Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos Em colaboração com a 2 | Sobre a Carbon Tracker A Carbon Tracker é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para alinhar os mercados de capitais com a agenda política das alterações climáticas. Encontramo-nos a aplicar o nossa visão sobre os orçamentos de carbono e os ativos improdutivos em várias regiões geográficas e classes de ativos com o intuito de esclarecer a visão dos investidores e a regulação dos mercados de capitais. Recebemos financiamento de várias fundações de beneficência dos EUA e do Reino Unido. Caso pretenda explorar os nossos dados visualmente; partilhar a conclusão com outras pessoas; ou perguntar ao seu fundo de pensões de que forma estão a gerir o risco, visite a nossa ferramenta em linha disponível em www.carbontracker.org/wastedcapital Se for um investidor interessado na exposição da sua carteira a reservas de combustível fóssil, contacte-nos diretamente ou através da nossa página Bloomberg. Sobre o Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, LSE O Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment foi criado em 2008 na London School of Economics and Political Science. O Instituto reúne experiência internacional em economia, bem como finanças, geografia, ambiente, desenvolvimento internacional e economia política, a fim de criar um centro líder mundial para investigação com relevância política, ensinando e formando em alterações climáticas e ambiente. É financiado pela Grantham Foundation for the Protection of the Environment, a qual também financia o Grantham Institute for Climate Change no Imperial College London. Agradecimentos As pessoas que contribuíram para o presente relatório são: James Leaton, Nicola Ranger, Bob Ward, Luke Sussams e Meg Brown. Gostaríamos de agradecer a Mark Campanale, Nick Robins, Alice Chapple, Jemma Green, Chris Duffy, Alex Hartridge e Jeremy Leggett por terem feito a revisão do relatório, à PIK Potsdam pela assistência prestada na utilização da live.magicc.org, a Jackie Cook do Cook ESG Research pela compilação de dados e a David Casey da DHA Communications pela conceção. Copyright © 2013 (Carbon Tracker & The Grantham Research Institute, LSE) Contacto: James Leaton Diretor de Investigação [email protected] www.carbontracker.org twitter: @carbonbubble Contacto: Bob Ward Diretor de Política e Comunicações [email protected] www.lse.ac.uk/grantham/ twitter: @GRI_LSE Exoneração de responsabilidade A Carbon Tracker e o Grantham Research Institute, LSE, não são consultores de investimento e não fazem qualquer declaração relativamente à conveniência de investir numa determinada empresa ou fundo de investimento ou outro veículo. Uma decisão de investir num fundo de investimento ou outra entidade não deve ser feita com base em qualquer uma das declarações feitas na presente publicação. Embora as organizações tenham obtido informações que são consideradas fiáveis, não devem ser responsáveis por eventuais reivindicações ou perdas de qualquer tipo relacionadas com as informações contidas neste documento incluindo, entre outros, perda de lucros ou danos punitivos ou subsequentes. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 3 Índice Sumário executivo Carta aos leitores 4 Prefácio7 Introdução8 1. Orçamentos globais de CO2 9 2. Reservas e recursos de carvão, petróleo e gás globais cotadas 14 3. Fazer evoluir a regulamentação dos mercados em relação ao risco climático23 4. Implicações para a valorização das ações e agências de notação 27 5. Implicações para os investidores 32 6. O caminho a seguir: conclusões e recomendações 36 Referências38 O nosso primeiro relatório, em 2011, mostrou que com base no entendimento atual de um orçamento de carbono admissível para manter abaixo dos dois graus o aquecimento global, existem mais combustíveis fósseis cotados nos mercados de capital mundiais do que aqueles que podem ser queimados. Os dois graus são um limiar de perigo para o aquecimento global amplamente aceite e muitos governos já começaram a adotar medidas. No nosso primeiro relatório sobre o carbono incombustível, quantificámos pela primeira vez até que ponto a atitude de passar ao lado é má, empresa por empresa, e bolsa de valores por bolsa de valores. Mostrámos que em nenhuma parte da cadeia financeira os atores dos mercados de capital reconhecem, e muito menos quantificam, a possibilidade de que os governos vão fazer aquilo que afirmam pretender fazer em relação às emissões ou a uma fração das mesmas. Salientámos o quanto isto é disfuncional e descrevemos aquilo que os atores na cadeia financeira teriam de fazer para esvaziar a bolha de carbono crescente, e não apenas os reguladores. No segundo relatório aprofundámos a matéria. Ao fazê-lo, estamos particularmente satisfeitos de colaborar com o Grantham Institute e Lord Stern, uma autoridade máxima na economia das alterações climáticas. O trabalho da Carbon Tracker é agora utilizado por bancos como o HSBC e Citigroup e agência de notação Standard & Poor’s, para ajudar a concentrar o seu pensamento naquilo que poderá significar um orçamento de carbono para os cenários de valorização das empresas públicas. A AIE está a realizar um estudo especial sobre a relação clima-energia que terá em conta a bolha de carbono. Juntamente com os nossos aliados chamámos a atenção do Comité da Estabilidade Financeira do Banco de Inglaterra para este aspeto. Aguardamos ansiosamente a sua reação a esta análise. Atendendo a tudo quanto foi exposto, e conscientes dos desafios na questão da bolha de carbono, esperamos que o nosso segundo relatório global se revele útil para um círculo que se pretende o mais vasto possível. Reconhecemos que estamos a lidar com um exercício de atenuação dos riscos que requer o envolvimento muito além dos analistas e economistas de investigação dos mercados de capital. Atendendo aos desafios para o valor das pensões, por exemplo, caso a bolha de carbono continue a aumentar, o público em geral deve certamente ser envolvido. Por conseguinte, congratulamo-nos com o eco da mensagem sobre o carbono incombustível por parte dos defensores desde o nosso primeiro relatório, nomeadamente no artigo muito citado de Bill McKibben, de agosto de 2012, na Revista Rolling Stone intitulado "Global Warming’s Terrifying New Math" e a campanha da "350.org" baseada no mesmo. Saudamos esse empenho público. Esperamos que a nossa mensagem mais profunda neste relatório possa alimentar mais empenho nesta matéria. Jeremy Leggett e Mark Campanale Presidente e Diretor Fundador Carbon Tracker 4 | Sumário executivo A utilização de todos os combustíveis fósseis levará à rutura do orçamento mundial de dióxido de carbono Em 2010, os governos confirmaram no Acordo de Cancún que as emissões deveriam ser objeto de redução para evitar um subida da temperatura média global superior a 2 °C acima dos níveis pré-industriais, com a possibilidade de uma revisão para um valor inferior de 1,5 °C. A modelização utilizada em análises anteriores pela Carbon Tracker e a AIE mostraram que o orçamento de carbono para um cenário de 2 °C seria de aproximadamente 565-886 mil milhões de toneladas (Gt) de dióxido de carbono (CO2) até 2050. Este resultado assume que as emissões de gases com efeito de estufa não-CO2 (por exemplo, metano e óxido nitroso) se mantêm elevadas. Contudo, este orçamento é apenas uma fração do carbono incorporado nas reservas mundiais de combustível fóssil, que ascende a 2860 GtCO2. Uma abordagem de precaução significa que até 2050 apenas 20% das reservas de combustível fóssil totais são passíveis de combustão. Consequentemente, a economia mundial enfrenta já a perspetiva de os ativos serem improdutivos, com a possibilidade de o problema se agravar caso se mantenham as tendências de investimento atuais (com efeito, uma bolha de carbono). Realização de testes de esforço aos orçamentos de carbono A Carbon Tracker, em parceria com o Grantham Research Institute for Climate Change and the Environment na London School of Economics and Political Science, realizou uma nova análise para efeitos de um teste de esforço aos orçamentos de carbono. A análise estima que o orçamento disponível é de 900 GtCO2 para uma probabilidade de 80% de ficar abaixo dos 2 °C e 1075 GtCO2 para uma probabilidade de 50%, confirmando que a maioria dos recursos de combustíveis fósseis que ainda restam são incombustíveis. Este orçamento de CO2 é superior, dado que assume maiores reduções das emissões não de CO2, tais como metano, que têm um maior potencial de aquecimento global. Dito de outra forma, a aplicação de orçamentos de CO2 mais elevados está dependente de novas ações para reduzir as missões não de CO2 em determinados domínios, como os resíduos e a agricultura. Esta investigação examina igualmente aquilo que as metas alternativas de temperatura poderiam significar para a quantidade de combustíveis fósseis passíveis de combustão. A análise conclui que até mesmo uma meta climática menos ambiciosa, tal com um aumento de 3 °C da temperatura média global ou mais, o que resultaria em impactos significativamente maiores para a nossa sociedade e economia, continuaria a implicar restrições significativas na utilização que fazemos das reservas de combustíveis fósseis até 2050. A captura e armazenamento de carbono (CAC) não altera as conclusões A tecnologia de CAC oferece o potencial de ampliar os orçamentos para a combustão de combustíveis fósseis. A aplicação do cenário idealizado da AIE - que assume um determinado nível de investimento que ainda não se encontra assegurado - amplia os orçamentos até 2050 apenas em 125 GtCO2. O orçamento é restringido após 2050 Alcançar um cenário de 2 °C significa que apenas uma pequena quantidade de combustíveis fósseis pode ser queimada sem redução após 2050. Na ausência de tecnologias para emissões negativas, o orçamento de carbono para a segunda metade do século seria apenas de 75 GtCO2 para dispor de uma probabilidade de 80% de atingir a meta de 2 °C. Tal é equivalente a pouco mais de dois anos de emissões aos níveis atuais. Por conseguinte, a ideia de que poderia haver um renascimento de combustíveis fósseis após 2050 não tem qualquer fundamento. As empresas cotadas vêem-se confrontadas com um défice no orçamento de carbono Se as empresas de combustíveis fósseis cotadas tiverem uma afetação pro rata do orçamento de carbono global, tal ascenderia a cerca de 125-275 GtCO2, ou 20-40% dos 762 GtCO2 atualmente registados como reservas. A escala deste défice no orçamento de carbono representa um risco importante para os investidores. Têm de perceber que 60-80% das reservas de carvão, petróleo e gás das empresas cotadas são incombustíveis. As bolsas de valores de Londres e Nova Iorque estão a tornar-se mais intensivas em matéria de carbono O carbono incorporado na bolsa de Nova Iorque é dominado pelo petróleo. O nível de carbono incorporado aumentou 37% desde 2011. Londres está mais concentrada no carvão, aumentando a sua exposição total ao CO2 em 7% no mesmo período. Mas há outras bolsas que dispõem de níveis superiores de carbono incorporado comparativamente com a sua dimensão geral, nomeadamente São Paulo, Hong Kong e Joanesburgo. As bolsas a sul e a leste estão a mobilizar capital para o desenvolvimento do carvão. O capital despendido na procura e desenvolvimento de mais reservas é, em grande medida, desperdiçado A fim de minimizar os riscos para os investidores e aforradores, o capital deve ser desviado das opções com alto teor de carbono. Contudo, o presente relatório estima que as 200 principais empresas de petróleo e gás e extrativas atribuíram 674 mil milhões de dólares no último ano à pesquisa e ao desenvolvimento de mais reservas e novas formas de as extrair. A grande maioria desta despesa resultou de lucros não distribuídos - indicando para o dever dos acionistas de exercer a administração desses fundos para que sejam utilizados em oportunidades financeiramente lucrativas consentâneas com a segurança do clima. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 5 São necessários novos modelos de negócio À taxa atual de despesa de capital, a próxima década assistirá à atribuição de 6 mil milhões de dólares ao desenvolvimento de combustíveis fósseis. Com um orçamento de carbono limitado e em declínio, grande parte deste valor corre o risco de ser desperdiçado em ativos incombustíveis. As empresas cotadas têm interesses nos recursos de combustíveis fósseis não desenvolvidos que duplicariam os encargos para o mercado de carbono incorporado para 1541 GtCO2. O saldo atual entre os fundos a serem devolvidos aos acionistas, capital investido em oportunidades com baixa emissão de carbono e capital usado para desenvolver mais reservas necessita de uma mudança. O modelo de negócios convencional de reciclar os rendimentos de combustíveis fósseis na substituição de reservas já não é viável. Os riscos necessitam de ser redefinidos Atualmente, o processo de investimento tende a definir o risco como um desvio do desempenho de indicadores de referência do mercado, tais como índices. Consequentemente, os investidores e os seus conselheiros receiam um mau desempenho da sua carteira (em relação a um indicador de referência financeiro) muito mais do que o risco de uma perda absoluta de valor dos setores de combustíveis fósseis. É necessário conferir uma maior atenção ao valor fundamental em risco na transição para uma economia com baixas emissões de carbono. A valorização e as notações não estão a atribuir preços de forma rotineira aos ativos improdutivos As 200 empresas de combustíveis fósseis analisadas no presente documento têm um valor de mercado de 4 mil milhões de dólares e uma dívida de 1,5 mil milhões de dólares. Os proprietários de ativos e os analistas de investimento começaram a investigar as implicações do carbono incombustível. As análises do HSBC sugerem que as valorizações de ações poderão diminuir até 4060% num cenário de baixas emissões. Paralelamente, as obrigações das empresas de combustíveis fósseis poderão igualmente ser vulneráveis a reduções de notações, conforme recentemente ilustrado pela Standard & Poor’s. Essas reduções fariam com que as empresas pagassem taxas mais elevadas para contraírem empréstimos ou, se a redução cair abaixo do grau de investimento poderiam ter dificuldades para refinanciar a sua dívida. Os modelos financeiros que apenas têm por base os resultados anteriores são um guia inadequado para os investidores Todavia, nem os mercados de ações nem de crédito estão sistematicamente a considerar este risco na determinação dos preços nos seus modelos financeiros. Um pressuposto implícito é o de que os combustíveis fósseis detidos por empresas cotadas continuarão a ser desenvolvidos e vendidos e o capital disponibilizado será utilizado para substituir reservas por novas descobertas. No contexto de um orçamento de carbono em declínio, estes modelos de valorização fornecem um guia inadequado para os investidores e necessitam de ser recalibrados. Fazer melhor as contas Os investidores institucionais necessitam de uma avaliação de investimento melhor e mais orientada para o futuro, a fim de determinarem uma avaliação justa dos riscos e oportunidades dos seus investimentos. Os rácios de substituição de reservas poderão tornar-se rácios de redundância de reservas no futuro. As métricas de desempenho que serviram no passado para valorizar as empresas e incentivar a gestão estão a ser invertidas. Os intermediários financeiros, dos analistas aos atuários, necessitam de fazer um teste de esforço do valor em risco em relação a um conjunto de futuros cenários de emissões para dar aos proprietários de ativos uma análise de risco mais prospetiva. Tal requer que os proprietários de ativos solicitem modelos de valorização aos seus consultores de investimento que abordem um leque de potenciais resultados, e não apenas a manutenção do «status quo». Os reguladores e os investidores devem rever a sua abordagem aos riscos sistémicos Os riscos sistémicos que ameaçam a estabilidade dos mercados financeiros relacionados com o carbono incombustível estão a aumentar de forma mais acentuada desde 2011, e não a diminuir. Os mercados parecem incapazes de ter em consideração a transição a longo prazo para uma economia com baixas emissões de carbono nas valorizações e afetação de capital. Num contexto em que os participantes do mercado são impulsionados por uma métrica a curto prazo, existe a necessidade de os reguladores reverem a sua abordagem relativa aos riscos sistémicos decorrentes das alterações climáticas. Uma melhor transparência e gestão dos riscos afiguram-se essenciais para a manutenção de mercados estáveis, evitando o capital desperdiçado e impactos climáticos catastróficos. 