Capital desperdiçado e ativos improdutivos

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Carbono incombustível 2013:
Capital desperdiçado e ativos improdutivos
Em colaboração com a
2 |
Sobre a Carbon Tracker
A Carbon Tracker é uma organização sem fins lucrativos
que trabalha para alinhar os mercados de capitais com a
agenda política das alterações climáticas. Encontramo-nos
a aplicar o nossa visão sobre os orçamentos de carbono
e os ativos improdutivos em várias regiões geográficas
e classes de ativos com o intuito de esclarecer a visão
dos investidores e a regulação dos mercados de capitais.
Recebemos financiamento de várias fundações de
beneficência dos EUA e do Reino Unido.
Caso pretenda explorar os nossos dados visualmente;
partilhar a conclusão com outras pessoas; ou perguntar ao
seu fundo de pensões de que forma estão a gerir o risco,
visite a nossa ferramenta em linha disponível em
www.carbontracker.org/wastedcapital
Se for um investidor interessado na exposição da sua
carteira a reservas de combustível fóssil, contacte-nos
diretamente ou através da nossa página Bloomberg.
Sobre o Grantham
Research Institute on
Climate Change and the
Environment, LSE
O Grantham Research Institute on Climate Change
and the Environment foi criado em 2008 na London
School of Economics and Political Science. O Instituto
reúne experiência internacional em economia, bem
como finanças, geografia, ambiente, desenvolvimento
internacional e economia política, a fim de criar um
centro líder mundial para investigação com relevância
política, ensinando e formando em alterações climáticas
e ambiente. É financiado pela Grantham Foundation for
the Protection of the Environment, a qual também financia
o Grantham Institute for Climate Change no Imperial
College London.
Agradecimentos
As pessoas que contribuíram para o presente relatório
são: James Leaton, Nicola Ranger, Bob Ward, Luke
Sussams e Meg Brown. Gostaríamos de agradecer a Mark
Campanale, Nick Robins, Alice Chapple, Jemma Green,
Chris Duffy, Alex Hartridge e Jeremy Leggett por terem
feito a revisão do relatório, à PIK Potsdam pela assistência
prestada na utilização da live.magicc.org, a Jackie Cook do
Cook ESG Research pela compilação de dados e a David
Casey da DHA Communications pela conceção.
Copyright © 2013 (Carbon Tracker & The Grantham
Research Institute, LSE)
Contacto:
James Leaton
Diretor de Investigação
[email protected]
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Contacto:
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Diretor de Política e Comunicações
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www.lse.ac.uk/grantham/
twitter: @GRI_LSE
Exoneração de responsabilidade
A Carbon Tracker e o Grantham Research Institute, LSE, não são consultores de investimento e não fazem qualquer declaração relativamente à conveniência de investir numa
determinada empresa ou fundo de investimento ou outro veículo. Uma decisão de investir num fundo de investimento ou outra entidade não deve ser feita com base em qualquer
uma das declarações feitas na presente publicação. Embora as organizações tenham obtido informações que são consideradas fiáveis, não devem ser responsáveis por eventuais
reivindicações ou perdas de qualquer tipo relacionadas com as informações contidas neste documento incluindo, entre outros, perda de lucros ou danos punitivos ou subsequentes.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 3
Índice
Sumário executivo
Carta aos leitores
4
Prefácio7
Introdução8
1. Orçamentos globais de CO2 9
2. Reservas e recursos de carvão,
petróleo e gás globais cotadas
14
3. Fazer evoluir a regulamentação dos
mercados em relação ao risco
climático23
4. Implicações para a valorização
das ações e agências de notação
27
5. Implicações para os investidores
32
6. O caminho a seguir: conclusões
e recomendações
36
Referências38
O nosso primeiro relatório, em 2011, mostrou que
com base no entendimento atual de um orçamento de
carbono admissível para manter abaixo dos dois graus o
aquecimento global, existem mais combustíveis fósseis
cotados nos mercados de capital mundiais do que aqueles
que podem ser queimados. Os dois graus são um limiar
de perigo para o aquecimento global amplamente aceite
e muitos governos já começaram a adotar medidas. No
nosso primeiro relatório sobre o carbono incombustível,
quantificámos pela primeira vez até que ponto a atitude
de passar ao lado é má, empresa por empresa, e bolsa de
valores por bolsa de valores. Mostrámos que em nenhuma
parte da cadeia financeira os atores dos mercados de
capital reconhecem, e muito menos quantificam, a
possibilidade de que os governos vão fazer aquilo que
afirmam pretender fazer em relação às emissões ou a
uma fração das mesmas. Salientámos o quanto isto é
disfuncional e descrevemos aquilo que os atores na cadeia
financeira teriam de fazer para esvaziar a bolha de carbono
crescente, e não apenas os reguladores.
No segundo relatório aprofundámos a matéria. Ao fazê-lo,
estamos particularmente satisfeitos de colaborar com o
Grantham Institute e Lord Stern, uma autoridade máxima
na economia das alterações climáticas.
O trabalho da Carbon Tracker é agora utilizado por bancos
como o HSBC e Citigroup e agência de notação Standard
& Poor’s, para ajudar a concentrar o seu pensamento
naquilo que poderá significar um orçamento de carbono
para os cenários de valorização das empresas públicas.
A AIE está a realizar um estudo especial sobre a relação
clima-energia que terá em conta a bolha de carbono.
Juntamente com os nossos aliados chamámos a atenção
do Comité da Estabilidade Financeira do Banco de
Inglaterra para este aspeto. Aguardamos ansiosamente a
sua reação a esta análise.
Atendendo a tudo quanto foi exposto, e conscientes dos
desafios na questão da bolha de carbono, esperamos que o
nosso segundo relatório global se revele útil para um círculo
que se pretende o mais vasto possível. Reconhecemos
que estamos a lidar com um exercício de atenuação dos
riscos que requer o envolvimento muito além dos analistas
e economistas de investigação dos mercados de capital.
Atendendo aos desafios para o valor das pensões, por
exemplo, caso a bolha de carbono continue a aumentar,
o público em geral deve certamente ser envolvido. Por
conseguinte, congratulamo-nos com o eco da mensagem
sobre o carbono incombustível por parte dos defensores
desde o nosso primeiro relatório, nomeadamente no
artigo muito citado de Bill McKibben, de agosto de 2012,
na Revista Rolling Stone intitulado "Global Warming’s
Terrifying New Math" e a campanha da "350.org" baseada
no mesmo. Saudamos esse empenho público. Esperamos
que a nossa mensagem mais profunda neste relatório possa
alimentar mais empenho nesta matéria.
Jeremy Leggett e Mark Campanale
Presidente e Diretor Fundador
Carbon Tracker
4 |
Sumário executivo
A utilização de todos os combustíveis fósseis
levará à rutura do orçamento mundial de
dióxido de carbono
Em 2010, os governos confirmaram no Acordo de Cancún
que as emissões deveriam ser objeto de redução para evitar
um subida da temperatura média global superior a 2 °C
acima dos níveis pré-industriais, com a possibilidade de
uma revisão para um valor inferior de 1,5 °C. A modelização
utilizada em análises anteriores pela Carbon Tracker e a AIE
mostraram que o orçamento de carbono para um cenário
de 2 °C seria de aproximadamente 565-886 mil milhões de
toneladas (Gt) de dióxido de carbono (CO2) até 2050. Este
resultado assume que as emissões de gases com efeito de
estufa não-CO2 (por exemplo, metano e óxido nitroso) se
mantêm elevadas.
Contudo, este orçamento é apenas uma fração do carbono
incorporado nas reservas mundiais de combustível
fóssil, que ascende a 2860 GtCO2. Uma abordagem de
precaução significa que até 2050 apenas 20% das reservas
de combustível fóssil totais são passíveis de combustão.
Consequentemente, a economia mundial enfrenta já
a perspetiva de os ativos serem improdutivos, com a
possibilidade de o problema se agravar caso se mantenham
as tendências de investimento atuais (com efeito, uma bolha
de carbono).
Realização de testes de esforço aos
orçamentos de carbono
A Carbon Tracker, em parceria com o Grantham Research
Institute for Climate Change and the Environment na London
School of Economics and Political Science, realizou uma nova
análise para efeitos de um teste de esforço aos orçamentos
de carbono. A análise estima que o orçamento disponível
é de 900 GtCO2 para uma probabilidade de 80% de ficar
abaixo dos 2 °C e 1075 GtCO2 para uma probabilidade
de 50%, confirmando que a maioria dos recursos de
combustíveis fósseis que ainda restam são incombustíveis.
Este orçamento de CO2 é superior, dado que assume
maiores reduções das emissões não de CO2, tais como
metano, que têm um maior potencial de aquecimento
global. Dito de outra forma, a aplicação de orçamentos de
CO2 mais elevados está dependente de novas ações para
reduzir as missões não de CO2 em determinados domínios,
como os resíduos e a agricultura.
Esta investigação examina igualmente aquilo que as
metas alternativas de temperatura poderiam significar
para a quantidade de combustíveis fósseis passíveis de
combustão. A análise conclui que até mesmo uma meta
climática menos ambiciosa, tal com um aumento de 3 °C
da temperatura média global ou mais, o que resultaria
em impactos significativamente maiores para a nossa
sociedade e economia, continuaria a implicar restrições
significativas na utilização que fazemos das reservas de
combustíveis fósseis até 2050.
A captura e armazenamento de carbono (CAC)
não altera as conclusões
A tecnologia de CAC oferece o potencial de ampliar os
orçamentos para a combustão de combustíveis fósseis.
A aplicação do cenário idealizado da AIE - que assume
um determinado nível de investimento que ainda não se
encontra assegurado - amplia os orçamentos até 2050
apenas em 125 GtCO2.
O orçamento é restringido após 2050
Alcançar um cenário de 2 °C significa que apenas uma
pequena quantidade de combustíveis fósseis pode
ser queimada sem redução após 2050. Na ausência de
tecnologias para emissões negativas, o orçamento de
carbono para a segunda metade do século seria apenas
de 75 GtCO2 para dispor de uma probabilidade de 80% de
atingir a meta de 2 °C. Tal é equivalente a pouco mais de
dois anos de emissões aos níveis atuais. Por conseguinte,
a ideia de que poderia haver um renascimento de
combustíveis fósseis após 2050 não tem qualquer
fundamento.
As empresas cotadas vêem-se confrontadas
com um défice no orçamento de carbono
Se as empresas de combustíveis fósseis cotadas tiverem
uma afetação pro rata do orçamento de carbono global,
tal ascenderia a cerca de 125-275 GtCO2, ou 20-40% dos
762 GtCO2 atualmente registados como reservas. A escala
deste défice no orçamento de carbono representa um
risco importante para os investidores. Têm de perceber
que 60-80% das reservas de carvão, petróleo e gás das
empresas cotadas são incombustíveis.
As bolsas de valores de Londres e Nova Iorque
estão a tornar-se mais intensivas em matéria
de carbono
O carbono incorporado na bolsa de Nova Iorque é
dominado pelo petróleo. O nível de carbono incorporado
aumentou 37% desde 2011. Londres está mais
concentrada no carvão, aumentando a sua exposição
total ao CO2 em 7% no mesmo período. Mas há outras
bolsas que dispõem de níveis superiores de carbono
incorporado comparativamente com a sua dimensão geral,
nomeadamente São Paulo, Hong Kong e Joanesburgo.
As bolsas a sul e a leste estão a mobilizar capital para o
desenvolvimento do carvão.
O capital despendido na procura e
desenvolvimento de mais reservas é, em
grande medida, desperdiçado
A fim de minimizar os riscos para os investidores e
aforradores, o capital deve ser desviado das opções
com alto teor de carbono. Contudo, o presente relatório
estima que as 200 principais empresas de petróleo e gás e
extrativas atribuíram 674 mil milhões de dólares no último
ano à pesquisa e ao desenvolvimento de mais reservas
e novas formas de as extrair. A grande maioria desta
despesa resultou de lucros não distribuídos - indicando
para o dever dos acionistas de exercer a administração
desses fundos para que sejam utilizados em oportunidades
financeiramente lucrativas consentâneas com a segurança
do clima.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 5
São necessários novos modelos de negócio
À taxa atual de despesa de capital, a próxima década
assistirá à atribuição de 6 mil milhões de dólares ao
desenvolvimento de combustíveis fósseis. Com um
orçamento de carbono limitado e em declínio, grande
parte deste valor corre o risco de ser desperdiçado em
ativos incombustíveis. As empresas cotadas têm interesses
nos recursos de combustíveis fósseis não desenvolvidos
que duplicariam os encargos para o mercado de carbono
incorporado para 1541 GtCO2. O saldo atual entre os
fundos a serem devolvidos aos acionistas, capital investido
em oportunidades com baixa emissão de carbono e capital
usado para desenvolver mais reservas necessita de uma
mudança. O modelo de negócios convencional de reciclar
os rendimentos de combustíveis fósseis na substituição de
reservas já não é viável.
Os riscos necessitam de ser redefinidos
Atualmente, o processo de investimento tende a
definir o risco como um desvio do desempenho de
indicadores de referência do mercado, tais como índices.
Consequentemente, os investidores e os seus conselheiros
receiam um mau desempenho da sua carteira (em relação
a um indicador de referência financeiro) muito mais do
que o risco de uma perda absoluta de valor dos setores
de combustíveis fósseis. É necessário conferir uma maior
atenção ao valor fundamental em risco na transição para
uma economia com baixas emissões de carbono.
A valorização e as notações não estão a
atribuir preços de forma rotineira aos ativos
improdutivos
As 200 empresas de combustíveis fósseis analisadas no
presente documento têm um valor de mercado de
4 mil milhões de dólares e uma dívida de 1,5 mil milhões
de dólares. Os proprietários de ativos e os analistas de
investimento começaram a investigar as implicações do
carbono incombustível. As análises do HSBC sugerem
que as valorizações de ações poderão diminuir até 4060% num cenário de baixas emissões. Paralelamente, as
obrigações das empresas de combustíveis fósseis poderão
igualmente ser vulneráveis a reduções de notações,
conforme recentemente ilustrado pela Standard & Poor’s.
Essas reduções fariam com que as empresas pagassem
taxas mais elevadas para contraírem empréstimos ou, se a
redução cair abaixo do grau de investimento poderiam ter
dificuldades para refinanciar a sua dívida.
Os modelos financeiros que apenas têm por
base os resultados anteriores são um guia
inadequado para os investidores
Todavia, nem os mercados de ações nem de crédito estão
sistematicamente a considerar este risco na determinação
dos preços nos seus modelos financeiros. Um pressuposto
implícito é o de que os combustíveis fósseis detidos por
empresas cotadas continuarão a ser desenvolvidos e
vendidos e o capital disponibilizado será utilizado para
substituir reservas por novas descobertas. No contexto
de um orçamento de carbono em declínio, estes modelos
de valorização fornecem um guia inadequado para os
investidores e necessitam de ser recalibrados.
