimia). Ogden (1997) in Benedetti (2001) aponta que
52
ocorreram mudanças na natureza das teorias em sua compreensão a respeito
da obesidade.
A seguir realizo uma breve apreciação sobre algumas linhas teóricas
em psicologia sobre a obesidade e uma explanação desde uma ótica
Comportamental, que é a visão de trabalho desta autora.
Sob a perspectiva psicanalítica, a literatura apresenta autores que
fazem referência a uma fixação da libido na fase oral e uma ligação afetiva
prejudicada com a mãe nos primeiros anos de vida como possíveis fatores
que venham a determinar traços de personalidade inerentes aos obesos
(Barros, 1990; Campos, 1993; Gold, 1976; Lemes et al., 1997; Loli, 2000).
Numa leitura junguiana, há autores (como por exemplo, Woodman, 1995)
que mostram que o desenvolvimento da personalidade da mulher obesa
pode estar sujeito à influência de complexos reprimidos e dificuldade na
formação da identidade feminina (com a introjeção de um animus negativo,
que contamina toda a personalidade).
Dentro dos pressupostos da psicologia analítico - comportamental,
principalmente no contexto do Behaviorismo Radical de Skinner, a
personalidade é vista como um sistema de reações, mais do que uma
estrutura particular e imutável em cada pessoa. Personalidade, no sentido
de
um
eu
separado,
não
tem
lugar
numa
análise
científica
do
comportamento (Skinner, 1974). Situações diferentes evocam diferentes
padrões
de
resposta.
Não
existe
para
o
behaviorista
radical
um
comportamento sem as circunstâncias em que ele ocorre; o que há é uma
unidade interacional entre o comportamento e o meio externo. Cada
resposta individual é baseada em experiências prévias individuais, história
53
genética, inseridas num contexto social e cultural vigente (Fadiman e
Frager, 1986; Skinner, 1991).
O Behaviorismo, como escola psicológica aparece com o intuito de
modificar os rumos da psicologia. Desponta como um movimento, no
começo do século XX, com a proposta da psicologia em tomar como seu
objeto de estudo o comportamento, ele próprio, e não como sendo indicador
de alguma outra coisa, que mostrasse um vestígio da existência de um
fenômeno que se expressaria pelo ou por meio do comportamento (Matos,
1998). O fato de alguns psicólogos do século XIX sentirem-se pouco à
vontade com a introspecção como método científico, expandiu fronteiras
para que o Behaviorismo pudesse surgir (Baum,1999). Abre-se então um
espaço cultural e histórico para o surgimento de novas formas de se
entender o comportamento. Estava-se nesse momento havendo rediscussões
sobre o estruturalismo e o funcionalismo, como formas de se entender a
personalidade humana. A idéia central do behaviorismo é simples de ser
formulada, e diz respeito ao fato de que é possível fazer uma ciência do
comportamento. Embora esta seja a linha mestra do behaviorismo, é certo
que mesmo dentro desta corrente psicológica, possam ser encontrados
vários behaviorismos (Baum, 1999).
A visão de sentimentos e personalidade, neste trabalho será entendida
dentro do suporte dado pelo Behaviorismo Radical de Skinner (Baum,
1999; Skinner, 1991; Skinner, 1974), que entende que o homem, em suas
dimensões ontogenéticas, filogenéticas e culturais interage com o meio
circundante. O ser humano é formado por um conjunto de comportamentos
(repertório) adquirido através de seu contato às condições ambientais a que
54
esteve
exposto.
A
dimensão
filogenética
é
importante
porque
esse
organismo pertence à espécie humana que tem uma origem através da
seleção
natural
e
da
evolução;
no
que
diz
respeito
aos
aspectos
ontogenéticos sua relevância se dá porque os organismos adquirem
comportamentos em função de suas conseqüências positivas e negativas,
surgindo processos de condicionamento respondente e operante, e por fim,
na dimensão cultural, considera-se que mesmo sendo o comportamento um
resultado das suas conseqüências é impossível desconectá-lo de sua época e
das
condições
sócio-culturais
vigentes,
sendo
um
comportamento
consequenciado positiva ou negativamente, conforme as contingências
culturais a que está exposto.
Pode-se apreender destas informações que uma pessoa sente-se mais
ou menos adaptada a um dado contexto social dependendo de como os seus
comportamentos estão em conformidade com as expectativas deste meio. A
estruturação da personalidade vai acontecendo através do fazer, do
experienciar,
numa
construção
constante,
em
perfeita
harmonia
e
consonância com o conceito skineriano de condicionamento operante:
“condicionamento operante não é puxar cordas para fazer uma pessoa
dançar; é planejar um mundo no qual uma pessoa faz coisas que afetam esse
mundo, que por sua vez, afeta essa pessoa” Skinner (1972, p. 69), citado
por Fadiman e Frager (1986). Nota-se aqui a convicção de Skinner de que o
homem possa ser agente no desenvolvimento de sua personalidade, e não
meramente um ser passivo e dependente das condições ambientais. Ao
estudar a personalidade, interessa saber “como e sob que condições” os
comportamentos são adquiridos, ou seja, como foram aprendidos.
55
Há notícias de vários grupos de trabalho enfocando a obesidade e seu
tratamento numa linha comportamental, com resultados eficazes (Kerbauy,
1987;
Segal,
2000).
Em
minha
atuação
como
psicóloga
clínica
comportamental desenvolvo intervenções com grupos psicoterapêuticos
para obesos desde o ano de 1992, e como Supervisora de Estágio no curso
de Psicologia coordeno desde 1999, grupos de trabalho multidisciplinares
para o tratamento da obesidade, com resultados que podem ser considerados
satisfatórios.
Uma visão comportamental acerca de um fenômeno contempla com
bastante profundidade os movimentos sociais vigentes a cada época e sua
apreciação sobre o fato de uma pessoa ser obesa. Os aspectos sociais aos
quais os obesos estão submetidos foram delimitados neste trabalho, no item
2.1.5 (Aspectos sociais envolvidos na obesidade). Para uma exploração
ainda mais abrangente acerca das expectativas com relação ao ideal de
corpo culturalmente aceito através da evolução e modificação sociais,
encontramos em Sant’Anna (1995) uma compilação de vários artigos
abordando o tema, no livro Políticas do Corpo.
3.1.7 Raiva, hostilidade e agressão
A literatura psicológica sobre o perfil de pessoas obesas aponta para
sua dificuldade em expressar adequadamente as emoções de maneira geral e
notadamente as que dizem respeito aos sentimentos de raiva, hostilidade e
agressão.
Aqui estou apresentando as características específicas do grupo de
obesos
mórbidos
com
relação
às
dificuldades
em
se
expressar
56
adequadamente, mas sabe-se que esta não é dificuldade exclusiva deles.
Nota-se nos estudos psicológicos a presença constante da raiva e da
hostilidade em diferentes grupos sociais. Esses são sentimentos presentes
na vida de todas as pessoas. Estudos comparativos sobre a presença de
hostilidade nos grupos humanos já têm sido conduzidos por psicólogos de
diversas tendências e com vários instrumentos de medidas (Martinez e
Biaggio, A. M. B. 1996; Porter, Stone e Schwartz, 1999; Spielberger,
Reheiser e Sumner, 1995; Spielberger, Johnson, Russel, Crane, Jacobs e
Worden, 1985; Vaz, 1990).
Ser
habilidoso
em
expressar
adequadamente
sentimentos
de
hostilidade pode facilitar para o entendimento adequado da realidade
externa (Biaggio, M. K., 1987). Uma vez detectada a importância do estudo
da raiva, hostilidade e agressão, observa-se que se torna cada vez mais
premente a necessidade de fazer uma distinção entre estes termos. Um
modelo teórico coerente que classifique as sutis diferenças entre os
construtos psicológicos da raiva, hostilidade e agressão poderia ser
essencial na construção e validação de medidas da raiva e hostilidade
(Biaggio, A. M. B., 1998; Wagner T. M. C. e Biaggio, A. M. B., 1996;
Porter et al., 1999; e Spielberger et al., 1985). Em decorrência, abrir-se-ia
espaço para a elucidação clara das diferenças entre cada uma destas
emoções, bem como o incremento e a possibilidade efetiva de tornar mais
eficiente a compreensão teórica e o manejo psicoterapêutico (Biaggio, M.
K., 1987; Paivio, 1999).
Mas como diferenciar os construtos psicológicos da raiva, hostilidade
e agressão? Como têm sido estes termos usados na psicologia?
57
Falar sobre esse tema é assunto tão antigo como contemporâneo
(Moser, 1991). Pode-se começar o exame da evolução conceitual acerca da
natureza da raiva, hostilidade e agressão como estados emocionais desde
vários pontos de vista, inclusive sob uma perspectiva histórica. Uma
revisão bibliográfica revela a sobreposição substancial prevalente nas
definições conceituais e no uso das expressões raiva, hostilidade e
agressão. Por isso vários autores sentem a necessidade de se especificar
bem
cada
um
dos
termos,
em
termos
psicológicos
que
alcancem
compreensão e consenso quando se aborda o assunto.