6 | Ministros das Finanças: Iniciar um processo internacional para incorporar as alterações climáticas na avaliação e gestão do risco sistémico nos mercados de capital, trabalhando com organismos como a Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários (OICV/IOSCO, International Organization of Securities Commissions). O G20 poderia ser o fórum apropriado para impulsionar este processo. Consultores de investimento: Atuários: Redefinir o risco para refletir o valor em risco decorrente dos potenciais ativos improdutivos nas carteiras dos clientes com base na probabilidade de cenários futuros, em vez do risco de se desviarem do indicador de referência. Cidadãos: Rever os modelos de ativos/passivos utilizados na valorização das pensões, a fim de ter em conta as probabilidades de diferentes cenários de emissões. Colaborar com os seus fundos de pensões e mutualistas sobre de que forma estão a abordar o risco relacionado com as alterações climáticas e assegurar que dispõem de uma estratégia para gerir o potencial de capital desperdiçado e ativos improdutivos. Realizar contactos com os gestores dos seus fundos de pensões e mutualistas para que adotem uma abordagem de orçamento de carbono em relação ao risco climático e afetação de capital. Reguladores financeiros: Obrigar as empresas a divulgarem as potenciais emissões de CO2 integradas nas reservas de combustível fóssil. RECOMENDAÇÕES Este relatório apresenta recomendações para medidas por parte dos governos, intermediários financeiros, investidores institucionais e cidadãos: Rever o CO2 incorporado nas reservas e apresentar relatórios aos reguladores internacionais e organismos legislativos sobre a sua avaliação dos potenciais riscos sistémicos. Obrigar as empresas a explicarem em declarações regulamentares de que modo o seu modelo de negócio é compatível com a consecução das reduções das emissões, atendendo às reduções associadas do preço e da procura que poderão resultar. Analistas: Desenvolver indicadores alternativos que façam um teste de esforço às valorizações relativamente à possibilidade de o desempenho futuro não replicar o passado. Realizar investigação alternativa que calcule o impacto e as probabilidades dos diferentes cenários de emissões. Agências de notação: Responder ao desafio de integrar a avaliação sistemática do risco climático nas metodologias do setor, a fim de fornecer análises prospetivas. Investidores: Solicitar expressamente aos reguladores, analistas, agências de notação, conselheiros e atuários que realizem um teste de esforço às respetivas contribuições para o sistema financeiro relativamente ao risco climático e às emissões, designadamente valorização e pressupostos de risco. Desafiar as estratégias das empresas que estão a utilizar os fundos dos acionistas para desenvolver projetos de combustíveis fósseis com elevados custos; rever a aplicação do dinheiro por parte das empresas cuja estratégia é a de continuar a investir na exploração e no desenvolvimento de mais combustíveis fósseis e procurar o seu retorno; reduzir as participações em empresas intensivas em carbono e utilizar índices reequilibrados e ajustados ao carbono como indicadores de referência do desempenho; redistribuir fundos a oportunidades alternativas alinhadas com a estabilidade climática. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 7 Prefácio de Lord Stern O presente relatório mostra de forma muito clara a grande inconsistência entre as valorizações atuais dos ativos de combustíveis fósseis e o caminho que os governos se comprometeram seguir, a fim de gerir os enormes riscos de alterações climáticas. Se queimarmos todas as reservas atuais de combustíveis fósseis, emitiremos CO2 suficiente para criar um clima pré-histórico, com a temperatura da Terra a subir para níveis não registados há milhões de anos. Um tal mundo seria radicalmente diferente daquele que conhecemos atualmente, com alterações na intensidade e frequência de eventos extremos, tais como inundações ou secas, níveis do mar superiores redesenhando as linhas costeiras do mundo e desertificação, redefinindo os locais onde as pessoas podem viver. Estes impactos conduziriam a migrações em massa, com o potencial de um conflito generalizado, ameaçando o crescimento económico e a estabilidade. Os governos começaram a reconhecer a dimensão dos riscos decorrentes das alterações climáticas não geridas e já acordaram reduzir as emissões anuais globais para evitar um aquecimento global superior a 2 °C. Está previsto que no final de 2015 os governos se reúnam em Paris na cimeira sobre as alterações climáticas das Nações Unidas para assinarem um tratado que fará com que todos se comprometam a agir para a consecução deste objetivo. A tecnologia de captura e armazenamento de carbono poderão, teoricamente, permitir que os combustíveis fósseis sejam queimados de uma forma consistente com o objetivo de reduzir as emissões. No entanto, o presente relatório mostra que mesmo um cenário para a sua implantação que é atualmente considerado otimista apenas faria uma diferença marginal para a quantidade de combustíveis fósseis que podem ser consumidos até 2050. Os investidores inteligentes já podem ver que a maior parte de reservas de combustível fóssil é, fundamentalmente, incombustível devido à necessidade de reduzir as emissões em consonância com o acordo global. Podem ver que investir em empresas que têm por base exclusivamente ou fortemente o abastecimento constante de reservas de combustíveis fósseis se está a tornar numa decisão muito arriscada. Mas espero que este relatório signifique que os reguladores também tomam nota, uma vez que grande parte deste risco incorporado decorrente destes ativos de carbono potencialmente tóxicos não é abertamente reconhecido nos requisitos atuais de comunicação de informações. A crise financeira mostrou o que acontece quando os riscos se acumulam de forma despercebida. Por conseguinte, é importante que as empresas e os reguladores trabalhem em conjunto para declarar e quantificar abertamente esses riscos de valorização associados ao carbono, permitindo aos investidores e acionistas considerarem qual a melhor forma de os gerir. Se esses riscos de valorização passarem a ser mais transparentes, as empresas que atualmente estão especializadas em combustíveis fósseis serão capazes de desenvolver novos modelos de negócio que tenham em conta o fato de que a procura dos seus produtos vai diminuir acentuadamente nas próximas décadas e considerarem as suas opções em matéria de diversificação, a fim de manterem o seu valor. Os investidores vão também ser capazes de considerar se é melhor ficar com os ativos com elevado teor de carbono ou, pelo contrário, procurar novas oportunidades de negócios mais bem posicionados em termos de ganhos numa economia com baixas emissões de carbono. O presente relatório fornece aos investidores e reguladores as provas de que necessitam relativamente ao fato de os riscos graves estarem a aumentar para os ativos com elevado teor de carbono. Deverá ajudá-los a gerir melhor esses riscos de uma forma tempestiva e eficaz. Professor Lord Stern of Brentford, Presidente, Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, London School of Economics and Political Science 8 | Introdução O diagrama a seguir mostra os fluxos financeiros que criam um ciclo dependente das emissões continuadas resultantes da combustão de combustíveis fósseis. O presente relatório explora esta relação em maior profundidade para demonstrar alguns dos efeitos de retorno de se manterem as emissões dentro de um orçamento de carbono apropriado. Define de que modo o sistema financeiro atual necessita de se adaptar para assegurar que pode refletir o risco crescente de capital desperdiçado e ativos improdutivos. LOGÓTIPO EMISSÕES LOGÓTIPO E £ RO JU TDA BI DÍVIDA CAPITAL PRÓPRIO Petróleo EMPRESAS Petróleo Petróleo Petróleo DIV S £ CAPEX ID E N D O Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo DESENVOLVER RESERVAS Petróleo Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 9 1. Orçamento de CO2 global 1.1 O que são os orçamentos de CO2? O aquecimento global é causado pelo aumento dos níveis atmosféricos de gases com efeito de estufa (GEE), principalmente dióxido de carbono (CO2) resultantes da combustão de combustíveis fósseis. Numa primeira aproximação, as emissões anuais cumulativas durante um dado período vão determinar a alteração na concentração e, portanto, a quantidade do aquecimento. Isto significa que para qualquer subida específica da temperatura, existe um orçamento para emissões de gases com efeito de estufa, nomeadamente CO2, o qual não pode ser excedido, a fim de evitar que a temperatura suba acima do limiar estabelecido. Quanto maior for o orçamento, menor é a probabilidade de restringir o aquecimento a um determinado nível. Esta análise centra-se apenas em orçamentos para CO2 – adiante designados de orçamentos de carbono. (É diferente do orçamento de carbono do Reino Unido que inclui todos os gases com efeito do estufa). Cada orçamento de carbono está associado a uma probabilidade de não exceder um determinado limiar de temperatura. Tal reflete o grau de incerteza inevitável ao projetar sistemas tão complexos décadas no futuro. A agenda política internacional para o clima Os governos reconheceram a necessidade de gerir os riscos futuros das alterações climáticas, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa, sobretudo CO2. Em 2010, os governos acordaram numa conferência sobre as alterações climáticas das Nações Unidas que as emissões deveriam ser reduzidas, a fim de evitar uma subida da temperatura média global superior a 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, com a possibilidade de rever em baixa este valor para os 1,5 °C. A meta de 2 °C foi definida pelo fato de ser reconhecido a partir das provas científicas que os riscos de impactos muito graves, tais como subidas elevadas e irreversíveis dos níveis do mar globais, atingem níveis inaceitáveis com temperaturas superiores. Os governos encontram-se agora a planear acordar um novo tratado em 2015 para fazer face às alterações climáticas, o qual poderá incluir metas para as emissões anuais globais com o intuito de limitar a subida da temperatura média. Este capítulo analisa as seguintes questões: 1. Que orçamentos de carbono poderiam ser definidos? Cada meta de temperatura implica um orçamento de carbono distinto. Aqui exploramos os orçamentos de carbono para subidas da temperatura de 1,5, 2,0, 2,5 e 3,0 °C. Para cada subida da temperatura fornecemos orçamentos que proporcionam uma probabilidade de 50% e uma probabilidade de 80% de limitar o aquecimento global para esse nível. 2. Que período é coberto pelos orçamentos de carbono? A maior parte dos debates políticos concentra-se na redução das emissões anuais necessárias até 2050. No entanto, as emissões após 2050 também são importantes para as temperaturas globais. Aqui consideramos orçamentos de CO2 de 2000 a 2049 e de 2050 a 2100. 3. Que diferença poderão fazer a captura e o armazenamento de carbono? A captura e armazenamento de carbono (CAC) é uma tecnologia que previne que o CO2 resultante da combustão de combustíveis fósseis entre na atmosfera. Por conseguinte, a CAC tem o potencial de aumentar a quantidade de combustíveis fósseis que podem ser queimados sem exceder o orçamento de carbono para um determinado limiar de temperatura. Examinamos até que ponto um cenário idealista para o desenvolvimento e implantação da CAC afeta os orçamentos de carbono. Determinar as probabilidades Existem intervalos de incerteza relacionados com vários fatores que determinam o orçamento de carbono para um determinado limiar de temperatura, designadamente: •S ensibilidade climática (isto é, uma propriedade do sistema climático que determina quanto é que a temperatura sobe em resposta a uma duplicação dos níveis de CO2 na atmosfera); • Retornos do ciclo de carbono (até que ponto as emissões de CO2 resultantes da combustão de combustíveis fósseis são absorvidas pelos oceanos e a terra ou permanecem na atmosfera); •N íveis de aerossóis (a combustão de combustíveis fósseis também liberta dióxido de enxofre e outras partículas que provocam um efeito de refrigeração que reduz o efeito de aquecimento dos gases com efeito de estufa); •F ontes de CO2 além da combustão de combustíveis fósseis (em particular alterações na utilização dos solos e florestas). Os pressupostos apresentados sobre estes fatores são enunciados aqui e descritos mais pormenorizadamente num documento técnico de acompanhamento. 