Fazer melhor as contas
Os investidores institucionais necessitam de uma avaliação
de investimento melhor e mais orientada para o futuro,
a fim de determinarem uma avaliação justa dos riscos
e oportunidades dos seus investimentos. Os rácios
de substituição de reservas poderão tornar-se rácios
de redundância de reservas no futuro. As métricas de
desempenho que serviram no passado para valorizar as
empresas e incentivar a gestão estão a ser invertidas.
Os intermediários financeiros, dos analistas aos atuários,
necessitam de fazer um teste de esforço do valor em risco
em relação a um conjunto de futuros cenários de emissões
para dar aos proprietários de ativos uma análise de risco
mais prospetiva. Tal requer que os proprietários de ativos
solicitem modelos de valorização aos seus consultores
de investimento que abordem um leque de potenciais
resultados, e não apenas a manutenção do «status quo».
Os reguladores e os investidores devem rever
a sua abordagem aos riscos sistémicos
Os riscos sistémicos que ameaçam a estabilidade dos
mercados financeiros relacionados com o carbono
incombustível estão a aumentar de forma mais acentuada
desde 2011, e não a diminuir. Os mercados parecem
incapazes de ter em consideração a transição a longo
prazo para uma economia com baixas emissões de
carbono nas valorizações e afetação de capital. Num
contexto em que os participantes do mercado são
impulsionados por uma métrica a curto prazo, existe a
necessidade de os reguladores reverem a sua abordagem
relativa aos riscos sistémicos decorrentes das alterações
climáticas. Uma melhor transparência e gestão dos riscos
afiguram-se essenciais para a manutenção de mercados
estáveis, evitando o capital desperdiçado e impactos
climáticos catastróficos.
6 |
Ministros das Finanças:
Iniciar um processo internacional
para incorporar as alterações
climáticas na avaliação e gestão do
risco sistémico nos mercados de
capital, trabalhando com organismos
como a Organização Internacional das
Comissões de Valores Mobiliários
(OICV/IOSCO, International Organization
of Securities Commissions). O G20
poderia ser o fórum apropriado para
impulsionar este processo.
Consultores de
investimento:
Atuários:
Redefinir o risco para refletir o valor
em risco decorrente dos potenciais
ativos improdutivos nas carteiras dos
clientes com base na probabilidade
de cenários futuros, em vez do risco
de se desviarem do indicador de
referência.
Cidadãos:
Rever os modelos de
ativos/passivos utilizados
na valorização das
pensões, a fim de ter em
conta as probabilidades
de diferentes cenários
de emissões.
Colaborar com os seus fundos de
pensões e mutualistas sobre de que
forma estão a abordar o risco relacionado
com as alterações climáticas e assegurar
que dispõem de uma estratégia para gerir o
potencial de capital desperdiçado e ativos
improdutivos.
Realizar contactos com os gestores dos seus
fundos de pensões e mutualistas para que
adotem uma abordagem de orçamento
de carbono em relação ao risco
climático e afetação de
capital.
Reguladores financeiros:
Obrigar as empresas a divulgarem as
potenciais emissões de CO2 integradas nas
reservas de combustível fóssil.
RECOMENDAÇÕES
Este relatório apresenta
recomendações para medidas
por parte dos governos,
intermediários financeiros,
investidores institucionais e
cidadãos:
Rever o CO2 incorporado nas reservas
e apresentar relatórios aos reguladores
internacionais e organismos legislativos
sobre a sua avaliação dos potenciais riscos
sistémicos.
Obrigar as empresas a explicarem em
declarações regulamentares de que modo
o seu modelo de negócio é compatível com
a consecução das reduções das emissões,
atendendo às reduções associadas do preço
e da procura que poderão resultar.
Analistas:
Desenvolver indicadores
alternativos que façam um
teste de esforço às valorizações
relativamente à possibilidade de o
desempenho futuro não replicar o
passado.
Realizar investigação alternativa
que calcule o impacto e as
probabilidades dos diferentes
cenários de emissões.
Agências de notação:
Responder ao
desafio de integrar a
avaliação sistemática
do risco climático nas
metodologias do setor, a
fim de fornecer análises
prospetivas.
Investidores:
Solicitar expressamente aos reguladores, analistas,
agências de notação, conselheiros e atuários que
realizem um teste de esforço às respetivas contribuições para
o sistema financeiro relativamente ao risco climático e às
emissões, designadamente valorização e pressupostos
de risco.
Desafiar as estratégias das empresas que estão a utilizar
os fundos dos acionistas para desenvolver projetos de
combustíveis fósseis com elevados custos; rever a aplicação
do dinheiro por parte das empresas cuja estratégia é a de
continuar a investir na exploração e no desenvolvimento de
mais combustíveis fósseis e procurar o seu retorno; reduzir
as participações em empresas intensivas em carbono e
utilizar índices reequilibrados e ajustados ao carbono como
indicadores de referência do desempenho; redistribuir
fundos a oportunidades alternativas alinhadas com a
estabilidade climática.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 7
Prefácio de Lord Stern
O presente relatório mostra de forma muito clara a grande
inconsistência entre as valorizações atuais dos ativos de
combustíveis fósseis e o caminho que os governos se
comprometeram seguir, a fim de gerir os enormes riscos
de alterações climáticas.
Se queimarmos todas as reservas atuais de combustíveis
fósseis, emitiremos CO2 suficiente para criar um clima
pré-histórico, com a temperatura da Terra a subir para
níveis não registados há milhões de anos. Um tal mundo
seria radicalmente diferente daquele que conhecemos
atualmente, com alterações na intensidade e frequência
de eventos extremos, tais como inundações ou secas,
níveis do mar superiores redesenhando as linhas costeiras
do mundo e desertificação, redefinindo os locais onde
as pessoas podem viver. Estes impactos conduziriam a
migrações em massa, com o potencial de um conflito
generalizado, ameaçando o crescimento económico e a
estabilidade.
Os governos começaram a reconhecer a dimensão dos
riscos decorrentes das alterações climáticas não geridas e
já acordaram reduzir as emissões anuais globais para evitar
um aquecimento global superior a 2 °C. Está previsto
que no final de 2015 os governos se reúnam em Paris na
cimeira sobre as alterações climáticas das Nações Unidas
para assinarem um tratado que fará com que todos se
comprometam a agir para a consecução deste objetivo.
A tecnologia de captura e armazenamento de carbono
poderão, teoricamente, permitir que os combustíveis
fósseis sejam queimados de uma forma consistente
com o objetivo de reduzir as emissões. No entanto, o
presente relatório mostra que mesmo um cenário para a
sua implantação que é atualmente considerado otimista
apenas faria uma diferença marginal para a quantidade de
combustíveis fósseis que podem ser consumidos até 2050.
Os investidores inteligentes já podem ver que a
maior parte de reservas de combustível fóssil é,
fundamentalmente, incombustível devido à necessidade
de reduzir as emissões em consonância com o acordo
global. Podem ver que investir em empresas que têm
por base exclusivamente ou fortemente o abastecimento
constante de reservas de combustíveis fósseis se está a
tornar numa decisão muito arriscada.
Mas espero que este relatório
signifique que os reguladores
também tomam nota, uma vez
que grande parte deste risco
incorporado decorrente destes
ativos de carbono potencialmente
tóxicos não é abertamente
reconhecido nos requisitos atuais
de comunicação de informações.
A crise financeira mostrou o que acontece quando
os riscos se acumulam de forma despercebida. Por
conseguinte, é importante que as empresas e os
reguladores trabalhem em conjunto para declarar e
quantificar abertamente esses riscos de valorização
associados ao carbono, permitindo aos investidores e
acionistas considerarem qual a melhor forma de os gerir.
Se esses riscos de valorização passarem a ser mais
transparentes, as empresas que atualmente estão
especializadas em combustíveis fósseis serão capazes
de desenvolver novos modelos de negócio que tenham
em conta o fato de que a procura dos seus produtos
vai diminuir acentuadamente nas próximas décadas e
considerarem as suas opções em matéria de diversificação,
a fim de manterem o seu valor. Os investidores vão
também ser capazes de considerar se é melhor ficar com
os ativos com elevado teor de carbono ou, pelo contrário,
procurar novas oportunidades de negócios mais bem
posicionados em termos de ganhos numa economia com
baixas emissões de carbono.
O presente relatório fornece aos investidores e reguladores
as provas de que necessitam relativamente ao fato de
os riscos graves estarem a aumentar para os ativos com
elevado teor de carbono. Deverá ajudá-los a gerir melhor
esses riscos de uma forma tempestiva e eficaz.
Professor Lord Stern of Brentford, Presidente, Grantham
Research Institute on Climate Change and the Environment,
London School of Economics and Political Science
8 |
Introdução
O diagrama a seguir mostra os fluxos financeiros que criam um ciclo dependente das
emissões continuadas resultantes da combustão de combustíveis fósseis. O presente
relatório explora esta relação em maior profundidade para demonstrar alguns dos efeitos
de retorno de se manterem as emissões dentro de um orçamento de carbono apropriado.
Define de que modo o sistema financeiro atual necessita de se adaptar para assegurar
que pode refletir o risco crescente de capital desperdiçado e ativos improdutivos.
LOGÓTIPO
EMISSÕES
LOGÓTIPO
E
£
RO
JU
TDA
BI
DÍVIDA
CAPITAL PRÓPRIO
Petróleo
EMPRESAS
Petróleo
Petróleo
Petróleo
DIV
S
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CAPEX
ID E N D
O
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
DESENVOLVER
RESERVAS
Petróleo
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 9
1. Orçamento de CO2 global
1.1 O que são os orçamentos de
CO2?
O aquecimento global é causado pelo aumento dos
níveis atmosféricos de gases com efeito de estufa (GEE),
principalmente dióxido de carbono (CO2) resultantes
da combustão de combustíveis fósseis. Numa primeira
aproximação, as emissões anuais cumulativas durante um
dado período vão determinar a alteração na concentração
e, portanto, a quantidade do aquecimento. Isto significa
que para qualquer subida específica da temperatura,
existe um orçamento para emissões de gases com efeito
de estufa, nomeadamente CO2, o qual não pode ser
excedido, a fim de evitar que a temperatura suba acima
do limiar estabelecido. Quanto maior for o orçamento,
menor é a probabilidade de restringir o aquecimento a um
determinado nível.
Esta análise centra-se apenas em orçamentos para
CO2 – adiante designados de orçamentos de carbono.
(É diferente do orçamento de carbono do Reino
Unido que inclui todos os gases com efeito do estufa).
Cada orçamento de carbono está associado a uma
probabilidade de não exceder um determinado limiar de
temperatura. Tal reflete o grau de incerteza inevitável ao
projetar sistemas tão complexos décadas no futuro.
A agenda política internacional para o clima
Os governos reconheceram a necessidade de gerir os
riscos futuros das alterações climáticas, reduzindo as
emissões de gases com efeito de estufa, sobretudo CO2.
Em 2010, os governos acordaram numa conferência
sobre as alterações climáticas das Nações Unidas que
as emissões deveriam ser reduzidas, a fim de evitar uma
subida da temperatura média global superior a 2 °C em
relação aos níveis pré-industriais, com a possibilidade de
rever em baixa este valor para os 1,5 °C. A meta de
2 °C foi definida pelo fato de ser reconhecido a partir das
provas científicas que os riscos de impactos muito graves,
tais como subidas elevadas e irreversíveis dos níveis do
mar globais, atingem níveis inaceitáveis com temperaturas
superiores. Os governos encontram-se agora a planear
acordar um novo tratado em 2015 para fazer face às
alterações climáticas, o qual poderá incluir metas para as
emissões anuais globais com o intuito de limitar a subida
da temperatura média.
Este capítulo analisa as seguintes questões:
1. Que orçamentos de carbono poderiam ser
definidos?
Cada meta de temperatura implica um orçamento de
carbono distinto. Aqui exploramos os orçamentos de
carbono para subidas da temperatura de 1,5, 2,0, 2,5 e
3,0 °C. Para cada subida da temperatura fornecemos
orçamentos que proporcionam uma probabilidade de 50%
e uma probabilidade de 80% de limitar o aquecimento
global para esse nível.
2. Que período é coberto pelos orçamentos
de carbono?
A maior parte dos debates políticos concentra-se na
redução das emissões anuais necessárias até 2050. No
entanto, as emissões após 2050 também são importantes
para as temperaturas globais. Aqui consideramos
orçamentos de CO2 de 2000 a 2049 e de 2050 a 2100.
3. Que diferença poderão fazer a captura e o
armazenamento de carbono?
A captura e armazenamento de carbono (CAC) é
uma tecnologia que previne que o CO2 resultante da
combustão de combustíveis fósseis entre na atmosfera.
Por conseguinte, a CAC tem o potencial de aumentar
a quantidade de combustíveis fósseis que podem ser
queimados sem exceder o orçamento de carbono para
um determinado limiar de temperatura. Examinamos até
que ponto um cenário idealista para o desenvolvimento e
implantação da CAC afeta os orçamentos de carbono.
Determinar as probabilidades
Existem intervalos de incerteza relacionados com vários
fatores que determinam o orçamento de carbono para um
determinado limiar de temperatura, designadamente:
•S
ensibilidade climática (isto é, uma propriedade do
sistema climático que determina quanto é que a
temperatura sobe em resposta a uma duplicação dos
níveis de CO2 na atmosfera);
• Retornos do ciclo de carbono (até que ponto as emissões
de CO2 resultantes da combustão de combustíveis
fósseis são absorvidas pelos oceanos e a terra ou
permanecem na atmosfera);
•N
íveis de aerossóis (a combustão de combustíveis fósseis
também liberta dióxido de enxofre e outras partículas
que provocam um efeito de refrigeração que reduz o
efeito de aquecimento dos gases com efeito de estufa);
•F
ontes de CO2 além da combustão de combustíveis
fósseis (em particular alterações na utilização dos solos e
florestas).
Os pressupostos apresentados sobre estes fatores são
enunciados aqui e descritos mais pormenorizadamente
num documento técnico de acompanhamento.
10 |
Pressupostos alternativos
Tal como acontece com todas as análises, sejam elas financeiras ou ambientais, há
necessidade de alguns pressupostos fundamentais sobre os parâmetros que definem
o quadro. No domínio das finanças, diferentes analistas utilizam diferentes taxas de
desconto ou preços futuros de mercadorias. De igual modo, os fatores que determinam os
orçamentos de carbono podem ser ajustados para refletirem a lógica mais recente. Cada
versão continua a ser válida e os utilizadores podem aplicar a análise que considerarem
ser mais provável de ocorrer.
A modelização levada a cabo por este estudo produziu orçamentos maiores do que
os indicados na modelização do estudo de 2009 de Meinshausen et al referenciado no
trabalho anterior da Carbon Tracker e pela Agência Internacional de Energia (AIE).