Estudos de Spielberger et al. (1985) e Spielberger et al. (1995)
desenvolvidos ao longo de vários anos prevêem uma tentativa de elucidação
destes conceitos. As análises de Spielberger e seus colegas fornecem
excelentes indicações de respostas explicativas a fim de se entender as
diferenças e semelhanças entre os três termos: raiva, hostilidade e
agressão. Veja-se abaixo tais considerações:
As expressões raiva e agressão, juntamente com o termo hostilidade
têm sido definidas de maneiras numerosas e diversas por diferentes
investigadores, e em alguns casos estes conceitos são usados de forma
intercambiáveis (Spielberger et al., 1985). A raiva é freqüentemente
conceitualizada como um estado emocional, e diferentes aspectos desta
emoção são enfatizados em várias definições. Spielberger et al. (1995)
alegam que se pode definir a raiva desde sendo apenas um componente
exclusivamente ligado a variáveis fisiológicas, enquanto que por outro
lado, se pode entendê-la como uma resposta mediada com componentes
afetivamente expressivos. Estes autores compreendem que uma definição de
58
raiva poderia englobar aspectos afetivos, fisiológicos, comportamentais,
além de aspectos cognitivos.
Com relação aos termos hostilidade e agressão, estes às vezes são
usados como análogos. Spielberger et al. (1995) fazem alusão a estas
definições: hostilidade pode ser entendida como atitudes negativas com
relação às pessoas com a presença de antipatia e julgamentos negativos
acerca do outro, enquanto que
pode ser vista como uma resposta que
comunica estimulação aversiva com relação aos outros. Apesar das
limitações impostas, pode-se buscar uma diferenciação entre os termos
acima se entendendo que hostilidade envolve julgamento acerca do outro e
agressividade pode implicar num possível comportamento diante do outro.
Analisando-se a enunciação anterior das qualidades características de
cada
termo,
salta
aos
olhos
que
ainda
restam
inconsistências
e
ambigüidade. Conseqüentemente, isso gera pouca concordância em como
esses construtos poderiam vir a ser mensurados. Dada a sobreposição nas
definições conceituais de raiva, hostilidade e agressão, Speilberger et al.
(1985) desenvolveram uma denominação “coletiva” para os mesmos: a
Síndrome AHA (do inglês “AHA Syndrome”, abreviação dos termos anger,
hostility e aggression). As definições a seguir se baseiam na caracterização
destes autores:
Î Raiva: usualmente refere-se a um estado emocional que consiste de
sentimentos que variam em intensidade – de uma simples irritação ou
aborrecimento à intensa fúria e ódio. Pode ser entendida como um tipo de
comportamento mais fundamental e menos complexo que hostilidade e
agressão. A emoção da raiva é uma condição necessária, mas não
59
suficiente, para o desenvolvimento de posturas hostis e para a manifestação
do comportamento agressivo.
Î Hostilidade:
freqüentemente
envolve
sentimentos
raivosos.
Este
conceito tem a conotação de um complexo de atitudes que poderia motivar
comportamentos agressivos em direção a destruir objetos ou causar danos a
outras pessoas.
Î Agressão: enquanto raiva e hostilidade se referem a sentimentos e
atitudes, o conceito de agressão geralmente implica em comportamentos
destrutivos ou punitivos dirigidos diretamente a outras pessoas ou objetos.
Tal conceituação é também compartilhada por Myers (2000); Myers (1999),
e também por Rodrigues, Assmar e Jablonski, (2000).
Na continuidade de seus estudos, Spielberger et al. (1995) elaboram
mais agudamente suas idéias e tecem considerações sobre o fato de que o
sentimento de raiva esteja claramente no cerne da Síndrome AHA. E,
finalmente,todos os indícios e as análises conceituais que eles realizaram
redundaram
no
fato
de
enfatizados
em
várias
que
diferentes
definições
que
aspectos
envolvam
dessa
os
emoção
sentimentos
são
de
hostilidade e os de agressão.
3.1.8 A hostilidade encoberta nos obesos mórbidos
Hostilidade
encoberta
compreende
o
conceito
psicológico
que
engloba tanto os sentimentos de raiva, como também os aspectos de
agressividade inerentes ao comportamento dos seres humanos. Hostilidade
encoberta envolve a tendência de parte das pessoas (neste estudo, os obesos
mórbidos) a suprimir e não revelar sua hostilidade. Isto é, dada uma
60
provocação ou estimulação para a qual uma resposta agressiva poderia ser
justificada, estas pessoas encobrem, suprimem a experiência e a expressão
destes sentimentos.
Existe a necessidade, para o pesquisador e para o clínico em
desenvolver formas de identificar a hostilidade encoberta, uma vez que sua
não expressão pode desencadear efeitos negativos nos indivíduos. Quando a
raiva é justificada a atitude de não expressá-la pode ter conseqüências
negativas para o indivíduo, resultando, por exemplo, num sentido de
inferioridade ou baixa auto-estima; comportamentos impulsivos; padrões de
comunicação destrutivos; somatização de sintomas emocionais e psíquicos
(Biaggio, M. K. 1980a; Biaggio, M. K. ,1980b; Biaggio, M. K., 1987).
Utiliza-se a expressão encoberta para definir que a emoção não é
abertamente declarada nem manifestada quando vivenciada pela pessoa que
a sente. Apesar de não haver a expressão declarada da emoção, não se pode
descaracterizar sua importância, muito pelo contrário “como as pessoas se
sentem é freqüentemente tão importante quanto o que elas fazem” (Skinner,
1991, p. 13).
Quando bem direcionada, a expressão da hostilidade assume funções
positivas no equilíbrio psíquico. Pode ajudar a pessoa a proteger-se de
ameaças; promove um aumento de confiança nas relações mais íntimas,
auxilia
a
diminuir
no
indivíduo
os
sentimentos
de
ansiedade
e
vulnerabilidade (Biaggio, M. K., 1980a; Biaggio, M. K., 1980b).
Alguns fatores podem contribuir para que os obesos desenvolvam um
padrão de respostas de não expressarem suas emoções de hostilidade. Pode-
61
se começar abordando sobre o preconceito e a discriminação sentidos pelos
obesos em seu convívio social.
Pesquisas demonstram que as pessoas magras acreditam que a
obesidade é questão de preguiça e falta de persistência (Medeiros-Neto,
1994). Outros dados levantados mostram que pessoas magras acham os
obesos “relaxados” e até “sujos” (...). Na área científica, essa visão já é
claramente ultrapassada. Medeiros - Neto (1994), procura demonstrar em
um artigo a importante influência dos processos metabólicos da insulina no
que diz respeito à ingestão compulsiva de doces, isso sem falar nas outras
causas que colaboram para o surgimento, desenvolvimento e manutenção
dessa patologia.
Ocorre, porém, que na opinião leiga ainda acredita-se firmemente que
os obesos são os próprios algozes de sua condição corporal, em todos os
casos. Isso os mantém na teia viciosa do sentirem-se em débito perante os
magros da sociedade. Uma observação clínica mais atenta faz ressaltar a
evidência: os obesos usam a máscara da simpatia para sentir-se mais
entrosados. Uma análise atenta revela que por trás dessa alegria, há uma
presença velada de hostilidade (o que no meu trabalho denomino de
hostilidade encoberta).
A imagem passada por pessoas obesas é, via de regra, a de
cordialidade, simpatia, acessibilidade e bom humor. Em suas interações
sociais essa imagem pode vir a facilitar o entrosamento, a aceitação e a
quebra de uma barreira de preconceito e discriminação. Aparecem com
freqüência dados indicativos de hostilidade para com o outro e também
62
percebida como vinda do outro, mas sempre de forma de que não fique
clara e aberta.
Ao serem investigados sobre sua expressão emocional em situações
de raiva e/ou que gerem conflitos emocionais, observou-se que na maioria
das vezes, quando questionados sobre como se sentem nesses momentos, as
respostas expressadas não condizem com o estado de raiva vivenciado
psicologicamente numa percepção individual. O obeso vivencia uma
sensação de raiva numa intensidade maior do que aquela que ele expressa
aos outros. Se lhe chamam a atenção em público por algo que ele não fez,
se lhe pedem para fazer uma tarefa extra que o sobrecarregue, se lhe fazem
ou dizem coisas com as quais não concorda, suas respostas em direção a
estes fatos são de esquiva e “compreensão”, e até mesmo de adiamento da
expressão de ressentimento para uma oportunidade posterior, mais propícia,
segundo seus relatos, onde possa colocar seus sentimentos sem ameaça de
haver brigas, pois “não vale a pena brigar por qualquer coisa” segundo o
relato de um participante da pesquisa.
Estudos têm demonstrado que a expressão de raiva e agressividade de
forma mais adequada pode ser desenvolvida após treinamento e intervenção
psicológica, quer seja em abordagem cognitivo-comportamental (Snyder,
1999; Abreu, 1986), quer seja em outras áreas de domínio da psicologia.
Quando estão com raiva as pessoas podem expressar-se numa variedade de
formas adaptativas ou desajustadas, por exemplo, assertividade e resolução
de
problemas
ou
com
reações
físicas
ou
(Deffenbacher et al., 1996. Tangney et al., 1992).
verbalizações
grosseiras
63
4. PROBLEMA
Há
relação
entre
obesidade
mórbida
e
hostilidade
encoberta,
implicando estes fatores em prejuízo das interações sociais dos obesos?
Na tentativa de buscar resposta a esta questão proponho-me a fazer
um estudo comparativo entre dois grupos de sujeitos: pessoas obesas
mórbidas e pessoas sem obesidade. Com base nos dados coletados através
do Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço (STAXI),
Questionário Estruturado, com questões fechadas, são formuladas as
hipóteses abaixo apresentadas.
5. HIPÓTESES
HO1. O grupo de sujeitos obesos mórbidos se assemelha, quanto à
hostilidade encoberta ao grupo sem obesidade.
H1. O grupo de obesos mórbidos apresenta índice de hostilidade
encoberta significativamente maior do que o grupo sem obesidade.
