A FILOSOFIA DO TESOURO: UMA CÉLULA DO TEMPO Corrér Adilson Roberto1 Secretaria de Estado da Educação Resumo: O projeto “A filosofia do Tesouro: Uma célula do tempo” destinou-se aos alunos do primeiro ano do ensino médio visando o desenvolvimento do amadurecimento estudantil, levando-os a criar conceitos de valores através dos questionamentos filosóficos “Quem sou eu?”, “De onde vim?”, “Pra onde vou?” na temática MEMÓRIA/TEMPO e a questão do “Bem” em Aristóteles. O envolvimento foi tanto que esse projeto não era mais do primeiro ano, se tornou conjunto de toda a unidade escolar, desde a préescola ao ensino médio. O despertar de um sonho e a materialização desse sonho na vivência filosófica, interdisciplinar e acadêmica de um grupo de ensinantes/aprendentes do primeiro ano de formação do Ensino Médio numa unidade escolar do Estado de São Paulo, de nome Dr. Samuel de Castro Neves, de localização urbana/rural na cidade de Piracicaba. Através dos primeiros encontros da disciplina filosofia, trabalhando temas: construção dos conceitos valores, memória e estrutura, relacionadas ao cotidiano estudantil além muros e; com a metodologia analise de casos, propôs-se a analise do caso próprio deles, que se tornaram referência, no ano anterior, 2008, no ranking do IDESP, Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo. No incentivo do debate entre “O que foram”, “O que são” e “O que serão”, eles propuseram a criação de um tesouro, cotidianamente conhecido como célula do tempo, onde depositariam seus trabalhos pesquisados e seus sonhos a serem realizados em longo prazo, que será aberto em 04/07/2016. Palavras-chaves: Valores, Memória, Planos e metas. Objetivo(s): Desenvolver o amadurecimento do caráter humano; Desenvolvimento do senso critico; Estudo de transição do humano infantil ao humano adulto; Contextualizar histórica e socialmente valores filosóficos; Criação do gosto e interesse pela leitura filosófica; Estabelecimento de uma ação concreta. Introdução: “Educar significa novas condições iniciais para a auto-organização das experiências da aprendizagem. Aprender é sempre descoberta do novo”. Hugo Assmann. O referencial teórico esta dividido em dois pilares: o primeiro, referente ao estimulo e incentivo, ligado a base pedagógica de Hugo Assmann, em especial, sobre os conceitos do reencantar a educação, a relação ensino-aprendizagem e o conceito de sociedade aprendente; o segundo, referente aos conceitos filosóficos, ligados as concepções do “ser essencial” em Aristóteles e o “ser existencial” em Rousseau. No processo de planejamento e primeiro diagnostico de 2009, constatou-se um alto índice de potencialidade, a ser direcionada, da expressividade do corpo discente do primeiro ano do ensino médio. 1 Graduado em Filosofia e Mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba, doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos, leciona na rede estadual da Educação do Estado de São Paulo como Professor de Educação Básica II, disciplinas Filosofia e Sociologia. Na vivência da equipe docente cria-se um fortalecimento do leque de ação entre a intertextualidade das disciplinas que compõem a formação do aluno (a) e á propiciarem caminhos de materialização da energia e descoberta do conhecimento discente. Mostrar o que aprendeu como ato de estimulo individual e coletivo de crescimento de vida intelectual acadêmica. Do dialogo docente: Um coração jovem contemporâneo não agüenta baixo estima! Na adolescência, período de buscas, os jovens voltam-se para si mesmos à procura de uma definição no estudo, na profissão, no amor, na referencia de ser e existir. As questões existenciais passam a ter grande significado: Quem sou eu? De onde vim? Para que estou aqui? Qual o sentido da vida? O que quero para minha vida? O que fazer? O que fazer? Essa questão, tanto para o aluno como para o professor fundamentou as ações iniciais do ano, na meta: Favorecer o estimulo e a estima das ações discentes como alicerce para construir um caminho. O que é bom não pode ser esquecido! Através do bom desenvolvimento dos alunos da oitava serie em 2008, que agora são o primeiro ano do Ensino Médio de 2009, poderíamos trabalhar uma ressonância a todos os alunos da escola. Uma visão que abrangera o passado, o presente e o futuro. Estimular mais o referencial de “ser bons”, continuar os caminhos e estimular os demais. Metodologia: A escola esta inserida na junção de dois bairros, Santana e Santa Olímpia, onde predominam a tradição de descendentes tiroleses, região Norte da Itália. Dos primeiros encontros da disciplina filosofia, trabalhando temas: construção dos conceitos valores, memória e estrutura relacionadas ao cotidiano estudantil. Iniciamos com o questionamento do “Quem sou?” na condução de analise do nome de cada um. Valorizando o ato e, através do nome completo, encaminhamos “de onde vim?” para uma analise do histórico de cada um, de sua arvore genealógica e dos valores da vivência em grupo. Estudamos Platão e o “mito da caverna” no desejo do despertar para o conhecimento e a busca. Na seqüência, um desafio de entrevista a uma pessoa com mais de 50 anos de idade, com o tema: “No meu tempo...” (foi colocado um estimulo de quem conseguiria encontrar o mais idoso). Os entrevistados: Florinda Correr Forti 60 Anos Vicentina Carlos 68 Anos Margarida Gobetti Vitti 