as redes sociais e as manifestações no processo discursivo

Propaganda
AS REDES SOCIAIS E AS MANIFESTAÇÕES NO
PROCESSO DISCURSIVO
CRISHNA IRION
Universidade do Vale do Sapucaí
Av. Pref. Tuany Toledo, 470 – 37550-000 – Pouso Alegre – MG – Brasil
[email protected]
Resumo. O conceito de tecnologia passou a ser sinônimo, nos últimos tempos,
de imprescindível, necessário, óbvio. Trata-se da constituição do dizer, do já
dito em que o sujeito para significar (e se significar) insere-se em condições
de produção institucionalizadas entre simbólico e o político que, segundo
Orlandi (2001), articulam-se produzindo efeitos no modo como a linguagem
se espacializa. As redes sociais participam do processo de articulação do
sujeito, na conectividade, através do discurso da mundialização.As redes
sociais tiveram um papel significativo quanto às manifestações que ocorreram
no mês de junho de 2013. Grandes organizações sociais foram organizadas e
articuladas através da mídia social, alterando um processo de articulação que
até então não tinha em foco o político. Para Orlandi (1999), o real da história
não fosse passível de ruptura não haveria transformação, não haveria
movimento possível, nem dos sujeitos nem dos sentidos. Houve nesse processo
discursivo uma ruptura nos sentidos. A individuação do sujeito possa
propiciar o espaço politicamente significado, para que o sujeito possa se
relacionar com a história, o político, o simbólico e a ideologia, quanto à
relação desse sujeito com essa forma material da linguagem.No político, os
sentidos são divididos, não são os mesmos para todo mundo, embora
“pareçam” os mesmo.Este artigo é a análise do momento, em que a tensa
contradição entre a democracia planetária ilusória e a prática da real
economia ditatorial, na ruptura possível da transformação, produzindo seus
efeitos sobre o político, implica nas manifestações de resistência, em que o
sujeito se posiciona em uma outra formação discursiva, ligada ao discurso da
mundialização.
Palavras-Chave. Discurso. Processo Discursivo. Manifestações. Redes
Sociais. Interdiscurso
Abstract. The concept of technology has become synonymous in recent times,
of indispensable, necessary, obvious. It is the constitution say has already
been said on the subject to mean (and mean) falls under production conditions
among institutionalized symbolic and political, according to Orlandi (2001),
articulated producing effects language's spatializes way. Social networks
influence the process of sbject articulation , connectivity, through the world
discourse. Social networks played a significant role as the demonstrations that
took place in June 2013. Large social organizations were organized and
articulated through social media, changing a process of articulation that until
then had no political focus . To Orlandi (1999), the real story was not subject
to rupture would not change, there would be no possible movement or the
subjects nor the senses. There was a break in this discursive process in the
senses. Orlandi proposes that the individuation can provide the political space
meaning, so that the subject can relate to the story, political, symbolic and
ideology, regarding the relationship of that subject in the material form of
language. In political, the senses are broken down, are not the same for
everyone, but "look" the same. This article is the analysis of the time in which
the tense contradiction between democracy and the illusory planetary practice
of dictatorial real economy, the possible breakup of the transformation,
producing its effects on the political, implies the manifestations of resistance,
in which the subject stands in another discursive formation, linked to the
discourse of globalization.
Keywords. Discourse. Discourse Process. Manifestations. Social Networks.
Interdiscourse.
1. Tecnologia, Redes Sociais e o discurso
A tecnologia, as redes sociais, a comunicação interconectada e todos esses verbetes
relacionados à mundialização passaram a ser sinônimos, nos últimos tempos, de
imprescindível, necessário, óbvio. Trata-se da constituição do dizer, do já dito em que o
sujeito para significar (e se significar) insere-se em condições de produção
institucionalizadas entre simbólico e o político que, segundo Orlandi (2001), articulam-se
produzindo efeitos no modo como a linguagem se espacializa.
As redes sociais participam do processo de articulação do sujeito, na conectividade,
através do discurso da mundialização.
Para Orlandi (2010) o mundo globalizado e as tecnologias de linguagem, tanto o mundo
eletrônico como a mídia, na conjuntura sócio-política contemporânea, são cenários de
reflexão sobre a migração, a mundialização e as tecnologias de linguagem como pano de
fundo em que sobressaem a criminalidade/delinqüência, a guerrilha, o terrorismo. O
resultado, para autora, é a divisão maniqueísta entre o Bem e o Mal muito bem
sustentada por discursividades que se apoiam na tensa contradição entre a expectativa da
democracia planetária ilusória e a prática de uma real economia ditatorial. O político
aparece nessa conjuntura como argumento, ligado a este discurso da mundialização, da
globalização.
