Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Faculdade de Psicologia Programa de Pós-Graduação em Psicologia Mestrado Interinstitucional PUCRS/UNIPAR OBESIDADE MÓRBIDA, HOSTILIDADE ENCOBERTA E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL CRISTINA DI BENEDETTO Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Psicologia da PUCRS, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Área de Concentração: Psicologia Social e da Personalidade Orientador: Prof. Dr. Cícero Emidio Vaz Porto Alegre Julho de 2002 2 FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D536o Di Benedetto, Cristina Obesidade mórbida, hostilidade encoberta e suas implicações no processo de interação social / Cristina Di Benedetto. -- Porto Alegre : PUCRS, 2002. 113p. Orientador: Prof. Dr. Cícero Emidio Vaz. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2002. 1. Obesidade Mórbida – Aspectos Psicológicos. 2. Hostilidade. 3. Agressão. 4 Interações Sociais. I. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. II.Título. CDD: 613.24 Bibliotecária Responsável Inês Gemelli CRB 9/966 3 OBESIDADE MÓRBIDA, HOSTILIDADE ENCOBERTA E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL CRISTINA DI BENEDETTO Dissertação apresentada para apreciação e parecer da Comissão Examinadora: ________________________________ Prof. Dr. Cícero Emidio Vaz, PUCRS Orientador Presidente PUCRS ________________________________ Prof. Dr. Nédio Seminotti PUCRS _________________________________ Prof. Dr. Paulo Kroeff UFRGS 4 “Tempo, quero viver mais duzentos anos (...) Quero não ferir meu semelhante, nem por isso quero me ferir. Vamos precisar de todo mundo, para banir do mundo a opressão, para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor”. Beto Guedes. O sal da terra 5 SUMÁRIO 1. JUSTIFICATIVA ............................................................................ 10 2. OBJETIVOS .................................................................................. 14 2.1 Geral ........................................................................................ 14 2.2 Específico ................................................................................. 14 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................... 3.1 Concepções sobre a obesidade..................................................... 3.1.1 Obesidade e obesidade mórbida ............................................. 3.1.2 Obesidade sob o ponto de vista médico .................................. 3.1.3 Obesidade e sua relação com a atividade física ....................... 3.1.4 As influências familiares presentes no desenvolvimento da obesidade .................................................................................... 3.1.5 Aspectos sociais envolvidos na obesidade .............................. 3.1.6 Obesidade e os referenciais psicológicos ................................ 3.1.7 Raiva, hostilidade e agressão ................................................ 3.1.8 A hostilidade encoberta nos obesos mórbidos ......................... 14 15 15 20 23 25 29 39 55 59 4. PROBLEMA .................................................................................. 63 5. HIPÓTESES ................................................................................... 63 6. MÉTODO ...................................................................................... 6.1 População ................................................................................. 6.2 Amostra .................................................................................... 6.3 Instrumentos ............................................................................. 6.4 Procedimento ............................................................................ 64 64 64 65 66 7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................... 68 8. DISCUSSÃO .................................................................................. 78 CONCLUSÕES .................................................................................. 91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 93 ANEXOS .......................................................................................... 103 Anexo A ........................................................................................ 104 Anexo B ........................................................................................ 109 Anexo C ........................................................................................ 113 6 AGRADECIMENTOS À minha querida avó Albertina (com quem toda essa história se iniciou), todo o amor e gratidão deste mundo; Aos meus pais que me ensinaram que é preciso sempre, sempre, persistir nos objetivos e a “não entregar o jogo no primeiro tempo”; Agradeço aos participantes da minha pesquisa que com sua honrosa, gentil e solícita colaboração me ajudaram a desvelar e estudar aspectos de sua vida psíquica tão desconhecidos a eles mesmos; Ao Dr. Daoud Nasser, por ser exemplo de médico eficientíssimo e por considerar como muito importantes os aspectos psicológicos de seus pacientes; Ao Orientador, Prof. Dr. Cícero Emidio Vaz, que abriu definitivamente as portas para que eu pudesse desenvolver-me e galgar outros degraus no campo da pesquisa científica; À Universidade Paranaense, pelo crédito pessoal concedido e pelo suporte durante a realização deste trabalho; Agradeço a Cléo, que “sem saber direito o que é que eu estava mesmo fazendo” naqueles eternos dias, presa ao computador, motivou, cuidou, preocupou-se e acreditou; Aos queridos amigos de longe e de perto, por ajudarem de diversas formas: importando material para enriquecer meu trabalho, lendo, apoiando e sendo compreensivos nas ausências e também pela força diante do meu “semblante preocupado” que tantas vezes nos afastou; 7 Finalmente, a todas, exatamente todas as pessoas que passaram em minha vida, minha profunda gratidão pelas mudanças que em mim realizaram. 8 RESUMO O propósito central deste estudo foi o de investigar a presença da variável psicológica hostilidade encoberta e a relação com o empobrecimento da interação social em obesos mórbidos. Foram pesquisados dois grupos, sendo 20 participantes obesos mórbidos inscritos no Hospital Universitário de Maringá para realizar cirurgia de redução do estômago, e 20 não obesos nos quais foram administrados os instrumentos: Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço (STAXI) de Spielberger - para avaliar a presença da hostilidade, além de um Questionário elaborado pela autora do trabalho, que procurou fazer a correlação positiva entre a baixa expressividade de raiva e o empobrecimento e prejuízo das interações sociais nos obesos mórbidos. Os resultados demonstraram a presença significativa de hostilidade encoberta no grupo de obesos mórbidos, maior do que no grupo de não obesos, no que diz respeito às subescalas Controle de raiva e Expressão de raiva do STAXI. A análise final dos dados também apontou para a relação positiva entre o que o obeso mórbido percebe como apreciação negativa das outras pessoas e o empobrecimento das suas interações sociais. Palavras chave: obesidade mórbida; aspectos psicológicos; hostilidade encoberta; raiva; interações sociais. 9 ABSTRACT The main purpose of this study was to investigate the presence of the psychological variable covered hostility and the relation with the impoverishment of social interaction in morbid obese. It was researched two groups, having 20 participants morbid obese inscribed in the University Hospital of Maringá to make a surgery of stomach reduction, and 20 non-obese who performed evaluations: Inventory of Expression of Anger as Being and Character (STAXI) of Spielberger – to evaluate the presence of hostility, besides a Questionnaire elaborated by the researcher, who tried to make a positive correlation between low expressivity of anger and the impoverishment and damage of social interactions in morbid obese. Results demonstrated significant presence of covered hostility in the group of morbid obese, greater than in the group of non-obese, concerned to the subscales Anger control and Anger expression of STAXI. Final analysis of data also pointed to a positive relation between what morbid obese perceives as negative appreciation than other people and the impoverishment of their social interactions. Key words: morbid obesity; psychological aspects; covered hostility; anger; social interactions. 10 1. JUSTIFICATIVA A avaliação da sociedade com relação à obesidade vem sofrendo enormes modificações nos últimos tempos. Da referência unânime do bebê gordinho como símbolo de saúde à perseguição crescente da magreza (a partir dos anos sessenta) como ideal a ser alcançado a qualquer preço estabeleceram-se enormes mudanças nos conceitos a respeito da adequação de nossos corpos. Recentemente, mais e mais estudiosos têm destacado que um modelo abrangendo várias áreas científicas é o mais adequado para compreender apropriadamente a obesidade. Assim, por ser multideterminada em seus fatores causais, a obesidade constitui-se não apenas um problema estético, mas sim uma questão cuja abrangência se estende atualmente até as esferas de saúde pública (com o crescimento descontrolado do número de obesos no Brasil e no mundo). Existem pessoas obesas que desenvolvem a doença em função de aspectos orgânicos (hereditariedade, distúrbios endócrinos e fisiológicos), hábitos alimentares inadequados e sedentarismo. Contudo, Santos (1993) comenta que existem outros aspectos relevantes a serem examinados, como a predominância da influência familiar, social e de aspectos psicológicos para o seu desenvolvimento. Há a necessidade das contribuições e análises dessas múltiplas áreas a fim de favorecer o aumento de conhecimento teórico e empírico sobre essa interação complexa de fatores que se enredam na obesidade. 11 Apesar de não haver pontos que possam ser considerados mais ou menos importantes no estudo, investigação e análise da obesidade, um psicólogo acaba conseqüências da por enveredar-se interação social nos aspectos dentro deste emocionais grupo e nas populacional. Comecei a desenvolver meu interesse por desvendar este tópico através da observação, no trabalho que realizo há cerca de uma década, na clínica psicológica, com avaliação e acompanhamento de pacientes portadores de obesidade mórbida. No contato com essa clientela, impressionaram-me alguns pontos que pareciam convergentes ao discurso de quase a maioria dos pacientes. Em suas queixas despontam freqüentes relatos de percepção do outro como hostil, o que faz supor que, nos obesos aparecem sentimentos de não aceitação por parte das outras pessoas, fazendo-os desenvolver, em conseqüência, um elevado padrão de autodesvalorização. Presos em seus próprios corpos e psicologicamente fragilizados, os obesos desenvolvem formas de lidar com o outro tentando diminuir a impressão de constante ameaça de rejeição: ora tornam-se extremamente extrovertidos e simpáticos representando o mito do “gordo bem humorado”, ora apresentam um padrão de esquiva e isolamento social. Pode-se supor que o papel de “gordo agradável” (jolly fat) ajude-os a se proteger contra a experiência da ansiedade, depressão e disforia, além do sentimento de rejeição e isolamento social (Palinkas, 1996), decorrente de sua condição. Quando, porém, percebem o sentimento de ameaça (emoções negativas, conflitos a serem resolvidos, etc.) como sendo deles próprios, a forma de controlar o sentimento de raiva e outros sentimentos ansiógenos, aparece sob a resposta do comer compulsivamente. A esquiva de sentimentos 12 negativos é representada por uma via de mão dupla: dá-se quando se sentem ameaçados (externa e/ou internamente). Os profissionais que trabalham com a obesidade mórbida têm que levar em conta o fato de que, quando chegam ao consultório, seus pacientes estão contaminados com uma visão distorcida da sociedade sobre a etiologia, desenvolvimento e manutenção de sua doença. Via de regra, lhe é atribuída a total responsabilidade por sua obesidade, o que de fato, não condiz com a realidade. Isto acarreta desgaste e sensação de fracasso a estes pacientes. É difícil aceitar que, ainda hoje, haja uma parcela de pessoas, que pode ser representada pelos médicos, assistentes sociais, enfermeiros e mesmo a população em geral que acredite ser “a força de vontade” (que eles julgam ausentes nos obesos mórbidos) o único fator para o sucesso no tratamento da obesidade. Isto gera um enorme desequilíbrio no que diz respeito aos aspectos emocionais e sociais destes pacientes. Durante o processo de trabalho psicoterapêutico desenvolvido desde 1993, na cidade de Maringá, PR, com obesos e obesos mórbidos, este quadro aparece bastante nítido e delineado. Esses pacientes chegam com uma carga excessiva diante da expectativa de ajuda: carregam consigo um excesso considerável de peso corporal paralelo à já condenação pessoal por esse estado de coisas. Na escuta profissional que realizo com esta clientela tem emergido sistematicamente aspectos psicológicos dignos de maior investigação, entre outros: persistente índice de auto-estima rebaixada, déficit considerável da percepção de auto-imagem, repertório pobre em expressividade emocional (que vem a ser o reconhecimento e expressão genuínos de seus sentimentos consigo e com os outros) e sensação de 13 fracasso. Estas são observações interessantes e constantemente presentes na prática clínica que me estimulam a realizar uma pesquisa voltada para as questões emocionais inerentes à obesidade mórbida, onde vai-se procurar realizar uma revisão atual acerca de todos os fatores que possam interferir no que foi delineado como objeto de estudo. A relação entre comer excessivamente, a obesidade e o bem estar emocional e social tem atraído a atenção de cientistas já há longo tempo. Esta pesquisa procurou responder em parte algumas destas questões. O foco das análises foi direcionado à expressividade emocional, o não reconhecimento e não expressão dos sentimentos ligados à vivência de raiva nos obesos mórbidos, e o empobrecimento de suas interações pessoais (esses certamente são dados importantes para se avaliar o nível de bem estar emocional destas pessoas). Isto me levou a investigar, até que ponto os portadores de obesidade mórbida apresentam comportamentos de hostilidade encoberta (raiva não revelada), e a relação desta agressividade com seus relacionamentos sociais. Além dos objetivos próprios desta pesquisa, espera-se que o presente trabalho auxilie a esvanecer o estigma que recai sobre esta população, possibilitando que, diante de suas dificuldades, se possa haver uma aceitação dos obesos mórbidos assim como se tem de outros tipos de pacientes que convivam com dificuldades emocionais e físicas, com um esforço para melhor entendê-los e ajudá-los. Espera-se poder com este trabalho ajudar a melhorar a compreensão (num âmbito social e mesmo na área médica) de que o problema não é a obesidade em si, nem tampouco os obesos; o problema é o preconceito. 14 2. OBJETIVOS 2.1 Geral Investigar a presença de hostilidade encoberta e o empobrecimento da interação social em pacientes obesos mórbidos. 2.2 Específico Investigar as repercussões da obesidade nas interações sociais das pessoas obesas. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A obesidade tem sido extensamente estudada e divulgada na atualidade. O interesse pelo assunto passa pela área de saúde, estética, meios de comunicação social em geral, moda. Notadamente nos meios científicos tem havido avanços significativos nas pesquisas médicas a respeito da etiologia e tratamento da obesidade e obesidade mórbida. Este campo é fértil para pesquisa e de interesse, inclusive, para os laboratórios farmacêuticos, que investem consideráveis quantias na condução de reflexões sobre o tema. Em conseqüência das descobertas realizadas, são múltiplos os enfoques de tratamento clínico para a obesidade dentro da medicina. Entretanto, os aspectos sociais e psicológicos que envolvem a obesidade mórbida, principalmente a questão da expressividade emocional (no nosso caso, a hostilidade encoberta), apresentam um campo de pesquisa a ser explorado, por serem reconhecidamente importantes no 15 desenvolvimento e manutenção da obesidade em um grupo extenso da população. Este trabalho enfoca a obesidade e, principalmente a obesidade mórbida dentro dos vários pontos de vista que a delineiam, procurando explorar, principalmente as subdivisões que dizem respeito aos veios psicológicos e as relações destes com a melhoria ou o empobrecimento das interações sociais deste grupo. Isto pode significar o favorecimento do aumento de dados empíricos sobre estas questões e suas conseqüentes correlações teóricas no campo psicológico relativo ao entendimento dos pacientes portadores de obesidade mórbida. 