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Sentimento dos clientes com ferida crônica de um Ambulatório de enfermagem do
interior Paulista
Maria Valdete Soares Mendonça
Teresinha Ferreira da Silva
Graduandas de Enfermagem das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila.
Ciliana Antero G. da Silva Oliveira
Enfermeira, Mestre em Enfermagem.
Professora na Faculdades Integradas Teresa D’Ávila (FATEA).
RESUMO
Buscando uma forma de cuidar, além de uma simples troca de curativo, este trabalho
objetivou-se constatar os sentimentos vivenciados pelos clientes com feridas crônicas,
compreender seu processo de viver e identificar qual o tipo de exclusão psicossocial e
familiar sofre. Trata-se de um trabalho qualitativo descritivo realizado através de um
formulário com dados de identificação pessoal, sócio-demográficas, comorbidades e
com perguntas abertas referentes o tema exposto. Foram levantados através dos
prontuários vinte e quatro pacientes de todos os gêneros com idade de trinta a setenta e
cinco anos, sendo excluído dois por dificuldade de comunicação e um por não
comparecer no período da pesquisa, totalizando vinte e um entrevistados. Após
aprovação do CEP, a coleta foi realizada no período de novembro de 2011 a fevereiro
de 2012 em um Ambulatório de Feridas, localizado no interior paulista. A pesquisa
identificou 11 clientes do sexo feminino totalizando 52% e 10 clientes do sexo
masculino totalizando 48%. Constatou-se que os clientes sofrem descriminação familiar
e da sociedade, o processo de viver mudou devido à dor e odor constante,com relação a
não prática do lazer, a não realização do trabalho doméstico e formal. Conclui-se que há
exclusão psicossocial e familiar e uma auto - exclusão em relação à imagem e ao odor.
No que concerne à qualidade de vida ocorre mudança no processo de viver que reflete
na vida do paciente interferindo no processo saúde/doença.
PALAVRAS-CHAVE: Ferida crônica, Qualidade de vida, Sentimentos.
ABSTRACT
In pursuit of a new form of caring, beyond a mere change of bandages, this study aims
to discover the feelings experienced by patients with chronic wounds, comprehend their
process of living and identify which type of psychosocial or family exclusion they can
suffer. It is a qualitative descriptive study developed through a form with data regarding
personal identification, socio-demographics, comorbidities and with open questions
about the exposed subject. There have been raised through the medical records twenty-
four patients of all genders with ages around thirty to seventy-five, excluding two
because of communication issues and one by not being present during the research,
totalizing twenty-one interviewees. After approval from the CEP, the collection was
done in the period from november 2011 to february 2012 in a Wound Ambulatory,
located in São Paulo’s interior. The research identified 11 female clients totalizing 52%
and 10 male clients totalizing 48%. It was discovered that the clients suffer prejudice
from their families and society, the process of living changed because of constant pain
and odor, related to the lack of leisure, the abandonment of domestic and formal work.
It is concluded that there is a psychosocial and familiar exclusion and an auto-exclusion
related to the appearance and odor. Concerning quality of life there is a change on the
process of living that reflects on the patient’s life interfering on the health/sickness
process.
KEYWORDS: Chronic wound, Quality of life, Feelings.
INTRODUÇÃO
Na saúde de uma pessoa, atualmente, avalia-se além de sua capacidade física,
levando-se em conta seu contexto social e sua saúde mental. Uma das consequências
que atualmente se registra, associada ao aumento da longevidade das populações, é a
emergência de um número cada vez maior de pessoas acometidas com problemas de
saúde crônicas. As feridas crônicas encontram-se entre estes problemas (1).
No Brasil as feridas constituem um sério problema de saúde publica devido ao
grande número de doentes com alterações na integridade da pele, embora sejam
escassos os registros desses atendimentos (2).
Define-se como ferida qualquer alteração de integridade anatômica da pele,
resultante por algum tipo de trauma ou ainda:
“Uma ferida é representada pela interrupção da continuidade de um tecido
corpóreo, em maior ou em menor extensão, causada por qualquer tipo de trauma
físico, químico, mecânico ou desencadeada por uma afecção clínica, que aciona as
frentes de defesa orgânica para o contra ataque” (3).
Desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, as feridas constituem um
problema de saúde para o ser humano, pois geram repercussões que podem ser físicas,
associadas à dor, imobilidade e incapacidade; psicoemocionais, relacionadas à
autoestima e a autoimagem, e social, com a diminuição da qualidade de vida, originadas
por hospitalizações e afastamento do convívio familiar (4).
Essa condição implica, para alguns pacientes, profundas modificações no estilo
de vida, podendo na maioria das vezes levá-los à ruptura das relações sociais.
Frequentemente, o distanciamento entre os indivíduos é intensificado pela visão
estigmatizadora que a sociedade tem da pessoa com lesão, podendo ter repercussões no
cotidiano do portador de ferida crônica. Conviver com qualquer tipo de lesão interfere
nas relações sociais, no ambiente de trabalho e até mesmo no convívio familiar (5 ).
Consequentemente essas pessoas tornaram-se vulneráveis a diversas situações,
tais como, desemprego, abandono e até mesmo isolamento social, resultando em efeitos
indesejáveis para os projetos de vida. Essas situações provocam no ser humano
sentimentos como tristeza, ansiedade, raiva, vergonha, interferindo no seu estado de
equilíbrio, na autoimagem, e sua autoestima, tornando fenômeno relevante para o cuidar
em enfermagem.
A partir do século XX observou-se uma transição demográfica em nossa pirâmide
populacional: o envelhecimento da população. A essa transição soma-se outra, a do
perfil epidemiológico que vem trazendo consigo o predomínio de doenças crônicodegenerativas. E sob este aspecto ascende a população mais idosa aumenta
significantemente os riscos de desenvolver lesões se considerarmos os aspectos
fisiopatológicos e, consequentemente, a piora do processo de reparação tissular dessa
lesão (1).
Os avanços tecnológicos têm contribuído para um aumento significativo do
numero de pacientes que sobrevivem a múltiplos traumas e complexas doenças, porém,
deixa muitos, algumas vezes, impossibilitados em desenvolver suas atividades
cotidianas, comprometendo seu nível de saúde, expondo-os aos riscos de desenvolver
lesões cutâneas. O aumento da violência e traumas característicos do cenário brasileiro
leva ao surgimento de muitas feridas, e muitas o alto teor de gravidade. As
comorbidades tais como a Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial, Aterosclerose,
Tabagismo, Obesidade, Insuficiência Arterial e Venosa, dentre outras, são patologias
que aumentam a procedência das doenças crônicas, fator agravante no âmbito das
feridas.
Hoje existem grandes avanços tecnológicos e científicos no domínio do tratamento
das feridas e de produtos inovadores, poucos se dedicam no domínio de compreender
além do processo de cicatrização a dimensão da realidade vivida pelas pessoas com
feridas crônicas, bem com os aspectos bio-psico-sociais. São poucos os estudos
centrados nas experiências vividas pelas pessoas com úlceras venosas crônicas. O que
seria uma grande contribuição para a área da enfermagem(6).
A ferida é uma ruptura na pele, na membrana mucosa ou em qualquer outra
estrutura do corpo causada por um agente físico, químico ou biológico. Mediante a
intensidade do trauma, a ferida pode ser considerada superficial, ou grave, envolvendo
vasos sanguíneos mais calibrosos, músculos, nervos, fascias, tendões, ligamentos e
ossos. Podem ser agudas ou crônicas, sendo estas afetadas por condições preexistentes
como Diabetes Mellitus, má circulação, estado nutricional precário, imunodeficiência,
pressão e infecção. Referente ao estudo foi observado às patologias como: Diabete
Mellitus, Ulcera Venosa, Ulcera Arterial, Hanseníase associada à Elefantíase (1).
Com os avanços no tratamento das feridas permitiram uma evolução na
assistência as pessoas, promovendo resultados evidentes. Vários trabalhos de pesquisa
foram elaborados para identificar o melhor tratamento, porém, destaca-se a necessidade
de compreender o complexo processo de cicatrização, bem como, os aspectos bio-psicosocial que envolve esses indivíduos (7 ).