H02. Não existe correlação positiva entre o que o obeso percebe
como apreciação das outras pessoas e o empobrecimento de sua interação
social.
H2. Existe correlação positiva entre o que o obeso percebe como
apreciação das outras pessoas e o empobrecimento de sua interação social.
64
6. MÉTODO
6.1 População
A população pesquisada foi de pacientes portadores de obesidade
mórbida a serem submetidos à gastroplastia (cirurgia de redução do
estômago) que estão em fila de espera no Hospital Universitário de
Maringá, vinculado à Universidade Estadual de Maringá.
6.2 Amostra
A amostra foi constituída de 40 pessoas assim distribuídas:
Grupo 1. 20 Sujeitos com diagnóstico médico de obesidade mórbida,
a serem submetidos à gastroplastia (cirurgia de redução do estômago), do
Hospital Universitário da Universidade Estadual de Maringá, faixa etária
de 20 a 50 anos, sexo masculino (10) e feminino (10), condições sócioeconômicas média e média baixa, instrução ensino fundamental e médio,
sem antecedentes de atendimento psiquiátrico.
Grupo 2. 20 Sujeitos não obesos, faixa etária
20-50 anos, sexo
masculino (10) e feminino (10), condições sócio-econômicas média e média
baixa,
instrução
ensino
fundamental
e
médio,
sem
antecedentes
de
atendimento psiquiátrico.
Quanto ao critério a ser usado para a avaliação da obesidade mórbida
optei por usar o Índice de Quetelet, que mensura o Índice de Massa
Corpórea (IMC) do paciente.
A classificação para Obesidade mórbida segundo este Índice é de
IMC igual ou superior a 40, e as pessoas magras (Saudáveis) encontram-se
enquadradas dentro desta avaliação no IMC entre 20 e 25.
65
6.3 Instrumentos
a) O instrumento usado para medir a expressão de raiva foi o
Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço (STAXI) de
Spielberger (1992), já adaptado e validado no Brasil por Biaggio, A. M. B.,
cuja proposta é a de avaliar como as pessoas experienciam e lidam com os
sentimentos de raiva.
O inventário consiste de 44 itens divididos em 6
escalas e 2 subescalas: estado de raiva; traço de raiva com 2 subescalas
(temperamento raivoso e reação de raiva); expressão de raiva para dentro;
expressão de raiva para fora; controle de raiva e expressão de raiva. Os
termos acima são assim definidos segundo Biaggio, A. M. B. (1998, p. 2):
Estado de raiva: estado transitório de raiva, no momento de
aplicação do teste;
Traço de raiva: traço estável de raiva crônica;
Temperamento raivoso: subescala da escala de traço, indicando
tendência crônica a sentir raiva;
Reação de raiva: subescala de traço, indicando tendência a reagir
com raiva em situações de ameaça ao ego e à auto-estima;
Raiva para dentro: escala que mede a direção da raiva e a tendência
a culpar-se a si próprio, podendo levar à depressão;
Raiva para fora: escala que mede a direção da raiva e a tendência a
agredir outros ou o ambiente;
Controle da raiva: escala que mede a direção da raiva e a tendência
consciente a controlá-la, suprimi-la;
Expressão da raiva: medida global de raiva, levando em conta as três
escalas anteriores, mobilizando uma expressão adequada da raiva.
66
Para os propósitos desta pesquisa, serão utilizados os construtos:
Controle de raiva; Expressão de raiva e Raiva para fora.
b) Efetuei um estudo piloto utilizando um questionário, para avaliar
os aspectos de relacionamento interpessoal e expressão emocional adequada
de raiva. O Questionário estruturado, por mim elaborado, visava colher
dados relativos à percepção pessoal dos obesos mórbidos e não obesos. As
informações colhidas nesta etapa (piloto) serviram de base para a pesquisa
final.
6.4 Procedimento
A pesquisa foi realizada junto ao serviço de gastrologia do Hospital
Universitário de Maringá - PR, conforme o conhecimento e permissão do
médico responsável pelo setor, Dr. Daoud Nasser. Foi feita uma triagem
para identificação dos sujeitos da pesquisa, levando-se em consideração a
classificação positiva para obesidade mórbida, e pessoas sem obesidade,
segundo o IMC correspondente, que será diagnosticado pelo médico
responsável pela primeira entrevista com os pacientes.
Em seguida à identificação dos sujeitos, mantive um contato
individual para convidá-los e motivá-los a participar desta pesquisa. Após
esta etapa, estabeleceu-se um contrato verbal com os participantes a fim de
explicar-lhes as questões éticas e também salientar o aspecto confidencial
que envolve a testagem, uma vez que os resultados não serão fornecidos a
qualquer pessoa e os mesmos não serão objeto de análises individuais,
destinando-se os resultados apenas à investigação científica. Depois do
67
consentimento, e assinado o termo de permissão, foram combinados horário
e disponibilidade para a execução do estudo.
Realizei a aplicação individual do inventário STAXI bem como o
Questionário estruturado nos dois grupos, em meu consultório, respeitando
criteriosamente as condições adequadas para a realização da investigação.
Coube à examinadora explicar tecnicamente o modo de responder às
questões para que não restassem dúvidas pelo testando.
O encaminhamento de cada participante dos grupos foi feito pela
Assistente Social do referido hospital, adequando-se criteriosamente ao
emparelhamento adequado, baseando-se nos seguintes critérios de inclusão:
sexo, idade, escolaridade, nível sócio-econômico.
Serviu de critério de inclusão para a referida escolha de participantes
(tanto do grupo de obesos mórbidos como do grupo de não obesos) que os
mesmos não apresentem história de internação psiquiátrica anterior, uma
vez que isto poderia interferir negativamente na coleta e análise dos dados.
Foram tomados os devidos cuidados para manutenção do mesmo
padrão para os dois grupos de participantes, no que diz respeito a:
Seleção dos participantes pela equipe médica e contato com os
participantes;
Estabelecimento do Contrato, esclarecimento detalhado das questões
éticas envolvendo o trabalho de pesquisa e a orientação para a assinatura
do Termo de Consentimento;
Aplicação do Inventário STAXI e do Questionário estruturado;
Adequação do ambiente onde foram aplicados os instrumentos.
68
7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Minha principal preocupação ao iniciar a pesquisa, dizia respeito à
elucidação das variáveis que interferem na dificuldade de expressão da
hostilidade em pessoas com obesidade mórbida.
Para a averiguação da hostilidade encoberta utilizei o STAXI
(Spielberger, 1992). Procurei estabelecer a distinção entre os termos raiva,
hostilidade, e agressividade. Optei por manter o termo hostilidade, por
julgar que o que eu buscava elucidar na pesquisa era um constructo que
envolvesse o comportamento de raiva, além de outros aspectos, que
pudessem evoluir até mesmo a atitudes mais complexas de uma pessoa com
relação a si mesma e com relação às outras pessoas. Tal escolha ocorreu
tendo por base a Síndrome AHA de Spielberger et al. (1985), que entende a
raiva como um tipo de comportamento mais básico, que pode ser analisado
como sendo mais fundamental e menos complexo do que a hostilidade e a
agressão. Desta forma, compreende-se a raiva como um sentimento que faz
parte da hostilidade, daí a mesma ser utilizada como parâmetro nesta
avaliação.
Para o desenvolvimento desta pesquisa foi trabalhada uma amostra de
40 pessoas, que contemplou 50% de representantes obesos mórbidos (20
participantes)
e
50%
representando
o
grupo
de
não
obesos
(20
participantes), conforme mostra a Figura 1.
Obesidade Mórbida e Não Obesidade são medidas segundo o Índice
de Quetelet (IMC entre 20 e 25 = Peso Saudável e IMC entre 40 e 70=
Obeso Mórbido).
69
FIGURA 1. Distribuição da amostra por Grupos de sujeitos:
Obesos mórbidos e Não-obesos
Não obesos
n=20
O besos
m ó rb id o s n = 2 0
Fonte: Coleta Direta de Dados
Além
da
equivalência
numérica
entre
os
participantes
obesos
mórbidos e não obesos, foram utilizados critérios de inclusão que se
basearam na análise das características predominantes na lista de espera do
Hospital Universitário da Universidade Estadual de Maringá.
Quanto ao sexo, a prevalência foi de cinqüenta por cento de homens e
cinqüenta por cento mulheres.
A faixa da etária da amostra abrangeu os pacientes de 20 a 50 anos;
No que diz respeito ao estado civil foram contempladas as categorias
solteiro (a), casado (a) e divorciado (a).
Após coleta e análise posterior dos dados, os resultados apontaram
para a seguinte direção:
70
a) Aceita a hipótese alternativa 1 - O grupo de obesos mórbidos
apresenta índice de hostilidade encoberta significativamente maior do que
o grupo sem obesidade.
Foi feito estudo de diferença de média entre os dados de sujeitos com
obesidade mórbida e dos sujeitos não obesos, utilizando-se o t-Teste para
amostras independentes. Constata-se que há diferença significativa de
médias do Controle da raiva e Expressão de Raiva, entre os dois grupos.
Procurei demonstrar na pesquisa que há diversidade de formas de
respostas ao sentimento de raiva nos dois grupos, acreditando que os
obesos mórbidos controlam e se reprimem mais diante de situações
aversivas (geradoras de raiva). Os portadores de obesidade mórbida têm
presença de índices de Controle da raiva mais elevado do que no grupo dos
não obesos (p = .03). O item Controle da raiva aparece com a média 22.05
para os obesos mórbidos e 18,20 para os não obesos.
