Sentimento dos clientes com ferida crônica de um Ambulatório de enfermagem do interior Paulista Maria Valdete Soares Mendonça Teresinha Ferreira da Silva Graduandas de Enfermagem das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila. Ciliana Antero G. da Silva Oliveira Enfermeira, Mestre em Enfermagem. Professora na Faculdades Integradas Teresa D’Ávila (FATEA). RESUMO Buscando uma forma de cuidar, além de uma simples troca de curativo, este trabalho objetivou-se constatar os sentimentos vivenciados pelos clientes com feridas crônicas, compreender seu processo de viver e identificar qual o tipo de exclusão psicossocial e familiar sofre. Trata-se de um trabalho qualitativo descritivo realizado através de um formulário com dados de identificação pessoal, sócio-demográficas, comorbidades e com perguntas abertas referentes o tema exposto. Foram levantados através dos prontuários vinte e quatro pacientes de todos os gêneros com idade de trinta a setenta e cinco anos, sendo excluído dois por dificuldade de comunicação e um por não comparecer no período da pesquisa, totalizando vinte e um entrevistados. Após aprovação do CEP, a coleta foi realizada no período de novembro de 2011 a fevereiro de 2012 em um Ambulatório de Feridas, localizado no interior paulista. A pesquisa identificou 11 clientes do sexo feminino totalizando 52% e 10 clientes do sexo masculino totalizando 48%. Constatou-se que os clientes sofrem descriminação familiar e da sociedade, o processo de viver mudou devido à dor e odor constante,com relação a não prática do lazer, a não realização do trabalho doméstico e formal. Conclui-se que há exclusão psicossocial e familiar e uma auto - exclusão em relação à imagem e ao odor. No que concerne à qualidade de vida ocorre mudança no processo de viver que reflete na vida do paciente interferindo no processo saúde/doença. PALAVRAS-CHAVE: Ferida crônica, Qualidade de vida, Sentimentos. ABSTRACT In pursuit of a new form of caring, beyond a mere change of bandages, this study aims to discover the feelings experienced by patients with chronic wounds, comprehend their process of living and identify which type of psychosocial or family exclusion they can suffer. It is a qualitative descriptive study developed through a form with data regarding personal identification, socio-demographics, comorbidities and with open questions about the exposed subject. There have been raised through the medical records twenty- four patients of all genders with ages around thirty to seventy-five, excluding two because of communication issues and one by not being present during the research, totalizing twenty-one interviewees. After approval from the CEP, the collection was done in the period from november 2011 to february 2012 in a Wound Ambulatory, located in São Paulo’s interior. The research identified 11 female clients totalizing 52% and 10 male clients totalizing 48%. It was discovered that the clients suffer prejudice from their families and society, the process of living changed because of constant pain and odor, related to the lack of leisure, the abandonment of domestic and formal work. It is concluded that there is a psychosocial and familiar exclusion and an auto-exclusion related to the appearance and odor. Concerning quality of life there is a change on the process of living that reflects on the patient’s life interfering on the health/sickness process. KEYWORDS: Chronic wound, Quality of life, Feelings. INTRODUÇÃO Na saúde de uma pessoa, atualmente, avalia-se além de sua capacidade física, levando-se em conta seu contexto social e sua saúde mental. Uma das consequências que atualmente se registra, associada ao aumento da longevidade das populações, é a emergência de um número cada vez maior de pessoas acometidas com problemas de saúde crônicas. As feridas crônicas encontram-se entre estes problemas (1). No Brasil as feridas constituem um sério problema de saúde publica devido ao grande número de doentes com alterações na integridade da pele, embora sejam escassos os registros desses atendimentos (2). Define-se como ferida qualquer