As concepções e praticas de saúde voltada ao cuidado não comportam mais um
olhar fragmentado que visa somente à doença. Busca-se uma pratica assistencial, de
acolhimento e respeito, para um ser com sentimentos e valores embasados na dignidade
humana. Neste olhar integralizado é possível perceber que as pessoas sofrem
psiquicamente por varias razões, dentre elas, pode-se destacar ter uma ferida crônica, a
qual compromete a imagem corporal (2).
Diante de uma sociedade que hipervaloriza a estética e a beleza, em que a
imagem corporal é relacionada à juventude, vigor, integridade e saúde.
A OMS Organização Mundial da Saúde definiu a saúde:
“Como completo estado de bem estar físico, mental e social, e não somente ausência
de enfermidades. Atualmente a saúde de uma pessoa a avalia-se alem de sua
capacidade física, levando-se em conta seu contexto social e sua saúde mental” (1).
Neste contexto, um estado de doença pode não apenas apresentar seus sintomas clínicos,
mas também alteração funcional e emocional que pode ser acompanhado por
deteriorização da condição geral do paciente (1).
Ainda segundo a mesma autora, ter uma ferida implica alterações nas funções
globais, tanto nas atividades de diária, quanto num aspecto psico-socio-economico.
Surgem problemas psicológicos, diminuindo a produtividade nas tarefas de casa e do
trabalho e, com efeitos, provocando um impacto econômico.
O comprometimento da qualidade de vida afeta o estado físico e o mental,
desencadeando, principalmente, a não socialização que favorece o isolamento,
principalmente devido às dificuldades na imobilização (8).
Conviver com a condição de ser portador de uma ferida crônica traz uma série
de mudanças na vida dos indivíduos e, consequentemente, de seus familiares (4).
A doença é, para qualquer pessoa, uma experiência dolorosa.Um acontecimento
que gera incertezas duvidas descrença, revolta, expectativa e esperança (5).
O cuidar do individuo significa estar atento a toda a sua dimensão enquanto ser
humano (2). Neste sentido é possível perceber que a fé e a religiosidade são capazes de
amenizar a angustia, sofrimento em relação às doenças crônica (9).
Estes fatores são capazes de influenciar o tratamento de uma ferida crônica,
crença em Deus ou em outras entidades sobrenaturais, muitas vezes as tomadas de
decisões são escolhida e embasada nestas crenças tais como: orações, freqüência da
Igreja, a prática de meditação são valores religiosos e espirituais que determinam
aspectos negativos que são mais facilmente enfrentados (1).
A crença religiosa constitui uma parte importante da cultura, dos princípios de
dos valores utilizados pelos pacientes paras dar forma a julgamentos e ao processamento
dessas informações (2).
A equipe de enfermagem deve esta preparada para estimular os indivíduos à fala
dos seus sentimentos, procurando orientá-los para possíveis mudanças que poderão
enfrentar no decorre de suas vidas enquanto portadores de ferida crônica (10).
Na perspectiva de experiênciar outras formas de cuidar de uma ferida, que não
se restrinja simplesmente a técnica de fazer ou trocar um curativo.
Com base a este principio temos como objetivos: Identificar os sentimentos
vividos dos clientes com ferida crônica; e como objetivo específico: Constatar os
sentimentos vivenciados dos clientes com ferida crônica. Compreender o processo de
viver do cliente com ferida crônica e identificar qual o tipo de exclusão
psico/social/familiar o portador de ferida crônica sofre.
METODOLOGIA
Como estratégia utilizada nesta e pesquisa, utilizamos o método descritivo com
abordagem qualitativa, foi utilizado o método de análise de BARDIN. A pesquisa foi
realizada em um ambulatório de feridas do interior paulista o qual atende varias
especialidade e um destes curativos de clientes com feridas agudas e crônicas, sob
administração de uma enfermeira.
