O papel do Professor pedagogo: inquietações e

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ISBN 978-85-8015-080-3
Cadernos PDE
I
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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O PAPEL DO PROFESSOR PEDAGOGO: INQUIETAÇÕES E
DÚVIDAS ACERCA DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS NO
COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA DE QUEDAS DO
IGUAÇU - PR.
Carla Maria Dotto¹
Isabel Cristina Neves²
RESUMO
O presente artigo tem como propósito contribuir com o debate acerca da função do professor
pedagogo e os caminhos percorridos por este profissional no Estado do Paraná a partir da
década de 90, sua intervenção pedagógica no interior das escolas públicas, especificamente
no Colégio Estadual José de Anchieta e as práticas avaliativas no referido Colégio, localizado
em Quedas do Iguaçu – PR, dando ênfase à avaliação escrita, individual e bimestral (prova) e
a possibilidade de interferência do pedagogo neste processo, propondo uma ação educativa
mais próxima da necessidade dos alunos, uma vez que a avaliação pouco tem contribuído para
o processo de aprendizagem deles. A pesquisa foi organizada partindo da análise do perfil do
professor pedagogo, contida na legislação Paranaense, de forma a evidenciar sua identidade,
bem como sua função no contexto escolar. Num segundo momento foi realizada a coleta de
dados, que se deu por meio de questionário aberto, com questões dirigidas aos pedagogos e
docentes que participaram da implementação do Projeto PDE, bem como das discussões
realizadas durante a implementação do projeto e dos questionamentos levantados pelos
participantes do grupo de GTR. Os objetivos propostos foram alcançados, pois os envolvidos,
tanto no Grupo de Estudos, quanto no GTR foram bastante participativos, com respostas
fundamentadas em suas próprias práticas educativas e nas teorias estudadas no decorrer dos
cursos de formação e aperfeiçoamento.
Palavras-chave:
aprendizagem.
Professor
Pedagogo;
escola
pública;
avaliação
escolar;
ensino-
_________________________________
¹ Professora da Rede Pública Estadual do Paraná – Participante do PDE – 2014.
² Professora Orientadora da Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO.
INTRODUÇÃO
A luta constante dos Professores Pedagogos se intensifica ao tentar
superar os “ranços” estabelecidos ao longo dos anos, onde formou-se uma
pseudo imagem de que o Pedagogo da escola tinha por obrigação resolver
todos os problemas indisciplinares que viessem ocorrer no âmbito escolar.
“Estamos, pois, num contexto em que, como dizia Gramsci, trava-se uma luta
entre o novo que quer nascer e o velho que não quer sair de cena” (Lombardi e
Saviani, 2008:243).
Mas afinal, quem é o Professor Pedagogo? As políticas educacionais do
Estado do Paraná, a partir da década de 90, têm instaurado uma série de
mudanças no que diz respeito aos profissionais desta área, mas, entretanto
continuamos nos questionando sobre nossa própria identidade e quão frágil
está nossa imagem. Sendo este o nosso maior desafio, sabermos como nós
Professores Pedagogos nos tornamos um profissional descaracterizado,
precisamos saber quais as funções que devem, de fato, nos ser atribuídas, ou
seja, ainda nos cabe orientar as práticas pedagógicas dos professores,
incluindo as que se referem à avaliação realizada no colégio, de modo que elas
atendam às necessidades dos alunos e não os excluam do sistema
educacional?”
Dada a heterogeneidade de educandos que compõe a escola pública, o
pedagogo necessita ter uma visão ampla sobre os fazeres e os saberes de sua
prática pedagógica. Muitas vezes essa ampla visão só ocorre quando este se
defronta com a sua prática, pois há uma grande dicotomia entre teoria e
prática, resultando num choque entre elas. Esta distância entre teoria e prática
pode ser apontada como um dos motivos da dificuldade de organizar e efetivar
sua prática, causando a descaracterização do papel do pedagogo. O
desenvolvimento deste trabalho, com base na abordagem qualitativa, utilizouse de questionário, grupo de estudos, bem como a pesquisa bibliográfica,
buscando respostas para as principais dificuldades encontradas por esse
profissional em sua área de atuação.
