A A importância da avaliação nutricional em crianças internadas na enfermaria pediátrica em hospitais municipais de São Paulo Artigo Original A importância da avaliação nutricional em crianças internadas na enfermaria pediátrica em hospitais municipais de São Paulo The importance of nutritional assessment of pediatric patients admitted in hospitals in São Paulo Eliene Novais Oliveira1 Larissa Nayla Satomi Nishimura1 Lene Garcia Barbosa2 Unitermos: Avaliação nutricional. Criança. Hospitais. Keywords: Nutritional assessment. Child. Hospitals. Endereço para correspondência: Lene Garcia Barbosa Universidade Anhembi Morumbi – São Paulo - Brasil Rua Dr. Almeida Lima, 1.134 – Mooca – São Paulo, SP, Brasil – CEP: 03164-000. E-mail: [email protected] Submissão: 17 de janeiro de 2015 Aceito para publicação: 21 de fevereiro de 2015 1. 2. RESUMO Introdução: A avaliação nutricional de crianças internadas é fundamental para uma melhor condução do tratamento clínico e nutricional. Este estudo verificou a existência ou não da avaliação nutricional em dois hospitais municipais de São Paulo, sendo um deles ligado ao ensino e o outro não. Além disso, também foi alvo desse estudo o profissional de saúde que realizou essa avaliação nutricional e os resultados da mesma. Assim, enfatizou-se a importância do acompanhamento nutricional durante o período de internação e, principalmente, no atendimento pediátrico. Método: Avaliação de prontuários de pacientes de ambos os sexos, entre zero e 12 anos, internados na enfermaria pediátrica de dois hospitais municipais de São Paulo, atendidos pelos médicos dessas Instituições no período de 1 a 31 de março de 2012. Resultados: Verificamos que apenas 76 pacientes dos 207 avaliados, o que equivale a 36,71%, possuíam alguma forma de avaliação do estado nutricional durante a internação e que 50% destas foram realizadas por nutricionistas. Conclusões: Apesar da avaliação nutricional ser obrigatória de qualquer avaliação pediátrica segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, infelizmente, ao final desse estudo, concluímos que ela está sendo negligenciada nos dois hospitais municipais de São Paulo que participaram da pesquisa. ABSTRACT Introduction: Nutritional assessment of hospitalized children is fundamental to better conduct the clinical and nutritional treatment. This study verified the existence or not of nutritional assessment in two municipal hospitals of São Paulo, one linked to education and the other not. Furthermore, this study was also targeted the health professional who performed this nutritional assessment and the results of it. Thus emphasized the importance of nutritional counseling during the hospital stay and especially in pediatric care. Check whether or not the nutritional assessment, the professional who conducted and the result of children hospitalized in the ward of two municipal hospitals of São Paulo, one linked to education and other not, thus emphasizing the importance of nutritional counseling during hospitalization, especially in pediatric care. Methods: Assessment records of patients of both sexes, between zero and 12 years old, hospitalized in the pediatric ward of two municipal hospitals of São Paulo, attended by doctors of these institutions in the period of 1 March 1 to March 31 of 2012. Results: We found that only 76 of the 207 patients assessed, which equals 36.71% had some form of assessment of nutritional status during hospitalization and that 50% of these assessments was made by nutritionists. Conclusions: Despite the nutritional assessment is mandatory for any pediatric examination according to the Brazilian Society of Pediatrics, unfortunately, at the end of this study, we conclude that it is being neglected in the two municipal hospitals of São Paulo in the survey. Médica formada pela Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Mestre em Biotecnologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, médica pediatra e endocrinologista da disciplina de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM); Docente do curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi; Professora convidada do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC, São Paulo, SP, Brasil. Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (1): 71-5 71 Oliveira EN et al. INTRODUÇÃO da eficácia muscular e da reserva funcional levando à insuficiência respiratória2. Desde o nascimento de uma criança, a consulta de puericultura é realizada com atenção em focos como: desenvolvimento neuropsicomotor, social e afetivo, vacinação, identificação de maus-tratos, segurança e proteção contra acidentes, mas, principalmente, crescimento físico e nutrição. A avaliação e diagnóstico do estado nutricional da criança fazem parte da análise realizada pelo pediatra e as curvas de crescimento segundo estatura por idade e sexo estão da Caderneta de Saúde da Criança do Ministério da Saúde1,2. A triagem e avaliação nutricional são processos sistemáticos que, por meio da anamnese nutricional, exame físico, história dietética e exames laboratoriais, representam o primeiro passo para uma assistência nutricional adequada. Reconhecida pelo Ministério da Saúde, foi exigida a implantação de protocolos para pacientes internado no Serviço Único de Saúde (SUS) e, a cada 10 dias de internação, uma nova avaliação nutricional deve ser realizada3. As avaliações nutricionais não visam apenas determinar aquelas crianças que já apresentam alguma alteração nutricional, mas sim, as que apresentam risco nutricional elevado para tal. O risco nutricional é avaliado pela combinação do estado nutricional atual e da gravidade da doença e está relacionado com o aumento da morbimortalidade. Quanto mais precocemente identificado o risco nutricional, mais precocemente será realizada a intervenção nutricional primária, evitando, assim, a instalação definitiva da desnutrição e suas consequências4. Durante o período de internação, a avaliação nutricional não seria menos importante: é obrigatória a realização da avaliação nutricional do paciente pediátrico hospitalizado, de acordo com o Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria, principalmente após a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral ter promovido o Inquérito Brasileiro de Avaliação Hospitalar - IBRANUTRI, em 1996 e identificado dados alarmantes: 48,1% de desnutridos em pacientes de hospitais públicos brasileiros, sendo 12,6% desnutridos graves e 35,5% desnutridos moderados. Apesar de todos os alertas, o IBRANUTRI realizado 5 anos após (2003) ainda acusou 50% de desnutridos em pacientes hospitalizados nos hospitais públicos brasileiros, demonstrando que, infelizmente, para os profissionais da saúde, a manutenção e recuperação do estado nutricional dos pacientes ainda parece não fazer parte da terapêutica. Mesmo com a existência de inúmeros estudos, como o IBRANUTRI de 1996 e 2001, “Avaliação e Triagem Nutricional” (Projeto Diretrizes) de 2011, demonstrando o valor e a importância da triagem e avaliação nutricional durante a admissão e o período de internação hospitalar, em muitos serviços, elas são negligenciadas, podendo levar ao desenvolvimento de complicações durante a internação, períodos prolongados de permanência hospitalar e aumento da morbimortalidade. O comprometimento do estado nutricional é conhecido por ter um impacto importante sobre o curso de doenças subjacentes5,6. A desnutrição proteico-calórica (DPC) em crianças menores de 5 anos de idade, apesar de sua redução progressiva global, continua sendo um importante problema de saúde pública dos países em desenvolvimento. Trata-se de um termo que descreve uma classe de distúrbios clínicos que variam em graus e combinações de deficiência de proteínas e energia e tem origem multifatorial. Essa doença é a associação de fatores como processos infecciosos, pobreza, baixa ingestão calórica e proteica1. Períodos prolongados de permanência hospitalar estão associados a doenças mais graves e complexas e, consequentemente, a maior exposição à má nutrição intra-hospitalar e a bactérias intra-hospitalares multirresistentes, piorando cada vez mais o prognóstico do paciente e aumentando sua morbimortalidade7. Atualmente, verificamos o aumento mundial do sobrepeso/obesidade. Quando estudamos a obesidade, podemos notar que sua causa não tem um fator único e sim, fatores múltiplos e heterogêneos (ambientais, desordens endocrinológicas, fatores psicológicos, genéticos, etc) que resultam nesse fenótipo. Tanto a desnutrição quanto a obesidade podem ser diagnosticadas pelas medidas antropométricas, como, por exemplo, pelo cálculo do índice de massa corporal (IMC). Os valores pediátricos do IMC devem ser colocados na curva de IMC e avaliados de acordo com os Z escore8. Dentre as complicações mais comuns da obesidade, podemos encontrar casos de discriminações por seus pares, bullying, menor aceitação no ambiente escolar, isolamento, menarca precoce, pseudotumor cerebral, hipertrofia cardíaca, morte súbita, doença coronariana isquêmica, deslizamento epifisário da cabeça do fêmur, resistência à insulina, hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, gota, esteatose hepática, doença do ovário policístico2. As curvas de avaliação do estado nutricional atualmente foram padronizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2006, e têm como parâmetros: o comprimento ou