A coleta de dados foi de novembro de 2011 a fevereiro de 2012, no primeiro
momento, conversamos com as estagiarias que trabalham no ambulatório, para
levantarmos os dados dos clientes, com relação ao tempo que faziam curativos, a faixa
etária e com relação a extensão da ferida. Dados esses que foram utilizados como
critério de inclusão. Com base nesses dados, fizemos uma busca nos prontuários em
nível de confirmação. Após esta segunda etapa, abordamos os clientes de forma
individual e os orientamos sobre os objetivos do estudo, e aqueles que concordaram em
participar da pesquisa, assinarão um termo de consentimento livre esclarecido de acordo
com as normas 196/96 de diretrizes e normas regulamentadora de pesquisa com
humanos em duas vias.
As entrevistas foram realizadas individualmente por meio de um formulário com
perguntas fechadas de caracterização pessoal, dados sócio/demográficos, comorbidades
e perguntas abertas relacionados ao tema exposto, as quais foram escritas, gravadas e
depois transcritas. Foram abordados os clientes de ambos os sexos, com idade entre 30 a
75 anos, que fazem curativos no ambulatório de feridas. Para garantir o anonimato dos
entrevistados os identificados pelas iniciais do sobrenome e numeração por ordem de
entrevista. Foram levantados 24 prontuários que se enquadraram na metodologia, sendo
que um participante não compareceu no período da pesquisa e dois não tinham
condições cognitivas de comunicação, totalizando vinte e um entrevistados.
Na análise dos dados ouvimos a gravação e transcrevemos na integra tudo que
foi relatado pelos entrevistados sem alterar nenhum item da fala, assim não se perdeu
nenhum tipo de argumentação do cliente.
Nas partes escritas foi feito uma leitura e sublinhado os itens mais importantes e
relacionado com os itens da gravação.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisa das Faculdades Integradas
Tereza D”Ávila Fatea, recebendo aprovação sob o número do protocolo 46/2011.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período determinado para a coleta de dados, por meio de consulta de vinte e
quatro prontuários, sendo que um não compareceu no período da pesquisa e dois não
tinham condições cognitivas para responder as questões, totalizando vinte e um
entrevistados.
Dos vinte e um entrevistados prevaleceu a maioria do sexo feminino, onze
mulheres totalizando (52%) e dez homens totalizando (48%), dos quais estão na faixa
etária com a idade de 40 anos (19%), 50 anos (38%), 60 anos (14%), e acima de 70
anos (9%).
No que refere ao estado civil encontramos doze (60%) que são casados, quatro
(20%) solteiros, três (15%) separados, um (5%) viúvo.
Entre os entrevistados um informa ser analfabeto, totalizando 5%, ensino
fundamental incompleto, dezesseis entrevistados totalizando (76%), um ensino
fundamental completo totalizando (5%), um ensino médio incompleto totalizando( 5%),
três de ensino médio completo totalizando (14%).
Relacionado ao tempo da ferida, foi caracterizado por grupos: grupo de três
meses a cinco anos totalizaram 12 pacientes (57%), grupo de seis a dez anos totalizaram
dois pacientes (9%), grupo de onze a quinze anos totalizaram dois pacientes (9%).
Grupos de dezesseis a vinte anos totalizaram dois pacientes (9%), grupo de 35 anos
totalizou um paciente (5%), grupo de cinquenta anos ou superior totalizaram um
paciente (5%).
Constatamos que a maioria dos entrevistados é do sexo feminino (52%)
contrapondo outra pesquisa que 22 (55%) é do sexo masculino, no que refere a faixa
etária dos participantes, há compatibilidades dos resultados acima dos 50 anos (2 ).
A escolaridade da população teve prevalência do ensino fundamental incompleto,
dezesseis (76%), Justificando um déficit de conhecimento a órgão disponível no
município e o adiamento em procurar tratamento ou orientação na fase aguda da ferida.
O que sugere controversa, no qual teve 52,5% de pessoas com ensino fundamental
completo (11).
Viver com a condição de uma ferida crônica, traz uma série de mudanças na vida
das pessoas e dos seus familiares, surgindo dificuldades que muitas vezes nem a pessoa,
a família, a enfermagem estão preparados para ajudar e compreender todos os aspectos
que envolvem este problema, e, consequentemente, levando a uma mudança de vida,
fazendo com que os portadores de feridas crônicas necessitem adaptar-se a uma nova
condição, acabando por desenvolverem reações psicológicas e emocionais tais como o
medo desesperança e isolamento social (12).
