Artigo nº3

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O Potencial do Mercado Chinês
para as Exportações do Complexo
Agroindustrial Brasileiro
FLÁVIA APARECIDA ARAÚJO
Curso de Ciências Econômicas da UNIMEP
[email protected]
REGINA CÉLIA FARIA SIMÕES
Professora Dra. e Coordenadora do MBA em
Comércio Exterior da UNIMEP
[email protected]
Resumo: Este trabalho apresentou como objetivo mostrar as relações existentes entre Brasil e
China, analisando a potencialidade do mercado chinês para as exportações do complexo agroindustrial brasileiro, após a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). Como
objetivos específicos pretendeu-se caracterizar a China, destacando sua entrada na OMC e analisando seu crescimento econômico, apresentar alguns aspectos que evidenciam, além da estrutura, a
importância do agronegócio para o desenvolvimento do país e, por último, identificar as relações
Brasil e China apontando algumas perspectivas, oportunidades e riscos dos diversos setores do complexo agroindustrial brasileiro, com base na literatura e em informações obtidas junto a sites específicos sobre o mercado analisado.
Palavras-chaves: Exportação, Agronegócio, Mercado Chinês.
Abstract: This work shows the current relations between Brazil and China. It analyses the
potentiality of Chinese market to the Brazilian agribusiness complex exports, considering the
admission of China in World Trade Organization (WTO). It characterizes China, presenting some
aspects which show the evidences of the structure and importance of agribusiness to the
development of Brazil, identifying Brazil-China relations, and focusing risks and opportunities of
several sectors of Brazilian agribusiness complex. The supply source of this information was
obtained from specific literature and found in Internet pages.
Keywords: Exportation, Agribusiness, Chinese Market
1. Introdução
A China vem apresentando um crescimento
estrondoso nos últimos anos. Com sua entrada
na Organização Mundial do Comércio (OMC),
ela elevou ainda mais sua participação no comércio mundial.
Com o aumento da renda da população e
com a sua reurbanização, a China passou a importar mais. Segundo Caetano (2005), para produtores nacionais de commodities, a China deixou
de ser uma promessa. Até o final da década de
1990, as exportações brasileiras para esse país ulRev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 3(5):29-32, 2005
trapassavam a marca de pouco mais de 1 bilhão
de dólares anuais. O mercado chinês era apenas
o 15º em importância, com compras no valor de
5,4 bilhões de dólares, ele passou a ser o terceiro
maior mercado para as exportações brasileiras.
O propósito deste artigo é apresentar as condições do mercado chinês para as exportações do
complexo agroindustrial brasileiro. Para chegar
neste contexto, o artigo apresentará uma prévia
caracterização da China para que possamos tentar entender seu crescimento, e, também, algumas considerações sobre o agronegócio.
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2. Uma Prévia Caracterização da China
A história recente da China apresenta elementos importantes para a atual condução da
sua política comercial. Nesse país, o século XX
foi marcado por grandes movimentos. Em 1912,
o partido republicano Kuomintang (Partido Nacional do Povo) derrubou o governo monarca da
era Qing e proclamou a República. Em 1921,
ocorreu a fundação do Partido Comunista (PC)
e, devido à invasão japonesa em 1937, o Exército
Vermelho foi incorporado ao Exército nacional
chinês. Depois da derrota japonesa, com o fim
da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se uma
guerra civil, na qual, em 1949, o Partido Comunista (PC), derrotou o Kuomintang. Com a derrota, o general Chian Kai Chec, líder do Kuomintang, fugiu para Taiwan e fundou a República Democrática da China (POMAR, 2002).
