avaliação da viabilidade econômica e financeira do

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XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE
ECONÔMICA E FINANCEIRA DO
REDIMENSIONAMENTO DO
INVESTIMENTO EM CAPITAL DE GIRO
DE UM PLANO DE NEGÓCIOS DE
PROCESSAMENTO DA MACAXEIRA
Pedro Felizardo Adeodato de Paula Pessoa (Embrapa)
[email protected]
Jose Ednilson de Oliveira Cabral (Embrapa)
[email protected]
José Carlos Machado Pimentel (Embrapa)
[email protected]
João Bosco Cavalcante Araújo (Embrapa)
[email protected]
Antônio Genésio Vasconcelos Neto (Embrapa)
[email protected]
Este artigo apresenta uma análise das possibilidades de ganho de
rentabilidade de um plano de negócios, por meio de um
dimensionamento alternativo do seu investimento em capital de giro.
Os dados utilizados foram extraídos do próprio plano de negócio para
a produção em escala comercial de petisco dos tipos: chips, palito e
palha, obtidos por processamento da macaxeira. As informações
complementares e necessárias foram obtidas por meio de entrevista
com o empreendedor. Foi verificado que apesar do empreendimento
apresentar viabilidade econômica e financeira em seu plano de
negócio, o investimento em capital de giro estava superdimensionado.
Este fato foi demonstrado pelo incremento da rentabilidade financeira
da proposta com o dimensionamento do investimento em capital de
giro para uma possibilidade concreta.
Palavras-chaves: : capital de giro, plano de negócio, viabilidade
econômica e financeira
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Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
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1. Introdução
No Brasil, apesar das decisões de investir nas micro e pequenas empresas serem motivadas
por análises prévias que asseguram serem factíveis as suas altas rentabilidades, grande parte
delas apresentam nos primeiros anos de vida sérios problemas financeiros, comprometendo,
quase sempre, as suas existências.
Merece ser destacado, conforme o SEBRAE (2007a), que de todos os estabelecimentos
registrados no Brasil entre os anos de 2001 e 2005, as micro e as pequenas empresas
representaram 97,5% do total, sendo responsáveis por, aproximadamente, 52% dos empregos
com carteira assinada no país. Entretanto nesta mesma pesquisa é feita a advertência que mais
de 80% destas empresas não conseguiram sobreviver mais de dois anos. Em outra pesquisa do
SEBRAE (2007b), a falta de capital de giro é apontada pelos dirigentes das micro e pequenas
empresas como a principal causa das suas mortalidades.
Com relação à falta de capital de giro, Santos (2010) salienta que os questionamentos que
precedem à abertura das empresas são voltados geralmente para aspectos técnicos. Questões
financeiras como, por exemplo, o dimensionamento das suas necessidades de investimento em
capital de giro, que são fundamentais para os seus funcionamentos e continuidades, são
colocadas em um segundo plano.
Portanto são fortes as evidências que a falta de capital de giro nas micro e nas pequenas
empresas é decorrente dos dimensionamentos equivocados das suas necessidades de
investimento em capital de giro.
Desta forma, Henrique (2003) e Rosa (2007), recomendam que nos estudos sobre a
viabilidade econômica e financeira de planos de negócio, atenção especial deve ser dada ao
dimensionamento das suas necessidades de investimento em capital de giro, visando evitar o
seu excesso ou a sua escassez.
A esse respeito, Martins e Assaf Neto (2005) e Ferronato (2011) advertem que o excesso ou a
escassez de investimento em capital de giro podem comprometer a viabilidade econômica e
financeira de qualquer empreendimento.
Desta forma, pretende-se neste estudo analisar o impacto na viabilidade econômica e
financeira do dimensionamento do investimento em capital de giro de um plano de negócio de
uma pequena empresa agroindustrial.
2. Metodologia
A fonte básica dos dados utilizados neste trabalho foi um plano de negócio submetido ao
PROETA - Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base Tecnológica
Agropecuária e Transferência de Tecnologia, criado pela EMBRAPA - Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária.
O plano de negócio foi apresentado por uma empresa, que a partir da macaxeira produzirá
petiscos dos tipos chips, palito e palha.