Orlandi propõe que a individuação do sujeito possa propiciar o espaço politicamente
significado, para que o sujeito possa se relacionar com a história, o político, o simbólico
e a ideologia, quanto à relação desse sujeito com essa forma material da linguagem.
As redes sociais tiveram um papel significativo quanto às manifestações que ocorreram
no mês de junho de 2013. Grandes organizações sociais foram organizadas e articuladas
através da mídia social, alterando um processo de articulação que até então não tinha em
foco o político. Para Orlandi (2009), se o real da história não fosse passível de ruptura
não haveria transformação, não haveria movimento possível, nem dos sujeitos nem dos
sentidos. No político, os sentidos são divididos, não são os mesmos para todo mundo,
embora “pareçam” os mesmo.
Segundo Payer(2005), o poder do Mercado vem se fortalecendo em face do Estado, de
modo que até bem recentemente, os Estados se constituíam em instâncias máximas de
Poder, de decisões, porém atualmente, no movimento da mundialização econômica, vem
ocorrendo uma certa diluição das fronteiras nacionais, e conseqüentemente um
enfraquecimento do poder do Estado. Payer apresenta os elementos da ordem
econômica, social e política em sentido amplo, circunscrevendo o fato discursivo: a
transformação no poder das instituições sociais que se faz acompanhar de uma
transferência de poder entre enunciados. Retoma Althusser, quando apresenta que há
enunciados que funcionam como fundamentais, enquanto máximas capazes de condensar
o conteúdo que exerce a “interpelação ideológica dos indivíduos em sujeito”.
Em consequência à alteração das instâncias do Poder, de um tempo histórico para outro,
alteram-se também os enunciados fundamentais das práticas discursivas.
Essa
transformação progressiva do poder dos enunciados pode ser observada atualmente na
mudança que vem ocorrendo quanto ao valor que a sociedade atribuía até muito
recentemente à lei jurídica, enquanto enunciado fundamental do Estado, e que vem
atribuindo atualmente aos enunciados do Mercado. (PAYER, 2005 p. 6)
É nesse processo de alteração de poder que a sociedade atual passa a assujeitar-se a uma
nova forma discursiva, a do mercado, do capitalismo. O capitalismo não constitui-se sem
o aumento da desigualdade social, da exploração de classes e do consequente
afloramento dos movimentos sociais das minorias . O capitalismo não tem vida longa
sem gerar os seus antagonismos. O Estado apropria-se amplamente do processo
discursivo do jogo de relações em confronto, a divisão de classes, a segregação social,
para fundamentar o sistema dominante (capitalismo). Pêcheux afirma que: “ao falarmos
de ‘reprodução/transformação’, estamos designando o caráter intrinsecamente
contraditório de todo modo de produção que se baseia numa divisão de classes”
(Pêcheux, 1997).
“O discurso tecnológico constitui-se no imaginário.” Para Orlandi (2009) o real do
discurso é a descontinuidade, a dispersão, a incompletude, a falta, o equívoco, a
contradição; o imaginário, por sua vez, é a unidade, a completude, a coerência, o claro e
distinto, a não contradição. A partir do imaginário percebe-se a afirmação inicial sobre
o conceito de tecnologia ser imprescindível, necessário, óbvio. O jogo de poder no
assujeitamento do indivíduo está no movimento de interpelação dos indivíduos por uma
ideologia, condição necessária para que o torne-se sujeito do seu discurso ao submeterse às condições de produção impostas pelo Estado, embora tenha a ilusão de autonomia.
Para uma análise discursiva sobre essa questão, é possível encontrar em ampla pesquisa
documentos formadores de opiniões em que se estabelece a relação da formação
discursiva tecnológica constituída em ampla distribuição. É o movimento de interpelação
em funcionamento, fornecendo as condições de produção para que o sujeito desloque-se
à formação discursiva tecnológica.
2. A memória e o interdiscurso no processo discursivo
Houve no processo discursivo uma ruptura nos sentidos. A Ideologia para a Análise do
Discurso baseia-se na afirmação de que não existe uma relação termo a termo entre
linguagem, pensamento e mundo. A noção de discurso é pensada nessas relações
mediadas, como diz Pêcheux (1997), inconsciente e ideologia estão materialmente
ligados. É reconhecer a materialidade da língua e da história, ou seja, interessa-nos
pensar a ordem da língua enquanto sistema significante material e a ordem da história (o
mundo para o homem, sob o modo da ordem institucional), enquanto materialidade
simbólica (Orlandi, 2007).
