000361_RevNegociosInt_ok.fm6 Page 29 Friday, October 21, 2005 10:56 PM O Potencial do Mercado Chinês para as Exportações do Complexo Agroindustrial Brasileiro FLÁVIA APARECIDA ARAÚJO Curso de Ciências Econômicas da UNIMEP [email protected] REGINA CÉLIA FARIA SIMÕES Professora Dra. e Coordenadora do MBA em Comércio Exterior da UNIMEP [email protected] Resumo: Este trabalho apresentou como objetivo mostrar as relações existentes entre Brasil e China, analisando a potencialidade do mercado chinês para as exportações do complexo agroindustrial brasileiro, após a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). Como objetivos específicos pretendeu-se caracterizar a China, destacando sua entrada na OMC e analisando seu crescimento econômico, apresentar alguns aspectos que evidenciam, além da estrutura, a importância do agronegócio para o desenvolvimento do país e, por último, identificar as relações Brasil e China apontando algumas perspectivas, oportunidades e riscos dos diversos setores do complexo agroindustrial brasileiro, com base na literatura e em informações obtidas junto a sites específicos sobre o mercado analisado. Palavras-chaves: Exportação, Agronegócio, Mercado Chinês. Abstract: This work shows the current relations between Brazil and China. It analyses the potentiality of Chinese market to the Brazilian agribusiness complex exports, considering the admission of China in World Trade Organization (WTO). It characterizes China, presenting some aspects which show the evidences of the structure and importance of agribusiness to the development of Brazil, identifying Brazil-China relations, and focusing risks and opportunities of several sectors of Brazilian agribusiness complex. The supply source of this information was obtained from specific literature and found in Internet pages. Keywords: Exportation, Agribusiness, Chinese Market 1. Introdução A China vem apresentando um crescimento estrondoso nos últimos anos. Com sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC), ela elevou ainda mais sua participação no comércio mundial. Com o aumento da renda da população e com a sua reurbanização, a China passou a importar mais. Segundo Caetano (2005), para produtores nacionais de commodities, a China deixou de ser uma promessa. Até o final da década de 1990, as exportações brasileiras para esse país ulRev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 3(5):29-32, 2005 trapassavam a marca de pouco mais de 1 bilhão de dólares anuais. O mercado chinês era apenas o 15º em importância, com compras no valor de 5,4 bilhões de dólares, ele passou a ser o terceiro maior mercado para as exportações brasileiras. O propósito deste artigo é apresentar as condições do mercado chinês para as exportações do complexo agroindustrial brasileiro. Para chegar neste contexto, o artigo apresentará uma prévia caracterização da China para que possamos tentar entender seu crescimento, e, também, algumas considerações sobre o agronegócio. 29 000361_RevNegociosInt_ok.fm6 Page 30 Friday, October 21, 2005 10:56 PM 2. Uma Prévia Caracterização da China A história recente da China apresenta elementos importantes para a atual condução da sua política comercial. Nesse país, o século XX foi marcado por grandes movimentos. Em 1912, o partido republicano Kuomintang (Partido Nacional do Povo) derrubou o governo monarca da era Qing e proclamou a República. Em 1921, ocorreu a fundação do Partido Comunista (PC) e, devido à invasão japonesa em 1937, o Exército Vermelho foi incorporado ao Exército nacional chinês. Depois da derrota japonesa, com o fim da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se uma guerra civil, na qual, em 1949, o Partido Comunista (PC), derrotou o Kuomintang. Com a derrota, o general Chian Kai Chec, líder do Kuomintang, fugiu para Taiwan e fundou a República Democrática da China (POMAR, 2002). Com a subida