alteração de integridade anatômica da pele, resultante por algum tipo de trauma ou ainda: “Uma ferida é representada pela interrupção da continuidade de um tecido corpóreo, em maior ou em menor extensão, causada por qualquer tipo de trauma físico, químico, mecânico ou desencadeada por uma afecção clínica, que aciona as frentes de defesa orgânica para o contra ataque” (3). Desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, as feridas constituem um problema de saúde para o ser humano, pois geram repercussões que podem ser físicas, associadas à dor, imobilidade e incapacidade; psicoemocionais, relacionadas à autoestima e a autoimagem, e social, com a diminuição da qualidade de vida, originadas por hospitalizações e afastamento do convívio familiar (4). Essa condição implica, para alguns pacientes, profundas modificações no estilo de vida, podendo na maioria das vezes levá-los à ruptura das relações sociais. Frequentemente, o distanciamento entre os indivíduos é intensificado pela visão estigmatizadora que a sociedade tem da pessoa com lesão, podendo ter repercussões no cotidiano do portador de ferida crônica. Conviver com qualquer tipo de lesão interfere nas relações sociais, no ambiente de trabalho e até mesmo no convívio familiar (5 ). Consequentemente essas pessoas tornaram-se vulneráveis a diversas situações, tais como, desemprego, abandono e até mesmo isolamento social, resultando em efeitos indesejáveis para os projetos de vida. Essas situações provocam no ser humano sentimentos como tristeza, ansiedade, raiva, vergonha, interferindo no seu estado de equilíbrio, na autoimagem, e sua autoestima, tornando fenômeno relevante para o cuidar em enfermagem. A partir do século XX observou-se uma transição demográfica em nossa pirâmide populacional: o envelhecimento da população. A essa transição soma-se outra, a do perfil epidemiológico que vem trazendo consigo o predomínio de doenças crônicodegenerativas. E sob este aspecto ascende a população mais idosa aumenta significantemente os riscos de desenvolver lesões se considerarmos os aspectos fisiopatológicos e, consequentemente, a piora do processo de reparação tissular dessa lesão (1). Os avanços tecnológicos têm contribuído para um aumento significativo do numero de pacientes que sobrevivem a múltiplos traumas e complexas doenças, porém, deixa muitos, algumas vezes, impossibilitados em desenvolver suas atividades cotidianas, comprometendo seu nível de saúde, expondo-os aos riscos de desenvolver lesões cutâneas. O aumento da violência e traumas característicos do cenário brasileiro leva ao surgimento de muitas feridas, e muitas o alto teor de gravidade. As comorbidades tais como a Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial, Aterosclerose, Tabagismo, Obesidade, Insuficiência Arterial e Venosa, dentre outras, são patologias que aumentam a procedência das doenças crônicas, fator agravante no âmbito das feridas. Hoje existem grandes avanços tecnológicos e científicos no domínio do tratamento das feridas e de produtos inovadores, poucos se dedicam no domínio de compreender além do processo de cicatrização a dimensão da realidade vivida pelas pessoas com feridas crônicas, bem com os aspectos bio-psico-sociais. São poucos os estudos centrados nas experiências vividas pelas pessoas com úlceras venosas crônicas. O que seria uma grande contribuição para a área da enfermagem(6). A ferida é uma ruptura na pele, na membrana mucosa ou em qualquer outra estrutura do corpo causada por um agente físico, químico ou biológico. Mediante a intensidade do trauma, a ferida pode ser considerada superficial, ou grave, envolvendo vasos sanguíneos mais calibrosos, músculos, nervos, fascias, tendões, ligamentos e ossos. Podem ser agudas ou crônicas, sendo estas afetadas por condições preexistentes como Diabetes Mellitus, má circulação, estado nutricional precário, imunodeficiência, pressão e infecção. Referente ao estudo foi observado às patologias como: Diabete Mellitus, Ulcera Venosa, Ulcera Arterial, Hanseníase associada à Elefantíase (1). Com os avanços no tratamento das feridas permitiram