ATIVIDADES AQUÁTICAS PARA ARTRITE REUMATÓIDE: UMA REVISÃO V CONGRESSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE JUNDIAÍ - 2010 1 Milena Carrijo Dutra; 2Fernanda Romano da Silva e Oliveiro; 3Margarida Castro Leal; 4Ana Margarida Malhado; 5Bruna Luiza dos Santos; 6Mayara Oliveira Fernandes; 7Fabiana de Lima Guedes 1 Especialista em Fisioterapia Músculo Esquelética pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo ISCMSP 2 Especialista em Atividade Física adaptada e Saúde pela Universidade Gama Filho UGF 3 Bacharel e Licenciada em Desporto e Bem-Esta pelo Instituto Politécnico de Leria – Portugal Escola Superior de Educação e Ciências Sociais 4 Bacharel e Licenciada em Desporto e Bem-Esta pelo Instituto Politécnico de Leria – Portugal Escola Superior de Educação e Ciências Sociais 5 Especialista em Fisioterapia Músculo Esquelética pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo ISCMSP 6 Graduando em Ciências da Atividade Física pela Universidade de São Paulo USP 7 Graduando em Ciências da Atividade Física pela Universidade de São Paulo USP Resumo Introdução: a Artrite Reumatóide (AR), uma doença reumática sistêmica auto-imune de etiologia desconhecida, cuja principal característica é a sinovite crônica, simétrica e erosiva das articulações periféricas. O tratamento desta patologia em meio aquático é evidente na literatura, pois a água auxilia na manutenção da integridade articular, o sangue retorna ao coração com maior facilidade, sua temperatura elevada auxilia no relaxamento muscular, a pressão hidrostática contribui dando estabilidade articular geral. Objetivo: o presente tem por objetivo com base no exposto, discutir a importância e a funcionalidade das atividades aquáticas para artrite reumatóide, através de uma revisão sistemática da literatura. Metodologia: foram selecionados artigos nacionais e internacionais que investigavam essa relação. As bases de dados consultadas foram Medline, SciELO e Lilacs, através do portal Capes;os artigos apresentados foram publicados entre os anos de 1990 e 2010 Conclusão: as atividades aquáticas possibilitam ao indivíduo com artrite reumatóide, melhora da flexibilidade, da postura e da amplitude de movimento, sendo desta forma um recurso de grande valia para melhora do bem estar geral desta população. [email protected] INTRODUÇÃO A artrite reumatóide (AR) é uma doença sistêmica auto-imune de etiologia desconhecida, cuja principal característica é a sinovite crônica, simétrica e erosiva das articulações periféricas (WILDER, 1993). Segundo Feldson (1993), a AR ocorre em todas as raças e em todas as partes do mundo, não havendo diferença na prevalência quanto à latitude, longitude ou clima. O curso da AR pode ser variável, desde acometimento leve e intermitente até forma mais grave e progressiva. Não existem testes laboratoriais e achados histológicos ou radiológicos que conclusivamente possam indicar um diagnóstico definitivo de AR. De acordo com os critérios do American College of Rheumatology (ACR) para classificação da AR, a evidência de sinovite objetiva deve estar presente por pelo menos seis semanas (ARNETT, 1988) A AR afeta as atividades diárias, podendo diminuir seriamente a autonomia e, por conseguinte, a qualidade de vida da pessoa afetada. Em estudo realizado por Corbacho & Dapueto (2010) foi verificado diminuição dos níveis de qualidade de vida e da capacidade funcional em pessoas com AR, fator que afeta a realização das atividades da vida diária desses indivíduos. A AR reumatóide interfere não somente no aspecto físico, mas também social e psicológico, causando grande impacto em todos os aspectos da qualidade de vida (FERREIRA, et. al., 2008) A característica principal da AR é a inflamação articular persistente, mas há casos em que outros órgãos são comprometidos. As queixas características dos pacientes são dor e rigidez em múltiplas articulações, além dos sinais flogísticos locais e da limitação do movimento articular (ARNETT, 1988). Para Goldind (1991), esta é uma doença comum e a prevalência pode chegar a 1,5% da população em algumas regiões. Sua freqüência aumenta paralelamente à idade dos pacientes (WILDER, 1993). É mais comum em mulheres em idade entre 40 a 60 anos, porém quando ocorre em homens a doença tende a ser