Entre 21 entrevistados constatamos que todos sofrem ou sofreram mudança no
processo de viver como: isolamento social, exclusão familiar, dificuldade na pratica das
atividades cotidiana, na pratica do laser, afastamento do trabalho formal. De todos os
sentimentos o que prevaleceu foi à tristeza devido à fixação do pensamento voltado à
ferida, a dor, odor, e fragilidade motora que impossibilita a locomoção, impedindo de
realizar as atividades diárias. Levando-nos a repensarmos as formas de abordagem a
estes pacientes enquanto acadêmicos e futuramente com enfermeiros.
O tempo longo de convivência com uma ferida crônica ocasiona uma série de
dificuldades a serem enfrentadas por seus portadores, e tais alterações envolvem os
diversos aspectos da vida desses individuo entre eles a sexualidade. A ferida crônica
caracteriza-se como processo complexo e patológico, o qual acarreta varias alterações
para o individuo portador, de ordem biológica, emocional, física, social, entre outras,
impondo limitações e necessidades peculiares á vida do mesmo (9).
Para alguns dos entrevistados a ferida é incurável, e se conforma em ter aprender
a que conviver com esta situação patologia a vida toda, outros acreditam em um ser
superior (Deus) e tem esperança na cicatrização da ferida mesmo que a cicatrização
seja lenta.
1- Há quanto tempo tem a ferida /faz tratamento?
Geralmente as doenças crônicas levam as pessoas a desgastes constantes, e estes
geralmente acontecem pelas suas características, quais sejam: dependência continua de
medicamentos além do fato de quase sempre ser incurável, irreversível e degenerativa
(2).
As inúmeras moléstias crônicas, a morbidez dessa doença requer do paciente
portador de feridas crônicas conviverem com o tratamento longo e rigoroso, com
sucessivas internações hospitalares e realização de varias trocas de curativo diariamente,
o que afeta negativamente a sua vida e de seus familiares (5).
Pode-se perceber que os pacientes entrevistados convivem longos períodos com a
ferida. A partir do momento que houve a ruptura da pele, mesmo que ocorra a
cicatrização, o paciente fica fragilizado físico e psicologicamente, pois qualquer
alteração no ritmo de vida pode abri-la novamente. A maioria dos entrevistados relata
um período de longo tempo, entre trinta a cinquenta anos.
G4 ...” cinco anos... fechou já uma vez e tornou a voltar...”
S12... “um ano, fechou e tornou a abrir em outro lugar...”
B21... “trinta e cinco anos... sara, fecha, abre de novo...”
J14... ”cinquenta e dois anos, brotou a ferida, cicatrizou e abriu de novo”...
2. Quais as dificuldades encontradas neste período?
A ferida crônica tem impacto negativo sobre a qualidade de vida dos pacientes,
ao representar a problemáticas quanto à dor em seus diferentes níveis, interfere na
mobilidade e apresenta caráter quase sempre recidivante (14).
O impacto de ter uma ferida crônica causa alteração do estilo de vida da
população. Viver com a condição de ter uma ferida acarreta uma série de
consequências, atingindo diretamente a qualidade de vida, uma vez que esta é marcada
pela subjetividade e envolve todos os componentes existenciais da condição humana
quer seja físico, psicológico, social, cultural e espiritual (12).
Viver com uma ferida crônica comporta alterações significativas na capacidade
das pessoas executarem as atividades de vida diária, bem como de desempenharem
outras atividades de caráter social (5).
Os indivíduos que possuem feridas estão marcados por lembranças das situações
que causaram estas lesões, tais como acidentes, queimaduras, agressões, doenças
crônicas, complicações de cirurgias. A ferida torna-se então a marca da perda e da dor,
mesmo quando ocorre a cicatrização (1).
G.1...” No trabalho, na família e na sociedade principalmente no transporte de ônibus,
escuto comentários desagradáveis em relação ao mau cheiro “está fedendo a rato
morto...”