Quando se avalia a maior ou menor facilidade de Expressão de raiva
(demonstração adequada deste sentimento), aparecem os seguintes aspectos
para serem examinados: os obesos mórbidos expressam a raiva numa média
de 26,35 em comparação a 33,55 dos não obesos, indicando a maior
facilidade, no estudo desta mostra populacional, de os não obesos poderem
revelar e demonstrar abertamente quando não se sentem confortáveis com
relação a determinados sentimentos. O índice p =.01 aponta a diferença
significativa entre as médias, onde se pode afirmar com margem de
segurança que os não obesos expressam o sentimento de raiva mais do que
os obesos mórbidos.
71
Os dados relativos à Raiva para fora (demonstração deste sentimento
de forma agressiva) não apontaram diferenças significativas, com a
presença de médias equivalentes: 13,95 para os obesos mórbidos e 15,40
para os não obesos. Diante disto, não se pode afirmar, como se imaginava
hipoteticamente, que as pessoas não obesas e as obesas mórbidas diferem
quantitativamente na expressão de sua raiva para fora.(Tabela 1):
TABELA 1 – DADOS
DO
STAXI
Estatística comparativa: Controle, Expressão e Liberação do
sentimento de raiva no STAXI entre obesos (20) e não obesos (20)
Controle
Expressão
Fora
Grupos
N
Média
DP
Sig
Obesos
20
22,05
5,81
.03*
Não
obesos
20
18,20
5,17
Obesos
20
26,35
8,14
Não
obesos
20
33,55
9,47
Obesos
20
13,95
3,83
Não
obesos
20
15,40
3,60
.01*
t-Teste, índice significativo p < .05
Fonte: Coleta direta de dados
A Figura 2 representa os dados do STAXI de forma gráfica. Aí se
pode notar a clara distinção entre as respostas dos dois grupos pesquisados
no que diz respeito ao sentimento de raiva, que está englobado no conceito
de hostilidade encoberta.
72
Enquanto nos obesos pode-se observar a preponderância do Controle
da raiva, na população de não obesos destaca-se com larga distância a
Expressão da raiva. Já, quando se examina o item referente à Raiva para
fora de forma agressiva, não ficou demonstrado estatisticamente que há a
preponderância de um grupo em relação ao outro, não se podendo afirmar
então neste caso que os não obesos manifestam mais abertamente sua raiva
para fora de forma agressiva do que os obesos mórbidos da pesquisa. Ver
Figura 2 abaixo:
FIGURA
2
Quadro comparativo do STAXI:
controle, expressão e liberação
da raiva em obesos e não obesos
40
Média
30
Controle
20
Expressão
10
Fora
Obesos
Não obesos
Grupos de sujeitos
Fon te : Co leta d ir e ta de d ados
73
b) Aceita a hipótese alternativa 2 - Existe correlação positiva entre o
que
o
obeso
percebe
como
apreciação
das
outras
pessoas
e
o
empobrecimento de sua interação social.
Foi feita correlação entre as respostas do Questionário: (Correlação
de Pearson) com nível de aceitação das hipóteses p = ≤ .05.
A
questão
envolveu
uma
análise
dos
aspectos
pertinentes
ao
julgamento dos obesos mórbidos sobre como acreditavam que os outros o
percebiam e também como julgavam a si mesmos. Procurei verificar se os
participantes acreditavam que isto interferiria negativamente nas suas
relações interpessoais, pois tais contingências acabavam supostamente
acarretando a evitação por parte dos obesos mórbidos em envolver-se em
atividades e circunstâncias onde eles poderiam ser alvo de atenção e dos
olhares alheios.
Os dados do Questionário prestaram-se a essa verificação, pois incluí
perguntas
que
buscavam
relacionar
se
os
obesos
mórbidos
haviam
diminuído sua freqüência em atividades sociais mais do que os não obesos,
e se sim, quais razões atribuiriam para esse distanciamento social.
O Questionário procurou elencar alguns dos motivos alegados pelos
obesos mórbidos para se distanciarem das atividades sociais. O nível de
significância de p=.01 aparece quando os motivos tinham relação com uma
auto-imagem negativa dos obesos mórbidos: item do questionário que
apontava Tenho vergonha do meu corpo.
Além disso, incluí no Questionário alguns itens que propiciaram aos
obesos emitirem alegações que dizem respeito a sua percepção de como os
outros atribuem juízos sobre seus comportamentos sociais (julgamentos
74
negativos). Procurei aí investigar se os obesos deixavam de sair porque
achavam que os outros não os aceitariam.
De fato, na realidade, através dos dados coletados via Questionário,
observei que as alegações dos obesos mórbidos foram que, freqüentemente
em lugares públicos, como por exemplo, restaurantes, bares, cinemas,
clubes, etc., as pessoas em geral,: a)Reparam o que eles fazem (p=.01) e
que também, e de maneira mais angustiante e vexatória para os obesos, as
pessoas, b)Reparam o que eles comem (p=.01). (Tabela 2):
TABELA
2–
DADOS QUESTIONÁRIO
Correlações entre Respostas pertinentes a atividasdes sociais emitidas pelos obesos
As pessoas
reparam o
quê faço
As pessoas reparam o
quê faço
As pessoas
reparam o
quê como
Tenho
vergonha do
corpo
Houve motivos
para não
realizar at
sociais
Pearson
Correlation
Sig. bicaudal)
n
As pessoas reparam o
quê como
Pearson
Correlation
Sig. bicaudal)
.01
n
20
Pearson
Correlation
Tenho vergonha do
corpo
Houve motivos para não
realizar at sociais
,816 **
,704 **
,739 **
Sig. bicaudal)
.01
.01
n
20
20
Pearson
Correlation
,655 **
,802 **
,592 **
Sig. bicaudal)
.01
.01
.01
n
20
20
20
**. Correlação significativa a nível 0.01 level (bicaudal)
F on t e: C o le t a D i r e ta d e D ad os
Para realizar uma estimativa mais apurada do porquê os obesos
mórbidos alegam motivos para seu afastamento de atividades quando há a
presença de outras pessoas, o questionário propôs algumas alternativas, às
quais os obesos optaram: Sentir-se desconfortável em público apresentou
75
um coeficiente de correlação positiva de .655 (altamente positivo);
enquanto que Não encontrar roupas adequadas apareceu com o maior índice
de representatividade da amostra de obesos mórbidos (1.000).
Outro fator que me chamou a atenção e que está intimamente
relacionado
à
prática
de
atividades
sociais
refere-se
aos
móveis
disponíveis nos locais (bares, restaurantes, cinemas, consultórios médicos,
salas de espera, assentos de ônibus, etc.) serem considerados pelos obesos
inadequados para eles se sentarem (. 802). Este fato aparentemente simples
e que passa totalmente despercebido pela percepção das pessoas magras,
gera nos obesos enorme receio de passar por situações de vexame, caso não
caibam nos móveis ou porventura venham a quebrá-los involuntariamente,
podendo ser então alvo de chacotas por parte das outras pessoas.
A Tabela 3 mostra dados do Questionário acerca das principais
razões que interferem em seu isolamento social, segundo os obesos
mórbidos:
77
c) O Questionário também buscou levantar dados sobre o fato de os
obesos realizarem menos atividades sociais que os não obesos, e em quais
lugares.
Utilizando-me da análise dos dados do Questionário para verificar o
empobrecimento das interações sociais e averiguar em quais situações
específicas os obesos deixaram de realizar atividades sociais, constatei a
diminuição
de
freqüência
principalmente
nas
atividades
de
Ir
ao
restaurante e Ir ao barzinho.
Quando eram solicitados a responder quais as atividades que
deixaram de realizar, os obesos mórbidos disseram que não iam a
restaurantes, numa média de 1.70 e os não obesos numa média de 1.25. A
diferença entre os dois grupos quanto a esta variável é altamente
significativa (p = 0.1) para os obesos mórbidos. Deixar de Ir a barzinhos
por parte dos obesos mórbidos, atingiu o escore médio de 1.75 enquanto
que para os não obesos a média foi de l.40. A diferença entre os dois
grupos quanto a esta variável é significativa a nível de .02. (Tabela 4):
ATIVIDADES
TABELA 4
QUE OS OBESOS MÓRBIDOS E OS NÃO OBESOS
D E I X A R A M D E R E A L I ZA R
Atividades Grupos
sociais
Ir ao
Obesos
restaurante
Não
obesos
Ir a
Obesos
barzinho
Não
obesos
Fonte: Coleta Direta de Dados
N
Média
DP
Sig
20
1.70
.47
.01
20
1.25
.44
20
1.75
.44
20
1.40
.50
.02
78
8. DISCUSSÃO
A amostra de obesos mórbidos desta pesquisa apresentou índices de
Expressão de raiva (atitude saudável) em níveis menores do que a dos
participantes não obesos. Tais dados denotam implicações importantes com
relação à hipótese original que tentei confirmar neste trabalho: demonstrar
as dificuldades de expressão de sentimentos diante de conflitos, por parte
dos obesos mórbidos.
Esta investigação colaborou para responder ao problema inicial, no
sentido que deixou de ser apenas do âmbito da observação clínica e
empírica o fato de se perceber a dificuldade que os obesos mórbidos têm
em se expressar. Eles mantêm um padrão alto de controle sobre a raiva e
um padrão baixo de expressão emocional quanto à variável hostilidade.
