veiculação de conceitos de mudança climática na midia - Unifal-MG

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VEICULAÇÃO DE CONCEITOS DE MUDANÇA CLIMÁTICA NA MIDIA:
CONTRIBUIÇÃO À FORMAÇÃO DO IMAGINÁRIO
Brunna D´Luise Turato Lotti Alves¹ ; Pedro Wagner Gonçalves²
E-mail: ¹ - [email protected]; ²- [email protected]
Filiação: ¹ - Graduanda em Geografia -IG/Unicamp(Bolsa CNPq); ² - Professor do Instituto de
Geociências- UNICAMP
INTRODUÇÃO
Fernández Ferrer et al. (2011) fazem levantamento exploratório sobre
concepção de mudança climática de estudantes da Universidade de Granada
(Espanha). Mostram que a concepção de alunos de distintos cursos coincide com as
ideias mais comuns (e erradas) veiculadas pelas mídias. Ou seja, mesmo estudantes
universitários acreditam – sem qualquer criticidade – nas explicações expostas pelos
instrumentos de comunicação de massa:
(...) podemos dizer que a problemática sobre mudança climática é
conhecida pelos universitários mas este conhecimento é alheio ao
discurso científico atual e acha-se mais associado ao discurso
simplificador dos meios de comunicação(2009, p.429)
Este levantamento conduziu a perguntar, em um primeiro momento, como as
notícias de aquecimento global e mudança climática são veiculadas pela imprensa
brasileira? Que conteúdos são enfatizados? Que concepção de natureza, de relações
sociedade e natureza são expostas e predominantes nas mídias?
Diante dessas indagações, nos limites desta pesquisa, pretende-se examinar
cuidadosamente dois meios de comunicação específicos para captar a concepção de
natureza veiculada pelos mesmos quando tratam do tema aquecimento global e
mudança climática.
OBJETIVOS
Nesta pesquisa pretende-se explorar representações veiculadas pela mídia e
como estas contribuem para criar um imaginário sobre conceitos difusos: natureza,
relações sociedade e natureza a partir de notícias e reportagens sobre aquecimento
global e mudança climática.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Há muitos modos diferentes de refletir sobre transformações sociais e culturais
que ocorrem na sociedade.
Brancher et al. (2006) definem imaginário como um conjunto de valores,
comportamentos, expectativas instituídas socialmente para dar sentido e legitimidade
a certas práticas.
Pachi Filho (2009) menciona que a imprensa não é um reflexo da realidade.
Mas estrutura uma memória discursiva disponível na sociedade, sendo que a
linguagem e informação não são transparentes ao mundo, mas sim um recorte do
espaço em questão.
Os meios de comunicação são importantes no campo de produção de
subjetividade sendo agentes ativos na construção do ser e viver no mundo
contemporâneo. (ROCHA, 2007).
Para Garré e Henning (2011) revistas objetivam sugerir como indivíduos devem
se comportar.
Segundo Dantas (2009), no que tange à temática de ciência e ambiente
frequentemente a mídia funciona como secionador sobre o assunto a ser veiculado e é
responsável por influenciar a agenda do leitor promovendo a inclusão de temas de
interesse e relevância social e política.
Revistas apresentam linguagem acessível para temas complexos e muitas
vezes controversos. Souza (2012) argui que esta mediação pode tornar-se um
discurso tendencioso, transformando fato e ideologia em verdade com alto poder de
convencimento diante das pessoas.
Trazendo o conceito da natureza para proximidade da Geografia há diversos
significados para conceber a relação homem-natureza no pensamento geográfico,
Bispo (2012) aponta que “as diferentes representações sobre natureza, podem
desencadear um processo de construção ou socioconstrução de conceitos, análises,
referentes à questão ambiental e à sociedade contemporânea”.
Em suma, o enfoque dado pelos meios de comunicação simplifica o conceito
de Natureza, e, de um modo geral, procura mostrar que as temáticas das mudanças
climáticas e do aquecimento global já participam de um fórum amplamente aberto,
visto que fazem parte da agenda dos tomadores de decisão públicos. Nesse sentido,
torna-se importante o estudo dos meios de comunicação, em especial as revistas já
que estas ganham um papel de protagonista na consolidação do debate público sobre
o tema, para além dos muros da ciência. (ANDI, 2008)
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METODOLOGIA
O método escolhido foi análise de conteúdo, buscando também a perspectiva
comparativa. Posteriormente foi feita um estudo de ordem qualitativa e quantitativa,
para indicar as (I) Características gerais: tamanho da reportagem, elementos visuais e
(II) em relação ao Conteúdo: enquadramento, vozes e interlocutores da reportagem.
A análise da cobertura midiática sobre o V relatório do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) deteve-se à produção jornalística
escrita, foram selecionadas duas revistas semanais: Veja e Carta Capital. As revistas
atuam como “simplificadores” do conhecimento científico, no qual tange à temáticas
ciências e meio ambiente, a mídia atua como selecionador do assunto. A escolha das
revistas Veja e Carta Capital se deve ao fato de ambas serem de semanais, e serem
da grande imprensa e terem orientações políticas e perfil jornalístico distintos.
O período selecionado foi entre fevereiro/2014 e dezembro/2014, no qual
procuramos abranger os eventos do relatório e do relatório final da mudança climática,
a data escolhida se refere a um período que antecede o relatório parcial do IPCC e
posterior ao relatório final . As seleções das matérias foram feitas pelas reportagens
online disponibilizada nos sites de cada revista, a escolha deve ao entendimento que
atualmente o público tem preferência pelo conteúdo digital, sendo de fácil acesso e
gratuito. Inicialmente foi feita uma triagem das matérias por meio de palavras chaves,
tais como “Aquecimento Global”, “Gases de efeito estufa”, “IPCC”, “mudanças
climáticas”..