pior. (FERREIRA, et.al, 2008) Para que AR se desenvolva são necessárias algumas combinações de defeitos genéticos e a presença de um ou mais estímulos externos, o que faz com que a incidência em familiares de pacientes com esta doença não seja grande, pois não existe hereditariedade e sim uma pré-disposição (WILDER, 1993). No passado, os médicos freqüentemente aconselhavam os pacientes a repousar e evitar os exercícios. O repouso permanece importante, especialmente durante as crises. No entanto, a inatividade pode acarretar fraqueza muscular, rigidez articular, limitação dos movimentos articulares e diminuição da energia e da vitalidade. Atualmente, os reumatologistas aconselham um equilíbrio entre atividade física e o repouso individualizado de acordo com as necessidades especiais do paciente (NIEMAN,1998). A utilização de medicamentos e da fisioterapia, utilizando o meio aquático – hidroterapia - são muito favoráveis para o tratamento da AR. (FERREIRA, et.al, 2008) A utilização da água para fins terapêuticos na reabilitação teve vários conceitos ao longo dos tempos. Atualmente o termo mais utilizado é reabilitação aquática ou hidroterapia (do grego “hydor”, “hydatos” = água/”therapeia” = tratamento), definida como sendo o uso externo da água com propósitos terapêuticos. (FERREIRA, et.al, 2008) Os benefícios dos exercícios aquáticos em água quente têm efeitos a nível fisiológico, terapêutico e psicológico para os indivíduos que possuem AR, diminuindo a sintomatologia de dor nas articulações lesionadas e diminuindo, também, a sobrecarga diante ao exercício realizado. Além disso, a água oferece resistência ao movimento, aumentando a resistência e força muscular. (FERREIRA, et.al, 2008) A água auxilia na manutenção da integridade articular, o sangue retorna ao coração com maior facilidade, sua temperatura elevada auxilia no relaxamento muscular, a pressão hidrostática contribui dando estabilidade articular geral (MESQUITA, 2007). Com base no que foi exposto acima, o presente estudo de revisão sistemática tem por objetivo discutir a importância e a funcinalidade das atividades aquáticas para artrite reumatóide. METODOLOGIA Este trabalho foi feito através de uma revisão literária numa abordagem ampla dos aspectos da associação da Artrite Reumatíde e reabilitação aquática. Uma análise feita dos estudos escolhidos em artigos e livros deram toda a base para esse projeto. Para a elaboração do texto foram selecionados artigos nacionais e internacionais que investigavam essa relação. As bases de dados consultadas foram Medline, SciELO e Lilacs, através do portal Capes;os artigos apresentados foram publicados entre os anos de 1990 e 2010. Os termos chaves utilizados no idioma português foram: Artrite Reumatíde e reabilitação aquática Os mesmos foram traduzidos para o inglês e espanhol. REVISÃO DE LITERATURA Definição de Artrite Reumatóide A primeira descrição clínica de AR é creditada a Augustin – Jacob Landré – Beauvais (1772-1840), tendo ocorrido na Universidade de Paris no ano de 1800. Até então, ela era considerada uma variante da gota, sendo descrita sob denominação de “gota astênica primária”. O termo artrite reumatóide, entretanto só foi introduzido na literatura médica em 1858, em Londres por Sir Alfred Baring Garrod (1819-1907). Somente em 1941, o termo artrite reumatóide foi adotado pela “American Rheumatism Association” (ARA), atual ACR (SANTOS, 1996). A AR é uma forma comum de artrite, art representa articulação e ite inflamação. Esta inflamação presente no revestimento das articulações (membrana sinovial) manifesta-se com dor, rubor, calor e perda da função, por destruição da cartilagem, corrosão óssea e deformidades articulares. A AR tende a persistir por muitos anos, tipicamente afeta várias articulações, ossos, tendões e ligamentos das articulações (SANTOS, 1996). A característica básica da AR ou doença reumatóide, assim como uma boa parte das afecções reumáticas, é a presença do quadro inflamatório crônico. O processo inflamatório crônico induz alterações na composição celular e no perfil de expressão genética da sinóvia, resultando em proliferação dos fibroblastos sinoviais e dano estrutural na cartilagem, osso e ligamentos. Trata-se de uma doença sistêmica, de etiologia indefinida, evidenciada