Como parâmetro de rentabilidade, foi utilizado o retorno sobre o investimento total (RSI), o
qual é um indicador que expressa a eficiência global da gestão na obtenção de lucro com os
investimentos disponíveis (Gitman, 1987).
Portanto para avaliar o impacto do redimensionamento do investimento em capital de giro na
rentabilidade do plano de negócio, foram utilizados os seguintes indicadores:
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RSI = L / (IP + ICG)
(1)
RSIr = L / (IP + ICGr)
(2)
onde:
RSI = retorno sobre o investimento total sem o redimensionamento do
investimento em capital de giro;
RSIr = retorno sobre o investimento total com o redimensionamento do
investimento em capital de giro;
L = lucro mensal;
IP = investimento permanente;
ICG = investimento em capital de giro;
ICGr = investimento redimensionado do capital de giro.
O lucro (L) foi calculado da seguinte forma:
L = Rb - Cv - Cf
(3)
onde:
Rb = receita bruta mensal;
Cv = custo variável mensal;
Cf = custo fixo mensal.
O investimento permanente (IP) foi composto pelo valor das máquinas, equipamentos,
construções, móveis, etc.
O investimento em capital de giro (ICG), conforme Ferronato (2011) existe quando os
desembolsos para formação de estoques e para os pagamentos ocorrem antes dos
recebimentos.
O período de tempo entre o momento do desembolso e o instante do recebimento do dinheiro
das vendas é denominado, segundo Assaf Neto (2009), de ciclo financeiro
Portanto para calcular o investimento em capital de giro (ICG), é necessário conhecer o ciclo
financeiro (CF), que é obtido por meio dos prazos médios de estocagem, de recebimento das
vendas e de pagamento das compras (Rosa, 2007).
Desses prazos, somente o Pme sofre influência direta da gestão do empreendimento, por meio
da sua política de estocagem.
Ao contrário do Pme, o Pmrv e o Pmpc não sofrem ingerência, pois são determinados
externamente, pelo mercado consumidor e fornecedor, respectivamente.
O Pme expressa a quantidade de dias que serão necessários para consumo dos estoques. Foi
calculado pela seguinte fórmula:
Pme = Ie / Csd
(4)
onde:
Ie = investimento com estoques de matérias-primas, insumos e embalagens. É
o valor que há de matéria-prima, insumos e embalagens no empreendimento.
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Csd = valor do consumo diário de matérias-primas, insumos e embalagens
pelos produtos do empreendimento.
A esse respeito, Wernke (2008) salienta que a comparação do Pme com o prazo médio de
entrega dos fornecedores (Pe) pode evidenciar que o empreendimento investe
desnecessariamente um considerável valor em estoques. Esse superdimensionamento ocorre
quando a quantidade de dias do Pme é bastante superior a do Pe. Nesse caso, o
redimensionamento para menos no investimento em estoque terá implicações positivas no
desempenho econômico e financeiro do empreendimento.
Quando o Pme é inferior ao Pe, o investimento em estoque não atende as necessidades diárias,
expondo o empreendimento a paralisações. Nesse caso, o redimensionamento para mais no
investimento em estoque terá implicações positivas no seu desempenho operacional,
econômico e financeiro.
Neste trabalho considerou-se o prazo médio de estocagem redimensionado (Pmer ) = Pe.
Consequentemente, os ciclos financeiros foram calculados da seguinte forma:
CF = Pme + Pmrv - Pmpc
(5)
CFr = Pmer + Pmrv - Pmpc
(6)
onde:
CF = ciclo financeiro não redimensionado;
CFr = ciclo financeiro redimensionado;
Pme = prazo médio de estocagem;
Pmer = prazo médio de estocagem redimensionado;
Pmrv = prazo médio de recebimento das vendas;
Pmpc = prazo médio de pagamento das compras.
O prazo médio de recebimento das vendas (Pmrv) e o prazo médio de pagamento das compras
(Pmpc) foram obtidos, mediante entrevista com o empreendedor.
Portanto o investimento em capital de giro não redimensionado (ICG) e redimensionamento
(ICGr) foram calculados com as seguintes fórmulas:
ICG = CF x Ctd
(7)
ICGr = CFr x Ctd
(8)
onde:
Ctd = custo total diário.