O que nos propomos pesquisar, estudar e discutir são os principais
fatores que levam o profissional Professor Pedagogo a não formulação de
critérios sobre sua função ou uma identidade fundamentada, comprovada, que
possa ser vista e seguida por outros profissionais da mesma área. Também
discutimos o papel do pedagogo e sua intervenção pedagógica no interior das
escolas públicas, especialmente no Colégio Estadual José de Anchieta, bem
como, analisamos sua atuação frente às práticas avaliativas deste colégio,
dando ênfase à avaliação escrita, individual e bimestral (prova) e a
possibilidade de interferência do pedagogo neste processo, propondo uma
ação educativa mais próxima da necessidade dos alunos, uma vez que ela não
tem possibilitado um avanço no processo de aprendizagem.
A implementação do trabalho proposto aconteceu no segundo semestre
de 2105, paralelo ao desenvolvimento do GTR, no Colégio Estadual José de
Anchieta- Ensino Fundamental e Médio, de Quedas do Iguaçu – Paraná e teve
como público alvo professores, pedagogos e direção do colégio. Foram
utilizados diversos textos, filmes, questionário (que foi aplicado a todos os
participantes do grupo de estudos), relatórios das discussões do grupo de
estudos, que juntos subsidiaram as discussões dos assuntos abordados.
1. CAMINHOS DO PROFESSOR PEDAGOGO DO PARANÁ
DESDE A DÉCADA DE 90
Desde que surgiu o homem, existe a educação, seja ela formal, informal
ou não-formal. A pedagogia, por realizar estudos específicos sobre a
educação, vem tentando manter-se como tal, uma vez que é vista pela maioria
dos profissionais da educação como uma profissão somente voltada para o
exercício da docência e não como especialista, como no caso dos Professores
Pedagogos que atuam em escolas públicas no Paraná. Conforme coloca
Libâneo:
Os próprios pedagogos – falo especificamente dos que lidam com a
educação escolar – parecem estar se escondendo de sua profissão
ao não fazerem frente às investidas contra a Pedagogia e ao
exercício profissional dos pedagogos especialistas, adotando uma
atitude desinteressada frente à especificidade dos estudos
pedagógicos e aos próprios conteúdos e processos que eles
representam. (2001, p.04)
A crise instalada na identidade do Professor Pedagogo não pode ser algo
que venha ser alimentada pelo próprio profissional, pois sendo ele o
responsável por estudar a teoria e a ação político-pedagógica realizada no
contexto escolar e em outros contextos, não pode meramente reduzir seu
trabalho ao atendimento de situações cotidianas de menor importância,
deixando de intervir no intrincado, porém relevante processo de ensino e
aprendizagem,
composto
pelo
conjunto
de
práticas
realizadas
pelos
professores em sala de aula, pois é esta intervenção que eles esperam do
professor pedagogo.
Devemos, no entanto, atentar para as diferentes concepções sobre o
profissional Pedagogo, onde elas se apresentam, de modo geral, na
polarização de duas distintas concepções: uma que se expressa nos
documentos de associações de educadores como a Associação Nacional pela
Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), Associação Nacional de
Política e Administração da Educação (ANPAE) e Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação (ANPED), que entende a Pedagogia
como um curso de formação de professores e defende a licenciatura em
pedagogia, formando o profissional pedagogo para atuar predominantemente
na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. A outra
concepção que, apesar de compreender a docência como dimensão
constitutiva da pedagogia, sustenta que essa área do conhecimento não se
resume a um curso de graduação e propõe a formação do bacharel em
Pedagogia, compreensão defendida, por exemplo, por Libâneo (2006).
Saviani (2008, p.195), nos faz refletir sobre a realidade em que estamos
inseridos ao dizer que “a sociedade burguesa nos vem mostrando cada vez
com maior evidência que os problemas educacionais que ela mesma levanta,
ela é incapaz de resolver...”. A crise na educação e a crise na identidade do
Professor Pedagogo podem ser vistas como regras ditadas por uma sociedade
capitalista, onde interesses de uma minoria sempre se sobressaem. Esta ideia
fica clara nas palavras de Paulo Freire, quando ele diz:
Continuo bem aberto à advertência de Marx, a da necessária
radicalidade que me faz sempre desperto a tudo o que diz respeito à
defesa dos interesses humanos. Interesses superiores aos dos puros
grupos ou de classes de gente. (1996, p.112)
Na educação não deveria pensar-se em ideias que beneficiem apenas
uns poucos privilegiados e sim um grande grupo, uma nação, onde todos
tenham de fato seus direitos iguais garantidos, conforme nos propõe a LDB
9394/96 art. 3º § I “igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola”.