A recorrência de menções ao tema mudança climática foi de 14 na Carta
Capital e 67 na Veja, contudo é importante destacar que as reportagens variaram
muito, podendo ser desde entrevistas até parte do blog das revistas.
RESULTADOS
Na revista Carta Capital, foi possível atribuir um padrão, visto que as
reportagens sobre as mudanças climáticas estavam inseridas em um enquadramento
econômico, e na Veja se encontrava em “Ciências”.
A questão ambiental está situada em outras discussões (política, econômica),
sempre abordada em outras esferas. No caso do tema analisado, são citados sob um
viés antropocêntrico, relevantes à humanidade. A temática ambiental vem sendo
retratada de maneira secundária. (MARIA, 2012)
O período que mais aparece reportagens se refere a Novembro/2014, a
primeira parte do V Relatório do IPCC saiu em abril/2014 e a segunda parte em
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Novembro/2014. Houve uma questão política que envolveu o ano de 2014, as eleições
presidenciais, visto que as reportagens de cunho ambientais ficaram inibidas por esse
fator.
A caracterização da amostra indica que a revista Veja conta com 67
ocorrências e na Carta Capital com 14 casos, grande parte dessas incidências
acontece de modo muito pontual, situado na página de “ciência”, “sociedade”, “meio
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ambiente” ou “política”. Na revista Veja, a maioria das reportagens está inserida em
“ciência” e em seguida classificado como “outros”, o papel dos colunistas nos artigos
de opinião. A ferramenta de busca da veja devido ser mais abrangente, possibilita
analisar qual é a seção que se localiza as reportagens.
No entanto na Carta Capital, houve uma distribuição mais uniforme, a grande
parte das reportagens encontra-se em Sustentabilidade, seguido de Economia e
Sociedade.
No mês de novembro, a Veja trouxe a reportagem “Painel da ONU conclui novo
estudo sobre mudanças climáticas argumentando que há “novas evidencias sobre a
forma como os humanos estão alterando o clima na Terra” reforçando a ideia da
existência do fenômeno, suas causas antropogênicas, sendo uma visão que privilegia
as catástrofes ambientais. No entanto a Carta Capital faz uma abordagem mais
sistêmica, privilegiando a questão econômica, acreditando que o aquecimento irá
trazer um retrocesso “para derrotar a pobreza extrema em todo o mundo”.
Revista
Reportagem
Trechos
VEJA (1/11/2014)
Painel da ONU conclui novo
estudo sobre mudanças climáticas
“O painel da ONU dedicado à análise
de mudanças climáticas (...)apresenta
novas evidências sobre a forma como
os humanos estão alterando o clima
na Terra”
“De acordo com o IPCC, os cientistas
têm 95% de certeza de que a emissão
desses gases por meio da queima de
combustíveis
fósseis
e
o
desmatamento são as principais
causas do aquecimento global
registrado desde meados do século
XX”
CARTA CAPITAL (27/11/2014)
por Deutsche Welle
Aquecimento global pode minar
luta contra a pobreza, alerta
Banco Mundial
“As mudanças climáticas podem levar
a retrocessos nos esforços para
derrotar a pobreza extrema em todo o
mundo, advertiu o Banco Mundial”
Tabela 1: Descrição das reportagens no mês de novembro/2014
Fonte: Autoria Própria
CONCLUSÃO
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Comparou-se a cobertura da Veja e da Carta Capital, possibilitando uma
análise de diferentes pontos de vistas de um mesmo problema, sob a perspectiva do
aquecimento global. As duas revistas se distinguem tanto pelo padrão jornalístico
quanto pelo conteúdo. A revista Veja apresentou uma cobertura mais ampla em
relação ao assunto, pautada em uma visão de ciências e meio ambiente. E a Carta
Capital apresentou uma visão de cunho econômico, tratando conjuntamente as
esferas: políticas, sociedade e meio ambiente.
Em relação às características de notícias, a Veja promoveu uma cobertura
mais diversificado com um grande número de artigos de opinião e as reportagens na
sua grande maioria na área de ciências.
Percebeu-se que houve uma incidência de matérias sobre mudanças climáticas
nas datas que saíram o referido Relatório do IPCC, ocorrendo uma cobertura pontual
nas duas revistas, tanto no relatório parcial quanto no final. Porém esse tipo de
reportagem nos dois casos não busca entendimento crítico sobre o problema.
BIBLIOGRAFIA
ANDI. Mudanças Climáticas na imprensa brasileira: uma análise de 50 jornais nos
períodos: de julho de 2005 a junho de 2007/julho de 2007 a dezembro de 2008.
Brasília: ANDI, 2008.
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MARIA, Joana Araújo. Mídia e Mudança Climática: A cobertura da Veja e da Capital.
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PACHI FILHO, F. Jornal e revista na escola: contribuições na análise do discurso.
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ROCHA, Célia Aparecida. O imaginário científico sobre o corpo construído pela mídia
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SOUZA, Marcos Antonio. O aquecimento global e sua repercussão na mídia: algumas
contribuições para um debate. Geografia em Atos, v.2, n.12, p.91-104, jul.-dez. 2012.
Disponível
em
http://revista.fct.unesp.br/index.php/geografiaematos/article/viewFile/1818/marcos.
Acessado em 14 de março de 2014.
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