BRICS Monitor As políticas econômicas, juros e o controle da inflação no Brasil Julho de 2011 Núcleo de Análises de Economia e Política dos Países BRICS BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisa BRICS BRICS Monitor As políticas econômicas, juros e o controle da inflação no Brasil Julho de 2011 Núcleo de Análises de Economia e Política dos Países BRICS BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisa BRICS BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR As políticas econômicas, juros e o controle da inflação no Brasil Carollina Fernandes Tinoco As Políticas Econômicas, Juros e o controle da inflação no Brasil O Brasil registrou, em 2010, o maior Produto Interno Bruto em 24 anos – representando um crescimento de 7,5%1 -. Contudo, entraves a um padrão de desenvolvimento diferenciado continuam, por exemplo diante dos efeitos da maior taxa de juros do mundo2. As influências deste fenômeno abarcam diferentes setores da sociedade brasileira e influenciam também, de certa forma, a inserção brasileira no cenário internacional. Tem-se que, o controle da inflação pode ser dado de diferentes maneiras de acordo com as prioridades estabelecidas pelo governo, que tendem a mudar ao longo do tempo. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo analisar a efetividade das políticas econômicas atualmente perseguidas no controle da inflação. Buscando compreender de maneira mais efetiva esta questão, se faz necessária a reconstrução do cenário vigente. Para isso, alguns aspectos domésticos devem ser destacados. Como apresentado pelo Comunicado 101 do Instituto de Política Econômica Aplicada (IPEA): “A força motora do novo regime é o mercado interno, fomentado pela melhora na distribuição de renda e redução da pobreza, expansão do crédito e recuperação relativa da renda do trabalho”. Os níveis de desemprego registrados são inferiores aos de anos atrás – em junho deste ano, o nível de desocupação registrado foi de 6,6%, o menor desde 2002, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)3-. O aumento do consumo, a ascensão da classe C – diante da redistribuição de renda - , o baixíssimo desemprego e o crescimento registrado pelo país tem gerado um clima de otimismo que, contudo, não deve encobrir as dificuldades ainda enfrentadas pelo país. Do ponto de vista da competitividade, os efeitos provocados pelos altos juros são graves, sobretudo para o setor industrial no país. Em 21 de julho deste ano, o Comitê de Política Monetária4 (Copom) do Banco Central (BC) divulgou a elevação mais alta desde 2009 -12,5%-5 , gerando repercussões imediatas. Uma avaliação emitida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma que: “o custo dessa política é muito alto, especialmente para a indústria, porque o aumento dos juros encarece o crédito e diminui o consumo. Além disso, com a taxa real de juros mais alta do mundo, o Brasil atrai capital externo, o que intensifica a forte valorização do real diante do dólar. Com juros altos e câmbio valorizado, os produtos brasileiros não conseguem competir com os estrangeiros e perdem espaço nos mercados interno e externo”6. Do ponto de vista dos preços, os alimentos representam os principais “vilões”. Como apresentado pelo IPEA: “Os efeitos da alta internacional dos preços de commodities sobre os alimentos comercializáveis nos últimos anos, com a exceção de 2009, e do 3 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR As políticas econômicas, juros e o controle da inflação no Brasil fortalecimento do mercado interno e aquecimento da economia sobre o grupo como um todo têm levado as taxas de variação dos preços de alimentos e bebidas a níveis muito acima da meta de inflação”7. Os serviços estão em segundo lugar, apresentando altas significativas, o que, também de acordo com o IPEA decorre das mudanças estruturais propiciadas pela distribuição de renda, redução do desemprego e aquecimento econômico. Estas questões estão diretamente relacionadas ao mecanismo de controle da inflação adotado pelo Brasil desde 1999: o Plano de Metas de Inflação. Este, pode-se dizer, possui como principal característica, além