10 | Pressupostos alternativos Tal como acontece com todas as análises, sejam elas financeiras ou ambientais, há necessidade de alguns pressupostos fundamentais sobre os parâmetros que definem o quadro. No domínio das finanças, diferentes analistas utilizam diferentes taxas de desconto ou preços futuros de mercadorias. De igual modo, os fatores que determinam os orçamentos de carbono podem ser ajustados para refletirem a lógica mais recente. Cada versão continua a ser válida e os utilizadores podem aplicar a análise que considerarem ser mais provável de ocorrer. A modelização levada a cabo por este estudo produziu orçamentos maiores do que os indicados na modelização do estudo de 2009 de Meinshausen et al referenciado no trabalho anterior da Carbon Tracker e pela Agência Internacional de Energia (AIE). Essa abordagem produziu uma gama de 565-886 GtCO2 para fornecer 80% - 50% de probabilidade de limitar o aquecimento para um cenário de dois graus (C2G). O presente estudo utiliza os mesmos modelos, mas aplica pressupostos alternativos em torno de alguns dos fatores identificados anteriormente. Nomeadamente: •U m nível mais elevado de aerossóis na atmosfera que compensa parte do efeito de aquecimento dos GEE; •M aiores reduções nos GEE não de CO2 (que apresentam um maior potencial de aquecimento global) - tal permite emissões mais elevadas de CO2, mas resulta no mesmo efeito de aquecimento geral. Caso fique provado que é mais viável aplicar medidas de atenuação não de CO2 (por exemplo, capturar e reutilizar metano de técnicas agrícolas de aterro ou com baixas emissões de carbono), tal poderia aumentar o orçamento disponível para as emissões de CO2. O recurso a estes pressupostos alternativos fornece um ponto de referência útil para validar as conclusões gerais do trabalho anterior de que a maioria dos combustíveis fósseis não pode ser queimada em termos absolutos, se tivermos de restringir o aquecimento global para o C2G. 1.2 Análise dos orçamentos de carbono Orçamentos de carbono para diferentes limiares de temperatura Os orçamentos que se seguem correspondem aos orçamentos de carbono de combustíveis fósseis de 2013 a 2049, tendo em conta as emissões anuais até agora para este século: Aumento da temperatura máxima (°C) Orçamento de carbono dos combustíveis fósseis 2013-2049 (GtCO2) Probabilidade de não exceder o limiar da temperatura 50% 80% 1,5 525 - 2,0 1075 900 2,5 1275 1125 3,0 1425 1275 Com base nestes resultados, existem já menos de 80% de hipóteses de limitar o aquecimento global para 1,5 °C. Estes orçamentos de carbono são extraídos dos modelos aplicáveis após 2050 e, portanto, têm implicações neste período posterior. Orçamentos de carbono após 2050 Apesar de aqui se privilegiarem os orçamentos de carbono a partir dos combustíveis fósseis e outras fontes para o período compreendido entre 2013 e 2049, o orçamento após 2049 é igualmente importante para esta análise. Os orçamentos que se seguem correspondem aos orçamentos de CO2 (incluindo elementos não de combustíveis fósseis) para cada limiar de temperatura para o período de 2050 a 2100. Aumento da temperatura máxima (°C) Orçamento de carbono total 2050-2100 (GtCO2) Probabilidade de não exceder o limiar da temperatura 50% 80% 1,5 25 - 2,0 475 75 2,5 1175 650 3,0 1875 1200 Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 11 Para aqueles com interesses nos combustíveis fósseis, isto esclarece que o orçamento não é reinicializado em 2050, dado que o efeito cumulativo das emissões industriais continua presente. Tal vem confirmar o fato de que estas reservas não podem ser queimadas mais tarde, se queremos limitar o aquecimento global neste século. Efetivamente, para as metas de 1,5 °C e 2 °C, serão permitidas muito poucas emissões após 2050. Para Orçamentos com 80% de probabilidade pré e pós 2050 4000 4000 3500 3500 3000 3000 2500 2500 GtCO2 GtCO2 Orçamentos com 50% de probabilidade pré e pós 2050 algumas trajetórias de emissões, o uso dos solos e a silvicultura poderão contribuir com emissões negativas líquidas de CO2 entre 2050 e 2100 e, portanto, os números aqui indicados poderão não corresponder ao limite máximo do orçamento de carbono para os combustíveis fósseis. 2000 2000 1500 1500 1000 1000 500 500 0 0 1,5 2 2,5 3 Temperatura máxima até 2100 ( oC) Orçamento de carbono para a utilização de combustíveis fósseis 2013-2049 (GtCO2 ) (50% de probabilidade) Orçamento de carbono para a utilização de combustíveis fósseis 2050-2100 (GtCO2 ) (50% de probabilidade) 1,5 2 2,5 3 Temperatura máxima até 2100 ( oC) Orçamento de carbono para a utilização de combustíveis fósseis 2013-2049 (GtCO2 ) (80% de probabilidade) Orçamento de carbono para a utilização de combustíveis fósseis 2050-2100 (GtCO2 ) (80% de probabilidade) 12 | A tecnologia CAC tem sido instalada em várias unidades de demonstração em todo o mundo, com o Instituto Global de Captura e Armazenamento de Carbono (GCCSI) (2012) a comunicar existirem atualmente oito projetos de grande escala a operarem, armazenando em conjunto cerca de 23 milhões de toneladas de CO2 todos os anos. Atualmente, estão em fase de construção oito projetos adicionais que segundo as estimativas do GCCSI vão aumentar o armazenamento anual de CO2 para cerca de 36 milhões de toneladas até 2015 (ou seja, cerca de 2,25 milhões de toneladas por ano armazenadas em média por cada projeto). A Agência Internacional da Energia (2012) descreveu 2013 - 2049 opções de tecnologia e vias políticas que, segundo os seus modelos, asseguram 80% de hipóteses de limitar ile) o aumento da temperatura a longo prazo para 2 °C. Tal incluiu um cenário idealizado no qual a CAC previne que 125 GtCO2 resultantes da combustão de combustíveis fósseis entrem na atmosfera entre 2015 e 2050. No cenário idealizado, a quantidade de CO2 que se evita anualmente que entre na atmosfera através da tecnologia de captura e armazenamento de carbono aumenta de 0,3 GtCO2 em 2020 para 8 GtCO2 em 2050. O gráfico compara as emissões eliminadas através da captura e armazenamento de carbono no cenário idealizado com uma trajetória de emissões que oferece cerca de 80% de hipóteses de não exceder um aquecimento superior a 2 °C. 2013 - 2049 tile) Atendendo ao fato de que a taxa anual média do armazenamento em 2015 está prevista pelo Instituto Global de Captura e Armazenamento de Carbono (2012) ser de cerca de 2,25 milhões de toneladas para 16 projetos de CAC, teriam de estar operacionais neste cenário idealizado um total de aproximadamente 3800 projetos de CAC até 2050. Cada orçamento de carbono indicado para a probabilidade de um determinado resultado de aquecimento apenas será alargado em 125 GtCO2 para 2050 com um nível otimista de tecnologia CAC implementada. 35 Emissões anuais provenientes de combustíveis fósseis (GtCO2) 1.3 O potencial da tecnologia de CAC de aumentar o orçamento de carbono 30 25 20 15 10 5 0 0 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 Ano Emissões não reduzidas provenientes de combustíveis fósseis Emissões eliminadas por captura e armazenamento (cenário idealizado) 2045 2050 Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 13 A captura e armazenamento de carbono ainda está longe de ser uma tecnologia comercial implementada de forma generalizada. Embora teoricamente ofereça uma via para uma quantidade ilimitada de combustíveis fósseis a ser queimada sem esgotar os orçamentos, a implantação relativamente limitada da CAC prevista antes de 2050, mesmo num cenário idealizado, significa que é pouco provável que vá aumentar consideravelmente a quantidade de combustíveis fósseis passíveis de combustão. Para estes cenários até mesmo com um investimento completo em CAC, alarga o orçamento de carbono para o C2G apenas 12-14% (50-80% de probabilidade). Para estes cenários até mesmo com um investimento completo em CAC, alarga o orçamento de carbono para o C2G apenas 12-14% Cabe também salientar que a tecnologia CAC está apenas a ser verdadeiramente explorada em relação ao gás natural e ao carvão e não é atualmente considerada adequada para utilização com o petróleo nos transportes. Conclusões •O s orçamentos de carbono constituem uma ferramenta muito útil para compreender o nível de emissões de combustíveis fósseis contínuas que podem ocorrer ao longo das próximas décadas para cumprir os limiares de aumento da temperatura. •O s governos podem acordar um orçamento para CO2 e outros gases com efeito de estufa enquanto parte de um novo tratado internacional para as alterações climáticas em 2015. •C aso sejam tomadas mais medidas para reduzir as emissões não de CO2, tal proporciona um orçamento de emissões de CO2 de combustíveis fósseis mais generoso correspondente a 900 GtCO2, para permitir 80% de hipóteses de alcançar um C2G. •A inda que o investimento em CAC seja acelerado em consonância com o cenário idealizado da AIE, apresenta um potencial limitado para alargar os orçamentos de carbono na altura em que possa ser aplicado em escala. Os orçamentos C2G apenas aumentam 12-14%, se for realizado um investimento completo. • Mesmo com a afetação de um orçamento mais elevado às emissões de CO2 do que aos gases com efeito de estufa, e um nível idealizado de CAC implantada, a maior parte das reservas de combustível fóssil não pode ser queimada se pretendermos uma hipótese decente de limitar o aquecimento global para 2 °C. • O conceito de um orçamento de carbono proporciona uma nova base de referência relativamente à qual se pode estabelecer uma correspondência das reservas, para ver que percentagem de combustíveis fósseis detidos por empresas públicas pode ser desenvolvida e queimada sem mitigação. Tal tem implicação na forma como os bancos de investimento e os investidores avaliam estas empresas, a forma como as empresas divulgam a viabilidade das suas reservas e as suas decisões futuras para explorar e desenvolver mais combustíveis fósseis. Recomendação •A s implicações dos orçamentos de CO2 são profundas e os decisores políticos internacionais em matéria de clima têm um papel a desempenhar nas transformação das implicações em tomadas de decisões financeiras e económicas. Metodologia • S ão utilizadas várias trajetórias de emissões de estudos anteriores (Bowen and Ranger 2009; Ranger et al. 2010), bem como algumas novas desenvolvidas para este estudo. • O resultado em termos climáticos para cada trajetória utilizada no estudo foi validado com recurso ao modelo climático MAGICC6 (que pode ser consultado em http://live.MAGICC.org; Meinshausen et al, 2011). • A s definições climáticas de Meinshausen et al (2009) no MAGICC6 são utilizadas para analisar as trajetórias de emissões. • O s pressupostos são representados como distribuições de probabilidade, o que significa que os modelos produzem uma gama de subidas estimadas de temperatura para cada trajetória relativamente às emissões globais anuais. • O s resultados concentram-se nas probabilidades de 50% e 80% de apresentar uma determinada temperatura. • N enhuma das trajetórias deste estudo envolve emissões anuais negativas líquidas de gases com efeito de estufa até 2100. • P artimos do princípio de que 7,3% das emissões totais de CO2 são geradas pelo uso dos solos, pela alteração do uso dos solos e pela silvicultura para os orçamentos de carbono até 2050. • E stima-se que as emissões para o período 20002012 relativas aos combustíveis fósseis sejam cerca de 400 GtCO2. • Os orçamentos de carbono são obtidos a partir das linhas de correlação para esboços de trajetórias de emissões modelo e os orçamentos são arredondados para o valor mais próximo de 25 GtCO2. 14 | 2. Reservas e recursos de carvão, petróleo e gás globais cotadas Este capítulo incide sobre as seguintes questões: 1. Que nível de reservas se encontram já detidas por empresas cotadas; e que reservas adicionais estão a procurar para desenvolver a produção? 2. De que modo os níveis de reservas são comparáveis com os orçamentos de carbono? 3. Que quantidade de despesa de capital é atribuída à procura e desenvolvimento de mais reservas? 4. De que forma estão distribuídas as reservas pelas bolsas de valores do mundo? 5. Que índices do mercado são mais intensivos em termos de carbono? 2.1 Reservas detidas por empresas cotadas Propriedade estatal: Reservas vs Produção De acordo com a publicação World Energy Outlook (Perspetivas Energéticas Mundiais) 2012, as reservas totais que incluem ativos detidos pelo Estado são equivalentes a 2860 GtCO2. Tal é já suficiente para nos levar além dos 3 °C de aquecimento. Os governos detêm uma percentagem mais elevada de reservas de petróleo e gás (até 90%) comparativamente com as reservas de carvão (cerca de dois terços). Contudo, cabe salientar que as empresas petrolíferas nacionais não têm a mesma percentagem de produção atual - estimada em cerca de 60% de petróleo e menos de 50% de gás. Isto significa que as empresas cotadas desempenham um papel ainda mais relevante do que aquilo que os números de reservas possam sugerir. Têm um papel determinante no desbloqueio dos ativos detidos pelo Estado com a tecnologia e o capital que podem proporcionar. A fim de aferir a exposição dos investidores institucionais, a tónica é colocada nas reservas detidas por empresas cotadas nas bolsas de valores do mundo. Além de analisarmos as que possuem um elevado grau de certeza (reservas de petróleo e gás P1 e reservas de carvão), fomos mais além do que a análise original de Carbono incombustível e analisámos as potenciais reservas (reservas de petróleo e gás P2 e recursos de carvão) que as empresas estão a procurar desenvolver. Tal demonstra que a potencial dimensão de carbono incombustível, a percentagem de reservas detidas por empresas que terão que permanecer no terreno por desenvolver, é ainda maior do que aquilo que inicialmente se pensava. Mostra também as intenções das indústrias extrativas no caso de não existirem limites de emissões em vigor. Se todos estes recursos forem desenvolvidos de forma a concretizarem-se, tal duplicará o nível de potenciais emissões de CO2 cotadas nas bolsas de valores do mundo de 762 para 1541 GtCO2. Esta situação exigirá capital para desenvolver mais as potenciais reservas de modo a que passem das categorias de recursos/P2 para as categorias de reservas/P1. É importante salientar que a percentagem de carvão em relação aos combustíveis fósseis totais também aumenta de 36% para 42% ao comparar as reservas atuais com as reservas potenciais (ver quadro a seguir). Por conseguinte, a carteira do investidor médio exposta a empresas cotadas está definida para se tornar mais intensiva em termos de carbono nos próximos anos e não o contrário, se for nesta componente que o capital é gasto. Contudo, nem todas as reservas por desenvolver têm de ser criadas. De fato, num mercado em que assistimos a um enfraquecimento da procura e uma queda dos preços, isto reduziria a viabilidade das reservas. Reservas de Carvão / Petróleo e Gás P1 GÁS CARVÃO 101 273 PETRÓLEO 388 TOTAL 762 Reservas de Carvão / Petróleo e Gás P2 GÁS CARVÃO 186 640 PETRÓLEO TOTAL 715 1541 Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 15 2.2 Comparação das reservas cotadas com os orçamentos de carbono Quota do orçamento das empresas cotadas Os ativos de carvão, petróleo e gás que já se encontram desenvolvidos são quase equivalentes ao orçamento de 80% 2 °C para 2050 de 900 GtCO2. Tal como é sabido, a maioria das reservas é detida por entidades públicas. Se as empresas cotadas desenvolverem todos os ativos nos quais têm um interesse, estas potenciais reservas excederiam o orçamento para 2050 para dar apenas 50% de hipóteses de alcançar o C2G de 1075 GtCO2. Dado que as empresas cotadas detêm cerca de um quarto das reservas totais (que são equivalentes a 2860 GtCO2), a sua quota proporcional de orçamentos de carbono não está longe daquilo que é necessário para utilizar todas as suas reservas. Isto mostra que existe um orçamento muito limitado disponível para as empresas cotadas se pretendermos ter uma elevada probabilidade de limitar as temperaturas para a gama mais baixa, conforme indicado nas negociações internacionais sobre o clima. Tal significa que cerca de 65-80% das reservas atuais das empresas cotadas não podem ser queimadas sem mitigação. Isto vem confirmar que as atividades planeadas apenas das empresas das indústrias extrativas cotadas são suficientes para ir além dos 50% de hipóteses de alcançar um C3G, sem acrescentar