Essa conjuntura se apoia na tensa contradição entre, de um lado, a expectativa de uma
democracia planetária ilusória e, de outro, a prática de uma real economia ditatorial. O
“político” aparece nessa conjuntura como argumento. De forma importante, ligado a este
discurso da mundialização, da globalização, há também um discurso sobre a
subjetividade. Não se trata de evocar simples modificações no social e suas incidências
sobre a subjetividade de cada um, mas de examinar uma transformação que está
produzindo seus efeitos.
Se (...) o real da história não fosse passível de ruptura não haveria transformação, não
haveria movimento possível, nem dos sujeitos nem dos sentidos. (...) Por isso, (...) a
incompletude é a condição da linguagem: nem os sujeitos nem os sentidos, logo, nem o
discurso, já estão prontos e acabados. Eles estão sempre se fazendo... (ORLANDI,
2009, p.36-37).
Orlandi (2011) contesta a direção do individualismo, que aparece como ameaça, e o
foco na primazia da “coletividade” em relação ao indivíduo passa a ser o foco das
pesquisas e estudos. Ela passa a analisar as relações sociais e os acontecimentos
discursivos que se produzem no espaço de significação urbano, na produção de sentidos.
O processo de produção de sentidos possui três momentos inseparáveis que são a
constituição, formulação e circulação dos sentidos, que segundo Orlandi (2010b),
quando se trata do discurso eletrônico é através da circulação dos sentidos que se pode
pensar nos outros dois momentos.
O modo de circulação dos sentidos no discurso eletrônico, para Orlandi (2010b), por sua
especificidade produz conseqüências sobre a função-autor e o efeito-leitor e, essas
conseqüências estão diretamente ligadas à natureza em que os sentidos se filiam à
memória. A memória, para a autora, diferencia-se entre memória discursiva
(interdiscurso), memória institucional (arquivo) e memória metálica (técnica). A
primeira, o interdiscurso, é constituído pelo esquecimento, em que uma “voz fala sem
nome” (COURTINE 1982 apud ORLANDI 2010b) e “algo fala antes, em outro lugar,
independentemente” (PÊCHEUX apud ORLANDI 2010b), no qual é produzido o efeito
do já-dito. Já a memória institucional ou arquivo, conforme observada pela autora, é
aquela que não se esquece, as quais as Instituições fazem questão de nutrir,
normatizando o processo de significação, contribuindo no processo de individuação do
sujeito pelo Estado, sustentando-o em uma textualidade documental, que mantém o
sujeito em circularidade de discursos sempre disponíveis. Finalmente, a memória
metálica, técnica, produzida pela mídia e por tecnologias, como a televisão e o
computador, é aquela memória da máquina, da circulação que não se produz pela
historicidade, mas por meio técnico, sendo horizontalizada, não havendo estratificação
em seu processo. É marcada pela quantidade e não pela historicidade, e pela
produtividade na repetição e distribuição em série, e questionada pela memória
discursiva, em que se define o possível justamente pelo esquecimento.
Tudo o que é dito, para a AD, refere-se ao o interdiscurso, é no interdiscurso, conjunto
do dizível histórica e linguisticamente definido (Pêcheux, 1997), que representa um
conjunto de formulações constituídas ao longo dos tempos, esquecidas, mas vivas na
memória social, que determinam o que é dito. Portanto, falar de memória em relação ao
discurso implica falar de interdiscurso, isto é, tudo já dito em outros lugares,
independentemente, já esquecido, e que determina o que dizemos. “Para que minhas
palavras tenham sentido é preciso que elas já façam sentido. E isto é efeito do
interdiscurso...” (ORLANDI, 2009, p.33).
A AD define memória discursiva como todos os sentidos construídos e manifestos por
alguém, em algum lugar, em diversos momentos, mesmo muito distantes que estão na
base do dizível, que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do préconstruído (ORLANDI, 2009).
3. A ideologia
Para Orlandi (2010), essas diferentes formas de memória constroem as diferenças nos
três momentos: constituição, formulação e circulação, assim como afetam a função-autor
e o efeito-leitor, pois qualquer forma de memória tem uma reação necessária com a
interpretação e, por consequência, com a ideologia.
Enfim, a ideologia produz efeito da evidência, de unidade, sustentando-se sobre o jádito, em que os sentidos institucionalizados são admitidos como "naturais". Essa
evidência faz parte das condições de produção imediatas e da circunstância de
enunciação do discurso tecnológico. “O sentido não existe em si mesmo. Ele é
determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo histórico no qual
as palavras são produzidas” (PÊCHEUX, 1997).