uma evolução na assistência as pessoas, promovendo resultados evidentes. Vários trabalhos de pesquisa foram elaborados para identificar o melhor tratamento, porém, destaca-se a necessidade de compreender o complexo processo de cicatrização, bem como, os aspectos bio-psicosocial que envolve esses indivíduos (7 ). As concepções e praticas de saúde voltada ao cuidado não comportam mais um olhar fragmentado que visa somente à doença. Busca-se uma pratica assistencial, de acolhimento e respeito, para um ser com sentimentos e valores embasados na dignidade humana. Neste olhar integralizado é possível perceber que as pessoas sofrem psiquicamente por varias razões, dentre elas, pode-se destacar ter uma ferida crônica, a qual compromete a imagem corporal (2). Diante de uma sociedade que hipervaloriza a estética e a beleza, em que a imagem corporal é relacionada à juventude, vigor, integridade e saúde. A OMS Organização Mundial da Saúde definiu a saúde: “Como completo estado de bem estar físico, mental e social, e não somente ausência de enfermidades. Atualmente a saúde de uma pessoa a avalia-se alem de sua capacidade física, levando-se em conta seu contexto social e sua saúde mental” (1). Neste contexto, um estado de doença pode não apenas apresentar seus sintomas clínicos, mas também alteração funcional e emocional que pode ser acompanhado por deteriorização da condição geral do paciente (1). Ainda segundo a mesma autora, ter uma ferida implica alterações nas funções globais, tanto nas atividades de diária, quanto num aspecto psico-socio-economico. Surgem problemas psicológicos, diminuindo a produtividade nas tarefas de casa e do trabalho e, com efeitos, provocando um impacto econômico. O comprometimento da qualidade de vida afeta o estado físico e o mental, desencadeando, principalmente, a não socialização que favorece o isolamento, principalmente devido às dificuldades na imobilização (8). Conviver com a condição de ser portador de uma ferida crônica traz uma série de mudanças na vida dos indivíduos e, consequentemente, de seus familiares (4). A doença é, para qualquer pessoa, uma experiência dolorosa.Um acontecimento que gera incertezas duvidas descrença, revolta, expectativa e esperança (5). O cuidar do individuo significa estar atento a toda a sua dimensão enquanto ser humano (2). Neste sentido é possível perceber que a fé e a religiosidade são capazes de amenizar a angustia, sofrimento em relação às doenças crônica (9). Estes fatores são capazes de influenciar o tratamento de uma ferida crônica, crença em Deus ou em outras entidades sobrenaturais, muitas vezes as tomadas de decisões são escolhida e embasada nestas crenças tais como: orações, freqüência da Igreja, a prática de meditação são valores religiosos e espirituais que determinam aspectos negativos que são mais facilmente enfrentados (1). A crença religiosa constitui uma parte importante da cultura, dos princípios de dos valores utilizados pelos pacientes paras dar forma a julgamentos e ao processamento dessas informações (2). A equipe de enfermagem deve esta preparada para estimular os indivíduos à fala dos seus sentimentos, procurando orientá-los para possíveis mudanças que poderão enfrentar no decorre de suas vidas enquanto portadores de ferida crônica (10). Na perspectiva de experiênciar outras formas de cuidar de uma ferida, que não se restrinja simplesmente a técnica de fazer ou trocar um curativo. Com base a este principio temos como objetivos: Identificar os sentimentos vividos dos clientes com ferida crônica; e como objetivo específico: Constatar os sentimentos vivenciados dos clientes com ferida crônica. Compreender o processo de viver do cliente com ferida crônica e identificar qual o tipo de exclusão psico/social/familiar o portador de ferida crônica sofre. METODOLOGIA Como estratégia utilizada nesta e pesquisa, utilizamos o método descritivo com abordagem qualitativa, foi utilizado o método de análise de BARDIN. A pesquisa foi realizada em um ambulatório de feridas do interior paulista o qual atende varias especialidade e um destes curativos de clientes com feridas