América Latina: o universo das diferenças ou o elogio do anticânone. Coordenadores: BETINA RIBEIRO RODRIGUES DA CUNHA, MÁRIO CEZAR SILVA LEITE “A crítica tradicional – ortodoxa, compartimentada em rótulos, visões circunstanciais, recortes e pormenores que, muitas vezes, cristalizam o objeto e a análise literária - acaba por não privilegiar aspectos importantes do entendimento e das reflexões estéticas e artísticas, valorizando somente produções simétricas e isomorfas, alinhadas a juízos de valor padronizados que desconsideram as relações e ambiguidades inerentes ao próprio homem, ao seu processo contínuo de se reconhecer e se construir a partir dos elementos e contradições que o identificam e, ao mesmo tempo, justificam sua busca, sua expressão e suas manifestações culturais. Nesse sentido, o Simpósio aqui apresentado espera revisitar as interrogações e exercícios escriturais, significativos de culturas outras, distanciadas dos eixos convencionais, cujo conteúdo revela aspectos de uma essência dinâmica, plural e reveladora de um Outro – às vezes desconhecido, às vezes obscuro ou hermético ou lacunar mas essência de um Eu que busca se impor e se conservar pela palavra e por uma escritura substantiva. Esta investigação-provocação insiste em legitimar a valorização do regional, do local e do fronteiriço e do universal como elementos imprescindíveis para se determinar e reconhecer as identidades recriadas. Essas destituem a cristalização canônica, alçando o “anticânone” ( assim considerado pelos mais tradicionais e ortodoxos ...) à condição de um olhar privilegiado da cultura e do “elogio da diferença”. As reflexões contemporâneas acerca das noções de espaço, alteridade, fronteira, uiniversalidade e transculturação, visam a uma correlação dentre essas mesmas na perspectiva de entendimento das diferenças e das identificações, dentro de uma formulação do reconhecimento de nós mesmos, sujeitos de identidades híbridas, mestiças, fronteiriça e latinas. Enfatiza Walter MIGNOLO (2003), que um novo conceito de razão está-se construindo com vista aos loci diferenciais de enunciação, o que significa um deslocamento das práticas e das noções de conhecimento, ciência, teoria e compreensão articuladas no período moderno. Daí, a ulterior formulação reflexiva da colonialidade e saberes subalternos, ao elaborar a crítica das histórias locais e projetos globais: “os povos e comunidades têm o direito de ser diferentes precisamente porque ‘nós’ somos todos iguais em uma ordem universal metafísica, embora sejamos diferentes no que diz respeito à ordem global da colonialidade do poder.” Conforme ainda W. MIGNOLO (Histórias locais / Projetos globais (2003):“(...) a literatura e as teorias pós-coloniais estão construindo um novo conceito de razão como loci diferenciais de enunciação. O que significa “diferencial”? Diferencial significa aqui um deslocamento do conceito e da prática das noções de conhecimento, ciência, teoria e compreensão articuladas no decorrer do período moderno.” (MIGNOLO, 2003, p.167).Para o crítico literário, a fortuna de um escritor não resulta tão somente das condições que garantiram o sucesso e divulgação “universal” de suas obras; para uma justa valoração das obras e autores, interessa verificar aquilo que os torna originais e o vate de um lugar, um espaço, uma localização. Assim, no caso da literatura brasileira, experimenta-se delinear como as diversidades regionais se articulam com o todo nacional e o constroem – lembrando que, assim como a nação, a região é também uma tradição inventada. (SENA, 2003, p.135). Acredita-se, então, interessar ao crítico da modernidade, comparatista ou não, a noção de região, considerada em seu processo de constituição e de acentuação de peculiaridades locais, aproxima-se à de nação, pois que adota idênticos procedimentos de construção e de afirmação. O regionalismo aparece na ficção, sublinhando as particularidades locais e mostrando as várias maneiras possíveis de ser brasileiro. (CARVALHAL, 2003, p. 144-145). Sob outro viés, e apesar de se aludir, em retomada, ao "regionalismo", pretende-se pensar a ideia/proposta de "literatura e produção artistico cultural" seja dos nossos locais, de outros muitos locais, dos diversos locais latino-americanos, ou das Américas, pelos caminhos da inclusão, da literatura de resistência, dentre outros mecanismos de suporte e instrumentalização identitária. Espera-se, assim, receber trabalhos que reflitam além dos já conhecidos binarismos e rótulos, realçando, por exemplo, uma perspectiva de "crítica" e revisão, ressemantizadas em função de um projeto – “cogito” moderno. Finalmente, neste Simpósio questiona-se, em última análise e em contrapartida, o que é ser, e porque é importante ser universal? O que é efetivamente universal? Como e porque se passa do entendimento e assunção do regional para o universal? ReferênciasCARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio – Ensaios de literatura comparada. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003. p. 125-152._________. Lugar e função da literatura comparada nos processos de integração cultural. GLÁUKS – Revista de Letras e Artes / UFV. Viçosa, n.4, , jan./jun. 2000, p. 13-20. MIGNOLO, Walter D. Histórias locais / Projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. PAGEAUX, Daniel-Henri. Musas na encruzilhada: Ensaios de Literatura Comparada (Coordenação de Marcelo Marinho, Denise Almeida Silva e Rosani Umbach). Santa Maria-RS: Editora da UFSM / URI. 2011SENA, Selma Custodia. Interpretações dualistas do Brasil. Goiânia: Editora UFG, 2003.