do estabelecimento de metas para o nível inflacionário, a tentativa de controle dos preços através uma política monetária de restrição de demanda agregada. Ou seja, a manipulação da taxa de juros básica buscando controlar a variação dos preços. Assim, toda vez que a expectativa de alta de preços ameaça superar as metas estabelecidas pelo Banco Central, a taxa Selic8 tende a ser elevada –o que, só neste ano, já ocorreu cinco vezes-9, com o objetivo de manter as expectativas da instituição. Outro instrumento utilizado pelo Banco Central para regular a inflação tem sido o controle do volume de moeda em circulação, através das chamadas “operações de mercado aberto”. Com este mecanismo, o BC atua trocando títulos da dívida pública às instituições financeiras por eventuais excessos informados pelos bancos, de moeda nacional ou estrangeira. Ou seja, trocam-se títulos públicos por reservas bancárias acumuladas ao longo do tempo. A posição atual do governo, no entanto, vem preocupando os que almejam a alteração da atual política monetária. Em entrevista no Palácio do Planalto a presidente, Dilma Rousseff, foi indagada sobre a esperança do governo de que a taxa de inflação faça, de fato, uma convergência para o centro da meta inflacionária - 4,5% ao ano – nos próximos anos. Dilma respondeu da seguinte forma: “[o governo] optou por manter a economia crescendo de forma consistente", embora num ritmo menor do que em 201010. Além disso, Dilma reforça a postura moderada – evitando ajustes bruscos – ao afirmar que: “Estamos fazendo o chamado pouso suave, com uma taxa de crescimento e de emprego adequadas para o país” 11. Outra dimensão fundamental sobre a utilização dos juros no controle da inflação é apresentada por Silvio Caccia Bava ao afirmar que: “A política dominante é combater a inflação com o aumento da taxa de juros. A proposta é frear a demanda, dificultar o consumo, gerar desemprego. É uma desaceleração da economia, uma pressão sobre os salários. Esta é a dimensão estratégica. Há também uma repercussão imediata, que é o aumento dos lucros para os detentores dos títulos da dívida pública”. Nesse sentido, entender a conexão entre os altos juros praticados para o controle da inflação e a perseguição por um elevado superávit primário pelo governo é fundamental. De acordo com Maria Lucia Fartorelli12 as altas taxas de juros acabam também impactando no crescimento acelerado da dívida pública – que aumentou em junho para R$ 4 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR As políticas econômicas, juros e o controle da inflação no Brasil 1,81 trilhão, segundo o Tesouro Nacional13 - . Além disso, prejudicam a distribuição de recursos para todas as áreas do orçamento, impedindo investimentos na economia real. Fartorelli ainda afirma que: “As operações de mercado aberto estão servindo para trocar dólares especulativos que ingressam no país, sem controle, por títulos da dívida pública que pagam os juros mais elevados do mundo”. Na opinião de Maria Lucia, tal mecanismo teria provocado megaprejuízos operacionais ao Banco Central − R$ 147 bilhões em 2009 e R$ 50 bilhões em 2010 −, o que representando um dano significativo ao patrimônio público14. Uma das questões levantada pelos críticos dos atuais mecanismos de política monetária reside, sobretudo, no aumento da dívida e seus desdobramentos. Em 2010, o pagamento de dívida pública brasileira alcançou 45% do orçamento da União15 - R$ 635 bilhões -, deixando que o restante fosse destinado às outros setores-chave como saneamento básico, transportes, urbanismo e cultura, que não não chegam a ter 1% da fatia – o saneamento deteve 0,04 e a cultura 0,06% -16 . No que tange às críticas do financiamento da dívida pública, Clemente Ganz17 e Arbulu Mendonça18 afirmam: “O fato é que a forma de financiamento da nossa dívida pública acaba premiando os aplicadores no curto prazo. Ao contrário da maioria dos países, nos quais a maior rentabilidade das aplicações tem como contrapartida aplicações em títulos de longo prazo, no Brasil, o aplicador ou o especulador tem alto retorno em aplicações de curtíssimo prazo”. Assim, de acordo com