por uma sinovite poliarticular persistente, de distribuição simétrica e com grande potencial deformante (ARNETT, 1988). Causas da Artrite Reumatóide Segundo Harrison (1995), a AR é uma doença multi-sistêmica crônica, autoimune, de causa desconhecida. Apesar de haver uma série de manifestações sistêmicas, o elemento característico da artrite reumatóide é a sinovite inflamatória persistente, que acomete habitualmente as articulações periféricas em uma distribuição simétrica. A inflamação sinovial é um grande potencial em acarretar a destruição da cartilagem e erosões ósseas, subseqüentemente, ocorrem as deformidades articulares, marca registrada da doença. Devido a sua distribuição mundial foi sugerido que poderia ser uma manifestação da resposta a um agente infeccioso em um hospedeiro geneticamente suscetível. Foram sugeridos inúmeros agentes causais possíveis, porém ainda não apareceu qualquer evidência convincente. Além disso, o processo pelo qual o agente infeccioso poderia causar uma artrite inflamatória crônica, também está sujeito a muitas controvérsias. Outros mecanismos etiológicos potenciais da artrite reumatóide incluem o comprometimento da autotolerância normal que resulta em reatividade aos auto antígenos na articulação, como o colágeno tipo II, ou a perda dos mecanismos do controle imunoregulador, resultando na ativação das células T policlonais (SANTOS, 1996). Células do sistema imunológico invadem os tecidos das articulações, provocando a inflamação, desta forma, o líquido sinovial contendo células inflamatórias acumula-se na articulação. As células imunológicas e inflamatórias no tecido e no fluido da articulação produzem muitas substâncias, incluindo enzimas, anticorpos e outras moléculas (citocinas), que invadem a articulação e podem causar danos na mesma. A persistência dos estímulos ou a incapacidade do sistema imune em controlar a inflamação levam à doença crônica. A membrana sinovial prolifera e liberta enzimas produzidas por células. Tanto a invasão da membrana sinovial como a ação das enzimas provocam destruição das estruturas articulares (cartilagem e ossos vizinhos) e juntas articulares (tendões e ligamentos) (HARRISON, 1995). Fisiopatologia da Artrite Reumatóide A inflamação envolve uma série de etapas relacionadas. A primeira etapa é o evento desencadeador em que o antígeno estimula os monócitos ativos e linfócitos T. Na etapa seguinte, os anticorpos imunoglobulina formam complexos com os antígenos (reação do tipo III – complexo imunomediado). A fagocitose dos complexos imunes é iniciada, gerando uma reação inflamatória (BRUNER & SUDDARTH, 1998). Durante a etapa seguinte, há um desvio da resposta imune normal. A fagocitose produz substâncias químicas, como leucotrienos e prostaglandinas. Os leucotrienos contribuem para o processo inflamatório atraindo outras células brancas para o local. As prostaglandinas atuam como modificadores na inflamação: em alguns casos, elas aumentam a inflamação; em outros, lentificamna. Os leucotrienos e as prostaglandinas produzem enzimas, como a colagenase, que degradam o colágeno, uma parte vital da articulação normal. A liberação destas enzimas na articulação causa edema, proliferação da membrana sinovial e formação de granulação, destruição da cartilagem e erosão óssea (BRUNER & SUDDARTH, 1998). O processo inflamatório imunológico começa com a preservação de antígenos para linfócitos T, seguindo por proliferação das células T e B, as células B são a fonte de células formadoras de anticorpos, ou células plasmáticas. Em respostas a antígenos específicos, as células plasmáticas produzem e liberam anticorpos. O conjunto de anticorpos correspondente aos antígenos, formam pares ou complexos imunes. Os complexos imunes aumentam e são depositados no tecido sinovial ou em outros órgãos no corpo; desse modo, o desencadeamento da reação inflamatória pode finalmente lesar o tecido envolvido (BRUNER & SUDDARTH, 1998). Diagnóstico da Artrite Reumatóide As manifestações clinicas da AR variam e, geralmente, refletem o estágio e a gravidade da doença. Dor articular, edema, calor, eritema e falta de função são aspectos clínicos clássicos da AR. A palpação das articulações revela tecido fofo ou aquoso, o líquido presente, freqüentemente, pode ser aspirado