3.1 Concepções sobre a obesidade 3.1.1 Obesidade e obesidade mórbida A obesidade, de maneira geral, e a obesidade mórbida são patologias que vêm sofrendo um enorme aumento em sua incidência e prevalência na contemporaneidade, em função de vários aspectos que dizem respeito às mudanças de estilo de vida num mundo cada vez mais industrializado. Não obstante, a convivência com obesidade não é prerrogativa apenas das épocas recentes da civilização humana. Sabe-se que a humanidade convive com a obesidade e busca formas de descrevê-la desde épocas muito remotas. A literatura aponta, por exemplo, que uma das primeiras representações da forma humana nomeada de Vênus de Wilendorf é datada do período Paleolítico e trata-se da estátua de uma mulher extremamente 16 obesa com grandes peitos e abdome enorme (Loli, 2000). Esculturas préhistóricas gregas, babilônicas e egípcias também demonstram a preferência por mulheres de abdomes largos, com os quadris e as coxas amplas. A representação artística no renascimento é plena em retratar mulheres roliças em poses sensuais. Ser obeso, à época, não assumia a conotação de doença. Uma certa “opulência de carnes” (Segal, 1999, p. 5) era, ao contrário, mais do que bem vista: demonstrava um evidente sinal de sucesso e saúde. A magreza, neste período, é que representava exatamente o oposto (Brownell e Fairburn, 1995). De fato, durante muitos anos em diversas culturas, ganhar peso e acumular gordura foram sinais de saúde e prosperidade, e a obesidade constituiu um índice de beleza muito valorizado, sobretudo em mulheres. Ao longo do processo de desenvolvimento histórico e cultural, o conceito de obesidade foi sofrendo modificações nas diversas áreas que a estudam. No campo da medicina, com o desenvolvimento de estudos sobre o metabolismo humano e o ganho de peso, a obesidade passou a ser associada a uma série de complicações orgânicas e ao aumento da taxa de mortalidade. Ela deixa então de ser vista como um referencial de saúde e passa a ser apontada como doença (Benedetti, 2002), e posteriormente como doença mental, a partir do momento em que a psicologia passa a figurar na lista de áreas científicas que estudam a obesidade. Atualmente, se utiliza a definição clássica de obesidade como sendo o acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo (Coutinho, 1998; Halpern, 2000; Segal, 1999). Esse acúmulo de adiposidade é considerado patológico quando há uma correlação entre a distribuição da gordura e o 17 seu impacto específico sobre a morbi-mortalidade da pessoa associada à obesidade. Para caracterizar esse quadro Segal (1999) enumera três aspectos principais no que concerne ao acúmulo de tecido adiposo e sua correlação com a saúde: aumento da morbi-mortalidade quando há excesso de tecido adiposo ou uma relação peso/altura muito elevada; risco maior quando o excesso de tecido adiposo é estocado acima da cintura, isto é, quando há uma deposição tipo andróide; o depósito adiposo que apresenta maior potencial aterogênico é aquele que ocorre dentro da cavidade abdominal, ao redor das vísceras. A quantidade de gordura abdominal tem um papel central na determinação do grau de comprometimento da saúde causado pela obesidade (Segal, 1999, p. 36). A partir da definição, emerge outra questão onde há diversidade de opiniões entre os profissionais. Quando se considera uma pessoa como obesa? Muitas são as formas de se mensurar e classificar a obesidade. Não é o propósito deste trabalho fazer um delineamento extenso sobre o tópico, mas existe, no Brasil e no mundo, um consenso por parte dos especialistas em utilizar o Índice de Massa Corpórea (IMC), que se baseia no cálculo do Peso dividido pela Altura elevada ao quadrado. Este método é conhecido como Índice de Quetelet (Coutinho, 1998; Halpern, 2000; Segal, 1999) e tem sido usado por ser de fácil aplicação e mostra-se razoavelmente sensível e específico na identificação de indivíduos com adiposidade corporal excessiva. Considerando este método de mensuração do nível de adiposidade corporal, os indivíduos podem ser classificados então, com relação à sua 18 obesidade ou não obesidade, da seguinte forma, segundo informações de Coutinho (1998, p. 197): IMC entre 10 e 20: Abaixo do peso IMC entre 20 e 25: Saudável IMC entre 25 e 30: Sobrepeso IMC entre 30 e 40: Obeso IMC entre 40 e 70: Obeso Mórbido Nesta pesquisa os pacientes estudados enquadravam-se no IMC entre 40 e 70, que os classifica como Obesos Mórbidos; os participantes do Grupo Controle estavam na classificação entre 20 e 25 (Saudável). Há ainda na literatura a presença de uma generalização mais extensa ao falarse sobre Obesidade, indicando os níveis que medem o Sobrepeso, a Obesidade Moderada e a Obesidade Mórbida. Assim, poderão se encontrar os termos Obesidade e Obesidade Mórbida quando da revisão de literatura que realizei. A obesidade mórbida especificamente caracteriza-se por ser uma doença crônica grave que põe em risco a vida do indivíduo por estar associada a outras complicações orgânicas. De fato, a literatura refere um aumento de risco de complicações orgânicas tais como hipertensão arterial, complicações cardíacas, dificuldades respiratórias, aumento de incidência de alguns tipos de câncer, apenas para citar algumas (Garrido Jr., 1998). Os países desenvolvidos têm concentrado seus esforços na área de saúde pública, na prevenção das doenças não transmissíveis (como a obesidade). Para tanto, ênfase tem sido dada à redução da obesidade, modificação do padrão alimentar e redução do sedentarismo. Nota-se, 19 porém, como atestam Fonseca, Sichieri e Veiga (1998) que os resultados são desencorajadores. Quanto mais prevalente se torna a obesidade, maior o estímulo para se estudar grupos populacionais mais vulneráveis ao problema, onde se possam levantar hipóteses relacionadas à determinação dessa patologia bem como formas eficientes de tratá-la. No que diz respeito à obesidade mórbida tem-se verificado que as alternativas de tratamento que respondam eficazmente quanto à redução e manutenção posterior do peso perdido tornam-se restritas. O surgimento das cirurgias de redução do estômago (gastroplastias) tem se mostrado como uma intervenção eficaz para responder às necessidades da perda e manutenção posterior do peso corporal adquirido (Benedetti, 2001; Garrido Jr, 1998; Rabner, Dalton e Greenstein, 1993; Yale e Weiler, 1991). A possibilidade da manutenção do peso a níveis aceitáveis provê benefícios psicológicos aos obesos submetidos a este tratamento, a saber: melhora do humor, auto-estima, autoconfiança, imagem corporal e aumento do nível de atividade têm sido apontados por pacientes operados, bem como por seus familiares (Balsiger, De Leon e Sarr, 1997). Uma pesquisa realizada num hospital francês que praticava a cirurgia como tratamento da obesidade apontou dados positivos para a melhora da satisfação pessoal e qualidade de vida bem como aumento de sentimento de adequação profissional após a intervenção cirúrgica (Terra, 1997). O mesmo estudo mostra alguns índices de sintomas depressivos após a cirurgia, mas sem história de necessidade de uso de medicamentos para a maioria dos pacientes. Atualmente a classe médica em geral e os profissionais que trabalham na área de obesidade mórbida vêm se estruturando para lidar com todos os 20 vieses pertinentes a esta modalidade de tratamento cirúrgico, para garantir aos pacientes uma vida mais satisfatória no pós – operatório imediato e posterior (tanto nos níveis físicos como no que diz respeito à reestruturação psicológica que se segue ao emagrecimento via gastroplastia). 3.1.2 Obesidade sob o ponto de vista médico Dentro da avaliação médica, muito se tem estudado questões relativas à obesidade, por esta ter-se se tornado, um grave problema de saúde pública, além de apresentar um quadro progressivo de incidência. Sob o enfoque médico, sabe-se que a obesidade constitui importante fator de risco para diversas condições clínicas associadas. Essas condições clínicas variam muito em quantidade e em intensidade, dependendo da gravidade do quadro do paciente. Dentre as mais importantes, Piccini (1996) destaca o desenvolvimento das doenças cardiovasculares; o surgimento de diabetes mellitus; osteoartrites, colecistopatias, câncer, disfunções respiratórias, distúrbios dermatológicos, complicações pósoperatórias e probabilidade aumentada para acidentes, entre outros. Já é consenso na classe médica que a obesidade determina importantes alterações orgânicas, com redução da qualidade e duração da vida média, que são estatisticamente comprovadas (Coutinho, 1998; Halpern, 2000; Romiti,1997; Segal, 1999). Também se observa muito comumente uma união forte entre obesidade e uma extensa diminuição de bem estar físico associado (Mannucci et al., 1999). Pessoas obesas são vítimas de seu próprio corpo e, em função disso, ficam praticamente impedidas de realizar atividades motoras e deambulatórias simples, 21 acessíveis à maioria das pessoas, como, por exemplo: amarrar cordões de sapatos e tênis, cortar unhas, levantar-se e sentar-se de maneira ágil, tornando-se até o próprio ato de respirar uma dificuldade, e apnéia do sono é uma doença que acomete com relativa freqüência os portadores de obesidade mórbida. Como se vê, a questão da obesidade não pode ser encarada de forma apenas estética ou sob a ótica psicológica. Atualmente, a alta prevalência da obesidade altera padrões estatísticos e epidemiológicos de saúde pública. Halpern (2000) enfatiza que o contínuo aumento da obesidade no ocidente (e mesmo no oriente) vem afetando até mesmo a expectativa de vida desse grupo populacional; também declara que na América Latina, cerca de 220 mil pessoas morrem por ano, segundo dados da OMS, antes de completar 70 anos, em decorrência de complicações geradas pelo excesso de peso. Esse quadro, que demonstra e comprova a relevância dos aspectos orgânicos que interferem na obesidade aumenta o interesse dos pesquisadores em desenvolver medicamentos para tratar a doença. Observase que isso gera como efeito o lançamento no mercado de uma variedade extensa destes fármacos que prometem eficácia garantida na redução do peso. Segal (1999) pondera que o uso de medicação para emagrecimento no Brasil apresenta um dos índices mais elevados do mundo, o que o autor considera como inaceitável. Há que se considerar a ênfase do autor em apontar para o absurdo da prescrição abusiva de medicamento como alternativa para o emagrecimento, na medida em que se sabe que os fármacos só serão úteis em determinados casos, e mesmo assim, sempre 22 com a associação da realização de dieta (reestruturação de hábitos alimentares) e atividade física; sem contar com a prática da psicoterapia que tem como foco a mudança de comportamento e do estilo de vida (Kerbauy, 1987). Dentro da área psicológica tem-se notícias da eficácia da intervenção com os obesos, principalmente dentro dos modelos de psicoterapia de grupo com enfoque cognitivo – comportamental, que procuram trabalhar as variáveis externas e encobertas que controlam o comer excessivo. Dentro de minha área de atuação profissional, trabalho desde 1992, com grupos de obesos moderados nestes moldes, tanto em consultório particular como em nível institucional, obtendo, via de regra, resultados satisfatórios com este tipo de intervenção. Entretanto, essas conclusões se modificam quando se fala de intervenções eficazes para os obesos mórbidos. Repetidas evidências sugerem que os tratamentos tradicionais (com a intervenção das áreas psicológica, médica, nutricional e com aumento de atividade física) para a obesidade moderada auxiliam em muito aos obesos a terem considerável sucesso em seus resultados. Porém pesquisas demonstram que tais tratamentos não resultam em redução de peso significativa para a população de obesos mórbidos. Casos há em que os clientes chegam a perder quantias consideráveis de peso com estes métodos restritivos de alimentação. Porém, o índice de pessoas que conseguem manter a perda de peso, via tratamentos clínicos, surpreende, pois praticamente todos os obesos voltam a engordar após algum tempo. Como conseqüência, o tratamento, via cirurgia, para a obesidade mórbida vem sendo aumentado consideravelmente (Benedetti, 2001; Rabner, Dalton, Greenstein, 1993). 23 Estudos de seguimento (follow up) de pacientes obesos mórbidos submetidos a gastroplastia reportam consistentemente que os pacientes experimentam um substancial incremento de bem – estar social, psicológico e de saúde após a perda de peso conseqüente à cirurgia, pelo menos nos primeiros anos (Rabner et al., 1993; Stunkard e Wadden, 1992). 3.1.3 Obesidade e sua relação com a atividade física Ainda ao falar-se de obesidade, pode-se destacar como importante causa de seu crescimento na população em geral as mudanças de hábito com relação a práticas de atividades físicas. Assim, um dos fatores mais freqüentemente responsáveis pelo desenvolvimento da obesidade é o sedentarismo associado à vida atual nas civilizações ocidentais da era industrial. Como bem observam Fonseca et al. (1998), a atividade física é um importante determinante das características físicas do adolescente, e posteriormente do indivíduo adulto. Eles sustentam que a obesidade em adolescentes resulta do desequilíbrio entre atividade reduzida e excesso de consumo de alimentos densamente calóricos, tendo mostrado que o número de horas que um adolescente passa assistindo TV é um importante fator associado à obesidade, acarretando um aumento de 2% na prevalência da obesidade para cada hora adicional de televisão em jovens de 12 a 17 anos. Esse índice recrudesce gradativamente no decorrer da passagem da adolescência para a vida adulta, e surge como importante fator de manutenção da obesidade na população em geral. 24 As alterações do estilo de vida nas sociedades modernas realmente se traduzem em diminuição drástica no gasto de energia. As pessoas movimentam-se cada vez menos para realizar suas tarefas diárias e, geralmente permanecem sentadas e ociosas tempo suficiente para auxiliar o desenvolvimento da obesidade e também de outras doenças. Halpern (2000) alerta que a epidemia da obesidade que ameaça várias populações no mundo todo tem sua incidência aumentada em função exatamente desta diminuição de atividades físicas. E o autor não se refere como atividade física somente aquela realizada nas academias de ginástica ou em práticas desportivas, mas também a simples atos corriqueiros, como andar a pé pelo bairro, em parques ou para visitar amigos, por exemplo. A prática de exercícios é um método preconizado para auxiliar o tratamento da obesidade. Provavelmente, essa idéia obtenha aceitação porque existe o raciocínio lógico bastante simples, segundo Benedetti (2001): se a obesidade decorre de um equilíbrio positivo entre ingestão e gasto energético, diante da constância do consumo o emagrecimento ocorrerá do aumento do gasto de calorias pela prática de exercícios físicos. Embora esta análise faça sentido, o exercício, por si só não é o meio mais eficaz para redução do peso. Segal (1999) entende que, isoladamente a atividade física não leva ao emagrecimento. Avalia o autor que para produzir perda de peso, o exercício precisa estar associado à reeducação alimentar. Ainda que seja assim, as investigações sobre o papel positivo da prática da atividade física são reafirmadas por diversos autores, segundo afirmam Pollock e Wilmore (1993). 25 Apesar da relevância atribuída e creditada ao exercício físico para auxiliar no tratamento da obesidade, novamente se deve ressalvar que quando se diz respeito ao obeso mórbido, estes dados ganham significâncias relativas, devido às proporções em que a obesidade atinge e prejudica as condições físicas e corporais desses pacientes. Não há na literatura notícias de estudos que demonstrem efetivamente a aplicabilidade do benefício da prática física em obesos mórbidos. Benedetti (2001) salienta de forma bastante esclarecedora que as dificuldades respiratórias, a incapacidade de se movimentar livremente e as doenças articulatórias freqüentes nesses pacientes, seriam um obstáculo à prática de tais exercícios tornando-se até mesmo uma simples caminhada torna-se bastante aversiva. 3.1.4 As influências familiares presentes no desenvolvimento da obesidade Apesar das diferenças conceituais que existem entre as diversas teorias do desenvolvimento em Psicologia, fica demonstrado que a relação mãe-criança desde muito cedo provê um contexto para que ela tenha a aquisição de um repertório mais saudável ou menos adaptativo para lidar com suas emoções e para também lidar adequadamente com os conflitos que surgem nas relações interpessoais. A pessoa obesa que traz consigo uma história de vida e de desadequação de padrões alimentares, não está sozinha. Ela vem freqüentemente de um meio onde a alimentação assume, via de regra, um papel importante, principalmente por parte das mães. Tem havido uma 26 crescente aceitação nos últimos 40 anos de que existe uma associação entre problemas emocionais apresentados pelas pessoas e problemas nas relações familiares (Brownell e Fairburn, 1995; Fiscella e Campbell, 1999; Kahtalian, 1992; Margolin e McIntyre-Kingsolver, 1988). Também se verifica essa associação nas disfunções físicas (alguns tipos de doenças) dos indivíduos. A natureza da relação entre saúde e relacionamentos familiares é bem complexa e não pode ser vista de maneira linear. Depende da mesma forma de características individuais e variáveis de personalidade de cada um. Contudo, pode-se afirmar que a relação familiar pode ser uma das muitas variáveis que medeiam a relação entre desordens físicas e emocionais e a saúde psíquica e física de uma pessoa (Margolin e McIntyre-Kingsolver, 1988). Com relação a este tópico, vários indícios apontam para respostas conclusivas a respeito de que em famílias com membros que apresentam desordens alimentares, estes percebem o clima social de suas famílias como mais disfuncional do que pessoas de famílias “normais”. Sob este aspecto, Brookings e Wilson (1994) salientam que as pessoas obesas percebem seu ambiente familiar como mais rígido e superprotetor. Também surgem percepções de menos coesão e organização, além de possibilitar pouca expressividade emocional a seus membros. Não é raro, ao se analisar as pessoas obesas, essa ligação efetivamente ocorrida no ambiente familiar. Elas vêm de lares onde a postura com relação à comida é muito rígida, e é constante a presença de, no desenvolvimento de sua história de vida, ligações afetivas com relação ao ato de comer: agradar aos pais, ser considerado como uma boa pessoa, obediente e gentil. Esses 27 fatores tornam-se arraigados simbolicamente, o que dificulta em muito, na adesão a um programa de tratamento, desvincular comida do ato de preencher-se afetivamente, e não com um ato para alimentar uma necessidade fisiológica. Observa-se amiúde que o problema da obesidade só vem a ser enfrentado tardiamente, quando na idade adulta, mas as raízes de seu desenvolvimento encontram-se na maioria das vezes nos primeiros anos de vida. A obesidade já é, atualmente, em grande parte, um problema das crianças, e muitas dessas crianças com excesso de peso serão adultos com excesso de peso (Lemes, Moraes, e Vítolo, 1997). Os pais obesos freqüentemente terão crianças com grandes possibilidades de serem obesas. Nas famílias em que o consumo de alimento é alto e encorajado, a prevalência da obesidade é elevada (isto sem se levar em conta os aspectos genéticos). Para as crianças, as dificuldades sociais e psicológicas são conseqüências da obesidade e da associação afetiva com alimento. Para as mais novas, os pais são os mais poderosos fatores de influência. Com efeito, é com freqüência sobre a base de uma alimentação abundante e dada ao menor grito (Lemes et al., 1997), que o bebê vai se achar engajado numa via onde qualquer desgosto, de qualquer natureza, será afagado por um aporte alimentar. E as gratificações para diversos conflitos podem, desde cedo, ser solucionadas através da alimentação. Mas qual a razão por que algumas mães sentem a necessidade de superalimentar seus filhos? Nos primeiros meses de vida, a nutrição faz supor os gestos essenciais de comunicação entre mãe e filho, e é nessa 28 comunicação que reside o erro, que consiste em satisfazer imediatamente e sem demora qualquer necessidade ou mal-estar por meio do alimento. O pedido e a insatisfação são cumulados por uma resposta uniforme, como uma chave que serve para todas as fechaduras: a satisfação alimentar. Desta forma, pode-se supor que o papel da mãe com relação ao desenvolvimento emocional de seu filho seja inegável. Muitas mães, ao tentarem adequar-se a este papel, podem de fato, colaborar para que o filho torne-se frágil, no que diz respeito a lidar com os conflitos emocionais. A mãe pode desde muito cedo se sentir motivada para superalimentar o filho para lidar com seus próprios conflitos como também para dar a entender que está sendo adequada com relação ao seu papel, perante os outros. Quando a criança recebe alimento para ser o alívio de qualquer mal-estar, começa a associar frustração e desconforto à saciação com o alimento (Campos, 1993). No estabelecimento deste vínculo primário, a função da mãe deve ser de mediadora, ou seja, suficiente para que a criança possa desenvolver seus próprios recursos para lidar com a realidade e com seus limites (Lemes et al., 1997). Assim pode-se facilitar ao futuro obeso que venha a adquirir padrões de comportamento mais saudáveis. Como atesta Campos (1993), ao se manter essa relação de saciedade emocional, via alimento, as conseqüências podem ser várias: dificuldade em adiar satisfações (baixa tolerância à frustração) não conseguindo adiar nenhum tipo de “fome”, dificuldade em obter satisfação nas relações sociais, desadequação do papel sexual e da imagem corporal etc. Pelas pesquisas realizadas, apreende-se que os fatores que dizem respeito ao mundo familiar e vínculos parentais fazem-se de importância 29 crucial no entendimento dos obesos. Estas informações são de muita valia quando se está buscando junto aos pacientes alternativas para a solução de seus problemas relativos à ligação “amorosa” com a comida. 