do PC ao poder, Mao Zedong declarou que o “povo chinês levantou-se”, referindo-se às condições para a concretização de um sonho chinês de unidade, independência e prosperidade, tendo como base (PINTO, 2000): a) o crescimento econômico chinês fundamentado nos valores do confucionismo, contrapondo-se aos valores estrangeiros; e, b) a inserção chinesa em um contexto internacional baseada nas interligações do povo chinês causadas por sua diáspora, por meio das overseas chineses (rede de indivíduos com origem étnica comum) No contexto da inserção internacional da China, tem-se a incorporação de Hong Kong e de Macau, respectivamente, em 1997 e em 1999, reunificando esses territórios sob o princípio “um país, dois sistemas”. Além disso, houve a aproximação com Taiwan. A expansão da fronteira econômica chinesa em direção ao sudeste asiático é considerada por Pinto (2000) uma fase posterior, e facilitada pela existência, ao sul da China, das overseas chineses, e, assim, com mesma identidade cultural. Estes chineses extra-mar são um fator fundamental para o desenho atual das relações comerciais contemporâneas da China. Este país, entre 1960 e 1970, possuía um planejamento nacional com ênfase no desenvolvimento da indústria pesada, controle da migração interna, auto-suficiência regional, preços administrados, descentralização seletiva e uma política de garantia à alimentação básica para todos os trabalhadores cadastrados. Com o final da era 30 Mao Zedong, passou a buscar políticas voltadas ao mercado e, a partir de 1978, a taxa de crescimento do PIB duplicou, devido à adoção de crescimento voltado ao exterior e à incorporação de tecnologia estrangeira (POMAR, 2002). Segundo o relatório do Departamento Nacional de Estatísticas da China, este país vem, desde 1978, ano do lançamento do processo de reforma da abertura da China, crescendo a uma taxa de 9,4% ao ano, sendo que naquele ano o PIB chinês era da ordem de US$ 5,27 bilhões. O PIB passou, em 2002, para mais de US$ 1,2 trilhão (BANCO MUNDIAL, 2003). O índice de crescimento manteve-se estável desde 1989, apesar do isolamento do mundo ocidental e dos momentos de instabilidade no mundo comunista (NUKUI, 2003). Atualmente, a China vive um período de abertura comercial, realizada de forma centralizada por parte do governo, caracterizando uma economia “mista” no sentido de que o Estado direciona a abertura da economia, sendo a abertura comercial impulsionada pelas ligações que o país tem com os overseas chineses (NUKUI, 2003). Segundo Goyos Jr. et al. (2002), o acesso da República Popular da China à OMC ocorreu a 11 de dezembro de 2001. Dentre os compromissos desse país, destacam-se a redução de suas tarifas industriais de uma média de 24,6% para 9,4%. Quotas e licenças teriam um prazo de cinco anos, o mesmo da redução tarifária, para serem eliminadas. Em três anos, em respeito à cláusula de não-discriminação do GATT, os direitos das empresas estrangeiras importarem, exportarem e distribuírem na China devem ser estabelecidos conforme determina a OMC. O Banco Mundial, segundo o mesmo autor, estima que, até 2005, em função desse processo, o país deverá chegar a uma participação de 10% no comércio mundial, ou seja, três vezes maior que em 2001. A China vem assumindo indiscutível liderança. De 1,8% das exportações mundiais em 1990, a China atingiu 4% em 2002. Não apenas em produtos têxteis, vestuário e brinquedos, mas também as exportações em produtos eletrônicos e computadores notabilizam a China no mercado internacional (MEDEIROS, 2001). Parece apresentar-se também como o país de maior potencialidade ao agronegócio brasileiro, dada a Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 3(5):29-32, 2005 000361_RevNegociosInt_ok.fm6 Page 31 Friday, October 21, 2005 10:56 PM sua diversidade de importações, ao crescimento de seu mercado e do aumento de sua renda. 