A ideia central que nos propomos pesquisar está baseada não somente
na falta de identidade do profissional em questão, mas de uma falha no sistema
educacional de uma forma mais ampla, como por exemplo, a falta de
entendimento acerca dos problemas educacionais. Isso se explica nas palavras
de Saviani:
[...] observei que Marx ao analisar a problemática histórica, chegou à
conclusão de que é a partir do mais desenvolvido que se compreende
o menos desenvolvido.
Ora, na sociedade atual, pode-se perceber que já não é possível
compreender a educação sem a escola, porque a escola é a forma
dominante e principal de educação. (2008, p.102-103)
Embora a educação não formal esteja constantemente presente em
nossas vidas, torna-se evidente que a educação formal é a forma que o
cidadão tem de comprovar o seu grau de instrução, seus estudos, já que é ela
que certifica e por isso é considerada a principal.
Nas escolas públicas paranaenses o Professor Pedagogo tem, além de
várias outras competências, a de elaborar seu Plano de Ação, ou seja, planejar
o seu trabalho no decorrer do ano letivo. A dúvida é para quê? Mas, e a ação?
As atividades que no dia a dia não acontecem, pois inúmeras outras surgem de
imediato e precisam ser resolvidas? Quando se elabora o Plano de Ação ou lêse as inúmeras funções do Professor Pedagogo não se leva em consideração
vários outros fatores externos, como por exemplo a constante falta de professor
e, a indisciplina em sala de aula, que para muitos docentes, resolvê-la parece
ser a função única e específica do pedagogo além das questões burocráticas
que assolam também a educação.
Saviani (2008, 109-116) ressalta a questão da “falta de um sistema de
educação em nosso país, a não preocupação com sua implantação, gerando
um déficit histórico imenso e secular, resultando em altas taxas de
analfabetismo” e acredito que cabe ressaltar aqui altas taxas de evasão
escolar. Fica evidente a dicotomia existente na educação: de um lado a
ausência de uma política educacional e, de outro, o discurso que trata sobre
educação de qualidade. Como exigir essa se não é oferecida aquela?
O Pedagogo, uma vez que envolvido na esfera educativa, participa da
contradição existente entre sociedade moderna e capitalista; moderna, pois
avança num ritmo desenfreado em relação à tecnologia e capitalista, pois
estamos atrelados ao capital, deixando-nos cada vez mais susceptíveis à
valorização dos bens materiais e não dos valores morais. Segundo Lombardi e
Saviani:
Com respeito às escolas e à importância da luta de classes, esta
deve ser compreendida, também e predominantemente, no interior da
maioria das escolas, onde prevalecem as ideologias de Estado que
cumprem o papel de reproduzir as relações de produção, relações de
dominação capitalista. (2005, 170)
A escola, por sua vez, passa a ser vista como a reprodutora de um
sistema onde está incutida a ideologia do Estado, ideologia esta que reflete os
interesses de poucos.
Se analisarmos a história da pedagogia veremos que o processo histórico
de formação de pedagogos vem sendo adaptado ou alterado conforme a
necessidade política da época. Sua identidade tenta ser remontada no dia a
dia, porém em nossa formação e principalmente em nossa atuação, temos a
herança do regime militar, quando nos veem como “fiscalizador” ou “inspetor”
de alunos. Essa descaracterização da função do Pedagogo é o que faz com
que ele próprio se veja como um profissional sem identidade. O fato é que este
profissional se encontra num caminho sem saber que rumo seguir: se segue à
risca sua função, desagrada os docentes, a direção e toda a comunidade
escolar, mas se agrada à estes, desagrada à si próprio. Como até então tem
sido suportável desagradar-se, prefere continuar assim. Mas até quando?
Impossível saber. Entretanto, está claro que em algum momento esse
profissional precisa construir/conquistar sua identidade e, a partir dela,
reconhecer-se como agente de transformação, e aí sim, será capaz de
desenvolver um significativo papel nas escolas onde atua.