3.1.5 Aspectos sociais envolvidos na obesidade Além das questões referentes ao microcosmo familiar, observa-se uma outra variável quando se lida com a população de obesos: há na sociedade em geral um crescente aumento do preconceito, discriminação e não aceitação da obesidade, evidenciando um quadro com características bem peculiares. Sabe-se que o preconceito gera um prejulgamento negativo de um grupo e seus membros individuais. O preconceito predispõe contra uma pessoa com base apenas no fato de a identificarmos a um grupo determinado (Myers, 2000). Assim o é diante de grupos minoritários como as mulheres, os negros, os homossexuais. Também o é diante dos obesos e obesos mórbidos. Existe hoje em dia uma verdadeira guerra contra a obesidade (e, em conseqüência, contra os obesos). Para Fischler (1995, p. 69) “uma das características de nossa época é sua lipofobia, sua obsessão pela magreza, sua rejeição quase maníaca à obesidade”. Ser obeso é considerado quase uma contravenção, uma aberração social diante dos padrões estéticos vigentes. As razões pela reação cultural negativa para com a obesidade podem ser muitas. Desde o fato de que ser obeso não seja mais considerado saudável, até à questão da indústria da moda, que imprime o conceito de magreza absoluta (normalmente artificial) para o ideal de beleza feminino 30 atual (Benedetti, 2001; Polivy e Thomsen, 1988). Reagir negativamente contra a obesidade também está ligado ao excessivo aumento da preocupação com a auto-imagem e com a manutenção eterna da juventude. “Devemos nos apresentar sempre magros para aparecer apropriados nas roupas da moda” (Polivy e Thomsen, 1988, p. 347). A propósito da preocupação com a imagem e com a (boa) aparência há que se notar que todos os obesos sob tratamento, sem exceção, relatam que um de seus maiores problemas com a obesidade (senão o principal) é a extrema dificuldade em achar roupas adequadas para vestir-se no dia-a-dia ou em ocasiões sociais. Verbalizações freqüentes que surgem são “Não quero vestir-me com esses vestidos horríveis e sem estilo” ou “Não há lojas que tenham roupas que me agradem” ou ainda “Nas lojas, as vendedoras já se antecipam e dizem que não há nenhuma roupa que possa me servir”. Outros referenciais influenciam no extremo cuidado com a obtenção e manutenção de um corpo magro, e com maior cobrança no que diz respeito às exigências feitas para com as mulheres deste novo século. Os padrões de beleza modernos sofreram transformações radicais na história recente da humanidade, e pode-se destacar entre eles que a imagem de matrona como símbolo de fecundidade e boa maternidade, até há pouco valorizada, perdeu o encanto quando a mulher entrou para o mercado de trabalho. Desde então, a mulher passou a exercer dupla jornada e, na qualidade de esposa, deixou de ser valorizada apenas pela sua capacidade de ter filhos e cuidar do lar, mas também pelo companheirismo e desempenho sexual (Benedetti, 2001). A corpulência da mulher puritana 31 deu lugar aos ideais de juventude e esbelteza de uma mulher sexualmente ativa. Quanto aos homens, Benedetti (2001) demonstra que embora o sucesso, a prosperidade e a virilidade sejam considerados grandes fatores de atração, também estão presentes a valorização da aparência jovem e esbelta, podendo-se então generalizar que para ambos os sexos há, não só forte pressão no sentido de emagrecimento e da manutenção do peso como também da estigmatização de todo aquele que fuja a essa norma. Apesar destes apontamentos observa-se que via de regra, nas inscrições dos serviços hospitalares que tratam as desordens alimentares e a obesidade o número prevalente é o de mulheres. Porque deveriam as desordens alimentares e a obesidade ser problema das mulheres em particular? Ballone (2001) aponta que a constante pressão social seja um dos fatores que favorecem o surgimento, em freqüência mais alta nas mulheres, de transtornos alimentares (como a bulimia; a anorexia nervosa; a síndrome do binge eating) e a obesidade. Tais síndromes representam, em essência, o medo extremo das mulheres em serem obesas, ainda que seu peso corporal esteja dentro da normalidade. Polivy & Thomsen (1988) enfatizam estes dados, apontando que entre os portadores de desordens alimentares, os casos masculinos são em minoria. Mencionam que colabora para tal, o fato de que a necessidade de parecer extremamente magra é cobrada mais de mulheres do que de homens; advindo daí a idéia de que ser extremamente magra está mais relacionado ao sexo feminino do que ao masculino. 32 O ideal de figura feminina torna-se mais e mais magro, e as imposições para as mulheres fazerem dieta tornaram-se mais acirradas. Haja vista uma pesquisa desenvolvida pelas autoras que retornou com resultados onde 80% das mulheres não se encontravam satisfeitas com seu corpo e almejavam perder peso (mesmo as que se encontravam apenas com um leve sobrepeso). Elas estavam mais interessadas em perder peso que os homens. Os homens da pesquisa, ao contrário, acreditam que ganhar peso não era tão negativo, pois tal fato era associado com o desenvolvimento dos músculos (sinal evidente de “masculinidade”). Este sortilégio atinge as mulheres também no que diz respeito ao corpo que se espera que tenham. Ainda que a atual cultura da vaidade e juventude eternas (predominante nestes tempos pós-modernos) se alastre com exigências sobre os dois sexos, são as mulheres que têm que dar conta de demonstrar sua perfeição ligada à apresentação de uma imagem corporal perfeita e ideal. Ser obesa implica em ferir um suposto código social onde se estabeleceu a beleza como fator fundamental para a identificação de feminilidade e atratividade perante o sexo oposto, além de demonstrar que a pessoa não possui “autocontrole” e eficiência (Stenzel, 2000). Biancarelli (1999) em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, salienta que quando se trata de obesidade e vaidade, balança e espelho não costumam se entender. O artigo publica resultados de pesquisas conduzidas com pacientes obesos do sexo masculino e feminino, bem como com homens e mulheres que não tinham problemas com o peso. Estas pesquisas foram conduzidas na Divisão de Psicologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, em 1999. A análise destas pesquisas 33 demonstrou que cerca de 55% dos homens obesos entrevistados sobre sua auto-imagem, alegavam que não precisavam perder peso, pois se sentiam bem como estavam. Ao contrário, com as mulheres as pesquisas mostraram que 33,6% que estavam dentro de seu peso normal, acreditavam que deviam fazer alguma coisa com relação a seu peso e sofriam por “sentirem-se gordinhas”, ainda que outras pessoas lhes dissessem que estavam bem. Estes dados corroboram a construção social do conceito de obesidade sobre as mulheres, que ao terem um corpo perfeito, estariam respondendo simbolicamente às exigências de perfeição nos outros aspectos de sua vida. Homens e mulheres percebem a obesidade diferentemente e valorizam diferentes ideais de corpo. Neste sentido, surpreende a agudez de pensamento de Denise B. Sant’Anna (doutora em História da Beleza), professora da PUC/SP. Em depoimento a uma revista feminina de grande circulação no Brasil, em julho de 2001, ela faz referência à escravidão das mulheres ocidentais pela busca do corpo e sexualidade ideais, ser muito parecida com a tirania que era recentemente imposta às mulheres do Afeganistão, quando eram escravizadas e postas à margem da sociedade, em função de um ideal político-religioso. Há ainda um campo de trabalho vasto no que concerne à desmistificação do feminino relacionado ao belo como obrigatoriedade. Wooley (1995) aponta um grupo de estudiosos que pretende dar seguimento às investigações e trabalhos informativos neste segmento de compreensão sobre os efeitos nocivos das cobranças sociais extremadas sobre as mulheres e seus corpos. Completando esse raciocínio, Stenzel (2000) raciocina que se devem abrir espaços para uma nova visão do feminino. 34 Estes espaços são a escola, a família, os consultórios, as pesquisas que se realizam. Encontram-se aí situações plenas de formas simbólicas de identificar o feminino. Cabe então aos profissionais que trabalham com a mulher e seu universo (que abrange além das questões da obesidade), estarem atentos para as nuances, ora sutis, ora brutais, que colaboram para que ela seja ainda hoje aprisionada, a padrões de subserviência e ditames rígidos que empobrecem, marginalizam, discriminam. Existe uma discriminação real para com os obesos em geral, e não somente para com as mulheres. Este é um dos fatores sob os quais se apóia o presente estudo. Até que ponto essa discriminação favorece o sentimento de inadequação social e o conseqüente estado de raiva não manifesta, que bloqueia as interações pessoais dos obesos é a questão que me intriga desde que comecei a inteirar-me do assunto. Não houve uma entrevista sequer que se tenha realizado aonde o aspecto da hostilização por parte do outro não tenha sido citado pelos clientes. A impressão sentida por eles é confirmada por muitas pesquisas realizadas. Fischler (1995) refere-se a inúmeros trabalhos americanos realizados desde os anos 60 que buscaram verificar como as pessoas percebem os obesos. Informa o autor que, em sua maioria, os resultados mostram que geralmente as pessoas (adultos e crianças) enxergam os obesos como pessoas trapaceiras, sujas, más, feias, etc. Não raro, as pessoas de modo geral e mesmo a classe médica creditam apenas e exclusivamente ao obeso a culpa de ocupar um excessivo lugar no mundo, desconsiderando todas as outras características inerentes à etiologia da obesidade (Medeiros-Neto, 1994; Polivy e Thomsen, 1988; Rand e MacGregor, 1990). Este tipo de raciocínio é corroborado inclusive 35 pela Igreja Católica, que inclui a gula no rol dos sete pecados capitais. A obesidade é considerada então, a evidência visual da culpa pelo pecado da gula. Há tantas atitudes pejorativas com relação aos obesos que isto já se tornou uma norma cultural arraigada (Rand e MacGregor, 1990). Essa idéia é reforçada pela crença popular de que a obesidade é devida à falta de força de vontade dos obesos, sendo estes normalmente vistos como preguiçosos, desleixados e com problemas emocionais. Para comprovar estes dados, os autores acima, estudaram uma população de obesos mórbidos antes e depois da cirurgia bariátrica e obtiveram resultados que os confirmavam. Todos os pacientes ao serem investigados no pré-operatório revelaram sentir-se discriminados, repetidas vezes, no que diz respeito desde ao acesso aos meios de transporte público, conseguir vaga para um emprego, freqüentar locais públicos (principalmente restaurantes). Esses pacientes, homens e mulheres, também referiram preconceito nas relações pessoais, ao sentiremse ridicularizados pelas costas por amigos de trabalho e alvo de chacotas de crianças, perceberem que os filhos tinham vergonha de terem pais obesos, e a dificuldade para relacionar-se com o sexo oposto. Embora os autores não tenham verificado de que forma os pacientes reagiam frente a essa discriminação e preconceito, não há como negar que venham a interferir para o sofrimento emocional e a diminuição das habilidades sociais dos obesos, bem como de sua autoconfiança e auto-estima. Decorridos quatorze meses da cirurgia, em nova etapa de questionários, os autores observaram que diminuiu sensivelmente no relato dos pacientes a noção de ser alvos de preconceito e discriminação por parte de outras pessoas. A partir da perda 36 de peso, quando já podem ser considerados magros, os pacientes passam a sentir uma significativa diminuição da discriminação e de pressão social com relação a si mesmos. Outro estudo (Gortmaker, Must, Perrin, Sobol, e Dietz, 1993), ilustra e especifica o estigma ao qual os obesos são submetidos nas suas relações pessoais, de trabalho e com o ambiente em que vivem. Ao avaliar mais de 10.000 adolescentes e jovens adultos com problemas crônicos de saúde, incluindo aí os obesos, durante sete anos (1981 a 1988), verificaram que além de problemas fisiológicos decorrentes da doença – obesidade – tais pessoas sofriam influências sociais negativas devido a seu problema. Os efeitos das condições crônicas da obesidade, não só afetavam a saúde, mas também as condições de desempenho escolar e de trabalho, bem como suas funções psicológicas. Os participantes, ao final da pesquisa haviam completado menos anos na escola, tiveram menos acesso ao trabalho, ao casamento e apresentavam auto-estima rebaixada em proporção maior do que aqueles que não tinham problemas de sobrepeso. Um dos motivos para tais resultados segundo Gortamaker et al. (1993), parece indicar para o estigma envolvendo as pessoas obesas (principalmente as mulheres). Para eles, a obesidade, diferente de outras enfermidades crônicas, parece ser vista pelas pessoas como uma doença “sob controle voluntário de quem a tem”, atribuindo-se única e exclusivamente ao obeso a responsabilidade por sua condição e pela mudança de sua situação. As investigações de Evans e Wertheim (1998), Gortmaker et al. (1993) e Rand e Macgregor (1990) exemplificam e validam os dados empíricos citados pelos pacientes (em sua quase maioria) e percebidos 37 pelos profissionais que com eles trabalham, sobre o fato de que ser obeso, via de regra, é ser classificado pela sociedade como passível de expiar culpa e ser merecedor de pena ou castigo. Essa visão estereotipada vai além: socialmente, os obesos não só são culpados por tornarem-se assim, mas também por manterem-se na condição de obesos (Polivy e Thomsen, 1988). Ainda que os obesos mantenham sua saúde mental e consigam lidar de forma positiva com seu excesso corporal, pode-se supor que ao longo do tempo, tal situação discriminatória venha realmente a comprometer os seus relacionamentos por não sentir por parte do outro sua adequação como pessoa. Tais condições corroboram para que os obesos vivenciem um sentimento de isolamento social e em conseqüência, diminuam seus contatos sociais (Valtolina, 1996). Para este autor, porém, a sensação de isolamento social diminui consideravelmente após tratamento para diminuição do peso, pois os obesos alegam que percebem do grupo social maior aceitação de suas pessoas. Por outro lado, deve-se mencionar aqui, uma pesquisa desenvolvida por Miller, Rothblum, Brand e Felici (1995), que encontrou algumas evidências de que não haveria diferenças no que diz respeito às relações sociais, evitação social, auto-estima social, competência social e envolvimento em redes sociais entre mulheres obesas e não obesas em três estados norte-americanos. Note-se, porém que a pesquisa foi conduzida segundo o relato verbal de mulheres obesas e dos relatos verbais de seus amigos e colegas de trabalho. Este fato curioso ocorre, segundo este grupo de estudiosas da obesidade, em função de uma teoria interessante: a de que o próprio estigma tenha propriedades autoprotetoras que possibilitem aos 38 obesos evitar uma responsabilidade pessoal pelas reações negativas de outras pessoas porque estas reações podem, na realidade, acontecerem função da discriminação (embora não se possa atribuir as conclusões apenas a este aspecto). O ponto interessante levantado aqui foi o de que existem ainda muitas lacunas a serem avaliadas quando se diz respeito às dificuldades sociais enfrentadas pelos obesos. Métodos investigativos deverão ser delineados (Miller et al. 1995) para que se possa esclarecer as diferenças no que diz respeito aos relatos verbais (a fala) sobre o problema e as ações dos obesos com relação às suas dificuldades sociais. Isto se torna de extrema relevância, pois foi também percebida pela autora desta pesquisa a discrepância entre o que os pacientes verbalizam quando das consultas e a realidade observada na dificuldade de engajamento com a ação presente nesta população. Em 1997, um grupo de pesquisadores italianos da Universidade de Florença (Mannucci et al. 1999), sistematizou a validação de um instrumento de medida de qualidade de vida de obesos denominado Questionário ORWELL 97 (um instrumento que demonstrou ser simples e confiável para mensurar a qualidade de vida de obesos, e pode ser usado com obesos que procuram tratamento). Qualidade de vida como foi entendida por estes pesquisadores, pode ser definida como a “satisfação dos valores, metas e necessidades de um indivíduo em direção ao seu estilo de vida. Exemplos de qualidade de vida envolvem a avaliação de várias áreas, incluindo a física, psicológica e bem estar social” (Mannucci et al. 1999). Os resultados deste trabalho demonstraram indícios de que a qualidade de vida dos obesos mórbidos masculinos seja significativamente