Essa abordagem produziu uma gama de 565-886 GtCO2 para fornecer 80% - 50% de
probabilidade de limitar o aquecimento para um cenário de dois graus (C2G). O presente
estudo utiliza os mesmos modelos, mas aplica pressupostos alternativos em torno de
alguns dos fatores identificados anteriormente. Nomeadamente:
•U
m nível mais elevado de aerossóis na atmosfera que compensa parte do efeito de
aquecimento dos GEE;
•M
aiores reduções nos GEE não de CO2 (que apresentam um maior potencial de
aquecimento global) - tal permite emissões mais elevadas de CO2, mas resulta no
mesmo efeito de aquecimento geral.
Caso fique provado que é mais viável aplicar medidas de atenuação não de CO2 (por
exemplo, capturar e reutilizar metano de técnicas agrícolas de aterro ou com baixas
emissões de carbono), tal poderia aumentar o orçamento disponível para as emissões
de CO2. O recurso a estes pressupostos alternativos fornece um ponto de referência útil
para validar as conclusões gerais do trabalho anterior de que a maioria dos combustíveis
fósseis não pode ser queimada em termos absolutos, se tivermos de restringir o
aquecimento global para o C2G.
1.2 Análise dos orçamentos de carbono
Orçamentos de carbono para diferentes limiares de temperatura
Os orçamentos que se seguem correspondem aos orçamentos de carbono de
combustíveis fósseis de 2013 a 2049, tendo em conta as emissões anuais até agora para
este século:
Aumento da temperatura máxima (°C)
Orçamento de carbono dos combustíveis
fósseis 2013-2049 (GtCO2)
Probabilidade de não exceder o limiar
da temperatura
50%
80%
1,5
525
-
2,0
1075
900
2,5
1275
1125
3,0
1425
1275
Com base nestes resultados, existem já menos de 80% de hipóteses de limitar o
aquecimento global para 1,5 °C. Estes orçamentos de carbono são extraídos dos modelos
aplicáveis após 2050 e, portanto, têm implicações neste período posterior.
Orçamentos de carbono após 2050
Apesar de aqui se privilegiarem os orçamentos de carbono a partir dos combustíveis
fósseis e outras fontes para o período compreendido entre 2013 e 2049, o orçamento
após 2049 é igualmente importante para esta análise. Os orçamentos que se seguem
correspondem aos orçamentos de CO2 (incluindo elementos não de combustíveis fósseis)
para cada limiar de temperatura para o período de 2050 a 2100.
Aumento da temperatura máxima (°C)
Orçamento de carbono total
2050-2100 (GtCO2)
Probabilidade de não exceder o limiar
da temperatura
50%
80%
1,5
25
-
2,0
475
75
2,5
1175
650
3,0
1875
1200
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 11
Para aqueles com interesses nos combustíveis fósseis, isto esclarece que o orçamento não
é reinicializado em 2050, dado que o efeito cumulativo das emissões industriais continua
presente. Tal vem confirmar o fato de que estas reservas não podem ser queimadas mais
tarde, se queremos limitar o aquecimento global neste século. Efetivamente, para as
metas de 1,5 °C e 2 °C, serão permitidas muito poucas emissões após 2050. Para
Orçamentos com 80% de probabilidade pré e pós 2050
4000
4000
3500
3500
3000
3000
2500
2500
GtCO2
GtCO2
Orçamentos com 50% de probabilidade pré e pós 2050
algumas trajetórias de emissões, o uso dos solos e a silvicultura poderão contribuir com
emissões negativas líquidas de CO2 entre 2050 e 2100 e, portanto, os números aqui
indicados poderão não corresponder ao limite máximo do orçamento de carbono para os
combustíveis fósseis.
2000
2000
1500
1500
1000
1000
500
500
0
0
1,5
2
2,5
3
Temperatura máxima até 2100 ( oC)
Orçamento de carbono para a utilização
de combustíveis fósseis 2013-2049
(GtCO2 ) (50% de probabilidade)
Orçamento de carbono para a utilização
de combustíveis fósseis 2050-2100
(GtCO2 ) (50% de probabilidade)
1,5
2
2,5
3
Temperatura máxima até 2100 ( oC)
Orçamento de carbono para a utilização
de combustíveis fósseis 2013-2049
(GtCO2 ) (80% de probabilidade)
Orçamento de carbono para a utilização
de combustíveis fósseis 2050-2100
(GtCO2 ) (80% de probabilidade)
12 |
A tecnologia CAC tem sido instalada em várias unidades
de demonstração em todo o mundo, com o Instituto
Global de Captura e Armazenamento de Carbono (GCCSI)
(2012) a comunicar existirem atualmente oito projetos de
grande escala a operarem, armazenando em conjunto
cerca de 23 milhões de toneladas de CO2 todos os anos.
Atualmente, estão em fase de construção oito projetos
adicionais que segundo as estimativas do GCCSI vão
aumentar o armazenamento anual de CO2 para cerca
de 36 milhões de toneladas até 2015 (ou seja, cerca de
2,25 milhões de toneladas por ano armazenadas em média
por cada projeto).
A Agência Internacional da Energia (2012) descreveu
2013 - 2049
opções de tecnologia e vias políticas que, segundo os
seus modelos, asseguram 80% de hipóteses de limitar
ile)
o aumento da temperatura a longo prazo para 2 °C. Tal
incluiu um cenário idealizado no qual a CAC previne que
125 GtCO2 resultantes da combustão de combustíveis
fósseis entrem na atmosfera entre 2015 e 2050.
No cenário idealizado, a quantidade de CO2 que se evita
anualmente que entre na atmosfera através da tecnologia
de captura e armazenamento de carbono aumenta de
0,3 GtCO2 em 2020 para 8 GtCO2 em 2050. O gráfico
compara as emissões eliminadas através da captura e
armazenamento de carbono no cenário idealizado com
uma trajetória de emissões que oferece cerca de 80% de
hipóteses de não exceder um aquecimento superior a 2 °C.
2013 - 2049
tile)
Atendendo ao fato de que a taxa anual média do
armazenamento em 2015 está prevista pelo Instituto
Global de Captura e Armazenamento de Carbono (2012)
ser de cerca de 2,25 milhões de toneladas para 16 projetos
de CAC, teriam de estar operacionais neste cenário
idealizado um total de aproximadamente 3800 projetos de
CAC até 2050.
Cada orçamento de carbono indicado para a probabilidade
de um determinado resultado de aquecimento apenas será
alargado em 125 GtCO2 para 2050 com um nível otimista de
tecnologia CAC implementada.
35
Emissões anuais provenientes de
combustíveis fósseis (GtCO2)
1.3 O potencial da tecnologia de
CAC de aumentar o orçamento de
carbono
30
25
20
15
10
5
0
0
2000
2005
2010
2015
2020
2025
2030
2035
2040
Ano
Emissões não reduzidas provenientes de combustíveis fósseis
Emissões eliminadas por captura e armazenamento (cenário idealizado)
2045
2050
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 13
A captura e armazenamento de carbono ainda está longe
de ser uma tecnologia comercial implementada de forma
generalizada. Embora teoricamente ofereça uma via para
uma quantidade ilimitada de combustíveis fósseis a ser
queimada sem esgotar os orçamentos, a implantação
relativamente limitada da CAC prevista antes de 2050,
mesmo num cenário idealizado, significa que é pouco
provável que vá aumentar consideravelmente a quantidade
de combustíveis fósseis passíveis de combustão. Para estes
cenários até mesmo com um investimento completo em
CAC, alarga o orçamento de carbono para o C2G apenas
12-14% (50-80% de probabilidade).
Para estes cenários até mesmo com
um investimento completo em CAC,
alarga o orçamento de carbono para
o C2G apenas 12-14%
Cabe também salientar que a tecnologia CAC está
apenas a ser verdadeiramente explorada em relação ao
gás natural e ao carvão e não é atualmente considerada
adequada para utilização com o petróleo nos transportes.
Conclusões
•O
s orçamentos de carbono constituem uma ferramenta
muito útil para compreender o nível de emissões de
combustíveis fósseis contínuas que podem ocorrer ao
longo das próximas décadas para cumprir os limiares de
aumento da temperatura.
•O
s governos podem acordar um orçamento para CO2 e
outros gases com efeito de estufa enquanto parte de um
novo tratado internacional para as alterações climáticas
em 2015.
•C
aso sejam tomadas mais medidas para reduzir as
emissões não de CO2, tal proporciona um orçamento de
emissões de CO2 de combustíveis fósseis mais generoso
correspondente a 900 GtCO2, para permitir 80% de
hipóteses de alcançar um C2G.
•A
inda que o investimento em CAC seja acelerado em
consonância com o cenário idealizado da AIE, apresenta
um potencial limitado para alargar os orçamentos de
carbono na altura em que possa ser aplicado em escala.
Os orçamentos C2G apenas aumentam 12-14%, se for
realizado um investimento completo.
• Mesmo com a afetação de um orçamento mais elevado
às emissões de CO2 do que aos gases com efeito de
estufa, e um nível idealizado de CAC implantada, a maior
parte das reservas de combustível fóssil não pode ser
queimada se pretendermos uma hipótese decente de
limitar o aquecimento global para 2 °C.
• O conceito de um orçamento de carbono proporciona
uma nova base de referência relativamente à qual se
pode estabelecer uma correspondência das reservas,
para ver que percentagem de combustíveis fósseis
detidos por empresas públicas pode ser desenvolvida e
queimada sem mitigação. Tal tem implicação na forma
como os bancos de investimento e os investidores
avaliam estas empresas, a forma como as empresas
divulgam a viabilidade das suas reservas e as suas
decisões futuras para explorar e desenvolver mais
combustíveis fósseis.
Recomendação
•A
s implicações dos orçamentos de CO2 são profundas
e os decisores políticos internacionais em matéria de
clima têm um papel a desempenhar nas transformação
das implicações em tomadas de decisões financeiras e
económicas.
Metodologia
• S
ão utilizadas várias trajetórias de emissões de
estudos anteriores (Bowen and Ranger 2009; Ranger
et al. 2010), bem como algumas novas desenvolvidas
para este estudo.
• O
resultado em termos climáticos para cada
trajetória utilizada no estudo foi validado com
recurso ao modelo climático MAGICC6 (que
pode ser consultado em http://live.MAGICC.org;
Meinshausen et al, 2011).
• A
s definições climáticas de Meinshausen et al
(2009) no MAGICC6 são utilizadas para analisar as
trajetórias de emissões.
• O
s pressupostos são representados como
distribuições de probabilidade, o que significa
que os modelos produzem uma gama de subidas
estimadas de temperatura para cada trajetória
relativamente às emissões globais anuais.
• O
s resultados concentram-se nas probabilidades
de 50% e 80% de apresentar uma determinada
temperatura.
• N
enhuma das trajetórias deste estudo envolve
emissões anuais negativas líquidas de gases com
efeito de estufa até 2100.
• P
artimos do princípio de que 7,3% das emissões
totais de CO2 são geradas pelo uso dos solos, pela
alteração do uso dos solos e pela silvicultura para os
orçamentos de carbono até 2050.
• E
stima-se que as emissões para o período 20002012 relativas aos combustíveis fósseis sejam cerca
de 400 GtCO2.
• Os orçamentos de carbono são obtidos a partir das
linhas de correlação para esboços de trajetórias de
emissões modelo e os orçamentos são arredondados
para o valor mais próximo de 25 GtCO2.
14 |
2. Reservas e recursos de
carvão, petróleo e gás
globais cotadas
Este capítulo incide sobre as seguintes questões:
1. Que nível de reservas se encontram já
detidas por empresas cotadas; e que reservas
adicionais estão a procurar para desenvolver
a produção?
2. De que modo os níveis de reservas são
comparáveis com os orçamentos de carbono?
3. Que quantidade de despesa de capital é
atribuída à procura e desenvolvimento de
mais reservas?
4. De que forma estão distribuídas as reservas
pelas bolsas de valores do mundo?
5. Que índices do mercado são mais
intensivos em termos de carbono?
2.1 Reservas detidas por empresas
cotadas
Propriedade estatal: Reservas vs Produção
De acordo com a publicação World Energy Outlook
(Perspetivas Energéticas Mundiais) 2012, as reservas totais
que incluem ativos detidos pelo Estado são equivalentes a
2860 GtCO2. Tal é já suficiente para nos levar além dos 3 °C
de aquecimento.
Os governos detêm uma percentagem mais elevada de
reservas de petróleo e gás (até 90%) comparativamente
com as reservas de carvão (cerca de dois terços). Contudo,
cabe salientar que as empresas petrolíferas nacionais não
têm a mesma percentagem de produção atual - estimada
em cerca de 60% de petróleo e menos de 50% de gás.
Isto significa que as empresas cotadas desempenham um
papel ainda mais relevante do que aquilo que os números
de reservas possam sugerir. Têm um papel determinante
no desbloqueio dos ativos detidos pelo Estado com a
tecnologia e o capital que podem proporcionar.
A fim de aferir a exposição dos investidores institucionais,
a tónica é colocada nas reservas detidas por empresas
cotadas nas bolsas de valores do mundo. Além de
analisarmos as que possuem um elevado grau de certeza
(reservas de petróleo e gás P1 e reservas de carvão),
fomos mais além do que a análise original de Carbono
incombustível e analisámos as potenciais reservas
(reservas de petróleo e gás P2 e recursos de carvão) que
as empresas estão a procurar desenvolver. Tal demonstra
que a potencial dimensão de carbono incombustível, a
percentagem de reservas detidas por empresas que terão
que permanecer no terreno por desenvolver, é ainda
maior do que aquilo que inicialmente se pensava. Mostra
também as intenções das indústrias extrativas no caso de
não existirem limites de emissões em vigor.
Se todos estes recursos forem desenvolvidos de forma
a concretizarem-se, tal duplicará o nível de potenciais
emissões de CO2 cotadas nas bolsas de valores do mundo
de 762 para 1541 GtCO2. Esta situação exigirá capital para
desenvolver mais as potenciais reservas de modo a que
passem das categorias de recursos/P2 para as categorias
de reservas/P1. É importante salientar que a percentagem
de carvão em relação aos combustíveis fósseis totais
também aumenta de 36% para 42% ao comparar as
reservas atuais com as reservas potenciais (ver quadro a
seguir). Por conseguinte, a carteira do investidor médio
exposta a empresas cotadas está definida para se tornar
mais intensiva em termos de carbono nos próximos anos
e não o contrário, se for nesta componente que o capital
é gasto. Contudo, nem todas as reservas por desenvolver
têm de ser criadas. De fato, num mercado em que
assistimos a um enfraquecimento da procura e uma queda
dos preços, isto reduziria a viabilidade das reservas.
Reservas de Carvão / Petróleo e Gás P1
GÁS CARVÃO
101
273
PETRÓLEO
388
TOTAL
762
Reservas de Carvão / Petróleo e Gás P2
GÁS CARVÃO
186
640
PETRÓLEO TOTAL
715
1541
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 15
2.2 Comparação das reservas
cotadas com os orçamentos de
carbono
Quota do orçamento das empresas cotadas
Os ativos de carvão, petróleo e gás que já se encontram
desenvolvidos são quase equivalentes ao orçamento de
80% 2 °C para 2050 de 900 GtCO2. Tal como é sabido,
a maioria das reservas é detida por entidades públicas.