agudas e crônicas, sob administração de uma enfermeira. A coleta de dados foi de novembro de 2011 a fevereiro de 2012, no primeiro momento, conversamos com as estagiarias que trabalham no ambulatório, para levantarmos os dados dos clientes, com relação ao tempo que faziam curativos, a faixa etária e com relação a extensão da ferida. Dados esses que foram utilizados como critério de inclusão. Com base nesses dados, fizemos uma busca nos prontuários em nível de confirmação. Após esta segunda etapa, abordamos os clientes de forma individual e os orientamos sobre os objetivos do estudo, e aqueles que concordaram em participar da pesquisa, assinarão um termo de consentimento livre esclarecido de acordo com as normas 196/96 de diretrizes e normas regulamentadora de pesquisa com humanos em duas vias. As entrevistas foram realizadas individualmente por meio de um formulário com perguntas fechadas de caracterização pessoal, dados sócio/demográficos, comorbidades e perguntas abertas relacionados ao tema exposto, as quais foram escritas, gravadas e depois transcritas. Foram abordados os clientes de ambos os sexos, com idade entre 30 a 75 anos, que fazem curativos no ambulatório de feridas. Para garantir o anonimato dos entrevistados os identificados pelas iniciais do sobrenome e numeração por ordem de entrevista. Foram levantados 24 prontuários que se enquadraram na metodologia, sendo que um participante não compareceu no período da pesquisa e dois não tinham condições cognitivas de comunicação, totalizando vinte e um entrevistados. Na análise dos dados ouvimos a gravação e transcrevemos na integra tudo que foi relatado pelos entrevistados sem alterar nenhum item da fala, assim não se perdeu nenhum tipo de argumentação do cliente. Nas partes escritas foi feito uma leitura e sublinhado os itens mais importantes e relacionado com os itens da gravação. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisa das Faculdades Integradas Tereza D”Ávila Fatea, recebendo aprovação sob o número do protocolo 46/2011. RESULTADOS E DISCUSSÃO No período determinado para a coleta de dados, por meio de consulta de vinte e quatro prontuários, sendo que um não compareceu no período da pesquisa e dois não tinham condições cognitivas para responder as questões, totalizando vinte e um entrevistados. Dos vinte e um entrevistados prevaleceu a maioria do sexo feminino, onze mulheres totalizando (52%) e dez homens totalizando (48%), dos quais estão na faixa etária com a idade de 40 anos (19%), 50 anos (38%), 60 anos (14%), e acima de 70 anos (9%). No que refere ao estado civil encontramos doze (60%) que são casados, quatro (20%) solteiros, três (15%) separados, um (5%) viúvo. Entre os entrevistados um informa ser analfabeto, totalizando 5%, ensino fundamental incompleto, dezesseis entrevistados totalizando (76%), um ensino fundamental completo totalizando (5%), um ensino médio incompleto totalizando( 5%), três de ensino médio completo totalizando (14%). Relacionado ao tempo da ferida, foi caracterizado por grupos: grupo de três meses a cinco anos totalizaram 12 pacientes (57%), grupo de seis a dez anos totalizaram dois pacientes (9%), grupo de onze a quinze anos totalizaram dois pacientes (9%). Grupos de dezesseis a vinte anos totalizaram dois pacientes (9%), grupo de 35 anos totalizou um paciente (5%), grupo de cinquenta anos ou superior totalizaram um paciente (5%). Constatamos que a maioria dos entrevistados é do sexo feminino (52%) contrapondo outra pesquisa que 22 (55%) é do sexo masculino, no que refere a faixa etária dos participantes, há compatibilidades dos resultados acima dos 50 anos (2 ). A escolaridade da população teve prevalência do ensino fundamental incompleto, dezesseis (76%), Justificando um déficit de conhecimento a órgão disponível no município e o adiamento em procurar tratamento ou orientação na fase aguda da ferida. O que sugere controversa, no qual teve 52,5% de pessoas com ensino fundamental completo (11). Viver com a condição de uma ferida crônica, traz uma série de mudanças na vida das pessoas e dos seus familiares, surgindo dificuldades