Após a delimitação da Hipótese 1 (dificuldade de expressão por parte
dos obesos mórbidos do sentimento de raiva – mantendo a hostilidade num
nível encoberto) encadeei subseqüentemente uma segunda hipótese, acerca
das dificuldades de interação social destes participantes. As Hipóteses 1 e
2 não se podem diferenciar quando se trata de explicitar as questões
emocionais neste trabalho, uma vez que as compreendo de forma interrelacionadas.
Surgem então, nesta discussão alguns pontos a serem destacados:
A) A expressão de sentimentos de hostilidade nos obesos mórbidos:
Procurei
elucidar
essa questão fazendo-me a seguinte pergunta:
há
diferenças na forma de demonstrar hostilidade entre a população de pessoas
obesas mórbidas e a de pessoas sem obesidade?
79
Tal indagação originou a hipótese que deu propulsão a este trabalho.
Sim.
Os
obesos
mórbidos
têm
maior
dificuldade
para
responder
positivamente diante de situações que geram conflitos, não expressando
adequadamente a hostilidade. Eles mantêm a hostilidade num nível
encoberto (representado pela não assertividade e auto-agressividade).
Os dados da pesquisa com esta amostra confirmam a hipótese, pois
foram significativamente positivos para as respostas de Controle de raiva e
Expressão de raiva, na análise do STAXI.
A raiva, a agressividade e a hostilidade são emoções comuns,
experimentadas e vivenciadas por praticamente todas as pessoas em suas
experiências individuais e/ou interpessoais, de acordo com Deffenbacher et
al. (1996). Por isso a importância de analisá-las, uma vez que sua presença
se faz notar dentro de vários níveis de nossa sociedade.
A hostilidade encoberta engloba tanto os sentimentos de raiva, como
também os aspectos de agressividade. Utilizei a expressão encoberta para
definir que a emoção não é abertamente declarada nem manifestada quando
vivenciada pela pessoa que a sente. Parti do princípio que esta dificuldade
prejudicaria os obesos mórbidos, pois quando o sentimento é justificado a
atitude de não expressá-lo gera conseqüências negativas, como sentimentos
de inferioridade ou baixa auto-estima; comportamentos impulsivos; padrões
de comunicação destrutivos; somatização de sintomas, etc. (Biaggio, M. K.,
1980a; Biaggio, M. K., 1980b; Biaggio, M. K., 1987).
Emitir respostas apropriadas de agressividade, hostilidade ou raiva
faz parte da vida cotidiana e utilizar um determinado grau destas emoções
80
pode auxiliar o indivíduo a sentir-se mais completo e satisfeito em seu
mundo ajudando-o a lidar melhor com sua realidade externa (Abreu, 1986).
Em suas várias pesquisas sobre o assunto, Biaggio M. K. (1987)
salienta que a expressão da hostilidade pode capacitar a pessoa para
confrontar assertivamente provocações ou injustiças; além disso, pode
auxiliar o indivíduo a ter aumentado o seu controle emocional, bem como
se sentir ajustado às exigências do meio social.
Quando bem direcionada, a expressão da hostilidade assume funções
positivas. Pode favorecer a pessoa a proteger-se de ameaças; promove um
aumento de confiança nas relações mais íntimas, diminuem no indivíduo os
sentimentos de ansiedade e vulnerabilidade (Biaggio, M. K., 1980a;
Biaggio, M. K., 1980b).
Outras
investigações
também
apontam
para
a
confirmação
da
presença de hostilidade nos sujeitos obesos, como por exemplo, um estudo
brasileiro de Costa e Biaggio, A. M. B. (1998) sobre obesidade. Neste
trabalho a variável raiva foi medida pelo STAXI de Spielberger, que
Biaggio, A. M. B. ajudou a validar para uso no Brasil. Os resultados foram
significativos para uma maior presença da raiva na população de obesos em
comparação às pessoas sem problema de obesidade.
Outros estudos que embora não tivessem como foco principal o
estudo da variável hostilidade no obeso mórbido, apontaram indícios da
dificuldade da expressão de sentimentos hostis nesta população. Igoin e
Apfelbaum (1982) notaram uma baixa tolerância à frustração procurando a
solução dos conflitos de forma a não envolver outras pessoas (o fazem
isoladamente, tendo ataques de comer compulsivamente, ou entrando em
81
mecanismo de autopiedade, culpa e negação).
Destaco neste ponto, a
utilidade para os profissionais que trabalham com obesos mórbidos em
atentar para o fato destes utilizaram com relativa freqüência o mecanismo
de defesa da negação.
Estudos mais recentes reiteram a dificuldade de expressão de
hostilidade pelos obesos mórbidos. Benedetti (2001), descobriu uma alta
prevalência a não revidar agressões, a “engolir tudo”, a não brigar com
ninguém e a guardar para si a mágoa resultante dos momentos de agressão
(segundo a autora, estes depoimentos foram apontados por todos os
participantes de sua pesquisa). Trecho da fala de um seu entrevistado
parece exemplificar este fato: “Antes eu ficava achando que era o errado.
Sempre pensava assim: eu sou gordo eu estou errado e eles estão certos.
Então nem falava nada, só concordava”.
Seguem a mesma direção das investigações de minha pesquisa outros
achados de Benedetti (2001) como, por exemplo, semelhanças no que se
refere ao aspecto de os obesos mórbidos reconhecerem que vivem para os
outros não conseguindo colocar limites, vivendo a preocupação pelas
necessidades
alheias
(mostrando-se
disponíveis
para
ajudar
quem
solicitasse ou mesmo procurando ter atitudes de subserviência). Outra
convergência entre os dois estudos: a revelação da hipótese de que após o
emagrecimento, poderia haver por parte dos obesos um incremento da
hostilidade (em alguns de forma até certo ponto descontrolada). Benedetti
atesta que após a cirurgia os obesos relatam que houve aumento de sua
parte na manifestação de hostilidade nos relacionamentos interpessoais. Tal
fato foi constantemente por mim observado no trabalho de seguimento
82
psicoterapêutico
com
obesos
mórbidos
no
pós-cirúrgico
imediato
e
posterior (período compreendido até 2 anos de pós-cirúrgico).
A confirmar dados de hostilidade não expressa, outra pesquisa
(Anaruma, 1995) reconhece a presença camuflada dos sentimentos de
hostilidade nas mulheres obesas que foram submetidas à investigação
dentro do trabalho em grupo para apoio emocional de obesas.
Trabalhos conduzidos por Duckro et al. (1983) com obesos mórbidos
do sexo feminino mostram vestígios de hostilidade encoberta com a
presença freqüente de traços neuróticos (depressão, hipocondria, baixa
auto-estima e falta de habilidades sociais). Especificamente, notou-se um
nível mínimo de assertividade, com a supressão da expressão de raiva, que
era autodirigida. A hostilidade encoberta pode aparecer nos obesos sob a
forma de comer demais, representando uma espécie de autopunição em que
a
hostilidade
descontrolado
é
dirigida
pode
para
simbolizar
dentro.
um
Paradoxalmente,
controle
pobre
de
o
apetite
respostas
comportamentais de agressividade, de hostilidade ou raiva, que poderiam
ou deveriam encontrar sua via de expressão de forma direta e aberta (Gold,
1976).
Em 1997 (decorridos 15 anos da pesquisa de Duckro et al., realizada
no ano de 1983), Hafner e seus colaboradores.conduziram uma réplica deste
estudo alcançando resultados semelhantes. Os autores enunciaram as
seguintes
conclusões:
índice
mais
alto
de
hostilidade
encoberta,
insatisfação conjugal, ansiedade fóbica e depressão nas obesas do que na
população de não obesas estudadas. A expressividade da hostilidade em
minha pesquisa foi maior no grupo feminino do que no masculino,
83
sugerindo, que na amostra dos pacientes de Maringá, as mulheres têm a
tendência a demonstrar mais abertamente suas insatisfações que os homens,
mesmo na população de obesos mórbidos.
Entre 1982 e 1985, Larsen e Torgersen pesquisaram pacientes obesos
mórbidos inscritos num serviço de avaliação psicológica para a realização
da cirurgia de redução do estômago, com resultados que também indicaram
neste grupo, a existência de dificuldades em expressão de sentimentos de
hostilidade e agressividade além de taxa elevada de hipersensibilidade à
crítica (Larsen e Torgersen, 1989).
Ainda sob o ponto de vista de que possa haver uma diminuição da
expressividade de sentimentos negativos nos obesos, Kahtalian (1992),
observa que a agressividade nestes pacientes é muito reprimida. Para ele,
muitas vezes essa agressividade manifesta-se psicopatologicamente como
forma de enganar o médico ou outras pessoas, “fazer artes”, desfazer
compromissos, boicotar o tratamento.
Aprendi neste estudo que as possíveis variáveis intervenientes para a
aquisição do comportamento de não expressar sentimentos negativos
venham da história de vida desta população. Saliento a influência de
padrões familiares em que é atribuído à comida um papel associado ao
preenchimento de condições emocionais. Também se sobressai a variável da
dificuldade em lidar com frustrações e conflitos, provavelmente modelada
por padrões familiares.
Em 1982, Igoin e Apfelbaum estudando estas características em
obesos notaram que os dados mostraram que os obesos moderados e os
obesos mórbidos têm atitudes opostas com relação à frustração. Enquanto
84
os obesos moderados tendem a ter reações agressivas dirigidas ao mundo
exterior, os obesos mórbidos minimizam as frustrações ou procuram
soluções que não envolvam outras pessoas, reagindo pela compulsão e
sentimentos de autopiedade e culpa, utilizando-se com freqüência do
mecanismo de negação.Esse grupo tende a minimizar suas necessidades ou
tenta resolver o problema sem lançar mão do outro, o que pode significar
tentativas de evitar relações interpessoais, especialmente aquelas que
envolvem conflitos.
