Estado tutor e grupos econômicos

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Estado tutor e grupos econômicos
Hélio Duque
O padrão tóxico que mergulhou a economia brasileira na maior
recessão da vida republicana tem muitos responsáveis. O mais destacado foi o
governo ilusionista que acreditava em soluções mágicas em cenário populista.
O Executivo, ao nocautear a realidade fiscal na euforia dos gastos
irresponsáveis, de um lado e do outro, o Legislativo, de péssimo nível, foi
transformado em balcão de negócios, tão bem retratado na Lava Jato. A
sociedade brasileira, igualmente, pela sua maioria dormitava no sono profundo
do otimismo nefasto construído pelos marqueteiros do poder. A ilha da fantasia
edificada em soluções mágicas garantia popularidade ao governo na
sustentação de uma política econômica equivocada que não pouparia nenhum
setor produtivo.
Omite-se a responsabilidade dos grandes empresários na
construção desse desastre histórico. Ela não é marginal. Ao contrário, auferiu
de vantagens, engordando os seus lucros, ampliando a concentração da renda
nacional, penalizando a população. O jornalista Fábio Zanini, no livro “Euforia e
Fracasso do Brasil Grande – Política Externa e Multinacionais Brasileiras na
Era Lula” destaca: “A reboque da sua figura hiperativa (a de Lula) vieram
empreendedores e aproveitadores na construção civil, no agronegócio e no
setor petrolífero, entusiasmados com o novo ambiente de permissividade que
se instalava.” A promiscuidade geradora de corrupção no contubérnio governo
e mundo empresarial no Brasil, infelizmente, é herança histórica. Empenhamse nos esquemas de proteção e na economia fechada à competição.
O economista Rogério Werneck, professor da PUC-Rio, em “O
Globo” (27-1-2017), dimensiona essa herança: “O segredo da prosperidade é
estabelecer sólidas relações com o Estado. Vender para o Estado, comprar do
Estado, financiar o Estado, ser financiado pelo Estado, apropriar-se do
patrimônio do Estado, receber doações do Estado, transferir passivos para o
Estado, repassar riscos para o Estado e conseguir favores do Estado”. Esse
dirigismo estatal, pela dependência aos governos de plantão, não gera
crescimento econômico sustentável. É, na verdade, uma poderosa matriz para
a sustentação de uma realidade onde a corrupção prospera e alimenta as elites
do poder e dos negócios, ignorando a opinião pública.
Retrata um capitalismo atrasado, observado pelo empresário
Pedro Luiz Passos: “Olhando-se do alto a estrutura da economia brasileira,
constata-se que parte da atividade produtiva integra o setor extrativista, pois
dedica-se a extrair renda da sociedade à custa de artifícios, não de sua
eficiência empresarial nem de seus diferenciais tecnológicos. A revisão do
infindável elenco de incentivos de todo tipo é muito bem vinda.”
Por exemplo, as reinvindicações recorrentes do grande mundo
empresarial e atendidas pelos governos Lula-Dilma, forçara a derrubada
artificial da taxa de juros, acreditando que garantiria a elevação da
competitividade das empresas. O artificialismo produziu efeito contrário com a
desvalorização do real. Na mesma direção, o congelamento das tarifas de
energia elétrica e dos derivados de petróleo, foi unanimamente aplaudida. Na
época, a poderosa Federação da Indústria de São Paulo, em matéria paga nos
jornais, aplaudiu e comemorou como vitória aquelas conquistas. As contas
nacionais, nesse mesmo período, já demonstravam sinais de debilidade.
Paralelamente a redução dos tributos para as montadoras de automóveis, dos
materiais de construção, garantia o fuzilamento da política fiscal e, por
consequência, das contas públicas. O setor industrial conseguiu a distribuição
de subsídios ao crédito de longo prazo não apenas no BNDES, mas igualmente
em outros bancos públicos.
O atendimento pelo governo, das reinvindicações de renúncia
fiscal, ajudou a desestabilizar a política econômica. As lideranças classistas,
empresariais e sindicais, apoiaram a “nova matriz econômica” e o surgimento
das apelidadas “campeãs do desenvolvimento”, onde o símbolo era Eike
Batista. O resultado final engolfou a todos: governo, empresários,
trabalhadores e sociedade na realidade da recessão econômica que estamos
vivendo.
Por fim, o improviso privilegiador dos grandes grupos econômicos
e afins, levou à queda dos investimentos, desemprego na escala recorde,
endividamento pelo crédito fácil às famílias. O resultado da pajelança
econômica comprovou que a visão de curto prazo na economia, é rota segura
para o inferno.
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade
Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de
vários livros sobre a economia brasileira.
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