2. PAPEL DO PROFESSOR PEDAGOGO
Primeiramente precisamos salientar que, na instituição escolar, cada
profissional assume uma função, um papel que lhe é próprio e que possui
importância na organização do trabalho administrativo e pedagógico. Vamos
destacar aqui, o papel do professor pedagogo enquanto gestor escolar e as
atribuições que lhe são dadas enquanto profissional integrante do Quadro
Próprio do Magistério da Secretaria Estadual de Educação do Estado do
Paraná.
Por isso a necessidade de discutirmos sobre o papel do pedagogo no
processo de organização e intervenção pedagógica na prática educativa, papel
este de cunho social, democrático e ético, que deve atender as necessidades
dos educandos, possibilitando sua formação enquanto sujeitos com capacidade
crítica e reflexiva.
É importante frisar que o pedagogo sozinho não irá modificar a realidade
da escola, para tanto, necessita do auxilio de uma gestão democrática que
propicie as relações sociais na instituição.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9.394/1996
estabelece as normas de gestão democrática na escola em seus artigos 3º e
14º. No art. 3 VIII, garante a gestão democrática na rede pública. Todavia,
reitera-se que a gestão democrática deve acontecer tanto na esfera pública
como na esfera privada e o art. 14 afirma a participação dos profissionais da
educação na elaboração do projeto político pedagógico e a necessidade da
efetiva presença da comunidade nas atividades escolares.
Para a Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná, o
Pedagogo é o articulador do processo pedagógico no interior da escola, além
de princípios como: desenvolver uma gestão democrática, trabalho coletivo,
ética profissional e comprometimento político pedagógico. De acordo com o
edital nº 017/2013 são funções do pedagogo no ambiente escolar:
Atividades de Suporte Pedagógico direto à docência na Educação
Básica, voltadas para planejamento, administração, supervisão e
orientação educacional, incluindo, entre outras, as seguintes
atribuições: coordenar a elaboração e execução da proposta
pedagógica da escola; administrar o pessoal e os recursos materiais
e financeiros da escola, tendo em vista o atingimento de seus
objetivos pedagógicos; assegurar o cumprimento dos dias letivos e
horas-aula estabelecidas; zelar pelo cumprimento do plano de
trabalho dos docentes; prover meios para a recuperação dos alunos
de menor rendimento; promover a articulação com as famílias e a
comunidade, criando processos de integração da sociedade com a
escola; informar os pais ou responsáveis sobre a frequência e o
rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta
pedagógica da escola; coordenar, no âmbito da escola, as atividades
de planejamento, avaliação e desenvolvimento profissional;
acompanhar e orientar o processo de desenvolvimento dos
estudantes, em colaboração com os docentes e as famílias; elaborar
estudos, levantamentos qualitativos e quantitativos indispensáveis ao
desenvolvimento do sistema ou rede de ensino ou da escola;
elaborar, implementar, acompanhar e avaliar planos, programas e
projetos voltados para o desenvolvimento do sistema e/ou rede de
ensino e da escola, em relação a aspectos pedagógicos,
administrativos, financeiros, de pessoal e de recursos materiais;
acompanhar e supervisionar o funcionamento das escolas, zelando
pelo cumprimento da legislação e normas educacionais e pelo padrão
de qualidade de ensino.
Percebe-se aqui o pedagogo como articulador do trabalho coletivo da
escola, ou seja, aquele que articula, que sugere, que organiza, que acompanha
e que assessora. No entanto, no dia a dia surgem tantas outras situações que
não estão no rol das atribuições e que precisam ser resolvidas de imediato.
Assim sendo, o pedagogo, tem sua função de mediador do trabalho
pedagógico, agindo em todos os espaços de contradição para a transformação
da prática escolar.
No enfrentamento dos problemas do cotidiano escolar, o pedagogo, assim
como o diretor, tem impasses que dificultam seu trabalho como gestor, o que
pode ser uma das causas da angústia desse profissional, que tanto se culpa
por fazer tanto pela educação e, ao mesmo tempo, não cumprir seu papel que
lhe é de fato atribuído.
3.
PAPEL
DO
PROFESSOR
PEDAGOGO
FRENTE
À
AVALIAÇÃO ESCOLAR
Primeiramente analisaremos o que os principais autores tratam sobre a
questão da avaliação para então adentrarmos nas contribuições do pedagogo
para o processo de avaliação na escola.