3. Resultados
Inicialmente são apresentadas na Tabela 1, a receita bruta mensal do empreendimento
e as receitas brutas de seus produtos: macaxeira palito, macaxeira chips e macaxeira palha.
Preço de venda
Produtos
(R$/Kg)
Macaxeira palito
2,50
Macaxeira chips
10,00
Macaxeira palha
10,00
Total
Fonte: Dados da pesquisa
Quantidade vendida mensal
(Kg)
6.000
200
200
-
Receita bruta mensal
(R$)
15.000,00
2.000,00
2.000,00
19.000,00
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Tabela 1 - Composição da receita bruta mensal do empreendimento
Na composição da receita bruta mensal de R$ 19.000,00, o produto macaxeira palito destacase com uma receita bruta mensal de R$ 15.000,00, que lhe confere uma participação de
78,96%. Os outros produtos, macaxeira chips e macaxeira palha, contribuíram cada um com
10,52% na formação da receita bruta mensal do empreendimento.
A formação do custo variável mensal é mostrada na Tabela 2. Observa-se que do seu total
igual a R$ 11.509,00, o custo com macaxeira, com comissões sobre as vendas e com impostos
têm, respectivamente, as seguintes participações: 48,66%, 19,64% e 9,74%.
Materiais/insumos, etc.
Macaxeira
Embalagem
Rótulo
Ingredientes
Gás de cozinha
Óleo vegetal
Imposto (simples 5,9%)
Comissões s/venda (14%)
Total
Fonte: Dados da pesquisa
Macaxeira
palito
(R$)
4.800,00
150,00
240,00
50,00
296,00
885,00
1.784,00
8.205,00
Produtos
Macaxeira
chips
(R$)
400,00
120,00
240,00
10,00
148,00
378,00
118,00
238,00
1.652,00
Macaxeira
palha
(R$)
400,00
120,00
240,00
10,00
148,00
378,00
118,00
238,00
1.652,00
Total
(R$)
5.600,00
390,00
720,00
70,00
592,00
756,00
1.121,00
2.260,00
11.509,00
Tabela 2 - Custo variável mensal do empreendimento e de seus produtos
É importante também destacar que o produto macaxeira palito absorve 71,30% do custo
variável mensal do empreendimento, enquanto os produtos macaxeira chips e macaxeira palha
absorvem cada um 14,35%.
Com relação ao custo fixo mensal, observa-se na Tabela 3, que os itens salários+encargos e
pró-labore são os mais onerosos, com participações de 55,86% e 16,221%, respectivamente.
Custo fixo mensal
(R$)
150,00
500,00
100,00
200,00
1.000,00
100,00
3.444,83
50,00
50,00
250,00
100,00
221,91
6.166,74
Descrição
Água
Energia elétrica
Telefone
Honorários do contador
Pró-labore
Manutenção
Salários+encargos
Material de limpeza
Material de escritório
Combustível
Taxas diversas
Depreciação
Total
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 3 - Custo fixo mensal do empreendimento
Com base nos resultados apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3, o lucro mensal foi calculado da
seguinte forma:
Lucro (L) = 19.000,00 - 11.509,00 - 6.166,74 = R$ 1.324,26.
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O investimento permanente, conforme a Tabela 4 é de R$ 19.380,00.
O ciclo financeiro foi calculado com base em um prazo médio de recebimento das vendas
(Pmrv) de sete dias, e de um prazo médio de pagamento das compras (Pmpc) de 14 (quatorze)
dias.
Valor total
(R$)
8.130,00
1.250,00
8.000,00
2.000,00
19.380,00
Descrição
Máquinas e equipamentos
Móveis e utensílios
Veículos
Outros
Total
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 4 – Investimento permanente do empreendimento
O prazo médio de estocagem no Plano de Negócio proposto, portanto sem o
redimensionamento dos estoques (Pme), foi obtido conforme Tabela 5.
Portanto o ciclo financeiro (CF) foi obtido da seguinte forma:
CF = 22,88 + 7 - 14 = 15,88 dias.
