Sr Presidente, sras e srs. deputados, Não é só nos palanques governamentais que a disputa das eleições presidenciais de 2010 já começou. A propaganda eleitoral também já está nas ruas, ou melhor, nos veículos de comunicação Brasil e mundo afora. Depois de um estranhamento sentido em diversos estados brasileiros, ficamos sabendo pela imprensa, na semana passada, que o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro está investigando a campanha publicitária do governo de São Paulo veiculada em emissoras de TV em todo o país. O TRE está analisando o uso da máquina administrativa do governo Serra em benefício de sua possível candidatura à Presidência da República através de comerciais da Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo) fora do Estado. Segundo os jornais, a propaganda custou aos cofres públicos R$ 9 milhões, e deve ir ao ar até o próximo mês, nas TVs Globo e Bandeirantes. Uma das peças publicitárias fala de investimentos de mais de um bilhão de reais em obras de saneamento na Baixada Santista, e encerra com o slogan “Governo de São Paulo: trabalhando por você”. Enquanto os estados do Rio, Santa Catarina, Acre e outros assistiam à propaganda das obras de Serra, o governo paulista recebia uma notificação da Justiça para que a Sabesp melhore a qualidade da água fornecida à população do Guarujá. Desde maio de 2007 a empresa é multada por fornecer água imprópria para a cidade. A multa foi resultado de uma ação civil pública movida por uma entidade da sociedade civil local depois que laudos revelaram a presença de coliformes fecais na água distribuída pela Sabesp em índices acima dos previstos pelo Ministério da Saúde. A Sabesp explica que a propaganda em território nacional responde a interesses comerciais diretos da empresa em ampliar o seu mercado. “Por isso é importante investir na construção de imagem institucional da Sabesp fora do Estado", justifica a assessoria de imprensa. Sabendo que os contratos de fornecimento e distribuição de água são resultantes de concessões dadas via processos licitatórios, fica difícil de acreditar que o “mercado” em disputa neste caso não seja o de possíveis eleitores do governador Serra em 2010, Brasil afora. Como Serra ainda não é oficialmente candidato à presidência em 2010, o TRE-RJ está fazendo uma investigação preventiva, já que ainda não pode abrir processo por crime eleitoral. Caso Serra oficialize a candidatura, elas poderão ser usadas em processos por uso da máquina. A condição não impede, no entanto, que o Ministério Público Estadual de São Paulo acione o governo por improbidade administrativa, questionando o destino do recurso público. Do outro lado da disputa eleitoral, o PT dá mais uma prova de que aprendeu bem as lições do tucanato. A última edição da revista americana de política externa “Foreign Affairs” conta nada menos que com dez páginas de propaganda paga do governo brasileiro, nas quais, além do presidente Lula e de Henrique Meirelles, a ministra Dilma Rousseff ganha destaque nos feitos do governo federal. O próprio anúncio, pago por empresas como Petrobras, CNI, Fecomércio e BNDES, apresenta Dilma como provável candidata à Presidência da República. A proximidade com o PSDB é tão grande que Meirelles e o ministro Edson Lobão aparecem no anúncio da revista elogiando a política econômica de Fernando Henrique Cardoso. O governo federal vai dizer que a propaganda visa apenas divulgar a suposta estabilidade econômica do país, buscando atrair investimentos estrangeiros em meio à crise global; que nada tem a ver com propaganda pessoal. Até porque, se admitisse tal feito, estaria cometendo um crime ao ferir o princípio da impessoalidade na administração pública, mesmo que não haja eleitores de Dilma nos Estados Unidos. A questão é que, politicamente, a ministra Dilma já vem sendo tratada como candidata de Lula desde o ano passado. O que não se pode admitir é que recursos públicos, do governo federal, agora sejam gastos para antecipar sua propaganda eleitoral. Serra faz isso no governo estadual e Dilma começa a fazer no federal. São duas faces da mesma moeda em disputa pelo voto dos brasileiros, cujas práticas lesivas aos cofres públicos nós, do PSOL, seguiremos denunciando. Muito obrigado. Ivan Valente Deputado federal – PSOL/SP