Quando nos referimos à avaliação estamos nos referindo à avaliação de
quem? Do aluno, do professor, da escola ou de todos os envolvidos no
processo educativo? Essa é a pergunta que nós pedagogos, muitas vezes nos
fazemos e não obtemos uma resposta clara, pois dependendo do resultado
satisfatório ou não desta avaliação, teremos uma resposta que tende a ser
direcionada a quem convém. No entanto ao avaliar, devemos ter claro quem
iremos avaliar e qual o objetivo desta avaliação. Segundo a autora Villas Boas:
A avaliação da qualidade do trabalho ou do desempenho do aluno
requer que o professor possua concepção de qualidade apropriada à
tarefa e seja capaz de julgar de acordo com essa concepção. (2013,
p.40)
Pelo que vemos, ao avaliar o aluno, o professor também estará sendo
avaliado e, por isso, deve estar preparado para tal situação.
A avaliação da aprendizagem escolar, formal, deve estar articulada com o
Projeto Político Pedagógico da escola, organizada de forma que os alunos
possam entendê-la claramente e tenham conhecimento de todos os critérios
que dela fazem parte. A avaliação deve ser encarada, pelos professores, como
parte fundamental de sua prática pedagógica, já que possibilita a reflexão
sobre essa prática, permitindo a identificação de falhas e a realização das
mudanças necessárias para a efetivação do processo ensino-aprendizagem.
Segundo Paulo Freire:
É a partir deste saber fundamental: mudar é difícil mas é possível,
que vamos programar nossa ação político-pedagógica, não importa
se o projeto com o qual nos comprometemos é de alfabetização de
adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se de evangelização, se
de formação de mão-de-obra técnica. (1996, 88)
Nosso comprometimento, enquanto educadores precisa estar diretamente
ligado às necessidades do aluno e a forma de intervir nessa realidade é que
fará a diferença.
Luckesi coloca que:
“De fato, o momento de avaliação deveria ser um “momento de
fôlego” na escalada, para em seguida, ocorrer a retomada da marcha
de forma mais adequada, e nunca um ponto definitivo de chegada,
especialmente quando o objeto da ação avaliativa é dinâmico, como,
no caso, a aprendizagem”. (2011, 82)
Como vimos, a função da avaliação é diagnosticar falhas para, então,
retomar os conteúdos, contribuindo, realmente para a efetiva aprendizagem.
No entanto, o que vemos é a avaliação como um ponto final do processo de
ensino e aprendizagem, como a conclusão do trabalho pedagógico com o
aluno.
Sendo o Pedagogo um pesquisador do ambiente escolar, deverá estar
sempre atento às questões didático-pedagógicas, considerando sempre o
Projeto Político Pedagógico da escola, como elemento norteador de seu
trabalho quanto ao planejamento, coordenação, orientação e avaliação.
A avaliação na atualidade deve ter um grande distanciamento das
práticas avaliativas autoritárias, que não têm a função de reorganizar, retomar
a avaliação e sim obter números para atribuirmos valores aos alunos. Cabe
então ao pedagogo em trabalho conjunto com o professor, acompanhar os
avanços e as dificuldades dos alunos, buscando assegurar-lhes a possibilidade
de prosseguir no processo de ensino aprendizagem, tornando a avaliação
menos excludente.
Embora seja um trabalho difícil e muitos profissionais ainda resistirem às
mudanças, provocar reflexões sobre a prática pedagógica certamente é a
melhor forma de juntos encontrarmos soluções e uma maneira de desmistificar
a avaliação, fazendo com que ela não seja vista como um “bicho papão”, tanto
pelos professores, quanto pelos alunos.
4. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO
PEDAGAGÓGICA
NO
COLÉGIO
ESTADUAL
JOSÉ
DE
ANCHIETA
A construção do projeto de intervenção pedagógica foi respaldada na
necessidade de respostas para as principais questões referentes às
dificuldades encontradas pelo professor pedagogo em sua área de atuação. O
principal objetivo dessa pesquisa foi desenvolver um estudo acerca das
inquietações do Professor Pedagogo sobre sua prática educativa e sobre sua
intervenção nas práticas avaliativas do Colégio Estadual José de Anchieta, com
vistas à identificar dificuldades que perpassam a Organização do Trabalho
Pedagógico na escola.