estatura, peso, IMC, circunferência braquial, circunferência craniana, dobra tricipital, dobra subescapular, peso/estatura (WHO, 2006)9. Além das curvas padronizadas pela OMS, existem as avaliações subjetivas que podem ser aplicadas por qualquer membro da equipe de saúde. Estas têm como indicadores nutricionais, interpretação de sinais e sintomas clínicos e exame físico do paciente. Em relação ao sistema respiratório, os obesos têm maior tendência à hipoxia crônica devido ao aumento da demanda ventilatória, do esforço respiratório, da diminuição Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (1): 71-5 72 A importância da avaliação nutricional em crianças internadas na enfermaria pediátrica em hospitais municipais de São Paulo Este estudo teve como objetivo verificar a existência ou não da avaliação nutricional nas primeiras 48-72 horas pós-admissão em 2 hospitais do município de São Paulo, analisar as possíveis intervenções feitas para correção no déficit nutricional e verificar qual profissional realiza essa avaliação nutricional nas crianças internadas na enfermaria pediátrica. Tabela 1 – Principais resultados referentes ao levantamento dos prontuários. Variável Sexo Feminino Masculino Hospital A Hospital B Total 60 (46,51%) 69 (53,48%) 37 (47,43%) 41 (52,56%) 97 (46,85%) 110 (53,14%) ___ 53 (67,94%) 17 (21,79%) 5 (6,41%) 3 (3,84%) 3 (1,44%) 142 (68,59%) 43 (20,77%) 16 (7,72%) 3 (1,44%) 71 (91,02%) 7 (8,90%) 76 (36,71%) 131 (63,28%) 5 (7,04%) 5 (6,57%) 52 (73,23%) 12 (16,90%) 2 (2,81%) 56 (73,68%) 13 (17,10%) 2 (2,63%) Idade Recém-nascido 3 (2,32%) Lactente 89 (68,99%) Pré-escolar 26 (20,25%) Escolar 11 (8,52%) Adolescente ___ Avaliação Nutricional Sim 5 (3,87%) Não 124 (96,12%) Resultado da Avaliação < Escore-z -2 ___ ≥ Escore-z -2 e ≤ Escore-z +1 4 (80%) ≥ Escore-z +1 1 (20%) Z entre +2 e 0 ___ MÉTODO Trata-se de um estudo transversal, realizado por meio de revisão padronizada dos prontuários médicos de pacientes de ambos os sexos, entre 0 e 12 anos, internados na enfermaria pediátrica de dois hospitais municipais de São Paulo (A “não ligado ao ensino”, B - “ligado ao ensino”), atendidos pelos médicos dessas instituições no período de 1/3/2012 a 31/3/2012. Foram verificados nos prontuários o sexo dos pacientes, a idade, o motivo de internação, se houve ou não avaliação nutricional, se sim, por quem foi realizada, o resultado dessa avaliação nutricional, se houve alguma intercorrência durante a internação, data de entrada, data da alta e quantos dias cada paciente ficou hospitalizado. Os prontuários foram verificados manualmente e foram buscadas, variantes como peso, altura, a relação entre elas, classificação nutricional e curvas de crescimento. Foram excluídos do trabalho, pacientes com internação anterior à 1/3/2012 e que não receberam alta hospitalar até 31/3/12, internados na UTI durante o tratamento, cuja terapêutica foi cirúrgica e alimentação por outra via que não a oral. classificadas em outra parte – 6,69%, asma – 3,34%), seguidas pelas doenças do sistema digestório (diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível – 6,69%), pelas doenças do sistema geniturinário (infecção do trato urinário – 2,39%) e por outras afecções – 2,92%. Nenhuma criança apresentou desnutrição ou obesidade como causa principal de internação. A coleta de dados foi realizada pelas análises, comparações, discussões e conclusões: obtidas do levantamento dos prontuários e das literaturas publicadas sobre o temário: avaliação nutricional em crianças internadas na enfermaria pediátrica de Hospitais Municipais de São Paulo, resultando em discussão dos resultados. Apesar de todo o conhecimento em relação à importância da avaliação nutricional, no hospital A, apenas 4 dos 130 pacientes hospitalizados tinham avaliação nutricional. Já no hospital B, 72 pacientes dos 79 possuíam avaliação nutricional. No total, entre os dois hospitais, apenas 36,4% dos pacientes tiveram avaliação nutricional. Dessas 76 avaliações nutricionais nos dois hospitais, 38 foram realizadas por nutricionistas, 37 por médicos e 1 por ambos. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) das Instituições pesquisadas e pelo CEP da Universidade Anhembi Morumbi. A altura dos pacientes não constava em muitos dos prontuários avaliados. Devido a isto, levamos em consideração que o diagnóstico nutricional destes foi realizado avaliandose o peso para idade, o que sabidamente não é o índice antropométrico mais recomendável para a avaliação do excesso de peso entre crianças. Verificamos que, no Hospital A, 80% das crianças que receberam avaliação nutricional, ou seja, 4 pacientes apresentavam peso adequado para a idade e 20%, o que representa apenas 1 criança, teve o diagnóstico de peso elevado. Já, no Hospital B, 5 dos 71 (6,41%) pacientes avaliados apresentavam baixo peso, 55 (70,5%) peso adequado para a idade e 11 (14,1%), peso elevado para a idade (Figura 1). Resultados Foram avaliados 207 pacientes, sendo 129 destes internados pelo Hospital A e 78 pelo Hospital B (Tabela 1). Na população avaliada, em ambos os hospitais, predominou o sexo masculino (Hospital A – 53,48%, Hospital B – 52,56%); a mediana de idade foi de 54,5 meses. Quanto ao tempo de internação hospitalar, este foi de 5,5 dias, em ambos os hospitais. Os diagnósticos mais frequentes à admissão, em ambos os hospitais, foram as doenças do sistema respiratório inferior (broncopneumonia – 28,7%, broncoespasmo - 17,70%, bronquiolite – 14,35%, pneumonia – 8,61%, bronquite – 8,61%, outras doenças dos brônquios não Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (1): 71-5 73 Oliveira EN et al. Figura 1 – Resultado da avaliação nutricional segundo a classificação da OMS, 2006. DISCUSSÃO (pois analisamos apenas dois hospitais), mas a grande diferença do número de avaliações nutricionais realizadas entre os hospitais A e B nos faz acreditar que, no hospital acadêmico, como existe o dever em se passar aos futuros médicos a importância da avaliação nutricional, ela é realizada com mais frequência. De maneira correta ou não, ela está presente mais frequentemente nos prontuários. No presente estudo, o diagnóstico clínico mais encontrado à admissão foi de doenças do sistema respiratório (88%), com resultado semelhante ao encontrado na literatura. As doenças agudas do sistema respiratório são de fundamental importância nas taxas de morbimortalidade na faixa pediátrica em nosso País, e sua incidência varia de acordo com as estações do ano, região e faixa etária. Alterações no estado nutricional sejam para desnutrição ou sobrepeso/obesidade influenciam na magnitude das doenças respiratórias, tanto na sua forma aguda como na forma crônica, o que evidencia a importância da avaliação nutricional de todo paciente, seja criança, adultos ou idosos, principalmente quando hospitalizados1. Não verificamos que tenha ocorrido um maior tempo de internação por falta da avaliação nutricional nesses hospitais, porém não se pode descartar a realização da avaliação nutricional em toda criança hospitalizada, seja pelo risco da desnutrição, sobrepeso/obesidade acarretar maior morbidade, seja pela oportunidade social do paciente ter acesso a essa avaliação e orientação caso esta esteja alterada. A modificação do padrão alimentar e do estilo de vida, ainda na infância, diminuirão o aparecimento de possíveis doenças relacionadas intimamente com a desnutrição, sobrepeso/ obesidade, na vida adulta. A identificação do risco nutricional e a monitoração contínua e bem realizada do crescimento e do ganho de peso fazem da avaliação nutricional um instrumento essencial para que os profissionais da área conheçam as condições de saúde dos pacientes pediátricos. Ao realizar essa monitoração, podemos identificar o padrão de crescimento, instrumento importante na prevenção e no diagnóstico de distúrbios nutricionais e, assim, melhorar o prognóstico de outras doenças associadas ou não. O acompanhamento e as orientações necessárias a um crescimento e desenvolvimento saudáveis das crianças é uma das atribuições do médico pediatra. Na análise dos prontuários para a realização do presente trabalho, verificamos que poucas avaliações e intervenções nutricionais são realizadas durante as internações nas enfermarias infantis. Em muitos prontuários há apenas o peso do paciente e este não é, em muitos casos, relacionado a outros parâmetros antropométricos, como a altura e nem classificado segundo as curvas padronizadas pela OMS em 2006. Apesar de um dos hospitais (B) ter anotado pelos médicos a avaliação nutricional de seus pacientes pediátricos, verificamos que os mesmos apenas apresentavam o peso do paciente, o que nos faz questionar como essa avaliação era realizada. Já nas avaliações nutricionais realizadas por nutricionistas, essas eram mais completas, com anamnese nutricional com história alimentar, comprimento/estatura e peso do paciente. Não podemos afirmar com certeza Segundo a Resolução RDC 63, de 6 de Julho de 2000, página 5, é dever do médico indicar e prescrever a terapia Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (1): 71-5 74 A importância da avaliação nutricional em crianças internadas na enfermaria pediátrica em hospitais municipais de São Paulo nutricional nesses hospitais, porém este trabalho visa alertar, principalmente os médicos pediatras, quanto à importância de uma avaliação nutricional adequada visando ao bem-estar