Se as empresas cotadas desenvolverem todos os ativos
nos quais têm um interesse, estas potenciais reservas
excederiam o orçamento para 2050 para dar apenas 50%
de hipóteses de alcançar o C2G de 1075 GtCO2.
Dado que as empresas cotadas detêm cerca de um quarto
das reservas totais (que são equivalentes a 2860 GtCO2),
a sua quota proporcional de orçamentos de carbono não
está longe daquilo que é necessário para utilizar todas
as suas reservas. Isto mostra que existe um orçamento
muito limitado disponível para as empresas cotadas se
pretendermos ter uma elevada probabilidade de limitar as
temperaturas para a gama mais baixa, conforme indicado
nas negociações internacionais sobre o clima. Tal significa
que cerca de 65-80% das reservas atuais das empresas
cotadas não podem ser queimadas sem mitigação.
Isto vem confirmar que as atividades planeadas apenas
das empresas das indústrias extrativas cotadas são
suficientes para ir além dos 50% de hipóteses de alcançar
um C3G, sem acrescentar os ativos detidos pelo Estado.
As emissões adicionais necessárias para nos levar além
de um C2G para um C2,5G e, posteriormente, um C3G
constituem um aumento relativamente pequeno.
Se às empresas cotadas for atribuída
uma quota pro rata do orçamento –
25% - isto faz com que fiquem com
um grande défice no orçamento de
carbono comparativamente com as
suas reservas.
Comparação das reservas cotadas em bolsa até 50% de
probabilidade pro rata do orçamento de carbono
Comparação das reservas cotadas em bolsa até 80% de
probabilidade pro rata do orçamento de carbono
Temperatura máxima (°C)
50% de probabilidade
Temperatura máxima (°C)
80% de probabilidade
3
356
2,5
319
2
1,5
1541
3
319
2,5
281
269
2
225
131
1,5
-
Reservas potenciais
cotadas em bolsa
762
Reservas atuais
cotadas em bolsa
Reservas potenciais
cotadas em bolsa
1541
762
Reservas atuais
cotadas em bolsa
16 |
A fim de desenvolver as reservas atuais terá de ser
mobilizado mais capital. Esta secção fornece uma
indicação do nível de despesas de capital (CAPEX)
efetuado por estas empresas para encontrar e desenvolver
mais reservas. A análise mostra que as despesas de CAPEX
(ajustadas proporcionalmente aos rendimentos obtidos
com o carvão, petróleo e gás) durante os 12 últimos meses
destas 200 empresas ascenderam a 674 mil milhões de
dólares dos Estados Unidos. Os custos mais elevados do
setor do petróleo e do gás significa que a maior parte 593 mil milhões de dólares - estava relacionada com este
setor, sendo que 81 mil milhões de dólares diziam respeito
às operações com carvão.
Repartição do CAPEX
As repartições dos orçamentos de CAPEX não se
encontravam disponíveis em todas as empresas. O
CAPEX da empresa extrativa foi atribuído ao carvão
proporcionalmente aos rendimentos obtidos com o
carvão. A maior parte dos principais CAPEX relacionados
com o petróleo foram atribuídos à exploração, produção
e refinação - ou seja, obter mais produto para o mercado.
As empresas apresentam alguma variação em termos
de diversificação para outros tipos de energia, por
exemplo, eólica, solar. A transparência em relação aos
orçamentos de I&D é limitada, os quais poderiam ser
utilizados para qualquer coisa desde o desenvolvimento
de novas tecnologias para extrair hidrocarbonetos não
convencionais até à melhoria das tecnologias de baterias.
Capital desperdiçado?
Se o CAPEX se mantiver ao mesmo nível durante a
próxima década registará até 6,74 mil milhões de
dólares em capital desperdiçado no desenvolvimento de
reservas suscetíveis de se tornarem incombustíveis. Tal
impulsionaria uma divergência ainda maior entre um C2G
e a posição dos mercados financeiros. Esta situação tem
profundas implicações para os detentores de ativos com
participações consideráveis em ações de combustíveis
fósseis. É especialmente grave para as empresas com
grandes planos de CAPEX que continuam a afundar os
fundos dos acionistas no desenvolvimento de novas
reservas adicionais incompatíveis com o caminho das
baixas emissões de carbono.
Retorno em dinheiro
Em contrapartida, as mesmas empresas pagaram
126 mil milhões de dólares americanos em dividendos
aos seus acionistas nos últimos 12 meses (105 mil milhões
de dólares americanos provenientes do petróleo e gás;
21 mil milhões de dólares americanos provenientes do
carvão).
Isto cria, em particular, um desafio para as empresas
concentradas puramente em atividades com utilização
intensiva de carbono, tais como carvão e areias
petrolíferas.
Se o CAPEX se mantiver ao mesmo
nível durante a próxima década
registará até 6,74 mil milhões de
dólares em capital desperdiçado
no desenvolvimento de reservas
suscetíveis de se tornarem
incombustíveis.
As empresas envolvidas na extração de combustíveis
fósseis estão a gastar cinco vezes mais na procura de
Despesas CAPEX anuais estimadas no
novas reservas do que no retorno de dinheiro que fazem
desenvolvimento de mais reservas
aos acionistas. Os acionistas começam já a interrogar-se
sobre a necessidade de alterar este rácio. O mundo dispõe
de vastas reservas de carvão para superar os orçamentos
de carbono necessários para limitar o aquecimento global.
Os investidores devem começar a questionar-se por que
motivo o investimento adicional em mais carvão e petróleo
é uma aplicação útil dos fundos por parte destas
de dólares CAPEX
s
e
empresas em que uma estratégia de
po
lhõ
ra
i
pagamentos de dividendos mais elevados
no
li m
e recompras de ações poderia ser mais
m
apropriada.
67
4
2.3 Quanto capital está a ser gasto
para desenvolver mais reservas
Modelo de negócio alternativo
A menos que as empresas que têm por base
os combustíveis fósseis possam surgir com
um modelo de negócio alternativo,
nem todas estão em condições de
sustentar rendimentos
e crescimento.
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
762
GtCO2
Reservas de Carvão / Petróleo e Gás P1
Petróleo
Petróleo
Petróleo
Petróleo
1541
GtCO2
Recursos de Carvão / Petróleo e Gás P2
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 17
2.4 Distribuição dos ativos de
carvão, petróleo e gás pelas bolsas
de valores
O primeiro mapa que se segue apresenta as reservas
comunicadas atuais e mostra que Nova Iorque, Moscovo
e Londres têm elevadas concentrações de combustíveis
fósseis nas suas bolsas. Se combinarmos as reservas de
Hong Kong, Xangai e Shenzen, a China não fica muito
atrás. O segundo mapa indica o nível de potenciais
reservas em cada bolsa. Tal inclui reservas de petróleo
e gás P2, bem como recursos de carvão, para além das
reservas mostradas no primeiro mapa. Talvez sem surpresa,
88% do potencial de CO2 cotado nas bolsas de valores
chinesas diz respeito a reservas de carvão.
Em desenvolvimento
Outras bolsas de valores apresentam uma quantidade
significativa de potenciais reservas em desenvolvimento,
o que aumentará a sua exposição se passarem para a fase
de produção. Joanesburgo, Tóquio, Austrália, Indonésia,
Banguecoque e Amesterdão verão os seus níveis mais do
que triplicar se as perspetivas atuais dispuserem de mais
capital investido e forem desenvolvidas com êxito em
reservas viáveis. Os investidores e os reguladores devem
começar a questionar a validade das emissões novas
ou secundárias de ações por parte das empresas que
procuram utilizar o capital no desenvolvimento de mais
ativos de combustíveis fósseis.
Compreender a cadeia de valor
Contudo, as implicações para os investidores nestas bolsas
pode ser muito distinta dependendo da geografia das
reservas que estão cotadas nas mesmas, e dos mercados
de que dependem para as vendas. A África do Sul e a
Austrália têm ambas jazidas de carvão consideráveis, mas
têm perfis de procura muito diversos. O setor da energia
da África do Sul é dominado pelo carvão, nomeadamente
a conversão do carvão em líquido para produzir
combustível para transportes. Isto significa que o mercado
do carvão é essencialmente doméstico. Por outro lado,
a Austrália exporta para todo o Pacífico e num mercado
global crescente. Em contrapartida, os Estados Unidos
(EUA) estão a ponderar opções de exportação devido ao
seu mercado interno cada vez mais limitado.
Os investidores têm de perceber as cadeias de valor
globais que podem ligar as ações que detêm através
de uma determinada bolsa de valores a reservas que
poderiam ser exploradas noutro país com vista à
exportação para outro mercado. A análise do carvão
cotado em Londres indicou que um terço das reservas se
encontrava na Austrália.
Isto significa as seguintes ligações globais para uma
empresa como a Xstrata:
• A sede encontra-se na Suíça;
• A sua cotação principal está em Londres;
• A maior parte das suas reservas encontra-se na Austrália
e África do Sul;
• 85% da sua produção é exportada;
• Os principais mercados incluem o Japão, a China, a
Índia, a Coreia e Taiwan.
O anúncio da China de que
tenciona aumentar a utilização
de carvão no plano quinquenal
atual para menos de 4 mil milhões
de toneladas por ano poderá ter
efeitos colaterais importantes
Os investidores têm, portanto, de compreender o risco
de uma tecnologia alternativa, a regulamentação das
emissões, as variações na procura e no preço, a eficiência
energética, a escassez dos recursos hídricos e quaisquer
outros fatores que possam provocar alterações no
mercado do carvão. Por exemplo, o anúncio da China
de que pretende aumentar a utilização de carvão no
plano quinquenal atual para menos de 4 mil milhões
de toneladas poderá ter efeitos colaterais importantes
no mercado de carvão global crescente. Os planos de
crescimento atuais de muitos produtores baseiam-se numa
procura desenfreada de carvão por parte da China.
Ativos improdutivos
Muitos fatores, nomeadamente políticas e preços
nos países onde é feita a extração, comercialização e
combustão dos combustíveis fósseis, irão afetar quais
os combustíveis fósseis específicos que acabam por se
revelar incombustíveis. Tal torna mais complexa a tarefa
de identificar potenciais ativos improdutivos. Contudo, é
evidente que assumir uma visão sistémica tem um caráter
informativo - se o mercado global não continuar a crescer
à mesma taxa, as estratégias da maioria das empresas de
continuar a aumentar a produção não fazem sentido.
Divisão Este-Oeste
O mapa mostra uma divisão inequívoca entre as bolsas
de valores orientais e meridionais com uma elevada
percentagem de carvão, ao passo que os mercados
ocidentais dispõem de grandes quantidades de petróleo.
Há muitos mais recursos de carvão a aguardarem ser
desenvolvidos por empresas cotadas no Extremo Oriente
e na Austrália. Estes poderão ser os ativos improdutivos do
futuro num cenário condicionado pelo carbono. A exposição
limitada de todos os mercados ao gás indica o fraco
posicionamento para uma transição para baixas emissões de
carbono com recurso a este combustível. Moscovo domina
as reservas de gás atuais cotadas, com Paris e Nova Iorque a
apresentarem potencial de crescimento.
40
18 |
O MAPA APRESENTA O GTCO2 DAS RESERVAS DE CARVÃO, PETRÓLEO E GÁS ATUAIS COTADAS NAS BOLSAS DE VALORES MUNDIAIS.
LEGENDA
RESERVAS TOTAIS DE CO2
MOSCOVO
144
CO2 EM CARVÃO (RESERVAS)
CO2 EM GÁS (P1)
LONDRES
113
CO2 EM PETRÓLEO (P1)
12
(Apenas as 12 bolsas com maior exposição são apresentadas)
89
43
49
53
11
TORONTO
33
5
TÓQUIO
13
.5
3
2.5
10
25
XANGAI
41
1
PARIS
20
NOVA IORQUE
33
215
ÍNDIA NACIONAL
12
4
16
40
2
10
36
146
33
SÃO PAULO
30
3
26
1
JOANESBURGO
13
AUSTRÁLIA
26
1
2
HONG KONG
60
1 10
49
13
23
40
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 19
O MAPA APRESENTA O GTCO2 DE RESERVAS POTENCIAIS DE CARVÃO, PETRÓLEO E GÁS COTADAS NAS BOLSAS MUNDIAIS.
LEGENDA
MOSCOVO
266
TOTAL DE CO2 RESERVAS POTENCIAIS
LONDRES
286
CO2 EM CARVÃO (RESERVAS POTENCIAIS)
16
CO2 EM GÁS (P2)
CO2 EM PETRÓLEO (P2)
79
(Apenas as 12 bolsas com maior exposição são
apresentadas)
100
171
165
21
TORONTO
69
TÓQUIO
39
2
6
21
42
31
6
PARIS
37
NOVA IORQUE
366
ÍNDIA NACIONAL
25
1 2
7
33
60
30
43
22
60
263
XANGAI
63
1 2
JOANESBURGO
51
SÃO PAULO
58
10
2
2
51
19
70
95
46
HONG KONG
91
AUSTRÁLIA
101
3
4
20 |
VS
Na qualidade de maiores centros
financeiros do mundo ocidental,
vale a pena confrontar os diferentes
focos destas duas bolsas de valores.
Nova Iorque apresenta uma
tendência clara para o petróleo,
enquanto Londres é um centro de
comercialização de carvão.
NOVA IORQUE
CO2 aumentou 37% em 2 anos
LONDRES
215,00
Totais de CO2 P1/reservas
113,32
365,64
Totais CO2 P2/recursos
286,45
36,42
CO2 em Carvão (reservas)
48,91
43,13
CO2 em Carvão (recursos)
165,86
32,70
CO2 em Gás (P1)
11,25
59,46
CO2 em Gás (P2)
20,50
145,88
CO2 em Petróleo (P1)
53,15
263,05
CO2 em Petróleo (P2)
100,10
344,85$
Dívida (mil milhões de dólares)
Capitalização de mercado
(mil milhões de dólares)
CAPEX últimos 12 meses
(mil milhões de dólares)
Dividendos último exercício
(mil milhões de dólares)
158,09$
1487,48
245,74
43,60
538,09
78,67
16,80
CO2 aumentou 7% em 2 anos
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 21
2.5 Comparação do índice de intensidade de carbono
É manifesto que algumas bolsas de valores têm uma elevada exposição absoluta às
reservas de carvão, petróleo e gás. Estas representam, portanto, uma preocupação
especial em matéria de risco de investimento. Mas acresce que algumas das bolsas de
valores de menor dimensão têm uma elevada concentração de negócios baseados nos
combustíveis fósseis nos seus índices. Analisámos os índices primários associados às 200
empresas principais analisadas. Essa análise revelou os fundos e indicadores de referência
intensivos em carbono que se seguem.
Índices
Intensidade atual de reservas do índice
(GtCO2 / capt merc biliões de dólares
americanos)
Aplicámos a mesma análise à exposição dos índices a potenciais reservas que as empresas
estão a procurar desenvolver. Os novos membros das dez principais são a Austrália,
África do Sul e Jacarta. Tal mostra que as empresas australianas e indonésias estão a
procurar expandir as suas reservas, o que contraria a direção necessária para alcançar os
orçamentos de carbono.