4.1. AÇÕES DESENVOLVIDAS
O trabalho proposto por meio do caderno pedagógico foi desenvolvido
através de questionário, aplicado aos professores participantes do grupo de
estudos, de 08 (oito) encontros presenciais de 04 (quatro) horas cada,
totalizando 32 (trinta e duas) horas de trabalho presencial com o público alvo,
que são professores do Colégio Estadual José de Anchieta e professores da
Rede Municipal de Ensino de Quedas do Iguaçu – PR. Ao aplicar o
questionário, o objetivo era investigar o grau de conhecimento dos participantes
do grupo de estudos acerca da função do professor pedagogo, bem como
averiguar o grau de importância de sua participação no interior das escolas.
Também consultamos os participantes sobre a avaliação, onde eles deveriam
apontar as fragilidades da avaliação da aprendizagem em sua escola de
atuação, sugerindo então, a maneira ideal de avaliar.
Quanto às atividades do grupo de estudos, iniciamos estudando o tema
“A função do Pedagogo”, onde os objetivos eram perceber o professor
pedagogo como o responsável pela construção de sua identidade profissional e
desenvolver a reflexão acerca da função do professor pedagogo. Assistimos
filmes referentes à importância do papel do professor pedagogo na vida do
aluno. Fizemos várias reflexões e muitos questionamentos foram levantados,
sobre situações que vivenciamos e não nos damos conta das consequências
que causam. Analisamos o Edital nº 017/2013, que trata das atribuições do
professor pedagogo no interior da escola, onde descreve cada atividade que
nos compete e, na parte que tange à avaliação estudamos fragmentos de
textos de Cipriano Carlos Luckesi e analisamos situações práticas, quando
pudemos destacar as principais falhas que cometemos referentes à avaliação
dos educandos. Para encerrar a implementação do Projeto PDE tivemos a
palestra com a Profa. Orientadora Ma. Isabel Cristina Neves, com o tema
Avaliação da Aprendizagem, onde todos os professores do Colégio e os
demais cursistas participaram e puderam trocar experiências e sanar dúvidas,
como forma de adquirir conhecimentos para nossa prática educativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Problematizar a atuação do professor pedagogo no exercício de sua
função, foi o principal objetivo deste trabalho, desde seu projeto até sua
implementação.
Resgatar um pouco da história deste profissional nos mostra que foram
muitos os caminhos percorridos para que se chegasse onde estamos hoje, pois
mesmo em meio às inúmeras dificuldades enfrentadas, no Estado do Paraná, a
partir do concurso de 2005 incorporou-se ao seu quadro de profissionais
concursados os profissionais pedagogos, espaço até então ocupado por
professores habilitados por pós-graduação em orientação ou supervisão
educacional, criando assim espaços de rivalidades, disputas que não condizem
com a atuação de educadores comprometidos com o ensino de qualidade.
O questionário inicial que foi realizado com os professores participantes
da implementação do trabalho do PDE, consistia em pesquisar o conhecimento
dos cursistas sobre a função do pedagogo nas escolas públicas, e muitos
professores responderam que veem a função do pedagogo como auxiliar do
diretor, orientador do trabalho dos professores, orientador dos alunos e dos
pais, no sentido de auxiliar quanto aos estudos.
Quanto a função do professor pedagogo destacamos que ele possui um
papel que lhe é próprio e que possui importância na organização do trabalho
administrativo e pedagógico. Enquanto gestor escolar e com as atribuições que
lhe são dadas enquanto profissional integrante do Quadro Próprio do
Magistério da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná, seu
papel do pedagogo está centrado no processo de organização e intervenção
pedagógica na prática educativa, papel este de cunho social, político,
democrático e ético, que deve atender as necessidades dos educandos,
possibilitando sua formação enquanto sujeitos com capacidade crítica e
reflexiva.
É importante frisar que o pedagogo sozinho não irá modificar a realidade
da escola, para tanto, necessita do auxilio de uma gestão democrática que
propicie as relações sociais na instituição.
