IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB CARACTERIZAÇÕES MINERALÓGICA E TECNOLÓGICA DA PALYGORSKITA DA REGIÃO DE GUARDALUPE-PI VISANDO SUA APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA DE FÁRMACOS Luiz Carlos Bertolino1, Rayssa Paula Paz Furlanetto2, Vitor Schwenck Brandão³ 1 Aluna de Graduação de Química Bacharelado, UFRJ/CETEM 2 Geólogo, D.Sc. CETEM e UERJ ³Geólogo, M.Sc., bolsista PCI do CETEM [email protected] RESUMO A palygorskita é um silicato complexo de magnésio constituída por cristais alongados, e quando comparada com outras argilas industriais apresenta propriedades físico-químicas que lhe conferem características adequadas aos vários usos industriais. Estas lhe propiciam propriedades adsortivas favoráveis na indústria, controlada principalmente por dois fatores: a superfície da fibra mineral e os canais zeolíticos existentes ao longo na fibra mineral. Os principais depósitos de palygorskita no Brasil estão localizados no município de Guadalupe-PI, distribuídos por uma área de 700 km 2. O estudo visa a caracterização mineralógica e beneficiamento de duas amostras de palygorskita da região de Guadalupe-PI, através de métodos conhecidos (DRX, FRX, MEV, DTA-TG, Infravermelho e Análise Granulométrica) com intuito na aplicação na indústria. As amostras são constituídas majoritariamente de SiO2, MgO, Al2O3, Fe2O3, e posterior aos tratamentos realizados, nos óxidos de silício e ferro diminuíram sua concentração nas amostras de menor granulometria e nos óxidos de magnésio, o qual corresponde a palygorskita estudada, houve aumento na sua concentração final. Os resultados de DTA-TG indicaram perda de 1,5798% e 0,8751% da desidroxilação da água zeolítica presentes nos canais zeolíticos. A análise de densidade pelo método de picnometria indicou densidade 2,5104 (g/cm3). Os resultados das análises de CTC realizadas para ambas as amostras no decorrer do seu beneficiamento, indicaram resultados de 39,5 (meq/100) e 41 (meq/100). ABSTRACT IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB The palygorskite is a complex silicate of magnesium consisting of elongated crystals, and when compared with other industrial clays present physico-chemical properties that provides appropriate to various industrial uses. These features provide adsorptive properties favorable in the industry, mainly controlled by two factors: the surface of the mineral fiber and zeolitics channels over the mineral fiber. The main palygorskite deposits in Brazil are located in the region of Guadalupe-PI, spread over an area of 700 km2. The study aimed at the mineralogical characterization and processing of two samples of palygorskite of Guadalupe-PI, using acquainted methods (DRX, FRX, MEV, DTA-TG, Infrared and Particle Size Analysis) with intention in pharmaceutical industry application. The samples consist primarily of SiO2, MgO, Al2O3, Fe2O3 and posteriorly to performed treatments, silicium and iron oxides decreased his concentration in smaller granulometry samples and magnesium oxides, which correspond to the studied palygorskite, occurred increase in his final concentration. This grants the samples capacity of pharmaceutical industry application. The results of DTA-TG indicated loss of 1.5798% and 0.8751% in the dehydroxylation of the zeolitic water present in the zeolitics channels. The density analysis by the picnometry method indicated 2.5104 (g/cm3) density. The results of the CEC analyzes for both samples during the course of its processing results, indicated 39.5 (meq/100) and 41 (meq/100). 