da articulação inflamada. Outros sintomas comuns incluem edema articular, movimento limitado, rigidez, fraqueza e fadiga (BRUNER & SUDDARTH, 1998). O padrão característico de comprometimento articular começa nas pequenas articulações das mãos, punhos e dedos. Com a evolução da doença, as articulações dos joelhos, ombros, quadris, cotovelos, tornozelo, coluna cervical e articulações temporomandibulares são envolvidas. O início dos sintomas geralmente é agudo; os sintomas são, em geral, bilaterais e simétricos. Além da dor articular e edema, outro sinal clássico de AR é a rigidez, especialmente de manhã, durando mais de 30 min (BRUNER & SUDDARTH, 1998) Segundo Spancer (1991), a orientação para o diagnóstico da AR é baseada nos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia. Os primeiros 4 critérios devem estar presentes pelo menos em seis semanas. Quatro dos sete critérios são necessários para classificar um paciente como tendo artrite reumatóide: - Rigidez matinal: rigidez articular durante pelo menos 1 hora; - Artrite de três ou mais áreas: pelo menos três áreas articulares com edema de partes moles ou derrame articular, observado pelo médico; - Artrite de articulações das mãos (punho, interfalangeanas proximais e metacarpofalangeanas); - Artrite simétrica; - Nódulos reumatóides; - Fator reumatóide sérico; - Alterações radiográficas: erosões ou descalcificações localizadas em radiografias de mãos e punhos. As deformidades das mãos e dos pés são comuns na AR e podem ser causadas pelo deslizamento resultante do edema, destruição articular progressiva ou subluxação, que ocorre quando um osso desliza sobre o outro e elimina o espaço articular. (SPENCER, 1991) Outra complicação que pode se fazer presente é o aparecimento de nódulos reumatóides. Os nódulos reumatóides podem estar presentes em 20 a 25% dos casos. Estes nódulos geralmente são rijos e móveis no tecidos subcutâneos; eles costumam aparecer sobre as proeminências ósseas como as articulações, variam em tamanho e podem desaparecer simultaneamente. Os nódulos ocorrem somente em pessoas que tenham fator reumatóide. Os nódulos com freqüência estão associados com a doença progressiva e destrutiva. Outros aspectos extra-articulares incluem artrite, neuropatia, esclerite, pericardite, esplenomegalia e síndrome de Sjögren (olhos e mucosas ressecadas) (SPENCER, 1991). Os Tratamentos para a Artrite Reumatóide Na fase inicial da AR, o tratamento começa com a educação, um equilíbrio entre repouso e exercício e encaminhamento aos serviços de saúde para suporte. O tratamento médico começa com doses terapêuticas de medicamentos. Os pacientes são instruídos a tomar as medicações de modo prescrito, para manter um nível sangüíneo consistente e, assim, otimizar a eficácia da droga. Os medicamentos usados no tratamento da AR podem ser divididos em dois grupos: aqueles que têm potencial para ajudar a aliviar os seus sintomas e aqueles que têm potencial para modificar o curso da doença. Alguns desses medicamentos afetam o sistema imunológico ou podem apresentar efeitos colaterais; recomenda-se por isso um monitoramento cuidadoso durante o tratamento (BRUNER & SUDDARTH, 1998). Os antiinflamatórios não-esteroidais (AINEs), que incluem a aspirina, o Ibuprofeno, o Naproxeno, são principalmente úteis em aliviar os sintomas. Os efeitos colaterais acontecem em uma minoria de pacientes. Estes incluem problemas de estômago (gastrites e úlceras pépticas), alterações da função renal e reações alérgicas. Os AINEs mais novos, incluindo o celecoxib (Celebra), o rofecoxib (Vioxx) e o valdecoxib (Bextra), podem prover os mesmos benefícios que os medicamentos mais antigos, porém, com menor risco de úlceras pépticas (BRUNER & SUDDARTH, 1998). Embora o controle da inflamação com a utilização de antiinflamatórios e drogas de ação lenta (ADL) constitua a base do tratamento, a fisioterapia e atividade física, incluindo exercícios gerais e específicos, os programas educacionais e a atenção para fatores psicológicos são todas importantes para a melhora clínica do paciente (HARRISON 1995). Os objetivos no tratamento da AR são: reduzir o processo inflamatório, prevenir ou minimizar o aparecimento das deformidades, manter o indivíduo produtivo e integrado na sociedade e conseqüentemente