Devemos evidenciar que, o Estado do Paraná ao conferir as atribuições
deste profissional, precisa também contribuir para que se resgate a identidade
profissional do pedagogo. Contudo, não podemos deixar de destacar que é
responsabilidade do Estado garantir as condições de trabalho para este
profissional. Ao atribuir para este profissional, o papel de supervisor do trabalho
docente e orientador dos alunos e familiares, constata-se que uma das partes
acaba se fragilizando no processo. Essa fragilidade deve-se as inúmeras
atividades e problemas diários que cabe a este profissional atender frente às
mudanças familiares e sociais que ocorreram nos últimos anos, afetando
diretamente nossos alunos e consequentemente seu comportamento escolar.
Também queremos destacar que além do papel de “multitarefeiro” o
professor pedagogo precisa estar em constante aperfeiçoamento e engajado
nos estudos, comprometido com sua função, seu papel, aberto ao diálogo e
sempre disposto a refletir sobre sua prática pedagógica, com o objetivo de
melhorar em cada ação.
No que diz respeito ao papel do pedagogo diante da avaliação da
aprendizagem, cabe a nós profissionais analisarmos se a avaliação da
aprendizagem está em consonância com o Projeto Político Pedagógico da
escola, com o Regimento Escolar e organizada de forma que os alunos
possam entendê-la claramente e tenham conhecimento de todos os critérios
que ela estabelece. A avaliação deve ser percebida pelos professores, como
parte de sua prática diária e não como o final do processo de ensino, já que ela
possibilita a reflexão sobre a prática pedagógica desenvolvida e permite a
identificação dos erros, possibilitando as possíveis mudanças necessárias para
a efetivação do processo ensino-aprendizagem.
A proposta no campo da avalição, com a possibilidade de interferência do
pedagogo neste processo para uma ação educativa mais próxima da
necessidade dos alunos será de uma avaliação em que o aluno possa
expressar-se das mais diversas formas e não somente por meio da avaliação
escrita (prova), possibilitando que ele demonstre suas habilidades, de modo
que possamos nos certificar de que o aluno foi avaliado de forma justa e que
através da avaliação utilizada ele possa realmente demonstrar o que
efetivamente aprendeu durante o processo de ensino aprendizagem.
Para tanto, percebemos que o pedagogo precisa assumir um papel mais
ativo, propondo práticas que possam superar os desafios que surjam no dia-adia da escola. Isso requer maior envolvimento, ousadia, e, acima de tudo,
acreditar na possibilidade de superação das dificuldades da escola pública de
hoje.
Ao término deste trabalho, através dos momentos de estudos em grupos,
das análises e reflexões possibilitadas pelo PDE, sendo este um momento
importante na história da educação paranaense, precisamos destacar que esta
oportunidade deverá ser aproveitada por todos os profissionais da educação e
utilizada para a melhoria da qualidade do ensino aprendizagem das escolas
paranaenses. Para isso, faz-se necessário que o professor pedagogo, através
de suas responsabilidades e no exercício de sua função, consiga diagnosticar
os problemas e sugerir soluções.
Encerramos, concluindo que não existe um modelo ideal de atuação para
este profissional, tão pouco um modelo perfeito de avaliação, pois vivemos
realidades muito diversificadas. O que existe, sim, são as inúmeras
possibilidades de melhorias e de comprometimento dos profissionais da
educação. Para tanto, novamente frisamos a necessidade de o professor
pedagogo estar em constante aprendizado, a fim de aprimorar e reformular sua
prática pedagógica, contribuindo para que a escola cumpra efetivamente sua
função de ensinar.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LIBANEO, José Carlos. Diretrizes curriculares da pedagogia: imprecisões
teóricas e concepção estreita da formação profissional de educadores.
Educação & Sociedade, Campinas, v. 27, n.96, Especial, out. 2006.
__________________. Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas.
Educar em Revista, Curitiba: n.17, p. 153-176, 2001. Disponível em:
http://educa.fcc.org.br/scielo.php?pid=S010440602001000100012&script=sci_a
bstract.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e
proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2011.
LOMBARDI, José Claudinei & SAVIANI, Dermeval (orgs.).Marxismo e
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Histeder,2005.
PARANÁ. A Função do Pedagogo: organização do Trabalho Pedagógico.
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SAVIANI, Dermeval. A nova lei da Educação - LDB. Trajetória, limites e
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Campinas: Editora Autores Associados, 1997.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Virando a escola do avesso por
meio da avaliação. 2ª ed. Campinas, SP. Papirus, 2013
Download