menor do que 39 as mulheres obesas mórbidas. Esta pesquisa também identificou e reiterou que a pressão para ser mais magro recai de forma mais persistente sobre o sexo feminino do que no sexo masculino. No que diz respeito à idade, a aplicação do questionário não demonstrou muitas variações, no tocante à qualidade de vida. 3.1.6 Obesidade e os referenciais psicológicos Não obstante a relevância dos itens anteriores para se compreender e avaliar a obesidade há que se considerar como importantes os aspectos psicológicos que se delineiam nas pessoas obesas. A condição corporal, os aspectos de vida sedentária e os maus hábitos alimentares, por si só desencadeiam nos obesos consideráveis desequilíbrios emocionais que devem ser examinados minuciosamente pelos estudiosos da área, para fins de complementação do entendimento da obesidade. Reitera-se aqui a questão do trabalho multidisciplinar no tratamento da obesidade. Poucos transtornos são tão visíveis aos outros como a obesidade, e ainda, não menos transtornos geram tanta ridicularização de suas vítimas e os condena a ficar à margem dos demais. Os obesos respondem a isso tipicamente com vergonha, pena e culpa. Muitos deles se vêem carregados de um legado de fracassos para controlar seu peso - existem estudos que mostram um índice aumentado de histeria, hipocondria, depressão e introversão social (avaliados pelo Minnesota Multidimensional Personality Inventory - MMPI) em obesos mórbidos (Grana, Coolidge e Merwin, 1989). São observadas com freqüência a presença de co-morbidades associadas à obesidade, que podem intensificar nos obesos os sentimentos 40 de vergonha e de culpa. A frustração e pena (autopiedade) se intensificam quando os clientes perdem peso e voltam a ganhá-lo, e às vezes, se vê aumentada pelos profissionais que os atendem, que sugerem que “não tinham muita vontade em perder peso, pois do contrário fariam mais esforços”. Estudos que fazem um acompanhamento do peso de obesos mórbidos submetidos a gastroplastia fornecem pistas interessantes. Rand e MacGregor (1991) concluíram em uma pesquisa que os pacientes que conseguiram manter sua redução de peso ao longo de pelo menos três anos após a cirurgia, consideravam o período em que eram obesos mórbidos como verdadeiramente estressante em suas vidas. Esses pacientes afirmaram na pesquisa que preferiram ter qualquer outra deficiência (como por exemplo, surdez, dislexia, cegueira, doenças cardíacas e até mesmo uma perna amputada) a serem obesos mórbidos. Todos os pacientes disseram que prefeririam ter seu peso normal a serem obesos mórbidos, mesmo que multimilionários. O estudo sugeriu que os obesos mórbidos sentem sua condição corporal como sendo uma grande e enorme fragilidade pessoal. Outros indícios que corroboram a hipótese de que a obesidade influencia no funcionamento psíquico e no conseqüente prejuízo da expressividade emocional são apontados por uma pesquisa conduzida por Valtolina, em 1996. O autor analisou um grupo de pacientes antes e depois de um programa de tratamento que incluía dieta, exercícios e treinamento psicoeducacional numa abordagem behaviorista. Os resultados foram consistentes em demonstrar um aumento de várias funções psicossociais: 41 rebaixamento da ansiedade e depressão; aumento generalizado do humor; funcionamento social mais adaptativo, com diminuição da introversão social. Muitos investigadores explicam isso com base na maior autoaceitação conseqüente ao fato de que a pessoa começou a perder peso. Além disso, colabora o fato de que começa a haver também um maior aumento de aceitação das outras pessoas, sentimento de pertencer a um grupo, diminuição dos sentimentos de isolamento e solidão e, também o cuidado sentido por parte dos profissionais envolvidos no tratamento. Estes tópicos direcionam o pesquisador interessado no assunto a questionar se os obesos apresentam um padrão psicológico distinto ou se, por outro lado, o preconceito e a discriminação social a que estão submetidos é que contribuiriam para seus desajustes emocionais. Em relação aos aspectos psicológicos da obesidade, existem várias teorias que mencionam fatores etiopatogênicos, ainda que muitas investigações não demonstrem resultados conclusivos que as comprovem (Buschiazzo e Saez, 1997; Larsen e Torgersen, 1989). Se os distúrbios emocionais são causa ou conseqüência da obesidade parece ser ainda questão aberta (Benedetti, 2001). Porém, estudos em diversos países do mundo tentam investigar mais apuradamente estas relações entre obesidade e aspectos emocionais. Em defesa da idéia de que não existe um padrão psicológico típico dos obesos e que em conseqüência, não existe nesta população um quadro maior de psicopatologias encontram-se dois autores (Stunkard e Wadden, 1992) que podem ser considerados clássicos na investigação psicológica em 42 portadores de obesidade mórbida. Suas conclusões acerca dessa questão baseiam-se em extensos estudos, realizados ao longo de vários anos, em populações de obesos mórbidos, que buscavam como forma de tratamento a cirurgia de redução do estômago. Uma das hipóteses que eles levantam para atestar isto se delineia em função de que a população de obesos mórbidos apresenta uma grande heterogeneidade no que diz respeito a características psicológicas que os definem. O fato de não haver um perfil psicológico único para os obesos mórbidos não significa, porém que estes clientes estejam imunes ao sofrimento psicológico intenso em função da obesidade (Stunkard e Wadden, 1992). Ao contrário, para estes autores, “a obesidade cria uma gigantesca carga psicológica (...) em termos de sofrimento; e esta carga pode ser o efeito mais adverso da obesidade” (p. 524). De maneira geral, cientistas que estudam a obesidade, concordam que não existe clareza e argumentos concretos a respeito da etiologia psicológica desta síndrome (Grana et al., 1989), pois se faz necessário abordar psicologicamente a obesidade com um enfoque que considere, tanto a etiologia, como a manutenção, as variáveis cognitivas (crenças), as variáveis afetivas e as variáveis ambientais (costumes, hábitos familiares, etc.). Para tanto, é necessária uma abordagem específica para cada cliente, devendo-se realizar uma avaliação completa da personalidade e do sistema ambiental do obeso. Por isso deve-se insistir que os tratamentos “em massa” para a obesidade são ineficazes, pois pressupõem que todos os obesos tenham desenvolvido sua doença por iguais caminhos e então por iguais caminhos devem se livrar dela. 43 Há, porém, autores que apontam para a relação entre obesidade e alguns aspectos psicológicos de forma mais clara. Para começar a explorar este aspecto, cito Martins (1986), que aponta que os obesos tendem a hiperfagia em respostas a tensões emocionais, ao associarem o alimento como gratificação substitutiva, como equivalente de afeto, compensação ou recompensa. Para a autora, nos conflitos da vida social a agressividade pode ser substituída pela alimentação exagerada. Deitos, Silva e Alves (1995) mostram em seus estudos uma associação entre a obesidade e o aparecimento de sintomas depressivos. Observam que as relações entre alterações de apetite, peso e a síndrome depressiva foram identificadas desde a antiguidade greco-romana por Areteo de Capadócia (Brownell e Fairburn, 1995). A partir de 1970, passou-se a admitir que mudanças de apetite e de peso podem significar alterações psicológicas do humor, por serem sintomas psicossomáticos e que os obesos compartilham marcadores neuroendócrinos com os depressivos. O papel desempenhado pela obesidade em suas relações etiopatogênicas com a depressão distribui-se em duas categorias: a obesidade como origem da depressão e como sintoma da mesma. A despeito das descobertas que relacionam aspectos depressivos, ansiedade e baixa capacidade à frustração dos obesos, reitera-se que não há um único padrão psicopatológico onde se possa incluir todos os obesos, como categoria psicopatológica. Grana et al. (1989), Duckro, Leavitt, Beal e Chang (1983) além de Leon (1979) referem que não existe um perfil psicológico unificado para se entender os obesos, uma vez que os mesmos 44 representam uma população heterogênea no que diz respeito aos aspectos psicológicos. Num estudo com 199 pacientes obesos mórbidos do sexo feminino Duckro et al. (1983), onde foi aplicado o MMPI, eles descobriram três subgrupos de níveis psicológicos ao final de sua pesquisa. Cada subgrupo tinha bem individualizadas as suas características. O primeiro grupo não apresentava essencialmente nenhum desvio de acordo com as normas, sendo os participantes considerados com bom nível de funcionamento psicológico. No segundo grupo, apareciam com freqüência traços neuróticos (depressão, hipocondria, baixa auto-estima e falta de habilidades sociais). Especificamente neste grupo, notou-se um nível mínimo de assertividade, com a supressão da expressão de raiva, que era autodirigida. O terceiro grupo foi caracterizado pela presença de psicopatia, esquizofrenia e hipomania, em níveis importantes, havendo a presença de raiva e hostilidade, expressadas ativamente ou passivamente, juízos sociais pobres e irritabilidade. O perfil deste subgrupo pode ser denominado de desordens de caráter. Os autores demonstram estatisticamente neste trabalho, que não existe uma patologia psicológica única que caracterize um perfil singular dos obesos. Tal fato já era previsto, uma vez que nem todos os obesos desenvolvem sua doença por razões únicas. Apesar destes dados, há quem afirme existir alto índice de prevalência de depressão clínica e outros sintomas psicopatológicos (redução de auto-estima e qualidade de vida dos pacientes) quando a população estudada é a de obesos mórbidos (Segal, 1999; Terra, 1997, Black, 1992). 45 Numa tentativa de réplica dos estudos de Duckro et al. (1983) descobri em minha revisão de literatura um trabalho de Hafner, Watts e Rogers (1997), na Austrália, que reitera as descobertas dos autores anteriores. Notadamente se destacam os aspectos: índice mais alto de hostilidade encoberta, insatisfação conjugal, ansiedade fóbica e depressão nos obesos mórbidos, maior que na população de não obesos estudados. O aspecto diferencial da proposta de análise deste estudo por mim conduzido é o fato de que busco investigar as pistas que sugerem que uma parcela consistente de pessoas obesas mórbidas apresente, além de complicações psicológicas como as já citadas, um perfil de não assertividade e auto-agressividade. A pesquisa que conduzo procurará responder à questão: há diferenças entre a responsividade aos obstáculos emocionais dentro da população de pessoas sem problemas com seu peso corporal e as obesas mórbidas? Em conformidade com as pesquisas de Duckro et al. (1983), que sugerem uma constância de características de padrões passivo-dependente e passivo-agressivo como traços freqüentemente encontrados entre os obesos mórbidos, Costa e Biaggio (1998) investigaram as possíveis relações entre obesidade e as variáveis psicológicas ansiedade e raiva. Ao final da pesquisa, encontraram resultados positivos para a presença de raiva voltada para dentro no grupo de obesos estudado. Isto parece comprovar a hipótese de que provavelmente os indivíduos obesos direcionam a sua expressão de raiva para dentro mais do que o fazem os indivíduos não obesos, confirmando a idéia de que haja uma possível correlação entre obesidade e expressão de raiva para dentro. Estes dados também foram verificados por Anaruma (1995), que 46 reconheceu a presença camuflada dos sentimentos de raiva em mulheres obesas que foram submetidas à investigação durante realização de tratamento para a obesidade em grupos de apoio psicológico. Uma pesquisa realizada na Noruega por Larsen e Torgersen entre 1982 e 1985, com pacientes obesos mórbidos inscritos no serviço de avaliação psicológica para a realização da cirurgia de redução do estômago, também revelou dados que reiteram a existência de dificuldades em expressão de sentimentos de hostilidade e agressividade neste grupo que também apresentou uma taxa elevada de hipersensibilidade à crítica (Larsen e Torgersen, 1989). Ainda sob o aspecto de que possa haver uma diminuição da expressividade de sentimentos negativos como Kahtalian (1992), observa que a agressividade reprimida. Para ele, muitas vezes essa a raiva nos obesos, nestes pacientes é muito agressividade manifesta-se psicopatologicamente como forma de enganar o médico ou outras pessoas, “fazer artes”, desfazer compromissos, boicotar o tratamento, etc. Em 1982, Igoin e Apfelbaum observaram a diferença entre a tolerância à frustração em grupos de obesos moderados e obesos mórbidos. Eles encontraram alguns indícios de que haja realmente diferença na forma de reagir aos conflitos nessa população. Seus achados mostram que os obesos moderados e os obesos mórbidos têm atitudes opostas com relação à frustração. Enquanto os obesos moderados tendem a ter reações agressivas dirigidas ao mundo exterior, os obesos mórbidos minimizam as frustrações ou procuram soluções que não envolvam outras pessoas, como, por exemplo, comer compulsivamente ou entrar em um padrão de autopiedade e 47 culpa, utilizando-se com freqüência do mecanismo de negação. Esse grupo tende a minimizar suas necessidades ou tentam resolver o problema sem lançar mão do outro, o que pode significar tentativas de evitar relações interpessoais, especialmente àquelas que envolvem conflitos. Do ponto de vista terapêutico é útil levar-se em conta as especificidades da frustração especialmente quando se está tratando obesos mórbidos: sua aparente normalidade pode facilmente mascarar a utilização de mecanismos de defesa como a negação. De fato, as verbalizações dos obesos na clínica sempre vão em direção ao mal estar físico, corporal, social. Raramente consultei um obeso mórbido que relatasse desconforto emocional ou psicológico inerentes à própria obesidade. No curso de seu trabalho clínico institucional e em consultório privado, Benedetti (2001) parece vivenciar a mesma situação que intriga e inquieta. Esta psicóloga observa igualmente que os obesos mórbidos chegam com histórias sucessivas de problemáticas referentes aos aspectos “externos” ou sociais: verbalizam sobre infinitas dietas e tratamentos (de inspiração médica ou não) já realizados e os sucessivos fracassos nos mesmos; chegam relatando a frustração de recuperação persistente de peso após cada emagrecimento, freqüentemente seguida por superação do peso inicial; sabem o valor calórico dos alimentos, bem como os que fazem engordar mais e quais menos; têm acesso aos lançamentos mais recentes de medicações de última geração, e dissertam acerca da importância dos exercícios físicos. Conhecem as causas da obesidade e arriscam justificativas sobre a origem da sua. Com discurso freqüentemente queixoso, relatam as implicações da doença em sua vida, mostrando de que 48 maneira seu cotidiano é afetado por ela. As histórias são inúmeras e versam basicamente sobre a insatisfação com o próprio corpo, a dificuldade para enfrentar o preconceito social de que são vítimas e a incapacidade de desempenhar atividades rotineiras, como andar de ônibus sem “entalar na catraca”, dirigir, subir escadas sem se cansar, dificuldades para realizar higiene pessoal e andar na rua sem ser alvo de chacotas. Para estes pacientes, o emagrecimento é visto como a única (e última) possibilidade de viver melhor. Em verdade, nota-se que os obesos mórbidos, não se referem a dificuldades psicológicas específicas, como diminuição de auto-estima, sintomas depressivos ou mesmo dificuldades sexuais. Os mesmos atêm-se basicamente às dificuldades “externas”, bem como àquelas que mais comumente estão sendo veiculadas pela mídia no momento. Habitualmente, notam-se nos pacientes reações de autodepreciação explícitas, quando fazem brincadeiras pejorativas acerca de si mesmos (antes que os outros as façam), na busca de evitar a qualquer custo possíveis situações de conflito interpessoal. Sob o ponto de vista de Gold (1976) isto pode estar ligado à percepção geral de que o obeso não tenha desenvolvido um senso de profundidade emocional e de sentimentos no seu contato com os outros. Ao analisar o obeso com um olhar mais sensível, deve-se estar atento para o fato de que se poderá encontrar, sob a superficial aparência de uma natureza boa e bem humorada “um depósito de angústia, raiva e violência, contidas e reprimidas por anos de humilhação e (exposição ao) ridículo” (Gold, 1976, p. 89). O autor pontua de forma bem nítida para o fato de que 49 a comida venha a ser o substituto (no âmbito da fantasia) para preencher necessidades não resolvidas de frustrações na vida, no trabalho, nas ambições sociais, insatisfações sexuais e tédio. Assim, a fome substitui os sentimentos apropriados de excitação, tristeza ou raiva. Este quadro confirma como a vida emocional e social dos obesos, é certamente plena de vazios a serem preenchidos. Em conseqüência, a ingestão alimentar excessiva, de certa forma, pode cumprir este papel de complementar as lacunas das gratificações emocionais não realizadas. Seguindo o raciocínio de Gold (1976), apreende-se que o corpo grande pode representar força e segurança. Há ainda os obesos que comem demais como uma forma de autopunição onde a raiva é dirigida para dentro. Paradoxalmente, o apetite descontrolado pode simbolizar um controle pobre de respostas comportamentais de agressividade, de hostilidade ou raiva, que poderiam ou deveriam encontrar sua via de expressão de forma direta e aberta. Note-se o papel da influência familiar no estabelecimento, desenvolvimento e manutenção de imaturidade emocional entre seus membros. A dificuldade psicológica em expressar sentimentos de forma propícia e genuína pelos obesos parece ter uma ligação com aspectos de superproteção familiar estabelecida na relação parental. Gold (1976), encontrou entre seus pacientes obesos com freqüência considerável uma dependência de suas mães que tendia a criar e perpetuar vínculos onde seria difícil (senão impossível) estabelecer-se uma atmosfera propícia para o desenvolvimento de auto-estima apropriada ou segurança emocional. Esta dependência leva ao desenvolvimento de um padrão persistente da inibição 50 da expressão direta da raiva. Na medida em que o obeso funcione num padrão de dependência, qualquer estímulo para a raiva pode levar à inibição da expressão direta do sentimento em virtude das possíveis conseqüências para sua segurança emocional e sua ligação afetiva de dependência. A ansiedade gerada por esses conflitos se torna especialmente