E é nesse processo de efeito de evidência que é possível pensar as redes sociais como
componente da relação de sentidos que acontece no contexto coletivo. Pensar sobre
como o já-dito, aqueles sentidos tido como naturais, sustentam a ideologia.
Entre os jovens não há atualmente o foco em uma discussão política aberta, em que
sejam pontuadas posições políticas, forças de reação ao Estado entre outras discussões
que eram tão constantes nos jovens dos tempos da ditadura, mas há um efeito de
sentidos acontecendo de forma silenciosa, mesmo com foco no discurso tecnológico, nas
evidências de sentido que são fruto da ideologia capitalista e toda a carga que inunda o
que é dito. Acontece, no silêncio das relações sociais tecnológicas, uma ruptura no
político, no conjunto das representações do sujeito com a história.
Orlandi, (2007) afirma que “ideologia não se define como o conjunto de representações,
nem muito menos como ocultação de realidade. Ela é efeito da relação do sujeito com a
língua e com a história em sua relação necessária, para que se signifique” (Orlandi,
2007:48).
É interessante entender as relações existentes entre sujeito e ideologia para se apreender
o funcionamento do discurso. Sua constituição em um dado discurso possibilitará
“remeter o dizer a outras filiações de dizeres, a uma memória e a identificá-lo em sua
historicidade, em sua significância mostrando seus compromissos políticos e ideológicos”
(ORLANDI, 2009, p.32).
Para Orlandi (2011), os movimentos da sociedade ou na sociedade são inevitáveis e
fazem parte da materialidade, do real da história social, vão acontecer, assim como os
movimentos sociais são organizações que se formam, em certos momentos, visando
certos objetivos, bem determinados na sociedade e na história.
4. As redes sociais e os movimentos
Os movimentos sociais ocorridos no mês de julho de 2013 romperam de um processo de
silenciamento. Não mais o silenciamento da ditadura militar, mas o silenciamento
capitalista, de um movimento da sociedade institucionalizada pelo “não político”, mas
pelo individualismo de um espaço focado no eu e não no nós, no pessoal e não social.
A noção de silêncio, segundo Orlandi (2007), pode ser detectada por duas formas: o
silêncio fundador e a política do silêncio. A primeira forma torna possível a significação,
sendo aquele silêncio “que existe nas palavras, que significa o não-dito e que dá espaço
de recuo significante, produzindo as condições para significar” (ORLANDI, 2007, p.
24). Já a política do silêncio se subdivide em silêncio constitutivo, que indica que para
dizer é preciso silenciar outras palavras, e o silêncio local, que se refere à censura, a
interdição do dizer. O silêncio, segundo Orlandi (2007), não é transparente e é tão
ambíguo quanto as palavras, “pois se produz em condições específicas que constituem
seu modo de significar” (p. 101). O silêncio significa, sendo infrutífera sua tradução em
palavras, entretanto, possível a compreensão dos sentidos que dele emanam por meios
de observação discursivos (ORLANDI, 2007, p. 102).
E na ambiguidade do silêncio, que analisamos a imagem:
Figura 1. “Somos a rede social”
Fonte: FATTORI. M. Protestos e manifestações: redes sociais x mídias tradicionais.
A foto pode remeter a um sentidos de censura intrínseca, uma ruptura quanto à
comodidade da conexão das redes sociais em contradição com o movimento real de
deslocar-se às ruas, manifestar opiniões adversas ao que se espera do cidadão cibernauta,
aquele que está sentado em seu computador protestando contra algo não palpável,
imaginário.
O não dito: Orlandi (2011) argumenta que a tensão contraditória entre democracia e
radicalismo autoritário econômico, assim como a recorrência ao discurso dos direitos
humanos, o direito à diferença, entre outras, repete-se a idéia de que há uma filiação que
liga a colonização, o imperialismo e a mundialização, linha que se filia à idéia do domínio
do que se tem chamado de ocidentalização.
O trecho abaixo, contido em site, com autoria de MARÍLIA FATTORI, mostra a
ruptura, já que a individuação é sujeita a resistência, a rupturas e as deslizes:
“Em contrapartida, a confiança da população nos veículos tradicionais de mídia diminuiu.
Começou, então, uma busca nas redes sociais do que acreditava-se ser a verdade. Essa
credibilidade foi estabelecida pois as informações (vídeos, fotos, depoimentos) contidas
nas redes não pareciam ser editadas e foram feitas por pessoas comuns, transformadas
em jornalistas amadores. Além disso, uma imensa quantidade de informação publicada
por diferentes usuários corroboravam os fatos ocorridos nas ruas.”