1. INTRODUÇÃO A palygorskita é um argilomineral que vem cada vez mais sendo objeto de estudos de diversos trabalhos. Sua estrutura cristalina consiste em camadas de tetraedros de SiO 2 que apresentam vértices não partilhados, os quais apontam para cima ou para baixo, ocorrendo em cada duas cadeias (figura 1). Entre os oxigênios apicais de duas folhas tetraédricas situa-se a folha octaédrica, composta por átomos de magnésio (podendo estar substituído por alumínio ou ferro), formando uma estrutura em fitas assemelhada à estrutura em cadeia dos piroxênios e anfibólios. Esses átomos de oxigênios apicais são que limitam as dimensões laterais da cadeia octaédrica. A palygorskita ideal possui um caráter octaédrico (Suárez e Garcia-Romero, 2011). IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB Figura 1: Imagem da estrutura da palygorskita planificada. Fonte: Xavier et al. (2012). Quando comparada com outras argilas industriais (montmorillonita, caulinita etc.), a palygorskita apresenta alta superfície específica, alta sorção, poder descorante, manutenção das propriedades tixotrópicas na presença de eletrólitos, etc. (Murray, 2000). Isto lhe confere grande gama de aplicações, como na indústria farmacêutica. Os microporos presentes em sua estrutura lhe permite capacidade de absorbância. Os principais depósitos de palygorskita no Brasil estão localizados no município de Guadalupe-PI, distribuídos por uma área de 700 km 2. A região de coleta das amostras está inserida no contexto geotectônico da bacia do Parnaíba, no município de Guadalupe onde ocorrem os principais depósitos de palygorskita do Brasil (figura 2). Estudos vêm sendo desenvolvidos com a palygorskita da região visando à aplicação na indústria farmacêutica, cosmético (Silva et al., 2011; Soares et al., 2013) e ambiental (Middea et al., 2013). Figura 2. Mapa de localização da região de Guadalupe-PI. 2. OBJETIVOS IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB O estudo visa o beneficiamento e a caracterização mineralógica de amostras de palygorskita da região de Guadalupe-PI, a fim de determinar sua utilização na produção de fármacos e no abatimento de enxofre em amostras de diesel. 3. METODOLOGIA Foram coletadas duas amostras de palygorskita Geomil e Mina Velha, com aproximadamente 10 kg cada, de duas jazidas localizadas no município de Guadalupe-PI. No Centro de Tecnologia Mineral (CETEM) as amostras foram submetidas à classificação granulométrica, utilizadando-se peneiras de 45 µm e 20 µm, a fração menor que 20 µm foi submetida a separação magnética em campo de aproximadamente 15.000 Gauss. A caracterização mineralógica da amostra foi realizada através dos métodos de fluorescência de raios X (FRX), difratometria de raios X (DRX), microscópio eletrônico de varredura (MEV), espectroscopia infravermelho (IV), análise termodiferencial e termogravimétrica (DTA-TG) e análise granulométrica. O equipamento utilizado, para FRX, foi espectrômetro de fluorescência de raios X por comprimento de onda, modelo Axios Max – Panalytical. As análises de DRX foram realizadas em um equipamento Bruker-AXS D4 Endeavour com radiação Cokα, e as análises com MEV foram realizadas em um equipamento MEV FEI Quanta 400 associado a um espectrômetro de energia dispersiva de raios X. O equipamento utilizado para classificação granulométrica foi o Malvern. Nesta etapa, foi feita uma dispersão com 5g de amostra seca e desagregada, e como dispersante 30 ml de água destilada e índice de refração 1,33. A análise de capacidade de troca catiônica (CTC) foi determinada pelo método de azul de metileno baseada na norma ASTM C-837-81 (anexo A). As frações menores que 20 µm não magnéticas foram tratadas com peróxido (H2O2), em 15 g com 10 ml de água deonizada resultado em solução de palygorskita 1,7M para posterior adição. