GT HISTORIOGRAFIA DA LINGUÍSTICA BRASILEIRA Plano de Atividades para o Biênio 2014-2016 COORDENAÇÃO: Ricardo Cavaliere (UFF) Dieli Vesaro Palma (PUC-SP) PLANO DE ATIVIDADES PARA O BIÊNIO 2014 – 2016 Relacionamos abaixo as informações sobre projetos de pesquisa e atividades acadêmicas previstas para o biênio 2014-2016, segundo informação prestada pelos membros do GT. 1. Grupo de Pesquisa Historiografia da Língua Portuguesa do IP-PUC/SP (Instituto de Pesquisas Linguísticas “Sedes Sapientiae” para Estudos de Português da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) – cadastrado no CNPq desde 1996. Projetos: a) publicação do livro História Entrelaçada 7; b) retomada do projeto para publicação do livro projeto Primeira pessoa – linguistas brasileiras; c) retomada do projeto para publicação do livro Estudo das gramáticas produzidas no século XXI. 2. CEDOCH-DL-USP SUBEQUIPE: Olga Coelho Bruna Polachini (doutoranda) Stela Danna (mestre) Júlia de Crudis (mestranda) Patrícia Borges (mestranda) Wellington Santos (mestrando) Rebecca Tamachiro (graduanda) Continuidade do Projeto Documenta: Português Equipe: Olga Coelho Bruna Polachini (doutoranda) Stela Danna (mestre) Júlia de Crudis (mestranda) Patrícia Borges (mestranda) Wellington Santos (mestrando) Proposta: Documenta grammaticae et historiae Português: Projeto de Documentação Linguística e Historiográfica (séculos XVI a XIX). Descrição: Esta proposta, valendo-se desse substrato constituído ao longo de 24 meses, visa a uma da expansão do escopo documental do Projeto Documenta em direção a um corpus representativo de textos que descrevem a língua portuguesa e ao aprimoramento dos processos técnicos que permitirão superar dificuldades encontradas nos mecanismos de estruturação e gerenciamento do sistema computacional do site que agrega os resultados alcançados até o momento. Simultaneamente a esses dois objetivos relacionados ao tratamento e à disponibilização de fontes para a Historiografia Linguística, a proposta também contempla a investigação, por meio do estudo da metalinguagem, do processo de formação, a partir do século XIX, de uma escola brasileira de descrição gramatical do português. Neste biênio, além do projeto Documenta: Português, a mesma subequipe pretende desenvolver o seguinte novo projeto: Formação institucional da área de Letras e Linguística. Descrição: O projeto acompanha os diferentes movimentos que propiciaram a institucionalização da área de estudos sobre a linguagem no Brasil, enfatizando os primeiros passos dados nessa direção durante os séculos XIX e XX. Acredita-se que – ao lado de pressupostos teóricos, métodos, dados linguísticos, contextos sócio-políticos gerais – a dinâmica institucional, mapeável a partir da constituição e do funcionamento de associações científicas, instituições de ensino e pesquisa, publicações periódicas, intercâmbios, constitua dimensão relevante para a compreensão das continuidades e descontinuidades na produção do conhecimento e tenha implicações diretas sobre sua maior ou menor aceitação junto aos pesquisadores, isto é, sobre o sucesso ou fracasso de tal conhecimento no âmbito acadêmico. O projeto, assim, promove a preparação de fontes documentais confiáveis para essa historiografia institucional e a descrição e interpretação de alguns de seus momentos-chave no que diz respeito ao Brasil. 3. Cândida Barros e Ruth Monserrat Plano de trabalho para 2014-2016 “Manuscritos sobre a Língua Geral da Amazônia escritos por jesuítas estrangeiros (1750-1759): análise e edição de um catecismo e um dicionário". Análise sociolingüística histórica e edição de manuscritos sobre a língua geral da Amazônia, escritos por jesuítas da Europa Central que chegaram à Amazônia entre 1750 e 1753. Os documentos são Doutrina christaã em lingoa geral dos Índios do Estado do Brasil e Maranhão, composta pelo P. Philippe Bettendorff, traduzida em lingoa geral e irregular, e vulgar usada nesses tempos; ms.1089, da Biblioteca da Universidade de Coimbra e um dicionário em língua geral de 1756 da Biblioteca Municipal de Trier n.1136 (Alemanha), localizado recentemente. O projeto tem apoio do CNPq ( processo 472300/2012-1). 