melhorar a sua qualidade de vida (MOREIRA, 1996). Existem evidências de que tanto a intervenção farmacológica quanto a nãofarmacológica, podem alterar no curso evolutivo da doença, diminuindo o ritmo de progressão da limitação funcional e, principalmente, melhorando a qualidade de vida dos pacientes (MOREIRA, 1996). A AR interfere diretamente na qualidade de vida do paciente, principalmente, por ser uma doença crônica, e é considerada a doença que provoca maior impacto nos aspectos físicos, psicológicos e sociais. (FERREIRA, et.al, 2008) Para ARNETT (1988), em todos os estágios da AR, a depressão e a insônia podem requerer o uso a curto prazo de drogas antidepressivas, para restabelecer o padrão de sono adequado e melhorar o controle da dor crônica. De acordo com as normas do o Colégio Americano de Reumatologia, o tratamento deve incluir: - Tratamento da dor – fisioterapia. - Educação do paciente – informar os pacientes sobre a doença e fornecer ferramentas para auxiliá-los a superar a dor e ser ajustar à sua situação. - Alterações no estilo de vida – implementação de atividade física adaptada à esses pacientes. Artrite Reumatóide e o Exercício Físico Inicialmente, a comunidade médica pensou que seria melhor, para os doentes com AR, não praticarem atividade física para se protegerem dos danos articulares. Agora, é pacífico entre médicos e terapeutas que os exercícios em portadores de AR são necessários, desde que devidamente prescritos podem melhorar ou diminuir a sensação de fadiga, fortalecer os músculos e ossos, aumentar a flexibilidade e melhorar o bem-estar em geral (MOREIRA, 1996). Ainda não existe um consenso em relação ao tipo, intensidade e volume de exercícios físicos que podem ser realizados para esse tipo de patologia, ou seja, não há um padrão de exercícios definido na literatura para o tratamento da AR. Porém, a inclusão do exercício físico no tratamento da AR pode proporcionar melhora no quadro da doença e diminuir o aparecimento de outros agravamentos, não só no âmbito físico, mas psicológico e social, proporcionando maior independência e qualidade de vida para os portadores de AR. (KÜLKAMP, et al., 2009) Estudo realizado por Brighton (1993), concluiu que a diminuição da força e da resistência muscular são problemas para pessoas com AR. Em razão de esses fatores estarem diretamente relacionados com a falta de uso dos músculos, um programa gradativo de fortalecimento pode ajudar na manutenção de um nível de força funcional das partes afetadas. O processo demora semanas e até meses, mas as dores vão diminuindo com o tempo. Tais exercícios vão também garantir a mobilidade das articulações atingidas pela inflamação. Quanto maior a resistência nas articulações menor será a restrição nas tarefas cotidianas. Tanto os exercícios de reforço muscular isométricos quanto os isotônicos são recomendados. Os exercícios isométricos podem aumentar a força muscular sem efeitos adversos sobre uma articulação agudamente inflamada. Os exercícios isotônicos permitem que a articulação se mova com uma amplitude limitada ou completa enquanto os músculos se contraem. Esse tipo de exercício é recomendado quando a dor e a inflamação articular estiverem controladas e quando se tenha obtido uma força muscular suficiente por meio dos exercícios isométricos (BRIGHTON, 1993). Para Ekdahal (1990), os portadores de AR devem se preocupar em controlar o seu peso corporal, pois, com menos peso, menor será a sobrecarga em uma articulação já comprometida e menos sofrimento e dor ele terá: - Os exercícios devem ser feitos evitando a dor; - Comece com exercícios lentos e com poucas repetições e aumente a carga, progressivamente, até conseguir seguir todo um programa de fortalecimento; - A continuidade é fundamental para os exercícios produzirem resultados; - As aulas devem ser contínuas e de baixa intensidade; - Exercícios de longa duração e grande intensidade devem ser evitados durante a crise (inflamação); - Indivíduos com artrite e artrose podem ter dificuldade de se aquecerem no início das atividades, portanto, o aquecimento na aula deve ser um pouco maior; - As aulas devem se modificar em intensidade e duração, de acordo com as respostas dos alunos, com relação à medicação usada, nível de dor e alterações da