Ao buscar a elucidação dos aspectos da expressividade emocional nos
obesos mórbidos em comparação aos não obesos esta pesquisa procurou
auxiliar os obesos e os profissionais que com eles trabalham, na tentativa
de juntar esforços para essa batalha difícil que é conviver com a obesidade
mórbida e sua realidade.
B)Os obesos mórbidos e o prejuízo das interações sociais:
O preconceito e o estigma marginalizam e expõem as pessoas fazendo-as se
sentirem inferiorizadas e envergonhadas. Com o tempo, estes fatores
passam a interferir significativamente na forma como se expressam e como
se relacionam (Myers 1999; Myers, 2000; Rodrigues et al., 2000; Tangney
et al., 1992).
A pesquisa que conduzi evidenciou dados que vão ao encontro da
hipótese
da
dificuldade
no
relacionamento
interpessoal
dos
obesos
mórbidos. Pode-se supor que o desenvolvimento destas dificuldades seja
em
conseqüência,
entre
outras
coisas,
da
manifestação
de
atitudes
pejorativas com relação a eles, tornando-se uma norma cultural arraigada.
A crença popular apregoa que a obesidade é devida à falta de força de
85
vontade dos obesos. Eles são vistos como preguiçosos, desleixados e com
problemas emocionais.
As alegações dos obesos mórbidos para seu prejuízo social referemse, com bastante freqüência, a aspectos de perceberem o outro como hostil
à sua presença, reparando no que eles comem, como eles se comportam,
sendo alvo de chacotas e etc. Este dado se revelou positivo em minha
pesquisa. Rand e MacGregor (1990) observaram em pacientes investigados
no pré-operatório à gastroplastia a revelação de que os mesmos sentiam-se
discriminados, sob vários aspectos: acesso aos meios de transporte público,
conseguir
vaga
para
um
emprego,
freqüentar
locais
públicos
(principalmente restaurantes). Os pacientes, homens e mulheres, referiram
preconceito nas relações pessoais, ridicularizações mascaradas por parte de
amigos de trabalho e de crianças. Percebiam que seus filhos tinham
vergonha de terem pais obesos, além de manifestarem dificuldade para
relacionar-se com o sexo oposto.
O seguimento da pesquisa acima apontou a relação obesidade e
prejuízo social (Rand e MacGregor, 1990) A partir da perda de peso,
quando já podem ser considerados magros, os pacientes passam a sentir
uma significativa diminuição da discriminação e de pressão social. Após
quatorze meses da cirurgia, os relatos dos mesmos pacientes mostraram que
houve a diminuição sensível da noção de ser alvos de preconceito e
discriminação.
O estudo de Gortmaker e colaboradores de 1993 vem confirmar a
Hipótese de que exista o prejuízo da vida social dos obesos. A investigação
focalizou o estigma para com os obesos nas relações pessoais, de trabalho e
86
no ambiente em que vivem. Avaliando mais de 10.000 adolescentes e
jovens adultos com problemas crônicos de saúde, incluindo aí os obesos,
durante sete anos (1981 a 1988) descobriram que os efeitos das condições
crônicas da obesidade não só afetavam a saúde, mas também as situações de
desempenho escolar, de trabalho e as funções psicológicas.
Ao isolarem-se das atividades sociais, quais os mecanismos de
compensação que os obesos utilizam? Gold (1976) revela nos obesos a
relação da comida como substituta (no âmbito da fantasia) para preencher
necessidades não resolvidas de frustrações na vida, no trabalho, nas
ambições sociais, insatisfações sexuais e tédio. A “fome” vem substituir os
sentimentos apropriados de excitação, tristeza ou raiva. As dificuldades
emocionais dos obesos mórbidos geram a ingestão alimentar excessiva, o
que, de certa forma, pode cumprir um papel de complementar as lacunas
das gratificações emocionais não realizadas.
O comer excessivo gera o aumento e manutenção da obesidade e
prejuízo da auto-imagem, colaborando para mais isolamento Examinei nesta
pesquisa qual a autopercepção dos obesos, para entender se haviam
ligações com os aspectos interpessoais. Esta característica foi verificada
com a seguinte pergunta do Questionário: Sente-se diferente por ser obeso?
Todos os obesos mórbidos responderam que sim. Em contrapartida, os
participantes
não
obesos
da
pesquisa
referiam-se
aos
mesmos
com
disfarçado sentimento de pena. Pesquisas têm demonstrado que os não
obesos têm a tendência a julgar os obesos de forma geral como pessoas sem
força de vontade, desqualificados etc.
87
A pesquisa de Benedetti (2001) referenda os argumentos acima. O
item Interferência das Dimensões Corpóreas nas Relações com Outras
Pessoas, que foi estudado pela autora, evidencia falas dos entrevistados
referentes a apresentarem sentimentos de inferioridade e isolamento social.
Além disso, cumpre notar como fator destacado, a impossibilidade de os
pacientes da mostra por ela estudada em revidar agressões, bem como terem
a tendência a fazer de tudo para agradar aos outros como forma de se
relacionarem (isto foi investigado em minha pesquisa como pressuposto
básico das dificuldades dos obesos mórbidos) que foram conclusivas neste
aspecto. Tais dados colaboram para o retraimento social, verificado na
pesquisa. Grande parte dos obesos deixou de freqüentar atividades sociais
que implicassem em contato com outras pessoas, tais como as que foram
verificadas nas pergunta 3 do Questionário: ir a restaurantes, freqüentar
clubes, ir a bailes, ir a barzinhos/lanchonetes, por enorme receio de que os
outros os julgassem negativamente como pessoas por terem a infelicidade
de apresentarem um “corpo gordo”, que os condena.
De fato, ser obeso atualmente assume a conotação de aberração, uma
vez que a pressão cultural vem ao encontro da meta de se estar sempre
jovem, saudável e magro (Fischler, 1995; Myers, 2000).
Continuando a explorar a idéia acerca do prejuízo social dos obesos
minha pesquisa também checou quais fatores que os obesos alegavam
contribuir para deixar de sair. À pergunta do Questionário: Por que deixou
de
realizar
atividades
sociais,
os
cruzamentos
de
respostas
mais
significativos se apresentaram nos quesitos: sentir-se desconfortável em
público; não encontrar roupas adequadas; as cadeiras e os móveis são
88
inadequados. Sugerem as evidências que os obesos mórbidos têm a
percepção de que os outros os observam constantemente: alegaram que as
pessoas reparam no que fazem e também que os outros reparam o que eles
comem. Obesos mórbidos também deixam de realizar atividades sociais em
função de terem vergonha de seu corpo. Assim, passam a freqüentar apenas
os locais onde são obrigados a ir: buscar filhos na escola, trabalho, igreja.
Essa carga de discriminação e preconceito coopera para um aumento de
sofrimento psíquico e a crescente diminuição das habilidades sociais dos
obesos (Valtolina, 1996). A conseqüência? Mais isolamento nos contatos
sociais.
Uma possível utilidade da pesquisa que conduzi decorre do aspecto
que ela possa ser benéfica para a classe psicológica e médica (bem como
outros profissionais envolvidos no manejo dos pacientes obesos mórbidos).
Os achados deste estudo podem não somente acrescentar às pesquisas sobre
expressão de hostilidade, como também informar pesquisadores clínicos e
psicoterapeutas sobre procedimentos de intervenção. Parece-nos importante
o papel dos psicólogos: não só avaliando psicologicamente o obeso, mas
também podendo desenvolver no pré e pós - cirúrgico intervenções que
auxiliem o paciente a oportunidade de autoconhecimento tendo então um
preparo e suporte para poder alçar vôos maiores a respeito de sua
identidade, aumentando significativamente o grau de enfrentamento perante
as transformações do pós-cirúrgico imediato e em longo prazo.
Pretendi com meu trabalho de pesquisa ajudar a extinguir a idéia já
impregnada no imaginário social, de que a obesidade, entre as doenças
crônicas, está “sob o controle voluntário de quem a tem” (Gortmaker et al.,
89
1993). Afinal, os obesos não irão melhorar apenas com broncas e acusações
preconceituosas
e
desinformadas.
Que
o
digam
as
intermináveis
reincidências nos tratamentos.
Considero importante a esta altura, destacar nesta pesquisa o ponto
que diz respeito à qualidade de vida e engajamento social dos obesos no
período após a cirurgia, onde já tiveram redução significativa de peso.
Rand e MacGregor (1990) demonstram que os obesos vão sentindo-se cada
vez menos “perseguidos e estigmatizados” a partir desta perda de peso.
Para Valtolina (1996), quando vão ficando mais magros, os obesos
entrosam-se mais no grupo social, em função de perceber maior aceitação
por parte do outro.
Outro ponto que remete a reflexões sobre o estigma da obesidade, diz
respeito a questões de gênero. Dados estatísticos e observações clínicas
empíricas no trabalho com a obesidade parecem demonstrar que as
mulheres sofrem mais que os homens por estarem “fora dos padrões ditados
pelas normas culturais vigentes”.
A discriminação sofrida pelos obesos mórbidos acentua-se ainda mais
quando
se
trata
das
mulheres.
O
novo
século
deve
permitir
o
estabelecimento de espaços individuais e sociais cada vez mais livres e
abrangentes para que as mulheres possam descobrir e fazer o que querem, e
não o que os outros querem dela (Stenzel, 2000).