Índices
Índice da intensidade de carbono das
reservas potenciais (GtCO2 / capt. merc
biliões de dólares americanos)
Índice MICEX (Moscovo)
213,39
Índice MICEX (Moscovo)
395,61
Índice Athens Stock Exchange General
(Atenas)
101,44
Índice Athens Stock Exchange General
(Atenas)
101,44
FTSE MIB INDEX (Itália)
40,89
FTSE 100 (Londres)
90,65
FTSE 100 (Londres)
35,86
FTSE MIB INDEX (Itália)
74,42
Índice Budapest Stock Exchange
(Budapeste)
29,95
S&P/ASX 200 (Austrália)
67,14
Índice Bovespa São Paulo Stock Exchange
(São Paulo)
24,55
Índice FTSE/JSE Africa All Share (África)
49,73
Índice Hong Kong Hang Seng (Hong Kong)
24,16
Índice Bovespa São Paulo Stock Exchange
(São Paulo)
47,89
Índice Vienna Stock Exchange Traded
(Viena)
23,38
Índice Jakarta Stock Exchange Composite
(Jacarta)
47,78
Índice BSE Sensex 30 (Índia)
21,21
Índice Budapest Stock Exchange
(Budapeste)
47,32
Índice S&P/TSX Composite (Canadá)
19,59
Índice BSE Sensex 30 (Índia)
43,09
O quadro sintetiza as dez principais bolsas de valores em termos de reservas existentes no
tocante à capitalização do mercado das empresas que integram esse índice. Atenas, Itália,
Viena e Budapeste são bolsas de valores europeias pequenas com reservas relativamente
grandes no seu índice. A presença do Brasil, Hong Kong e Índia nas dez principais mostra
que os mercados emergentes estão também a ganhar terreno.
A Carbon Tracker tem estado a analisar alguns dos mercados com reservas consideráveis
e crescentes. Em novembro de 2012 realizámos uma análise das reservas de carvão
sul-africanas cotadas. Essa análise permitiu obter uma visão da concentração doméstica
no atinente à questão do carbono incombustível. As reservas atuais são abundantes
para o "orçamento exigido pela ciência" indicado na investigação sobre o orçamento
de carbono do governo sul-africano. Comparámos a carteira do Fundo de Pensões
dos Funcionários Públicos (FPFP) com a ponderação do índice de Joanesburgo. A
concentração doméstica necessária do FPFP enquanto o maior investidor na África do Sul
deixa-os expostos a isto como um risco sistémico que estão a começar a abordar.
22 |
Conclusões
• A quantidade de reservas de combustível fóssil detidas por empresas cotadas continuou
a aumentar para o equivalente de 762 GtCO2.
•O
nível de reservas cotadas poderá duplicar para 1541 GtCO2 se todas as prospetivas
reservas forem desenvolvidas.
•S
e às empresas cotadas lhes for atribuída a sua percentagem do orçamento de carbono
relativa às reservas totais (um quarto) já dispõem de cerca de três vezes mais da sua
quota do orçamento para permitir uma hipótese razoável de alcançar o C2G.
•A
s empresas cotadas têm mais oportunidades de desenvolver carvão do que petróleo
ou gás; tendo em conta a exposição dos mercados ao combustíveis fósseis mais
intensivos em carbono.
•A
s empresas de petróleo, gás e extração de carvão gastaram no último ano
674 mil milhões de dólares em despesas de capital a procurar desenvolver mais reservas.
•A
o analisar os níveis absolutos de exposição, Londres surge como a capital do carvão,
sendo Nova Iorque o centro financeiro do petróleo, sobretudo em termos de potenciais
ativos futuros. Os reguladores destes mercados têm de assumir a liderança.
•A
o analisar a intensidade de carbono, algumas das bolsas mais pequenas apresentam
níveis elevados de combustíveis fósseis para a sua dimensão: Brasil, Hong Kong,
Joanesburgo, Índia, Grécia, Itália, Viena e Budapeste.
Pressupostos:
•
Reservas atuais: probabilidade superior a 90% de extração económica e certeza
geológica. As reservas de carvão e reservas de petróleo e gás P1 com base nos
melhores dados disponíveis da RMG Intierra and Evaluate Energy.
•Reservas potenciais: probabilidade superior a 50% de extração económica e certeza
geológica. Os recursos de carvão e as reservas de petróleo e gás P2 com base nos
melhores dados disponíveis da RMG Intierra and Evaluate Energy.
•Seis fatores diferentes de CO2 utilizados para refletir as categorias de
hidrocarbonetos: gás natural, petróleo convencional; areias petrolíferas, lenhite;
carvão betuminoso e sub-betuminoso.
•Outras fontes de energia não convencionais, tais como gás de xisto, não são
referidas isoladamente. O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas
das Nações Unidas (IPCC) não indicou fatores de CO2 específicos para estes
tipos de hidrocarbonetos. Por conseguinte, esta é considerada uma estimativa
conservadora.
•Propriedade: o potencial de CO2 das empresas é reduzido proporcionalmente nos
casos em que um governo mantém um interesse significativo (>10%).
•As subsidiárias/empresas-mãe cotadas: nos casos em que uma empresa cotada
detenha uma percentagem de outra empresa cotada com reservas, o potencial de
CO2 é dividido em conformidade para evitar a contabilização dupla.
•Bolsa primária: o CO2 é atribuído à bolsa primária da ação cotada.
•Cotação dupla: o potencial de CO2 das empresas com uma dupla cotação é
dividido proporcionalmente à capitalização de mercado em cada bolsa.
•Os dados relativos ao CAPEX e dividendos sintetizam os números mais recentes
comunicados relativos a um período de 12 meses.
• Moeda: todos os dados foram convertidos em dólares americanos.
• Empresas de extração diversificadas: nos casos em que os dados estavam
disponíveis, os números foram reduzidos proporcionalmente à percentagem de
rendimentos provenientes do carvão.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 23
3. Fazer evoluir a
regulamentação dos
mercados quanto ao risco
climático
As rápidas desorganizações dos sistemas bancários e
os efeitos colaterais subsequentes nas valorizações do
mercado de ações em 2008-2012 ocorreram devido à
ausência de um entendimento geral dos riscos crescentes
nos mercados financeiros. Alguns setores (sobretudo o
mercado imobiliário, tanto o desenvolvimento especulativo
das propriedades de investimento quanto a agregação dos
créditos hipotecários de alto risco [sub-prime] para revenda)
mostraram uma incapacidade dos bancos de investimento e
das agências de notação de avaliarem satisfatoriamente os
riscos. De igual modo, o sistema bancário e os reguladores
ainda não estão a ver os sinais de alerta que identificámos
neste relatório, deixando um sistema financeiro que
continua a não ser adequado para a finalidade.
As regras que orientam e regem o funcionamento dos
mercados financeiros têm de evoluir para dar resposta a
este risco sistémico. Londres e Nova Iorque são o ponto de
partida óbvio, atendendo à sua exposição ao problema. A
União Europeia (UE) também proporciona regulamentação
abrangente que poderá ter impacto na bolsa de Londres.
Esta secção identifica algumas oportunidades para abordar
o risco climático através dos processos existentes.
A regulamentação pode evoluir através da liderança de
mercados individuais, ou através da adoção por parte
do organismo global - a Organização Internacional
das Comissões de Valores Mobiliários (OICV/IOSCO,
International Organisation of Securities Commissions). Os
reguladores financeiros mostraram que estão dispostos
a aumentar a transparência dos riscos para setores
específicos, à luz dos novos desenvolvimentos ou questões
levantadas pelos investidores. Os riscos climáticos devem
ser os próximos na sua lista.
3.1 Requisitos do setor extrativo
A incidência desta análise sobre as reservas torna-a mais
pertinente para o setor extrativo. As medidas foram
especificamente desenvolvidas para este setor, o que
demonstra que os reguladores estão dispostos a agir para
proteger os interesses dos acionistas e da sociedade em
resposta aos problemas emergentes. Os dados específicos
deste setor sobre as reservas poderão ajudar os reguladores
e investidores a compreender o nível de riscos climáticos
sistémicos relacionados com os orçamentos de carbono.
Alguns aspetos das suas atividades (reservas e rendimentos)
já se encontram sujeitos a um maior escrutínio (o potencial
de emissões é uma extensão natural).
Os dois indicadores mais simples de "risco" para os
reguladores abordados neste relatório estão interligados,
nomeadamente:
1. Recolha dos dados sobre CO2 incorporado
detido nas reservas de sociedades cujos valores são
negociados junto do público.
2. O nível de despesas de capital por parte destas
empresas no desenvolvimento de novos recursos
enquanto mantêm os seus rácios de substituição de
reservas.
O primeiro indica que níveis de reservas poderão ficar
abandonadas e estar sujeitas a imparidade; o segundo
indica que recursos de tesouraria valiosos de detentores
de ativos como fundos de pensões poderão ser
"perdidos" devido ao investimento de capital inútil. Em
conjunto, são ambos indicadores para os reguladores no
que se refere ao risco sistémico que se está a criar nos
mercados de capitais decorrente do desafio de um mundo
condicionado pelo carbono.
UNIÃO EUROPEIA
A UE propôs a transparência dos pagamentos das
indústrias extrativas aos governos anfitriões mediante uma
alteração da Diretiva relativa à transparência.
LONDRES
Enquanto centro mundial para as empresas extrativas
mobilizarem capital, a Bolsa de Valores de Londres tem
a necessidade de manter a sua reputação de elevados
padrões de governação corporativa. A fim de proporcionar
segurança extra aos investidores, foi introduzida uma nova
orientação para as empresas cotadas, em 2009, que obriga
à "análise feita por pessoas competentes" das reservas
minerais indicadas pela empresa. Tal assegura que as
empresas cotadas na bolsa não podem sobrestimar as suas
reservas, o que implicaria maiores rendimentos no futuro.
ESTADO UNIDOS
Nos EUA, Dodd-Frank foi além das diferentes partes do
sistema financeiro para melhorar a transparência dos
pagamentos aos governos por parte do setor extrativo.
Isto mostra de que modo os reguladores financeiros
podem atuar para melhorar a divulgação. É necessário
aplicar a mesma abordagem para que as empresas
extrativas sejam transparentes sobre o potencial de
emissões de CO2 das reservas de combustível fóssil nas
quais detêm um interesse.
PROPOSTA
•E
xigir a todas as empresas extrativas que forneçam aos
reguladores financeiros o potencial de CO2 relativo às
suas reservas de carvão, petróleo e gás constituiria um
primeiro passo no sentido de aumentar a transparência e
facilitar a monitorização dos riscos.
24 |
3.2 Regulamentos relativos à
estabilidade financeira
Tem havido medidas de requisitos de capital introduzidas
em todo o mundo que exigem que as instituições
financeiras disponham de um rácio mínimo de ativos para
empréstimos.
A capacidade de os riscos climáticos
afetarem todos os setores e o
elevado valor atribuído às reservas
de combustível fóssil torna
imperativo que este problema seja
gerido ativamente para prevenir que
a bolha de carbono rebente.
UNIÃO EUROPEIA
ESTADO UNIDOS
O Basileia III é uma norma regulamentar global sobre a
adequação dos fundos próprios detidos pelos bancos,
os testes de esforço e o risco de liquidez do mercado.
A Comissão Europeia introduziu o Acordo Basileia III ao
abrigo da Diretiva de Requisitos de Capital.
A Lei Dodd-Frank tratou-se de um mecanismo diferente
para resolver vários problemas na estabilidade financeira
e transparência do mercado. Criou o Conselho de
Estabilidade e Supervisão Financeira (CESF) que tem as
seguintes competências:
LONDRES
"Conforme estabelecido ao abrigo da Dodd-Frank Wall
Street Reform and Consumer Protection Act, o Conselho
fornece, pela primeira vez, uma monitorização abrangente
da estabilidade do sistema financeiro do nosso país. O
Conselho está encarregado de identificar riscos para a
estabilidade financeira dos Estados Unidos; promover a
disciplina do mercado; e responder aos riscos emergentes
para a estabilidade do sistema financeiro dos Estados
Unidos".
No Reino Unido, a Lei relativa aos serviços financeiros,
de 2012, criada pelo Comité de Política Financeira (CPF)
do Banco de Inglaterra. O CPF monitoriza os níveis de
cobertura de capital e comunica sobre a sua avaliação do
risco nas suas análises semestrais.
Na sequência do compromisso da Carbon Tracker e de
várias partes interessadas financeiras e ambientais, o
Banco de Inglaterra reconheceu as alterações climáticas
como um potencial risco sistémico.
Até agora não foi feita nesses relatórios qualquer menção
ao risco relacionado com as alterações climáticas. A fim
de que o mercado possa ter a tranquilidade de que este
risco está a ser monitorizado, consideramos que devem ser
desenvolvidos indicadores similares para a exposição aos
riscos climáticos, indicando a evolução do equilíbrio entre
ativos com elevado e baixo teor de carbono. Atualmente,
a análise mostra que tal está a ir no sentido contrário, mas
o regulador não está a gerir ativamente a situação.
São tempos de mudança no Banco de Inglaterra com
um novo Governador e uma nova estrutura a serem
introduzidos durante o terceiro trimestre de 2013. Trata-se
igualmente de uma oportunidade para novas funções
responsáveis por resolver a estabilidade financeira, para
garantir que abordaram todos os potenciais riscos.
Os EUA têm igualmente a Análise e Revisão Exaustivas do
Capital executada pela Reserva Federal, para rever e fazer
testes de esforço aos processos de planeamento de capital
nas instituições financeiras.
PROPOSTA
•O
s reguladores responsáveis pela estabilidade financeira
devem efetuar testes de esforço aos níveis das reservas
e planos de produção relativamente a um cenário de
emissões para 2 °C e comunicar informações sobre a
situação atual do seu mercado.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 25
3.3 Lógica do longo prazo e
mercados de ações
A crise financeira veio expor a lógica do curto prazo
que grassa nos mercados financeiros. Já se encontram a
ser envidados alguns esforços para resolver esta questão,
os quais incidem sobre partes do sistema financeiro. Os
investidores como a Generation Investment Management
e as empresas como a Unilever propuseram já o abandono
dos relatórios trimestrais, por exemplo. A Share Action
(anteriormente designada Fair Pensions) tem estado
a procurar ativamente uma interpretação clara da
responsabilidade fiduciária para incluir considerações
intergeracionais de longo prazo para os administradores
fiduciários de fundos de pensões.