os ativos detidos pelo Estado. As emissões adicionais necessárias para nos levar além de um C2G para um C2,5G e, posteriormente, um C3G constituem um aumento relativamente pequeno. Se às empresas cotadas for atribuída uma quota pro rata do orçamento – 25% - isto faz com que fiquem com um grande défice no orçamento de carbono comparativamente com as suas reservas. Comparação das reservas cotadas em bolsa até 50% de probabilidade pro rata do orçamento de carbono Comparação das reservas cotadas em bolsa até 80% de probabilidade pro rata do orçamento de carbono Temperatura máxima (°C) 50% de probabilidade Temperatura máxima (°C) 80% de probabilidade 3 356 2,5 319 2 1,5 1541 3 319 2,5 281 269 2 225 131 1,5 - Reservas potenciais cotadas em bolsa 762 Reservas atuais cotadas em bolsa Reservas potenciais cotadas em bolsa 1541 762 Reservas atuais cotadas em bolsa 16 | A fim de desenvolver as reservas atuais terá de ser mobilizado mais capital. Esta secção fornece uma indicação do nível de despesas de capital (CAPEX) efetuado por estas empresas para encontrar e desenvolver mais reservas. A análise mostra que as despesas de CAPEX (ajustadas proporcionalmente aos rendimentos obtidos com o carvão, petróleo e gás) durante os 12 últimos meses destas 200 empresas ascenderam a 674 mil milhões de dólares dos Estados Unidos. Os custos mais elevados do setor do petróleo e do gás significa que a maior parte 593 mil milhões de dólares - estava relacionada com este setor, sendo que 81 mil milhões de dólares diziam respeito às operações com carvão. Repartição do CAPEX As repartições dos orçamentos de CAPEX não se encontravam disponíveis em todas as empresas. O CAPEX da empresa extrativa foi atribuído ao carvão proporcionalmente aos rendimentos obtidos com o carvão. A maior parte dos principais CAPEX relacionados com o petróleo foram atribuídos à exploração, produção e refinação - ou seja, obter mais produto para o mercado. As empresas apresentam alguma variação em termos de diversificação para outros tipos de energia, por exemplo, eólica, solar. A transparência em relação aos orçamentos de I&D é limitada, os quais poderiam ser utilizados para qualquer coisa desde o desenvolvimento de novas tecnologias para extrair hidrocarbonetos não convencionais até à melhoria das tecnologias de baterias. Capital desperdiçado? Se o CAPEX se mantiver ao mesmo nível durante a próxima década registará até 6,74 mil milhões de dólares em capital desperdiçado no desenvolvimento de reservas suscetíveis de se tornarem incombustíveis. Tal impulsionaria uma divergência ainda maior entre um C2G e a posição dos mercados financeiros. Esta situação tem profundas implicações para os detentores de ativos com participações consideráveis em ações de combustíveis fósseis. É especialmente grave para as empresas com grandes planos de CAPEX que continuam a afundar os fundos dos acionistas no desenvolvimento de novas reservas adicionais incompatíveis com o caminho das baixas emissões de carbono. Retorno em dinheiro Em contrapartida, as mesmas empresas pagaram 126 mil milhões de dólares americanos em dividendos aos seus acionistas nos últimos 12 meses (105 mil milhões de dólares americanos provenientes do petróleo e gás; 21 mil milhões de dólares americanos provenientes do carvão). Isto cria, em particular, um desafio para as empresas concentradas puramente em atividades com utilização intensiva de carbono, tais como carvão e areias petrolíferas. Se o CAPEX se mantiver ao mesmo nível durante a próxima década registará até 6,74 mil milhões de dólares em capital desperdiçado no desenvolvimento de reservas suscetíveis de se tornarem incombustíveis. As empresas envolvidas na extração de combustíveis fósseis estão a gastar cinco vezes mais na procura de Despesas CAPEX anuais estimadas no novas reservas do que no retorno de dinheiro que fazem desenvolvimento de mais reservas aos acionistas. Os acionistas começam já a interrogar-se sobre a necessidade de alterar este rácio. O mundo dispõe de vastas reservas de carvão para superar os orçamentos de carbono necessários para limitar o aquecimento global. Os investidores devem começar a questionar-se por que motivo o investimento adicional em mais carvão e petróleo é uma aplicação útil dos fundos por parte destas de dólares CAPEX s e empresas em que uma estratégia de po lhõ ra i pagamentos de dividendos mais elevados no li m e recompras de ações poderia ser mais m apropriada. 67 4 2.3 Quanto capital está a ser gasto para desenvolver mais reservas Modelo de negócio alternativo A menos que as empresas que têm por base os combustíveis fósseis possam surgir com um modelo de negócio alternativo, nem todas estão em condições de sustentar rendimentos e crescimento. Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo 762 GtCO2 Reservas de Carvão / Petróleo e Gás P1 Petróleo Petróleo Petróleo Petróleo 1541 GtCO2 Recursos de Carvão / Petróleo e Gás P2 Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 17 2.4 Distribuição dos ativos de carvão, petróleo e gás pelas bolsas de valores O primeiro mapa que se segue apresenta as reservas comunicadas atuais e mostra que Nova Iorque, Moscovo e Londres têm elevadas concentrações de combustíveis fósseis nas suas bolsas. Se combinarmos as reservas de Hong Kong, Xangai e Shenzen, a China não fica muito atrás. O segundo mapa indica o nível de potenciais reservas em cada bolsa. Tal inclui reservas de petróleo e gás P2, bem como recursos de carvão, para além das reservas mostradas no primeiro mapa. Talvez sem surpresa, 88% do potencial de CO2 cotado nas bolsas de valores chinesas diz respeito a reservas de carvão. Em desenvolvimento Outras bolsas de valores apresentam uma quantidade significativa de potenciais reservas em desenvolvimento, o que aumentará a sua exposição se passarem para a fase de produção. Joanesburgo, Tóquio, Austrália, Indonésia, Banguecoque e Amesterdão verão os seus níveis mais do que triplicar se as perspetivas atuais dispuserem de mais capital investido e forem desenvolvidas com êxito em reservas viáveis. Os investidores e os reguladores devem começar a questionar a validade das emissões novas ou secundárias de ações por parte das empresas que procuram utilizar o capital no desenvolvimento de mais ativos de combustíveis fósseis. Compreender a cadeia de valor Contudo, as implicações para os investidores nestas bolsas pode ser muito distinta dependendo da geografia das reservas que estão cotadas nas mesmas, e dos mercados de que dependem para as vendas. A África do Sul e a Austrália têm ambas jazidas de carvão consideráveis, mas têm perfis de procura muito diversos. O setor da energia da África do Sul é dominado pelo carvão, nomeadamente a conversão do carvão em líquido para produzir combustível para transportes. Isto significa que o mercado do carvão é essencialmente doméstico. Por outro lado, a Austrália exporta para todo o Pacífico e num mercado global crescente. Em contrapartida, os Estados Unidos (EUA) estão a ponderar opções de exportação devido ao seu mercado interno cada vez mais limitado. Os investidores têm de perceber as cadeias de valor globais que podem ligar as ações que detêm através de uma determinada bolsa de valores a reservas que poderiam ser exploradas noutro país com vista à exportação para outro mercado. A análise do carvão cotado em Londres indicou que um terço das reservas se encontrava na Austrália. Isto significa as seguintes ligações globais para uma empresa como a Xstrata: • A sede encontra-se na Suíça; • A sua cotação principal está em Londres; • A maior parte das suas reservas encontra-se na Austrália e África do Sul; • 85% da sua produção é exportada; • Os principais mercados incluem o Japão, a China, a Índia, a Coreia e Taiwan. O anúncio da China de que tenciona aumentar a utilização de carvão no plano quinquenal atual para menos de 4 mil milhões de toneladas por ano poderá ter efeitos colaterais importantes Os investidores têm, portanto, de compreender o risco de uma tecnologia alternativa, a regulamentação das emissões, as variações na procura e no preço, a eficiência energética, a escassez dos recursos hídricos e quaisquer outros fatores que possam provocar alterações no mercado do carvão. Por exemplo, o anúncio da China de que pretende aumentar a utilização de carvão no plano quinquenal atual para menos de 4 mil milhões de toneladas poderá ter efeitos colaterais importantes no mercado de carvão global crescente. Os planos de crescimento atuais de muitos produtores baseiam-se numa procura desenfreada de carvão por parte da China. Ativos improdutivos Muitos fatores, nomeadamente políticas e preços nos países onde é feita a extração, comercialização e combustão dos combustíveis fósseis, irão afetar quais os combustíveis fósseis específicos que acabam por se revelar incombustíveis. Tal torna mais complexa a tarefa de identificar potenciais ativos improdutivos. Contudo, é evidente que assumir uma visão sistémica tem um caráter informativo - se o mercado global não continuar a crescer à mesma taxa, as estratégias da maioria das empresas de continuar a aumentar a produção não fazem sentido. Divisão Este-Oeste O mapa mostra uma divisão inequívoca entre as bolsas de valores orientais e meridionais com uma elevada percentagem de carvão, ao passo que os mercados ocidentais dispõem de grandes quantidades de petróleo. Há muitos mais recursos de carvão a aguardarem ser desenvolvidos por empresas cotadas no Extremo Oriente e na Austrália. Estes poderão ser os ativos improdutivos do futuro num cenário condicionado pelo carbono. A exposição limitada de todos os mercados ao gás indica o fraco posicionamento para uma transição para baixas emissões de carbono com recurso a este combustível. Moscovo domina as reservas de gás atuais cotadas, com Paris e Nova Iorque a apresentarem potencial de crescimento. 40 18 | O MAPA APRESENTA O GTCO2 DAS RESERVAS DE CARVÃO, PETRÓLEO E GÁS ATUAIS COTADAS NAS BOLSAS DE VALORES MUNDIAIS. LEGENDA RESERVAS TOTAIS DE CO2 MOSCOVO 144 CO2 EM CARVÃO (RESERVAS) CO2 EM GÁS (P1) LONDRES 113 CO2 EM PETRÓLEO (P1) 12 (Apenas as 12 bolsas com maior exposição são apresentadas) 89 43 49 53 11 TORONTO 33 5 TÓQUIO 13 .5 3 2.5 10 25 XANGAI 41 1 PARIS 20 NOVA IORQUE 33 215 ÍNDIA NACIONAL 12 4 16 40 2 10 36 146 33 SÃO PAULO 30 3 26 1 JOANESBURGO 13 AUSTRÁLIA 26 1 2 HONG KONG 60 1 10 49 13 23 40 Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 19 O MAPA APRESENTA O GTCO2 DE RESERVAS POTENCIAIS DE CARVÃO, PETRÓLEO E GÁS COTADAS NAS BOLSAS MUNDIAIS. LEGENDA MOSCOVO 266 TOTAL DE CO2 RESERVAS POTENCIAIS LONDRES 286 CO2 EM CARVÃO (RESERVAS POTENCIAIS) 16 CO2 EM GÁS (P2) CO2 EM PETRÓLEO (P2) 79 (Apenas as 12 bolsas com maior exposição são apresentadas) 100 171 165 21 TORONTO 69 TÓQUIO 39 2 6 21 42 31 6 PARIS 37 NOVA IORQUE 366 ÍNDIA NACIONAL 25 1 2 7 33 60 30 43 22 60 263 XANGAI 63 1 2 JOANESBURGO 51 SÃO PAULO 58 10 2 2 51 19 70 95 46 HONG KONG 91 AUSTRÁLIA 101 3 4 20 | VS Na qualidade de maiores centros financeiros do mundo ocidental, vale a pena confrontar os diferentes focos destas duas bolsas de valores. Nova Iorque apresenta uma tendência clara para o petróleo, enquanto Londres é um centro de comercialização de carvão. NOVA IORQUE CO2 aumentou 37% em 2 anos LONDRES 215,00 Totais de CO2 P1/reservas 113,32 365,64 Totais CO2 P2/recursos 286,45 36,42 CO2 em Carvão (reservas) 48,91 43,13 CO2 em Carvão (recursos) 165,86 32,70 CO2 em Gás (P1) 11,25 59,46 CO2 em Gás (P2) 20,50 145,88 CO2 em Petróleo (P1) 53,15 263,05 CO2 em Petróleo (P2) 100,10 344,85$ Dívida (mil milhões de dólares) Capitalização de mercado (mil milhões de dólares) CAPEX últimos 12 meses (mil milhões de dólares) Dividendos último exercício (mil milhões de dólares) 158,09$ 1487,48 245,74 43,60 538,09 78,67 16,80 CO2 aumentou 7% em 2 anos Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 21 2.5 Comparação do índice de intensidade de carbono É manifesto que algumas bolsas de valores têm uma elevada exposição absoluta às reservas de carvão, petróleo e gás. Estas representam, portanto, uma preocupação especial em matéria de risco de investimento. Mas acresce que algumas das bolsas de valores de menor dimensão têm uma elevada concentração de negócios baseados nos combustíveis fósseis nos seus índices. Analisámos os índices primários associados às 200 empresas principais analisadas. Essa análise revelou os fundos e indicadores de referência intensivos em carbono que se seguem. Índices Intensidade atual de reservas do índice (GtCO2 / capt merc biliões de dólares americanos) Aplicámos a mesma análise à exposição dos índices a potenciais reservas que as empresas estão a procurar desenvolver. Os novos membros das dez principais são a Austrália, África do Sul e Jacarta. Tal mostra que as empresas australianas e indonésias estão a procurar expandir as suas reservas, o que contraria a direção necessária para alcançar os orçamentos de carbono. Índices Índice da intensidade de carbono das reservas potenciais (GtCO2 / capt. merc biliões de dólares americanos) Índice MICEX (Moscovo) 213,39 Índice MICEX (Moscovo) 395,61 Índice Athens Stock Exchange General (Atenas) 101,44 Índice Athens Stock Exchange General (Atenas) 101,44 FTSE MIB INDEX (Itália) 40,89 FTSE 100 (Londres) 90,65 FTSE 100 (Londres) 35,86 FTSE MIB INDEX (Itália) 74,42 Índice Budapest Stock Exchange (Budapeste) 29,95 S&P/ASX 200 (Austrália) 67,14 Índice Bovespa São Paulo Stock Exchange (São Paulo) 24,55 Índice FTSE/JSE Africa All Share (África) 49,73 Índice Hong Kong Hang Seng (Hong Kong) 24,16 Índice Bovespa São Paulo Stock Exchange (São Paulo) 47,89 Índice Vienna Stock Exchange Traded (Viena) 23,38 Índice Jakarta Stock Exchange Composite (Jacarta) 47,78 Índice BSE Sensex 30 (Índia) 21,21 Índice Budapest Stock Exchange (Budapeste) 47,32 Índice S&P/TSX Composite (Canadá) 19,59 Índice BSE Sensex 30 (Índia) 43,09 O quadro sintetiza as dez principais bolsas de valores em termos de reservas existentes no tocante à capitalização do mercado das empresas que integram esse índice. Atenas, Itália, Viena e Budapeste são bolsas de valores europeias pequenas com reservas relativamente grandes no seu índice. A presença do Brasil, Hong Kong e Índia nas dez principais mostra que os mercados emergentes estão também a ganhar terreno. A Carbon Tracker tem estado a analisar alguns dos mercados com reservas consideráveis e crescentes. Em novembro de 2012 realizámos uma análise das reservas de carvão sul-africanas cotadas. Essa análise permitiu obter uma visão da concentração doméstica no atinente à questão do carbono incombustível. As reservas atuais são abundantes para o "orçamento exigido pela ciência" indicado na investigação sobre o orçamento de carbono do governo sul-africano. Comparámos a carteira do Fundo de Pensões dos Funcionários Públicos (FPFP) com a ponderação do índice de Joanesburgo. A concentração doméstica necessária do FPFP enquanto o maior investidor na África do Sul deixa-os expostos a isto como um risco sistémico que estão a começar a abordar. 