que muitas vezes nem a pessoa, a família, a enfermagem estão preparados para ajudar e compreender todos os aspectos que envolvem este problema, e, consequentemente, levando a uma mudança de vida, fazendo com que os portadores de feridas crônicas necessitem adaptar-se a uma nova condição, acabando por desenvolverem reações psicológicas e emocionais tais como o medo desesperança e isolamento social (12). Entre 21 entrevistados constatamos que todos sofrem ou sofreram mudança no processo de viver como: isolamento social, exclusão familiar, dificuldade na pratica das atividades cotidiana, na pratica do laser, afastamento do trabalho formal. De todos os sentimentos o que prevaleceu foi à tristeza devido à fixação do pensamento voltado à ferida, a dor, odor, e fragilidade motora que impossibilita a locomoção, impedindo de realizar as atividades diárias. Levando-nos a repensarmos as formas de abordagem a estes pacientes enquanto acadêmicos e futuramente com enfermeiros. O tempo longo de convivência com uma ferida crônica ocasiona uma série de dificuldades a serem enfrentadas por seus portadores, e tais alterações envolvem os diversos aspectos da vida desses individuo entre eles a sexualidade. A ferida crônica caracteriza-se como processo complexo e patológico, o qual acarreta varias alterações para o individuo portador, de ordem biológica, emocional, física, social, entre outras, impondo limitações e necessidades peculiares á vida do mesmo (9). Para alguns dos entrevistados a ferida é incurável, e se conforma em ter aprender a que conviver com esta situação patologia a vida toda, outros acreditam em um ser superior (Deus) e tem esperança na cicatrização da ferida mesmo que a cicatrização seja lenta. 1- Há quanto tempo tem a ferida /faz tratamento? Geralmente as doenças crônicas levam as pessoas a desgastes constantes, e estes geralmente acontecem pelas suas características, quais sejam: dependência continua de medicamentos além do fato de quase sempre ser incurável, irreversível e degenerativa (2). As inúmeras moléstias crônicas, a morbidez dessa doença requer do paciente portador de feridas crônicas conviverem com o tratamento longo e rigoroso, com sucessivas internações hospitalares e realização de varias trocas de curativo diariamente, o que afeta negativamente a sua vida e de seus familiares (5). Pode-se perceber que os pacientes entrevistados convivem longos períodos com a ferida. A partir do momento que houve a ruptura da pele, mesmo que ocorra a cicatrização, o paciente fica fragilizado físico e psicologicamente, pois qualquer alteração no ritmo de vida pode abri-la novamente. A maioria dos entrevistados relata um período de longo tempo, entre trinta a cinquenta anos. G4 ...” cinco anos... fechou já uma vez e tornou a voltar...” S12... “um ano, fechou e tornou a abrir em outro lugar...” B21... “trinta e cinco anos... sara, fecha, abre de novo...” J14... ”cinquenta e dois anos, brotou a ferida, cicatrizou e abriu de novo”... 2. Quais as dificuldades encontradas neste período? A ferida crônica tem impacto negativo sobre a qualidade de vida dos pacientes, ao representar a problemáticas quanto à dor em seus diferentes níveis, interfere na mobilidade e apresenta caráter quase sempre recidivante (14). O impacto de ter uma ferida crônica causa alteração do estilo de vida da população. Viver com a condição de ter uma ferida acarreta uma série de consequências, atingindo diretamente a qualidade de vida, uma vez que esta é marcada pela subjetividade e envolve todos os componentes existenciais da condição humana quer seja físico, psicológico, social, cultural e espiritual (12). Viver com uma ferida crônica comporta alterações significativas na capacidade das pessoas executarem as atividades de vida diária, bem como de desempenharem outras atividades de caráter social (5). Os indivíduos que possuem feridas estão marcados por lembranças das situações que causaram estas lesões, tais como acidentes, queimaduras, agressões, doenças crônicas, complicações de cirurgias. A ferida torna-se então a marca da perda e da dor, mesmo quando ocorre a cicatrização (1). G.1...” No trabalho, na família e na sociedade principalmente no transporte de ônibus, escuto comentários desagradáveis em relação ao mau cheiro “está fedendo a rato morto...” M.2... “Não posso fazer nada, andar, ficar de pé, fiquei inútil, quando fico sentado por muito tempo tenho que esticar as pernas por causa da dor”... L.3 ...”Não ando um pouquinho já doi só ando de carro, fico o tempo todo dentro de casa, não posso sair, fazer nada”.... A.4...”Não posso fazer serviço, carpi quintal, não posso ficar muito tempo de pé, antes eu passeava agora só vou quando eu coloco bota ortopédica...”