UNIÃO EUROPEIA
A UE lançou uma consulta de três meses em março de
2013 sobre o financiamento a longo prazo da economia
sustentável. A mesma foi motivada por uma crença de
que a crise financeira afetou a capacidade do setor
financeiro na Europa de canalizar poupanças para
investimento a longo prazo. A UE define o investimento
a longo prazo como despesa que aumenta a capacidade
produtiva da economia. Tal pode incluir infraestruturas
de energia, transportes e comunicações, instalações
industriais e de serviços, tecnologias ligadas às alterações
climáticas e à inovação ecológica, bem como a formação
e a investigação e desenvolvimento. A Europa enfrenta
necessidades de investimento a longo prazo e em
grande escala, que são cruciais para apoiar o crescimento
sustentável.
LONDRES
O Departamento para as Empresas, Indústria e
Competências (BIS, Business Industry and Skills) do
Reino Unido elaborou uma análise feita pelo Professor
John Kay sobre o "mercado de ações do Reino Unido
e as tomadas de decisões a longo prazo". A mesma
reconheceu uma "miopia do mercado", que Andy
Haldane, Diretor Executivo da Estabilidade Financeira
do Banco de Inglaterra referiu. Esta análise conduziu a
escrutínio parlamentar adicional da questão pelo Comité
de Inquérito do BIS.
Outra consequência é a revisão levada a cabo pelo Comité
Jurídico para clarificar a definição de responsabilidade
fiduciária. Tal respondeu às preocupações de que alguns
fiduciários (por ex. administradores fiduciários de fundos
de pensões) entendiam que as suas responsabilidades
fiduciárias os obrigava a maximizar os retornos numa
escala de curto prazo, excluindo a consideração de fatores
de longo prazo que podem ter impacto no desempenho
da empresa.
ESTADO UNIDOS
Não foi identificada nos EUA nenhuma atividade
regulamentar explícita neste domínio. O Instituto Aspen
tem sido ativo neste domínio, elaborando princípios
orientadores para a criação de valor a longo prazo.
PROPOSTA
•Os reguladores que procuram desenvolver mercados
de ações de longo prazo capazes de lidar com riscos
sistémicos devem utilizar o risco relacionado com as
alterações climáticas como um caso de teste para
demonstrar que foram bem-sucedidos.
3.4 Divulgação corporativa
O desenvolvimento de uma apresentação de relatórios
integrada por parte do Conselho Internacional de
Apresentação de Relatórios Integrada (IIRC, International
Integrated Reporting Council), bem como iniciativas piloto
como o King Code III na África do Sul indicam aquilo que
muitos acreditam ser o futuro em matéria de relatórios
das empresas. Tal proporciona a oportunidade de juntar
a consideração do risco climático aos relatórios sobre
reservas e à explicação da estratégia de negócio. Outros
mercados não estão tão avançados, mas ainda assim
oferecem oportunidades para abordar o risco climático
agora que ficou clara a sua relevância para a estratégia e
modelos de negócio.
UNIÃO EUROPEIA
A UE encontra-se a elaborar propostas para uma reforma
da divulgação de informação não financeira ao abrigo
da Diretiva Contabilística. Tal é suscetível de exigir no
relatório anual uma "descrição dos principais riscos e
incertezas" com que uma empresa se vê confrontada.
Tal deverá ser "uma análise equilibrada e abrangente
do desenvolvimento e desempenho da atividade da
empresa e da sua posição, coerente com a dimensão e
a complexidade da atividade". Mesmo neste formato
genérico, a Carbon Tracker argumentaria que o risco
relacionado com as alterações climáticas deveria ser
abordado pelas empresas cujo modelo de negócio
esteja dependente dos combustíveis fósseis. Poderão
ser desenvolvidas orientação adicionais e referências
específicas aos problemas ambientais, a fim de instar a
melhorias na divulgação.
26 |
LONDRES
O governo do Reino Unido introduzirá, em outubro de
2013, requisitos de comunicação de informações revistos
aplicáveis às empresas cotadas, abrangendo as emissões
de gases com efeito de estufa; indicadores-chave de
desempenho; e relatórios narrativos.
Os requisitos propostos em matéria de gases com efeito
de estufa constituem uma abordagem única. A mesma
não incorporou a proposta da Carbon Tracker de que as
empresas extrativas deveriam comunicar informações
sobre o potencial de emissões das reservas nas quais
detêm um interesse. Consequentemente, as emissões mais
significativas de muitas empresas que estão relacionadas
com as suas cadeias de abastecimento ou o mercado para
os seus produtos não estarão sujeitas aos requisitos de
comunicação de informações relativas a GEE.
A orientação relativa à comunicação informações sobre os
gases com efeito de estufa referencia abordagens como
o Quadro dos Riscos das Alterações Climáticas (QRAC)
desenvolvido pelo Conselho de Normas de Divulgação em
matéria de Carbono (CDSB, Carbon Disclosure Standards
Board). A aplicação do QRAC ajudaria as empresas a
fornecer uma visão mais completa da sua exposição ao, e
gestão do risco.
Contudo, os requisitos da Lei relativa às sociedades
deveriam, teoricamente, fazer com que as empresas
comunicassem informações sobre de que modo as
alterações climáticas afetam a sua estratégia e modelo de
negócio.
Projeto de Regulamentos, de 2013, sobre
a Lei relativa às sociedades, de 2006
(Relatório Estratégico e Relatório dos
Administradores)
No caso de uma empresa cotada, o relatório
estratégico deve, na medida em que seja necessário
para compreender o desenvolvimento, desempenho
ou posição da atividade da empresa, incluir:
a) uma descrição da estratégia da empresa;
b) uma descrição do modelo de negócio da empresa;
c) as principais tendências e fatores suscetíveis de
afetar o desenvolvimento, desempenho e posição da
atividade da empresa, e;
d) informações sobre:
i) matérias ambientais (incluindo o impacto da
atividade da empresa no ambiente);
ii) os funcionários da empresa, e;
iii) questões sociais, comunitárias e relacionadas
com direitos humanos, incluindo informações
sobre quaisquer políticas da empresa no tocante a
estas matérias e a eficácia de tais políticas.
ESTADO UNIDOS
A Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (SEC,
Securities and Exchange Commission) dos EUA emitiu
orientação sobre a importância do risco relacionado
com as alterações climáticas para as empresas. Tal
proporcionou um ponto de referência para os investidores
que apresentaram deliberações dos acionistas
relacionadas com as alterações climáticas em empresas
de carvão, petróleo e gás, utilitários e financeiras. A
SEC exige também que as empresas indiquem o valor
líquido atual (VLA 10) das suas reservas comprovadas
nos registos anuais fornecidos aos acionistas. Tal exige
que os administradores tomem uma posição sobre os
pressupostos relacionados com os preços das mercadorias,
taxas de desconto e a viabilidade das reservas.
O fato de alguns investidores sentirem a necessidade de
apresentar deliberações para extrair informações sobre
os riscos climáticos demonstra que as empresas não
estão a fornecer voluntariamente informações suficientes
ao abrigo dos regimes atuais. Isto foi confirmado pelos
inquéritos do CERES sobre divulgação das empresas neste
domínio.
PROPOSTA
•O
s reguladores devem exigir que as empresas expliquem
de que modo o seu modelo de negócio é compatível
com a consecução das metas de redução das emissões.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 27
4. Implicações para a valorização de
ações e notações de crédito
HSBC: O Petróleo e o Carvão Revisitados
(janeiro de 2013) Resumo
Numa economia com baixas emissões de carbono, a procura de petróleo poderá
ser reduzida de forma relativamente rápida tendo em conta a disponibilidade de
tecnologias eficazes em termos de custos para melhorar a eficiência do transporte;
a procura de gás continuará a aumentar, embora a um ritmo mais lento. A procura
inferior ao esperado resultaria numa queda do preço do petróleo e o valor de
50 dólares/barril é modelado como um teste de limite máximo. O impacto mais
importante nos valores do mercado decorreria do corte no preço do petróleo, para
que o valor combinado em risco variasse entre 40 e 60% da capitalização do mercado.
Em relação aos investidores, a concentração deveria ser nos produtos de baixo custo
que possam prosperar num contexto de preços baixos e naqueles com uma tendência
para o gás em vez das areias petrolíferas.
A escala destes riscos iminentes relacionados com o carbono deve ser incorporada
na fixação dos preços das ações e na notação das obrigações, a fim de permitir aos
investidores alinhar os seus ativos com uma economia com baixas emissões de carbono.
4.1 Ações
Capitalização do mercado
O valor de mercado das 200 empresas cotadas analisadas com as maiores reservas de
combustível fóssil perfazia cerca de 4 mil milhões de dólares americanos no fim de 2012.
Esse valor dividia-se em 16% para as atividades relacionadas com o carvão e 84% para o
petróleo e gás. A secção a seguir analisa, por sua vez, os setores do petróleo e do gás,
da extração e dos utilitários para compreender o que aderir aos orçamentos de carbono
significa para o modo como as ações são valorizadas.
Curva de custo para os próximos 300 projetos de
«novo investimento» em gás e petróleo propostos
Valorização do petróleo e gás
Queda do fim da curva do custo
A procura e preços mais baixos conduziria, logicamente, os projetos situados no limite
mais elevado da curva do custo a não receberem um decisão de investimento final,
prejudicando aqueles com elevada exposição. Contudo, esta lógica nem sempre
é aplicada de forma consistente e os investidores têm de desafiar a prossecução
constante de projetos potencialmente não lucrativos antes de os custos deixarem de ser
recuperáveis.
90
Preço de equilíbrio, S/bbl
• As valorizações atuais baseiam-se na exploração completa das reservas comprovadas a
uma taxa de produção e preço consistentes.
•A
procura após o pico, os fundamentos do preço e da procura são mais significativos do
que a redução no consumo, com impacto considerável no valor de mercado. Os ativos
de baixo custo e que impliquem baixos teores de carbono tornam-se preferidos.
•A
s valorizações baseadas no rendimento histórico sobre o desempenho do capital
assumem que as margens podem ser mantidas, o que é cada vez mais difícil dado que
os preços diminuem com a procura.
GNL
convencional e
gás não
convencional
100
Bolsas
convencionais de
baixo custo:
Brasil, Noruega,
Iraque
80
70
60
50
GNL não
convencional
óleo pesado
40
30
Águas
profundas GoM,
África Ocidental e
óleo de xisto
dos EUA
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Produção líquida de 2020e, Mboe/d
18
20
22
Fonte: Citi Research
28 |
Valorização da extração
•F
oi sempre um caso de "quando" e não de "se", o crescimento repentino das
mercadorias chegaria ao fim, mas ainda assim muitas empresas ainda não estão numa
boa posição para a retração. Abordar o desafio relacionado com o clima é muito
similar (um caso de "quando" e não de "se"); todavia, muitas empresas estão a adiar a
transição.
•O
s fluxos de caixa descontados de mais longo prazo podem acompanhar o impacto nos
rendimentos da procura reduzida de carvão, mas os modelos de mais curto prazo não.
•O
s compromissos em termos de CAPEX feitos hoje em dia não estão previstos fornecer
rendimentos durante vários anos, altura na qual o contexto político poderá ser muito
diferente.
•A
s empresas de extração diversificadas dispõem de fluxos e oportunidades de receitas;
as empresas puramente ligadas ao carvão estão muito expostas.
HSBC: Carvão e Carbono (junho de 2012)
A procura global de carvão terá de cair a partir de 2020 num mundo com baixas
emissões de carbono. Este relatório examina os riscos para as quatro principais
empresas de carvão cotadas do Reino Unido. Num cenário em que a procura de
carvão deixou de aumentar ou entrou em declínio, os preços das mercadorias
sofreriam uma queda, com impacto negativo nos produtores com elevados custos
de produção. Em termos gerais, um cenário sem crescimento a partir de 2020 iria
reduzir a valorização do fluxo de caixa descontado (FCD) dos ativos relacionados com
o carvão detidos por estas empresas em 44% nos dias de hoje. O impacto no preço
das ações iria, contudo, ser reduzido dado que se trata de empresas diversificadas,
implicando reduções de 4-15%. O longo período de tempo dos projetos de extração
torna os potenciais impactos das futuras restrições em matéria de emissões de
carbono relevantes para os investidores atuais; as avaliações de projeto para as
despesas de capital em carvão têm de ser objeto de testes de esforço relativamente
ao carbono. A volatilidade do setor e a concentração dos analistas nos meios
imediatos significa que qualquer forma de mudança estrutural em torno do carbono é
suscetível de surgir como uma verdadeira surpresa para o mercado.
Cadeia de valor da energia
• Desafiar o pressuposto de que o consumo de carvão da China continuará a aumentar
indefinidamente tem grandes implicações para o setor a nível global, com os
exportadores de carvão a lutar por um mercado saturado em retração.
• As empresas que servem a indústria dos combustíveis fósseis vão perder clientela e os
requisitos de infraestruturas serão diferentes.
• Os agentes das energias renováveis, os utilitários de gás, as empresas de tecnologias
limpas e os prestadores de transportes públicos serão vencedores.
• A análise macroeconómica que abrange os setores e geografias interligados tem de
perceber todas as implicações dos orçamentos de carbono para os investidores.
Deutsche Bank (março de 2013) Estratégia da China: Medidas "big
bang" para combater a poluição atmosférica
Esta análise demonstra os efeitos de retorno decorrentes da abordagem da qualidade
do ar na procura de carvão. A qualidade do ar urbano tornou-se num problema
político na China e estão a ser introduzidas novas medidas para melhorar a situação.
Tal é confirmado pelas observações da administração chinesa de que a utilização
de carvão atingirá o auge durante o plano quinquenal atual (que decorre até 2017).
Os efeitos colaterais no preço devido ao fato de a China se tornar novamente num
exportador líquido de carvão significa que os exportadores de petróleo da região do
Pacífico vão sofrer. Os setores intensivos em termos de energia vão também assistir
a subidas dos preços. Numa nota positiva, os utilitários de gás, a tecnologia de
eficiência energética, os transportes públicos e as energias renováveis beneficiarão
deste desenvolvimento.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 29
Onde poderá haver ativos improdutivos
e de que forma os investidores os podem
encontrar antecipadamente?
As empresas irão provavelmente responder à redução dos
preços das mercadorias adiando o CAPEX e através da
redução da utilização de ativos (minas, poços de extração
e centrais elétricas) na expetativa de que o preço subirá
no futuro e possam voltar a ser utilizados. Contudo, um
cenário com baixas emissões de carbono a longo prazo irá,
em última análise, conduzir ao encerramentos dos ativos,
desmantelamento e, se possível, venda de locais para uso
alternativo dos solos.
Uma hierarquia de fatores utilizados na identificação dos
candidatos ao encerramento incluiria:
•C
omprados/explorados, mas ainda não desenvolvidos;
•M
argem: unidades ineficientes/produtos com custos
mais elevados, os primeiros a deixarem de ser utilizados
ou adiados;
• L ocais com elevado risco político (Norte de África) ou
técnico (Ártico);
•F
acilidade de acesso ao mercado: as fontes locais de
combustível poderão ser preferíveis à exposição a
instabilidade geopolítica;
•B
aixos custos de reparação e/ou potencial de uso dos
solos para outras finalidades maximizaria o valor de
revenda do local desmantelado.