difícil para o indivíduo obeso que tem baixa tolerância à frustração. Sua raiva pode ser “negociada” através da compensação e a formação de reação, e assim se chega novamente à representação do estereótipo da jovialidade. Este tipo hostilidade-dependência marca caracteristicamente uma ansiedade que está envolvida nas relações que indiquem intimidade. Os sentimentos de proximidade podem precipitar quase automaticamente uma retirada de afeto ou a irupção abrupta e inesperada de hostilidade sem controle (Gold, 1976). Às vezes esses sentimentos de fragilidade nas relações interpessoais podem colaborar para a interrupção dos tratamentos e dietas. Normalmente os obesos, em sua jornada para emagrecer, já se vincularam a inúmeros profissionais e os “abandonaram” quando sentiam que seus esforços não estavam atendendo às expectativas dos mesmos. Aparece aí a dificuldade de lidar com conflitos interpessoais. Isto se repete em todos os níveis de relacionamentos dos obesos. Descrições do funcionamento psicológico dos indivíduos obesos têm sido desmerecidas em alguns estudos realizados. Existe também pouca atenção dada às implicações da alexitimia – um conceito que define a inabilidade de identificar ou expressar emoções. Beales e Dolton (2000) definem a alexitimia como uma síndrome que descreve a inabilidade em identificar e expressar sentimentos, e também a inabilidade em distinguir 51 entre emoções e sensações corporais. Tal quadro se faz muito presente em pessoas que tendem a somatizar emoções. Pessoas com alexitimia podem não conseguir distinguir a ansiedade da depressão ou diferenciar excitação de fadiga, ou, até mesmo, raiva de fome, segundo Beales e Dolton (2000). Estes autores fizeram descobertas que os levaram a apontar ligações importantes entre pessoas com bulimia e anorexia e a presença de traços de alexitimia, com forte tendência à somatização do estresse emocional. Os autores citam também a probabilidade de haver na população de obesos, fortes indícios de reações semelhantes às apresentadas no quadro dos portadores de alexitimia. A importância destas descobertas é que elas podem auxiliar a prover novas formas de atuação psicoterapêuticas junto à população de transtornos alimentares, incluindo os obesos (Beales e Dolton, 2000). Assim, algumas metas da psicoterapia seriam enfraquecer os aspectos relativos à presença da alexitimia: encorajar os clientes a reconhecer, identificar, diferenciar e manejar suas emoções; habilita-los a adquirir vocabulário que expresse seus sentimentos de forma precisa e apropriadamente. Desta forma, raciocinam os autores, se propiciará aos clientes o fortalecimento para atuar efetivamente nas situações sociais e se construirá sua auto-estima. A relação entre obesidade e características específicas de personalidade vem sendo estudada por diversas escolas psicológicas, com o intuito de se tentar estabelecer, no contexto psicológico, quais as possíveis ligações entre o desenvolvimento emocional saudável ou patológico e a conseqüente propensão para a obesidade e os distúrbios alimentares (como por ex., anorexia e bulimia). Ogden (1997) in Benedetti (2001) aponta que 52 ocorreram mudanças na natureza das teorias em sua compreensão a respeito da obesidade. A seguir realizo uma breve apreciação sobre algumas linhas teóricas em psicologia sobre a obesidade e uma explanação desde uma ótica Comportamental, que é a visão de trabalho desta autora. Sob a perspectiva psicanalítica, a literatura apresenta autores que fazem referência a uma fixação da libido na fase oral e uma ligação afetiva prejudicada com a mãe nos primeiros anos de vida como possíveis fatores que venham a determinar traços de personalidade inerentes aos obesos (Barros, 1990; Campos, 1993; Gold, 1976; Lemes et al., 1997; Loli, 2000). Numa leitura junguiana, há autores (como por exemplo, Woodman, 1995) que mostram que o desenvolvimento da personalidade da mulher obesa pode estar sujeito à influência de complexos reprimidos e dificuldade na formação da identidade feminina (com a introjeção de um animus negativo, que contamina toda a personalidade). Dentro dos pressupostos da psicologia analítico - comportamental, principalmente no contexto do Behaviorismo Radical de Skinner, a personalidade é vista como um sistema de reações, mais do que uma estrutura particular e imutável em cada pessoa. Personalidade, no sentido de um eu separado, não tem lugar numa análise científica do comportamento (Skinner, 1974). Situações diferentes evocam diferentes padrões de resposta. Não existe para o behaviorista radical um comportamento sem as circunstâncias em que ele ocorre; o que há é uma unidade interacional entre o comportamento e o meio externo. Cada resposta individual é baseada em experiências prévias individuais, história 53 genética, inseridas num contexto social e cultural vigente (Fadiman e Frager, 1986; Skinner, 1991). O Behaviorismo, como escola psicológica aparece com o intuito de modificar os rumos da psicologia. Desponta como um movimento, no começo do século XX, com a proposta da psicologia em tomar como seu objeto de estudo o comportamento, ele próprio, e não como sendo indicador de alguma outra coisa, que mostrasse um vestígio da existência de um fenômeno que se expressaria pelo ou por meio do comportamento (Matos, 1998). O fato de alguns psicólogos do século XIX sentirem-se pouco à vontade com a introspecção como método científico, expandiu fronteiras para que o Behaviorismo pudesse surgir (Baum,1999). Abre-se então um espaço cultural e histórico para o surgimento de novas formas de se entender o comportamento. Estava-se nesse momento havendo rediscussões sobre o estruturalismo e o funcionalismo, como formas de se entender a personalidade humana. A idéia central do behaviorismo é simples de ser formulada, e diz respeito ao fato de que é possível fazer uma ciência do comportamento. Embora esta seja a linha mestra do behaviorismo, é certo que mesmo dentro desta corrente psicológica, possam ser encontrados vários behaviorismos (Baum, 1999). A visão de sentimentos e personalidade, neste trabalho será entendida dentro do suporte dado pelo Behaviorismo Radical de Skinner (Baum, 1999; Skinner, 1991; Skinner, 1974), que entende que o homem, em suas dimensões ontogenéticas, filogenéticas e culturais interage com o meio circundante. O ser humano é formado por um conjunto de comportamentos (repertório) adquirido através de seu contato às condições ambientais a que 54 esteve exposto. A dimensão filogenética é importante porque esse organismo pertence à espécie humana que tem uma origem através da seleção natural e da evolução; no que diz respeito aos aspectos ontogenéticos sua relevância se dá porque os organismos adquirem comportamentos em função de suas conseqüências positivas e negativas, surgindo processos de condicionamento respondente e operante, e por fim, na dimensão cultural, considera-se que mesmo sendo o comportamento um resultado das suas conseqüências é impossível desconectá-lo de sua época e das condições sócio-culturais vigentes, sendo um comportamento consequenciado positiva ou negativamente, conforme as contingências culturais a que está exposto. Pode-se apreender destas informações que uma pessoa sente-se mais ou menos adaptada a um dado contexto social dependendo de como os seus comportamentos estão em conformidade com as expectativas deste meio. A estruturação da personalidade vai acontecendo através do fazer, do experienciar, numa construção constante, em perfeita harmonia e consonância com o conceito skineriano de condicionamento operante: “condicionamento operante não é puxar cordas para fazer uma pessoa dançar; é planejar um mundo no qual uma pessoa faz coisas que afetam esse mundo, que por sua vez, afeta essa pessoa” Skinner (1972, p. 69), citado por Fadiman e Frager (1986). Nota-se aqui a convicção de Skinner de que o homem possa ser agente no desenvolvimento de sua personalidade, e não meramente um ser passivo e dependente das condições ambientais. Ao estudar a personalidade, interessa saber “como e sob que condições” os comportamentos são adquiridos, ou seja, como foram aprendidos. 55 Há notícias de vários grupos de trabalho enfocando a obesidade e seu tratamento numa linha comportamental, com resultados eficazes (Kerbauy, 1987; Segal, 2000). Em minha atuação como psicóloga clínica comportamental desenvolvo intervenções com grupos psicoterapêuticos para obesos desde o ano de 1992, e como Supervisora de Estágio no curso de Psicologia coordeno desde 1999, grupos de trabalho multidisciplinares para o tratamento da obesidade, com resultados que podem ser considerados satisfatórios. Uma visão comportamental acerca de um fenômeno contempla com bastante profundidade os movimentos sociais vigentes a cada época e sua apreciação sobre o fato de uma pessoa ser obesa. Os aspectos sociais aos quais os obesos estão submetidos foram delimitados neste trabalho, no item 2.1.5 (Aspectos sociais envolvidos na obesidade). Para uma exploração ainda mais abrangente acerca das expectativas com relação ao ideal de corpo culturalmente aceito através da evolução e modificação sociais, encontramos em Sant’Anna (1995) uma compilação de vários artigos abordando o tema, no livro Políticas do Corpo. 3.1.7 Raiva, hostilidade e agressão A literatura psicológica sobre o perfil de pessoas obesas aponta para sua dificuldade em expressar adequadamente as emoções de maneira geral e notadamente as que dizem respeito aos sentimentos de raiva, hostilidade e agressão. Aqui estou apresentando as características específicas do grupo de obesos mórbidos com relação às dificuldades em se expressar 56 adequadamente, mas sabe-se que esta não é dificuldade exclusiva deles. Nota-se nos estudos psicológicos a presença constante da raiva e da hostilidade em diferentes grupos sociais. Esses são sentimentos presentes na vida de todas as pessoas. Estudos comparativos sobre a presença de hostilidade nos grupos humanos já têm sido conduzidos por psicólogos de diversas tendências e com vários instrumentos de medidas (Martinez e Biaggio, A. M. B. 1996; Porter, Stone e Schwartz, 1999; Spielberger, Reheiser e Sumner, 1995; Spielberger, Johnson, Russel, Crane, Jacobs e Worden, 1985; Vaz, 1990). Ser habilidoso em expressar adequadamente sentimentos de hostilidade pode facilitar para o entendimento adequado da realidade externa (Biaggio, M. K., 1987). Uma vez detectada a importância do estudo da raiva, hostilidade e agressão, observa-se que se torna cada vez mais premente a necessidade de fazer uma distinção entre estes termos. Um modelo teórico coerente que classifique as sutis diferenças entre os construtos psicológicos da raiva, hostilidade e agressão poderia ser essencial na construção e validação de medidas da raiva e hostilidade (Biaggio, A. M. B., 1998; Wagner T. M. C. e Biaggio, A. M. B., 1996; Porter et al., 1999; e Spielberger et al., 1985). Em decorrência, abrir-se-ia espaço para a elucidação clara das diferenças entre cada uma destas emoções, bem como o incremento e a possibilidade efetiva de tornar mais eficiente a compreensão teórica e o manejo psicoterapêutico (Biaggio, M. K., 1987; Paivio, 1999). Mas como diferenciar os construtos psicológicos da raiva, hostilidade e agressão? Como têm sido estes termos usados na psicologia? 57 Falar sobre esse tema é assunto tão antigo como contemporâneo (Moser, 1991). Pode-se começar o exame da evolução conceitual acerca da natureza da raiva, hostilidade e agressão como estados emocionais desde vários pontos de vista, inclusive sob uma perspectiva histórica. Uma revisão bibliográfica revela a sobreposição substancial prevalente nas definições conceituais e no uso das expressões raiva, hostilidade e agressão. Por isso vários autores sentem a necessidade de se especificar bem cada um dos termos, em termos psicológicos que alcancem compreensão e consenso quando se aborda o assunto. Estudos de Spielberger et al. (1985) e Spielberger et al. (1995) desenvolvidos ao longo de vários anos prevêem uma tentativa de elucidação destes conceitos. As análises de Spielberger e seus colegas fornecem excelentes indicações de respostas explicativas a fim de se entender as diferenças e semelhanças entre os três termos: raiva, hostilidade e agressão. Veja-se abaixo tais considerações: As expressões raiva e agressão, juntamente com o termo hostilidade têm sido definidas de maneiras numerosas e diversas por diferentes investigadores, e em alguns casos estes conceitos são usados de forma intercambiáveis (Spielberger et al., 1985). A raiva é freqüentemente conceitualizada como um estado emocional, e diferentes aspectos desta emoção são enfatizados em várias definições. Spielberger et al. (1995) alegam que se pode definir a raiva desde sendo apenas um componente exclusivamente ligado a variáveis fisiológicas, enquanto que por outro lado, se pode entendê-la como uma resposta mediada com componentes afetivamente expressivos. Estes autores compreendem que uma definição de 58 raiva poderia englobar aspectos afetivos, fisiológicos, comportamentais, além de aspectos cognitivos. Com relação aos termos hostilidade e agressão, estes às vezes são usados como análogos. Spielberger et al. (1995) fazem alusão a estas definições: hostilidade pode ser entendida como atitudes negativas com relação às pessoas com a presença de antipatia e julgamentos negativos acerca do outro, enquanto que pode ser vista como uma resposta que comunica estimulação aversiva com relação aos outros. Apesar das limitações impostas, pode-se buscar uma diferenciação entre os termos acima se entendendo que hostilidade envolve julgamento acerca do outro e agressividade pode implicar num possível comportamento diante do outro. Analisando-se a enunciação anterior das qualidades características de cada termo, salta aos olhos que ainda restam inconsistências e ambigüidade. Conseqüentemente, isso gera pouca concordância em como esses construtos poderiam vir a ser mensurados. Dada a sobreposição nas definições conceituais de raiva, hostilidade e agressão, Speilberger et al. (1985) desenvolveram uma denominação “coletiva” para os mesmos: a Síndrome AHA (do inglês “AHA Syndrome”, abreviação dos termos anger, hostility e aggression). As definições a seguir se baseiam na caracterização destes autores: Î Raiva: usualmente refere-se a um estado emocional que consiste de sentimentos que variam em intensidade – de uma simples irritação ou aborrecimento à intensa fúria e ódio. Pode ser entendida como um tipo de comportamento mais fundamental e menos complexo que hostilidade e agressão. A emoção da raiva é uma condição necessária, mas não 59 suficiente, para o desenvolvimento de posturas hostis e para a manifestação do comportamento agressivo. Î Hostilidade: freqüentemente envolve sentimentos raivosos. Este conceito tem a conotação de um complexo de atitudes que poderia motivar comportamentos agressivos em direção a destruir objetos ou causar danos a outras pessoas. Î Agressão: enquanto raiva e hostilidade se referem a sentimentos e atitudes, o conceito de agressão geralmente implica em comportamentos destrutivos ou punitivos dirigidos diretamente a outras pessoas ou objetos. Tal conceituação é também compartilhada por Myers (2000); Myers (1999), e também por Rodrigues, Assmar e Jablonski, (2000). Na continuidade de seus estudos, Spielberger et al. (1995) elaboram mais agudamente suas idéias e tecem considerações sobre o fato de que o sentimento de raiva esteja claramente no cerne da Síndrome AHA. E, finalmente,todos os indícios e as análises conceituais que eles realizaram redundaram no fato de enfatizados em várias que diferentes definições que aspectos envolvam dessa os emoção sentimentos são de hostilidade e os de agressão. 3.1.8 A hostilidade encoberta nos obesos mórbidos Hostilidade encoberta compreende o conceito psicológico que engloba tanto os sentimentos de raiva, como também os aspectos de agressividade inerentes ao comportamento dos seres humanos. Hostilidade encoberta envolve a tendência de parte das pessoas (neste estudo, os obesos mórbidos) a suprimir e não revelar sua hostilidade. Isto é, dada uma 60 provocação ou estimulação para a qual uma resposta agressiva poderia ser justificada, estas pessoas encobrem, suprimem a experiência e a expressão destes sentimentos. Existe a necessidade, para o pesquisador e para o clínico em desenvolver formas de identificar a hostilidade encoberta, uma vez que sua não expressão pode desencadear efeitos negativos nos indivíduos. Quando a raiva é justificada a atitude de não expressá-la pode ter conseqüências negativas para o indivíduo, resultando, por exemplo, num sentido de inferioridade ou baixa auto-estima; comportamentos impulsivos; padrões de comunicação destrutivos; somatização de sintomas emocionais e psíquicos (Biaggio, M. K. 1980a; Biaggio, M. K. ,1980b; Biaggio, M. K., 1987). Utiliza-se a expressão encoberta para definir que a emoção não é abertamente declarada nem manifestada quando vivenciada pela pessoa que a sente. Apesar de não haver a expressão declarada da emoção, não se pode descaracterizar sua importância, muito pelo contrário “como as pessoas se sentem é freqüentemente tão importante quanto o que elas fazem” (Skinner, 1991, p. 13). Quando bem direcionada, a expressão da hostilidade assume funções positivas no equilíbrio psíquico. Pode ajudar a pessoa a proteger-se de ameaças; promove um aumento de confiança nas relações mais íntimas, auxilia a diminuir no indivíduo os sentimentos de ansiedade e vulnerabilidade (Biaggio, M. K., 1980a; Biaggio, M. K., 1980b). Alguns fatores podem contribuir para que os obesos desenvolvam um padrão de respostas de não expressarem suas emoções de hostilidade. Pode- 61 se começar abordando sobre o preconceito e a discriminação sentidos pelos obesos em seu convívio social. Pesquisas demonstram que as pessoas magras acreditam que a obesidade é questão de preguiça e falta de persistência (Medeiros-Neto, 1994). Outros dados levantados mostram que pessoas magras acham os obesos “relaxados” e até “sujos” (...). Na área científica, essa visão já é claramente ultrapassada. Medeiros - Neto (1994), procura demonstrar em um artigo a importante influência dos processos metabólicos da insulina no que diz respeito à ingestão compulsiva de doces, isso sem falar nas outras causas que colaboram para o surgimento, desenvolvimento e manutenção dessa patologia. Ocorre, porém, que na opinião leiga ainda acredita-se firmemente que os obesos são os próprios algozes de sua condição corporal, em todos os casos. Isso os mantém na teia viciosa