3. Conceituando o Agronegócio Rodrigues (2005) define agronegócio como a soma de toda uma cadeia produtiva relacionada aos produtos provenientes da agricultura. Envolve empresas rurais, produtores de insumos agrícolas, maquinários, agroindústrias, empresas de comercialização e o próprio consumidor. São inúmeras profissões e atividades intermediárias, desde a origem do produto na fazenda até o seu resultado final para o consumidor. De acordo com Nukui (2003), entre os grupos econômicos atrelados ao setor agrícola, pode-se visualizar um conjunto de atividades econômicas envolvendo empresas que oferecem produtos e serviços para a agricultura, denominado de indústria para a agricultura, compondo a cadeia retrospectiva da agropecuária, ou seja, as empresas que se incumbem da produção de bens de capital e de insumos industriais para o setor rural. Também, há aqueles grupos que adquirem, da agricultura, suas matérias-primas denominadas de agroindústria e constituindo a cadeia prospectiva da agropecuária. Sandroni (2001) define agroindústria como atividade constituída pela junção dos processos agrícolas e industriais no âmbito de um mesmo capital social, ou, quando tal não acontece, a atividade caracteriza-se por uma grande proximidade física entre a área que produz a matéria-prima agrícola e o seu processamento industrial. Espera-se, na presente década, um crescimento nas exportações mundiais e brasileiras dos principais produtos do agronegócio, como o complexo de soja, carne bovina, carne de aves e carne de suínos. Para a maioria desses produtos, a China apresenta importações crescentes. 4. Relações entre Brasil e China no Setor de Agronegócios A China é uma espécie de shopping de oportunidades para parcerias, é um dos países do continente asiático que demonstrou, nos últimos anos, um estrondoso crescimento no seu Produto Interno Bruto (PIB) em relação aos demais países desenvolvidos do mundo. Ao mesmo tempo que a China representa um mercado com vastas oportunidades para os exporRev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 3(5):29-32, 2005 tadores brasileiros, preocupa pela força de sua competitividade. Há indicações de que os produtos que mais tendem a crescer no mercado chinês são os do agronegócio, sobretudo carnes, algodão e açúcar, além da soja, que já está na liderança em matéria de exportação (PEREIRA, 2004). A despeito das ameaças que pairam sobre vários dos setores industriais do Brasil, alvos diretos da concorrência da monumental escala chinesa, os produtores nacionais de commodities vivem um momento de euforia poucas vezes visto na história. Como acontece na maioria das transações comerciais, o mais competitivo vence. E, em mercados como os de minério de ferro, soja e carne, o Brasil possui vantagens inquestionáveis (CAETANO, 2005). De acordo com Pereira (2004), a razão pela qual os grandes exportadores brasileiros do agronegócio estão felizes está na conquista de novos mercados, na alta das commodities e em um cenário internacional favorável, puxado pelo crescimento chinês e pela recuperação da economia norte-americana. A China, em 2003, virou o terceiro maior comprador de produtos brasileiros – atrás apenas dos Estados Unidos e da Argentina. O volume de comércio com os chineses cresceu 80% em relação a 2002, passando de US$ 2,520 bilhões para US$ 4,532 bilhões. Somente de soja foram exportados US$ 1,3 bilhão e, em minério de ferro, US$ 765 milhões. A Tabela 1 a seguir comprova como as exportações brasileiras para esse país vêm crescendo nos últimos anos. Atualmente, as empresas brasileiras respondem por menos de 1% das compras totais dos chineses. Mas, o cenário nos parece muito promissor para os próximos anos, pois o Brasil tem boas chances de aproveitar o crescimento chinês. Culturas com perspectivas favoráveis são o café e o açúcar, itens dos quais o Brasil é o número um do mundo. Os cafeicultores apostam numa mudança de hábito da população chinesa. Nas grandes cidades, o hábito de tomar café é considerado uma sofisticação e ganha adeptos na classe média emergente. No caso do açúcar, o consumo per capita dos chineses é de oito quilos por ano – ante cinqüenta e três quilos consumidos no Brasil. Se dobrar a demanda, a China ampliará o mercado em 10 milhões de toneladas por ano (CAETANO, 2005). 