22 | Conclusões • A quantidade de reservas de combustível fóssil detidas por empresas cotadas continuou a aumentar para o equivalente de 762 GtCO2. •O nível de reservas cotadas poderá duplicar para 1541 GtCO2 se todas as prospetivas reservas forem desenvolvidas. •S e às empresas cotadas lhes for atribuída a sua percentagem do orçamento de carbono relativa às reservas totais (um quarto) já dispõem de cerca de três vezes mais da sua quota do orçamento para permitir uma hipótese razoável de alcançar o C2G. •A s empresas cotadas têm mais oportunidades de desenvolver carvão do que petróleo ou gás; tendo em conta a exposição dos mercados ao combustíveis fósseis mais intensivos em carbono. •A s empresas de petróleo, gás e extração de carvão gastaram no último ano 674 mil milhões de dólares em despesas de capital a procurar desenvolver mais reservas. •A o analisar os níveis absolutos de exposição, Londres surge como a capital do carvão, sendo Nova Iorque o centro financeiro do petróleo, sobretudo em termos de potenciais ativos futuros. Os reguladores destes mercados têm de assumir a liderança. •A o analisar a intensidade de carbono, algumas das bolsas mais pequenas apresentam níveis elevados de combustíveis fósseis para a sua dimensão: Brasil, Hong Kong, Joanesburgo, Índia, Grécia, Itália, Viena e Budapeste. Pressupostos: • Reservas atuais: probabilidade superior a 90% de extração económica e certeza geológica. As reservas de carvão e reservas de petróleo e gás P1 com base nos melhores dados disponíveis da RMG Intierra and Evaluate Energy. •Reservas potenciais: probabilidade superior a 50% de extração económica e certeza geológica. Os recursos de carvão e as reservas de petróleo e gás P2 com base nos melhores dados disponíveis da RMG Intierra and Evaluate Energy. •Seis fatores diferentes de CO2 utilizados para refletir as categorias de hidrocarbonetos: gás natural, petróleo convencional; areias petrolíferas, lenhite; carvão betuminoso e sub-betuminoso. •Outras fontes de energia não convencionais, tais como gás de xisto, não são referidas isoladamente. O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas das Nações Unidas (IPCC) não indicou fatores de CO2 específicos para estes tipos de hidrocarbonetos. Por conseguinte, esta é considerada uma estimativa conservadora. •Propriedade: o potencial de CO2 das empresas é reduzido proporcionalmente nos casos em que um governo mantém um interesse significativo (>10%). •As subsidiárias/empresas-mãe cotadas: nos casos em que uma empresa cotada detenha uma percentagem de outra empresa cotada com reservas, o potencial de CO2 é dividido em conformidade para evitar a contabilização dupla. •Bolsa primária: o CO2 é atribuído à bolsa primária da ação cotada. •Cotação dupla: o potencial de CO2 das empresas com uma dupla cotação é dividido proporcionalmente à capitalização de mercado em cada bolsa. •Os dados relativos ao CAPEX e dividendos sintetizam os números mais recentes comunicados relativos a um período de 12 meses. • Moeda: todos os dados foram convertidos em dólares americanos. • Empresas de extração diversificadas: nos casos em que os dados estavam disponíveis, os números foram reduzidos proporcionalmente à percentagem de rendimentos provenientes do carvão. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 23 3. Fazer evoluir a regulamentação dos mercados quanto ao risco climático As rápidas desorganizações dos sistemas bancários e os efeitos colaterais subsequentes nas valorizações do mercado de ações em 2008-2012 ocorreram devido à ausência de um entendimento geral dos riscos crescentes nos mercados financeiros. Alguns setores (sobretudo o mercado imobiliário, tanto o desenvolvimento especulativo das propriedades de investimento quanto a agregação dos créditos hipotecários de alto risco [sub-prime] para revenda) mostraram uma incapacidade dos bancos de investimento e das agências de notação de avaliarem satisfatoriamente os riscos. De igual modo, o sistema bancário e os reguladores ainda não estão a ver os sinais de alerta que identificámos neste relatório, deixando um sistema financeiro que continua a não ser adequado para a finalidade. As regras que orientam e regem o funcionamento dos mercados financeiros têm de evoluir para dar resposta a este risco sistémico. Londres e Nova Iorque são o ponto de partida óbvio, atendendo à sua exposição ao problema. A União Europeia (UE) também proporciona regulamentação abrangente que poderá ter impacto na bolsa de Londres. Esta secção identifica algumas oportunidades para abordar o risco climático através dos processos existentes. A regulamentação pode evoluir através da liderança de mercados individuais, ou através da adoção por parte do organismo global - a Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários (OICV/IOSCO, International Organisation of Securities Commissions). Os reguladores financeiros mostraram que estão dispostos a aumentar a transparência dos riscos para setores específicos, à luz dos novos desenvolvimentos ou questões levantadas pelos investidores. Os riscos climáticos devem ser os próximos na sua lista. 3.1 Requisitos do setor extrativo A incidência desta análise sobre as reservas torna-a mais pertinente para o setor extrativo. As medidas foram especificamente desenvolvidas para este setor, o que demonstra que os reguladores estão dispostos a agir para proteger os interesses dos acionistas e da sociedade em resposta aos problemas emergentes. Os dados específicos deste setor sobre as reservas poderão ajudar os reguladores e investidores a compreender o nível de riscos climáticos sistémicos relacionados com os orçamentos de carbono. Alguns aspetos das suas atividades (reservas e rendimentos) já se encontram sujeitos a um maior escrutínio (o potencial de emissões é uma extensão natural). Os dois indicadores mais simples de "risco" para os reguladores abordados neste relatório estão interligados, nomeadamente: 1. Recolha dos dados sobre CO2 incorporado detido nas reservas de sociedades cujos valores são negociados junto do público. 2. O nível de despesas de capital por parte destas empresas no desenvolvimento de novos recursos enquanto mantêm os seus rácios de substituição de reservas. O primeiro indica que níveis de reservas poderão ficar abandonadas e estar sujeitas a imparidade; o segundo indica que recursos de tesouraria valiosos de detentores de ativos como fundos de pensões poderão ser "perdidos" devido ao investimento de capital inútil. Em conjunto, são ambos indicadores para os reguladores no que se refere ao risco sistémico que se está a criar nos mercados de capitais decorrente do desafio de um mundo condicionado pelo carbono. UNIÃO EUROPEIA A UE propôs a transparência dos pagamentos das indústrias extrativas aos governos anfitriões mediante uma alteração da Diretiva relativa à transparência. LONDRES Enquanto centro mundial para as empresas extrativas mobilizarem capital, a Bolsa de Valores de Londres tem a necessidade de manter a sua reputação de elevados padrões de governação corporativa. A fim de proporcionar segurança extra aos investidores, foi introduzida uma nova orientação para as empresas cotadas, em 2009, que obriga à "análise feita por pessoas competentes" das reservas minerais indicadas pela empresa. Tal assegura que as empresas cotadas na bolsa não podem sobrestimar as suas reservas, o que implicaria maiores rendimentos no futuro. ESTADO UNIDOS Nos EUA, Dodd-Frank foi além das diferentes partes do sistema financeiro para melhorar a transparência dos pagamentos aos governos por parte do setor extrativo. Isto mostra de que modo os reguladores financeiros podem atuar para melhorar a divulgação. É necessário aplicar a mesma abordagem para que as empresas extrativas sejam transparentes sobre o potencial de emissões de CO2 das reservas de combustível fóssil nas quais detêm um interesse. PROPOSTA •E xigir a todas as empresas extrativas que forneçam aos reguladores financeiros o potencial de CO2 relativo às suas reservas de carvão, petróleo e gás constituiria um primeiro passo no sentido de aumentar a transparência e facilitar a monitorização dos riscos. 24 | 3.2 Regulamentos relativos à estabilidade financeira Tem havido medidas de requisitos de capital introduzidas em todo o mundo que exigem que as instituições financeiras disponham de um rácio mínimo de ativos para empréstimos. A capacidade de os riscos climáticos afetarem todos os setores e o elevado valor atribuído às reservas de combustível fóssil torna imperativo que este problema seja gerido ativamente para prevenir que a bolha de carbono rebente. UNIÃO EUROPEIA ESTADO UNIDOS O Basileia III é uma norma regulamentar global sobre a adequação dos fundos próprios detidos pelos bancos, os testes de esforço e o risco de liquidez do mercado. A Comissão Europeia introduziu o Acordo Basileia III ao abrigo da Diretiva de Requisitos de Capital. A Lei Dodd-Frank tratou-se de um mecanismo diferente para resolver vários problemas na estabilidade financeira e transparência do mercado. Criou o Conselho de Estabilidade e Supervisão Financeira (CESF) que tem as seguintes competências: LONDRES "Conforme estabelecido ao abrigo da Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act, o Conselho fornece, pela primeira vez, uma monitorização abrangente da estabilidade do sistema financeiro do nosso país. O Conselho está encarregado de identificar riscos para a estabilidade financeira dos Estados Unidos; promover a disciplina do mercado; e responder aos riscos emergentes para a estabilidade do sistema financeiro dos Estados Unidos". No Reino Unido, a Lei relativa aos serviços financeiros, de 2012, criada pelo Comité de Política Financeira (CPF) do Banco de Inglaterra. O CPF monitoriza os níveis de cobertura de capital e comunica sobre a sua avaliação do risco nas suas análises semestrais. Na sequência do compromisso da Carbon Tracker e de várias partes interessadas financeiras e ambientais, o Banco de Inglaterra reconheceu as alterações climáticas como um potencial risco sistémico. Até agora não foi feita nesses relatórios qualquer menção ao risco relacionado com as alterações climáticas. A fim de que o mercado possa ter a tranquilidade de que este risco está a ser monitorizado, consideramos que devem ser desenvolvidos indicadores similares para a exposição aos riscos climáticos, indicando a evolução do equilíbrio entre ativos com elevado e baixo teor de carbono. Atualmente, a análise mostra que tal está a ir no sentido contrário, mas o regulador não está a gerir ativamente a situação. São tempos de mudança no Banco de Inglaterra com um novo Governador e uma nova estrutura a serem introduzidos durante o terceiro trimestre de 2013. Trata-se igualmente de uma oportunidade para novas funções responsáveis por resolver a estabilidade financeira, para garantir que abordaram todos os potenciais riscos. Os EUA têm igualmente a Análise e Revisão Exaustivas do Capital executada pela Reserva Federal, para rever e fazer testes de esforço aos processos de planeamento de capital nas instituições financeiras. PROPOSTA •O s reguladores responsáveis pela estabilidade financeira devem efetuar testes de esforço aos níveis das reservas e planos de produção relativamente a um cenário de emissões para 2 °C e comunicar informações sobre a situação atual do seu mercado. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 25 3.3 Lógica do longo prazo e mercados de ações A crise financeira veio expor a lógica do curto prazo que grassa nos mercados financeiros. Já se encontram a ser envidados alguns esforços para resolver esta questão, os quais incidem sobre partes do sistema financeiro. Os investidores como a Generation Investment Management e as empresas como a Unilever propuseram já o abandono dos relatórios trimestrais, por exemplo. A Share Action (anteriormente designada Fair Pensions) tem estado a procurar ativamente uma interpretação clara da responsabilidade fiduciária para incluir considerações intergeracionais de longo prazo para os administradores fiduciários de fundos de pensões. UNIÃO EUROPEIA A UE lançou uma consulta de três meses em março de 2013 sobre o financiamento a longo prazo da economia sustentável. A mesma foi motivada por uma crença de que a crise financeira afetou a capacidade do setor financeiro na Europa de canalizar poupanças para investimento a longo prazo. A UE define o investimento a longo prazo como despesa que aumenta a capacidade produtiva da economia. Tal pode incluir infraestruturas de energia, transportes e comunicações, instalações industriais e de serviços, tecnologias ligadas às alterações climáticas e à inovação ecológica, bem como a formação e a investigação e desenvolvimento. A Europa enfrenta necessidades de investimento a longo prazo e em grande escala, que são cruciais para apoiar o crescimento sustentável. LONDRES O Departamento para as Empresas, Indústria e Competências (BIS, Business Industry and Skills) do Reino Unido elaborou uma análise feita pelo Professor John Kay sobre o "mercado de ações do Reino Unido e as tomadas de decisões a longo prazo". A mesma reconheceu uma "miopia do mercado", que Andy Haldane, Diretor Executivo da Estabilidade Financeira do Banco de Inglaterra referiu. Esta análise conduziu a escrutínio parlamentar adicional da questão pelo Comité de Inquérito do BIS. Outra consequência é a revisão levada a cabo pelo Comité Jurídico para clarificar a definição de responsabilidade fiduciária. Tal respondeu às preocupações de que alguns fiduciários (por ex. administradores fiduciários de fundos de pensões) entendiam que as suas responsabilidades fiduciárias os obrigava a maximizar os retornos numa escala de curto prazo, excluindo a consideração de fatores de longo prazo que podem ter impacto no desempenho da empresa. ESTADO UNIDOS Não foi identificada nos EUA nenhuma atividade regulamentar explícita neste domínio. O Instituto Aspen tem sido ativo neste domínio, elaborando princípios orientadores para a criação de valor a longo prazo. PROPOSTA •Os reguladores que procuram desenvolver mercados de ações de longo prazo capazes de lidar com riscos sistémicos devem utilizar o risco relacionado com as alterações climáticas como um caso de teste para demonstrar que foram bem-sucedidos. 3.4 Divulgação corporativa O desenvolvimento de uma apresentação de relatórios integrada por parte do Conselho Internacional de Apresentação de Relatórios Integrada (IIRC, International Integrated Reporting Council), bem como iniciativas piloto como o King Code III na África do Sul indicam aquilo que muitos acreditam ser o futuro em matéria de relatórios das empresas. Tal proporciona a oportunidade de juntar a consideração do risco climático aos relatórios sobre reservas e à explicação da estratégia de negócio. Outros mercados não estão tão avançados, mas ainda assim oferecem oportunidades para abordar o risco climático agora que ficou clara a sua relevância para a estratégia e modelos de negócio. UNIÃO EUROPEIA A UE encontra-se a elaborar propostas para uma reforma da divulgação de informação não financeira ao abrigo da Diretiva Contabilística. Tal é suscetível de exigir no relatório anual uma "descrição dos principais riscos e incertezas" com que uma empresa se vê confrontada. Tal deverá ser "uma análise equilibrada e abrangente do desenvolvimento e desempenho da atividade da empresa e da sua posição, coerente com a dimensão e a complexidade da atividade". Mesmo neste formato genérico, a Carbon Tracker argumentaria que o risco relacionado com as alterações climáticas deveria ser abordado pelas empresas cujo modelo de negócio esteja dependente dos combustíveis fósseis. Poderão ser desenvolvidas orientação adicionais e referências específicas aos problemas ambientais, a fim de instar a melhorias na divulgação. 