Com um prazo médio de entrega dos fornecedores (Pe) de 10 (dez) dias, o ciclo financeiro
com o redimensionamento dos estoques foi de:
CFr = 10 + 7 - 14 = 3 dias.
Consequentemente, os investimentos em capital de giro sem o redimensionamento (ICG) e
com o redimensionamento (ICGr) dos estoques, apresentaram os seguintes valores:
ICG = 15,88 x 590,00 = R$ 9.369,20
ICGr = 3 x 590,00 = R$ 1.770,00.
O custo total diário (Ctd) foi assim obtido:
Ctd = custo total mensal / 30 = 17.675,74 / 30 = R$ 590,00.
Observa-se que com o redimensionamento dos estoques há uma redução de 81% no
investimento em capital de giro.
Materiais/insumos
Macaxeira
Embalagem
Rótulo
Ingredientes
Gás de cozinha
Óleo vegetal
Total
Fonte: Dados da pesquisa
Investimento em dos estoques
(Ie)
(R$)
4.800,00
200,00
280,00
50,00
444,00
432,00
6.206,00
Consumo
diário
(Csd)
(R$)
187,00
13,00
24,00
2,33
19,72
25,20
271,25
Prazo médio de
estocagem
(Pme)
(dias)
25,67
15,38
11,67
21,46
22,51
17,14
22,88
Tabela 5 - Prazo médio de estocagem
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O retorno sobre o investimento total sem o redimensionamento (RSI) e o retorno sobre o
investimento total com o redimensionamento (RSIr) foram iguais a:
RSI = 1.324,26 / (19.380,00 + 9.368,20) = 0,046 .. 0,046 x 100 = 4,6%
RSIr = 1.324,26 / (19.380,00 + 1.770,00) = 0,063 .. 0,046 x 100 = 6,3 %.
Portanto RSI ao passar de 4,6% para 6,3% , expressa um incremento de 37% na rentabilidade
do empreendimento. A redução no investimento em capital de giro tem também como
conseqüência uma maior disponibilidade de recursos financeiros.
4. Conclusões
Na análise do plano de negócio proposto, comprovou-se a grande importância do
dimensionamento do investimento em capital de giro na rentabilidade e na sustentabilidade
financeira do empreendimento.
Nas análises efetuadas foi possível constatar que o investimento em capital de giro
estabelecido no plano de negócio está superdimensionado, em virtude do excesso de estoque.
Portanto, com a configuração proposta no plano de negócio, ficou evidenciado que o
desempenho econômico e financeiro do empreendimento está sendo subotimizado.
Com o redimensionamento dos estoques e, consequentemente do investimento em capital de
giro, foram obtidas evidências que permitem concluir que são amplas as possibilidades de
ganhos econômicos e financeiros. Portanto, do ponto de vista das possibilidades de retorno,
quanto mais a empresa se aproximar do processo de produção “Just in time” (estoque zero),
maior será a sua rentabilidade e menor a necessidade de capital de giro.
Para finalizar, é importante enfatizar que o tratamento adequado das questões relacionadas ao
dimensionamento do investimento em capital de giro nos planos de negócios, é
imprescindível para os seus êxitos.
Referências
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2009.
FERRONATO, A. J. Gestão contábil e financeira de micro e pequenas empresas - sobrevivência e
sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2011.
GITMAN, L. J. Princípios da Administração Financeira. São Paulo: Habra, 1987.
HENRIQUE, F. Tire sua empresa das trevas. Santos: Espaço do autor, 2003,
MARTINS, E; ASSAF NETO, A. Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1986.
ROSA, C. A. Como elaborar um plano de negócio. Brasília: SEBRAE, 2007.
SANTOS, E. O. dos. Administração financeira da pequena e média Empresa. São Paulo: Atlas, 2010.
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. (Org.). Anuário do trabalho na
micro e pequena empresa 2007. Brasília: SEBRAE/DIEESE, 2007a.
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Fatores condicionantes e taxas de
sobrevivência e mortalidade das micro e pequenas empresas no Brasil – 2003/2005. Brasília: SEBRAE, 2007b.
WERNKE, R. Gestão Financeira: ênfase em aplicações e casos nacionais. Rio de Janeiro: Saraiva, 2008.
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