. B.21...“De ficar parada, não posso andar, não posso ficar de pé que ela incha, atrapalhou no meu trabalho eu tinha uma barraca na feira,tudo dependo dos outros é horrível...” 3. Quais as limitações pessoais trazem a doença? Observou-se no estudo que a dificuldade na realização das tarefas diária, da realização de atividades físicas interfere na vida de todo os participantes. Conviver com ferida crônica interfere nas relações sociais, no ambiente de trabalho, lazer e convívio familiar. Consequentemente essas pessoas tornam-se vulneráveis a diversas situações tais como desemprego, abandono e até mesmo isolamento social, resultando em efeitos indesejáveis à vida (5). As limitações sentidas no desenvolvimento das atividades são consistentes, sendo que os efeitos nesta área, em particular nas pessoas mais novas, no auge de suas atividades, sentiem-se limitadas por serem incapazes de manterem a posição do pé durante muito tempo (9). A ferida crônica caracteriza-se como um processo complexo e patológico o qual acarreta várias alterações para o individuo portador, de ordem biológica, emocional, física, social entre outras, impondo limitações e necessidades peculiares à vida do mesmo (6). G.1“... No trabalho, não tenho lazer, não posso jogar bola, e comida não posso comer”.... M.2“... Estou impossibilitado, não posso fazer nada...” B.L3“...Trabalhava, não posso mais, gostava de sair na casa dos colegas...” A.J“... Não posso mais ficar muito tempo de pé, sai do serviço, deixei de trabalhar de domestica, não ando mais de bicicleta...” 4. Quais os sentimentos relacionados à ferida? Ao serem questionados sobre os sentimentos em relação a ter uma ferida crônica, as respostas , na maioria, foram homogenias tais como: tristeza, inutilidade, medo, dor, angustia, saudade, nervoso e esperança. Uma doença mesmo que comum pode ser causadora de um sofrimento intenso, esse fenômeno resulta de conflitos psíquicos envolvendo dimensões como a autoestima, a capacidade lidar com as perdas (físicas funcionais ou outras e a percepção dos processos relacionados). Podemos constatar que o exsudato intenso e o odor desagradável, associados às ulceras, assumem uma importância e uma influencia extremas no cotidiano das pessoas que possuem ulceras crônicas, tendo implicações várias que se estendem ao domínio psicológico do indivíduo, podendo interferir no modo como a pessoa se vê e avalia a si própria, bem como influenciar o modo como que se relaciona com os outros (6). Essas situações provocam no ser humano sentimentos de tristeza ansiedade, raiva, vergonha, interferindo no seu estado de equilíbrio na autoimagem e autoestima,provocando outras situações como o desemprego, abandono e ate mesmo isolamento social (5). As mudanças provocam na vida do individuo uma alteração nos seus padrões e estilo de vida passando a viver em função do problema abrindo mão das coisas que mais gostavam das atividades que empenhavam (2). L.5... “De dor de tristeza (ela chora) não tenho gosto para andar e comer tenho esperança que vou melhorar se Deus quiser”... R. 17... “Fico com medo de ver os outros falarem que cortou a perna”... A. 19... “tristeza, inutilidade, não posso jogar bola, subir escada”... Ainda segundo a autora, neste sentido, é possível perceber que a fé e a religiosidade são capazes de amenizar a angustia, sofrimento em relação às doenças crônicas. Souza complementa, que estes são fatores capazes de influenciar o tratamento de uma ferida crônica, crença em Deus ou em