Os novos desenvolvimentos seriam protelados - as
reservas permaneceriam "nos registos", mas não seria
despendido mais dinheiro nas mesmas. Os ativos
poderiam ser eliminados, mas tal assume que ainda existe
procura para os mesmos, o que é pouco provável num
setor em contração.
Nova métrica de desempenho
Alguns dos principais indicadores utilizados para estes
setores necessitam de uma atualização, caso se pretenda
obter uma melhor visão sobre a posição de uma empresa
num mundo condicionado pelo carbono. Sobretudo dado
que muitos indicadores têm de inverter a sua abordagem
atual.
Rácio de substituição de reservas (RSR):
atualmente, espera-se que as empresas substituam, pelo
menos, as reservas despendidas através da produção mediante exploração ou aquisição. Manter um RSR acima
dos 100% é recompensado como um indicador de receitas
futuras.
Aplicar orçamentos de carbono a
reservas inverte a dinâmica do RSR
e poderá ser convertido num rácio
de redundância das reservas.
Rendibilidade do capital investido (ROIC):
cada empresa petrolífera dispõe de um histórico relativo
ao alcance de uma taxa ou à rendibilidade do capital
utilizado. Durante vários anos, as principais empresas
petrolíferas assistiram a um aumento dos custos que foram
ocultados pelo aumento dos preços do petróleo. Isto
preservou as margens, mas deixa as empresas petrolíferas
vulneráveis a preços mais baixos. O cenário de pico
da procura de petróleo iria exercer pressão no ROIC,
expondo as fragilidades em assumir que o desempenho
futuro repetirá o passado.
Conclusões
•O
pico da procura conduzirá a uma queda dos preços,
exercendo pressão nas margens e projetos com os
custos de nivelamento mais elevados. Manter os níveis
de rendibilidade do capital será cada vez mais difícil.
•A
métrica tradicional, como o rácio de reservas de
substituição, recompensaram tradicionalmente o
investimento no reabastecimento das existências de
combustíveis fósseis. Se o mercado mudar, tal irá inverter
o indicador de tal forma que a substituição deixa de ser
desejável.
•U
m conjunto de fatores, desde a regulamentação da
qualidade do ar e custos mais baixos das energias
renováveis, até à disponibilidade dos recursos hídricos
está a mudar os mercados da energia, sem existir ainda
regulamentação global.
•O
s serviços enfrentam incerteza sobre a vida útil das
centrais de produção com os mecanismos do mercado,
como os preços do carbono a contribuírem para
este fato. Por conseguinte, são vulneráveis aos ativos
depreciados.
Recomendações
•O
s analistas devem utilizar um conjunto de pressupostos
para fazerem um teste de esforço aos seus resultados de
valorização.
•A
métrica tradicional, como o rácio de substituição de
reservas, deve ser substituído ou invertido para refletir
um mundo condicionado pelo carbono.
30 |
4.2 Dívida
As 200 empresas analisadas têm um total de dívida
de empresa pendente (obrigações e empréstimos) de
1,27 mil milhões de dólares. Esse valor divide-se em 74%
para as empresas de petróleo e gás e 26% para a dívida
de empresas extrativas de carvão (com base nas receitas
provenientes do carvão).
A secção a seguir analisa, por sua vez, os setores do
petróleo e do gás, da extração e dos utilitários para
compreender o que aderir aos orçamentos de carbono
significa para o modo como as obrigações são classificadas.
Carvão
•As empresas puramente de extração de carvão estão
mais vulneráveis à mudança das condições de operação,
sobretudo as que dependem principalmente dos
mercados domésticos, por exemplo, EUA e África do Sul.
•Um acordo global sobre as alterações climáticas ou um
preço do carbono não se afigura essencial para criar um
risco regulamentar. As medidas aplicáveis à qualidade
do ar estão a demonstrar ser igualmente eficazes, por
exemplo, China, EUA.
•A concorrência dos custos das diferentes tecnologias
está a mudar continuamente. A dinâmica gás-carvão
tem sido crucial nos EUA. As energias renováveis fazem
com que seja uma luta tripartida num número crescente
de países, por exemplo, Alemanha, Áustria.
•A velocidade à qual o modelo de negócios se
desenreda mostra a vulnerabilidade do carvão num
mercado em contração.
•A capacidade de algumas empresas refinanciarem a
sua dívida quando vence poderá ser perturbada nos
próximos anos.
Carbon Tracker (abril de 2013)
Vulnerabilidade do carvão dos EUA
Na primeira metade de 2012, a procura de carvão
atingiu o seu valor mais baixo nos últimos 25 anos. Os
baixos preços do gás agravaram-se com a introdução
por parte da Agência de Proteção do Ambiente dos
EUA (EPA) do regulamento relativo às emissões de
mercúrio, que o mercado acreditava claramente que
não aconteceria.
Como resultado, as empresas de extração de carvão
dos EUA registaram reduções:
Empresa
Notação de crédito familiar
corporativa (Moody’s)
Alpha Natural
Resources
Dez 11: Ba2
(estável)
Junho 12: B1
(estável)
Arch Coal
Dez 11: Ba3
(estável)
Maio 12: B1
(negativo)
Patriot Coal
Dez 11: B2
(estável)
Maio 12: Caa1
(estável)
Petróleo
•As empresas mais pequenas com elevada exposição
às areias petrolíferas não são resilientes à pressão dos
preços num cenário de pico da procura.
•A pressão sobre o fluxo de caixa poderia afetar os
dividendos e resultar no cancelamento de projetos,
criando ativos improdutivos.
•A política em matéria de clima a longo prazo, a
tecnologia e riscos de impacto não se encontram
incluídos no horizonte de notação típico de três anos.
•Os modelos financeiros que apenas têm por base
os resultados anteriores e solvabilidade são um guia
insuficiente para os investidores.
Standard & Poor’s (fevereiro de 2013)
O que poderá significar um futuro
condicionado pelo carbono para a
solvabilidade das empresas
A S&P reviu a solvabilidade das empresas com
exposição às areias petrolíferas canadianas numa
situação de baixo preço do petróleo. O preço do
petróleo em queda foi utilizado para refletir a redução
da procura que resultaria das medidas para reduzir
a procura de petróleo, tais como as que estão a ser
introduzidas na eficiência dos veículos na América
do Norte. Este cenário de esforço mostrou que as
empresas mais pequenas com elevada exposição às
areias petrolíferas vêem a sua solvabilidade afetada,
mesmo dentro do horizonte de notação típico de três
anos. Este cenário exerce pressão nos fluxos de caixa
que poderá resultar em cortes nos dividendos ou no
cancelamento de projetos. Os resultados mostram que
em relação às empresas mais pequenas, regista-se uma
deterioração nos perfis de risco financeiro das mesmas
a um nível que poderia potencialmente conduzir a
revisões negativas das perspetivas e, posteriormente,
reduções durante 2014-2017. Além disto, os modelos
de negócio destas empresas cedem ainda mais dado
que não faz sentido continuar a investir capital em
reservas inviáveis em desenvolvimento.
Utilitários
•A incerteza em torno dos combustíveis fósseis futuros
é maior em alguns mercados do que em relação às
energias renováveis.
•A descentralização da produção de energia pode reduzir
o mercado disponível para os utilitários tradicionais.
•Os modelos de negócio tradicionais já não são
viáveis nos mercados de energia que incentivam a
descarbonização - as empresas têm de se adaptar para
sobreviverem.
•Os fatores não relacionados com o carbono, tais como
a disponibilidade de recursos hídricos, somam-se à
complexidade de compreender a viabilidade da produção
futura a grande escala, por exemplo, China, Índia.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 31
Moody’s (novembro de 2012) Serviços
europeus: A energia eólica e solar vão
continuar a destruir a qualidade de crédito
dos geradores térmicos
A Alemanha já está a sofrer a pressão que a
concorrência da energia solar distribuída e da energia
eólica subsidiada está a exercer nas centrais de
energia de combustíveis fósseis centralizadas. Com
as energias renováveis a satisfazer 26% da procura em
2012 e metas de 35% até 2020 a caminho de serem
superadas, as estações de energia de carvão e gás
estão a ter dificuldades em manter os coeficientes
de carga da central de base (~75%) e são por vezes
obrigadas a atuar como reserva de capacidade para
geradores de energias renováveis. O forte aumento
das energias renováveis teve um impacto negativo
profundo nos preços da energia e na competitividade
da produção em centrais térmicas na Europa. O que
antigamente eram consideradas empresas estáveis
viram os seus modelos de negócio seriamente
perturbados. Tendo em conta que se prevêem mais
aumentos nas energias renováveis, estas pressões
negativas vão continuar a destruir a qualidade de
crédito dos serviços térmicos a curto e médio prazo.
Metodologias atualizadas
As agências de notação necessitam de rever e fazer evoluir
as suas metodologias, a fim de refletir os problemas
emergentes. Consideramos que as alterações climáticas
são o equivalente aos passivos dos fundos de pensões
das empresas. Anteriormente, assumia-se apenas que os
fundos tinham ativos suficientes para cobrir os passivos
de benefícios definidos. Depois ficou patente que havia
algumas deficiências e, portanto, os analistas começaram a
acrescentar este aspeto. Agora, estes números são incluídos
no balanço para que esteja disponível o quadro completo.
O trabalho recente com as agências de notação mostrou
que os fundamentos das suas metodologias relacionados
com a capacidade financeira das empresas e a solidez dos
seus modelos de negócio podem ser afetados pelo risco
climático. Tal justifica testes de esforço mais sistemáticos
por parte das agências de notação e um ajustamento da
abordagem para ter em consideração a probabilidade
de resultados alternativos. Ao longo do tempo tal deverá
resultar numa cobertura sistemática do problema.
Olhar para o futuro
Está também claro que, a fim de evitar riscos sistémicos
no futuro, os investidores vão necessitar de informações
prospetivas. A natureza das alterações climáticas significa
que é muito pouco provável que o futuro repita o passado,
qualquer que seja o caminho que o mundo siga. As agências
de notação estão a perceber que utilizar os resultados
históricos para prever a solvabilidade futura está a tornar-se
cada vez mais desadequado. Chegou o momento de os
investidores apelarem a análises melhoradas e as agências
de notação responderem ao desafio.
Supervisão melhorada
A influência que as agências de crédito têm na
disponibilidade de capital é inequívoca. O poder acarreta
responsabilidade. Na sequência da crise financeira, estão
a ser introduzidos novos regulamentos para melhorar
a qualidade das notações de crédito. Nos EUA, a Lei
Dodd-Frank estabeleceu um gabinete na Securities and
Exchange Commission, o qual foi criado para monitorizar as
agências de notação de crédito. Na Europa, a Autoridade
Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA,
European Securities and Markets Association) é responsável
pela supervisão. Mas, até à data, estas novas regras não
incluíram o risco imperativo das alterações climáticas e da
sustentabilidade no sentido amplo.
Conclusões
•
Os modelos de negócio tradicionais já não são
viáveis nos mercados de energia que incentivam a
descarbonização - as empresas têm de se adaptar para
sobreviverem.
•A capacidade de algumas empresas refinanciarem a
sua dívida quando vence poderá ser perturbada nos
próximos anos.
•A velocidade à qual o modelo de negócios se
desenreda mostra a vulnerabilidade do carvão num
mercado em contração.
•A pressão sobre o fluxo de caixa poderia afetar os
dividendos e resultar no cancelamento de projetos,
criando ativos improdutivos.
•Os modelos financeiros que apenas têm por base
os resultados anteriores e solvabilidade são um guia
insuficiente para os investidores.
Recomendações
•
Os investidores enquanto utilizadores de notações
têm de exercer influência para assegurar a integração
consuetudinária dos fatores relacionados com o clima na
avaliação dos modelos de negócio e da solvabilidade.
•Os reguladores devem assegurar que as agências
de notação de crédito estão a abordar as alterações
climáticas enquanto parte dos seus esforços para
resolver o risco sistémico.
32 |
5. Implicações para os investidores
5.1 Redefinir o risco
Cenários divergentes
Existe uma grande divergência entre limitar o aquecimento global para 2 °C e o
aumento das emissões que resultam num aquecimento de 3, 4, 5 e até mesmo 6 °C. Os
setores de combustíveis fósseis vão obviamente prosperar se as emissões não forem
restringidas, mas correrão o risco de ativos improdutivos num mundo condicionado pelo
carbono. Em contrapartida, os setores sensíveis ao clima, como a agricultura, imobiliário,
infraestruturas, silvicultura, água e os que têm por base estes setores através de cadeias
de abastecimento vão conhecer os benefícios opostos às atividades com utilização
intensiva de carbono.
Cenários da AIE para procura de carvão como energia primária
Mtep
450ppm
Política atual
Novas políticas
6000
5000
Talvez a observação mais significativa é a de que ambos os impactos já se estão a verificar
nas margens, dado que o caminho que as empresas estão a seguir não é claro. Os
investidores já começaram a questionar a validade de alguns investimentos relacionados
com o carvão. De igual modo, as cadeias de abastecimento estão a ser perturbadas pelas
cheias (por exemplo, semicondutores na Tailândia). Isto resulta na mensagem de que
enfiar a cabeça na areia deve deixar de ser uma opção para os investidores institucionais.
Devem ser capazes de articular qual é a sua estratégia para gerir os riscos nesta situação e
quais são os seus pressupostos relativamente a que riscos são mais suscetíveis.
Valor em risco
Os investidores institucionais estão preocupados com razão sobre gerir os riscos para
as suas carteiras. Por vezes, a definição estreita do risco pode prevenir os investidores
de tomarem ações prospetivas com base nos futuros riscos. Pelo contrário, o risco
é normalmente definido como um desvio do indicador de referência em vez da
probabilidade de uma perda absoluta do valor. Direta ou indiretamente isto resulta no
fato de os fundos refletirem a composição do mercado para reduzir o risco de um desvio
significativo da trajetória do mercado.
Tal confere aos gestores dos fundos alguma liberdade para sobre-expor ou sub-expor
empresas específicas dentro de um setor, mas é suscetível de resultar numa composição
setorial que reflete o indicador de referência. Trata-se de uma das razões que torna difícil
os investidores responderem a pedidos para alienar a componente grossista de um
setor. Os investidores institucionais teriam de emitir um mandato específico que optasse
por substituir as normas do mercado por uma decisão política para evitar determinadas
atividades. A análise nos capítulos anteriores mostra que ainda existem grandes
quantidades de combustíveis fósseis vinculadas aos indicadores de referência.
Atendendo à divergência entre os diferentes níveis de emissões no futuro, poderão ser
necessárias ferramentas diferentes. É perfeitamente viável produzir valorizações com base
em diferentes pressupostos sobre os níveis de emissões futuros, que podem depois criar
uma gama de preços de ações potenciais.
4000
As probabilidades podem depois ser atribuídas aos resultados dependentes das crenças
dos investidores na trajetória que estamos a seguir. Na caixa da página seguinte encontrase um exemplo simplificado desta abordagem. Dado que a maior parte dos modelos
de valorização tem por base uma repetição dos resultados históricos e do "status
quo", parece ser seguro assumir que qualquer ajustamento desse tipo teria um efeito
descendente para a maioria das empresas baseadas em combustíveis fósseis.
