6CCSDFTPEX02 PROHANSEN – PROGRAMA DE HANSENÍASE, UMA PROPOSTA DE ATUAÇÃO MULTIDISCIPLINAR NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO LAURO WANDERLEY 2 2 Joseane de Fátima Madruga Estrela ; Mayara Dinamine França Dantas ; Pollyana Costa 2 1 3 Tavares ; Rafaella Nascimento e Silva ; Stênio Melo Lins da Costa Centro de Ciências da Saúde / Departamento de Fisioterapia / EXTENSÃO RESUMO A Hanseníase é uma patologia milenar que até hoje segue sendo um sério problema de saúde pública no Brasil. A doença tem caráter endêmico em todos os estados do país, sendo que a região Nordeste apresenta alto grau de prevalência dos casos. O Programa de Hanseníase (PROHANSEN) tem a finalidade de assistir através da fisioterapia, junto com uma equipe multidisciplinar formada por médicos e enfermeiros, nos níveis primário, secundário e terciário a hansenianos e comunicantes, assim como à comunidade local, atendidos no ambulatório de Dermatologia Sanitária (DS) do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e nas Unidades de Saúde Básica no Bairro do Timbó. Centrando­se, assim, em um dos eixos da “Ação Mobilizadora Nacional”, de Descentralização das Ações e Mudança do Modelo de Atenção com Reorganização de Serviços. A educação em saúde é um campo em favor da esperança para todos os membros humanos oprimidos, que se dá no nível das relações sociais estabelecidas pelos profissionais da saúde, entre si, com a instituição e, sobretudo com o usuário, no desenvolvimento cotidiano de suas atividades. PALAVRAS­CHAVE: Hanseníase; Fisioterapia; Intervenção Multidisciplinar INTRODUÇÃO A Hanseníase é uma doença infecciosa provocada por uma bactéria, o Mycobacterium leprae ou Bacilo de Hansen, descoberto em 1873 pelo cientista norueguês Gerhard Armauer Hansen. O Mycobacterium leprae é um parasita intracelular obrigatório, de reprodução lenta, não cultivável, que possui alta infectividade , baixa patogenicidade e afinidade por locais como as bainhas tendinosas e nervosas (neurotrópico), tecidos cutâneos e vísceras. A forma de disseminação do bacilo no organismo contaminado vai depender do estado imunológico do paciente, da relação entre bacilo e hospedeiro e do grau de endemicidade do meio (Lins­ Lainson & Carneiro,1996; Brasil/Ministério da Saúde/Guia para controle da hanseníase, 2002; FUNASA,2002). A Hanseníase é uma doença infecciosa crônica que quase sempre acomete a pele e os nervos periféricos. A doença possui quatro formas clínicas distintas: a Indeterminada, Tuberculóide, Dimorfa ou Virchowiana. De acordo com a sua operacionalidade, classifica­se­se em: Paucibacilar ou Multibacilar, esta classificação irá determinar as características do tratamento, especificamente quanto a sua duração e ao tipo de droga administrada. Na ausência das lesões cutâneas (forma neural pura), o quadro clínico da hanseníase assemelha­ se ao de outras neuropatias, dificultando, desta forma, o diagnóstico precoce. O comprometimento neurológico pode ser encontrado tanto na forma Paucibacilar (Tuberculóide) como na Multibacilar (Dimorfa e Virchowiana), sendo muito grave por determinar perda da função, alterar sensibilidades e ocasionar posteriormente deformidades que caracterizam o estigma desta patologia (Smith, 1996; Gonçalves, 1996; Diallo, 1996), que levam os hansenianos, a uma condição de limitação funcional, alterações psicossomáticas e exclusão social (Helene & Salum, 2002; De Miranda, 1999; De Stigter at al ., 2000). O contágio ocorre através de uma pessoa doente, não tratada, que elimina o bacilo pela via respiratória superior para o meio exterior, contagiando pessoas susceptíveis; pode também ocorrer contágio, através do contacto com lesões hansenóticas, ulceradas e, em alguns casos, pela serosidade e escoriações na pele de alguns doentes altamente bacilíferos (Brasil/Ministério da Saúde/Fundação Nacional de saúde, 2002). No Brasil, a Hanseníase é considerada um problema de saúde de caráter endêmico. De acordo com dados do Ministério da Saúde publicados em 18 de Janeiro de 2006, a região Nordeste possui um parâmetro para prevalência considerado muito alto (10 ­ 20 casos/10.000 ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ (1) (5) (2) (3) (4) Aluno(a)Bolsista; Aluno(a) Voluntário(a); Prof(a) Orientador(a)/Coordenador(a); Prof(a) Colaborador(a); Servidor