Para Orlandi (2011), o passo da individuação pelo Estado que é possível observar a
resistência (ou não) do sujeito aos modos como as instituições e os discursos o
individualizam. Não são pequenas modificações no social e suas incidências sobre a
subjetividade de cada um, mas de examinar a transformação que produz efeitos. Como
afirmado anteriormente, a economia liberal desenfreada, a ideologia capitalista produz
sentidos e efeitos de sentindos, produzindo um sujeito que acredita ser o dono do seu
dizer. Orlandi cita que “podemos já afirmar que estas são manifestações que constituem
as ilusões do sujeito. Como sabemos, essas ilusões, esse imaginário, constituem a
realidade desse sujeito, produzindo assim seus efeitos sobre suas práticas.”
Nessa outra imagem, apesar do evento ter sido organizado através da rede social a
manifestação social em si acontece nas ruas, longe da comodidade tão apreciada pela
tecnologia e a ideologia referente à mundialização, à interconexão.
Figura 2. “Saímos do Facebook”
Fonte: FATTORI. M. Protestos e manifestações: redes sociais x mídias tradicionais.
Para Coelho (2012), em crítica aos mitos que são associados ao capitalismo, comenta
que nessa ideologia tem-se como premissa o mito da igualdade para todos, assim como
rege a democracia. O autor define que pretende-se fazer crer que apenas no capitalismo
há democracia e que o objetivo deste mito é impedir a discussão de outros modelos de
sociedade, afirmando não haver alternativas a esse modelo, e que todos os outros são
ditaduras. Afirma ainda que trata-se de uma apropriação feita pelo capitalismo,
falseando o sentido de conceitos aceitos pelos sujeitos, tais como liberdade e
democracia, pois na realidade a sociedade é dividida em classes e a classe mais rica,
embora seja ultraminoritária, domina sobre todas as demais:
“Trata-se da negação da democracia que, por definição, é o governo do povo, logo, da
maioria. Esta “democracia” não passa, pois de uma ditadura disfarçada. As “reformas
democráticas” não são mais que retrocessos, reações ao progresso. Daí deriva o termo
reacionário, o que anda para trás. Tal como o anterior, este mito também serve de
pretexto para criticar e atacar os regimes de países não-capitalistas.” (Coelho, 2012 p. 1)
O autor refere-se a doze mitos promovidos pelo capitalismo, que trata de um conjunto
de falsas verdades que repetidas à exaustão e sem questionamento acabam tornando-se
memória discursiva, tornando-se verdades evidentes aos das massas a fim de obter o seu
apoio ou passividade.
Porém, todo processo discursivo, assim como a língua, são passíveis da ruptura, já citada
anteriormente, e que permite que haja uma mudança nas condições de produção e suas
afiliações. As manifestações, organizadas através de redes sociais e refletida em eventos
de manifestações nas ruas são evidências da produção discursiva e suas contradições.
São processos discursivos acontecendo, a resistência às reafirmações ideológicas do
capitalismo que, para autores como Coelho, carregam a produção dos sentidos de
massificação social e que fazem parte do interdiscurso, já que parte do contexto de
evidência.
Referências
COELHO, G. A.
Os 12 mitos do capitalismo. 2012 Disponível em
<http://www.leiaagora.com.br/portal/noticia.php?cod_not=1279>. Acesso em: 05 ago
2013.
FATTORI. M. Protestos e manifestações: redes sociais x mídias tradicionais.
Disponível em <http://www.dp6.com.br/protestos-e-manifestacoes-redes-sociais-xmidias-tradicionais> Acesso em: 02 ago 2013.
ORLANDI, Eni P. Língua, Comunidade e Relações sociais no espaço digital. Eurbano. Ed. Digital LabUrb. 2011.
______________. Língua, Comunidade e Relações sociais no espaço digital, Não
publicado, 2010.
______________. A contrapelo: incursão teórica na tecnologia - discurso eletrônico,
escola, cidade .Campinas, SP: Revista Rua, Nº 16, Vol. 2, 2010b.
______________. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 8ª ed. Campinas,
SP: Ed. Pontes, 2009.
______________. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 5ª
ed. Campinas, SP: Ed. Pontes, 2007.
______________. Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos. Campinas:
Ed. Pontes, 2001
PAYER, M. O. Linguagem e Sociedade Contemporânea. Sujeito, Mídia, Mercado.
Revista Rua, NUDECRI, no. 11. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2005.
PÊCHEUX, M. Por uma Análise Automática do Discurso: uma Introdução à Obra
de Michel Pêcheux. Gadet e Hack (org) Trad. Bethania Mariani [et al]. Campinas: Ed.
Unicamp, 1997.
Download