Com a subida do PC ao poder, Mao Zedong
declarou que o “povo chinês levantou-se”, referindo-se às condições para a concretização de
um sonho chinês de unidade, independência e
prosperidade, tendo como base (PINTO, 2000):
a) o crescimento econômico chinês fundamentado nos valores do confucionismo, contrapondo-se aos valores estrangeiros; e,
b) a inserção chinesa em um contexto internacional baseada nas interligações do povo chinês causadas por sua diáspora, por meio das overseas chineses
(rede de indivíduos com origem étnica comum)
No contexto da inserção internacional da
China, tem-se a incorporação de Hong Kong e
de Macau, respectivamente, em 1997 e em 1999,
reunificando esses territórios sob o princípio
“um país, dois sistemas”. Além disso, houve a
aproximação com Taiwan. A expansão da fronteira econômica chinesa em direção ao sudeste
asiático é considerada por Pinto (2000) uma fase
posterior, e facilitada pela existência, ao sul da
China, das overseas chineses, e, assim, com mesma
identidade cultural. Estes chineses extra-mar são
um fator fundamental para o desenho atual das
relações comerciais contemporâneas da China.
Este país, entre 1960 e 1970, possuía um planejamento nacional com ênfase no desenvolvimento da indústria pesada, controle da migração
interna, auto-suficiência regional, preços administrados, descentralização seletiva e uma política de garantia à alimentação básica para todos os
trabalhadores cadastrados. Com o final da era
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Mao Zedong, passou a buscar políticas voltadas
ao mercado e, a partir de 1978, a taxa de crescimento do PIB duplicou, devido à adoção de
crescimento voltado ao exterior e à incorporação
de tecnologia estrangeira (POMAR, 2002).
Segundo o relatório do Departamento Nacional de Estatísticas da China, este país vem, desde 1978, ano do lançamento do processo de reforma da abertura da China, crescendo a uma taxa de 9,4% ao ano, sendo que naquele ano o PIB
chinês era da ordem de US$ 5,27 bilhões. O PIB
passou, em 2002, para mais de US$ 1,2 trilhão
(BANCO MUNDIAL, 2003).
O índice de crescimento manteve-se estável
desde 1989, apesar do isolamento do mundo
ocidental e dos momentos de instabilidade no
mundo comunista (NUKUI, 2003).
Atualmente, a China vive um período de
abertura comercial, realizada de forma centralizada por parte do governo, caracterizando uma
economia “mista” no sentido de que o Estado
direciona a abertura da economia, sendo a abertura comercial impulsionada pelas ligações que o
país tem com os overseas chineses (NUKUI, 2003).
Segundo Goyos Jr. et al. (2002), o acesso da
República Popular da China à OMC ocorreu a
11 de dezembro de 2001. Dentre os compromissos desse país, destacam-se a redução de suas tarifas industriais de uma média de 24,6% para 9,4%.
Quotas e licenças teriam um prazo de cinco anos,
o mesmo da redução tarifária, para serem eliminadas. Em três anos, em respeito à cláusula de
não-discriminação do GATT, os direitos das empresas estrangeiras importarem, exportarem e distribuírem na China devem ser estabelecidos conforme determina a OMC. O Banco Mundial, segundo o mesmo autor, estima que, até 2005, em
função desse processo, o país deverá chegar a
uma participação de 10% no comércio mundial,
ou seja, três vezes maior que em 2001.
A China vem assumindo indiscutível liderança. De 1,8% das exportações mundiais em
1990, a China atingiu 4% em 2002. Não apenas
em produtos têxteis, vestuário e brinquedos, mas
também as exportações em produtos eletrônicos
e computadores notabilizam a China no mercado internacional (MEDEIROS, 2001). Parece
apresentar-se também como o país de maior potencialidade ao agronegócio brasileiro, dada a
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sua diversidade de importações, ao crescimento
de seu mercado e do aumento de sua renda.
3. Conceituando o Agronegócio
Rodrigues (2005) define agronegócio como a
soma de toda uma cadeia produtiva relacionada
aos produtos provenientes da agricultura. Envolve empresas rurais, produtores de insumos agrícolas, maquinários, agroindústrias, empresas de
comercialização e o próprio consumidor. São
inúmeras profissões e atividades intermediárias,
desde a origem do produto na fazenda até o seu
resultado final para o consumidor.
