64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 TROCAS DE SISTEMAS ESPECIALISTAS PARA SISTEMAS GENERALISTAS DE POLINIZAÇÃO EM MICONIEAE (MELASTOMATACEAE) 1 1 2, 1 1 Tássia G. Fendrich , Renato Goldenberg , Vinícius L. G. Brito *, Eric C. Smidt , Isabela G. Varassin 1 Departamento de Botânica, Centro Politécnico, UFPR Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Unicamp *[email protected] 2 Introdução Uma das previsões do paradigma das síndromes de polinização é de que as características florais são resultado de seleção convergente exercida por um único grupo de polinizadores, sendo a especialização um fim evolutivo. Entretanto estudos tem demonstrado que muitas espécies são generalistas, ou seja, interagem com muitas espécies de polinizadores ou grupos funcionais [1]. Em Melastomataceae a maioria das espécies possuem anteras poricidas que estão relacionadas a um sistema de polinização bastante especializado promovido por abelhas capazes de vibrar os músculos das asas [2]. Apesar disso, muitas espécies possuem anteras que se abrem através de fendas ou poros largos que facilitam a retirada dos grãos de pólen por outros visitantes [3]. Neste estudo, nós rastreamos o surgimento de características das anteras e das sementes na filogenia da tribo Miconieae na tentativa de entender as trocas evolutivas nos sistemas de polinização dentro deste grupo. Metodologia Dados sobre a morfometria das anteras e sementes foram coletados para 54 taxa pertencentes à tribo Miconieae (Fig. 1). Também foram observados os polinizadores de 20 espécies que foram categorizados em três grupos (abelhas, moscas e vespas) e relacionados com os dados morfométricos. As reconstruções de estado ancestral para as anteras e sementes foram feitas em um contexto filogenético usando sequencias nrITS, via método de Máxima Verossimilhança. Resultados e Discussão Oito espécies da tribo Miconieae foram polinizadas por visitantes de apenas um grupo funcional. Enquanto que cinco espécies receberam visitas de dois grupos funcionais e três espécies receberam visitas dos três grupos. Plantas visitadas apenas por abelhas ou abelhas e vespas (Hymenoptera) possuem anteras pequenas e seus frutos possuem mais sementes (que também são pequenas). Por outro lado, espécies polinizadas por moscas ou moscas e abelhas e/ou vespas possuem poros maiores e frutos com menos sementes. Espécies de um mesmo clado tendem a possuir os mesmos padrões em relação ao tamanho do poro e o número de sementes. Porém, flores com poros grandes evoluíram independentemente pelo menos três vezes dentro da tribo Miconieae e frutos com poucas sementes, pelo menos duas vezes. Figura 1. Flores de algumas espécies da tribo Miconieae aqui estudadas. A - Miconia jucunda, B - Leandra barbinervis, C - M. pusilliflora, D - M. latecrenata, E - L. regnellii, F - M. sellowiana. Setas indicam os poros das anteras. Conclusões As mudanças de anteras longas com pequenos poros para anteras pequenas e poros largos em Miconieae podem favorecer a generalização do sistema de polinização pela facilitação na liberação dos grãos de pólen podem. Nestas plantas, moscas e vespas que não são capazes de vibrar são incorporadas como polinizadores, diminuindo a importância das abelhas capazes de promover polinização por vibração (buzzpollination). Os dados sugerem que a evolução de sistemas generalistas ocorreu pelo menos três vezes dentro da tribo. Agradecimentos TGF, RG e VLGB e foram financiados, respectivamente pela REUNI/CAPES (bolsa mestrado), CNPq (processo 302325/2009-3, bolsa produtividade em pesquisa) e FAPESP (proc. 2010/51494-5, bolsa doutorado). Referências Bibliográficas [1] Waser, N. M.; Chittka, L.; Price, M.V.; Williams, N. M. & Ollerton, J. 1996. Generalization in pollination systems, and why it matters. Ecology 77: 1043-1060. [2] Renner, S. S. 1989. A survey of reproductive biology in neotropical Melastomataceae and Memecylaceae. Annals of the Missouri Botanical Garden 76: 496–518. [3] Varassin, I.G.; Penneys, D. S.; Michelangeli, F. A. 2008. Comparative anatomy and morphology of nectar-producing Melastomataceae. Annals of Botany 102: 899–909.