os autores, a política econômica e as políticas correlatas (fiscal, tributária e cambial) praticadas pelo Brasil deveriam ser entendidas na chave do desenvolvimento nacional amplo, estando subordinadas ao objetivo maior do desenvolvimento nacional e da distribuição da renda. Os efeitos desse modelo sobre o câmbio são descritos pelo IPEA19, ao afirmar que: “O cumprimento das metas estará sempre na dependência, em última instância, de condições internacionais favoráveis em termos dos fluxos de capitais para os países que adotam tal combinação de políticas. Caso contrário, delas emigram – em regra, de maneira abrupta – com efeitos deletérios sobre o câmbio. Uma vez desvalorizada a moeda local, as pressões inflacionárias intensificam-se, abortando, entre outras coisas, tentativas de implementar políticas monetárias mais hospitaleiras à expansão do produto e do emprego”. Com base nas análises dispostas é possível observar que as atuais políticas econômicas adotadas possuem limitações sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento e continuidade do crescimento do país no longo prazo. Tais assuntos estão diretamente relacionados aos altos juros do país –um dos maiores do mundo- como forma de controlar a inflação. Contudo, mesmo sendo alvo de várias críticas diante dos sucessivos aumentos da taxa Selic, o governo não tem demonstrado sinais de mudança nas posturas adotadas – aparentando certo contentamento com a condução da política monetária atual -. Do ponto de vista da política cambial, o real, continua se valorizando 5 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR As políticas econômicas, juros e o controle da inflação no Brasil tornando os produtos brasileiros mais caros e menos competitivos –com efeitos danosos sobre a indústria-. Do ponto de vista tributário, as parcelas do orçamento tem sido cada vez maiores na busca de conter a dívida pública, que por sua vez, permanece crescente. Central Este é um cenário que vem preocupando especialistas de diversas áreas por significar possíveis entraves à manutenção do crescimento do país diante da possibilidade de aceleração das deficiências apresentadas. No entanto, não há consenso no que deve ser feito para alterar o prognóstico preocupante de nossa economia. 12.Auditora Fiscal da Receita Federal desde 1982 e coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida e membro do CAIC (Comisión para la Auditoría Integral de Crédito Público) criada pelo Presidente Rafael Correa em 2007. Notas: 1.Disponível em: http://economia.estadao. com.br/especiais/pib-brasileiro-cresce-75-em-2010,117487.htm 2.Disponível em: http://economia.uol.com.br/ ultimas-noticias/redacao/2011/07/20/brasil-continua-com-a-maior-taxa-real-de-juros-do-mundo. jhtm 3.Disponível em: http://www.jb.com.br/economia/noticias/2011/07/19/desemprego-tem-menor-taxa-para-junho-desde-2002/ 9.Disponível em: http://www.noticiasfiscais. com.br/2011/07/20/taxa-selic-tem-quinta-alta-consecutiva-e-vai-a-125-ao-ano/ 10.Disponível em: http://www1.folha.uol.com. br/poder/948376-para-manter-crescimento-dilma-diz-que-nao-reduzira-ja-a-inflacao.shtml 11.Idem 9. 13.Disponível em: http://www.brasileconomico.com.br/noticias/divida-publica-federal-sobe-para-r-181-trilhao-em-junho_104586.html 14.Texto “A inflação e a dívida pública” presente na Edição 47 do Le Monde Diplomatique Brasil, de junho de 2011. 15.Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/07/494149.shtml 16.Disponível em: http://mais.uol.com. br/view/3g35rrkygbm5/a-fatia-dos-juros-04028D1B316CC4C11326?types=A 17.Diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - CDES. 18.Economista, técnico do DIEESE. 19.“Políticas Sociais − Acompanhamento e Análise”, datado de 12 de fevereiro de 2006. Idem 9. 4.Instituído em 20 de junho de 2006, composto pela diretoria do Banco Central 5.Disponível em: http://www.correiodoestado. com.br/noticias/copom-eleva-juros-a-nivel-mais-alto-desde-2009_118408/ 6.Disponível em: http://www.cni.org. br/portal/data/pages/FF808081314EB36201314F7A20182265.htm#Conteudo 7.Comunicado número 101 do IPEA, de julho de 2011. 8.Editada pela Circular 2.868/99 do Banco 6