De acordo com Nukui (2003), entre os grupos econômicos atrelados ao setor agrícola, pode-se visualizar um conjunto de atividades econômicas envolvendo empresas que oferecem
produtos e serviços para a agricultura, denominado de indústria para a agricultura, compondo a
cadeia retrospectiva da agropecuária, ou seja, as
empresas que se incumbem da produção de
bens de capital e de insumos industriais para o
setor rural. Também, há aqueles grupos que adquirem, da agricultura, suas matérias-primas denominadas de agroindústria e constituindo a cadeia prospectiva da agropecuária.
Sandroni (2001) define agroindústria como
atividade constituída pela junção dos processos
agrícolas e industriais no âmbito de um mesmo
capital social, ou, quando tal não acontece, a atividade caracteriza-se por uma grande proximidade física entre a área que produz a matéria-prima
agrícola e o seu processamento industrial.
Espera-se, na presente década, um crescimento nas exportações mundiais e brasileiras dos
principais produtos do agronegócio, como o
complexo de soja, carne bovina, carne de aves e
carne de suínos. Para a maioria desses produtos,
a China apresenta importações crescentes.
4. Relações entre Brasil e China no Setor de
Agronegócios
A China é uma espécie de shopping de oportunidades para parcerias, é um dos países do continente asiático que demonstrou, nos últimos
anos, um estrondoso crescimento no seu Produto Interno Bruto (PIB) em relação aos demais países desenvolvidos do mundo.
Ao mesmo tempo que a China representa um
mercado com vastas oportunidades para os exporRev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 3(5):29-32, 2005
tadores brasileiros, preocupa pela força de sua
competitividade. Há indicações de que os produtos que mais tendem a crescer no mercado chinês
são os do agronegócio, sobretudo carnes, algodão
e açúcar, além da soja, que já está na liderança em
matéria de exportação (PEREIRA, 2004).
A despeito das ameaças que pairam sobre vários dos setores industriais do Brasil, alvos diretos
da concorrência da monumental escala chinesa,
os produtores nacionais de commodities vivem
um momento de euforia poucas vezes visto na
história. Como acontece na maioria das transações comerciais, o mais competitivo vence. E,
em mercados como os de minério de ferro, soja
e carne, o Brasil possui vantagens inquestionáveis (CAETANO, 2005).
De acordo com Pereira (2004), a razão pela
qual os grandes exportadores brasileiros do agronegócio estão felizes está na conquista de novos
mercados, na alta das commodities e em um cenário internacional favorável, puxado pelo crescimento chinês e pela recuperação da economia
norte-americana.
A China, em 2003, virou o terceiro maior
comprador de produtos brasileiros – atrás apenas
dos Estados Unidos e da Argentina. O volume
de comércio com os chineses cresceu 80% em relação a 2002, passando de US$ 2,520 bilhões para US$ 4,532 bilhões. Somente de soja foram exportados US$ 1,3 bilhão e, em minério de ferro,
US$ 765 milhões. A Tabela 1 a seguir comprova
como as exportações brasileiras para esse país
vêm crescendo nos últimos anos.
Atualmente, as empresas brasileiras respondem por menos de 1% das compras totais dos
chineses. Mas, o cenário nos parece muito promissor para os próximos anos, pois o Brasil tem
boas chances de aproveitar o crescimento chinês.
Culturas com perspectivas favoráveis são o
café e o açúcar, itens dos quais o Brasil é o número um do mundo. Os cafeicultores apostam numa mudança de hábito da população chinesa.
Nas grandes cidades, o hábito de tomar café é
considerado uma sofisticação e ganha adeptos
na classe média emergente. No caso do açúcar, o
consumo per capita dos chineses é de oito quilos
por ano – ante cinqüenta e três quilos consumidos no Brasil. Se dobrar a demanda, a China ampliará o mercado em 10 milhões de toneladas
por ano (CAETANO, 2005).