M.2... “Não posso fazer nada, andar, ficar de pé, fiquei inútil, quando fico sentado por
muito tempo tenho que esticar as pernas por causa da dor”...
L.3 ...”Não ando um pouquinho já doi só ando de carro, fico o tempo todo dentro de
casa, não posso sair, fazer nada”....
A.4...”Não posso fazer serviço, carpi quintal, não posso ficar muito tempo de pé, antes eu
passeava agora só vou quando eu coloco bota ortopédica...”.
B.21...“De ficar parada, não posso andar, não posso ficar de pé que ela incha,
atrapalhou no meu trabalho eu tinha uma barraca na feira,tudo dependo dos outros é
horrível...”
3. Quais as limitações pessoais trazem a doença?
Observou-se no estudo que a dificuldade na realização das tarefas diária, da
realização de atividades físicas interfere na vida de todo os participantes. Conviver
com ferida crônica interfere nas relações sociais, no ambiente de trabalho, lazer e
convívio familiar. Consequentemente essas pessoas tornam-se vulneráveis a diversas
situações tais como desemprego, abandono e até mesmo isolamento social, resultando
em efeitos indesejáveis à vida (5).
As limitações sentidas no desenvolvimento das atividades são consistentes,
sendo que os efeitos nesta área, em particular nas pessoas mais novas, no auge de suas
atividades, sentiem-se limitadas por serem incapazes de manterem a posição do pé
durante muito tempo (9).
A ferida crônica caracteriza-se como um processo complexo e patológico o qual
acarreta várias alterações para o individuo portador, de ordem biológica, emocional,
física, social entre outras, impondo limitações e necessidades peculiares à vida do
mesmo (6).
G.1“... No trabalho, não tenho lazer, não posso jogar bola, e comida não posso
comer”....
M.2“... Estou impossibilitado, não posso fazer nada...”
B.L3“...Trabalhava, não posso mais, gostava de sair na casa dos colegas...”
A.J“... Não posso mais ficar muito tempo de pé, sai do serviço, deixei de
trabalhar de domestica, não ando mais de bicicleta...”
4. Quais os sentimentos relacionados à ferida?
Ao serem questionados sobre os sentimentos em relação a ter uma ferida
crônica, as respostas , na maioria, foram homogenias tais como: tristeza, inutilidade,
medo, dor, angustia, saudade, nervoso e esperança.
Uma doença mesmo que comum pode ser causadora de um sofrimento intenso,
esse fenômeno resulta de conflitos psíquicos envolvendo dimensões como a autoestima,
a capacidade lidar com as perdas (físicas funcionais ou outras e a percepção dos
processos relacionados). Podemos constatar que o exsudato intenso e o odor
desagradável, associados às ulceras, assumem uma importância e uma influencia
extremas no cotidiano das pessoas que possuem ulceras crônicas, tendo implicações
várias que se estendem ao domínio psicológico do indivíduo, podendo interferir no
modo como a pessoa se vê e avalia a si própria, bem como influenciar o modo como
que se relaciona com os outros (6).
Essas situações provocam no ser humano sentimentos de tristeza ansiedade,
raiva, vergonha, interferindo no seu estado de equilíbrio
na autoimagem e
autoestima,provocando outras situações como o desemprego, abandono e ate mesmo
isolamento social (5).
As mudanças provocam na vida do individuo uma alteração nos seus padrões e
estilo de vida passando a viver em função do problema abrindo mão das coisas que
mais gostavam das atividades que empenhavam (2).
L.5... “De dor de tristeza (ela chora) não tenho gosto para andar e comer tenho
esperança que vou melhorar se Deus quiser”...
R. 17... “Fico com medo de ver os outros falarem que cortou a perna”...
A. 19... “tristeza, inutilidade, não posso jogar bola, subir escada”...
Ainda segundo a autora, neste sentido, é possível perceber que a fé e a
religiosidade são capazes de amenizar a angustia, sofrimento em relação às doenças
crônicas. Souza complementa, que estes são fatores capazes de influenciar o
tratamento de uma ferida crônica, crença em Deus ou em outras entidades sobrenaturais.