do sentirem-se em débito perante os magros da sociedade. Uma observação clínica mais atenta faz ressaltar a evidência: os obesos usam a máscara da simpatia para sentir-se mais entrosados. Uma análise atenta revela que por trás dessa alegria, há uma presença velada de hostilidade (o que no meu trabalho denomino de hostilidade encoberta). A imagem passada por pessoas obesas é, via de regra, a de cordialidade, simpatia, acessibilidade e bom humor. Em suas interações sociais essa imagem pode vir a facilitar o entrosamento, a aceitação e a quebra de uma barreira de preconceito e discriminação. Aparecem com freqüência dados indicativos de hostilidade para com o outro e também 62 percebida como vinda do outro, mas sempre de forma de que não fique clara e aberta. Ao serem investigados sobre sua expressão emocional em situações de raiva e/ou que gerem conflitos emocionais, observou-se que na maioria das vezes, quando questionados sobre como se sentem nesses momentos, as respostas expressadas não condizem com o estado de raiva vivenciado psicologicamente numa percepção individual. O obeso vivencia uma sensação de raiva numa intensidade maior do que aquela que ele expressa aos outros. Se lhe chamam a atenção em público por algo que ele não fez, se lhe pedem para fazer uma tarefa extra que o sobrecarregue, se lhe fazem ou dizem coisas com as quais não concorda, suas respostas em direção a estes fatos são de esquiva e “compreensão”, e até mesmo de adiamento da expressão de ressentimento para uma oportunidade posterior, mais propícia, segundo seus relatos, onde possa colocar seus sentimentos sem ameaça de haver brigas, pois “não vale a pena brigar por qualquer coisa” segundo o relato de um participante da pesquisa. Estudos têm demonstrado que a expressão de raiva e agressividade de forma mais adequada pode ser desenvolvida após treinamento e intervenção psicológica, quer seja em abordagem cognitivo-comportamental (Snyder, 1999; Abreu, 1986), quer seja em outras áreas de domínio da psicologia. Quando estão com raiva as pessoas podem expressar-se numa variedade de formas adaptativas ou desajustadas, por exemplo, assertividade e resolução de problemas ou com reações físicas ou (Deffenbacher et al., 1996. Tangney et al., 1992). verbalizações grosseiras 63 4. PROBLEMA Há relação entre obesidade mórbida e hostilidade encoberta, implicando estes fatores em prejuízo das interações sociais dos obesos? Na tentativa de buscar resposta a esta questão proponho-me a fazer um estudo comparativo entre dois grupos de sujeitos: pessoas obesas mórbidas e pessoas sem obesidade. Com base nos dados coletados através do Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço (STAXI), Questionário Estruturado, com questões fechadas, são formuladas as hipóteses abaixo apresentadas. 5. HIPÓTESES HO1. O grupo de sujeitos obesos mórbidos se assemelha, quanto à hostilidade encoberta ao grupo sem obesidade. H1. O grupo de obesos mórbidos apresenta índice de hostilidade encoberta significativamente maior do que o grupo sem obesidade. H02. Não existe correlação positiva entre o que o obeso percebe como apreciação das outras pessoas e o empobrecimento de sua interação social. H2. Existe correlação positiva entre o que o obeso percebe como apreciação das outras pessoas e o empobrecimento de sua interação social. 64 6. MÉTODO 6.1 População A população pesquisada foi de pacientes portadores de obesidade mórbida a serem submetidos à gastroplastia (cirurgia de redução do estômago) que estão em fila de espera no Hospital Universitário de Maringá, vinculado à Universidade Estadual de Maringá. 6.2 Amostra A amostra foi constituída de 40 pessoas assim distribuídas: Grupo 1. 20 Sujeitos com diagnóstico médico de obesidade mórbida, a serem submetidos à gastroplastia (cirurgia de redução do estômago), do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Maringá, faixa etária de 20 a 50 anos, sexo masculino (10) e feminino (10), condições sócioeconômicas média e média baixa, instrução ensino fundamental e médio, sem antecedentes de atendimento psiquiátrico. Grupo 2. 20 Sujeitos não obesos, faixa etária 20-50 anos, sexo masculino (10) e feminino (10), condições sócio-econômicas média e média baixa, instrução ensino fundamental e médio, sem antecedentes de atendimento psiquiátrico. Quanto ao critério a ser usado para a avaliação da obesidade mórbida optei por usar o Índice de Quetelet, que mensura o Índice de Massa Corpórea (IMC) do paciente. A classificação para Obesidade mórbida segundo este Índice é de IMC igual ou superior a 40, e as pessoas magras (Saudáveis) encontram-se enquadradas dentro desta avaliação no IMC entre 20 e 25. 65 6.3 Instrumentos a) O instrumento usado para medir a expressão de raiva foi o Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço (STAXI) de Spielberger (1992), já adaptado e validado no Brasil por Biaggio, A. M. B., cuja proposta é a de avaliar como as pessoas experienciam e lidam com os sentimentos de raiva. O inventário consiste de 44 itens divididos em 6 escalas e 2 subescalas: estado de raiva; traço de raiva com 2 subescalas (temperamento raivoso e reação de raiva); expressão de raiva para dentro; expressão de raiva para fora; controle de raiva e expressão de raiva. Os termos acima são assim definidos segundo Biaggio, A. M. B. (1998, p. 2): Estado de raiva: estado transitório de raiva, no momento de aplicação do teste; Traço de raiva: traço estável de raiva crônica; Temperamento raivoso: subescala da escala de traço, indicando tendência crônica a sentir raiva; Reação de raiva: subescala de traço, indicando tendência a reagir com raiva em situações de ameaça ao ego e à auto-estima; Raiva para dentro: escala que mede a direção da raiva e a tendência a culpar-se a si próprio, podendo levar à depressão; Raiva para fora: escala que mede a direção da raiva e a tendência a agredir outros ou o ambiente; Controle da raiva: escala que mede a direção da raiva e a tendência consciente a controlá-la, suprimi-la; Expressão da raiva: medida global de raiva, levando em conta as três escalas anteriores, mobilizando uma expressão adequada da raiva. 66 Para os propósitos desta pesquisa, serão utilizados os construtos: Controle de raiva; Expressão de raiva e Raiva para fora. b) Efetuei um estudo piloto utilizando um questionário, para avaliar os aspectos de relacionamento interpessoal e expressão emocional adequada de raiva. O Questionário estruturado, por mim elaborado, visava colher dados relativos à percepção pessoal dos obesos mórbidos e não obesos. As informações colhidas nesta etapa (piloto) serviram de base para a pesquisa final. 6.4 Procedimento A pesquisa foi realizada junto ao serviço de gastrologia do Hospital Universitário de Maringá - PR, conforme o conhecimento e permissão do médico responsável pelo setor, Dr. Daoud Nasser. Foi feita uma triagem para identificação dos sujeitos da pesquisa, levando-se em consideração a classificação positiva para obesidade mórbida, e pessoas sem obesidade, segundo o IMC correspondente, que será diagnosticado pelo médico responsável pela primeira entrevista com os pacientes. Em seguida à identificação dos sujeitos, mantive um contato individual para convidá-los e motivá-los a participar desta pesquisa. Após esta etapa, estabeleceu-se um contrato verbal com os participantes a fim de explicar-lhes as questões éticas e também salientar o aspecto confidencial que envolve a testagem, uma vez que os resultados não serão fornecidos a qualquer pessoa e os mesmos não serão objeto de análises individuais, destinando-se os resultados apenas à investigação científica. Depois do 67 consentimento, e assinado o termo de permissão, foram combinados horário e disponibilidade para a execução do estudo. Realizei a aplicação individual do inventário STAXI bem como o Questionário estruturado nos dois grupos, em meu consultório, respeitando criteriosamente as condições adequadas para a realização da investigação. Coube à examinadora explicar tecnicamente o modo de responder às questões para que não restassem dúvidas pelo testando. O encaminhamento de cada participante dos grupos foi feito pela Assistente Social do referido hospital, adequando-se criteriosamente ao emparelhamento adequado, baseando-se nos seguintes critérios de inclusão: sexo, idade, escolaridade, nível sócio-econômico. Serviu de critério de inclusão para a referida escolha de participantes (tanto do grupo de obesos mórbidos como do grupo de não obesos) que os mesmos não apresentem história de internação psiquiátrica anterior, uma vez que isto poderia interferir negativamente na coleta e análise dos dados. Foram tomados os devidos cuidados para manutenção do mesmo padrão para os dois grupos de participantes, no que diz respeito a: Seleção dos participantes pela equipe médica e contato com os participantes; Estabelecimento do Contrato, esclarecimento detalhado das questões éticas envolvendo o trabalho de pesquisa e a orientação para a assinatura do Termo de Consentimento; Aplicação do Inventário STAXI e do Questionário estruturado; Adequação do ambiente onde foram aplicados os instrumentos. 68 7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Minha principal preocupação ao iniciar a pesquisa, dizia respeito à elucidação das variáveis que interferem na dificuldade de expressão da hostilidade em pessoas com obesidade mórbida. Para a averiguação da hostilidade encoberta utilizei o STAXI (Spielberger, 1992). Procurei estabelecer a distinção entre os termos raiva, hostilidade, e agressividade. Optei por manter o termo hostilidade, por julgar que o que eu buscava elucidar na pesquisa era um constructo que envolvesse o comportamento de raiva, além de outros aspectos, que pudessem evoluir até mesmo a atitudes mais complexas de uma pessoa com relação a si mesma e com relação às outras pessoas. Tal escolha ocorreu tendo por base a Síndrome AHA de Spielberger et al. (1985), que entende a raiva como um tipo de comportamento mais básico, que pode ser analisado como sendo mais fundamental e menos complexo do que a hostilidade e a agressão. Desta forma, compreende-se a raiva como um sentimento que faz parte da hostilidade, daí a mesma ser utilizada como parâmetro nesta avaliação. Para o desenvolvimento desta pesquisa foi trabalhada uma amostra de 40 pessoas, que contemplou 50% de representantes obesos mórbidos (20 participantes) e 50% representando o grupo de não obesos (20 participantes), conforme mostra a Figura 1. Obesidade Mórbida e Não Obesidade são medidas segundo o Índice de Quetelet (IMC entre 20 e 25 = Peso Saudável e IMC entre 40 e 70= Obeso Mórbido). 69 FIGURA 1. Distribuição da amostra por Grupos de sujeitos: Obesos mórbidos e Não-obesos Não obesos n=20 O besos m ó rb id o s n = 2 0 Fonte: Coleta Direta de Dados Além da equivalência numérica entre os participantes obesos mórbidos e não obesos, foram utilizados critérios de inclusão que se basearam na análise das características predominantes na lista de espera do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Maringá. Quanto ao sexo, a prevalência foi de cinqüenta por cento de homens e cinqüenta por cento mulheres. A faixa da etária da amostra abrangeu os pacientes de 20 a 50 anos; No que diz respeito ao estado civil foram contempladas as categorias solteiro (a), casado (a) e divorciado (a). Após coleta e análise posterior dos dados, os resultados apontaram para a seguinte direção: 70 a) Aceita a hipótese alternativa 1 - O grupo de obesos mórbidos apresenta índice de hostilidade encoberta significativamente maior do que o grupo sem obesidade. Foi feito estudo de diferença de média entre os dados de sujeitos com obesidade mórbida e dos sujeitos não obesos, utilizando-se o t-Teste para amostras independentes. Constata-se que há diferença significativa de médias do Controle da raiva e Expressão de Raiva, entre os dois grupos. Procurei demonstrar na pesquisa que há diversidade de formas de respostas ao sentimento de raiva nos dois grupos, acreditando que os obesos mórbidos controlam e se reprimem mais diante de situações aversivas (geradoras de raiva). Os portadores de obesidade mórbida têm presença de índices de Controle da raiva mais elevado do que no grupo dos não obesos (p = .03). O item Controle da raiva aparece com a média 22.05 para os obesos mórbidos e 18,20 para os não obesos. Quando se avalia a maior ou menor facilidade de Expressão de raiva (demonstração adequada deste sentimento), aparecem os seguintes aspectos para serem examinados: os obesos mórbidos expressam a raiva numa média de 26,35 em comparação a 33,55 dos não obesos, indicando a maior facilidade, no estudo desta mostra populacional, de os não obesos poderem revelar e demonstrar abertamente quando não se sentem confortáveis com relação a determinados sentimentos. O índice p =.01 aponta a diferença significativa entre as médias, onde se pode afirmar com margem de segurança que os não obesos expressam o sentimento de raiva mais do que os obesos mórbidos. 71 Os dados relativos à Raiva para fora (demonstração deste sentimento de forma agressiva) não apontaram diferenças significativas, com a presença de médias equivalentes: 13,95 para os obesos mórbidos e 15,40 para os não obesos. Diante disto, não se pode afirmar, como se imaginava hipoteticamente, que as pessoas não obesas e as obesas mórbidas diferem quantitativamente na expressão de sua raiva para fora.(Tabela 1): TABELA 1 – DADOS DO STAXI Estatística comparativa: Controle, Expressão e Liberação do sentimento de raiva no STAXI entre obesos (20) e não obesos (20) Controle Expressão Fora Grupos N Média DP Sig Obesos 20 22,05 5,81 .03* Não obesos 20 18,20 5,17 Obesos 20 26,35 8,14 Não obesos 20 33,55 9,47 Obesos 20 13,95 3,83 Não obesos 20 15,40 3,60 .01* t-Teste, índice significativo p < .05 Fonte: Coleta direta de dados A Figura 2 representa os dados do STAXI de forma gráfica. Aí se pode notar a clara distinção entre as respostas dos dois grupos pesquisados no que diz respeito ao sentimento de raiva, que está englobado no conceito de hostilidade encoberta. 72 Enquanto nos obesos pode-se observar a preponderância do Controle da raiva, na população de não obesos destaca-se com larga distância a Expressão da raiva. Já, quando se examina o item referente à Raiva para fora de forma agressiva, não ficou demonstrado estatisticamente que há a preponderância de um grupo em relação ao outro, não se podendo afirmar então neste caso que os não obesos manifestam mais abertamente sua raiva para fora de forma agressiva do que os obesos mórbidos da pesquisa. Ver Figura 2 abaixo: FIGURA 2 Quadro comparativo do STAXI: controle, expressão e liberação da raiva em obesos e não obesos 40 Média 30 Controle 20 Expressão 10 Fora Obesos Não obesos Grupos de sujeitos Fon te : Co leta d ir e ta de d ados 73 b) Aceita a hipótese alternativa 2 - Existe correlação positiva entre o que o obeso percebe como apreciação das outras pessoas e o empobrecimento de sua interação social. Foi feita correlação entre as respostas do Questionário: (Correlação de Pearson) com nível de aceitação das hipóteses p = ≤ .05. A questão envolveu uma análise dos aspectos pertinentes ao julgamento dos obesos mórbidos sobre como acreditavam que os outros o percebiam e também como julgavam a si mesmos. Procurei verificar se os participantes acreditavam que isto interferiria negativamente nas suas relações interpessoais, pois tais contingências acabavam supostamente acarretando a evitação por parte dos obesos mórbidos em envolver-se em atividades e circunstâncias onde eles poderiam ser alvo de atenção e dos olhares alheios. Os dados do Questionário prestaram-se a essa verificação, pois incluí perguntas que buscavam relacionar se os obesos mórbidos haviam diminuído sua freqüência em atividades sociais mais do que os não obesos, e se sim, quais razões atribuiriam para esse distanciamento social. O Questionário procurou elencar alguns dos motivos alegados pelos obesos mórbidos para se distanciarem das atividades sociais. O nível de significância de p=.01 aparece quando os motivos tinham relação com uma auto-imagem negativa dos obesos mórbidos: item do questionário que apontava Tenho vergonha do meu corpo. Além disso, incluí no Questionário alguns itens que propiciaram aos obesos emitirem alegações que dizem respeito a sua percepção de como os outros atribuem juízos sobre seus comportamentos sociais (julgamentos 74 negativos). Procurei aí investigar se os obesos deixavam de sair porque achavam que os outros não os aceitariam. De fato, na realidade, através dos dados coletados via Questionário, observei que as alegações dos obesos mórbidos foram que, freqüentemente em lugares públicos, como por exemplo, restaurantes, bares, cinemas, clubes, etc., as pessoas em geral,: a)Reparam o que eles fazem (p=.01) e que também, e de maneira mais angustiante e vexatória para os obesos, as pessoas, b)Reparam o que eles comem (p=.01). (Tabela 2): TABELA 2– DADOS QUESTIONÁRIO Correlações entre Respostas pertinentes a atividasdes sociais emitidas pelos obesos As pessoas reparam o quê faço As pessoas reparam o quê faço As pessoas reparam o quê como Tenho vergonha do corpo Houve motivos para não realizar at sociais Pearson Correlation Sig. bicaudal) n As pessoas reparam o quê como Pearson Correlation Sig. bicaudal) .01 n 20 Pearson Correlation Tenho vergonha do corpo Houve motivos para não realizar at sociais ,816 ** ,704 ** ,739 ** Sig. bicaudal) .01 .01 n 20 20 Pearson Correlation ,655 ** ,802 ** ,592 ** Sig. bicaudal) .01 .01 .01 n 20 20 20 **. Correlação significativa a nível 0.01 level (bicaudal) F on t e: C o le t a D i r e ta d e D ad os Para realizar uma estimativa mais apurada do porquê os obesos mórbidos alegam motivos para seu afastamento de atividades quando há a presença de outras pessoas, o questionário propôs algumas alternativas, às quais os obesos optaram: Sentir-se desconfortável em público apresentou 75 um coeficiente de correlação positiva de .655 (altamente positivo); enquanto que Não encontrar roupas adequadas apareceu com o maior índice de representatividade da amostra de obesos mórbidos (1.000). Outro fator que me chamou a atenção e que está intimamente relacionado à prática de atividades sociais refere-se aos móveis disponíveis nos locais (bares, restaurantes, cinemas, consultórios médicos, salas de espera, assentos de ônibus, etc.) serem considerados pelos obesos inadequados para eles se sentarem (. 