doença. No caso de dor, inchaço e inflamação: - Suspender qualquer atividade física, a insistência no uso de uma articulação afetada só agrava seu estado. - Descansar até a inflamação ceder. Mas não prolongue demasiado o tempo de repouso. Quando sentir melhoras retorne imediatamente ao programa de exercícios. Use as medicações dadas pelo médico e o procure se necessário. - Calor elevado, em combinação com a umidade, reduz o inchaço, dor e rigidez de músculos e articulações (chuveiro, compressas, piscina aquecida). Evitar Hidroginástica em piscina fria (os alunos não suportam bem). Desta forma, a prática regular do exercício físico se torna muito eficaz no tratamento da AR, em conjunto com a terapia farmacológica e acompanhamento médico, sendo assim, a multidisciplinaridade se torna fundamental para o tratamento da AR, aumentando a qualidade de vida dos portadores da doença. (KÜLKAMP, et al., 2009) Atividades Aquáticas para Artrite Reumatóide Através de nossa história a utilização da água como meio de cura vem sendo descrita desde a civilização grega (por volta de 500 a.C.). Escolas de medicina foram criadas próximas às estações de banho e fontes, desenvolvendo, assim, as técnicas aquáticas e suas utilizações no tratamento físico específico. Hipócrates já utilizava a hidroterapia para pacientes com doenças reumáticas, neurológicas, icterícia, assim como tratamento de imersão para espasmos musculares e doenças articulares (460-375 a.C.). Já os romanos utilizavam os banhos para higiene e prevenção de lesões nos atletas. Esses banhos de temperatura variada evoluíam desde muito quentes (caldarium) a mornos (tepidarium), até aos mais frios (frigidarium). Com o tempo, esses banhos deixaram de ser de uso exclusivo dos atletas e se tornaram centros para a saúde, higiene, repouso e atividades intelectuais, recreativas e de exercícios, de acesso a coletividade. Em meados de 330 d.C., a finalidade principal dos banhos romanos eram curar e tratar doenças reumáticas, paralisias e lesões (RUOTI, 2000). A hidroterapia, como programa de reabilitação, vem sendo indicada por médicos e fisioterapeutas. As atividades realizadas na água aquecida beneficia os indivíduos que participam de programas de reabilitação. (BIASOLI, MACHADO, 2006) Em geral, os exercícios realizados na água são de baixa velocidade, diminuindo o impacto causado com o contato ao solo, além de proporcionar um efeito analgésico, ou seja, diminui a sintomatologia de dor, pois o calor altera a sensibilidade das terminações nervosas. (BIASOLI, MACHADO, 2006) As atividades realizadas na água trazem benefícios à todos os sistemas corporais, principalmente no sistema cardiorrespiratório e muscular. No sistema cardiorrespiratório ocorrem diversas adaptações favoráveis para o individuo, dentre elas estão: melhora na capacidade aeróbia e nas trocas gasosas; reeducação respiratória; auxilia no retorno venoso e estabilidade da pressão arterial. No sistema muscular, reduz os espasmos musculares , dores, fadiga; aumenta a força e resistência de músculos agonistas e antagonistas e aumento ou manutenção na amplitude de movimento (ADM). (BIASOLI, MACHADO, 2006) Nas doenças reumatológicas grande parte das complicações ocorrem nas articulações. As lesões articulares primárias específicas da doença ou a disfunção ortopédica secundária ao esforço anormal sobre estruturas frágeis do corpo podem resultar em disfunções do tronco, extremidades superiores e inferiores, alterando a biomecânica da postura, marcha e amplitude de movimento ativo (por exemplo: deformidades articulares, fraqueza muscular, tendinite, capsulite adesiva, subluxação, bursite etc.) (SKINNER, 1985). A dor nas articulações afetadas conduz à tensão e ao espasmo em certos grupos musculares que atuam sobre elas direta ou indiretamente. Na piscina, o calor da água que circunda a articulação alivia a dor e relaxa a musculatura periarticular. A flutuação também proporciona a diminuição da tensão sobre articulações. A limitação da movimentação, assim como a rigidez articular são reduzidas devido ao alívio da dor e a sustentação das articulações pela flutuação, durante a movimentação. A fraqueza da musculatura periarticular de uma ou mais articulações afetadas, assim como outros problemas como a frouxidão