Muitas vezes as tomadas de decisões são escolhida e embasada nestas crenças tais
como: orações, frequência da Igreja, a prática de meditação. Estes são valores religiosos
e espirituais que deternimam aspectos negativos que são mais facilmente enfrentados e
ultrapassados (4).
Durante a entrevista observamos que os sentimentos de tristeza prevalece em
todos os pacientes devido à fixação no pensamento voltado à ferida, pois devido a dor
e odor, a fragilidade motora, são impossibilitados de se locomover,
realizar as
atividades diárias.
Referente às mulheres percebemos que os padrões de beleza estabelecidos pela
sociedade agravam mais os problemas elas perdem o prazer de se cuidarem.
SG.10... “Não aceito, nasci normal, sou realizada como mãe, não aceito o jeito
que sou, que fiquei, não posso estudar, trabalhar, arrumar uma pessoa que me
queira que veja o meu interior, triste o negócio...”
M.13...“Muita tristeza, a gente fica muito limitada, não sente a vontade em lugar
nenhum. Queria fazer minhas unhas...”
A crença religiosa constitui uma parte importante da cultura, dos princípios de dos
valores utilizados pelos pacientes para dar forma a julgamentos e ao processamento
dessas informações complemente que estes são fatores capazes de influenciar o
tratamento de uma ferida crônica, crença em Deus ou em outras entidades sobrenaturais,
muitas vezes as tomadas de decisões são escolhida e embasada nestas crenças tais
como: orações, frequência na Igreja, a prática de meditação. Estes valores religiosos e
espirituais que deternimam aspectos negativos que são mais facilmente enfrentados e
ultrapassados (2 ) ( 9).
Durante a entrevista constatamos que todos seguem uma denominação religiosa e,
que para alguns deles Deus é sua esperança. Ao aproximar de pessoas acometidas por
ferida, é importante lembrar que temos á nossa frente um ser humano extremamente
fragilizado, com odores, secreções, com dores tanto no corpo quanto na alma.
Diante desta realidade, torna-se necessário dar oportunidade para que essas
pessoas possam expressar seus sentimentos, discutir suas dificuldades, e ter tempo para
escutar suas falas, seus tremores, preocupações e desafios.
5. A vida afetiva familiar sofre algum tipo de influencia (relacionados
ao odor etc.)?
A vida afetiva da maioria dos entrevistados muitas vezes se modifica.
Determinando, muitas vezes, a condição de isolamento.
As mudanças no estilo de vida provocada pela presença de uma ferida crônica na
família, muitas vezes, estão associadas alterações estruturais na dinâmica cotidiana, na
medida em que arcar com despesas relacionadas ao tratamento, representa alterações
orçamentárias para a maioria, pois a família brasileira, em grande parte, não possui
recursos financeiros satisfatório para o tratamento, o que pode representar corte nos
suplementos de outras necessidades (1).
O tratamento da ferida vai muito além da realização do curativo, uma ferida
pode não ser apenas uma lesão física, mas algo que, necessariamente, não precise de
estímulos sensoriais, pode representar uma marca ou uma magoa, uma perda irreparável
ou uma doença (5).
G.1... “Quanto à família, me afastei porque tenho medo que as pessoas sintam o
cheiro da ferida...”
M.2... “Dizem que estou fedendo em vida...”
AS.17 ...“Fico magoado com a esposa que me chama de velho aleijado...”
X. 18... ”Na família, a minha irmã não deixa colocar o pé no sofá quando vou
visitar os irmãos eles saem de casa...”
6. A vida sexual foi afetada?
Qualquer tipo de mudança ou distúrbio na imagem do corpo pode afetar de
forma negativa a sexualidade, ou seja, qualquer alteração que venha a alterar a imagem
do corpo, tornando-o diferente do corpo do outro, traz repercussões diretas para o
individuo (6).
A perturbação sentida na relação da intimidade resulta de um afastamento corpo
a corpo, na cama durante a noite, tal afastamento surge na tentativa de prevenir
qualquer contato acidental com o membro que comporta a ferida, que resulta no
despoletar de uma experiência dolorosa, ou da incapacidade de manter um
relacionamento sexual devido à presença da ferida (9).