4. Ricardo Cavaliere Desenvolvimento do projeto “Terminologia linguística em gramáticas brasileiras do século XIX. Apresentação A pesquisa sobre historiografia da linguística constitui tarefa em franca expansão neste início de século, fato que se reflete concretamente no conjunto de novas teses sobre o tema que vêm sendo defendidas nos programas de pós-graduação em Letras e Linguística das principais universidades brasileiras. A pesquisa historiográfica cumpre o relevante papel de conduzir o foco de reflexão para os fatores epistemológicos vinculados à investigação linguística, além de contribuir decisivamente como disciplina que recupera e preserva a memória do fazer científico em diversas áreas afins, como as da Filologia e da Pedagogia, esta com especial enfoque na didática da língua nacional. Há ainda uma viva efervescência de novas pesquisas desenvolvidas por vários historiógrafos da linguística que se integram em um amplo projeto nacional, cuja expressão concreta está nos planos de trabalho que o GT de Historiografia da Linguística Brasileira vem elaborando ao longo do tempo no âmbito da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Letras e Linguística (Anpoll). Dentro do panorama da pesquisa linguístico-historiográfica, faz-se necessário um projeto que vise a levantar e comentar a terminologia linguística que, em sua diversidade, habitava as páginas dos estudos sobre a língua no século XIX. Podem-se oferecer razões claras e objetivas sobre a conveniência ou mesmo a imperatividade da pesquisa em questão, que se expressam da seguinte forma: 4.1 A relevância do século XIX na gramaticografia brasileira. O século XIX vê nascer efetivamente uma atividade linguístico-descritiva no Brasil, razão por que, do ponto de vista historiográfico, constitui um momento decisivo para a construção do pensamento linguístico nacional. Antes, como sabemos, a atividade intelectual brasileira, na área da linguagem humana, restringia-se a textos pontuais que desde o século XVI se vinham produzindo na área das línguas indígenas, especificamente as gramáticas missionárias sobre língua geral1, a par de textos descritivos esparsos sobre línguas africanas no Brasil2, com aqueloutro texto de cunho de pedagógico saído da iniciativa de jesuítas envolvidos com a questão educacional no Brasil colonial3. Falar em gramática brasileira de língua portuguesa, assim, impõe remontar aos primeiros anos do século XIX, quando efetivamente começam a moldar-se as bases de um pensamento linguístico nacional. Com efeito, dois fatos políticos dos Oitocentos, de grande repercussão para a vida cultural do Brasil, criaram o ambiente favorável para que os naturais da terra se interessassem em escrever textos descritivos e normativos – bem mais normativos do que descritivos, saliente-se – sobre a língua portuguesa: a transferência da Corte para o Novo Mundo e a declaração de independência da colônia em 1922. Esses atos integram a construção das bases culturais e, sobretudo, educacionais necessárias para a formação de mentes linguísticas no seio da sociedade brasileira, objeto esse que contou com a progressiva disseminação do ensino básico a partir da chegada da 1 Em especial, Anchieta (1990 [1595]), Figueira (1687 [1621]) e Mamiani (1877[1699]). Citem-se, particularmente, dois textos, o primeiro escrito pelo jesuíta Pedro Dias (1697), o segundo escrito por António da Costa Peixoto (1945 [1741]) 3 A rigor, pode-se citar tão somente o Cartapácio de sílaba, manual pedagógico escrito por Mathias Rodrigue Portella (1788). 2 Corte de D. João VI e o incremento do espírito nacionalista que naturalmente exsurgiu com a nova ordem institucional do Império. O primeiro texto gramatical de autor brasileiro, não obstante publicado em Coimbra, é o Epítome de gramática da língua portuguesa, de autoria do carioca Antonio de Morais Silva (1806). Esse trabalho inaugura o período racionalista dos estudos linguísticos brasileiros, que segue até a publicação da Gramática portuguesa, de Júlio Ribeiro (1881), quando se inicia o período científico4. O projeto, naturalmente, cobrirá os autores e obras dos dois períodos 4.2 A questão da metalinguagem no plano da contextualização Em seus estudos