ligamentar, alterações do funcionamento biomecânico e/ou manifestações extra-articulares são trabalhadas através de exercícios. A princípio, a flutuação pode ser utilizada como auxílio do exercício e gradualmente ser reduzida para dar maior resistência ao movimento. Tanto a deformidade articular quanto a alteração postural podem ser corrigidas ou reduzidas devido a tepidez da água que auxilia os músculos a se relaxarem. A capacidade funcional é restabelecida gradativamente com a melhora da atividade muscular e articular do paciente, edificando a sua confiança e capacidade de realizar movimentos também fora da água (SKINNER, 1985). Para Skinner (1985), os objetivos das atividades aquáticas para indivíduos com AR são: - Alívio da dor e do espasmo muscular; - Manutenção ou restauração da força muscular em torno das articulações dolorosas; - Redução da deformidade e aumento da amplitude de movimentação em todas as articulações afetadas; - Manutenção da amplitude de movimentação e força muscular das articulações não afetadas; - Restauração da confiança e reeducação da função. A rotina terapêutica dos pacientes pode incluir a hidrocinesioterapia que é constituída de: 1. Exercícios isolados de membros superiores, membros inferiores e tronco, para fortalecimento e ganho de amplitude de movimento; 2. Exercícios de alongamento para aumentar a flexibilidade; 3. Treinamento deambulativo para reeducação da marcha, propriocepção e iniciação de sustentação do peso; 4. Técnicas de posicionamento usadas para diminuir a dor; 5. Trabalho de condicionamento geral; 6. Padrões complexos de movimentos para coordenação, equilíbrio, agilidade e simulação de habilidades atléticas ou de trabalho (RUOTI, 2000). Existem também técnicas específicas de exercícios usadas em combinação e adaptadas aos pacientes individualmente. Cada técnica contribui de alguma maneira para a estabilização apropriada das articulações, recuperando os padrões de movimentos sinérgicos normais. Podemos utilizar a técnica de Halliwick, “Bad Ragaz” ou “método dos anéis”, a técnica de Watsu e outras (RUOTI, 2000). Método Halliwick Segundo Ruoti (2000), método Halliwick foi desenvolvido, em 1949, na Halliwick School for Girls, em Southgate, Londres. MC Millian, o criador da técnica, desenvolveu inicialmente uma atividade recreativa que visava dar independência individual na água, para pacientes com incapacidade e treiná-los a nadar. Com o passar dos anos, ele foi aperfeiçoando seu método original e adotou técnicas adicionais que foram estabelecidas a partir dos seguintes princípios: Adaptação ambiental: envolve o reconhecimento de duas forças, gravidade e empuxo que, combinados, levam ao movimento rotacional; Restauração do equilíbrio: enfatiza a utilização de grandes padrões de movimento, principalmente com os braços, para mover o corpo em diferentes posturas e ao mesmo tempo, manter o equilíbrio; Inibição: é a capacidade de criar e manter uma posição ou postura desejada, através da inibição de padrões posturais patológicos; Facilitação: é a capacidade de criar um movimento que desejamos mentalmente e, controlá-lo fisicamente, por outros meios sem utilizar a flutuação. Tal aprendizado é graduado através de um “programa de dez pontos”, que utiliza a seqüência do desenvolvimento do movimento físico pelo córtex cerebral. Essas técnicas têm sido utilizadas para tratar terapeuticamente pacientes pediátricos ou adultos com diferentes alterações de desenvolvimento e disfunções neurológicas, na Europa e nos Estados Unidos da América do Norte. Bad Ragaz Bad Ragaz é uma cidade Suíça construída em torno de um SPA de água morna natural, com três modernas piscinas cobertas. Em 1930 teve início a utilização deste SPA para exercícios aquáticos. Tal técnica de exercícios se originou na Alemanha pelo Dr. Knupfer Ipsen, cujo objetivo era promover a estabilização do tronco e das extremidades através de padrões de movimentos básicos e às vezes resistidos, realizados segundo os planos anatômicos. O paciente é posicionado em decúbito dorsal, com auxílio de flutuadores ou “anéis” no pescoço, pelve e tornozelos, é por isso que a técnica também é designada de “método dos anéis” (RUOTI, 2000). Em 1967, Bridgt Davis incorporou o método de facilitação neuromuscular proprioceptiva ao “método