26 | LONDRES O governo do Reino Unido introduzirá, em outubro de 2013, requisitos de comunicação de informações revistos aplicáveis às empresas cotadas, abrangendo as emissões de gases com efeito de estufa; indicadores-chave de desempenho; e relatórios narrativos. Os requisitos propostos em matéria de gases com efeito de estufa constituem uma abordagem única. A mesma não incorporou a proposta da Carbon Tracker de que as empresas extrativas deveriam comunicar informações sobre o potencial de emissões das reservas nas quais detêm um interesse. Consequentemente, as emissões mais significativas de muitas empresas que estão relacionadas com as suas cadeias de abastecimento ou o mercado para os seus produtos não estarão sujeitas aos requisitos de comunicação de informações relativas a GEE. A orientação relativa à comunicação informações sobre os gases com efeito de estufa referencia abordagens como o Quadro dos Riscos das Alterações Climáticas (QRAC) desenvolvido pelo Conselho de Normas de Divulgação em matéria de Carbono (CDSB, Carbon Disclosure Standards Board). A aplicação do QRAC ajudaria as empresas a fornecer uma visão mais completa da sua exposição ao, e gestão do risco. Contudo, os requisitos da Lei relativa às sociedades deveriam, teoricamente, fazer com que as empresas comunicassem informações sobre de que modo as alterações climáticas afetam a sua estratégia e modelo de negócio. Projeto de Regulamentos, de 2013, sobre a Lei relativa às sociedades, de 2006 (Relatório Estratégico e Relatório dos Administradores) No caso de uma empresa cotada, o relatório estratégico deve, na medida em que seja necessário para compreender o desenvolvimento, desempenho ou posição da atividade da empresa, incluir: a) uma descrição da estratégia da empresa; b) uma descrição do modelo de negócio da empresa; c) as principais tendências e fatores suscetíveis de afetar o desenvolvimento, desempenho e posição da atividade da empresa, e; d) informações sobre: i) matérias ambientais (incluindo o impacto da atividade da empresa no ambiente); ii) os funcionários da empresa, e; iii) questões sociais, comunitárias e relacionadas com direitos humanos, incluindo informações sobre quaisquer políticas da empresa no tocante a estas matérias e a eficácia de tais políticas. ESTADO UNIDOS A Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (SEC, Securities and Exchange Commission) dos EUA emitiu orientação sobre a importância do risco relacionado com as alterações climáticas para as empresas. Tal proporcionou um ponto de referência para os investidores que apresentaram deliberações dos acionistas relacionadas com as alterações climáticas em empresas de carvão, petróleo e gás, utilitários e financeiras. A SEC exige também que as empresas indiquem o valor líquido atual (VLA 10) das suas reservas comprovadas nos registos anuais fornecidos aos acionistas. Tal exige que os administradores tomem uma posição sobre os pressupostos relacionados com os preços das mercadorias, taxas de desconto e a viabilidade das reservas. O fato de alguns investidores sentirem a necessidade de apresentar deliberações para extrair informações sobre os riscos climáticos demonstra que as empresas não estão a fornecer voluntariamente informações suficientes ao abrigo dos regimes atuais. Isto foi confirmado pelos inquéritos do CERES sobre divulgação das empresas neste domínio. PROPOSTA •O s reguladores devem exigir que as empresas expliquem de que modo o seu modelo de negócio é compatível com a consecução das metas de redução das emissões. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 27 4. Implicações para a valorização de ações e notações de crédito HSBC: O Petróleo e o Carvão Revisitados (janeiro de 2013) Resumo Numa economia com baixas emissões de carbono, a procura de petróleo poderá ser reduzida de forma relativamente rápida tendo em conta a disponibilidade de tecnologias eficazes em termos de custos para melhorar a eficiência do transporte; a procura de gás continuará a aumentar, embora a um ritmo mais lento. A procura inferior ao esperado resultaria numa queda do preço do petróleo e o valor de 50 dólares/barril é modelado como um teste de limite máximo. O impacto mais importante nos valores do mercado decorreria do corte no preço do petróleo, para que o valor combinado em risco variasse entre 40 e 60% da capitalização do mercado. Em relação aos investidores, a concentração deveria ser nos produtos de baixo custo que possam prosperar num contexto de preços baixos e naqueles com uma tendência para o gás em vez das areias petrolíferas. A escala destes riscos iminentes relacionados com o carbono deve ser incorporada na fixação dos preços das ações e na notação das obrigações, a fim de permitir aos investidores alinhar os seus ativos com uma economia com baixas emissões de carbono. 4.1 Ações Capitalização do mercado O valor de mercado das 200 empresas cotadas analisadas com as maiores reservas de combustível fóssil perfazia cerca de 4 mil milhões de dólares americanos no fim de 2012. Esse valor dividia-se em 16% para as atividades relacionadas com o carvão e 84% para o petróleo e gás. A secção a seguir analisa, por sua vez, os setores do petróleo e do gás, da extração e dos utilitários para compreender o que aderir aos orçamentos de carbono significa para o modo como as ações são valorizadas. Curva de custo para os próximos 300 projetos de «novo investimento» em gás e petróleo propostos Valorização do petróleo e gás Queda do fim da curva do custo A procura e preços mais baixos conduziria, logicamente, os projetos situados no limite mais elevado da curva do custo a não receberem um decisão de investimento final, prejudicando aqueles com elevada exposição. Contudo, esta lógica nem sempre é aplicada de forma consistente e os investidores têm de desafiar a prossecução constante de projetos potencialmente não lucrativos antes de os custos deixarem de ser recuperáveis. 90 Preço de equilíbrio, S/bbl • As valorizações atuais baseiam-se na exploração completa das reservas comprovadas a uma taxa de produção e preço consistentes. •A procura após o pico, os fundamentos do preço e da procura são mais significativos do que a redução no consumo, com impacto considerável no valor de mercado. Os ativos de baixo custo e que impliquem baixos teores de carbono tornam-se preferidos. •A s valorizações baseadas no rendimento histórico sobre o desempenho do capital assumem que as margens podem ser mantidas, o que é cada vez mais difícil dado que os preços diminuem com a procura. GNL convencional e gás não convencional 100 Bolsas convencionais de baixo custo: Brasil, Noruega, Iraque 80 70 60 50 GNL não convencional óleo pesado 40 30 Águas profundas GoM, África Ocidental e óleo de xisto dos EUA 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Produção líquida de 2020e, Mboe/d 18 20 22 Fonte: Citi Research 28 | Valorização da extração •F oi sempre um caso de "quando" e não de "se", o crescimento repentino das mercadorias chegaria ao fim, mas ainda assim muitas empresas ainda não estão numa boa posição para a retração. Abordar o desafio relacionado com o clima é muito similar (um caso de "quando" e não de "se"); todavia, muitas empresas estão a adiar a transição. •O s fluxos de caixa descontados de mais longo prazo podem acompanhar o impacto nos rendimentos da procura reduzida de carvão, mas os modelos de mais curto prazo não. •O s compromissos em termos de CAPEX feitos hoje em dia não estão previstos fornecer rendimentos durante vários anos, altura na qual o contexto político poderá ser muito diferente. •A s empresas de extração diversificadas dispõem de fluxos e oportunidades de receitas; as empresas puramente ligadas ao carvão estão muito expostas. HSBC: Carvão e Carbono (junho de 2012) A procura global de carvão terá de cair a partir de 2020 num mundo com baixas emissões de carbono. Este relatório examina os riscos para as quatro principais empresas de carvão cotadas do Reino Unido. Num cenário em que a procura de carvão deixou de aumentar ou entrou em declínio, os preços das mercadorias sofreriam uma queda, com impacto negativo nos produtores com elevados custos de produção. Em termos gerais, um cenário sem crescimento a partir de 2020 iria reduzir a valorização do fluxo de caixa descontado (FCD) dos ativos relacionados com o carvão detidos por estas empresas em 44% nos dias de hoje. O impacto no preço das ações iria, contudo, ser reduzido dado que se trata de empresas diversificadas, implicando reduções de 4-15%. O longo período de tempo dos projetos de extração torna os potenciais impactos das futuras restrições em matéria de emissões de carbono relevantes para os investidores atuais; as avaliações de projeto para as despesas de capital em carvão têm de ser objeto de testes de esforço relativamente ao carbono. A volatilidade do setor e a concentração dos analistas nos meios imediatos significa que qualquer forma de mudança estrutural em torno do carbono é suscetível de surgir como uma verdadeira surpresa para o mercado. Cadeia de valor da energia • Desafiar o pressuposto de que o consumo de carvão da China continuará a aumentar indefinidamente tem grandes implicações para o setor a nível global, com os exportadores de carvão a lutar por um mercado saturado em retração. • As empresas que servem a indústria dos combustíveis fósseis vão perder clientela e os requisitos de infraestruturas serão diferentes. • Os agentes das energias renováveis, os utilitários de gás, as empresas de tecnologias limpas e os prestadores de transportes públicos serão vencedores. • A análise macroeconómica que abrange os setores e geografias interligados tem de perceber todas as implicações dos orçamentos de carbono para os investidores. Deutsche Bank (março de 2013) Estratégia da China: Medidas "big bang" para combater a poluição atmosférica Esta análise demonstra os efeitos de retorno decorrentes da abordagem da qualidade do ar na procura de carvão. A qualidade do ar urbano tornou-se num problema político na China e estão a ser introduzidas novas medidas para melhorar a situação. Tal é confirmado pelas observações da administração chinesa de que a utilização de carvão atingirá o auge durante o plano quinquenal atual (que decorre até 2017). Os efeitos colaterais no preço devido ao fato de a China se tornar novamente num exportador líquido de carvão significa que os exportadores de petróleo da região do Pacífico vão sofrer. Os setores intensivos em termos de energia vão também assistir a subidas dos preços. Numa nota positiva, os utilitários de gás, a tecnologia de eficiência energética, os transportes públicos e as energias renováveis beneficiarão deste desenvolvimento. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 29 Onde poderá haver ativos improdutivos e de que forma os investidores os podem encontrar antecipadamente? As empresas irão provavelmente responder à redução dos preços das mercadorias adiando o CAPEX e através da redução da utilização de ativos (minas, poços de extração e centrais elétricas) na expetativa de que o preço subirá no futuro e possam voltar a ser utilizados. Contudo, um cenário com baixas emissões de carbono a longo prazo irá, em última análise, conduzir ao encerramentos dos ativos, desmantelamento e, se possível, venda de locais para uso alternativo dos solos. Uma hierarquia de fatores utilizados na identificação dos candidatos ao encerramento incluiria: •C omprados/explorados, mas ainda não desenvolvidos; •M argem: unidades ineficientes/produtos com custos mais elevados, os primeiros a deixarem de ser utilizados ou adiados; • L ocais com elevado risco político (Norte de África) ou técnico (Ártico); •F acilidade de acesso ao mercado: as fontes locais de combustível poderão ser preferíveis à exposição a instabilidade geopolítica; •B aixos custos de reparação e/ou potencial de uso dos solos para outras finalidades maximizaria o valor de revenda do local desmantelado. Os novos desenvolvimentos seriam protelados - as reservas permaneceriam "nos registos", mas não seria despendido mais dinheiro nas mesmas. Os ativos poderiam ser eliminados, mas tal assume que ainda existe procura para os mesmos, o que é pouco provável num setor em contração. Nova métrica de desempenho Alguns dos principais indicadores utilizados para estes setores necessitam de uma atualização, caso se pretenda obter uma melhor visão sobre a posição de uma empresa num mundo condicionado pelo carbono. Sobretudo dado que muitos indicadores têm de inverter a sua abordagem atual. Rácio de substituição de reservas (RSR): atualmente, espera-se que as empresas substituam, pelo menos, as reservas despendidas através da produção mediante exploração ou aquisição. Manter um RSR acima dos 100% é recompensado como um indicador de receitas futuras. Aplicar orçamentos de carbono a reservas inverte a dinâmica do RSR e poderá ser convertido num rácio de redundância das reservas. Rendibilidade do capital investido (ROIC): cada empresa petrolífera dispõe de um histórico relativo ao alcance de uma taxa ou à rendibilidade do capital utilizado. Durante vários anos, as principais empresas petrolíferas assistiram a um aumento dos custos que foram ocultados pelo aumento dos preços do petróleo. Isto preservou as margens, mas deixa as empresas petrolíferas vulneráveis a preços mais baixos. O cenário de pico da procura de petróleo iria exercer pressão no ROIC, expondo as fragilidades em assumir que o desempenho futuro repetirá o passado. Conclusões •O pico da procura conduzirá a uma queda dos preços, exercendo pressão nas margens e projetos com os custos de nivelamento mais elevados. Manter os níveis de rendibilidade do capital será cada vez mais difícil. •A métrica tradicional, como o rácio de reservas de substituição, recompensaram tradicionalmente o investimento no reabastecimento das existências de combustíveis fósseis. Se o mercado mudar, tal irá inverter o indicador de tal forma que a substituição deixa de ser desejável. •U m conjunto de fatores, desde a regulamentação da qualidade do ar e custos mais baixos das energias renováveis, até à disponibilidade dos recursos hídricos está a mudar os mercados da energia, sem existir ainda regulamentação global. •O s serviços enfrentam incerteza sobre a vida útil das centrais de produção com os mecanismos do mercado, como os preços do carbono a contribuírem para este fato. Por conseguinte, são vulneráveis aos ativos depreciados. Recomendações •O s analistas devem utilizar um conjunto de pressupostos para fazerem um teste de esforço aos seus resultados de valorização. •A métrica tradicional, como o rácio de substituição de reservas, deve ser substituído ou invertido para refletir um mundo condicionado pelo carbono. 