Técnico/Colaborador hab. com uma prevalência de 2,14), estando em terceiro lugar depois da região Norte e Centro­ Oeste, esta situação tem feito com que a Hanseníase seja reportada como um grave problema de saúde pública do Nordeste brasileiro. A transmissão da doença parece ser influenciada pelas condições socioeconômicas, estado nutricional, situação de higiene e, também, pela qualidade de moradia da população, dificultando, assim, o controle da endemia (AQUINO, 2003). O Programa de Hanseníase (PROHANSEN) é um projeto de extensão universitária do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, aprovado pelo Programa de Bolsa de Extensão (PROBEX). O objetivo do programa é assistir, nos níveis primário, secundário e terciário a Hansenianos e comunicantes, atendidos no ambulatório de Dermatologia Sanitária (DS) do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), localizado na cidade de João Pessoa, e nas Unidades Básicas de Saúde da Comunidade do Timbó, localizada no Bairro dos Bancários deste município, num contexto integral e interdisciplinar. A concepção do projeto foi pautada na verificação dos seguintes pressupostos: 1) o grande número de pacientes portadores da Hanseníase, alguns com deficiências motoras e incapacidades funcionais instaladas, atendidos no serviço de Dermatologia Social do Hospital Univesitário Lauro Wanderley; 2) a necessidade de disponibilizar atendimento fisioterapêutico aos hansenianos que são atendidos no HULW pelo setor de dermatologia, esta necessidade foi definida após a constatação da carência deste tipo de assistência no ambulatório do HULW e pretende facilitar não só o acesso a este tipo de serviço, mas também, uma maior adesão ao tratamento; 3) a carência de investigações científicas na área da fisioterapia envolvendo os três níveis de atenção na saúde com temas relacionados a Hanseníase. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA O programa está sendo desenvolvido no setor de Dermatologia Sanitária e no Serviço de Fisioterapia do HULW, onde estão sendo realizadas avaliações sistemáticas e periódicas de indivíduos infectados ou com suspeita de infecção, com vistas a Prevenção de Incapacidades (PI) através da aplicação do protocolo do Programa de Eliminação e Controle de Hanseníase, do Ministério da Saúde. Na Atenção Básica são realizadas ações preventivas, ocasião em que são desenvolvidas ações de educação em saúde, através da transmissão de informações sobre a Hanseníase, que sensibilizem e esclareçam, não só os indivíduos infectados, mas também os comunicantes e a comunidade local, a respeito dos principais aspectos relacionados com a patologia, oferecendo alternativas reais para a mudança de hábitos com atitudes práticas que visem prevenir não só a patologia, mas principalmente as deficiências e incapacidades dela originadas. O programa oferece, ainda, assistência especializada em reabilitação, através de recursos fisioterapêuticos aos pacientes com alterações na função motora, na função sensitiva, ou que apresente algum tipo de deformidade. O objetivo desta assistência é o de promover a reintegração social do indivíduo através da superação das deficiências e incapacidades impostas pela hanseníase. Outra ação que está sendo realizada no Serviço de Fisioterapia do HULW, são as atividades em grupo, onde se trabalha com dinâmicas; orientações para o desenvolvimento de atividades funcionais; instruções para a prevenção de úlceras e deformidades; cinesioterapia e técnicas de relaxamento. Com os comunicantes são realizadas palestras conscientizando e esclarecendo as dúvidas mais freqüentes. A fisioterapia coopera na criação de condições para que a evolução do quadro instalado não prospere, e que as medidas terapêuticas possam evitar os fatores causais e agravantes, prestando assistência especializada em reabilitação aos pacientes com seqüelas ou deformidades provocadas pela Hanseníase. Além disso, serão utilizadas estratégias de ações coletivas através de grupos de sensibilização, articulação interdisciplinar com os profissionais envolvidos (médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, Agentes Comunitários de Saúde). O atendimento coletivo traz vantagens à clientela, pois esta socializa seu problema e discute formas de enfrentamento com autonomia e empoderamento