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Tabela 1. Exportações totais do Brasil para a China, participação do agronegócio brasileiro e participação das exportações destinadas à China, no total das exportações do agronegócio nacional (em
milhares de US$)
Anos
1990
1995
1999
2000
2001
2002
Exportações Totais do
Brasil para a China
381.803
1.203.750
676.140
1.085.223
1.902.093
2.520.457
% do agronegócio
nas exportações totais
41,00%
62,00%
47,00%
52,00%
47,00%
54,00%
% da exportação do agronegócio na
exportação total do agronegócio brasileiro
1,21%
3,58%
1,55%
2,74%
3,75%
5,48%
Fonte: Exportações..., 2003.
Outro aspecto importante é o de que a indústria têxtil chinesa é muito competitiva. E se
os mercados mundiais se liberalizarem, o consumo de algodão na China vai crescer, o que é
bom para os exportadores de algodão, mas não
para a indústria brasileira que vê o têxtil como
ameaça (PEREIRA, 2004).
Contudo, nos últimos cinco anos, o Brasil
manteve uma balança comercial positiva com a
China, onde em 2004 o saldo a favor do Brasil
foi de 1,7 bilhão de dólar. Mas, enquanto o Brasil vende principalmente minérios e commodities
agrícolas à China, as compras são, sobretudo, de
produtos industriais (CAETANO, 2005).
5. Considerações Finais
Esse artigo conclui que o Brasil é um importante agroexportador mundial, mas sua pauta de
exportação está concentrada em poucos produtos, principalmente commodities.
A China parece apresentar-se como o país
com maior potencialidade ao agronegócio brasileiro, dada a sua diversidade de importações, ao
crescimento de seu mercado e do aumento de
sua renda (possibilitando consumo de produtos
mais elaborados), além da possibilidade de continuidade da tendência de consumo crescente de
produtos ocidentais como o café, por exemplo,
pois o consumo atual na China ainda é baixo,
mas com a influência ocidental, o Brasil tem
chance de vender tanto este como outros produtos para aquele país, e em grande quantidade.
Outro aspecto que poderá criar um vínculo
ainda maior com a China é que a mesma está
com falta de terras para ampliar a agricultura, em
contraste com um consumo de alimentos que
cresce à medida que a renda per capita melhora.
E não há país com melhores condições de terras
que possa atender às necessidades futuras da
China a não ser o Brasil.
REFERÊNCIAS
BANCO MUNDIAL. Relatório Anual, Washington-Brasília, 2003.
CAETANO, J. R. Onde o Brasil ganha. Revista Exame, São
Paulo, abril, ano 39, n. 9, maio, 2005.
EXPORTAÇÕES do Brasil para a China. Disponível em: <http:/
/www.desenvolvimento.gov.br>. Disponível em: 26 jun. 2005.
GOYOS JR, et. al. A China pós-OMC – Direito e Comércio.
São Paulo: Observador Legal, 2002.
MEDEIROS, C. A. A economia política da crise e da mudança estrutural na Ásia, Economia e Sociedade, Campinas, n. 17, dez. 2001.
NUKUI, D. Y. O potencial do mercado asiático para as exportações do Complexo Agroindustrial Brasileiro, 2003. Disponível
em: <http://www.cepea.esalq.usp.br>. Acesso em: 28 abr. 2005.
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PEREIRA, L. V. China: oportunidades e preocupação, Conjuntura
Econômica, Rio de Janeiro, FGV, v. 58, n. 6, p. 27-32, jun. 2004.
PINTO, P. A. P. A China e o Sudeste Asiático. Porto Alegre:
UFRGS, 2000.
POMAR, W. China: o dragão do século XXI. São Paulo: Ática, 2002.
RODRIGUES, R. Íntegra da entrevista com o Ministro da
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<http://www.puc-campinas. Edu.br/entrevista/2005/03/14/
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SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. São
Paulo: Best Seller, 2001.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 3(5):29-32, 2005
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