802). Este fato aparentemente simples e que passa totalmente despercebido pela percepção das pessoas magras, gera nos obesos enorme receio de passar por situações de vexame, caso não caibam nos móveis ou porventura venham a quebrá-los involuntariamente, podendo ser então alvo de chacotas por parte das outras pessoas. A Tabela 3 mostra dados do Questionário acerca das principais razões que interferem em seu isolamento social, segundo os obesos mórbidos: 77 c) O Questionário também buscou levantar dados sobre o fato de os obesos realizarem menos atividades sociais que os não obesos, e em quais lugares. Utilizando-me da análise dos dados do Questionário para verificar o empobrecimento das interações sociais e averiguar em quais situações específicas os obesos deixaram de realizar atividades sociais, constatei a diminuição de freqüência principalmente nas atividades de Ir ao restaurante e Ir ao barzinho. Quando eram solicitados a responder quais as atividades que deixaram de realizar, os obesos mórbidos disseram que não iam a restaurantes, numa média de 1.70 e os não obesos numa média de 1.25. A diferença entre os dois grupos quanto a esta variável é altamente significativa (p = 0.1) para os obesos mórbidos. Deixar de Ir a barzinhos por parte dos obesos mórbidos, atingiu o escore médio de 1.75 enquanto que para os não obesos a média foi de l.40. A diferença entre os dois grupos quanto a esta variável é significativa a nível de .02. (Tabela 4): ATIVIDADES TABELA 4 QUE OS OBESOS MÓRBIDOS E OS NÃO OBESOS D E I X A R A M D E R E A L I ZA R Atividades Grupos sociais Ir ao Obesos restaurante Não obesos Ir a Obesos barzinho Não obesos Fonte: Coleta Direta de Dados N Média DP Sig 20 1.70 .47 .01 20 1.25 .44 20 1.75 .44 20 1.40 .50 .02 78 8. DISCUSSÃO A amostra de obesos mórbidos desta pesquisa apresentou índices de Expressão de raiva (atitude saudável) em níveis menores do que a dos participantes não obesos. Tais dados denotam implicações importantes com relação à hipótese original que tentei confirmar neste trabalho: demonstrar as dificuldades de expressão de sentimentos diante de conflitos, por parte dos obesos mórbidos. Esta investigação colaborou para responder ao problema inicial, no sentido que deixou de ser apenas do âmbito da observação clínica e empírica o fato de se perceber a dificuldade que os obesos mórbidos têm em se expressar. Eles mantêm um padrão alto de controle sobre a raiva e um padrão baixo de expressão emocional quanto à variável hostilidade. Após a delimitação da Hipótese 1 (dificuldade de expressão por parte dos obesos mórbidos do sentimento de raiva – mantendo a hostilidade num nível encoberto) encadeei subseqüentemente uma segunda hipótese, acerca das dificuldades de interação social destes participantes. As Hipóteses 1 e 2 não se podem diferenciar quando se trata de explicitar as questões emocionais neste trabalho, uma vez que as compreendo de forma interrelacionadas. Surgem então, nesta discussão alguns pontos a serem destacados: A) A expressão de sentimentos de hostilidade nos obesos mórbidos: Procurei elucidar essa questão fazendo-me a seguinte pergunta: há diferenças na forma de demonstrar hostilidade entre a população de pessoas obesas mórbidas e a de pessoas sem obesidade? 79 Tal indagação originou a hipótese que deu propulsão a este trabalho. Sim. Os obesos mórbidos têm maior dificuldade para responder positivamente diante de situações que geram conflitos, não expressando adequadamente a hostilidade. Eles mantêm a hostilidade num nível encoberto (representado pela não assertividade e auto-agressividade). Os dados da pesquisa com esta amostra confirmam a hipótese, pois foram significativamente positivos para as respostas de Controle de raiva e Expressão de raiva, na análise do STAXI. A raiva, a agressividade e a hostilidade são emoções comuns, experimentadas e vivenciadas por praticamente todas as pessoas em suas experiências individuais e/ou interpessoais, de acordo com Deffenbacher et al. (1996). Por isso a importância de analisá-las, uma vez que sua presença se faz notar dentro de vários níveis de nossa sociedade. A hostilidade encoberta engloba tanto os sentimentos de raiva, como também os aspectos de agressividade. Utilizei a expressão encoberta para definir que a emoção não é abertamente declarada nem manifestada quando vivenciada pela pessoa que a sente. Parti do princípio que esta dificuldade prejudicaria os obesos mórbidos, pois quando o sentimento é justificado a atitude de não expressá-lo gera conseqüências negativas, como sentimentos de inferioridade ou baixa auto-estima; comportamentos impulsivos; padrões de comunicação destrutivos; somatização de sintomas, etc. (Biaggio, M. K., 1980a; Biaggio, M. K., 1980b; Biaggio, M. K., 1987). Emitir respostas apropriadas de agressividade, hostilidade ou raiva faz parte da vida cotidiana e utilizar um determinado grau destas emoções 80 pode auxiliar o indivíduo a sentir-se mais completo e satisfeito em seu mundo ajudando-o a lidar melhor com sua realidade externa (Abreu, 1986). Em suas várias pesquisas sobre o assunto, Biaggio M. K. (1987) salienta que a expressão da hostilidade pode capacitar a pessoa para confrontar assertivamente provocações ou injustiças; além disso, pode auxiliar o indivíduo a ter aumentado o seu controle emocional, bem como se sentir ajustado às exigências do meio social. Quando bem direcionada, a expressão da hostilidade assume funções positivas. Pode favorecer a pessoa a proteger-se de ameaças; promove um aumento de confiança nas relações mais íntimas, diminuem no indivíduo os sentimentos de ansiedade e vulnerabilidade (Biaggio, M. K., 1980a; Biaggio, M. K., 1980b). Outras investigações também apontam para a confirmação da presença de hostilidade nos sujeitos obesos, como por exemplo, um estudo brasileiro de Costa e Biaggio, A. M. B. (1998) sobre obesidade. Neste trabalho a variável raiva foi medida pelo STAXI de Spielberger, que Biaggio, A. M. B. ajudou a validar para uso no Brasil. Os resultados foram significativos para uma maior presença da raiva na população de obesos em comparação às pessoas sem problema de obesidade. Outros estudos que embora não tivessem como foco principal o estudo da variável hostilidade no obeso mórbido, apontaram indícios da dificuldade da expressão de sentimentos hostis nesta população. Igoin e Apfelbaum (1982) notaram uma baixa tolerância à frustração procurando a solução dos conflitos de forma a não envolver outras pessoas (o fazem isoladamente, tendo ataques de comer compulsivamente, ou entrando em 81 mecanismo de autopiedade, culpa e negação). Destaco neste ponto, a utilidade para os profissionais que trabalham com obesos mórbidos em atentar para o fato destes utilizaram com relativa freqüência o mecanismo de defesa da negação. Estudos mais recentes reiteram a dificuldade de expressão de hostilidade pelos obesos mórbidos. Benedetti (2001), descobriu uma alta prevalência a não revidar agressões, a “engolir tudo”, a não brigar com ninguém e a guardar para si a mágoa resultante dos momentos de agressão (segundo a autora, estes depoimentos foram apontados por todos os participantes de sua pesquisa). Trecho da fala de um seu entrevistado parece exemplificar este fato: “Antes eu ficava achando que era o errado. Sempre pensava assim: eu sou gordo eu estou errado e eles estão certos. Então nem falava nada, só concordava”. Seguem a mesma direção das investigações de minha pesquisa outros achados de Benedetti (2001) como, por exemplo, semelhanças no que se refere ao aspecto de os obesos mórbidos reconhecerem que vivem para os outros não conseguindo colocar limites, vivendo a preocupação pelas necessidades alheias (mostrando-se disponíveis para ajudar quem solicitasse ou mesmo procurando ter atitudes de subserviência). Outra convergência entre os dois estudos: a revelação da hipótese de que após o emagrecimento, poderia haver por parte dos obesos um incremento da hostilidade (em alguns de forma até certo ponto descontrolada). Benedetti atesta que após a cirurgia os obesos relatam que houve aumento de sua parte na manifestação de hostilidade nos relacionamentos interpessoais. Tal fato foi constantemente por mim observado no trabalho de seguimento 82 psicoterapêutico com obesos mórbidos no pós-cirúrgico imediato e posterior (período compreendido até 2 anos de pós-cirúrgico). A confirmar dados de hostilidade não expressa, outra pesquisa (Anaruma, 1995) reconhece a presença camuflada dos sentimentos de hostilidade nas mulheres obesas que foram submetidas à investigação dentro do trabalho em grupo para apoio emocional de obesas. Trabalhos conduzidos por Duckro et al. (1983) com obesos mórbidos do sexo feminino mostram vestígios de hostilidade encoberta com a presença freqüente de traços neuróticos (depressão, hipocondria, baixa auto-estima e falta de habilidades sociais). Especificamente, notou-se um nível mínimo de assertividade, com a supressão da expressão de raiva, que era autodirigida. A hostilidade encoberta pode aparecer nos obesos sob a forma de comer demais, representando uma espécie de autopunição em que a hostilidade descontrolado é dirigida pode para simbolizar dentro. um Paradoxalmente, controle pobre de o apetite respostas comportamentais de agressividade, de hostilidade ou raiva, que poderiam ou deveriam encontrar sua via de expressão de forma direta e aberta (Gold, 1976). Em 1997 (decorridos 15 anos da pesquisa de Duckro et al., realizada no ano de 1983), Hafner e seus colaboradores.conduziram uma réplica deste estudo alcançando resultados semelhantes. Os autores enunciaram as seguintes conclusões: índice mais alto de hostilidade encoberta, insatisfação conjugal, ansiedade fóbica e depressão nas obesas do que na população de não obesas estudadas. A expressividade da hostilidade em minha pesquisa foi maior no grupo feminino do que no masculino, 83 sugerindo, que na amostra dos pacientes de Maringá, as mulheres têm a tendência a demonstrar mais abertamente suas insatisfações que os homens, mesmo na população de obesos mórbidos. Entre 1982 e 1985, Larsen e Torgersen pesquisaram pacientes obesos mórbidos inscritos num serviço de avaliação psicológica para a realização da cirurgia de redução do estômago, com resultados que também indicaram neste grupo, a existência de dificuldades em expressão de sentimentos de hostilidade e agressividade além de taxa elevada de hipersensibilidade à crítica (Larsen e Torgersen, 1989). Ainda sob o ponto de vista de que possa haver uma diminuição da expressividade de sentimentos negativos nos obesos, Kahtalian (1992), observa que a agressividade nestes pacientes é muito reprimida. Para ele, muitas vezes essa agressividade manifesta-se psicopatologicamente como forma de enganar o médico ou outras pessoas, “fazer artes”, desfazer compromissos, boicotar o tratamento. Aprendi neste estudo que as possíveis variáveis intervenientes para a aquisição do comportamento de não expressar sentimentos negativos venham da história de vida desta população. Saliento a influência de padrões familiares em que é atribuído à comida um papel associado ao preenchimento de condições emocionais. Também se sobressai a variável da dificuldade em lidar com frustrações e conflitos, provavelmente modelada por padrões familiares. Em 1982, Igoin e Apfelbaum estudando estas características em obesos notaram que os dados mostraram que os obesos moderados e os obesos mórbidos têm atitudes opostas com relação à frustração. Enquanto 84 os obesos moderados tendem a ter reações agressivas dirigidas ao mundo exterior, os obesos mórbidos minimizam as frustrações ou procuram soluções que não envolvam outras pessoas, reagindo pela compulsão e sentimentos de autopiedade e culpa, utilizando-se com freqüência do mecanismo de negação.Esse grupo tende a minimizar suas necessidades ou tenta resolver o problema sem lançar mão do outro, o que pode significar tentativas de evitar relações interpessoais, especialmente aquelas que envolvem conflitos. Ao buscar a elucidação dos aspectos da expressividade emocional nos obesos mórbidos em comparação aos não obesos esta pesquisa procurou auxiliar os obesos e os profissionais que com eles trabalham, na tentativa de juntar esforços para essa batalha difícil que é conviver com a obesidade mórbida e sua realidade. B)Os obesos mórbidos e o prejuízo das interações sociais: O preconceito e o estigma marginalizam e expõem as pessoas fazendo-as se sentirem inferiorizadas e envergonhadas. Com o tempo, estes fatores passam a interferir significativamente na forma como se expressam e como se relacionam (Myers 1999; Myers, 2000; Rodrigues et al., 2000; Tangney et al., 1992). A pesquisa que conduzi evidenciou dados que vão ao encontro da hipótese da dificuldade no relacionamento interpessoal dos obesos mórbidos. Pode-se supor que o desenvolvimento destas dificuldades seja em conseqüência, entre outras coisas, da manifestação de atitudes pejorativas com relação a eles, tornando-se uma norma cultural arraigada. A crença popular apregoa que a obesidade é devida à falta de força de 85 vontade dos obesos. Eles são vistos como preguiçosos, desleixados e com problemas emocionais. As alegações dos obesos mórbidos para seu prejuízo social referemse, com bastante freqüência, a aspectos de perceberem o outro como hostil à sua presença, reparando no que eles comem, como eles se comportam, sendo alvo de chacotas e etc. Este dado se revelou positivo em minha pesquisa. Rand e MacGregor (1990) observaram em pacientes investigados no pré-operatório à gastroplastia a revelação de que os mesmos sentiam-se discriminados, sob vários aspectos: acesso aos meios de transporte público, conseguir vaga para um emprego, freqüentar locais públicos (principalmente restaurantes). Os pacientes, homens e mulheres, referiram preconceito nas relações pessoais, ridicularizações mascaradas por parte de amigos de trabalho e de crianças. Percebiam que seus filhos tinham vergonha de terem pais obesos, além de manifestarem dificuldade para relacionar-se com o sexo oposto. O seguimento da pesquisa acima apontou a relação obesidade e prejuízo social (Rand e MacGregor, 1990) A partir da perda de peso, quando já podem ser considerados magros, os pacientes passam a sentir uma significativa diminuição da discriminação e de pressão social. Após quatorze meses da cirurgia, os relatos dos mesmos pacientes mostraram que houve a diminuição sensível da noção de ser alvos de preconceito e discriminação. O estudo de Gortmaker e colaboradores de 1993 vem confirmar a Hipótese de que exista o prejuízo da vida social dos obesos. A investigação focalizou o estigma para com os obesos nas relações pessoais, de trabalho e 86 no ambiente em que vivem. Avaliando mais de 10.000 adolescentes e jovens adultos com problemas crônicos de saúde, incluindo aí os obesos, durante sete anos (1981 a 1988) descobriram que os efeitos das condições crônicas da obesidade não só afetavam a saúde, mas também as situações de desempenho escolar, de trabalho e as funções psicológicas. Ao isolarem-se das atividades sociais, quais os mecanismos de compensação que os obesos utilizam? Gold (1976) revela nos obesos a relação da comida como substituta (no âmbito da fantasia) para preencher necessidades não resolvidas de frustrações na vida, no trabalho, nas ambições sociais, insatisfações sexuais e tédio. A “fome” vem substituir os sentimentos apropriados de excitação, tristeza ou raiva. As dificuldades emocionais dos obesos mórbidos geram a ingestão alimentar excessiva, o que, de certa forma, pode cumprir um papel de complementar as lacunas das gratificações emocionais não realizadas. O comer excessivo gera o aumento e manutenção da obesidade e prejuízo da auto-imagem, colaborando para mais isolamento Examinei nesta pesquisa qual a autopercepção dos obesos, para entender se haviam ligações com os aspectos interpessoais. Esta característica foi verificada com a seguinte pergunta do Questionário: Sente-se diferente por ser obeso? Todos os obesos mórbidos responderam que sim. Em contrapartida, os participantes não obesos da pesquisa referiam-se aos mesmos com disfarçado sentimento de pena. Pesquisas têm demonstrado que os não obesos têm a tendência a julgar os obesos de forma geral como pessoas sem força de vontade, desqualificados etc. 87 A pesquisa de Benedetti (2001) referenda os argumentos acima. O item Interferência das Dimensões Corpóreas nas Relações com Outras Pessoas, que foi estudado pela autora, evidencia falas dos entrevistados referentes a apresentarem sentimentos de inferioridade e isolamento social. Além disso, cumpre notar como fator destacado, a impossibilidade de os pacientes da mostra por ela estudada em revidar agressões, bem como terem a tendência a fazer de tudo para agradar aos outros como forma de se relacionarem (isto foi investigado em minha pesquisa como pressuposto básico das dificuldades dos obesos mórbidos) que foram conclusivas neste aspecto. Tais dados colaboram para o retraimento social, verificado na pesquisa. Grande parte dos obesos deixou de freqüentar atividades sociais que implicassem em contato com outras pessoas, tais como as que foram verificadas nas pergunta 3 do Questionário: ir a restaurantes, freqüentar clubes, ir a bailes, ir a barzinhos/lanchonetes, por enorme receio de que os outros os julgassem negativamente como pessoas por terem a infelicidade de apresentarem um “corpo gordo”, que os condena. De fato, ser obeso atualmente assume a conotação de aberração, uma vez que a pressão cultural vem ao encontro da meta de se estar sempre jovem, saudável e magro (Fischler, 1995; Myers, 2000). Continuando a explorar a idéia acerca do prejuízo social dos obesos minha pesquisa também checou quais fatores que os obesos alegavam contribuir para deixar de sair. À pergunta do Questionário: Por que deixou de realizar atividades sociais, os cruzamentos de respostas mais significativos se apresentaram nos quesitos: sentir-se desconfortável em público; não encontrar roupas adequadas; as cadeiras e os móveis são 88 inadequados. Sugerem as evidências que os obesos mórbidos têm a percepção de que os outros os observam constantemente: alegaram que as pessoas reparam no que fazem e também que os outros reparam o que eles comem. Obesos mórbidos também deixam de realizar atividades sociais em função de terem vergonha de seu corpo. Assim, passam a freqüentar apenas os locais onde são obrigados a ir: buscar filhos na escola, trabalho, igreja. Essa carga de discriminação e preconceito coopera para um aumento de sofrimento psíquico e a crescente diminuição das habilidades sociais dos obesos (Valtolina, 1996). A conseqüência? Mais isolamento nos contatos sociais. Uma possível utilidade da pesquisa