no encaminhamento das soluções sugeridas. O programa desenvolve, conjuntamente com a assistência prestada aos pacientes, investigações científicas de natureza qualitativa, com o objetivo de identificar as necessidades de aprendizagem para o posterior desenvolvimento de um programa educativo relacionado à Hanseníase e ao seu portador. RESULTADOS Com o trabalho articulado e sistemático, espera­se contribuir com a diminuição de prevalência de Hansenianos em João Pessoa­PB, assim como aumentar o número de casos novos detectados e tratados nesta área, avaliando o grau de incapacidade física através do monitoramento sistêmico­avaliativo do hanseniano e da procura de comunicantes. A fisioterapia atua mudando o perfil da doença, contribuindo para a quebra do ciclo: lesão nervosa­déficit motor­incapacidades, além de poder identificar, prevenir e tratar urgências (neurites agudas, com edema e alterações sensitivas e motoras). As avaliações sistemáticas e periódicas de Prevenção de Incapacidades (PI) aos pacientes do Programa de Hanseníase atendidos no ambulatório de DS do HULW estão sendo realizadas pelos acadêmicos e colaboradores de fisioterapia juntamente com a dermatologista e enfermeira do setor. Na avaliação de PI, que é feita a cada mês, classifica­se o grau de incapacidade do nariz, olhos, membros superiores e inferiores. Com estas avaliações periódicas verifica­se a evolução do grau de incapacidades e quais condutas do tratamento podem ser utilizadas. Diante das ações de promoção à saúde com esclarecimento e sensibilização aos pacientes, comunicantes e comunidade local, o Programa colabora na diminuição dos fatores biopsicosociais que a Hanseníase traz no seu bojo, como as lesões e incapacidades físicas e as alterações psicosociais relacionadas ao estigma preconceituoso da doença, permitindo assim, a reinserção do indivíduo à sociedade. A necessidade de aprendizagem dos pacientes e comunicantes tem demonstrado a relevância da inserção do portador em um processo educativo, no qual o próprio público­alvo torna­se o sujeito da ação, principalmente ao serem utilizadas as temáticas com estratégias, como teatros, palestras, rádio comunitária, facilitadoras para o seu aprendizado. O PROHANSEN tem desencadeado a tomada de consciência, e o desenvolvimento de capacidades e habilidades para o autocuidado. A avaliação deste processo de conscientização permite comprovar a mudança de um sujeito passivo em ativo e reflexivo, multiplicador de informações e transformador de sua realidade, respeitando seu contexto cultural. CONCLUSÕES O Projeto possibilita atender a demanda de pacientes com Hanseníase do serviço de Dermatologia Sanitária (DS) do HULW/UFPB de forma interdisciplinar e integral proporcionando um tratamento eficaz ao portador de Hanseníase. A avaliação neurológica, a classificação do grau de incapacidades e a aplicação de técnicas básicas de prevenção, controle e tratamento são tarefas de suma importância feitas pelo fisioterapeuta, no diagnóstico e alta do paciente potencializando o prognóstico de cada portador. Estas tarefas quando realizadas de forma multidisciplinar constituem a mais importante estratégia no combate à principal causa do estigma social da Hanseníase. O Programa ajuda, através da promoção à saúde, a notificar um maior número de casos de Hanseníase, podendo promover o seu tratamento mais precocemente, prevenindo assim as incapacidades através da aplicação do protocolo do Programa de Eliminação e Controle de Hanseníase, do Ministério da Saúde. As atividades feitas em grupo são de suma importância principalmente para os portadores que apresentam grau de incapacidades mais elevado, pois promove uma maior interação, socialização e sensibilização destes com a Hanseníase e o grupo, também mostrando que podem ser ativos e produtivos levando uma vida normal e independente. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, Dorlene Maria Cardoso de et al . Perfil dos pacientes com hanseníase em área hiperendêmica da Amazônia do Maranhão, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 36, n. 1, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 04 Set 2006. BRASIL, Ministério da Saúde. Guia para o Controle da Hanseníase. Brasília, 2002. BRASIL, Ministério da Saúde. Manual de Prevenção de Incapacidades. Brasília, 2001.