Esquina Científica Extração de Eletrodos Endocárdicos ▸por Stela Maria Vitorino Sampaio - Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, especialista em Estimulação Cardíaca pelo DECA e pós-graduanda da FMUSP ▸coautoria Natalia Soares de Menezes e Neyle Moara Brito Craveiro As indicações para implante dos Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis (DCEI) têm aumentado bastante nos últimos anos, tendo em vista a expansão de usas indicações, para além do o tratamento das bradiarritmias sintomáticas, passando pela prevenção primária e secundária de morte súbita, tratamento da insuficiência cardíaca (por disfunção ventricular sistólica), diminuição do gradiente intraventricular (em portadores de cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva) até a melhora dos sintomas em pacientes com síncope neuromediada. Devido o aumento das indicações dos dispositivos e, consequentemente, do número de pacientes portadores dos mesmos, aumentou a incidência de situações em que o clínico se depara com a necessidade de retirada do gerador de pulso ou de todo o sistema. Os cabos-eletrodos desses dispositivos aderem firmemente ao endocárdio e ao endotélio venoso após um período de permanência superior a um ano. Por isso sua substituição ou retirada torna-se um problema técnico¹. As condições que demandam remoção obrigatória de cabos-eletrodos são pouco frequentes¹. Uma estimativa de 10.000 a 15.000 marcapassos e CDIs são extraídos anualmente em todo o mundo, usando diferentes técnicas. A principal indicação de extração é infecção seguida de mal funcionamento do sistema, remoção de sistemas abandonados e troca de marcapassos por ressincronizador ou CDI²,³. As indicações Classe 1 para remoção de cabo-eletrodo de DCEI segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia são: 1. Sepsis, inclusive endocardite, decorrente de infecção de qualquer componente do sistema de estimulação ou quando porções intravasculares do cabo-eletrodo não podem ser assepticamente isoladas da loja; 2. Arritmias graves secundárias a fragmentos de cabo-eletrodo retidos; 3. Cabo-eletrodo, fragmento ou parte de ferramenta de remoção retidos e que implique em risco de vida ao paciente; 4.Eventos tromboembólicos com importância clínica provocados por fragmentos ou cabo-eletrodo retido; 5. Obstrução de todos os acessos venosos em casos de implante de novo cabo-eletrodo transvenoso; 6. Cabo-eletrodo que interfere no comportamento do DCEI implantado. De modo geral, há 3 tipos de abordagem para a retirada de eletrodos transvenosos: 1. Tração direta externa dos cabos por via transvenosa; 2. Toracotomia com cardiotomia: geralmente feita quando há falência de um método menos invasivo ou para os casos com grandes vegetações; 3. Contra-tração interna por via transvenosa realizada com auxílio de bainhas de teflon ou polipropileno com bom índice de sucesso. Requer treinamento específico para a introdução da bainha que, através da veia, envolve o cabo-eletrodo até a câmara cardíaca onde o mesmo está implantado. A introdução dessa bainha pode ser feita por meio de dilatadores mecânicos que rompem o tecido fibroso peri-cabo-eletrodo, excimer laser que libera as aderências por foto-ablação ou ainda por meio de bainhas de dissecção eletro-cirúrgica que utiliza radiofrequência4,5. No Brasil dispomos de dois modelos de extratores ambos aprovados pela Anvisa, sendo eles: Lead Locking Device® (Spectranetics) e Liberator® (CooK). O sucesso do procedimento está diretamente relacionado com a experiência do executor. Quanto mais experiente o médico que o realiza, menor o número de complicações relacionadas a extração². Registros internacionais demonstram que a taxa de sucesso varia de 90 - 94%³. As complicações operatórias são responsáveis por 1% de mortalidade. As principais são hemotórax e tamponamento cardíaco decorrentes de perfuração miocárdica4. 8 Jornal DECA 1_2015.indd 8 23/3/2015 10:24:03 Esquina Científica É necessário realizar o procedimento em centros especializados, com profissionais treinados e onde haja equipe de cirurgia cardíaca para eventual suporte no caso de complicações. Estudos mostram que os riscos da extração aumentam com fatores como a idade do paciente, o tipo de cabo-eletrodo, a presença de calcificação ao redor do mesmo, sexo feminino e a experiência do médico que realiza o procedimento. Desses fatores apenas o último é modificável, portanto é de suma importância um treinamento contínuo e intensivo dos profissionais envolvidos na extração de cabo-eletrodo para minimizar os riscos de complicações e aumentar as taxas de sucesso5. Referências bibliográficas 1. COSTA, Roberto. Remoção de cabos-eletrodos endocárdicos de marcapasso e desfibrilador implantáveis. In: MELO, Celso salgado de. Temas de Marcapasso 3ª ed. São Paulo: Casa Editorial Lemos, 2007. 295 - 306. 2. HAUSER, Robert G et al. Deaths and cardiovascular injuries due to device-assisted implantable cardioverter-defibrillator and pacemaker lead extraction [online]. Julho 2010. Europace. oxfordjournals.org 3. VENKATARAMAN Ganesh et al. Does the risk-benefit analysis favor the extraction of failed, sterile pacemaker and defibrillator leads? Journal Cardiovascular Electrophysiology, v. 20, p. 1413 - 1415, dezembro 2009. 4. Diretrizes brasileiras de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI). Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2007; 89(6): e210-e237. 5. COSTA, Roberto et al. Extração de eletrodo de marcapasso endocárdico permanente pela aplicação de radiofrequência. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, v. 13 n. 2, São Paulo. Abril/junho 1998. 9 Jornal DECA 1_2015.indd 9 23/3/2015 10:24:03