30 | 4.2 Dívida As 200 empresas analisadas têm um total de dívida de empresa pendente (obrigações e empréstimos) de 1,27 mil milhões de dólares. Esse valor divide-se em 74% para as empresas de petróleo e gás e 26% para a dívida de empresas extrativas de carvão (com base nas receitas provenientes do carvão). A secção a seguir analisa, por sua vez, os setores do petróleo e do gás, da extração e dos utilitários para compreender o que aderir aos orçamentos de carbono significa para o modo como as obrigações são classificadas. Carvão •As empresas puramente de extração de carvão estão mais vulneráveis à mudança das condições de operação, sobretudo as que dependem principalmente dos mercados domésticos, por exemplo, EUA e África do Sul. •Um acordo global sobre as alterações climáticas ou um preço do carbono não se afigura essencial para criar um risco regulamentar. As medidas aplicáveis à qualidade do ar estão a demonstrar ser igualmente eficazes, por exemplo, China, EUA. •A concorrência dos custos das diferentes tecnologias está a mudar continuamente. A dinâmica gás-carvão tem sido crucial nos EUA. As energias renováveis fazem com que seja uma luta tripartida num número crescente de países, por exemplo, Alemanha, Áustria. •A velocidade à qual o modelo de negócios se desenreda mostra a vulnerabilidade do carvão num mercado em contração. •A capacidade de algumas empresas refinanciarem a sua dívida quando vence poderá ser perturbada nos próximos anos. Carbon Tracker (abril de 2013) Vulnerabilidade do carvão dos EUA Na primeira metade de 2012, a procura de carvão atingiu o seu valor mais baixo nos últimos 25 anos. Os baixos preços do gás agravaram-se com a introdução por parte da Agência de Proteção do Ambiente dos EUA (EPA) do regulamento relativo às emissões de mercúrio, que o mercado acreditava claramente que não aconteceria. Como resultado, as empresas de extração de carvão dos EUA registaram reduções: Empresa Notação de crédito familiar corporativa (Moody’s) Alpha Natural Resources Dez 11: Ba2 (estável) Junho 12: B1 (estável) Arch Coal Dez 11: Ba3 (estável) Maio 12: B1 (negativo) Patriot Coal Dez 11: B2 (estável) Maio 12: Caa1 (estável) Petróleo •As empresas mais pequenas com elevada exposição às areias petrolíferas não são resilientes à pressão dos preços num cenário de pico da procura. •A pressão sobre o fluxo de caixa poderia afetar os dividendos e resultar no cancelamento de projetos, criando ativos improdutivos. •A política em matéria de clima a longo prazo, a tecnologia e riscos de impacto não se encontram incluídos no horizonte de notação típico de três anos. •Os modelos financeiros que apenas têm por base os resultados anteriores e solvabilidade são um guia insuficiente para os investidores. Standard & Poor’s (fevereiro de 2013) O que poderá significar um futuro condicionado pelo carbono para a solvabilidade das empresas A S&P reviu a solvabilidade das empresas com exposição às areias petrolíferas canadianas numa situação de baixo preço do petróleo. O preço do petróleo em queda foi utilizado para refletir a redução da procura que resultaria das medidas para reduzir a procura de petróleo, tais como as que estão a ser introduzidas na eficiência dos veículos na América do Norte. Este cenário de esforço mostrou que as empresas mais pequenas com elevada exposição às areias petrolíferas vêem a sua solvabilidade afetada, mesmo dentro do horizonte de notação típico de três anos. Este cenário exerce pressão nos fluxos de caixa que poderá resultar em cortes nos dividendos ou no cancelamento de projetos. Os resultados mostram que em relação às empresas mais pequenas, regista-se uma deterioração nos perfis de risco financeiro das mesmas a um nível que poderia potencialmente conduzir a revisões negativas das perspetivas e, posteriormente, reduções durante 2014-2017. Além disto, os modelos de negócio destas empresas cedem ainda mais dado que não faz sentido continuar a investir capital em reservas inviáveis em desenvolvimento. Utilitários •A incerteza em torno dos combustíveis fósseis futuros é maior em alguns mercados do que em relação às energias renováveis. •A descentralização da produção de energia pode reduzir o mercado disponível para os utilitários tradicionais. •Os modelos de negócio tradicionais já não são viáveis nos mercados de energia que incentivam a descarbonização - as empresas têm de se adaptar para sobreviverem. •Os fatores não relacionados com o carbono, tais como a disponibilidade de recursos hídricos, somam-se à complexidade de compreender a viabilidade da produção futura a grande escala, por exemplo, China, Índia. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 31 Moody’s (novembro de 2012) Serviços europeus: A energia eólica e solar vão continuar a destruir a qualidade de crédito dos geradores térmicos A Alemanha já está a sofrer a pressão que a concorrência da energia solar distribuída e da energia eólica subsidiada está a exercer nas centrais de energia de combustíveis fósseis centralizadas. Com as energias renováveis a satisfazer 26% da procura em 2012 e metas de 35% até 2020 a caminho de serem superadas, as estações de energia de carvão e gás estão a ter dificuldades em manter os coeficientes de carga da central de base (~75%) e são por vezes obrigadas a atuar como reserva de capacidade para geradores de energias renováveis. O forte aumento das energias renováveis teve um impacto negativo profundo nos preços da energia e na competitividade da produção em centrais térmicas na Europa. O que antigamente eram consideradas empresas estáveis viram os seus modelos de negócio seriamente perturbados. Tendo em conta que se prevêem mais aumentos nas energias renováveis, estas pressões negativas vão continuar a destruir a qualidade de crédito dos serviços térmicos a curto e médio prazo. Metodologias atualizadas As agências de notação necessitam de rever e fazer evoluir as suas metodologias, a fim de refletir os problemas emergentes. Consideramos que as alterações climáticas são o equivalente aos passivos dos fundos de pensões das empresas. Anteriormente, assumia-se apenas que os fundos tinham ativos suficientes para cobrir os passivos de benefícios definidos. Depois ficou patente que havia algumas deficiências e, portanto, os analistas começaram a acrescentar este aspeto. Agora, estes números são incluídos no balanço para que esteja disponível o quadro completo. O trabalho recente com as agências de notação mostrou que os fundamentos das suas metodologias relacionados com a capacidade financeira das empresas e a solidez dos seus modelos de negócio podem ser afetados pelo risco climático. Tal justifica testes de esforço mais sistemáticos por parte das agências de notação e um ajustamento da abordagem para ter em consideração a probabilidade de resultados alternativos. Ao longo do tempo tal deverá resultar numa cobertura sistemática do problema. Olhar para o futuro Está também claro que, a fim de evitar riscos sistémicos no futuro, os investidores vão necessitar de informações prospetivas. A natureza das alterações climáticas significa que é muito pouco provável que o futuro repita o passado, qualquer que seja o caminho que o mundo siga. As agências de notação estão a perceber que utilizar os resultados históricos para prever a solvabilidade futura está a tornar-se cada vez mais desadequado. Chegou o momento de os investidores apelarem a análises melhoradas e as agências de notação responderem ao desafio. Supervisão melhorada A influência que as agências de crédito têm na disponibilidade de capital é inequívoca. O poder acarreta responsabilidade. Na sequência da crise financeira, estão a ser introduzidos novos regulamentos para melhorar a qualidade das notações de crédito. Nos EUA, a Lei Dodd-Frank estabeleceu um gabinete na Securities and Exchange Commission, o qual foi criado para monitorizar as agências de notação de crédito. Na Europa, a Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA, European Securities and Markets Association) é responsável pela supervisão. Mas, até à data, estas novas regras não incluíram o risco imperativo das alterações climáticas e da sustentabilidade no sentido amplo. Conclusões • Os modelos de negócio tradicionais já não são viáveis nos mercados de energia que incentivam a descarbonização - as empresas têm de se adaptar para sobreviverem. •A capacidade de algumas empresas refinanciarem a sua dívida quando vence poderá ser perturbada nos próximos anos. •A velocidade à qual o modelo de negócios se desenreda mostra a vulnerabilidade do carvão num mercado em contração. •A pressão sobre o fluxo de caixa poderia afetar os dividendos e resultar no cancelamento de projetos, criando ativos improdutivos. •Os modelos financeiros que apenas têm por base os resultados anteriores e solvabilidade são um guia insuficiente para os investidores. Recomendações • Os investidores enquanto utilizadores de notações têm de exercer influência para assegurar a integração consuetudinária dos fatores relacionados com o clima na avaliação dos modelos de negócio e da solvabilidade. •Os reguladores devem assegurar que as agências de notação de crédito estão a abordar as alterações climáticas enquanto parte dos seus esforços para resolver o risco sistémico. 32 | 5. Implicações para os investidores 5.1 Redefinir o risco Cenários divergentes Existe uma grande divergência entre limitar o aquecimento global para 2 °C e o aumento das emissões que resultam num aquecimento de 3, 4, 5 e até mesmo 6 °C. Os setores de combustíveis fósseis vão obviamente prosperar se as emissões não forem restringidas, mas correrão o risco de ativos improdutivos num mundo condicionado pelo carbono. Em contrapartida, os setores sensíveis ao clima, como a agricultura, imobiliário, infraestruturas, silvicultura, água e os que têm por base estes setores através de cadeias de abastecimento vão conhecer os benefícios opostos às atividades com utilização intensiva de carbono. Cenários da AIE para procura de carvão como energia primária Mtep 450ppm Política atual Novas políticas 6000 5000 Talvez a observação mais significativa é a de que ambos os impactos já se estão a verificar nas margens, dado que o caminho que as empresas estão a seguir não é claro. Os investidores já começaram a questionar a validade de alguns investimentos relacionados com o carvão. De igual modo, as cadeias de abastecimento estão a ser perturbadas pelas cheias (por exemplo, semicondutores na Tailândia). Isto resulta na mensagem de que enfiar a cabeça na areia deve deixar de ser uma opção para os investidores institucionais. Devem ser capazes de articular qual é a sua estratégia para gerir os riscos nesta situação e quais são os seus pressupostos relativamente a que riscos são mais suscetíveis. Valor em risco Os investidores institucionais estão preocupados com razão sobre gerir os riscos para as suas carteiras. Por vezes, a definição estreita do risco pode prevenir os investidores de tomarem ações prospetivas com base nos futuros riscos. Pelo contrário, o risco é normalmente definido como um desvio do indicador de referência em vez da probabilidade de uma perda absoluta do valor. Direta ou indiretamente isto resulta no fato de os fundos refletirem a composição do mercado para reduzir o risco de um desvio significativo da trajetória do mercado. Tal confere aos gestores dos fundos alguma liberdade para sobre-expor ou sub-expor empresas específicas dentro de um setor, mas é suscetível de resultar numa composição setorial que reflete o indicador de referência. Trata-se de uma das razões que torna difícil os investidores responderem a pedidos para alienar a componente grossista de um setor. Os investidores institucionais teriam de emitir um mandato específico que optasse por substituir as normas do mercado por uma decisão política para evitar determinadas atividades. A análise nos capítulos anteriores mostra que ainda existem grandes quantidades de combustíveis fósseis vinculadas aos indicadores de referência. Atendendo à divergência entre os diferentes níveis de emissões no futuro, poderão ser necessárias ferramentas diferentes. É perfeitamente viável produzir valorizações com base em diferentes pressupostos sobre os níveis de emissões futuros, que podem depois criar uma gama de preços de ações potenciais. 4000 As probabilidades podem depois ser atribuídas aos resultados dependentes das crenças dos investidores na trajetória que estamos a seguir. Na caixa da página seguinte encontrase um exemplo simplificado desta abordagem. Dado que a maior parte dos modelos de valorização tem por base uma repetição dos resultados históricos e do "status quo", parece ser seguro assumir que qualquer ajustamento desse tipo teria um efeito descendente para a maioria das empresas baseadas em combustíveis fósseis. 3000 2000 1000 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 Ano Fonte: Perspetivas para a Energia Mundial da AIE Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 33 Lidar com a incerteza Baixar a temperatura Um modelo atual de valorização tem por base os níveis históricos da procura e fornece a valorização da ação de uma empresa em 100 dólares. Consideremos que isto é o equivalente a uma valorização de 6 °C. Em diferentes pressupostos que refletem uma procura e preços mais baixos, tal dá-nos valorizações alternativas de: • 60 dólares por ação numa valorização de 4 °C • 40 dólares por ação numa valorização de 2 °C Diferentes investidores ou atuários podem depois atribuir valor com base nas probabilidades que atribuem a cada resultado potencial: 6 °C 4 °C 2 °C Valor por ação Abordagem histórica 100% 0% 0% 100 dólares Investidor A 60% 20% 20% 80 dólares Investidor B 20% 60% 20% 64 dólares Investidor C 20% 20% 60% 56 dólares Esta simples ilustração mostra que mesmo adicionando resultados alternativos a uma probabilidade baixa pode mudar a valorização. Fornece uma indicação das implicações da potencial capitalização do mercado de 40-60% indicada na análise de risco do petróleo e carbono da HSBC. Tem de haver mais procura através da cadeia de investimento da parte da afetação de ativos estratégia para que a gestão dos fundos perceba a que se assemelha investir para um mundo de 2 °C. É também claro que existe um grande nível de incerteza sobre o futuro. As ferramentas de investimento devem, portanto, encontrar formas de lidar com a incerteza em vez de assumirem que tudo irá estar em conformidade com os modelos baseados no passado. Isto reflete a complexidade dos problemas que vão afetar o futuro da nossa energia, que não se limitam a um mero preço do carbono. 