e ao crescimento saudável de seus pacientes, ou seja, toda a equipe, médicos e nutricionistas devem estar empenhados em realizar a avaliação nutricional dos pacientes pediátricos internados, compreender as alterações nutricionais que possam ser detectadas precocemente e, consequentemente, proporcionar a restauração da saúde desses pacientes. nutricional, assegurar a via de acesso para a terapia nutricional indicada e registrar a evolução médica e os procedimentos médicos. Já aos nutricionistas cabe realizar a avaliação nutricional do paciente com base em protocolo preestabelecido, avaliar qualitativa e quantitativamente as necessidades de nutrientes e acompanhar a evolução nutricional do paciente em terapia nutricional, em conjunto com os médicos10-13. Apesar da atribuição médica, muitas das crianças estudadas neste trabalho foram avaliadas por nutricionistas e não por pediatras, havendo, em um dos casos, diferença entre a avaliação nutricional realizada pelo médico e pela nutricionista. Referências Não houve caso de internação devido a desnutrição ou obesidade, porém, durante a avaliação, percebeu-se que diversas crianças apresentaram risco nutricional. Em nenhum desses casos foi descrito, em prontuário, que durante a internação houve algum tipo de modificação ou orientação dietética e que na alta tenha havido alguma orientação ao responsável ou encaminhamento dessas crianças para acompanhamento específico. É interessante ressaltar que os riscos nutricionais apresentados pelas crianças, sejam eles desvios da normalidade para mais ou para menos, foram notados pela avaliação da equipe de nutricionistas. A triagem e a avaliação nutricional não visam apenas avaliar aquelas crianças que já apresentam desnutrição, mas sim, aquelas que apresentam risco nutricional elevado para tal. Quanto mais precocemente identificado o risco nutricional, mais precocemente será realizada a intervenção nutricional primária, evitando, assim, a instalação definitiva da desnutrição e suas consequências. 1.Marques SBC, Medeiros AM. Sistema digestório e desnutrição. In: Duarte ACG, ed. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. São Paulo: Atheneu; 2007. p.7-15. 2.Felix DS, Silva MKS. Obesidade. In: Teixeira Neto F, ed. Nutrição clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p.185-94. 3.Vannucchi H, Unamuno MRDL, Marchini JS. Avaliação do estado nutricional. 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Avaliação nutricional de crianças internadas em enfermaria geral de um hospital público. Pediatria. 2005;27(1):12-8. 9.World Health Organization. The WHO Child Growth Standards. Disponível em: http://www.who.int/childgrowth/en/ Acesso em: 6/5/2012. 10.ANVISA. Resolução da diretoria colegiada - RCD n° 63, de 6 de julho de 2000. Brasília: ANVISA; 2000. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/61e1d38 0474597399f7bdf3fbc4c6735/RCD+N%C2%B0+63-2000. pdf?MOD=AJPERES> Acesso em: 8/5/2012. 11.Pernetta C. Anamnese. In: Pernetta C, ed. Semiologia pediátrica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara;1990. p.1-11. 12.Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. Caderneta da Saúde da Criança. Segunda Tiragem. 3ª ed. Brasília: Ministério da Saúde;2007. 13.Ribeiro Júnior HC, Mattos AP, Neri DA, Silva EMV, Almeida PS, Valois SS, et al. Manual de terapia nutricional em pediatria. Disponível em: <http://nutriliv.com.br/wp-content/ uploads/2012/02/Manual-Terapia-Nutricional-em-Pediatria. pdf> Acesso em: 8/10/2012. Quanto às complicações, poucas foram as relatadas nos prontuários avaliados; porém, um dos pacientes classificado como desnutrido apresentou uma descompensação respiratória importante. Não necessariamente são fatos correlatos. Sabemos, entretanto, que crianças com certo grau de desnutrição podem apresentar comprometimento pulmonar, assim como são mais suscetíveis a infecções, principalmente septicemias, pneumonias e gastroenterites, por conta, principalmente da deficiência da vitamina A e do zinco, fatos importantes para a disfunção imunológica e aumento da morbimortalidade. Concluímos então que, a avaliação nutricional que deve ser realizada até o segundo dia após a internação (tanto pelo médico pediatra como pela nutricionista) e que tem como principal objetivo estabelecer atitudes de intervenção adequada, apresentando extrema importância para a manutenção da saúde, está sendo negligenciada e mal utilizada pelos médicos nos dois hospitais deste trabalho. Não conseguimos verificar maior tempo de internação por conta de falta da avaliação Local de realização do trabalho: Escola de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP, Brasil. Rev Bras Nutr Clin 2015; 30 (1): 71-5 75