Instituto de Economia Gastão Vidigal TRANSAÇÕES CORRENTES E NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO EXTERNO Os dados de maio do balanço de pagamentos, que mostram o resultado líquido de todas as transações (de bens, serviços e financeiras) entre o país e o resto do mundo, de acordo com o Banco Central, revelam que o processo de deterioração das contas externas continua ao longo do ano. O saldo das transações correntes (diferença entre os valores totais das exportações e importações de bens e serviços) apresentou déficit (resultado negativo) em US$ 6,4 bilhões no mês e em US$ 73,0 bilhões no acumulando dos últimos doze meses, equivalendo a 3,2% do PIB, ao passo que, essa equivalência, há apenas seis meses atrás, girava em torno de apenas 2,3%. À medida que esse déficit avança, maior é a necessidade de financiá-lo com recursos externos. No entanto, no acumulado de doze meses, desde 2008 até o final de 2012, os saldos negativos em transações correntes foram cobertos com alguma “folga” por investimentos estrangeiros diretos (IED), que são recursos de longo prazo, aplicados no setor produtivo do país. Esse quadro começou a se modificar a partir de março deste ano à medida que a entrada do IED, embora ainda em níveis elevados, não conseguiu acompanhar o crescimento do déficit em conta corrente, que passa a depender, cada vez mais, de capitais estrangeiros de curto prazo, representados por aplicações em renda fixa, ações ou empréstimos, mais voláteis e de natureza especulativa. O Gráfico 1 mostra a evolução da necessidade de financiamento externo, definida pela diferença entre o saldo da conta corrente e o volume de investimentos estrangeiros diretos. Pode-se observar que essa necessidade de financiamento externo passou a ser positiva a partir de novembro de 2012, quando, por primeira vez nesse período, o déficit da conta corrente superou a entrada de IED. Instituto de Economia Gastão Vidigal GRÁFICO 1 NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO EXTERNO (ACUMULADO 12 MESES): Janeiro 2012 – Maio 2013 (%) 7.663 8 000 6 000 3.048 2.804 2.598 2.540 1.134 4 000 2 000 1.670 1.645 125 - 4 000 - 6 000 -1.914 -2.618 mai/13 abr/13 mar/13 fev/13 jan/13 dez/12 nov/12 out/12 set/12 ago/12 -294 -1.429 jul/12 jun/12 mai/12 abr/12 mar/12 fev/12 - 2 000 jan/12 - -1.794 -2.484 -2.302 -4.694 Fonte: Elaboração IEGV/ACSP a partir de dados do Banco Central. A principal causa da crescente piora das contas externas deve-se ao comportamento da balança comercial, que nos primeiros cinco meses do ano acusou um déficit de US$ 5,4 bilhões (contra US$ 6,3 bilhões de superávit em idêntico período do ano passado), com as exportações se retraindo em 2,8% e as importações aumentando de 9,8% em relação ao mesmo período de 2012, medida pela média diária. Esses números deverão piorar a partir de junho, em razão da turbulência no mercado financeiro internacional, causada pela expectativa de mudança na política monetária dos Estados Unidos, que está atraindo os capitais estrangeiros aplicados nos países emergentes, inclusive no Brasil. Entretanto, no momento, não existe o perigo de uma crise cambial, a exemplo das ocorridas no passado, diante do elevado nível de reservas cambiais de que dispõe o país, mas, o que preocupa é a instabilidade no mercado cambial com a desvalorização do Real e, como decorrência, a alta da inflação.