31 000361_RevNegociosInt_ok.fm6 Page 32 Friday, October 21, 2005 10:56 PM Tabela 1. Exportações totais do Brasil para a China, participação do agronegócio brasileiro e participação das exportações destinadas à China, no total das exportações do agronegócio nacional (em milhares de US$) Anos 1990 1995 1999 2000 2001 2002 Exportações Totais do Brasil para a China 381.803 1.203.750 676.140 1.085.223 1.902.093 2.520.457 % do agronegócio nas exportações totais 41,00% 62,00% 47,00% 52,00% 47,00% 54,00% % da exportação do agronegócio na exportação total do agronegócio brasileiro 1,21% 3,58% 1,55% 2,74% 3,75% 5,48% Fonte: Exportações..., 2003. Outro aspecto importante é o de que a indústria têxtil chinesa é muito competitiva. E se os mercados mundiais se liberalizarem, o consumo de algodão na China vai crescer, o que é bom para os exportadores de algodão, mas não para a indústria brasileira que vê o têxtil como ameaça (PEREIRA, 2004). Contudo, nos últimos cinco anos, o Brasil manteve uma balança comercial positiva com a China, onde em 2004 o saldo a favor do Brasil foi de 1,7 bilhão de dólar. Mas, enquanto o Brasil vende principalmente minérios e commodities agrícolas à China, as compras são, sobretudo, de produtos industriais (CAETANO, 2005). 5. Considerações Finais Esse artigo conclui que o Brasil é um importante agroexportador mundial, mas sua pauta de exportação está concentrada em poucos produtos, principalmente commodities. A China parece apresentar-se como o país com maior potencialidade ao agronegócio brasileiro, dada a sua diversidade de importações, ao crescimento de seu mercado e do aumento de sua renda (possibilitando consumo de produtos mais elaborados), além da possibilidade de continuidade da tendência de consumo crescente de produtos ocidentais como o café, por exemplo, pois o consumo atual na China ainda é baixo, mas com a influência ocidental, o Brasil tem chance de vender tanto este como outros produtos para aquele país, e em grande quantidade. Outro aspecto que poderá criar um vínculo ainda maior com a China é que a mesma está com falta de terras para ampliar a agricultura, em contraste com um consumo de alimentos que cresce à medida que a renda per capita melhora. E não há país com melhores condições de terras que possa atender às necessidades futuras da China a não ser o Brasil. REFERÊNCIAS BANCO MUNDIAL. Relatório Anual, Washington-Brasília, 2003. CAETANO, J. R. Onde o Brasil ganha. Revista Exame, São Paulo, abril, ano 39, n. 9, maio, 2005. EXPORTAÇÕES do Brasil para a China. Disponível em: <http:/ /www.desenvolvimento.gov.br>. Disponível em: 26 jun. 2005. GOYOS JR, et. al. A China pós-OMC – Direito e Comércio. São Paulo: Observador Legal, 2002. MEDEIROS, C. A. A economia política da crise e da mudança estrutural na Ásia, Economia e Sociedade, Campinas, n. 17, dez. 2001. NUKUI, D. Y. O potencial do mercado asiático para as exportações do Complexo Agroindustrial Brasileiro, 2003. Disponível em: <http://www.cepea.esalq.usp.br>. Acesso em: 28 abr. 2005. 32 PEREIRA, L. V. China: oportunidades e preocupação, Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, FGV, v. 58, n. 6, p. 27-32, jun. 2004. PINTO, P. A. P. A China e o Sudeste Asiático. Porto Alegre: UFRGS, 2000. POMAR, W. China: o dragão do século XXI. São Paulo: Ática, 2002. RODRIGUES, R. Íntegra da entrevista com o Ministro da Agricultura e Abastecimento. Março, 2005. Disponível em: <http://www.puc-campinas. 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