73 Anos Anastacia Vitti Forti 85 Anos Osório Tavares; Sr. Tavares 82 Anos Evaristo Correr 69 Anos Isabel Vasca Vitti 70 Anos Claudio Stenico 55 Anos Lurdes Degaspari Correr 61 Anos Ana 52 Anos Augusto Vicentini Neto 87 Anos Joselina Santos Da Silva 65 Anos Tarciso Stenico 79 Anos Joana Araújo 58 Anos Paulino Vitti Degaspari 85 Anos Henrique Pompermayer 91 Anos Maria De Lurdes 59 Anos Antonio Matos 51 Anos Maria Augusta 60 Anos Dona Maria 66 Anos Luis Correr Filho 81 Anos Socializamos as entrevistas e a experiência no “ouvir” as pessoas entrevistadas e, como fechamento, uma relação interpretativa entre o mito da caverna, a entrevista e Eisntein: “Cem vezes todos os dias lembro a mim mesmo que minha vida, interior e exterior, depende dos trabalhos de outros homens, vivos ou mortos, e que devo esforçar-me a fim de devolver na mesma medida que recebi.” Albert Einstein Somos repletos de história, somos repletos de vida, somos homens e mulheres, somos memória. Esse debate fechava os dois questionamentos “quem sou e de onde vim?”, ficando como proposta “pra onde vou?” Melhor, “Como devolverei?” Eu, pessoa: As notas médias das escolas da rede estadual de ensino de Piracicaba tiveram aumento no ranking do Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo) 2008, divulgado ontem pela Secretaria da Educação, em relação a 2007. O índice, que vai de zero a dez, tem intenção de avaliar a qualidade do ensino e o desempenho das escolas no cumprimento das metas da secretaria. A boa notícia desta edição da avaliação ficou com a escola Dr. Samuel de Castro Neves, localizada no bairro Santana, que obteve as maiores notas na 8ª série (5,60) e na 3ª série do ensino médio (3,33). No ranking anterior, a escola havia alcançado o índice de 3,80 e 3,35, respectivamente. (Jornal de Piracicaba, internet, 19/03/2009) Aí que surge a idéia, dentre eles, gradativamente, de construir um tesouro, enterrá-lo na escola, no dia do patrono e abrir daqui a sete anos. Tudo partiu das idéias deles e tudo era motivo de estimulo: reunião para decidir o tempo do tesouro; formato, tipo e material da caixa do tesouro, quem faria a caixa do tesouro, carta de agradecimento ao pai da aluna que fez a caixa, assinatura da carta, pintura da caixa (todos participaram dessa arte), o que iria à caixa, convite aos professores para participarem, contato com coordenadora e direção para as fotos de todos os alunos, registro dos eventos. É tradicional a comemoração do dia do patrono e, nesse ano de 2009, o diferencial foi o modo como toda a comunidade estudantil participou desse projeto. Conseguimos finalizar o tempo com o estudo em Aristóteles em sua metafísica, das causas do “ser”, o “habito” de buscar o bem, conceito de felicidade e a essência. Resultados: Alunos estimulados; Sensibilização para o gosto de estudar e participar do grupo escolar; Superação das dificuldades de expressão; Participação dos alunos de forma potencial em seus níveis; Interação de toda Escola na construção do projeto; Criatividade na pesquisa, elaboração e apresentação dos trabalhos; Construção da apresentação do projeto em Power point. Figura 1 Montagem e pintura do tesouro Figura 2 Encerramento do evento Considerações finais: O projeto foi concluído com êxito. O objetivo de estimular a vivência estudantil se tornou rizomático. Após a conclusão, ficou o clima de expectativa, que na tradução pedagógica, se lê como curiosidade. Momento excepcional para criar caminhos de ensino/aprendizagem. Através desse projeto proporcionou-se, na equipe docente, a criação de novos projetos em suas áreas específicas. O encerramento do projeto se tornou um inicio: primeiro o cronos, o cronometro, a contagem regressiva para o dia da abertura do tesouro em 04/07/2016; o segundo é o kairós, a vivência desse período e a formas para manter acesa a brasa sobre a cinza. Fica o alerta, pois no tempo contemporâneo, há o movimento do imediatismo e superficialidade que envolve o ser humano. A memória esta em foco. Criar momentos de envolvimento é trabalhoso, esquecer rápido, nos dias de hoje é fato. Agradecimentos: É essencial o registro do agradecimento a equipe docente, que proporcionou o seu maximo envolvimento na construção desse projeto. Todos, sem exceção, tomaram como “seu” o projeto. Cada um colocou o seu toque, tornando real o pronome possessivo “nossa escola”. Uma vivência gratificante, como profissional e como pessoa. E a direção escolar e a coordenação pedagógica que apoiaram e incentivaram esse trabalho docente. A parte do todo e o todo da parte, um trabalho educacional efetivo para um mundo melhor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSMANN, H.. Reencantar a Educação: rumo à sociedade aprendente. Ed. Vozes, RJ, 1998. NICOLA, U.. Antologia ilustrada de filosofia: das origens a idade moderna, Ed. Globo, São Paulo, 2005. SÃO PAULO (ESTADO) SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Caderno do professor: Filosofia, ensino médio – 1ª série, volume 1, Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini, et alli, São Paulo, 2009. Escola Estadual Dr. Samuel de Castro Neves. In http://www.jpjornal.com.br/capa/default.asp?acao=viewnot&idnot=88687&cat=1. Acesso em 19/03/2009. Resultado SARESP 2008. In: http://saresp.edunet.sp.gov.br/2008/SARESP2008/Arquivos/Boletim/468EF3EM/021180_B.p df. Acesso em 19/03/2009.