hoje clássicos sobre os princípios fundamentais da meta- historiografia linguística, Konrad Koerner5 dedica especial interesse ao problema da metalinguagem como fator crucial para o entendimento correto e justo do texto linguístico antigo. Adverte o historiógrafo alemão que a metalinguagem residente nas obras linguísticas do passado deve ser entendida à luz dos conceitos teoréticos próprios da época, que por sua vez integram-se em uma generalização concepção das coisas, seja no plano científico, seja no plano político, artístico, filosófico etc. Daí, propõe-se uma leitura contextualizada do texto antigo segundo este clima intelectual (climate of opinion) - também diríamos esta episteme (cf. Foucaut, XXX) – que traça o perfil de uma época. Nesse sentido, evidencia-se que o conceito linguístico que muitos termos usados por estudiosos do século XIX expressam não está na superfície semântica de uma leitura meramente textual, senão nas profundezas da intertextualidade decorrente do diálogo do trabalho linguístico-filológico com outros de natureza homóloga ou de natureza distinta, produzidos em áreas científicas afins. Ao deparar com esses metatermos ao longo da leitura de textos antigos, o pesquisador hodierno pode deixarse enganar pela interpretação superficial, com evidente prejuízo conceitual que decerto o levará a conclusões inidôneas. Cumpre, assim, diligenciar no sentido de que seja oferecida ao público iniciado em pesquisa linguística um trabalho que reúna os principais metatermos presentes em obras do século XIX, com as respectivas 4 5 Sobre a periodização dos estudos linguísticos no Brasil, leia Cavaliere (2002) e Elia (1975). Leia, especialmente, Koerner (1978, 1995) concepções teoréticas atinentes, inclusive no plano da divergência que caracterizava os textos da época, a fim de que se garanta a fidedignidade hermenêutica. 4.3 A adequação da metalinguagem Ainda a respeito da crucial questão da metalinguagem, tão bem tratada por Konrad Koerner e outros historiógrafos contemporâneos6, vale advertir que o pesquisador hodierno, ao deparar com metatermos na leitura de textos antigos, estabelece naturalmente um vínculo com a metalinguagem contemporânea, por si diversificada em razão da multifacetada dimensão que a linguística assume nos dias atuais. Assim, cabe ao historiógrafo da linguística zelar pela adequação7 idônea dos metatermos antigos, estabelecendo, na medida do possível, sua equivalência com metatermos contemporâneos, bem como suas distinções e desvios de caráter epistemológico. São comuns em textos linguísticos antigos ocorrerem termos que hoje já não gozam do mesmo conceito, ou mantém breve parentesco com o conceito original, razão por que o trabalho de adequação no plano metalinguístico revela-se essencial para uma pesquisa segura e fiel à teoria linguística aplicada. Em vários países, a pesquisa historiográfica já alcançou estágios de maior amadurecimento, com projetos de grande abrangência a que se filiam outros de cunho microscópico, não obstante relevantes para a complementação de teses genéricas. A North American Society for the History of the Language Sciences, a Societè d’Histoire et d’Epistemologie des Sciences du Langages e a Henry Sweet Society são exemplos expressivos dessa tendência. No Brasil, o GT de Historiografia da Linguística vinculado à Anppoll, além de grupos de estudo sobre a história das ideias linguísticas compostos por docentes da USP e da Unicamp, vêm cuidando dessa tarefa, em considerável esforço empreendedor, não obstante ainda não tenhamos uma instituição acadêmica que se ocupe exclusivamente das questões historiográficas. 4.4 6 A pesquisa linguístico-historiográfica contemporânea Citem-se Schmitter & Van der Wal (1998) e Swiggers (2014) Uso aqui o termo “adequação” segundo o sentido que lhe confere Koerner (1995), isto é, a correlação e correspondência entre os metatermos dos textos linguísticos antigos com os usados pela teoria linguística contemporânea. 