que conduzi decorre do aspecto que ela possa ser benéfica para a classe psicológica e médica (bem como outros profissionais envolvidos no manejo dos pacientes obesos mórbidos). Os achados deste estudo podem não somente acrescentar às pesquisas sobre expressão de hostilidade, como também informar pesquisadores clínicos e psicoterapeutas sobre procedimentos de intervenção. Parece-nos importante o papel dos psicólogos: não só avaliando psicologicamente o obeso, mas também podendo desenvolver no pré e pós - cirúrgico intervenções que auxiliem o paciente a oportunidade de autoconhecimento tendo então um preparo e suporte para poder alçar vôos maiores a respeito de sua identidade, aumentando significativamente o grau de enfrentamento perante as transformações do pós-cirúrgico imediato e em longo prazo. Pretendi com meu trabalho de pesquisa ajudar a extinguir a idéia já impregnada no imaginário social, de que a obesidade, entre as doenças crônicas, está “sob o controle voluntário de quem a tem” (Gortmaker et al., 89 1993). Afinal, os obesos não irão melhorar apenas com broncas e acusações preconceituosas e desinformadas. Que o digam as intermináveis reincidências nos tratamentos. Considero importante a esta altura, destacar nesta pesquisa o ponto que diz respeito à qualidade de vida e engajamento social dos obesos no período após a cirurgia, onde já tiveram redução significativa de peso. Rand e MacGregor (1990) demonstram que os obesos vão sentindo-se cada vez menos “perseguidos e estigmatizados” a partir desta perda de peso. Para Valtolina (1996), quando vão ficando mais magros, os obesos entrosam-se mais no grupo social, em função de perceber maior aceitação por parte do outro. Outro ponto que remete a reflexões sobre o estigma da obesidade, diz respeito a questões de gênero. Dados estatísticos e observações clínicas empíricas no trabalho com a obesidade parecem demonstrar que as mulheres sofrem mais que os homens por estarem “fora dos padrões ditados pelas normas culturais vigentes”. A discriminação sofrida pelos obesos mórbidos acentua-se ainda mais quando se trata das mulheres. O novo século deve permitir o estabelecimento de espaços individuais e sociais cada vez mais livres e abrangentes para que as mulheres possam descobrir e fazer o que querem, e não o que os outros querem dela (Stenzel, 2000). Quanto à análise de características psicológicas específicas dos obesos mórbidos, os estudiosos são unânimes em afirmar que dificilmente se encontraria um consenso sobre o perfil psicológico clássico dos obesos mórbidos (Ochmann, 1998; Buschiazzo e Saez, 1997; Stunkard e Wadden, 90 1992; Larsen e Torgersen, 1989). Isto, porém, não invalida o sofrimento emocional severo a que estão submetidos. Ao contrário: “a obesidade cria uma gigantesca carga psicológica (...) em termos de sofrimento, esta carga pode ser o efeito mais adverso da obesidade” (Stunkard e Wadden, 1992, p. 524). Com relação às principais dificuldades emocionais ocasionadas pelo fato de ser obeso mórbido, apesar de os obesos referirem a desconfortos apenas no sentido físico e/ou social, observou-se que eles sempre se referiam a episódios de depressão vivenciados ao longo da vida. O Questionário que elaborei contemplou uma pergunta sobre quais as principais dificuldades emocionais que os obesos já haviam tido. Grande parte deles já haviam passado por um ou mais períodos de depressão. Isto está em conformidade com outros estudos (Deitos et al., 1995; Grana et al. 1989; Ochmann, 1998; Segal, 1999; Terra, 1997). Finalizando, procurei com este estudo demonstrar a dificuldade de expressividade emocional (hostilidade encoberta) dos obesos mórbidos e o prejuízo nas suas interações sociais, verificando assim o grau de dificuldade e isolamento nos quais se encontram essas pessoas com as quais convivemos sem nos dar conta destes prejuízos. A pesquisa procura prover alguma compreensão pesquisas futuras. sobre o problema, propiciando alicerces para 91 CONCLUSÕES Estudar a obesidade e principalmente a obesidade mórbida requer que os profissionais tenham visão multidisciplinar para uma efetiva compreensão da patologia. Há desta forma a necessidade de que cada área envolvida desenvolva contribuições para o aumento do conhecimento sobre a obesidade mórbida e principalmente, sobre as pessoas que padecem desta patologia. Aspectos psicológicos, biológicos e sociais não devem ser considerados isoladamente. É fundamental ao profissional envolvido numa relação sensível com o seu paciente, desenvolver um olhar abrangente, que diferencie os vários fatores envolvidos na história do desenvolvimento de sua doença. A importância destes aspectos não reside só no descobrir sua efetividade, mas aumentar as taxas de informação que ajudem a gerenciar ou até mesmo prevenir o estigma, a discriminação e até mesmo as acusações injustas que recaem sobre a população de obesos mórbidos. Revelar os mecanismos psicológicos que envolvem a população de obesos mórbidos e a associação destes com suas relações interpessoais, teve como finalidade propiciar um aumento de conhecimento existente sobre estes aspectos, bem como prover a comunidade profissional que trabalha com estes clientes de informações relevantes acerca do lado emocional e os prejuízos sociais a que estão submetidos. Acredito com isto ampliar o campo do trabalho com esta população, primeiro com relação aos psicólogos que deixariam de lado, definitivamente, apenas o papel de avaliadores e testadores (no que diz respeito ao pré-operatório da gastroplastia). 92 Quanto à comunidade científica (englobando-se aí, os médicos clínicos, os cirurgiões, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais, treinadores físicos), os benefícios iriam ao encontro do aumento de informação sobre o funcionamento psíquico desta população, para que se possa trabalhar melhor com os obesos. Futuras pesquisas no que diz respeito ao delineamento e levantamento de dados acerca dos aspectos psicológicos da obesidade na população de obesos mórbidos principalmente, devem levar em conta a fragilidade da coleta de dados baseada apenas no relato verbal do próprio participante (Miller et al., 1995). O grau de comprometimento emocional do obeso mórbido influencia de maneira bastante importante na dificuldade de o mesmo poder perceber e caracterizar quais suas reais limitações neste âmbito. Desenvolvimento de estudos sobre alexitimia e sua relação com os obesos mórbidos pode ser bastante útil neste aspecto em particular. A hipótese de que as respostas de hostilidade nos obesos mórbidos eram significativamente diferentes (a menor) do que nos não obesos foi comprovada neste estudo. Recomenda-se, porém, a replicação da investigação em populações de outras regiões do país, onde divirjam as condições culturais para a expressividade emocional em obesos mórbidos e não obesos. Por fim, espera-se que esta investigação reforce a proposta das áreas sociais e humanas, de que, em pleno início de novo século, não se tenham perante outros seres humanos estigmas que reduzam e inviabilizem a capacidade enxergá-los plenamente. 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abreu, P. B. (1986). 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Profissão: _____________________________________________________ (..)Aposentado Qual profissão____________________________________ ( ) Não está trabalhando atualmente, mas já trabalhou. Em qual profissão Se não está trabalhando atualmente, não o faz: ( ) Por opção ( ) Em função de não conseguir emprego (..) Por questões relativas à obesidade. Quais?_________________________________________________________ QUESTÕES 1. Pratica atividades Sociais: 1.1 Reunir-se com amigos Sim Não 1.2 Ir a restaurantes Sim Não 1.3 Freqüentar clubes Sim Não 1.4 Ir a barzinhos/lanchonetes Sim Não 1.5 Assistir filmes no cinema Sim Não 1.6 Ir a bailes Sim Não 1.7 Outras Sim Não 105 2. Freqüência com que realiza suas atividades sociais: 2.1 Semanal Sim Não 2.2 Quinzenal Sim Não 2.3 Mensal Sim Não 2.4 Outros Sim Não 3.Atividades sociais que você deixou de realizar em função da obesidade: 3.1 Reunir-se com amigos Sim Não 3.2 Ir a restaurantes Sim Não 3.3 Freqüentar clubes Sim Não 3.4 Ir a barzinhos/lanchonetes Sim Não 3.5 Assistir filmes no cinema Sim Não 3.6 Ir a bailes Sim Não 3.7 Outras Sim Não 4. Se você respondeu afirmativamente a alguma opção da pergunta anterior, relacione o motivo: Sim Não 4.2 Não encontra roupas adequadas para ocasiões sociais Sim Não 4.1 Sente-se desconfortável em público 4.3 Tem dificuldade em encontrar cadeiras ou móveis seguros e adequados ao seu tamanho Sim Não 4.4 Acha que as pessoas ficarão reparando em tudo o que você fizer Sim Não 4.5 Acha que as pessoas ficarão reparando em tudo o que você for comer 4.6 Tem vergonha de seu corpo Sim Não Sim Não 106 5 Como você acredita que os outros o(a) vêem: 5.1 Uma pessoa simpática Sim Não 5.2 Uma pessoa sincera, amiga, protetora Sim Não 5.3 Alguém sem força de vontade e persistência Sim Não 5.4 Um(a) lutador(a) Sim Não 6. Nos relacionamentos com as pessoas você: 6.1 Sente que tem amigos(as) verdadeiros(as) Sim Não 6.2 Sente-se desconfortável Não Sim 6.3 Percebe-se como alguém diferente por ser obeso(a)Sim Não 7. Você já teve algum problema psicológico em função da obesidade: 7.1 Sim Qual?______________________________________________ 7.2 Não 8. Quando você não concorda com alguma coisa que lhe fazem: 8.1 Expressa que não concordou Sim Não 8.2 Espera outra oportunidade para mostrar sua insatisfação Sim 8.3 Não demonstra sua insatisfaçãoSim Não Não 9. Você conquistou novos amigos nos últimos dois anos Sim Não Não 10. Você tem facilidade em manter os (as) amigos(as) Sim 11. Você se julga responsável pelos sentimentos, pensamentos ações, escolhas, necessidades, bem-estar de outras pessoas? Sim Não 107 12. Se não concorda com algo que alguém está lhe dizendo, você: 12.1 Diz sempre o seu ponto de vista Sim Não 12.2 Às vezes diz à pessoa seu ponto de vista Sim Não 12.3 Procura ser complacente e aprovador(a) Sim Não 13. Quando está ressentido com alguma pessoa por algo que ela lhe fez, você costuma: 13.1 Mostrar-lhe o seu ressentimento de forma Sim Não justificar o comportamento dela Sim Não 13.3 Não demonstrar o ressentimento Sim Não direta e franca 13.2 Mostrar-lhe o seu ressentimento tentando 13.4 Demonstra seu ressentimento apenas pela expressão gestual e facial (Não verbalmente) Sim Não 14. Imagine que você está na rua fazendo alguma coisa e um policial o(a) aborde e fale alto com você, acusando-o (a) de algo que não é sua culpa. Sua provável reação seria: Sim Não 14.2 Ficar bravo(a) e irritado(a), e guardar para você Sim Não 14.3 Não ficar bravo(a) ou irritado(a) Não 14.1 Ficar bravo(a) e irritado(a), e demonstrar isso Sim 15. Agora, suponha que você ficou bravo(a) ou irritado(a) (quando policial o(a) aborda e fala...) e demonstrou isso ao guarda Você se sentiria: 15.1 Muito culpado(a) ou triste 15.2 Razoavelmente culpado(a) ou triste 15. 3 Um pouco culpado(a) ou triste 15.4 Não se sentiria culpado(a) ou triste 108 16. Quando lhe pedem para fazer alguma coisa, e você, no momento está ocupado(a): 16.1 Explica que está ocupado(a) e num momento oportuno poderá realizar a tarefa Sim Não Sim Não 16.2 Aceita realizar a tarefa, mesmo que isso lhe acarrete uma sobrecarga de trabalho 17. Quais situações que geralmente costumam deixá-lo(a) mais irritado(a): Sim Não 17.2 Quando tem que adiar a satisfação de alguma necessidade Sim Não 17.3 Quando o(a) julgam de forma negativa Sim Não 17.4 Quando são injustos com você Sim Não 17.5 Quando não confiam em você Sim Não 17.1 Quando deseja alguma coisa e não consegue alcançá-la QUESTÕES ABERTAS: 1. Quais têm sido suas maiores dificuldades emocionais em decorrência da obesidade?_________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2. Nos relacionamentos interpessoais, você acha que as pessoas são injustas ao discriminar os obesos? Quais os sentimentos que você tem quando percebe a discriminação? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 3. Que mensagem você daria aos meios de comunicação e à sociedade em geral, que pressionam as pessoas a terem um determinado padrão corporal e de beleza? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Maringá,.../.../... Assinatura do Entrevistador: ...................................... 109 Anexo B QUESTIONÁRIO 2: NÃO OBESOS Aspectos Psicológicos e Interações Sociais na Obesidade Mestrado Interinstitucional Psicologia Social e da Personalidade PUCRS e UNIPAR 1. I D E N T I F I C A Ç Ã O : Participante Número: ____ Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino Idade: _____ Peso Atual: kg____ g __ Altura: ___m ___cm IMC: ________ Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) Outro Escolaridade: ( ) Primeiro Grau Incompleto ( ) Primeiro Grau Completo ( ) Segundo Grau Incompleto ( ) Segundo Grau Completo Renda familiar: ( ) até 03 s.m. (salários mínimos) ( ) de 05 a 10 s.m. ( ) de 03 a 05 s.m. ( ) de 10 a 20 s.m. Profissão:_____________________________________________________ ( )Aposentado Qual profissão_____________________________________ ( ) Não está trabalhando atualmente, mas já trabalhou. Em qual profissão Se não está trabalhando atualmente, não o faz: ( ) Por opção ( ) Em função de não conseguir emprego ( ) Por outras razões. Quais? ______________________________________ ______________________________________________________________ QUESTÕES 1. Pratica atividades Sociais: 1.1 Reunir-se com amigos Sim Não 1.2 Ir a restaurantes Sim Não 1.3 Freqüentar clubes Sim Não 1.4 Ir a barzinhos/lanchonetes Sim Não 1.5 Assistir filmes no cinema Sim Não 1.6 Ir a bailes Sim Não 1.7 Outras Sim Não 110 2. Freqüência com que realiza suas atividades sociais: 2.1 Semanal Sim Não 2.2 Quinzenal Sim Não 2.3 Mensal Sim Não 2.4 Outros Sim Não 3. Como você acredita que os outros o(a) vêem: 3.1 Uma pessoa simpática Sim Não 3.2 Uma pessoa sincera, amiga, protetora Sim Não 3.3 Alguém sem força de vontade e persistência Sim Não Sim Não 3.4 Um(a) lutador(a) 4. Nos relacionamentos com as pessoas você: 4.1 Sente que tem amigos(as) verdadeiros Sim Não 4.2 Sente-se desconfortável Sim Não 4.3 Percebe-se como alguém diferente Sim Não 5. Você já teve algum problema psicológico que considerasse mais sério? 5.1 Sim Qual?_________________________________________________ 5.2 Não 6. Quando você não concorda com alguma coisa que lhe fazem Sim Não sua insatisfação Sim Não 6.3 Não demonstra sua insatisfação Sim Não 6.1 Expressa que não concordou 6.2 Espera outra oportunidade para mostrar 111 7. Você conquistou novos amigos nos últimos dois anos Sim Não Sim Não 8. Você tem facilidade de manter os (as) amigas 9. Você se julga responsável pelos sentimentos, pensamentos ações, escolhas, Sim necessidades, bem-estar de outras pessoas? 10. Se não concorda com algo que alguém está 10.1 Diz sempre o seu ponto de vista 10.2 Às vezes diz à pessoa seu ponto de vista 10.3 Procura ser complacente e aprovador(a) Não lhe dizendo, você: Sim Não Sim Não Sim Não 11. Quando está ressentido(a) com alguma pessoa por algo que ela lhe fez, você costuma: 11.1 Mostrar-lhe o seu ressentimento de forma direta e franca Sim Não 11.2 Mostrar-lhe o seu ressentimento tentando justificar o comportamento dela Sim Não 11.3 Não demonstrar o ressentimento Sim Não 11.4 Demonstra seu ressentimento apenas pela expressão gestual e facial (Não verbalmente) Sim Não 12. Imagine que você está na rua fazendo alguma coisa e um policial o(a) aborde e fale alto com você, acusando-o(a) de algo que não é sua culpa. Sua provável reação seria: 12.1 Ficar bravo(a) e irritado(a), e demonstrar isso Sim Não 12.2 Ficar bravo(a) e irritado(a), e guardar para você Sim Não 12.3 Não ficar bravo(a) ou irritado(a) Sim Não 13. Agora, suponha que você ficou bravo(a) ou irritado(a) isso ao guarda. Você se sentiria: 13.1 Muito culpado(a) ou triste Sim Não 13.2 Razoavelmente culpado(a) ou triste Sim Não 13.3 Um pouco culpado(a) ou triste Sim Não 13.4 Eu não me sentiria culpado(a) ou triste Sim Não e demonstrou 112 14. Quando lhe pedem para fazer alguma coisa, e você, no momento está ocupado(a): 14.1 Explica que está ocupado(a) e num momento oportuno poderá realizar a tarefa Sim Não Sim Não 14.2 Aceita realizar a tarefa, mesmo que isso lhe acarrete uma sobrecarga de trabalho QUESTÕES ABERTAS: 1. Quando você vê um(a) obeso(a) em um lugar público, como um restaurante, por exemplo, quais suas primeiras impressões sobre ele(ela)?__________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 2. A seu ver quais os pontos fracos que os(as) obesos(as) apresentam para realizar uma dieta?____________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 3. Como você descreveria a personalidade de uma pessoa obesa?____________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ 4. Que mensagem você daria aos meios de comunicação e à sociedade em geral, que pressionam as pessoas a terem um determinado padrão corporal e de beleza?___________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ Maringá,..../..../.... Entrevistador:......................................................... 113 Anexo C CONSENTIMENTO INFORMADO O presente projeto de pesquisa do Programa de Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade, realizado pela PUCRS e a UNIPAR, tem por objetivo estudar aspectos psicológicos relacionados aos obesos bem como questões relativas a sua interação social. Os dados e resultados, ao serem publicados, respeitarão integralmente o sigilo e a ética inerentes ao trabalho do psicólogo,para preservar e respeitar o direito de privacidade individual de cada participante da pesquisa. A participação na pesquisa não oferece risco nem prejuízo às pessoas envolvidas. A pesquisadora se compromete a oferecer esclarecimentos devida e adequadamente diante de qualquer dúvida ou necessidade que eventualmente os participantes venham a ter. Se no decorrer do trabalho um(a) participante resolver não mais cooperar, terá toda a liberdade de o fazer, sem que isso acarrete qualquer prejuízo quanto à continuidade dos cuidados e tratamentos que, como paciente, vinha recebendo do hospital. A pesquisa se realizará sob a responsabilidade da psicóloga Cristina Di Benedetto, CRP 08/04609, com endereço à Rua Silva Jardim, 386, sala 05, Maringá-PR, telefone 224 9739, mestranda do referido Programa de Mestrado. Após ser devidamente informado sobre o trabalho da pesquisadora, concordo em participar desta pesquisa. Maringá, ----------------------------------Participante da Pesquisa de de 2001. --------------------------------Pesquisadora