3000
2000
1000
1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035
Ano
Fonte: Perspetivas para a
Energia Mundial da AIE
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 33
Lidar com a incerteza
Baixar a temperatura
Um modelo atual de valorização tem por base os
níveis históricos da procura e fornece a valorização da
ação de uma empresa em 100 dólares. Consideremos
que isto é o equivalente a uma valorização de 6 °C.
Em diferentes pressupostos que refletem uma
procura e preços mais baixos, tal dá-nos valorizações
alternativas de:
• 60 dólares por ação numa valorização de 4 °C
• 40 dólares por ação numa valorização de 2 °C
Diferentes investidores ou atuários podem depois
atribuir valor com base nas probabilidades que
atribuem a cada resultado potencial:
6 °C
4 °C
2 °C
Valor
por
ação
Abordagem
histórica
100%
0%
0%
100
dólares
Investidor A
60%
20%
20%
80
dólares
Investidor B
20%
60%
20%
64
dólares
Investidor C
20%
20%
60%
56
dólares
Esta simples ilustração mostra que mesmo
adicionando resultados alternativos a uma
probabilidade baixa pode mudar a valorização.
Fornece uma indicação das implicações da potencial
capitalização do mercado de 40-60% indicada na
análise de risco do petróleo e carbono da HSBC.
Tem de haver mais procura através da cadeia de
investimento da parte da afetação de ativos estratégia
para que a gestão dos fundos perceba a que se assemelha
investir para um mundo de 2 °C. É também claro que
existe um grande nível de incerteza sobre o futuro. As
ferramentas de investimento devem, portanto, encontrar
formas de lidar com a incerteza em vez de assumirem que
tudo irá estar em conformidade com os modelos baseados
no passado.
Isto reflete a complexidade dos problemas que vão afetar
o futuro da nossa energia, que não se limitam a um mero
preço do carbono.
5.2 Continuar a fazer as contas
Na análise original Carbono incombustível de 2011, a
Carbon Tracker convidou as pessoas a fazerem as contas
de comparar os orçamentos de carbono para o carvão,
petróleo e reservas de gás. Um conjunto de organizações
incluindo a AIE, HSBC, Moody’s e 350.org aceitaram este
desafio e começaram a aplicar os números.
A investigação levada a cabo pelo Grantham Research
Institute, LSE, confirma que os números não se somam,
mesmo no cenário mais otimista e assumindo que a CAC
dá o contributo máximo. As empresas cotadas têm um
défice de orçamento de carbono comparativamente
às reservas nas quais os seus modelos de negócio se
baseiam.
E para os investidores que seguem o mercado, os números
mostram que os mercados estão a seguir o caminho
errado:
• Até 647 mil milhões de dólares em capital
desperdiçado todos os anos na procura de mais reservas;
•A
s potenciais reservas poderão duplicar o nível da
exposição das empresas cotadas para 1541 GtCO2;
•A
s reservas de combustível fóssil de Nova Iorque
cresceram 37%; em Londres 7% nos dois últimos anos.
34 |
5.3 Fluxos de capital revisitados
Colocando os números financeiros no sistema fica claro que os ciclos múltiplos de
capital que facilitam o desenvolvimento de mais carvão, petróleo e gás terão de ser
reequilibrados se se pretender cumprir um orçamento de carbono sensato. O retorno
inevitável da restrição das emissões significa que são necessários um reequilíbrio e uma
redistribuição dos fundos para proteger os interesses dos acionistas, prevenir o capital
desperdiçado e evitar ativos improdutivos. A Bloomberg NEF estima que o investimento
na energia limpa tem de duplicar mais de 500 mil milhões de dólares por ano. Um maior
entendimento da incerteza e dos riscos em torno dos combustíveis fósseis pode ajudar a
tornar o investimento em alternativas mais atrativo.
927 mil milhões
de dólares
LOGÓTIPO
1,27 biliões de dólares
E
LOGÓTIPO
A
TD
BI
DÍVIDA
EMISSÕES
27 mil milhões de dólares
RO
JU
CAPEX
CAPITAL PRÓPRIO
EMPRESAS
674 mil milhões
de dólares
S
4 biliões de dólares
DIVID E N D
O
126 mil milhões
de dólares
DESENVOLVER
RESERVAS
762 - 1541 GtCO2
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 35
5.4 Opções para investidores
Regulamentação: Em primeiro lugar,
os investidores devem assegurar que os
quadros do mercado nos quais operam
são propícios à abordagem do problema
do risco sistémico relacionado com as
alterações climáticas. A contradição
atual nos mercados mostra que os
reguladores necessitam de aumentar a
transparência das emissões futuras nas
quais as empresas se estão a apoiar para
apresentar os rendimentos que prevêem.
Em termos de uma administração ativa das ações, existe um conjunto de abordagens que
refletem as diferentes abordagens de investimento e culturas no mundo.
Compromisso: O compromisso é
uma abordagem popular, contudo
a mudança fundamental no modelo
de negócio necessária para estas
empresas vai exigir uma direção clara
por parte dos investidores. Tal exigirá
intervenções que desafiem a estratégia
de investimento de capital da empresa
no futuro. Os investidores devem sentirse suficientemente fortes para exigirem
uma mudança de direção à empresa,
em vez de pressionarem no sentido de
manter um "status quo" ligeiramente
mais ecológico.
Retorno: Uma abordagem de
integração que foi vista recentemente
nos setores extrativos destina-se a fazer
com que os acionistas pressionem para
recompras de ações que aumentem
o preço das ações, ou aumento
dos dividendos que aumentem o
rendimento. Tal mostra que a empresa
reconhece que não dispõe de um plano
melhor para o capital do que devolvê-lo
aos seus acionistas.
Alienar: Esta é a sanção extrema para
muitos investidores o que implicaria
que algumas das opções anteriores se
esgotaram e apenas se pode aplicar
aos casos mais extremos em que as
empresas recusaram adotar medidas.
Tal poderá requerer que os investidores
considerem que a estratégia da
empresa coloca o valor em risco.
O que podem fazer os investidores institucionais
Risco: Utilizar algumas medidas
alternativas do valor em risco irá
mudar as regras do jogo para os
investidores. Se se quiser evitar os
riscos sistémicos como as alterações
climáticas, os investidores terão de ir
além da definição tradicional de risco
que assenta no desempenho inferior ao
indicador de referência.
Resolução: Nos casos em que o
compromisso não seja profícuo, os
acionistas dos EUA em particular, devem
apresentar deliberações de acionistas
para colocar o problema na ordem do
dia. Poucas deliberações de acionistas
alcançam os níveis necessários de apoio
para levar o conselho de administração
a adotar medidas. Contudo, o processo,
diálogo e publicidade podem contribuir
para exercer pressão para uma mudança,
o que pode resultar numa resposta da
empresa.
Redistribuir: Extrair capital do
desenvolvimento de mais combustíveis
fósseis requer então que os proprietários
de ativos o utilizem em investimentos
com baixas emissões de carbono ou
não energéticos que se encontrem
bem posicionados para um futuro com
baixas emissões de carbono. Algumas
empresas já se encontram a reposicionar
as suas atividades para apoiar a mitigação
das emissões ou serem resilientes aos
impactos das alterações climáticas. O
trabalho é contínuo para desenvolver
produtos de investimento que satisfaçam
as necessidades de investimento dos
investidores institucionais (por exemplo, a
Iniciativa Obrigação de Responsabilidade
Ambiental [Climate Bonds Initiative]).
36 |
6. O caminho a
seguir: conclusões e
recomendações
Reduzir o estímulo dado à economia
Nos últimos dois anos, a sensibilização da contradição
entre a política em matéria de clima e os mercados de
capital aumentou na comunidade de investimento e entre
os decisores políticos. Mas esta sensibilização ainda não se
traduziu numa reformulação dos preços dos ativos ou numa
reorientação do capital. Consequentemente, a exposição
das maiores bolsas de valores do mundo ao risco de
carbono incombustível aumentou e não o contrário.
O primeiro relatório sobre o Carbono incombustível foi
elaborado na sequência da crise financeira mundial, que
lembrou de forma dolorosa de que modo os mercados
podem passar totalmente ao lado dos fundamentos,
criando bolhas que resultam, eventualmente, numa
implosão das valorizações. Foram aprendidas muitas lições
com este choque contínuo da economia mundial, mas
três são particularmente relevantes para a forma como os
mercados têm de mudar para dar resposta ao desafio das
alterações climáticas.
•
Primeiro, os reguladores estiveram insuficientemente
ativos na prevenção da criação de bolhas de ativos
insustentáveis ao não reduzirem o estímulo dado à
economia à medida que os mercados sobrevalorizavam;
•Segundo, os investidores institucionais exerceram
uma administração insuficiente dos ativos das suas
carteiras, resultando em "empresas sem detentores"
concentradas nos rendimentos a curto prazo;
•Terceiro, os profissionais na cadeia de investimento,
desde atuários, passando por analistas, até aos
auditores e mais além, não deram a atenção adequada à
integridade geral do mercado, privilegiando os retornos
imediatos.
Este relatório confirmou que os mercados globais
continuam a atribuir escassos recursos financeiros ao
desenvolvimento de reservas de combustível fóssil que
são incompatíveis com a segurança climática. Aprender
as lições da última crise financeira significa assumir
antecipadamente uma abordagem estrutural em relação às
alterações climáticas nos mercados mundiais.
Ultrapassar o impasse sistémico
As regras e as normas que regem e orientam os mercados
globais foram concebidas numa era antes de as alterações
climáticas se terem transformado numa prioridade
mundial. As empresas continuam a ser recompensadas por
encontrar e desenvolver novas reservas de combustível
fóssil; os riscos de mercado continuam a ser avaliados
como se as temperaturas médias globais não estivessem
a subir a taxas sem precedentes; e os participantes do
mercado continuam a concentrar-se nos motores históricos
dos valores dos ativos ainda que as alterações climáticas
signifiquem que o passado não é um guia útil para o futuro
no tocante a setores determinantes como a energia. Uma
explicação poderosa deste desfasamento é a de que
os mercados não acreditam que os governos estejam
a encarar de forma séria a apresentação das políticas
necessárias para reduzir as emissões de carbono; até que
as mesmas estejam aplicadas o "status quo" manter-se-á,
em grande medida, sem controlo.
Na última década, os investidores institucionais líderes
começaram a integrar os fatores relacionados com o clima
nas suas estratégias. Mas olhando para a indústria, até
agora raramente fez do seu passado um complemento
inconveniente para a média do fundo. Mas o caráter
sistémico do problema climático significa que existem
poucos incentivos para os investidores avançarem muito
em relação ao pacote que resulta no impasse.
Manifestamente, os governos têm de implementar
políticas climáticas credíveis na preparação da conclusão
de um novo acordo global em 2015 que faz com que
a atenção do investidor passe a estar voltada para
as baixas emissões de carbono. Mas isto deverá ser
acompanhado de reformas dos quadros do mercado de
capital, a fim de permitir aos investidores ler estes sinais
de longo prazo e tomar as medidas necessárias. Para
cada uma das principais conclusões do presente relatório
identificámos recomendações específicas de ação ao
longo dos próximos dois anos para os decisores políticos,
os reguladores, os investidores e os intermediários
financeiros.
Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 37
Conclusão
Recomendação
Apenas uma fração dos combustíveis fósseis
pode ser queimada sem mitigação se quisermos
limitar o aquecimento global.
Decisores políticos: devem assegurar que os limites de emissões se traduzem em sinais inequívocos para os mercados
financeiros.
Ministros das Finanças: o G20 deve alargar o seu trabalho para eliminar progressivamente os subsídios aos
combustíveis fósseis e desenvolver um plano de ação para reduzir a elevada exposição ao carbono nos mercados
financeiros.
Os níveis de combustíveis fósseis cotados nas
bolsas de valores do mundo estão a aumentar,
sobretudo em Londres (carvão) e Nova Iorque
(petróleo).
Reguladores financeiros: exigir às empresas que divulguem as emissões potenciais de CO2 incorporadas nas reservas
de combustível fóssil; integrar o risco relacionado com as alterações climáticas na avaliação e monitorização do risco
sistémico nos mercados de capital.
Investidores: instar o regulador financeiro a abordar as alterações climáticas como um risco sistémico para os
mercados.
As empresas estão a gastar capital na procura
de mais reservas, ainda que as reservas atuais
excedam o orçamento de carbono.
Investidores: desafiar as estratégias das empresas que estão a utilizar os fundos dos acionistas para desenvolver
projetos de combustíveis fósseis com elevados custos; rever a aplicação do dinheiro por parte das empresas cuja
estratégia é a de continuar a investir na exploração e no desenvolvimento de mais combustíveis fósseis e procurar o
seu retorno; reduzir as participações em empresas intensivas em carbono e utilizar índices reequilibrados e ajustados
ao carbono como indicadores de referência do desempenho; redistribuir fundos a oportunidades alternativas alinhadas
com a estabilidade climática.
A comunicação de informações das empresas
não aborda os riscos para os modelos de
negócio das restrições de emissões.
Reguladores: obrigar as empresas a explicarem de que modo o seu modelo de negócio é compatível com a
consecução das metas de redução das emissões, atendendo às reduções associadas do preço e da procura que
poderão resultar.
A análise das ações não está a calcular o risco de
um limite máximo de emissões e os indicadores
tradicionais não são adequadas para um
mercado em contração.
Investidores: exercer poder enquanto cliente para pedir investigação alternativa que calcule o impacto de diferentes
trajetórias de emissões na valorização.
Analistas: desenvolver indicadores alternativos que façam um teste de esforço às valorizações relativamente à
possibilidade de o desempenho futuro não replicar o passado.
As notações de crédito não consideram
sistematicamente o risco de um limite máximo
de emissões.
Investidores: exercer influência enquanto utilizadores de notações para pedir notações alternativas que considerem o
impacto de diferentes trajetórias de emissões na solvabilidade e modelos de negócio.
Reguladores: assegurar que as agências de notação de crédito estão a abordar as alterações climáticas enquanto parte
dos seus esforços para resolver o risco sistémico.
Agências de notação: responder ao desafio de integrar a avaliação sistemática do risco relacionado com as alterações
climáticas nas metodologias do setor, a fim de fornecer análises prospetivas.
Os investidores estão presos a indicadores de
referência em vez de compreenderem a sua
exposição ao risco.
Consultores de investimento: redefinir o risco para refletir o valor em risco com base na probabilidade de cenários
futuros, em vez do risco de se desviarem do indicador de referência.
Atuários: rever a forma como as pensões são valorizadas para ter em consideração as probabilidades de diferentes
cenários de emissões.
38 |
Referências
Capítulo 1
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Para mais informações sobre a Carbon Tracker
visite o nosso sítio Web:
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on Climate Change and the Environment, LSE, visite o nosso sítio Web:
www.carbontracker.org
www.lse.ac.uk/grantham/
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