5.2 Continuar a fazer as contas Na análise original Carbono incombustível de 2011, a Carbon Tracker convidou as pessoas a fazerem as contas de comparar os orçamentos de carbono para o carvão, petróleo e reservas de gás. Um conjunto de organizações incluindo a AIE, HSBC, Moody’s e 350.org aceitaram este desafio e começaram a aplicar os números. A investigação levada a cabo pelo Grantham Research Institute, LSE, confirma que os números não se somam, mesmo no cenário mais otimista e assumindo que a CAC dá o contributo máximo. As empresas cotadas têm um défice de orçamento de carbono comparativamente às reservas nas quais os seus modelos de negócio se baseiam. E para os investidores que seguem o mercado, os números mostram que os mercados estão a seguir o caminho errado: • Até 647 mil milhões de dólares em capital desperdiçado todos os anos na procura de mais reservas; •A s potenciais reservas poderão duplicar o nível da exposição das empresas cotadas para 1541 GtCO2; •A s reservas de combustível fóssil de Nova Iorque cresceram 37%; em Londres 7% nos dois últimos anos. 34 | 5.3 Fluxos de capital revisitados Colocando os números financeiros no sistema fica claro que os ciclos múltiplos de capital que facilitam o desenvolvimento de mais carvão, petróleo e gás terão de ser reequilibrados se se pretender cumprir um orçamento de carbono sensato. O retorno inevitável da restrição das emissões significa que são necessários um reequilíbrio e uma redistribuição dos fundos para proteger os interesses dos acionistas, prevenir o capital desperdiçado e evitar ativos improdutivos. A Bloomberg NEF estima que o investimento na energia limpa tem de duplicar mais de 500 mil milhões de dólares por ano. Um maior entendimento da incerteza e dos riscos em torno dos combustíveis fósseis pode ajudar a tornar o investimento em alternativas mais atrativo. 927 mil milhões de dólares LOGÓTIPO 1,27 biliões de dólares E LOGÓTIPO A TD BI DÍVIDA EMISSÕES 27 mil milhões de dólares RO JU CAPEX CAPITAL PRÓPRIO EMPRESAS 674 mil milhões de dólares S 4 biliões de dólares DIVID E N D O 126 mil milhões de dólares DESENVOLVER RESERVAS 762 - 1541 GtCO2 Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 35 5.4 Opções para investidores Regulamentação: Em primeiro lugar, os investidores devem assegurar que os quadros do mercado nos quais operam são propícios à abordagem do problema do risco sistémico relacionado com as alterações climáticas. A contradição atual nos mercados mostra que os reguladores necessitam de aumentar a transparência das emissões futuras nas quais as empresas se estão a apoiar para apresentar os rendimentos que prevêem. Em termos de uma administração ativa das ações, existe um conjunto de abordagens que refletem as diferentes abordagens de investimento e culturas no mundo. Compromisso: O compromisso é uma abordagem popular, contudo a mudança fundamental no modelo de negócio necessária para estas empresas vai exigir uma direção clara por parte dos investidores. Tal exigirá intervenções que desafiem a estratégia de investimento de capital da empresa no futuro. Os investidores devem sentirse suficientemente fortes para exigirem uma mudança de direção à empresa, em vez de pressionarem no sentido de manter um "status quo" ligeiramente mais ecológico. Retorno: Uma abordagem de integração que foi vista recentemente nos setores extrativos destina-se a fazer com que os acionistas pressionem para recompras de ações que aumentem o preço das ações, ou aumento dos dividendos que aumentem o rendimento. Tal mostra que a empresa reconhece que não dispõe de um plano melhor para o capital do que devolvê-lo aos seus acionistas. Alienar: Esta é a sanção extrema para muitos investidores o que implicaria que algumas das opções anteriores se esgotaram e apenas se pode aplicar aos casos mais extremos em que as empresas recusaram adotar medidas. Tal poderá requerer que os investidores considerem que a estratégia da empresa coloca o valor em risco. O que podem fazer os investidores institucionais Risco: Utilizar algumas medidas alternativas do valor em risco irá mudar as regras do jogo para os investidores. Se se quiser evitar os riscos sistémicos como as alterações climáticas, os investidores terão de ir além da definição tradicional de risco que assenta no desempenho inferior ao indicador de referência. Resolução: Nos casos em que o compromisso não seja profícuo, os acionistas dos EUA em particular, devem apresentar deliberações de acionistas para colocar o problema na ordem do dia. Poucas deliberações de acionistas alcançam os níveis necessários de apoio para levar o conselho de administração a adotar medidas. Contudo, o processo, diálogo e publicidade podem contribuir para exercer pressão para uma mudança, o que pode resultar numa resposta da empresa. Redistribuir: Extrair capital do desenvolvimento de mais combustíveis fósseis requer então que os proprietários de ativos o utilizem em investimentos com baixas emissões de carbono ou não energéticos que se encontrem bem posicionados para um futuro com baixas emissões de carbono. Algumas empresas já se encontram a reposicionar as suas atividades para apoiar a mitigação das emissões ou serem resilientes aos impactos das alterações climáticas. O trabalho é contínuo para desenvolver produtos de investimento que satisfaçam as necessidades de investimento dos investidores institucionais (por exemplo, a Iniciativa Obrigação de Responsabilidade Ambiental [Climate Bonds Initiative]). 36 | 6. O caminho a seguir: conclusões e recomendações Reduzir o estímulo dado à economia Nos últimos dois anos, a sensibilização da contradição entre a política em matéria de clima e os mercados de capital aumentou na comunidade de investimento e entre os decisores políticos. Mas esta sensibilização ainda não se traduziu numa reformulação dos preços dos ativos ou numa reorientação do capital. Consequentemente, a exposição das maiores bolsas de valores do mundo ao risco de carbono incombustível aumentou e não o contrário. O primeiro relatório sobre o Carbono incombustível foi elaborado na sequência da crise financeira mundial, que lembrou de forma dolorosa de que modo os mercados podem passar totalmente ao lado dos fundamentos, criando bolhas que resultam, eventualmente, numa implosão das valorizações. Foram aprendidas muitas lições com este choque contínuo da economia mundial, mas três são particularmente relevantes para a forma como os mercados têm de mudar para dar resposta ao desafio das alterações climáticas. • Primeiro, os reguladores estiveram insuficientemente ativos na prevenção da criação de bolhas de ativos insustentáveis ao não reduzirem o estímulo dado à economia à medida que os mercados sobrevalorizavam; •Segundo, os investidores institucionais exerceram uma administração insuficiente dos ativos das suas carteiras, resultando em "empresas sem detentores" concentradas nos rendimentos a curto prazo; •Terceiro, os profissionais na cadeia de investimento, desde atuários, passando por analistas, até aos auditores e mais além, não deram a atenção adequada à integridade geral do mercado, privilegiando os retornos imediatos. Este relatório confirmou que os mercados globais continuam a atribuir escassos recursos financeiros ao desenvolvimento de reservas de combustível fóssil que são incompatíveis com a segurança climática. Aprender as lições da última crise financeira significa assumir antecipadamente uma abordagem estrutural em relação às alterações climáticas nos mercados mundiais. Ultrapassar o impasse sistémico As regras e as normas que regem e orientam os mercados globais foram concebidas numa era antes de as alterações climáticas se terem transformado numa prioridade mundial. As empresas continuam a ser recompensadas por encontrar e desenvolver novas reservas de combustível fóssil; os riscos de mercado continuam a ser avaliados como se as temperaturas médias globais não estivessem a subir a taxas sem precedentes; e os participantes do mercado continuam a concentrar-se nos motores históricos dos valores dos ativos ainda que as alterações climáticas signifiquem que o passado não é um guia útil para o futuro no tocante a setores determinantes como a energia. Uma explicação poderosa deste desfasamento é a de que os mercados não acreditam que os governos estejam a encarar de forma séria a apresentação das políticas necessárias para reduzir as emissões de carbono; até que as mesmas estejam aplicadas o "status quo" manter-se-á, em grande medida, sem controlo. Na última década, os investidores institucionais líderes começaram a integrar os fatores relacionados com o clima nas suas estratégias. Mas olhando para a indústria, até agora raramente fez do seu passado um complemento inconveniente para a média do fundo. Mas o caráter sistémico do problema climático significa que existem poucos incentivos para os investidores avançarem muito em relação ao pacote que resulta no impasse. Manifestamente, os governos têm de implementar políticas climáticas credíveis na preparação da conclusão de um novo acordo global em 2015 que faz com que a atenção do investidor passe a estar voltada para as baixas emissões de carbono. Mas isto deverá ser acompanhado de reformas dos quadros do mercado de capital, a fim de permitir aos investidores ler estes sinais de longo prazo e tomar as medidas necessárias. Para cada uma das principais conclusões do presente relatório identificámos recomendações específicas de ação ao longo dos próximos dois anos para os decisores políticos, os reguladores, os investidores e os intermediários financeiros. Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 37 Conclusão Recomendação Apenas uma fração dos combustíveis fósseis pode ser queimada sem mitigação se quisermos limitar o aquecimento global. Decisores políticos: devem assegurar que os limites de emissões se traduzem em sinais inequívocos para os mercados financeiros. Ministros das Finanças: o G20 deve alargar o seu trabalho para eliminar progressivamente os subsídios aos combustíveis fósseis e desenvolver um plano de ação para reduzir a elevada exposição ao carbono nos mercados financeiros. Os níveis de combustíveis fósseis cotados nas bolsas de valores do mundo estão a aumentar, sobretudo em Londres (carvão) e Nova Iorque (petróleo). Reguladores financeiros: exigir às empresas que divulguem as emissões potenciais de CO2 incorporadas nas reservas de combustível fóssil; integrar o risco relacionado com as alterações climáticas na avaliação e monitorização do risco sistémico nos mercados de capital. Investidores: instar o regulador financeiro a abordar as alterações climáticas como um risco sistémico para os mercados. As empresas estão a gastar capital na procura de mais reservas, ainda que as reservas atuais excedam o orçamento de carbono. Investidores: desafiar as estratégias das empresas que estão a utilizar os fundos dos acionistas para desenvolver projetos de combustíveis fósseis com elevados custos; rever a aplicação do dinheiro por parte das empresas cuja estratégia é a de continuar a investir na exploração e no desenvolvimento de mais combustíveis fósseis e procurar o seu retorno; reduzir as participações em empresas intensivas em carbono e utilizar índices reequilibrados e ajustados ao carbono como indicadores de referência do desempenho; redistribuir fundos a oportunidades alternativas alinhadas com a estabilidade climática. A comunicação de informações das empresas não aborda os riscos para os modelos de negócio das restrições de emissões. Reguladores: obrigar as empresas a explicarem de que modo o seu modelo de negócio é compatível com a consecução das metas de redução das emissões, atendendo às reduções associadas do preço e da procura que poderão resultar. A análise das ações não está a calcular o risco de um limite máximo de emissões e os indicadores tradicionais não são adequadas para um mercado em contração. Investidores: exercer poder enquanto cliente para pedir investigação alternativa que calcule o impacto de diferentes trajetórias de emissões na valorização. Analistas: desenvolver indicadores alternativos que façam um teste de esforço às valorizações relativamente à possibilidade de o desempenho futuro não replicar o passado. As notações de crédito não consideram sistematicamente o risco de um limite máximo de emissões. Investidores: exercer influência enquanto utilizadores de notações para pedir notações alternativas que considerem o impacto de diferentes trajetórias de emissões na solvabilidade e modelos de negócio. Reguladores: assegurar que as agências de notação de crédito estão a abordar as alterações climáticas enquanto parte dos seus esforços para resolver o risco sistémico. Agências de notação: responder ao desafio de integrar a avaliação sistemática do risco relacionado com as alterações climáticas nas metodologias do setor, a fim de fornecer análises prospetivas. Os investidores estão presos a indicadores de referência em vez de compreenderem a sua exposição ao risco. Consultores de investimento: redefinir o risco para refletir o valor em risco com base na probabilidade de cenários futuros, em vez do risco de se desviarem do indicador de referência. Atuários: rever a forma como as pensões são valorizadas para ter em consideração as probabilidades de diferentes cenários de emissões. 38 | Referências Capítulo 1 Bowen, A. and Ranger, N. (2009) Mitigating climate change through reductions in greenhouse gas emissions: The science and economics of future paths for global annual emissions. Policy brief, The Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment. Carbon Tracker (2011) Unburnable carbon – Are the world’s financial markets carrying a carbon bubble? Carbon Tracker (2012) Coal capital: Coal occupying the London Stock Exchange London. Global Carbon Capture and Storage Institute (2012) The global status of CCS 2012. Jones, A., Allen, I., Silver, N., Cameron, C., Howarth, C. and Caldecott, B. (2013) Resource constraints: Sharing a finite world. Implications of limits to growth for the actuarial profession. Meinshausen, M., Meinshausen, N., Hare, W., Raper, S. C. B., Frieler, K., Knutti, R., Frame, D. J. and Allen, M. 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Carbono incombustível 2013: Capital desperdiçado e ativos improdutivos | 39 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Aspen Institute (2010) Long term value creation: Guiding principles for corporations and investors. Citi Group Research (2013) Global oil demand growth – The end is nigh. CERES (2012) Sustainable extraction? An analysis of SEC disclosure by major oil and gas companies on climate risk & deepwater drilling risk. Deutsche Bank (2013) China Strategy: Big bang measures to fight air pollution. Bloomberg New Energy Finance (2013) Financial regulation – Biased against clean energy and green infrastructure. Climate Disclosure Standards Board (2012) Climate change reporting framework: Promoting and advancing climate change-related disclosure. Comissão Europeia (2013) Livro Verde: O financiamento a longo prazo da economia europeia. Fair Pensions (2011) Protecting our best interests: Rediscovering fiduciary obligation. Generation Investment Management (2012) Sustainable capitalism. Kay, J. (2012) The Kay review of UK equity markets and long-term decision-making. HSBC (2012) Coal and Carbon. Stranded assets: Assessing the risk. HSBC (2013) Oil and Carbon revisited: Value at risk from ‘unburnable’ reserves. Moody’s investors service (2012) European utilities: Wind and solar power will continue to erode thermal generators’ credit quality. Standard & Poor’s and Carbon Tracker (2013) What a carbon-constrained future could mean for oil companies’ creditworthiness. Climate Bonds Initiative (2012) Bonds and climate change: The state of the market in 2012. Stern, N. (2011) A profound contradiction at the heart of climate change policy. Financial Times. 8 December. Para mais informações sobre a Carbon Tracker visite o nosso sítio Web: Para mais informações sobre o The Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, LSE, visite o nosso sítio Web: www.carbontracker.org www.lse.ac.uk/grantham/