Em comparação com o referencial teórico devido à dor e ao odor, os participantes
entrevistadas relatam que após o inicio da ferida optaram em não ter relação sexual e
até mesmo dormirem em camas separadas
AG.4... “Atrapalhou, me afastei, enquanto não sarar entrego nas mãos do
senhor”. Eu fiz um acordo com a esposa: ela comprou duas camas de solteiro
durmo numa cama ela na outra eu me sinto melhor até a ferida melhorar...”
J.7... “Sim deixou por causa do mau cheiro forte, causa desgosto...”
SA.17... “Interfere, tomo muito remédio fico ruim, a dor interfere, tudo o que vai
fazer dói...”
7. Sofre algum tipo de discriminação social. Se sim, qual?
Ao serem questionados se sofrem discriminação social houve divergências nas
respostas dos entrevistados alguns relatam suas experiências cotidianas no direito de ir e
vir.
A presença de estrutura suporte-apoio são identificadas como essenciais,
desempenhando um importante papel no desenvolvimento e manutenção do
sentimento de esperança na cura e no tratamento (9).
A aparência mostra-se presente no cotidiano do ser humano, porém a condição
da pessoa portadora de ferida crônica compreende uma ruptura da pele com presença de
secreção e odor alterado a imagem do indivíduo, essa condição explica para alguns
profunda modificação no estilo de vida podendo na maioria das vezes levar a ruptura
das relações sociais. Frequentemente o distanciamento entre os indivíduos é
intensificada pela visão discriminadora que a sociedade tem sobre a pessoa com lesão,
evidenciado pelo odor fétido (6).
O cuidado envolve momentos de atenção, zelo, responsabilidade, envolvimento,
afeto e acolhida, é importante refletir sobre a ética no que diz respeito às condutas no
processo de cuidar e não se restringe simplesmente à técnica de fazer ou trocar um
curativo (14).
SG10”... Perdi todos os meus amigos, as pessoas olham com descriminação e
dizem: ”Olha nossa que gorda” não entendem...”
G1“... no ônibus as pessoas pedem para abrir a janela devido ao odor, estava
chovendo muito, as janelas estavam fechadas, as pessoas começaram a falar que
tinha alguma coisa podre ali, então entrei na brincadeira com medo que eles
descobrissem que era eu, aquilo foi horrível!...”
G1”... Fui passar no medico do INSS, ele pediu para tirar a faixa para ver a
ferida, viu a ferida e disse que poderia ir embora recusou de fazer o curativo
novamente. Perguntei se ele ia colocar a faixa e ele me pediu que saísse da sala e
fosse colocar a faixa lá fora, disse que tinha um posto no bairro, isso foi
humilhante para mim, chegando lá a enfermeira ficou muito assustada dizendo
que nunca tinha visto uma ferida tão grande...”
RG.16 “...Não, só perguntam o que aconteceu...”
B.21”... nunca tive nenhum tipo de discriminação, quando começa a cheirar
mal,faço curativo...”
CONCLUSÃO
Conclui-se que quanto a exclusão psicossocial /familiar e uma auto exclusão em
relação à imagem e odor. Constatamos, que os entrevistados sofrem discriminação da
família e da sociedade, a qualidade de vida houve um declínio devido à dor e odor
constante, apresentando dificuldade no lazer, na locomoção, do trabalho doméstico e
formal.
Os grandes avanços tecnológicos e científicos no domínio do tratamento de
feridas especialmente produtos inovadores tem aumentado a expectativa de vida, porem
pouco se dedicam a compreender, além do processo de cicatrização, a dimensão da
realidade vivida pelas pessoas com feridas crônicas, bem com os aspectos bio-psicosociais.
Constatamos, através do relato dos entrevistados, que fatores situacionais tais
como conflitos familiares e morte de entes queridos interferiram no processo de
cicatrização e na reabertura da ferida. Comprovando que a cicatrização de uma ferida
vai além da realização do curativo, envolve também a parte psicológica do paciente.
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Responsável pela submissão
Terezinha Ferreira
[email protected]
Recebido em 31/01/2013
Aprovado em 18/03/2013
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