dos anéis”. Beatice Egger desenvolveu ainda mais esta técnica, publicando-a em Alemão. Atualmente, o método Bad Ragaz é constituído de técnicas de movimentos com padrões em planos anatômicos e diagonais, com resistência e estabilização fornecidos pelo terapeuta ou professor. O posicionamento do paciente em decúbito dorsal é mantido através de flutuadores nos seguimentos anatômicos já mencionados anteriormente. A técnica pode ser utilizada passiva ou ativamente em pacientes ortopédicos, reumáticos ou neurológicos. Os objetivos terapêuticos incluem redução de tônus muscular, prétreinamento de marcha, estabilização de tronco, fortalecimento muscular e melhora da amplitude articular (RUOTI, 2000). Método Watsu O Watsu, também conhecido como “Water Shiatsu”, aquashiatsu ou hidroshiatsu, foi criado por Harold Dull, em 1980. Tal técnica aplica os alongamentos e movimentos do shiatsu zen na água, incluindo alongamentos passivos, mobilização de articulações e “hara-trabalho”, bem como pressão sobre “tsubos” (acupontos) para equilibrar fluxos de energia através dos meridianos (caminhos de energia). Há dois tipos de posições no watsu: as posições simples e as complexas. As simples incluem os movimentos básicos e de livre flutuação. As posições complexas são chamadas berços. O fluxo de transição do watsu consiste em: uma abertura, os movimentos básicos e três sessões: 1ª) berço de cabeça; 2ª) embaixo da perna distante, ombro e quadril; 3ª) berço da perna próxima e uma conclusão (RUOTI, 2000). Hidroginástica A hidroginástica é constituída de exercícios aquáticos específicos, baseados no aproveitamento da resistência da água como sobrecarga e do empuxo como redutor do impacto, o que permite a prática de um exercício, mesmo em intensidades altas, com diminuídos riscos de lesão. Além de propiciarem benefícios à forma física, os exercícios realizados dentro da água possuem ainda a vantagem de causar menor impacto nos membros inferiores, facilitando a prática para aquelas pessoas que não podem suportar o seu próprio peso, ao realizarem um exercício terrestre, pois quando o corpo imerge a água é deslocada e cria uma força de flutuação que retira a carga das articulações imersas, por exemplo, quando o corpo encontra-se imerso até o pescoço, somente cerca de 7,5 Kg de força compressiva é exercida sobre a coluna, quadris e joelhos(KRUEL, 2000). Para Matsudo (2000), as atividades aquáticas podem oferecer grandes benefícios através de um programa de exercício a quase todas as pessoas que queiram participar. As indicações específicas para o paciente reumático estão listadas a seguir: - Auto nível de dor - Desvios de marcha - Mobilidade diminuída - Contraturas musculares - Fraqueza muscular - Coordenação limitada - Transferência de peso inadequada - Diminuição de resistência muscular - Flexibilidade diminuída - Disfunções posturais - Propriocepção deficiente Matsudo (2001), explica que as atividades realizadas dentro da água estão associadas a melhores níveis de flexibilidade em algumas articulações, não em todas. Mazo (2004) cita que a flexibilidade, a diminuição das dores no corpo, a melhora na circulação sanguínea, da amplitude de movimento e principalmente a auto-estima e bem-estar são aspectos que apresentam grandes melhorias através da prática de hidroginástica. Para Ruoti (2000), o Bad Ragaz, promove melhora na postura, alinhamento e estabilidade de tronco, preparação das extremidades de membros inferiores para sustentação de peso e alongamento dos membros superiores, a sensação de dor diminui, assim como a rigidez na condição de imersão. Conclusão As atividades aquáticas possibilitam ao indivíduo com artrite reumatóide, melhora da flexibilidade, da postura e da amplitude de movimento, sendo desta forma um recurso de grande valia para melhora do bem estar geral desta população. A hidroterapia atua de forma significativa na diminuição da sintomatologia de dor e nos espasmos musculares dos indivíduos que possuem AR. Os exercícios realizados atuam de forma a restaurar a força muscular em torno da articulação acometida pela doença, aumentando a amplitude de movimento e atuando de forma a restaurar as funções perdidas. BIBLIOGRAFIA ARNETT F.C, EDWORTHY S.M., BLOCH D.A. 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