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir são apresentados os resultados da caracterização mineralógica das amostras Geomil e Mina Velha. Na Figura 3 é apresentado difratograma de raios X das amostras Geomil, após classificação granulométrica, separação magnética e tratamento com peróxido. Na figura 4 é apresentado o difratograma de raios X da amostra Mina Velha após classificação granulométrica. IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB Figura 3: Difratograma de raios X das amostras Geomil -20 µm Não Mag Tratada com peróxido. Figura 4. Difratograma de raios X amostras Mina Velha -20 µm. Através dos difratogramas de raios X (Figuras 3 e 4) observa-se que as duas amostras apresentam composição mineralógica muito semelhante, sendo constituídas principalmente por palygorskita, quartzo, caulinita e na amostra Geomil jacobsita secundariamente. As frações mais finas apresentaram redução na intensidade dos picos de quartzo e aumento proporcional dos picos de palygorskita. Observa-se também na amostra Geomil de menor granulometria, redução a total desaparecimento dos picos referentes à jacobisita, a qual indica o Mn proveniente da amostra. IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB Flurescência de Raios X Na tabela 1 são mostrados os resultados das análises químicas por FRX das amostras de ambas as amostras. Os resultados de FRX indicam que as amostras são constituídas predominantemente por MgO, Al2O e SiO2. As amostras são levemente ferruginosas porém não ricas em ferro. Palygorskitas ricas em ferro são raras. Segundo Suárez e Garcia (2011), para serem consideradas ricas em ferro somente quando o teor de ferro for maior do que de alumínio. A presença de K2O e CaO podem ser relacionadas à impurezas como carbonatos e micas. Tabela 1: Resultados das análises químicas por FRX (% em peso) Mina Velha Não Geomil Não Mag - Mag -20µm 20µm TRAT 2h MgO 5,4 4,5 Al2O 13,5 16,7 SiO2 53,5 49,7 K2 O 1,9 2,8 CaO 0,23 0,27 TiO2 0,55 0,70 MnO 0,13 0,21 Fe2O3 7,0 8,3 *PPC 17,8 16,8 Óxidos ANÁLISE DE DENSIDADE A análise de densidade pelo método de picnometria, técnica laboratorial utilizada para fazer a determinação da densidade realizada pelo picnômetro, indicou densidade 2,5104 (g/cm3) para ambas as amostras. CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA Os resultados das análises de CTC realizadas para ambas amostras no decorrer do seu beneficiamento indicou para amostra Geomil 39,5 (meq/100) e Mina Velha 41 (meq/100). Observou-se aumento nos valores da capacidade de troca catiônica no decorrer do beneficiamento das amostras, tendo como base o valor padrão encontrado para amostras de palygorskita, 30 IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB meq/100. Valores de CTC muito baixos indicam que existe um alto conteúdo de material não ativo, tais como os quartzos e a caulinita (CARRIAZO, 2007). DTA-TG Nas figuras 5, 6 e na tabela 3 são apresentados resultados da análise de DTA-TG para cada amostra, mostrando os patamares de desidroxilação. Figura 5. Gráfico de DTA-TG da amostra Mina Velha -20 µm. Figura 6. Gráfico de DTA-TG da amostra Geomil Não Mag -20µm TRAT2h. Nas curvas de DTA-TG ocorrem três patamares bem definidos. O primeiro é da desidroxilação da água de umidade (água coordenada a cátions da folha octaédrica). O segundo da desidroxilação da água zeolítica (presente nos canais no qual interage tanto com a molécula de H 2O coordenada quanto a folha tetraédrica), o de interesse neste trabalho. O terceiro da desidroxilação da água estrutural. Através da análise da segunda desidroxilação pode-se observar menor porcentagem da IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB água zeolítica nos canais zeolíticos para amostra Mina Velha -20µm, indicando em torno de 80% menor de agua zeolitica e assim maior absorbância, em relação a amostra Geomil. Tabela 3. Resultados das análises de DTA-TG. Mina Velha Não Geomil Não Mag - Mag -20µm 20µm TRAT 2h D1 -9,4328 -6,0151 D2 -1,5798 -0,8751 D3 -4,5785 -4,0722 Intervalos (%) Microscopia Eletrônica de Varredura Na figura 7 são apresentadas imagens obtidas através do Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). Através das imagens apresentadas nas figura 7 observa-se que as amostras são constituídas por palygorskita na forma fibrosa apesar da sua agregação na imagem, o que lhe confere sua capacidade de absorbância, de grande importância nas aplicações industriais . Ainda observa-se também que mesmo com os tratamentos aplicados nas amotras, há presença de impurezas como o quartzo. Figura 7. Imagem da amostra Mina Velha -20µm e Geomil Não Mag -20µm TRAT 2h, respectivamente. INFRAVERMELHO As figuras 11 e 12, apresentam os infratogramas após etapas do beneficiamento das amostras Geomil e Mina Velha, respectivamente. IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB 90 Geomil TRAT 2h 80 Transmitância (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 -1 Frequência (cm ) Figura 11. Infratograma da amostra de Geomil TRAT 2h. Mina Velha -20m 80 70 Transmitância (%) 60 50 40 30 20 10 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 -1 Frequência (cm ) Figura 12. Infratograma da amostra de Mina Vilha -20m. Os infratogramas indicaram similaridade, apresentando banda de 1090 cm-1 demonstrando estiramento da base de silicato tetraédrica, a banda de 3615 cm-1 que indica o estiramento vibracional de Al2OH e banda de 3551cm-1 que sugere estiramento vibracional de Fe+3Fe+3OH, além da coordenação de H-OH. 5. CONCLUSÕES IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB A caracterização mineralógica indica que as amostras da região de Guardalupe-PI são constituídas principalmente por palygorskita, quartzo e secundariamente por muscovita, caulinita, goethita e jacobsita. Os resultados obtidos após a separação magnética, classificação granulométrica e tratamento com peróxido indicam o decréscimo proporcional do quartzo e manganês, referente a jacobsita, relacionados às impurezas e o aumento proporcional da palygorskita, elevando seu grau de pureza. Os infratogramas mostraram o estiramento das ligações Si-O-Si, Fe+3Fe+3OH, Al2OH e banda que indica a coordenação da ligação H-OH. Os resultados de DTATG indicaram perda de 1,5798% e 0,8751% da água zeolítica presente nos canais zeolíticos, indicando maior absorbância alcançada. As imagens obtidas pelo MEV indicaram que o beneficiamento foi alcançado mantendo a estrutura fibrosa do argilomineral. 6. REFERÊNCIAS MIDDEA, A.; FERNANDES, T.L.A.P.; NEUMANN, R.; GOMES, O.F.M.; SPINELLI, L.S. 2013. Evaluation of Fe(III) adsorption onto palygorskite surfaces. Appl. Surf. Sci., 282, 253-258. Doi:10.1016/j.apsusc.2013.05.113. MURRAY, H.H. 2000. Traditional and new applications for kaolin, smectite, and palygorskite: a general review. Appl. Clay Sci., 17, 207-221. SILVA, P.C.; OLIVEIRA, S.M.B.; FARIAS, L.; FÁVARO, D.I.T.; MAZZILLI, B. 2011. Chemical and radiological characterization of clay minerals used in pharmaceutics and cosmetics. Appl. Clay Sci., 52, 145-149. Doi: 10.1016/j.clay.2011.02.013. SOARES, D.S; FERNANDES, C.S; COSTA, A.C.S; RAFFIN, F.N; ACCHAR, W; MOURA, T.F.A.L. Characterization of palygorskite clay from Piauí, Brazil and its potencial use as excipient for solid dosage forms containing anti-turbeculosis drugs. J Therm Anal Calorim, v.113, p 551, 2013. SUAREZ, M., GARCÍA-ROMERO, E. 2006. FTIR spectroscopic study of palygoroskite: influence of the composition of the octahedral sheet. Appl. Clay Sci., 31, 154-163. Doi: 10.1016/j.clay.2005.10.005. K. C. M. Xavier , E C. Silva Filho, M. S. F. Santos, M. R. M. C. Santos e A. B. Luz. Caracterização mineralógica, morfológica e de superfície da atalpugita de Guadalupe-PI, 2012.