7 Em suma, o interesse pela discussão dos temas vinculados ao percurso histórico do pensamento gramatical absorve hoje a atenção de vários pesquisadores, a julgar pelos inúmeros trabalhos que se vêm apresentando nos congressos e seminários que anualmente proliferam em nossa vida acadêmica. Nota-se ainda a atenção de pesquisadores de áreas afins, como a História, a Antropologia e a Sociologia, tendo em vista as ramificações que o estudo das ideias linguísticas pode oferecer ao investigador interessado nas humanidades em geral. Outra linha de abordagem da pesquisa historiográfico-gramatical diz respeito à criação de arquivos com originais de textos gramaticais, a par de acervos iconográficos, que constituem precioso inventário de documentos históricos, indispensáveis para a preservação da memória científica. O presente projeto busca ocupar-se de duas tarefas basilares: a) elaborar um glossário de metatermos na área da linguística, da filologia e da didática de língua vernácula presente em gramáticas e estudos sobre a língua portuguesa publicados no século XIX, mediante reprodução fidedigna de definições e juízos elaborados pelos próprios autores; b) traçar comentário crítico acerca da vinculação semântica entre os metatermos arrolados e os que se utilizam na linguística contemporânea, de tal sorte que se estabeleçam as necessárias equivalências e distinções de seu emprego na exposição dos fatos da língua e na construção do saber linguístico em órbita doutrinária. 5. Cristina Altman Proposta 1: Conclusão dos projetos relacionados à Guerra Fria Estruturalista Linha de pesquisa (do GT): Teorias e métodos do século XX Participantes: Cristina Altman (CPF 843 350178-04) CEDOCH- DL/USP Edgard Santana Bikelis (CPF 351.745.978-05) CEDOCH- DL/USP - CAPES Lygia Rachel Testa Torelli (CPF 311.486.128-82) CEDOCH- DL/USP - CAPES Resumo descritivo: Estudo do ‘modelo saussuriano’ de pesquisa linguística no seu contexto investigativo e didático, por ocasião do centenário da publicação da ‘vulgata’ do Curso de Lingüística Geral (1916), de Ferdinand de Saussure (1857–1913). Almeja-se a revisão e (re)interpretação dos principais conteúdos saussurianos, conceitos e estratégias didáticas, tanto daqueles recorrentes nos cursos de lingüística geral (1907-1911), como daqueles emergentes na sua opera prima, o Mémoire, de 1879. Cronograma de trabalho: Guerra Fria Estruturalista: estudos saussurianos 2014-2015: conclusão dos estudos saussurianos em andamento, de forma associada às atividades regularmente promovidas pelos pesquisadores do CEDOCH- DL/USP; 2015-2016: organização de um evento comemorativo dos 100 anos da publicação do Curso de Linguística Geral (1916), de forma associada às atividades previstas pelo Projeto de Historiografia Linguística da ALFAL. Proposta 2: Conclusão dos projeto Documenta Grammaticae et Historiae: Tupinambá/ Nheengatu Linha de pesquisa (do GT): Linguística missionária Participante: Cristina Altman (CPF 843 350178-04) CEDOCH- DL/USP – FAPESP Resumo descritivo: O presente projeto retoma estudos anteriores sobre a metalinguagem gramatical na tradição gramatical do Tupinambá/ Nheengatu realizados no âmbito do Documenta Grammaticae et Historiae. Projeto de Documentação Linguística e Historiográfica (Altman & Coelho 2006-2009, coords.), tendo em vista a elaboração de um dicionário histórico dos termos metalinguísticos ocorrentes nesta tradição. O objetivo central é mapear as redes de relações propostas em 12 documentos desta tradição (Anchieta 1595, Figueira 1621, Vocabulário da Língua Brasílica (VLB) (Ayrosa 1938[1622]); Anônimo s/d (Códice 69 de Coimbra), Anônimo 1771 (Barros & Lessa 2008[1771]), Anônimo 1795 (Ayrosa 1934[1795]), Rodrigues 1890, Couto de Magalhães 1876, Faria 1858, Dias 1858, e Sympson 1877, Hartt 1937[1872]). Cronograma de trabalho: 2014-2015: revisão, estabelecimento e organização dos termos gramaticais ocorrentes nos corpora selecionados, em formato de dicionário impresso; 2015-2016: proposta de correlação deste vocabulario histórico com o período, fontes, autores, língua, princípios descritivos e explicativos desses mesmos textos, de modo a estabelecer, com o maior refinamento possível, e dentro dos limites da tradição em foco, a emergência dos termos e conceitos referentes à descrição gramatical e o momento — teórico e cronológico — em que nela se podem observar variações e mudanças da metalíngua.