outras entidades sobrenaturais. Muitas vezes as tomadas de decisões são escolhida e embasada nestas crenças tais como: orações, frequência da Igreja, a prática de meditação. Estes são valores religiosos e espirituais que deternimam aspectos negativos que são mais facilmente enfrentados e ultrapassados (4). Durante a entrevista observamos que os sentimentos de tristeza prevalece em todos os pacientes devido à fixação no pensamento voltado à ferida, pois devido a dor e odor, a fragilidade motora, são impossibilitados de se locomover, realizar as atividades diárias. Referente às mulheres percebemos que os padrões de beleza estabelecidos pela sociedade agravam mais os problemas elas perdem o prazer de se cuidarem. SG.10... “Não aceito, nasci normal, sou realizada como mãe, não aceito o jeito que sou, que fiquei, não posso estudar, trabalhar, arrumar uma pessoa que me queira que veja o meu interior, triste o negócio...” M.13...“Muita tristeza, a gente fica muito limitada, não sente a vontade em lugar nenhum. Queria fazer minhas unhas...” A crença religiosa constitui uma parte importante da cultura, dos princípios de dos valores utilizados pelos pacientes para dar forma a julgamentos e ao processamento dessas informações complemente que estes são fatores capazes de influenciar o tratamento de uma ferida crônica, crença em Deus ou em outras entidades sobrenaturais, muitas vezes as tomadas de decisões são escolhida e embasada nestas crenças tais como: orações, frequência na Igreja, a prática de meditação. Estes valores religiosos e espirituais que deternimam aspectos negativos que são mais facilmente enfrentados e ultrapassados (2 ) ( 9). Durante a entrevista constatamos que todos seguem uma denominação religiosa e, que para alguns deles Deus é sua esperança. Ao aproximar de pessoas acometidas por ferida, é importante lembrar que temos á nossa frente um ser humano extremamente fragilizado, com odores, secreções, com dores tanto no corpo quanto na alma. Diante desta realidade, torna-se necessário dar oportunidade para que essas pessoas possam expressar seus sentimentos, discutir suas dificuldades, e ter tempo para escutar suas falas, seus tremores, preocupações e desafios. 5. A vida afetiva familiar sofre algum tipo de influencia (relacionados ao odor etc.)? A vida afetiva da maioria dos entrevistados muitas vezes se modifica. Determinando, muitas vezes, a condição de isolamento. As mudanças no estilo de vida provocada pela presença de uma ferida crônica na família, muitas vezes, estão associadas alterações estruturais na dinâmica cotidiana, na medida em que arcar com despesas relacionadas ao tratamento, representa alterações orçamentárias para a maioria, pois a família brasileira, em grande parte, não possui recursos financeiros satisfatório para o tratamento, o que pode representar corte nos suplementos de outras necessidades (1). O tratamento da ferida vai muito além da realização do curativo, uma ferida pode não ser apenas uma lesão física, mas algo que, necessariamente, não precise de estímulos sensoriais, pode representar uma marca ou uma magoa, uma perda irreparável ou uma doença (5). G.1... “Quanto à família, me afastei porque tenho medo que as pessoas sintam o cheiro da ferida...” M.2... “Dizem que estou fedendo em vida...” AS.17 ...“Fico magoado com a esposa que me chama de velho aleijado...” X. 18... ”Na família, a minha irmã não deixa colocar o pé no sofá quando vou visitar os irmãos eles saem de casa...” 6. A vida sexual foi afetada? Qualquer tipo de mudança ou distúrbio na imagem do corpo pode afetar de forma negativa a sexualidade, ou seja, qualquer alteração que venha a alterar a imagem do corpo, tornando-o diferente do corpo do outro, traz repercussões diretas para o individuo (6). A perturbação sentida na relação da intimidade resulta de um afastamento corpo a corpo, na cama durante a noite, tal afastamento surge na tentativa de prevenir qualquer contato acidental com o membro que comporta a ferida, que resulta no despoletar de uma experiência dolorosa, ou da incapacidade de manter um relacionamento sexual devido à presença