Quanto à análise de características psicológicas específicas dos
obesos mórbidos, os estudiosos são unânimes em afirmar que dificilmente
se encontraria um consenso sobre o perfil psicológico clássico dos obesos
mórbidos (Ochmann, 1998; Buschiazzo e Saez, 1997; Stunkard e Wadden,
90
1992; Larsen e Torgersen, 1989). Isto, porém, não invalida o sofrimento
emocional severo a que estão submetidos. Ao contrário: “a obesidade cria
uma gigantesca carga psicológica (...) em termos de sofrimento, esta carga
pode ser o efeito mais adverso da obesidade” (Stunkard e Wadden, 1992, p.
524).
Com relação às principais dificuldades emocionais ocasionadas pelo
fato de ser obeso mórbido, apesar de os obesos referirem a desconfortos
apenas no sentido físico e/ou social, observou-se que eles sempre se
referiam a episódios de depressão vivenciados ao longo da vida. O
Questionário que elaborei contemplou uma pergunta sobre quais as
principais dificuldades emocionais que os obesos já haviam tido. Grande
parte deles já haviam passado por um ou mais períodos de depressão. Isto
está em conformidade com outros estudos (Deitos et al., 1995; Grana et al.
1989; Ochmann, 1998; Segal, 1999; Terra, 1997).
Finalizando, procurei com este estudo demonstrar a dificuldade de
expressividade emocional (hostilidade encoberta) dos obesos mórbidos e o
prejuízo
nas
suas
interações
sociais,
verificando
assim
o
grau
de
dificuldade e isolamento nos quais se encontram essas pessoas com as quais
convivemos sem nos dar conta destes prejuízos. A pesquisa procura prover
alguma
compreensão
pesquisas futuras.
sobre
o
problema,
propiciando
alicerces
para
91
CONCLUSÕES
Estudar a obesidade e principalmente a obesidade mórbida requer que
os
profissionais
tenham
visão
multidisciplinar
para
uma
efetiva
compreensão da patologia. Há desta forma a necessidade de que cada área
envolvida desenvolva contribuições para o aumento do conhecimento sobre
a obesidade mórbida e principalmente, sobre as pessoas que padecem desta
patologia.
Aspectos
psicológicos,
biológicos
e
sociais
não
devem
ser
considerados isoladamente. É fundamental ao profissional envolvido numa
relação sensível com o seu paciente, desenvolver um olhar abrangente, que
diferencie os vários fatores envolvidos na história do desenvolvimento de
sua doença. A importância destes aspectos não reside só no descobrir sua
efetividade, mas aumentar as taxas de informação que ajudem a gerenciar
ou até mesmo prevenir o estigma, a discriminação e até mesmo as
acusações injustas que recaem sobre a população de obesos mórbidos.
Revelar os mecanismos psicológicos que envolvem a população de
obesos mórbidos e a associação destes com suas relações interpessoais,
teve como finalidade propiciar um aumento de conhecimento existente
sobre estes aspectos, bem como prover a comunidade profissional que
trabalha com estes clientes de informações relevantes acerca do lado
emocional e os prejuízos sociais a que estão submetidos.
Acredito com isto ampliar o campo do trabalho com esta população,
primeiro
com
relação
aos
psicólogos
que
deixariam
de
lado,
definitivamente, apenas o papel de avaliadores e testadores (no que diz
respeito ao pré-operatório da gastroplastia).
92
Quanto à comunidade científica (englobando-se aí, os médicos
clínicos, os cirurgiões, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais,
treinadores físicos), os benefícios iriam ao encontro do aumento de
informação sobre o funcionamento psíquico desta população, para que se
possa trabalhar melhor com os obesos.
Futuras
pesquisas
no
que
diz
respeito
ao
delineamento
e
levantamento de dados acerca dos aspectos psicológicos da obesidade na
população de obesos mórbidos principalmente, devem levar em conta a
fragilidade da coleta de dados baseada apenas no relato verbal do próprio
participante (Miller et al., 1995). O grau de comprometimento emocional
do obeso mórbido influencia de maneira bastante importante na dificuldade
de o mesmo poder perceber e caracterizar quais suas reais limitações neste
âmbito. Desenvolvimento de estudos sobre alexitimia e sua relação com os
obesos mórbidos pode ser bastante útil neste aspecto em particular.
A hipótese de que as respostas de hostilidade nos obesos mórbidos
eram significativamente diferentes (a menor) do que nos não obesos foi
comprovada
neste
estudo.
Recomenda-se,
porém,
a
replicação
da
investigação em populações de outras regiões do país, onde divirjam as
condições culturais para a expressividade emocional em obesos mórbidos e
não obesos.
Por fim, espera-se que esta investigação reforce a proposta das áreas
sociais e humanas, de que, em pleno início de novo século, não se tenham
perante outros seres humanos estigmas que reduzam e inviabilizem a
capacidade enxergá-los plenamente.
93
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103
ANEXOS
104
Anexo A
QUESTIONÁRIO 1: OBESOS MÓRBIDOS
Aspectos Psicológicos e Interações Sociais na Obesidade
Mestrado Interinstitucional Psicologia Social e da Personalidade
PUCRS e UNIPAR
1. I D E N T I F I C A Ç Ã O
Participante Número: ____
Sexo: ( ) Masculino
( ) Feminino
Idade: _____
Peso Atual:_______kg_____ g . Altura: ___m ___cm IMC: ________
Estado Civil: ( ) Solteiro
( ) Casado ( ) Divorciado
( ) Outro
Escolaridade:
( ) Primeiro Grau Incompleto ( ) Primeiro Grau Completo
( ) Segundo Grau Incompleto ( ) Segundo Grau Completo
Renda familiar:
( ) até 03 s.m. (salários mínimos) ( ) de 05 a 10 s.m.
( ) de 03 a 05 s.m.
( ) de 10 a 20 s.m.
Profissão: _____________________________________________________
(..)Aposentado Qual profissão____________________________________
( ) Não está trabalhando atualmente, mas já trabalhou. Em qual profissão
Se não está trabalhando atualmente, não o faz:
( ) Por opção
( ) Em função de não conseguir emprego
(..)
Por
questões
relativas
à
obesidade.
Quais?_________________________________________________________
QUESTÕES
1. Pratica atividades Sociais:
1.1 Reunir-se com amigos
Sim Não 1.2 Ir a restaurantes
Sim Não 1.3 Freqüentar clubes
Sim Não 1.4 Ir a barzinhos/lanchonetes
Sim Não 1.5 Assistir filmes no cinema
Sim Não 1.6 Ir a bailes
Sim Não 1.7 Outras
Sim Não 105
2. Freqüência com que realiza suas atividades sociais:
2.1 Semanal
Sim Não 2.2 Quinzenal
Sim Não 2.3 Mensal
Sim Não 2.4 Outros
Sim Não 3.Atividades sociais que você deixou de realizar em função da obesidade:
3.1 Reunir-se com amigos
Sim Não 3.2 Ir a restaurantes
Sim Não 3.3 Freqüentar clubes
Sim Não 3.4 Ir a barzinhos/lanchonetes
Sim Não 3.5 Assistir filmes no cinema
Sim Não 3.6 Ir a bailes
Sim Não 3.7 Outras
Sim Não 4. Se você respondeu afirmativamente
a alguma opção da pergunta
anterior, relacione o motivo:
Sim Não 4.2 Não encontra roupas adequadas para ocasiões sociais Sim Não 4.1 Sente-se desconfortável em público
4.3 Tem dificuldade em encontrar cadeiras ou móveis seguros
e adequados ao seu tamanho
Sim Não 4.4 Acha que as pessoas ficarão reparando em tudo o que você fizer
Sim Não 4.5 Acha que as pessoas ficarão reparando em tudo o que você
for comer
4.6 Tem vergonha de seu corpo
Sim Não Sim Não 106
5 Como você acredita que os outros o(a) vêem:
5.1 Uma pessoa simpática
Sim Não 5.2 Uma pessoa sincera, amiga, protetora
Sim Não 5.3 Alguém sem força de vontade e persistência
Sim Não 5.4 Um(a) lutador(a)
Sim Não 6. Nos relacionamentos com as pessoas você:
6.1 Sente que tem amigos(as) verdadeiros(as) Sim
Não 6.2 Sente-se desconfortável
Não Sim
6.3 Percebe-se como alguém diferente por ser obeso(a)Sim Não 7. Você já teve algum problema psicológico em função da obesidade:
7.1 Sim
Qual?______________________________________________
7.2 Não 8. Quando você não concorda com alguma coisa que lhe fazem:
8.1 Expressa que não concordou Sim Não 8.2 Espera outra oportunidade para mostrar
sua insatisfação
Sim 8.3 Não demonstra sua insatisfaçãoSim Não Não 9. Você conquistou novos amigos nos últimos dois anos Sim Não Não 10. Você tem facilidade em manter os (as) amigos(as) Sim
11. Você se julga responsável pelos sentimentos, pensamentos ações, escolhas,
necessidades, bem-estar de outras pessoas?
Sim
Não 107
12. Se não concorda com algo que alguém está lhe dizendo, você:
12.1 Diz sempre o seu ponto de vista
Sim
Não 12.2 Às vezes diz à pessoa seu ponto de vista
Sim
Não 12.3 Procura ser complacente e aprovador(a)
Sim
Não 13. Quando está ressentido com alguma pessoa por algo que ela lhe fez, você
costuma:
13.1 Mostrar-lhe o seu ressentimento de forma
Sim
Não justificar o comportamento dela
Sim
Não 13.3 Não demonstrar o ressentimento
Sim
Não direta e franca
13.2 Mostrar-lhe o seu ressentimento tentando
13.4 Demonstra seu ressentimento apenas
pela expressão gestual e facial (Não verbalmente) Sim
Não 14. Imagine que você está na rua fazendo alguma coisa e um policial o(a)
aborde e fale alto com você, acusando-o (a) de algo que não é sua culpa.