da ferida (9). Em comparação com o referencial teórico devido à dor e ao odor, os participantes entrevistadas relatam que após o inicio da ferida optaram em não ter relação sexual e até mesmo dormirem em camas separadas AG.4... “Atrapalhou, me afastei, enquanto não sarar entrego nas mãos do senhor”. Eu fiz um acordo com a esposa: ela comprou duas camas de solteiro durmo numa cama ela na outra eu me sinto melhor até a ferida melhorar...” J.7... “Sim deixou por causa do mau cheiro forte, causa desgosto...” SA.17... “Interfere, tomo muito remédio fico ruim, a dor interfere, tudo o que vai fazer dói...” 7. Sofre algum tipo de discriminação social. Se sim, qual? Ao serem questionados se sofrem discriminação social houve divergências nas respostas dos entrevistados alguns relatam suas experiências cotidianas no direito de ir e vir. A presença de estrutura suporte-apoio são identificadas como essenciais, desempenhando um importante papel no desenvolvimento e manutenção do sentimento de esperança na cura e no tratamento (9). A aparência mostra-se presente no cotidiano do ser humano, porém a condição da pessoa portadora de ferida crônica compreende uma ruptura da pele com presença de secreção e odor alterado a imagem do indivíduo, essa condição explica para alguns profunda modificação no estilo de vida podendo na maioria das vezes levar a ruptura das relações sociais. Frequentemente o distanciamento entre os indivíduos é intensificada pela visão discriminadora que a sociedade tem sobre a pessoa com lesão, evidenciado pelo odor fétido (6). O cuidado envolve momentos de atenção, zelo, responsabilidade, envolvimento, afeto e acolhida, é importante refletir sobre a ética no que diz respeito às condutas no processo de cuidar e não se restringe simplesmente à técnica de fazer ou trocar um curativo (14). SG10”... Perdi todos os meus amigos, as pessoas olham com descriminação e dizem: ”Olha nossa que gorda” não entendem...” G1“... no ônibus as pessoas pedem para abrir a janela devido ao odor, estava chovendo muito, as janelas estavam fechadas, as pessoas começaram a falar que tinha alguma coisa podre ali, então entrei na brincadeira com medo que eles descobrissem que era eu, aquilo foi horrível!...” G1”... Fui passar no medico do INSS, ele pediu para tirar a faixa para ver a ferida, viu a ferida e disse que poderia ir embora recusou de fazer o curativo novamente. Perguntei se ele ia colocar a faixa e ele me pediu que saísse da sala e fosse colocar a faixa lá fora, disse que tinha um posto no bairro, isso foi humilhante para mim, chegando lá a enfermeira ficou muito assustada dizendo que nunca tinha visto uma ferida tão grande...” RG.16 “...Não, só perguntam o que aconteceu...” B.21”... nunca tive nenhum tipo de discriminação, quando começa a cheirar mal,faço curativo...” CONCLUSÃO Conclui-se que quanto a exclusão psicossocial /familiar e uma auto exclusão em relação à imagem e odor. Constatamos, que os entrevistados sofrem discriminação da família e da sociedade, a qualidade de vida houve um declínio devido à dor e odor constante, apresentando dificuldade no lazer, na locomoção, do trabalho doméstico e formal. Os grandes avanços tecnológicos e científicos no domínio do tratamento de feridas especialmente produtos inovadores tem aumentado a expectativa de vida, porem pouco se dedicam a compreender, além do processo de cicatrização, a dimensão da realidade vivida pelas pessoas com feridas crônicas, bem com os aspectos bio-psicosociais. Constatamos, através do relato dos entrevistados, que fatores situacionais tais como conflitos familiares e morte de entes queridos interferiram no processo de cicatrização e na reabertura da ferida. Comprovando que a cicatrização de uma ferida vai além da realização do curativo, envolve também a parte psicológica do paciente. REFERÊNCIAS 1. Silva CT. Qualidade de vida: relato dos pacientes portadores de feridas submetidos ao tratamento de oxigenoterapia hiperbárica, Instituto de ciências biomédicas Abel Salazar universidade do porto, 2010. 2. Waidman MAP. et al. 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