Sua provável reação seria:
Sim
Não
14.2 Ficar bravo(a) e irritado(a), e guardar para você Sim
Não
14.3 Não ficar bravo(a) ou irritado(a)
Não
14.1 Ficar bravo(a) e irritado(a), e demonstrar isso
Sim
15. Agora, suponha que você ficou bravo(a) ou irritado(a) (quando policial
o(a) aborda e fala...) e demonstrou isso ao guarda Você se sentiria:
15.1 Muito culpado(a) ou triste
15.2 Razoavelmente culpado(a) ou triste
15. 3 Um pouco culpado(a) ou triste
15.4 Não se sentiria culpado(a) ou triste 108
16. Quando lhe pedem para fazer alguma coisa, e você, no momento está
ocupado(a):
16.1 Explica que está ocupado(a) e num momento
oportuno poderá realizar a tarefa
Sim
Não Sim
Não 16.2 Aceita realizar a tarefa, mesmo que isso lhe
acarrete uma sobrecarga de trabalho
17. Quais situações que geralmente costumam deixá-lo(a) mais irritado(a):
Sim Não 17.2 Quando tem que adiar a satisfação de alguma necessidade Sim Não 17.3 Quando o(a) julgam de forma negativa
Sim Não 17.4 Quando são injustos com você
Sim Não
17.5 Quando não confiam em você
Sim Não 17.1 Quando deseja alguma coisa e não consegue alcançá-la
QUESTÕES ABERTAS:
1. Quais têm sido suas maiores dificuldades emocionais em decorrência da
obesidade?_________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
2. Nos relacionamentos interpessoais, você acha que as pessoas são injustas
ao discriminar os obesos? Quais os sentimentos que você tem quando
percebe a discriminação?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
3. Que mensagem você daria aos meios de comunicação e à sociedade em
geral, que pressionam as pessoas a terem um determinado padrão corporal e
de beleza?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Maringá,.../.../...
Assinatura do Entrevistador: ......................................
109
Anexo B
QUESTIONÁRIO 2: NÃO OBESOS
Aspectos Psicológicos e Interações Sociais na Obesidade
Mestrado Interinstitucional Psicologia Social e da Personalidade
PUCRS e UNIPAR
1. I D E N T I F I C A Ç Ã O :
Participante Número: ____
Sexo ( ) Masculino
( ) Feminino
Idade: _____
Peso Atual:
kg____ g __ Altura: ___m ___cm
IMC: ________
Estado Civil: ( ) Solteiro
( ) Casado ( ) Divorciado
( ) Outro
Escolaridade:
( ) Primeiro Grau Incompleto ( ) Primeiro Grau Completo
( ) Segundo Grau Incompleto ( ) Segundo Grau Completo
Renda familiar:
( ) até 03 s.m. (salários mínimos) ( ) de 05 a 10 s.m.
( ) de 03 a 05 s.m.
( ) de 10 a 20 s.m.
Profissão:_____________________________________________________
( )Aposentado Qual profissão_____________________________________
( ) Não está trabalhando atualmente, mas já trabalhou. Em qual profissão
Se não está trabalhando atualmente, não o faz:
( ) Por opção
( ) Em função de não conseguir emprego
( ) Por outras razões. Quais? ______________________________________
______________________________________________________________
QUESTÕES
1. Pratica atividades Sociais:
1.1 Reunir-se com amigos
Sim Não 1.2 Ir a restaurantes
Sim Não 1.3 Freqüentar clubes
Sim Não 1.4 Ir a barzinhos/lanchonetes
Sim Não 1.5 Assistir filmes no cinema
Sim Não 1.6 Ir a bailes
Sim Não 1.7 Outras
Sim Não 110
2. Freqüência com que realiza suas atividades sociais:
2.1 Semanal
Sim Não 2.2 Quinzenal
Sim Não 2.3 Mensal
Sim Não 2.4 Outros
Sim Não 3. Como você acredita que os outros o(a) vêem:
3.1 Uma pessoa simpática
Sim Não 3.2 Uma pessoa sincera, amiga, protetora
Sim Não 3.3 Alguém sem força de vontade e persistência Sim Não Sim Não 3.4 Um(a) lutador(a)
4. Nos relacionamentos com as pessoas você:
4.1 Sente que tem amigos(as) verdadeiros
Sim Não 4.2 Sente-se desconfortável
Sim Não 4.3 Percebe-se como alguém diferente
Sim Não 5. Você já teve algum problema psicológico que considerasse mais sério?
5.1 Sim
Qual?_________________________________________________
5.2 Não 6. Quando você não concorda com alguma coisa que lhe fazem
Sim Não sua insatisfação
Sim Não 6.3 Não demonstra sua insatisfação
Sim Não 6.1 Expressa que não concordou
6.2 Espera outra oportunidade para mostrar
111
7. Você conquistou novos amigos nos últimos dois anos Sim Não Sim Não 8. Você tem facilidade de manter os (as) amigas
9. Você se julga responsável pelos sentimentos, pensamentos ações, escolhas,
Sim necessidades, bem-estar de outras pessoas?
10. Se não concorda com algo que alguém está
10.1 Diz sempre o seu ponto de vista
10.2 Às vezes diz à pessoa seu ponto de vista
10.3 Procura ser complacente e aprovador(a)
Não lhe dizendo, você:
Sim
Não Sim
Não Sim
Não 11. Quando está ressentido(a) com alguma pessoa por algo que ela lhe fez, você
costuma:
11.1 Mostrar-lhe o seu ressentimento de forma
direta e franca
Sim
Não 11.2 Mostrar-lhe o seu ressentimento tentando
justificar o comportamento dela
Sim
Não 11.3 Não demonstrar o ressentimento
Sim
Não 11.4 Demonstra seu ressentimento apenas
pela expressão gestual e facial (Não verbalmente) Sim Não 12. Imagine que você está na rua fazendo alguma coisa e um policial o(a)
aborde e fale alto com você, acusando-o(a) de algo que não é sua culpa.
Sua provável reação seria:
12.1 Ficar bravo(a) e irritado(a), e demonstrar isso
Sim Não 12.2 Ficar bravo(a) e irritado(a), e guardar para você
Sim
Não 12.3 Não ficar bravo(a) ou irritado(a)
Sim
Não 13. Agora, suponha que você ficou bravo(a) ou irritado(a)
isso ao guarda. Você se sentiria:
13.1 Muito culpado(a) ou triste
Sim Não 13.2 Razoavelmente culpado(a) ou triste
Sim
Não 13.3 Um pouco culpado(a) ou triste
Sim
Não 13.4 Eu não me sentiria culpado(a) ou triste Sim Não e demonstrou
112
14. Quando lhe pedem para fazer alguma coisa, e você, no momento está
ocupado(a):
14.1 Explica que está ocupado(a) e num momento
oportuno poderá realizar a tarefa
Sim
Não Sim
Não 14.2 Aceita realizar a tarefa, mesmo que isso lhe
acarrete uma sobrecarga de trabalho
QUESTÕES ABERTAS:
1. Quando você vê um(a) obeso(a) em um lugar público, como um
restaurante, por exemplo, quais suas primeiras impressões sobre
ele(ela)?__________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
2. A seu ver quais os pontos fracos que os(as) obesos(as) apresentam
para
realizar
uma
dieta?____________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
3. Como
você
descreveria
a
personalidade
de
uma
pessoa
obesa?____________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
4. Que mensagem você daria aos meios de comunicação e à sociedade
em geral, que pressionam as pessoas a terem um determinado padrão
corporal
e
de
beleza?___________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
Maringá,..../..../....
Entrevistador:.........................................................
113
Anexo C
CONSENTIMENTO INFORMADO
O presente projeto de pesquisa do Programa de Mestrado em
Psicologia Social e da Personalidade, realizado pela PUCRS e a
UNIPAR, tem por objetivo estudar aspectos psicológicos relacionados
aos obesos bem como questões relativas a sua interação social.
Os
dados
e
resultados,
ao
serem
publicados,
respeitarão
integralmente o sigilo e a ética inerentes ao trabalho do psicólogo,para
preservar e respeitar o direito de privacidade individual de cada
participante da pesquisa.
A participação na pesquisa não oferece risco nem prejuízo às
pessoas
envolvidas.
A
pesquisadora
se
compromete
a
oferecer
esclarecimentos devida e adequadamente diante de qualquer dúvida ou
necessidade que eventualmente os participantes venham a ter. Se no
decorrer do trabalho um(a) participante resolver não mais cooperar,
terá toda a liberdade de o fazer, sem que isso acarrete qualquer
prejuízo quanto à continuidade dos cuidados e tratamentos que, como
paciente, vinha recebendo do hospital.
A pesquisa se realizará sob a responsabilidade da psicóloga Cristina Di
Benedetto, CRP 08/04609, com endereço à Rua Silva Jardim, 386, sala
05, Maringá-PR, telefone 224 9739, mestranda do referido Programa de
Mestrado.
Após
ser
devidamente
informado
sobre
o
trabalho
da
pesquisadora, concordo em participar desta pesquisa.
Maringá,
----------------------------------Participante da Pesquisa
de
de 2001.
--------------------------------Pesquisadora
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